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sábado, 4 de junho de 2022

DEMOCRACIA NÃO É «LOBBYISMO»

 


Estou agora a ler um livro sobre política: chama-se «Red Handed» (de Peter Schweizer) e mostra como as elites do dinheiro e do poder nos EUA, se entrelaçam com os interesses das hierarquias «comunistas» de Pequim. Explica-nos quando e como são montadas sociedades, grupos, joint-ventures, comités, etc. destinados a corromper figuras como Joe Biden, Dianne Feinstein, Nancy Pelosi, Mich McConnell e muitos outros. É evidente que este tipo de captura, para servir interesses de determinados grupos, países ou indústrias é um facto generalizado e aceite como «trivial», faz parte dos costumes políticos nos EUA.
Este método de exercer pressão sobre políticos no poder, através de lobbies, tem muito maior eficácia do que advogar as mesmas ideias, ou soluções, junto dos eleitores. De facto, a maneira tradicional de fazer política, que passa por seduzir os eleitores e mobilizá-los em torno de ideias, slogans, ideologias, para votarem em pessoas, supostamente capazes de as concretizar, é uma falsidade em si mesma. Para fazer esta política eleiçoeira, os candidatos vão tudo prometer, para obter o máximo de votos, sendo certo que a partir do momento em que cheguem ao poder, o «realismo político» impõe-lhes fazerem «compromissos», ou até «viragens de 180º», em relação às promessas eleitorais.
Mas, a política «por lobbies» vai mais além: serve-se de demagogia eleiçoeira, mas desenvolve-se num quadro de compromisso secreto/subordinação com altas esferas dos negócios. Quanto mais poderosos forem os financiadores, maior capacidade terão de corromper.
Os políticos, mesmo que comecem por ser generosos e idealistas, caem depressa nas malhas de redes de interesses entrecruzados. Chegam a cair em armadilhas, que permitem serem chantageados a preceito. Não tenho compaixão por eles/elas, porém: Estão conscientes do jogo e jogam-no. Não o fazem por idealismo mas, porque terão poder e fortuna. Se não se rebelarem, se servirem bem os interesses da oligarquia, poderão tornar-se membros da casta dos multimilionários.
Eu estou certo que este modelo está espalhado por todo o globo, obviamente também em países onde existam ditaduras: O livro acima mencionado, não deixa a mínima dúvida (com múltiplas provas) de que o poder, em Pequim, segue caminhos análogos. A única diferença, é que não é apenas o poderio do dinheiro que conta, mas a combinação deste com a posição hierárquica dentro do Partido Comunista da China.
O que as pessoas mal informadas não percebem, é que não existe qualquer superioridade moral das chamadas democracias do Ocidente. Não são menos corruptas, que os chamados regimes autocráticos ou totalitários: Na verdade, a vontade popular é posta de lado, a única «concessão», são as eleições. Porém, nestas, os candidatos não são os nossos: Eles já foram capturados previamente, por uma série de lobbies. Sem isso - sem esses grupos de interesses - não teriam exposição mediática, apoios financeiros, ou cumplicidades dos que também querem uma fatia do bolo do poder.
Uma questão política de fundo, no contexto das democracias ocidentais é a de saber-se como as pessoas se podem autoeducar, como se podem descolar duma visão ingénua, que é resultante da propaganda que se despeja sobre elas. Isso implica um sentido crítico elementar, um distanciamento. Mas as pessoas continuam a aderir aos discursos, às narrativas, da media mainstream.
Para haver uma democracia genuína, sem aspas, a condição elementar é as pessoas estarem esclarecidas e atentas às ações de governantes e parlamentares. Só assim poderão fazer escolhas, realmente. Só nestas circunstâncias haverá expressão da sua vontade. Só havendo uma educação política real, poderá existir democracia. Como este mecanismo foi sabotado, negado, eliminado, temos apenas «ficções de democracia».
A realidade é que os Estados são governados por uma aristocracia do dinheiro, usando «homens e mulheres de palha», que se prestam a fazer esse jogo de simulação. Este processo fraudulento é que permite explicar por que razão nos países ocidentais, pode haver uma liberdade aparente, mas - na verdade - estamos em ditadura totalitária «soft». Que haja outros países também em ditadura, soft ou hard, não impede que as pessoas no Ocidente sejam enganadas e espoliadas. Em especial, é-lhes negado o direito de participar e decidir sobre o rumo do seu país:
- Se a soberania reside no povo, isso não se nota. Então, é porque foi confiscada pela casta no poder!

