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quarta-feira, 16 de agosto de 2017

DESPEDIMENTO DE ENGENHEIRO NA GOOGLE E O POLITICAMENTE CORRETO

A TIRANIA DO POLITICAMENTE CORRETO JÁ CHEGOU LONGE DEMAIS

Porque motivo o caso do despedimento de James Damore - engenheiro na Google-  é tão importante. 

A TIRANIA DO POLITICAMENTE CORRETO é um aspeto muito importante da falta de liberdade de expressão e de opinião, especialmente em certos meios. 
Temos agora o caso de um jovem engenheiro da Google que escreveu um artigo interno, destinado a corrigir aquilo que considerava incorreto: a política de «igualdade de género» da Google, postula - como um dogma - que não existem diferenças entre os sexos. 
Ora, tem muita razão, este jovem engenheiro (um doutorado em engenharia informática que estudou também biologia). 
Não há no seu artigo nada de polémico, ele é mesmo prudente nas suas formulações e apoia-se em dados científicos consensuais (ver acima o link para o artigo).
Então porquê esta perseguição, este «caso»? 
- Eu penso que é sintoma de uma doença de perversão total da democracia nos EUA. 
É sintoma da ausência de verdadeiro debate e de terrorismo totalitário que se instalou há bastante tempo em muitos locais, sobretudo em determinados círculos de poder: as universidades, as mega-corporações. 

Esta situação suscita-me as seguintes reflexões:

Além dos poderes tradicionais dos Estados e das corporações, existem poderes diversos nas sociedades, que podem - em última instância- estar ao serviço do Estado ou Corporações, ou de ambos, mas que dispõem de uma certa autonomia, em termos teóricos, dispõem duma aparente liberdade: estou a falar da media e da academia

São locais onde a discriminação por defender ideias, sejam elas quais forem, tem uma ressonância mais forte. Isto é devido a nos dizerem que a liberdade de pensamento e de expressão, seria a base da sociedade liberal democrática, a base mesmo da nossa civilização. 

Foi-nos inculcado o mito de que académicos e jornalistas seriam pessoas totalmente livres de exprimir a sua opinião, mesmo quando em contradição com as correntes predominantes. 

Na verdade, é exatamente o contrário que se passa! 
Os académicos e os jornalistas, só conseguem adquirir e reforçar a sua posição dentro das instituições e nos respetivos meios sociais se forem praticamente submissos ao status quo, sendo apenas tolerada uma «extravagância», mas nunca algo que possa ser um verdadeiro desvio ao sacro-santo «consenso»... 

Isto é, sem dúvida, um ambiente totalitário, bem semelhante aos períodos do totalitarismo Estalinista, nos países da órbita soviética, e também na época da «Revolução Cultural» na China de Mao.  

Tudo isto está relacionado com a política e a «cultura» identitária: segundo esta, as pessoas definem-se pelas «identidades»... de género, de orientação sexual, de «raça», de cultura, etc... Este modo de ver as pessoas é completamente estereotipado, dogmático, mas são justamente os portadores destes estereótipos e dogmas que detêm o poder em muitas instituições importantes. 
Como uma polícia religiosa, como uma Inquisição, lançam anátemas, ostracizam, perseguem e vão ao ponto de excluir do emprego alguém com uma visão de uma profundidade muito maior e mais científica que eles. 

Este jovem engenheiro só cometeu um erro: não tinha compreendido que eles não estavam interessados na verdade, mas apenas na obediência a um dogma (absurdo) da «igualdade de género». 
Ainda bem que ele veio cá para fora  e explicou o que se passou; assim sabemosqual o tipo de sociedade que a Google e os polícias do espírito (= politicamente correto!) promovem! 

