Se quiser saber porque uma boa parte da Humanidade considera que os EUA é governado por loucos senis (tanto Trump como Biden), leia o seguinte artigo de Philip Giraldi! https://www.unz.com/pgiraldi/in-america-its-another-week-to-be-proud-of/

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

LÓGICA DE PAZ VERSUS LÓGICA DE GUERRA FRIA

Neste final de 2016, constatamos que o mundo está um pouco menos ameaçado pela guerra global. Isto seria uma quase certeza, caso Hillary tivesse vencido as eleições americanas. 
Não devemos pensar, porém, que tudo se vai compor, não devemos cair na ilusão de que uma détente EUA-Rússia é automática e inevitável, pois existem muitas frentes de fricção que podem, a qualquer momento, especialmente antes da entrada do governo Trump em funções na segunda metade de janeiro 2017, rebentar em conflitos fora de controlo e complicarem muito a situação internacional. 

Esta situação presente poderia caracterizar-se como «nem paz, nem guerra», não se trata de uma situação estável, nem se pode equacionar a nova «Guerra Fria» com o famoso «equilíbrio do terror» da «Guerra Fria nº1». Com efeito, a política agressiva e provocatória dos EUA e de seus aliados da OTAN, tem sofrido revezes de toda a ordem:
- Os tratados de comércio «livre», TPP e TTIP, estão realmente afundados, já estavam seriamente em risco antes da eleição de Trump, sendo que a sua eleição apenas representa o prego final no caixão.
- O lodaçal da Ucrânia tem azedado as relações nem sempre cordiais dos «aliados» (súbditos) europeus na OTAN com os EUA, pois existem demasiados setores industriais europeus a sofrer por causa das sanções à Rússia. Esta, declarou recentemente que as contrassanções, banindo a importação de géneros agrícolas, vão continuar. Muitos outros motivos, como a desesperada necessidade de abastecimento de gás natural, que nunca será substituído pelas energias renováveis, pelo menos no curtíssimo prazo, aconselham os governos a uma atitude de não confronto com a Rússia, que continua a ser um importante fornecedor da União Europeia (especialmente, da Alemanha do Norte).
- A derrota militar na Síria está a tornar claro o jogo sujo lançado pelos EUA, com o pleno apoio da Arábia Saudita e do Qatar. Os objetivos militares eram claramente de empurrar os terroristas do Estado Islâmico (ele próprio uma criação dos EUA, Israel, Arábia Saudita e Qatar) contra o exército sírio governamental, na esperança de causar uma situação crítica e finalmente o derrube de Assad. 
Aliás, isto foi, enquanto estratégia de Hillary, como secretária de Estado do governo Obama, O OBJECTIVO ESTRATÉGICO dos EUA no médio oriente.
- A perda das Filipinas como um dos baluartes de cerco à RP da China. Esta estratégia do «Asia pivot» ruiu com a recusa estrondosa de Duterte em aceitar ser o vassalo obediente dos imperialistas, virando-se claramente para os chineses, para se livrar da dominação colonial secular dos EUA sobre o seu país.
- A redução de influência, em relação aos governos do sul da América: tem surgido uma América Latina cada vez mais independente económica, militar e diplomaticamente do poderoso vizinho do norte.
- Mesmo os aliados mais próximos dos EUA, como a Grã-Bretanha, têm de ter cuidado até onde vão no seu apoio à política «da canhoneira», pois as suas possibilidades de continuarem a desempenhar um qualquer papel no xadrez económico-político-diplomático, dependem das boas relações com a China, e eles sabem-no perfeitamente. Os britânicos ofereceram a praça de Londres para emitir e negociar bonds denominados em yuans, o que lhes daria uma vantagem importante sobre Frankfurt, a principal praça europeia.