segunda-feira, 30 de maio de 2022

A REALIDADE ACABA, SEMPRE, POR SER MAIS FORTE


Mattias Mesmet avança explicações sábias para a hipnose coletiva que assolou o Mundo inteiro durante a «pandemia» de Covid.
Agora, com hipnose ou sem ela, as pessoas parecem-me enraivecidas contra os que são designados «os maus» pela propaganda. Fico chocado com a total rendição de pessoas, outrora defensoras de valores do humanismo e direitos humanos. São capazes de atitudes discriminatórias, aprovando-as ou ficando indiferentes, face à demonização de todo um povo, o povo russo.
Nenhum povo tem a responsabilidade dos atos dos seus dirigentes, na verdade. Nós sabemos isso: No Ocidente, também, governos e maiorias parlamentares costumam decretar ou votar medidas ao contrário dos programas eleitorais na base dos quais foram eleitos.
Dizer que «o povo tem os dirigentes que merece» é uma grande injustiça. É como se o povo, enganado, tivesse -ainda por cima! - a responsabilidade pelo mal que os políticos fazem! O facto de fazerem esse mal, e que seja feito em nome dos eleitores e do povo, é apenas adicionar escárnio à injúria.
Eu não sei qual a popularidade respetiva dos diversos dirigentes mundiais; não tenho confiança nos «institutos de sondagens»; nem sequer, no que significam as eleições num dado país pois, como disse acima, as pessoas costumam ser completamente enganadas. São inundadas por promessas demagógicas, ou submetidas uma intensa propaganda de ódio contra os «inimigos designados» do momento.
De facto, pouco importa. Pois a minha preocupação é que as pessoas comuns estão demasiado dependentes da bolha de narrativas enganadoras, que recebem constantemente, da média corporativa e que realmente consegue influenciar a generalidade do público.
O efeito é de tal ordem, que as pessoas não acreditam naquilo que têm diante dos olhos: É o conto d'«O Rei Vai Nu» que deveria ser reescrito, de acordo com a versão de Bob Moran:


Em face do que se tem passado, verifico que o meu receio duma nova «idade das trevas», dum recuo civilizacional, parece confirmar-se.
Não vejo outra saída, que não seja ao nível de pequenos grupos de indivíduos, que se juntem para se entreajudar e para encontrar formas inteligentes de resistir.
 O convencimento das pessoas não decorre -infelizmente - de ouvirem ou lerem uma qualquer argumentação racional contrária às suas crenças. Mesmo quando se apresentem muitos argumentos racionais e lógicos. Os humanos não são seres racionais, mas «que racionalizam».
De facto, muitas pessoas preferem teimar que têm razão, a terem que conceder que se enganaram, ou que se deixaram aldrabar por um trapaceiro, etc.
Não perdoam a alguém que lhes demonstre que elas estavam enganadas. Mesmo que esse alguém utilize linguagem cordata, não agressiva e quando os argumentos são realmente bons.
O seu «amor-próprio» faz com que recusem aceitar que foram arrastadas na «manada», ou seja, na onda de entusiasmo momentâneo, emocional.
Então, não há nada a fazer?
- Não é bem assim: Há que manter a criteriosa avaliação da realidade, tal como ela é. Não cairmos no pessimismo, nem deixar de ver as realidades em face, mesmo quando elas são «feias». Há que ter muito autocontrolo e não querer convencer, seja quem for: as pessoas convencem-se a si próprias, em consequência das circunstâncias em que são colocadas. Ou vivem uma experiência que faz a diferença, ou nunca mudarão de opinião, seja sobre o que for. É o primado da prática.
Para algumas pessoas, um leve trauma chega para mudarem de atitude. Para outras, é necessário um acontecimento muito mais marcante.
Para a generalidade das pessoas, o «efeito de vizinhança» tem um papel decisivo; quando - em volta do indivíduo - estão todos a apoiar determinada narrativa, quase ninguém se atreve a contrariar essa versão.
Vimos, no caso do COVID, que muitos profissionais de saúde tinham fundadas e sensatas objeções, quanto aos métodos de tratamento, mas tiveram que se sujeitar aos protocolos impostos administrativamente, inadequados e que fizeram aumentar o número de mortes. Porém, não foram frequentes os que se rebelaram. Os que o fizeram, foram arrastados na lama. Em muitos casos, foram punidos por terem mostrado independência. Um grande número terá recuado e fingido concordar com as diretivas, por receio de ter sua carreira e emprego postos em causa.
De facto, as pessoas que controlam as narrativas são, muito diretamente, pessoas do poder. Mesmo, quando se revestem de títulos científicos (como Ferguson ou Fauci e muitos outros) são - de facto - os que falsificam a ciência, pretendendo ser «a ciência». Seu jogo consiste em favorecer os poderosos, multimilionários, cuja fortuna é superior ao PIB de nações e não das mais fracas.
Os governos são manipulados por este grupo de super-ricos: Tudo o que esta aristocracia tem de fazer, é manter os «seus» políticos na dependência, através de generosas doações.
Qual é o político que, para não fazer algo que contradiga as suas convicções, prefere perder as eleições, porque perdeu os apoios financeiros para a campanha dispendiosa ?
De facto, só chegam a disputar o poder, pessoas que realmente não têm escrúpulos nenhuns. Já tenho demonstrado, noutros artigos, como o sistema dos partidos é uma espécie de sistema de seleção darwiniana ao contrário: Só sobrevivem, prosperam e triunfam, os piores, os menos escrupulosos, os destituídos de moral, os que desprezam seus eleitores.
Nestas circunstâncias, a questão nem se põe de querer disputar algo no terreno político, que está completamente corrompido.
Mas, faz sentido nos reunirmos com pessoas que estejam também elas fartas desses psicopatas e sociopatas.
O essencial é construir alternativas de vida, de relacionamento, de educação, capazes de manter um certo número fora da atração da política: Pessoas capazes de construir-se, de forma integral, quer no plano profissional, familiar, ou social.
A «democracia», tal como é praticada no Ocidente, é «um repelente» para pessoas saudáveis, com bons instintos, que não gostam de dominar os outros, nem ser dominadas.
Pois essas pessoas existem e não são poucas. Eu não sei se, eventualmente, são a maioria, ou não. O que eu sei, pela minha experiência vivida, é que muitas pessoas se julgam muito mais impotentes, do que na realidade são: Pensam estar isoladas, marginais, mas isso não é verdade, pois - de facto - existem muitas outras como elas.
O tipo de vida nas nossas sociedades, é que é  causador desse isolamento. As vidas das pessoas são compartimentadas: Não têm verdadeiros convívios, além da família, mas mesmo esta é muito restrita, visto que a família alargada (tios, primos, etc.) «desapareceu». Só resta, na prática, a família nuclear (o casal e os filhos).
No fundo, trata-se de cultivar a convivialidade, com o propósito de que vá além do mero prazer de conviver. Seria interessante desenvolver «clubes», «academias», ou outros agrupamentos onde as pessoas possam realizar o que gostem e interagir com outras, cujos interesses sejam afins.
Note-se que isto não implica, de modo nenhum, uniformidade ou convergência política ou ideológica. Não é o propósito deste tipo de associações. A verdade é que estas associações são de natureza cultural. São polos de civismo, que educam e perpetuam relações de entreajuda, de tolerância e promovem a construção de projetos em comum.
Estamos em plena era digital, da Internet e dos smartphones mas, isto não significa que a procura de contato direto, genuíno, baseado nos interesses das pessoas, deixe de fazer sentido. Considero que é preciso reinvestir este campo da sociabilidade direta, sem ser com uma finalidade «interesseira». A motivação não deveria ser profissional, de negócios, ou partidária.
Não possuo um «livro de instruções», para a construção de tais associações. Pode-se partir de instituições existentes, que precisam de ser revitalizadas, ou de grupos, mais informais, de afinidade. É frequente acontecer - espontaneamente - entre adolescentes que partilham o mesmo gosto por desporto, ou por música. Mas, pode ser cultivado em qualquer outra etapa da vida.
De qualquer maneira, existe um campo enorme para um trabalho transversal, que não passa por relações «mercantis» ou «hierárquicas». É neste campo que julgo valer a pena nos investirmos, não em estruturas de poder, que são as associações de cariz político.
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PS1: Veja artigo do Dr. Robert Malone, confirmando o que digo acima, a propósito da onda de medo induzida pela media, usando «monkeypox»: 

FAMÍLIA BIDEN E A CHINA, UMA REDE DE COMPANHIAS E CORRUPÇÃO


Sasha Gong, jornalista de origem chinesa, que conhece a fundo a sociedade chinesa, é entrevistada por Syer Iyer (autor indiano)


É uma entrevista realmente importante; a maior parte das pessoas não faz ideia da rede de corrupção ligada à família Biden, os negócios da China. 