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

O ESPECTRO DO POLITICAMENTE CORRECTO

Hoje, quando pessoas bem pagas, com um lugar garantido no «establishment», tais como professores universitários, opinadores com lugar cativo em diversos canais de tv ou colunas de opinião nos jornais ditos de referência, se colocam em bicos de pés e clamam contra o escândalo da eleição de Trump, anunciando um terrível futuro, semelhante ao que se viveu na Europa sob Hitler, o que é que está em causa?
Afinal essa ínfima minoria que assim se exprime mostra a sua identidade de classe. É a que se aproveitou dos privilégios, todos estes anos. 
A que substituiu o «politicamente correto» à luta de classes, a que incentivou toda a espécie de divisões no seio da classe trabalhadora, com a ideologia identitária. 
Quando me refiro à ideologia identitária, não estou a negar que as pessoas tenham identidades definidas, num certo grau, pelas suas origens étnicas, pelo género, pela orientação sexual ou por outras características eminentemente culturais. 
Estou a referir-me à sobreposição dessas «marcas» de identidade a quaisquer considerações de classe socio-económica, à sua hipertrofia e até à redução total da identidade complexa de um ser humano, a um desses vetores. 
Assim, um determinado indivíduo «é» antes de mais um «branco» da «classe média»... Eliminam a identidade de classe, se dissessem «um trabalhador», seria susceptível de solidariedade espontanea, portanto tem de ser algo «diferente», a «classe média» (uma espécie de «tampão» entre trabalhadores e patronato). 
Eliminam a própria identidade étnica, pois colam a essa pessoa a pseudo-identidade étnica de «branco», a qual não tem significado, a não ser ideológico, como quem diz: «és branco/a, fazes parte dos exploradores, dos que se serviram dos escravos de cor, ao longo dos séculos e ainda estás cheio/a de complexos de superioridade rácicos»... É isto que se está a transmitir. 
Tornou-se impossível suportar o ataque ideológico constante, sem terem as pessoas uma reação de rejeição, pois seria necessário analisar friamente o discurso desses cultores do «politicamente correto» para perceber o quão odioso ele é, o quão anti-liberdade de opinião, o quão racista, no fundo, sob a etiqueta de «anti-racismo». O único comportamento verdadeiramente anti-racista é a não discriminação, não julgar alguém pela sua origem étnica, seja ela qual for.  
O mesmo se passa com o «feminismo bom tom», que utiliza a separação natural, biológica, dos sexos, para dividir as pessoas, para fazer «guerra de sexos»:  para tal, vão buscar uma mítica «identidade feminina», ou a construção dessa identidade, como se as pessoas devessem «construir» a sua sexualidade, pelo mesmo processo como constróem uma carreira... Totalmente absurdo, mas funciona, pois as pessoas envolvidas nessa dialética se fixam nessa «identidade de género» e passam a considerar tudo sob o ângulo dessa ideologia. 
Ser-se igual em termos de igualdade masculino/feminino só pode ser entendido com ter iguais direitos, serem ambos dignos da mesma consideração e respeito. Quando alguém coloca o seu género «acima» do outro, está também a ser ridículo/a, além de discriminador/a... 
O pensamento «politicamente correto» conseguiu - em poucas décadas- substituir as ligações naturais das pessoas que são sujeitas a trabalhar para viver, a classe trabalhadora, sem aspas - pelas falsas categorias como «classe média» e «identidade de género».  
Assim, ao serviço dos seus donos, os que detêm o privilégio de falar e escrever nos media têm propagado, em moldes de lavagem ao cérebro, a linguagem «politicamente correta», que apenas esconde -como um véu- a sua canina sujeição à classe dominante, ao 0,1%. Os que detém as rédeas do poder, permitem-lhes assim usufruir das migalhas do regabofe que tem sido «a crise», quando vista do lado dos dominantes.
As pessoas que são mais influenciadas pelo «politicamente correto» confundem as questões e vivem numa correria de «lutas» por esta ou aquela «causa» confundindo militantismo, com ativismo. 