Delineei acima algumas de um vasto conjunto de situações, ocultadas ou tratadas de forma completamente distorcida pela média corporativa, mostrando que estamos perante um quadro muito complexo em que a agressividade de uma das partes - o campo «ocidental», nitidamente mais agressivo na retórica e nos atos- acabe por desencadear uma reação da outra. Ou seja, que a provocação constante acabe por causar um passo em falso dos outros. 
Isto é claramente uma estratégia de tensão, que é levada a cabo pelos EUA e aliados (na realidade... súbditos) da União Europeia, agrupados sob o chapéu da OTAN.
- Este posicionamento perigoso é acompanhado por uma torrente importante de propaganda, que faz com que muitas pessoas, incluindo pessoas sinceramente devotadas à causa da paz, confundam as situações e pretendam tomar as suas «distâncias» em relação ao conflito em curso, mas de forma equivocada.
Ora, para se ter uma visão apropriada, deve-se considerar as coisas, não sob a forma que a propaganda quer e deseja que façamos, mas sob a forma que nos parece justa em termos globais, ou seja, sob forma de um desenlace que seja aceitável pelas diversas partes, dentro dum espírito realista de resolução dos conflitos por meios pacíficos, pela prioridade à negociação sobre a confrontação armada, pela reafirmação do princípio da soberania dos Estados, pela não-ingerência de Estados nos assuntos internos dos outros (ou seja, o completo abandono da doutrina de «intervenção humanitária», que apenas trouxe desastres humanitários e destruição total). 
A propaganda tem sempre um objetivo claro em relação à cidadania sobre a qual incide: É desencadear reflexos de medo. O medo impede as pessoas de pensar. Para isso, deflete as questões, não permite que as pessoas percebam onde estão as responsabilidades reais. 
Penso que uma estratégia de paz não passa por contrapropaganda, ou seja, por demonizar aqueles que emitem a propaganda. Isso não é eficaz por várias razões. 
- Em primeiro lugar, porque nos põe, não como críticos, mas como favorecendo apenas um dos lados; ficamos ao mesmo nível que propagandistas. 
- Por outro lado, não permite que se aprofunde, se compreenda, com base em factos e não em opinião, as causas dos acontecimentos. 
Pois é exatamente isso que a média corporativa nos oculta sistematicamente. Esmera-se sempre em obliterar completamente o contexto das notícias, especialmente de conflitos armados, mas - em geral  - faz isso com todo o noticiário de política internacional. 
Pelo contrário, esmeram-se em transcrever e reproduzir todas as declarações oficiais de um dos lados, de forma extensiva, omitindo completamente quaisquer contrapontos. O discurso do poder é registado sem qualquer observação crítica, como um «deus», inquestionável. Para essa média, o «deus» é realmente o poder do dinheiro, seja ele o dos nossos impostos ou o das publicidades que alimentam essas enormes máquinas de propaganda moderna.  
Assim, as pessoas de boa vontade devem educar seus concidadãos a verem a realidade por detrás da propaganda, indo à raiz dos problemas.
Apenas alguns exemplos de manipulações e ocultações recentes da média corporativa internacional:
- Eles sabiam perfeitamente, mas ocultaram quem desencadeou e nutriu as guerras da Líbia, da Síria, quem equipou e subsidiou Al-Nusra, ramo Sírio de Al-Quaida… e como sabemos, estas guerras estiveram realmente na origem do problema – gravíssimo – dos refugiados destas guerras.

- Eles sabiam perfeitamente e ocultaram que houve interesses que se serviram dos refugiados para desestabilizar vários países da Europa central: era conhecido o envolvimento do multibilionário George Soros, que subsidia as ONGs que tiveram um papel de relevo nesta crise.

- Eles sabiam, não apenas do papel das ONGs locais, subsidiadas por Soros, um fator importante na «revolução» de Maidan na Ucrânia, como das forças nazis e antissemitas sem quaisquer máscara, mas que foram apelidadas de «democráticas» pela média e pelo departamento de Estado dos EUA. Foi um golpe de Estado, monitorizado e financiado pelos EUA e com o apoio das chancelarias europeias, nomeadamente alemãs, francesas, britânicas…

Poderia citar mais exemplos, eles estão constantemente a surgir. Mas estes bastam, para se perceber como a média distorce as realidades no terreno, exerce uma forte pressão na opinião pública, não como veículo de informação, que deveria ser, mas como veículo de propaganda.