Naturalmente,  esta rede de corrupção é tão densa, que são precisos vários capítulos. Note-se que muito do que está no famoso «lap top» de Hunter Biden e que diz respeito aos seus negócios, tanto na Ucrânia como na China, está largamente por divulgar. Não se pode omitir, porém, que Joe Biden está visceralmente interessado - por razões pessoais - na continuação da guerra na Ucrânia. A classe política capitaliza sobre os lucros das indústrias de «defesa», cujas vendas têm atingido recordes, desde o início desta guerra. Isto dá uma medida da profunda corrupção, em que está envolvido o poder em Washington.
 

sábado, 19 de março de 2022

CITAÇÕES DE GEORGE ORWELL





Eis a «comunidade internacional» de que eles constantemente falam. Ao ver este «novo Mapa-Mundi», achei que tinha grande semelhança com a «Oceânia» do romance «1984», escrito há quase 80 anos por Orwell:
 


Entretanto, George Orwell, de forma bastante surpreendente, voltou e lê a crónica de 2022:


quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

AQUILO QUE NÃO TEM PREÇO [entrevista a Annie Le Brun]


 "Aquilo que Não Tem Preço" de Annie Le Brun, um livro de crítica da arte contemporânea e do capitalismo mundializado, que vem desfazer a ilusão gerada pela sociedade do consumo. 
A mercantilização da arte é parte integrante da mercantilização da própria sensibilidade humana.

domingo, 23 de janeiro de 2022

[REFLEXÃO] A «LIBERDADE» DE SER ESCRAVO

                 Leviathan: o poder é composto de muitos súbditos que formam a sua anatomia
 

Quando eu oiço, leio e vejo muitas das coisas que ocorrem no presente, fico estarrecido. Questiono-me, algumas vezes, por que razão as pessoas não acordam: Várias explicações psicológicas podem ser avançadas. Uma, que me parece aplicar-se com especial acuidade à época que vivemos, é a da «dissonância cognitiva». 

- O que é a dissonância cognitiva? 

Melhor que ninguém vos dirão os psicólogos, mas pelo que compreendo deste assunto, a dissonância cognitiva surge em situações de extrema tensão (stress), uma tensão que não se pode resolver, ou seja, o sujeito não pode nem escolher a «fuga», nem o «combate». Uso estes termos entre aspas, porque estas designam situações tanto em sentido literal, como metafórico. As pessoas vêm-se numa situação penosa, frustrante, incapazes de fugir ou de combater o mal que as atormenta. A dissonância surge da contradição entre a realidade que cerca o indivíduo e as crenças que lhes foram plantadas na mente, pela propaganda, educação, religião, etc. A fictícia resposta consiste em não querer ver a realidade, negar as evidências, em «preferir» acreditar nos contos de fadas, a ter que reconhecer que tudo em que se tinha «acreditado», era apenas uma mentira, era falso. Isto caracteriza o estado de denegação (= denial em inglês).

Na sociedade distópica atual, as realidades que todos podem constatar são negadas, enquanto nos obrigam a «acreditar» (ou a fingir que acreditamos) nas narrativas mais retorcidas e  absurdas. Por exemplo, vemos a transformação dos Estados ditos democráticos em ditaduras policiais; a criação duma classe de sub-humanos; a instauração de um apartheid «sanitário». Todas estas monstruosidades destinam-se a criar um estado de sideração e medo nas pessoas «normais»,* que «cumprem seus deveres e obedecem às leis». O problema, é que essas tais «leis» são celeradas (também ilegítimas e inconstitucionais). Quem as planeou e decretou, são  criminosos psicopatas; e quem as implementa, fica conivente desses crimes. 

    Mulher mostra o seu «passe vacinal»

O fosso entre o real e a narrativa imposta, por todos os meios, é cada vez mais gritante. A falsa lógica sanitária, mas - de facto - lógica de coerção arbitrária, acaba por moldar as nossas vidas. O que me faz pensar que a sociedade descrita por Orwell, no seu romance «1984», está aqui e agora. 