- Ativismo é uma pessoa auto-assumir-se como alguém sempre pronto a «aderir» a uma luta, sem analisar os fins ou os meios da mesma. 
- Militantismo é o contrário, ou seja, quando se adere a determinadas lutas, isso é feito porque se refletiu e decidiu, conscientemente assim fazer. Além disso, o militante toma uma parte verdadeiramente ativa pois contribui para a organização das referidas lutas, reflete sobre as estratégias e táticas mais apropriadas, mais consentâneas com os fins em vista. 
O «ativista» apenas quer mostrar aos outros, que está «na onda», que ele/a é «radical q.b.» enfim, é uma pose, um estado de espírito... o seu estado de espírito vai de uma exaltação e agitação enorme, para uma completa indiferença e inatividade...
Foi assim que os senhores do capital e do poder conseguiram dominar nestes anos todos: dividindo para reinar. Nada mais velho e mais eficaz do que esta fórmula. 
Para esse fim, dispõem de uns opinadores, uma espécie de cães de guarda do regime, revestidos de boa consciência, cheios da sua missão de esclarecer as massas... 
Sim, eles estão a fazer o seu papel sujo, todos os dias, a todo o momento, na media corporativa, na qual não têm lugar, nunca, as vozes alternativas realmente capazes de denunciar as verdadeiras desigualdades, os verdadeiros crimes contra as pessoas, contra o ambiente, etc. 
As pessoas incautas vivem na ilusão de uma «liberdade» de informação e de opinião, que - na verdade- é cada vez mais escassa e marginalizada. 
A cegueira atinge as pessoas que teriam todas as razões do mundo em se unirem em torno de objectivos comuns, em vez de se deixarem dividir por «lutas» identitárias. Elas pensam: deixa-me ter atividade neste domínio, porque ao menos aqui pode-se conseguir melhorias no imediato, enquanto a luta pelo derrube do sistema capitalista, no seu todo, será muito difícil, haverá imensos obstáculos, posso sofrer muito mais por me envolver nela, ela tem estado a ser criminalizada.
No fundo, é esse o raciocínio de muitas pessoas, cheias de boa vontade, de mudar algo. 
Querem ser realistas, não reivindicam «o impossível», que seria mudar a própria base sobre a qual assenta a sociedade, a sua organização e a sua produção. 
É assim que a luta por um socialismo autêntico, não um capitalismo de Estado, se foi tornando cada vez menos prestigiada, cada vez mais «antiquada»... 
Mas podemos compreender os truques que usaram para nos enredar:
1- Desfazer a consciência de classe: os explorados, os assalariados, deixam de estar unidos numa classe... fala-se de «classe média» e dos «pobres»...o termo de «burguesia», por contraste, caiu em desuso, tal como o de «proletariado»
2- Criar falsas consciências pelas lutas identitárias: uma pessoa bem intencionada indigna-se com uma discriminação, uma forma de opressão, então considera que deve fazer seu estandarte desta causa, que terá prioridade sobre tudo o resto...
3- Demonizar a luta e a unidade de classe verdadeiras: com base em tais ativismos identitários, os explorados e oprimidos estarão separados, mesmo quando a sua união poderia trazer vitórias imediatas. Por vezes, os pobres, os explorados, os marginalizados irão mesmo combater-se ferozmente uns aos outros, em vez de combaterem o inimigo comum, a classe opressora.

São precisas pessoas com coragem e lucidez para reconhecerem esta estratégia....Para reconhecerem que ela foi aplicada com persistência e talento pela classe dominante... Que ela resultou, em grande parte, o que explica o marasmo em que se encontra a luta de classes, nesta época em que a classe trabalhadora tem sofrido tanto do ponto de vista económico, como de direitos.
Mas as pessoas -coletivamente- são capazes de inverter completamente as situações, uma vez que tomem consciência dos problemas, uma vez que sejam capazes de ver claramente o que é preciso fazer.
«Será que tal posição X, tal luta Y, serve o objetivo de aumentar a unidade e consciência de classe geral dos trabalhadores, ou não?» 
Esta será uma pergunta-chave para já não se deixarem manipular, para deitarem pela borda fora falsos conceitos, encontrarem sua orientação própria, evitando uma  série de becos-sem-saída...