A meu ver, a propaganda não deve ser combatida com «contrapropaganda», mas com informação objetiva, que desmascare as operações de propaganda. Por isso, importa formar uma cidadania com uma elevada capacidade de pensar criticamente. Não «acreditar» seja o que for, seja de onde vier a informação, sem questionar, examinar as provas da mesma, ver até que ponto se trata de factos, não fabricados, mas objetivos. Depois, ver se estes tais factos suportam ou são coerentes com as teses ou hipóteses defendidas e se não terá havido omissão de outros factos, que iriam contrariar as conclusões…
Esta educação e formação de espíritos livres devem ser assumidas como fator muito importante, essencial mesmo, na construção de um movimento pacifista.



terça-feira, 22 de novembro de 2016

O ESPÍRITO DO LOBO - filme de Jean-Jacques Annaud


Esta película, baseada num romance de Jiang Rong, conta uma aventura de um estudante chinês na Mongólia durante o período da revolução cultural (1967-1970). Os estudantes eram encorajados a irem por períodos de anos apoiar camponeses ou nómadas. 
O livro «Tótem do Lobo» é uma ficção parcialmente baseada na experiência vivida do autor que esteve realmente a viver numa comuna de criadores de gado na Mongólia, nos anos 1970.

                              

sábado, 19 de novembro de 2016

CIBERGUERRA: QUEM A FAZ E QUEM A SOFRE


Nas sociedades ditas «avançadas», o sistema produtivo está muito dependente de redes digitais para o seu funcionamento quotidiano. 
Estas redes, embora possuam mecanismos próprios de defesa contra intrusos, não são à prova de «hackers», que - mediante instrumentos digitais específicos - conseguem tornear ou descriptar muitas das «paredes anti-roubo» ou «firewalls» presentes nos sistemas informáticos de grandes bancos, agências de segurança e espionagem, doutras instâncias do governo ou de grandes corporações. 
Quaisquer que sejam os objectivos, quer seja roubo de dinheiro eletrónico, espionagem, ou revelar segredos, estes sistemas informáticos são o alvo preferido para a ciberguerra. 
Os anúncios de  iminentes ataques por parte de países como a China, a Rússia, a Coreia do Norte, etc, não nos devem porém impressionar, senão como mais uma arma de propaganda dos «nossos» governos para nos aterrorizar. 
Quando lançam estas campanhas de alarmismo, para espalhar o medo, estão provavelmente a preparar -eles próprios - algum ataque de falsa bandeira, ou seja, algo feito pelos seus próprios serviços e atribuído a um inimigo, que estaria por detrás de tal atentado. 
Porém, os peritos em redes de informática sabem que detetar a origem de um ataque informático é tarefa extremamente difícil, pois os que levam a cabo tais ataques sabem proteger-se, «ressaltando» de servidor em servidor através de todo o mundo: Aliás, é assim que a www (world wide web) é constituída, não o esqueçamos. 
Quando nos dizem que tal ou tal ataque foi perpetrado por «hackers» russos ou chineses, etc., apenas horas ou mesmo minutos depois de terem sido constatados, a nossa reação deve ser de incredulidade pois, de facto, não há maneira de se saber, em espaço de tempo tão curto, onde determinado ataque teve origem. Não se consegue quase nunca traçar o seu rasto e muito menos descobrir ao certo quem encomendou tal ataque. 
Desde há uma década - mais ou menos - tem havido um crescente número de ataques informáticos, os quais são invariavelmente atribuídos aos «maus» (Al Quaida, Norte Coreanos, Iranianos, etc, etc). 
Porém, é evidente que nada está mais longe do escrutínio da cidadania comum do que a inspeção das redes informáticas e das suas seguranças, pelo que não se podem nunca esperar provas das afirmações dos agentes governamentais: eis um conveniente meio de chantagem e difusão de paranoias, de psicose coletiva, que prepara o terreno para guerra «a quente»!