Um dos truques da media inteiramente ao serviço do poder, é colocar como algo no futuro, aquilo que já existe. Por exemplo: A vigilância generalizada, ou o controlo através de implantes debaixo da pele, etc. O truque de os colocar no futuro é subtil, pois nos convence que estes dispositivos não estão ainda a ser usados e que - a serem - apenas verão o dia em ditaduras autoritárias (nunca em democracias!). Mas estas medidas já foram postas em prática em vários países ditos democráticos. E muitas mais medidas estão na calha e serão implementadas no momento oportuno pelos poderes, quer no plano político, quer económico, quer noutro. Na verdade, as máscaras estão a cair, literal e metaforicamente. As oligarquias, os multimilionários que controlam as nossas vidas, sabem esconder-se por detrás da «ribalta» do teatro do poder, porém as máscaras nunca são perfeitas. 

Por exemplo, em Portugal, as grandes fortunas determinam quem vai ou não ser propulsionado para o poder, quem vai ter um papel importante dentro dos partidos, quem vai ter um lugar no parlamento, no governo ou noutra estrutura do Estado. A partir do momento em que determinado político é «apadrinhado», ele ou ela será «docemente» pressionado/a para adotar uma abordagem «realista», ou seja, que não ponha em causa os possidentes, os verdadeiros detentores do poder. 

E o que acontece quando o «cão morde o dono»? Se alguém se rebelar contra a mão (encoberta) que o guindou aos altos cumes do Estado, esse indivíduo será sabotado, excluído e denunciado pelos próprios colegas de partido. Toda a casta política, toda a media corporativa, sabem isso. Eles são os lacaios ao serviço dos verdadeiros donos. Os donos, são os que detêm as fortunas, as empresas, os bancos, etc... em Portugal, ou noutras paragens. 

Aliás, uma das caraterísticas curiosas do pós-25 de Abril de 74, é que todos sabem que os políticos e os empresários possuem contas offshore, muitas vezes, em nome de terceiros. Era fácil de comprovar isto, se fossem feitas auditorias (sérias) às contas dos políticos (sediadas em Portugal ou em offshores) e se fossem também investigadas as contas para as quais são transferidas, ou de onde recebem, somas importantes. Sem isso, vai continuar a haver uma total corrupção no Estado e na sociedade. Mas, embora todos saibam, todos «assobiam e olham para o lado». 

Os media e os políticos criam os chamados «factos políticos», ou seja, incidentes artificiais, de importância secundária, para gerar falso debate e polarizar a discussão. Assim, está garantido que não se levantarão questões incómodas. Estas questões estão excluídas de qualquer debate, ou entrevista com dirigentes partidários. 

A saber, por exemplo: Que políticos têm contas em off-shores? Quais os conflitos de interesse, ou seja, terem que legislar ou terem um papel de decisores em casos onde estejam envolvidos interesses próprios, ou de familiares. Apesar de uma lei que determina as incompatibilidades, ela não parece incomodar muito os políticos... e também os médicos, advogados, juízes, altas patentes militares, etc.  

Tudo é mantido numa redoma, permitindo que a corrupção se desenvolva em absoluta impunidade. No contexto desta democracia corrompida (ou seja, da não-democracia), ninguém tem coragem de denunciar alguém, pois sabe que ele próprio também «tem telhas de vidro». 

As pessoas, de certo modo fora dos circuitos do poder, que se atrevem a denunciar esta podridão, mesmo que apresentem sólidas evidências, são sujeitas ao «black-out» informativo. Mas, se alguém tiver grande audiência, é logo silenciado, de várias formas. Além da recusa da media em difundir as suas ideias, em jornais, livros ou sob outras formas, fica sujeito à brutal difamação, um crime sem castigo em Portugal. A forma como atua o poder judicial no concreto, acaba por favorecer somente quem tem muito poder e dinheiro. Nesta «democracia», os ricos e poderosos beneficiam de uma justiça muito branda, cega e lenta. Mas, os pobres ou os não protegidos pelos poderosos, são tratados à partida como culpados, são humilhados de todas as maneiras.

Remeto para os escândalos de «Joe Berardo», do «BES»,  de «Isabel dos Santos» e tantos outros, que rebentaram e se arrastam, sem conclusão, ao longo dos anos ou acabam por prescrever. Qualquer um desses processos, se for analisado a fundo, põe em causa as castas políticas e o próprio regime. 