Sabe-se que a produção de «virus informáticos», de «cavalos de Troia» etc., é uma indústria lucrativa, na precisa medida em que permite a pequenas e grandes empresas informáticas vender seus kits anti-virus às dezenas de milhões pelo mundo fora, ou de os agregar ao seu software. 
Não admira que alguns criminosos, peritos em Internet, usem para seus próprios fins tais possibilidades, havendo nas grandes organizações uma segurança reforçada nas contas bancárias dos seus clientes, constantemente sob ameaça de piratagem, com o objetivo de sugar milhões dos seus clientes. 
Um caso recente, foi o do banco TESCO (o banco que apoia a maior cadeia de supermercados britânica): envolveu muitos milhares de clientes, sendo retiradas somas pequenas de cada conta à ordem, simultaneamente. O banco em causa tranquilizou os clientes de que estes roubos estariam cobertos. 
Porém, tais piratagens ocorrem muitas vezes sem se saber nada, sem que transpareçam as notícias para a média. Penso que muitas perdas não declaradas dos bancos e outras instituições são devidas a estas piratagens, mas que preferem guardar silêncio a ver o seu prestígio afetado e causarem uma fuga dos seus depositantes amedrontados. 
A razão principal destas fragilidades nas redes informáticas decorre duma exigência concreta do governo dos EUA, para viabilizar a tarefa da NSA e das restantes instituições de vigilância em massa. Como bem demonstrou Snowden, essas agências exigem aos fornecedores de internet e aos construtores de hardware que deixem uma «porta das trazeiras» nos sistemas operativos e nos aparelhos (computadores, telefones, etc) dos seus utilizadores. Assim, poderão espiar toda a gente, armazenando os dados em bruto. 
Estes processos que ocorrem realmente neste Reino do Big Brother foram denunciados por Edward Snowden, Julius Assange e muitos outros. Ninguém, hoje em dia, contesta a sua realidade e gravidade. 
Apenas quero fazer notar que os prejuízos globais - não apenas morais, como materiais - que a sociedade tem de arcar são enormes, pois o custo de prevenir e remediar estes ataques informáticos são pesados, seja qual for a origem deles. 
Mas estes ataques são possíveis, ou mais fáceis, porque as empresas de software, as fornecedoras de internet e as construtoras de equipamento informático  são obrigadas a manter essas tais «portas das trazeiras». Não apenas servem elas para intrusão dos serviços da NSA, mas igualmente às potências estrangeiras, aos grupos terroristas e aos ladrões informáticos. 
Assim, a ciberguerra está a vigorar em pleno. Não há declaração de guerra formal, como aliás não houve em qualquer guerra do século XXI. 
A potência agressora pode manter a sua cobertura, no caso destas formas de guerra, espúrias e ocultas, que se conjugam com a guerra de informação, a guerra económica e a guerra de propaganda. 
- As guerras de propaganda travam-se no terreno dos media e são cada vez mais dependentes da Internet. 
- As guerras económicas, com sanções e bloqueios, que são - em si mesmas - formas de guerra, podem causar muitas  centenas de milhares de vítimas, as quais são inocentes civis, de forma tão eficaz como a guerra «a quente». Nesse caso, os agressores costumam usar falsas justificações, recorrendo à retórica dos direitos humanos e pintando o perigo onde ele não existe. 
- A guerra informática ou ciberguerra é uma outra forma de guerra assimétrica, tal como são as guerras económica e de propaganda. Ela permite aterrorizar a cidadania com ataques de falsa bandeira, pois as origens dos ataques sendo impossíveis de verificar,  é apenas por uma «fé» na palavra do governo que as pessoas acreditam nas narrativas oficiais. 
Enfim, a ciberguerra tem como alvo principal a população, refém dos governos, predadores e não protetores dos direitos e das vidas dos seus próprios cidadãos.

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

O ESPECTRO DO POLITICAMENTE CORRECTO

Hoje, quando pessoas bem pagas, com um lugar garantido no «establishment», tais como professores universitários, opinadores com lugar cativo em diversos canais de tv ou colunas de opinião nos jornais ditos de referência, se colocam em bicos de pés e clamam contra o escândalo da eleição de Trump, anunciando um terrível futuro, semelhante ao que se viveu na Europa sob Hitler, o que é que está em causa?
Afinal essa ínfima minoria que assim se exprime mostra a sua identidade de classe. É a que se aproveitou dos privilégios, todos estes anos. 
A que substituiu o «politicamente correto» à luta de classes, a que incentivou toda a espécie de divisões no seio da classe trabalhadora, com a ideologia identitária. 
Quando me refiro à ideologia identitária, não estou a negar que as pessoas tenham identidades definidas, num certo grau, pelas suas origens étnicas, pelo género, pela orientação sexual ou por outras características eminentemente culturais. 
Estou a referir-me à sobreposição dessas «marcas» de identidade a quaisquer considerações de classe socio-económica, à sua hipertrofia e até à redução total da identidade complexa de um ser humano, a um desses vetores. 
Assim, um determinado indivíduo «é» antes de mais um «branco» da «classe média»... Eliminam a identidade de classe, se dissessem «um trabalhador», seria susceptível de solidariedade espontanea, portanto tem de ser algo «diferente», a «classe média» (uma espécie de «tampão» entre trabalhadores e patronato). 
Eliminam a própria identidade étnica, pois colam a essa pessoa a pseudo-identidade étnica de «branco», a qual não tem significado, a não ser ideológico, como quem diz: «és branco/a, fazes parte dos exploradores, dos que se serviram dos escravos de cor, ao longo dos séculos e ainda estás cheio/a de complexos de superioridade rácicos»... É isto que se está a transmitir. 
Tornou-se impossível suportar o ataque ideológico constante, sem terem as pessoas uma reação de rejeição, pois seria necessário analisar friamente o discurso desses cultores do «politicamente correto» para perceber o quão odioso ele é, o quão anti-liberdade de opinião, o quão racista, no fundo, sob a etiqueta de «anti-racismo». O único comportamento verdadeiramente anti-racista é a não discriminação, não julgar alguém pela sua origem étnica, seja ela qual for.  
O mesmo se passa com o «feminismo bom tom», que utiliza a separação natural, biológica, dos sexos, para dividir as pessoas, para fazer «guerra de sexos»:  para tal, vão buscar uma mítica «identidade feminina», ou a construção dessa identidade, como se as pessoas devessem «construir» a sua sexualidade, pelo mesmo processo como constróem uma carreira... Totalmente absurdo, mas funciona, pois as pessoas envolvidas nessa dialética se fixam nessa «identidade de género» e passam a considerar tudo sob o ângulo dessa ideologia. 
Ser-se igual em termos de igualdade masculino/feminino só pode ser entendido com ter iguais direitos, serem ambos dignos da mesma consideração e respeito. Quando alguém coloca o seu género «acima» do outro, está também a ser ridículo/a, além de discriminador/a... 
O pensamento «politicamente correto» conseguiu - em poucas décadas- substituir as ligações naturais das pessoas que são sujeitas a trabalhar para viver, a classe trabalhadora, sem aspas - pelas falsas categorias como «classe média» e «identidade de género».  
Assim, ao serviço dos seus donos, os que detêm o privilégio de falar e escrever nos media têm propagado, em moldes de lavagem ao cérebro, a linguagem «politicamente correta», que apenas esconde -como um véu- a sua canina sujeição à classe dominante, ao 0,1%. Os que detém as rédeas do poder, permitem-lhes assim usufruir das migalhas do regabofe que tem sido «a crise», quando vista do lado dos dominantes.
As pessoas que são mais influenciadas pelo «politicamente correto» confundem as questões e vivem numa correria de «lutas» por esta ou aquela «causa» confundindo militantismo, com ativismo. 
- Ativismo é uma pessoa auto-assumir-se como alguém sempre pronto a «aderir» a uma luta, sem analisar os fins ou os meios da mesma. 
- Militantismo é o contrário, ou seja, quando se adere a determinadas lutas, isso é feito porque se refletiu e decidiu, conscientemente assim fazer. Além disso, o militante toma uma parte verdadeiramente ativa pois contribui para a organização das referidas lutas, reflete sobre as estratégias e táticas mais apropriadas, mais consentâneas com os fins em vista. 
O «ativista» apenas quer mostrar aos outros, que está «na onda», que ele/a é «radical q.b.» enfim, é uma pose, um estado de espírito... o seu estado de espírito vai de uma exaltação e agitação enorme, para uma completa indiferença e inatividade...
Foi assim que os senhores do capital e do poder conseguiram dominar nestes anos todos: dividindo para reinar. Nada mais velho e mais eficaz do que esta fórmula. 
Para esse fim, dispõem de uns opinadores, uma espécie de cães de guarda do regime, revestidos de boa consciência, cheios da sua missão de esclarecer as massas... 
Sim, eles estão a fazer o seu papel sujo, todos os dias, a todo o momento, na media corporativa, na qual não têm lugar, nunca, as vozes alternativas realmente capazes de denunciar as verdadeiras desigualdades, os verdadeiros crimes contra as pessoas, contra o ambiente, etc. 
As pessoas incautas vivem na ilusão de uma «liberdade» de informação e de opinião, que - na verdade- é cada vez mais escassa e marginalizada. 
A cegueira atinge as pessoas que teriam todas as razões do mundo em se unirem em torno de objectivos comuns, em vez de se deixarem dividir por «lutas» identitárias. Elas pensam: deixa-me ter atividade neste domínio, porque ao menos aqui pode-se conseguir melhorias no imediato, enquanto a luta pelo derrube do sistema capitalista, no seu todo, será muito difícil, haverá imensos obstáculos, posso sofrer muito mais por me envolver nela, ela tem estado a ser criminalizada.
No fundo, é esse o raciocínio de muitas pessoas, cheias de boa vontade, de mudar algo. 
Querem ser realistas, não reivindicam «o impossível», que seria mudar a própria base sobre a qual assenta a sociedade, a sua organização e a sua produção. 
É assim que a luta por um socialismo autêntico, não um capitalismo de Estado, se foi tornando cada vez menos prestigiada, cada vez mais «antiquada»... 
Mas podemos compreender os truques que usaram para nos enredar:
1- Desfazer a consciência de classe: os explorados, os assalariados, deixam de estar unidos numa classe... fala-se de «classe média» e dos «pobres»...o termo de «burguesia», por contraste, caiu em desuso, tal como o de «proletariado»
2- Criar falsas consciências pelas lutas identitárias: uma pessoa bem intencionada indigna-se com uma discriminação, uma forma de opressão, então considera que deve fazer seu estandarte desta causa, que terá prioridade sobre tudo o resto...
3- Demonizar a luta e a unidade de classe verdadeiras: com base em tais ativismos identitários, os explorados e oprimidos estarão separados, mesmo quando a sua união poderia trazer vitórias imediatas. Por vezes, os pobres, os explorados, os marginalizados irão mesmo combater-se ferozmente uns aos outros, em vez de combaterem o inimigo comum, a classe opressora.