A essência do parlamentarismo é a completa desapropriação do poder que pertence ao povo (em teoria, segundo a constituição). Aquilo que se faz, não tem que ver com aquilo que se diz, que se proclama,  este é o padrão de comportamento em todo o espectro político-partidário. A política transformou-se num teatro, que consiste em dizer coisas bonitas, enquanto se esmagam as pessoas. Neste teatro, são atores principais os que possuem maiores ambições, os que pensam que «merecem ser ministro», ou outra situação de prestígio, convencidos de que «nasceram» para isso. Os políticos que são capazes literalmente de tudo pelo poder, são aqueles que conseguem chegar a postos cimeiros dentro dos partidos e do Estado. Têm um desprezo absoluto pelo povo que dizem servir. Têm sempre palavras falsas para encobrir a parasitagem do Estado, a sua real e única vocação.

Mas, o problema continua, não se resolve, porque os oprimidos, os desapossados, muitas vezes, não pensam noutra solução senão no voto: O voto em quem os quer enganar doutra forma, com outras palavras bonitas, com outros atores teatrais, treinados para o efeito. 

É portanto muito grande e muito vasto o universo de pessoas em negação da realidade (em denegação), constituindo um complexo individual e coletivo de dissonância cognitiva. É este o suporte do poder. As pessoas colocam-se numa postura de «bons alunos», de quererem mostrar que são «bons cidadãos». 

Mas, qual a postura que um povo livre e que viva em democracia, deveria adotar?

Deveria o povo considerar que os representantes políticos são - apenas e somente - mandatários, o que significa que têm de cumprir fielmente o contrato para o qual foram eleitos**. Em democracia, são os representantes políticos os «empregados», enquanto os «patrões» são os eleitores! E, tal como um empregado que cometer uma falta grave pode ser despedido com justa causa, o mesmo deveria acontecer aos políticos que não cumprissem os contratos.

Portanto, não faz sentido continuar-se em denegação. O primeiro passo para a nossa libertação é examinarmos como é que caímos nesta situação. Teremos de aceitar que coletivamente, enquanto sociedade, cometemos erros ou fomos induzidos em erro. O povo pode tornar-se livre outra vez, no entanto, se acreditar em si próprio.

Eu não saberia viver, senão livre. Mas, uma das condições fundamentais para se ser livre - realmente livre - é estar rodeado de gente livre. Não posso ser livre, se estiver rodeado por escravos.

...............

* A tática de "choque & pavor", antes aplicada a força inimiga em contexto de guerra, é  agora aplicada às  próprias populações.

** A dita «democracia representativa»: não é democrática, pois o povo é arredado (a todos os níveis) da participação na gestão dos assuntos do Estado, da feitura e aprovação das leis... e também não é «representativa», pois os eleitos não respondem realmente (durante os 4 anos de mandato) perante os eleitores, nem vão periodicamente ouvi-los, para depois veicularem no parlamento a vontade daqueles que os elegeram.




sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

MISSIVA Nº2 À CONFEDERAÇÃO INTERGALÁCTICA


À Irmandade Intergaláctica,




Na 1ª missiva que vos enviei, sobre o funcionamento do planeta Terra e da sociedade humana que nela habita, tentei explicar-vos brevemente o sistema de funcionamento, designado por «economia de mercado» ou «capitalismo».

Hoje, irei debruçar-me sobre outro aspeto da sociedade: a questão da sustentabilidade ecológica e como esta questão tem sido manipulada pelos poderosos, que detêm não apenas a influência sobre muitos dos aspetos produtivos, como sobre uma grande parte das mentes.

A partir do momento em que, neste planeta, a conservação da diversidade das espécies e a capacidade de autorregeneração dos ecossistemas se tornou um problema à vista de qualquer um, todos podendo facilmente compreender as questões que estavam em jogo, assim como o papel essencial para a própria subsistência da vida humana neste planeta, desenvolveram-se correntes ditas «ecologistas». Na verdade, quase todas consistiam numa curiosa mistura de catastrofismo (algumas vezes designado por "milenarista", com referência a «profetas» que abundam na viragem de cada milénio) e de utopias radicais e acientíficas.

Estas tendências adotaram nomes diversos. Considero-as aqui como subtribos da grande tribo «New Age». Cada tendência reivindica as suas peculiares visões, que querem impor às restantes, sob pretexto de ilusória «ciência ecológica» que, na verdade, apenas tem de ciência o nome. Com efeito, existe uma Ecologia, enquanto ciência, nascida no século XX (essencialmente), que desenvolve metodologias adequadas para avaliação dos vários fatores, em pequenos e grandes espaços, com influência num conjunto de espécies diversificado. Os cientistas utilizam instrumentos apropriados de avaliação, medição e monitorização, não apenas dos aspetos físico-químicos do ambiente, como das múltiplas e complexas interações dos organismos nele presente. Porém, a Ecologia, tal como outras ciências do mais alto grau de complexidade concebível, têm vindo a ser desviadas, aproveitadas por políticos pouco escrupulosos, que se disfarçam de cientistas do clima ou da ecologia. Na realidade, as competências desses políticos nas complexas ciências da Climatologia e Ecologia, são pouco menos que nulas.

Para cúmulo, o capitalismo causador dos desequilíbrios ambientais, porém exclusivamente atribuídos à sociedade «industrial», tem liderado a ofensiva de «Public Relations» e de «Psychological Operations», dirigida às massas inquietas e incapazes de fazer a destrinça entre a ciência e a falsificação da mesma. Tal narrativa falsa vem revestida com vocábulos muito bem sonantes: «economia sustentável», «energias renováveis», «reciclagem», «natural», etc., são frases e expressões também usadas na publicidade, para vender produtos industriais que não têm rigorosamente nada do que anunciam no rótulo.

É nesta configuração que floresce a chamada ecologia política, que une o mais falso discurso "ecologista", sem ponta duma real cientificidade, ao discurso demagógico dos políticos, dispostos a tudo, a começar pela mentira constante e descarada, para obterem os votos dos cidadãos.
Pensai na monstruosidade destas operações e dos rios de dinheiro que implicam. Numa sociedade onde o lucro é tudo, onde ser-se bem sucedido é ter muito dinheiro (= poder), tais operações não poderiam deixar de ser altamente rentáveis. Foi assim, que, por um lado, o capitalismo viu maneira de escapar ao mau nome de sistema de exploração, que tinha adquirido ao longo dos séculos e por outro lado, obter novos e sumarentos ganhos, vendendo as novas maravilhas «verdes», que iriam salvar a civilização do caos, das alterações climáticas, do aquecimento global, da depredação da Natureza, etc. O irónico, é que estes males vieram «pela mão» do sistema capitalista de exploração dos povos e da Natureza. Note-se que estas catástrofes são reais, mas não se devem a um mal inerente à evolução e ao avanço tecnológico e científico humanos.
Este discurso tem como objetivo provocar um sentimento de culpa nas pessoas, acusadas de «consumir» depois de tudo fazerem (os mesmos capitalistas) para as induzir a um comportamento de consumo compulsivo para - logo de seguida - «justificar» supostas soluções. Estas seriam, ou a substituição de uma depredação por outra, ou uma regressão das sociedades ao estádio pré-industrial.

Os ecologistas políticos, na sua imensa maioria, não põem em causa o capitalismo: Só alguns parecem ser sinceros e coerentes anticapitalistas. Na sua maioria, a «tribo New Age» parece ter esquecido que, erradicar as causas profundas das degradações ambientais implica uma real modificação de estrutura da sociedade, não apenas soluções tecnológicas, não apenas mudança nos hábitos de consumo e do modo de vida de indivíduos e grupos. Aliás, estas mudanças só poderão acontecer a partir ou concomitantemente com uma mudança económica profunda, com a transformação das relações de produção e do próprio fundamento da sociedade. 

Mas, se as forças dominantes atuais continuarem a exercer o seu papel, prevejo que a sociedade humana irá acabar por perder o seu potencial de civilização universal. Ela irá para o abismo, se o sistema atual continuar, baseado na imensa riqueza dalguns e na escassez para o maior número. Assim, esta onda de «ecologismo» tem sido aproveitada para fazer uma lavagem verde do sistema vigente.

De facto, irmãos/irmãs confederadas/os, têm de recordar as etapas históricas que ocorreram nas vossas nações, anteriores à Confederação Galáctica.
Estamos a presenciar, na Terra, a uma nova versão do processo que ocorreu nos nossos sistemas solares, há cerca de três milénios, mais ou menos. Nos mundos que não foram arrastados na espiral de violência, destruição e por fim, levados à extinção, nestes mundos sobreviventes, a capacidade de regeneração e autossustentação foram inscritas nas constituições, a par da igualdade e dignidade dos viventes, com a particular responsabilidade daqueles dotados dum sistema cognitivo racional.