São precisas pessoas com coragem e lucidez para reconhecerem esta estratégia....Para reconhecerem que ela foi aplicada com persistência e talento pela classe dominante... Que ela resultou, em grande parte, o que explica o marasmo em que se encontra a luta de classes, nesta época em que a classe trabalhadora tem sofrido tanto do ponto de vista económico, como de direitos.
Mas as pessoas -coletivamente- são capazes de inverter completamente as situações, uma vez que tomem consciência dos problemas, uma vez que sejam capazes de ver claramente o que é preciso fazer.
«Será que tal posição X, tal luta Y, serve o objetivo de aumentar a unidade e consciência de classe geral dos trabalhadores, ou não?» 
Esta será uma pergunta-chave para já não se deixarem manipular, para deitarem pela borda fora falsos conceitos, encontrarem sua orientação própria, evitando uma  série de becos-sem-saída... 


quinta-feira, 17 de novembro de 2016

DMITRI ORLOV SOBRE O PRESENTE E FUTURO

O entrevistado no video abaixo, Dmitri Orlov é um cidadão dos EUA de origem russa. Emigrou com os seus pais durante a infância e manteve muitos contactos com o seu país de origem. Quando se deu a implosão da URSS, teve o «privilégio» de observar e analisar em directo o que se passou na sociedade russa. 
Muitas lições valiosas para as gentes do «ocidente» extraíu ele, nomeadamente, a resiliência do povo e sua capacidade de se adaptar a um colapso. 
Tem escrito livros que são uma súmula de lições de história, de ciência política e de sociologia sobre o início do novo milénio. 
A imprensa main-stream não apenas o ignora, faz um trabalho de ocultação de todos os factos que ele revela e que lhe permitem fundamentar uma visão do mundo diferente  e oposta da média. 
Ele acusa a média de apenas estar a reproduzir a propaganda que uma pequeníssima oligarquia deseja ver difundida nas massas. 

O trabalho de auto-educação da cidadania e do espírito crítico para os que se interessam pelos destinos do mundo e de suas próprias sociedades terá muito a ganhar com a leitura dos seus livros e do seu blog, ClubOrlov.




segunda-feira, 14 de novembro de 2016

ALIENAÇÃO, NECESSIDADE DE REVISITAR O CONCEITO

Nos dias de um Freudo-Marxismo omnipresente no discurso dos «opinadores», algumas décadas atrás, falava-se de alienação, sobretudo para citar o desapossamento do operário em relação ao produto do seu trabalho e ao seu próprio trabalho. Em simultâneo, usava-se o termo para menosprezar os que se entretinham com «futilidades» e não se dedicavam à «luta revolucionária»; neste caso, o uso da palavra alienação era para verberar as pessoas que se satisfaziam com o que a sociedade de consumo lhes podia fornecer, alienando-se no consumismo, na ausência de consciência social. Essas formas de usar o termo, ambas carregadas de ideologia, foram tornando a palavra «antiquada» e logo a riqueza polissémica do conceito de alienação deixou de ser percebida. 
Porém, no momento presente, vale a pena que nos debrucemos melhor sobre este conceito. Com efeito, «alien», significa etimologicamente «estrangeiro», só depois veio a significar um louco: assim, um doente mental está alienado na medida em que perdeu a consciência dos seus próprios atos e do seu entorno. Não compreende já, minimamente, como se encontra inserido no ambiente natural e social, já não conseguindo adequar o seu comportamento a uma realidade exterior. 
Mas o mesmo termo pode ser usado e também significa que um indivíduo perdeu ou que nunca teve os direitos de «cidadão», pois o «estrangeiro» é, por definição, aquele que não possui cidadania. 
O estado de não participação na coisa pública em que a maior parte das pessoas se confina, mesmo as que ainda «se interessam por política», faz delas alienadas, num determinado sentido. 
Elas são alienadas no sentido de serem jogetes nesta economia de mercado, condicionadas a consumir, a produzir para consumir, consumir para terem a ilusão de viver, de serem «alguém». 
As pessoas consomem bens, mas também consomem «ideias» ou slogans, formas abastardadas e ultra-simplificadas de uma determinada teoria. 
Elas julgam conhecer os filósofos ou pensadores, quando apenas leram (superficialmente) algumas citações dos mesmos. Elas nem sequer lêem: têm a TV, a Internet, o Twitter, etc. para se informarem e comunicarem. 
Assim, a alienação tem progredido: basta estar-se atento ao facto das pessoas se julgarem cada uma delas o centro do mundo e atuando como tal.  
Não posso, neste breve artigo, analisar em profundicade as raízes e ramificações desta alienação. Evidentemente, um fenómeno complexo terá muitas causas, que se interpenetram, não haverá nunca uma explicação linear, que possa minimamente satisfazer. Em sociologia e em psicologia social, entre muitos conceitos que podem ajudar-nos, vale a pena recordar o conceito de alienação, contextualizando-o, usando-o com rigor. 
O conceito, assim renovado, permitirá compreender como as multidões são tão facilmente usáveis, manipuláveis pelos media, como é que estes conseguem desencadear o medo, sobretudo,  como forma de manipulação dos sentimentos das multidões, deixando de lado quaisquer laivos de verosimilhança, de rigor informativo. 
Com efeito, um espírito livre verá facilmente os truques de propaganda, disfarçados de informação, usados pelos media corporativos. Porém, essa manipulação, tão visivel, tão fácil de desmontar, tem capacidade de influenciar e mesmo moldar o comportamento de pessoas. Como é que muitas pessoas, mesmo as que têm um nível de instrução elevado, se deixam enredar num universo ficcional, que reproduz os estereótipos da propaganda disfarçada de «informação»? 
- Penso que nós estamos a viver o início de uma nova era de totalitarismo: existem demasiadas coisas que se parecem com os inícios dos Estados totalitários do século XX, das tomadas de poder quer de Estaline, quer de Hilter, assim como de outros poderes totalitários. Os regimes totalitários que então se instalaram, não se afirmaram de início como uma enorme chapa de chumbo por cima do povo que os aclamou. 
Eles foram conquistando todos os mecanismos de controlo da sociedade e não apenas do Estado, efetuando um trabalho de propaganda massiça, sem quaisquer contrapontos, pois estes foram impiedosamente esmagados, mas em segredo. Assim, a generalidade dos indivíduos não tinha a mínima noção da brutalidade exercida contra as dissidências, nem sabia a escala da supressão dessas dissidências. 
Agora, o «totalitarismo soft» não necessita da supressão física das dissiências. As poderosas cadeias de média, autênticas máquinas de propaganda ao serviço dos poderes apenas se limitam a «ignorar» algo. 
Podem «ignorar» um movimento, uma corrente, até ao momento em que esta realidade se torne demasiado incómoda. Assim, muitas pessoas caem na armadilha mediática e fazem coisas somente para atrair a atenção dos media... que lhes dão uns instantes da sua programação, para logo se dedicarem a encher os écrans com futilidades, mediocridades, desporto-espectáculo, etc. com aquilo que o «grande público» gosta...
Hoje em dia, a barbárie é chamada pelos próprios «defensores dos direitos humanos», que não se importam que «sua» candidata (por ser mulher?) possa afirmar-se como campeã do feminismo e simultaneamente, receber os milhões e fazer os favores correspondentes à Arábia Saudita, o reino mais misógino e brutal que existe à face da Terra! 
Existe muito boa gente muito preocupada com os refugiados das guerras do Médio-Oriente. Claro, estes refugiados devem ser tratados com todo o carinho que merecem, mas porque razão é que as pessoas não dirigem simultaneamente a sua firme desaprovação perante as pessoas e os poderes - os dirigentes duma NATO com intervenções militares criminosas - primeiramente responsáveis pela destruição de suas vidas, de seus haveres e de seus países inteiros? Como é isto possível sem uma operação muito bem concertada de lavagem ao cérebro? Como é isto possível sem que as pessoas se apercebam da óbvia incongruência? 
O conceito de alienação -na sua polissemia - parece-me adequado para analisar a sociedade de hoje: as pessoas estão «alheadas», «alienadas» da sua cidadania, estão «ignorantes» ou «alienadas» da realidade social, apenas concentradas num círculo imediato de «interesses», nas suas «micro-redes sociais» que apenas reforçam recíprocamente os seus preconceitos. 
Materialmente, também estão - sem dúvida - «alienadas», quando usam compulsivamente a parafrenália informática em todo o lado... o telemóvel, a tablet, o desktop... etc. 
Mas não usam, de forma nenhuma, ou só de forma muito deficiente, o seu «PC interno», ou seja, o cérebro, que poderia analisar e processar corretamente informação, se elas tivessem o cuidado de o utilizar de forma apropriada!!
Penso que, apesar de tudo e no longo prazo, haverá sempre pessoas capazes de usar de forma criativa os instrumentos da revolução digital. Nós vemos exemplo disso - felizmente - em muitos campos. 
Infelizmente, porém, em face de meia-dúzia de pessoas realmente criativas, que o seriam também na ausência da revolução digital,  vemos imensas que se deixam alienar e dominar pelos poderes: essa assimetria é assustadora. 
Não temos uma cidadania mais esclarecida porque melhor informada. Temos exatamente o contrário daquilo que foi esperado, com optimismo, nos anos 70 do século passado, pelos que olhavam  para a revolução da informática, então nascente.
Não tenho receita ou remédio para oferecer perante estes novos fenómenos de alienação e suas diversas vertentes, mas creio que a consciência de que existe um problema é um primeiro passo. Depois, caberá a cada um, em diálogo com os seus semelhantes,  encontrar a resposta adequada, na vida pessoal e social.