Porém, o meu objetivo não é o de retraçar nosso passado, mas antes de exemplificar como este sistema Terra se encontra numa encruzilhada. A consciência planetária está ainda muito pouco difundida. Os rebentos dela despontam aqui e ali, mas são logo abafados pelas (ainda) mais poderosas  forças do capitalismo senescente. Este já não tem a pujança e criatividade que o fez triunfar, há cerca de 500 anos. No seu estado atual, tem algo de fascinante e de terrível.

Não faço ideia do que irá acontecer a breve ou médio prazo. Quer me parecer, no entanto, que a civilização humana entrou numa época-charneira, da qual tanto pode resultar a aniquilação, como a evolução positiva para um grau superior de civilização.



MB

domingo, 22 de agosto de 2021

ASSIM VAI O IMPÉRIO


Uma ténue esperança desponta... Esperemos que não seja um efeito superficial, uma ilusão efémera.

Com efeito, a máquina de guerra implacável do império foi - de novo - revelada, na sua obscena exibição de força, naquilo que é, na verdade: um conjunto de mercenários, não só os que se podem designar propriamente como tal, como também as forças oficiais do aparato bélico do império.
Os generais foram derrotados pela enésima vez, mas também os estrategas de gabinete do Pentágono e da Casa Branca, ou os lóbis e «think tanks» que os manipulavam. Eles todos mostraram, uma vez mais, a inanidade do seu pensamento estratégico.


A política do caos, que foi a marca imperial durante dois decénios, pós 11 de Setembro de 2001, foi uma máquina de destruição, mas também corroeu as estruturas que garantiam a estabilidade do «Ocidente», assim como a confiança dos países na esfera de influência mais alargada da potência hegemónica.

No plano monetário também, está-se claramente a chegar ao fim de um ciclo. Agora, o dólar US como moeda de reserva mundial, já é visto como estando perto do fim.
Não se pode ignorar que os maiores atores do sistema monetário ocidental estão a procurar freneticamente uma saída para a enorme crise: O perigo real de colapso do sistema monetário e da montanha de uns 300 triliões de US dólares de dívida, que se acumularam sobretudo nas economias dos EUA e da Europa.


Estão em curso tentativas de lançar moedas digitais, pelos bancos centrais do Ocidente. Elas serão apenas variações das moedas «fiat» atuais, caso não estejam garantidas por algo de sólido, nomeadamente, o ouro.
A este contexto financeiro-monetário, soma-se ou potencia-se o desesperado esforço para descolar as economias ocidentais, financeirizadas, da dependência em relação às economias produtivas do Extremo-Oriente, em particular, da China.
Mas, esta tentativa é fútil. Ela irá provocar um maior empobrecimento nas economias europeias e norte-americanas, já muito depauperadas. Não se pode imaginar, senão no domínio da ficção, que as economias, esvaziadas durante os últimos decénios da sua componente industrial, poderão rapidamente readquirir sua capacidade industrial perdida.

As potências que vão moldar o futuro, goste-se ou não, são a China e a Rússia, com uma constelação de outros Estados, possuindo maior ou menor poderio económico e geoestratégico. Todos eles, estão a agregar-se em várias plataformas, com vista a potenciar mutuamente suas vantagens numa ordem multipolar, sem ter que prestar vassalagem a um «dono e senhor», como é o caso dos países sujeitos ao império, sejam eles fortes ou fracos.
Veja-se o estatuto real da Alemanha: Por maior que seja esta potência, do ponto de vista económico, ela continua a prestar vassalagem à potência hegemónica americana que, sob cobertura da NATO, ocupa o Centro e Oeste da Europa, há mais de 70 anos.


Não se deve, porém, desprezar o poderio dos EUA: Continuam a dispor dum poder temível, pois têm uma capacidade nuclear maior que qualquer outra potência e forças armadas hipertrofiadas. Possuem bases militares - cerca de 800, segundo estimativas prudentes - nos cinco continentes. 
Além disso, reservam-se o privilégio de acumular, sem contrapartida de qualquer espécie, uma dívida astronómica, tendo défices estatais e comerciais durante décadas a fio, graças ao controlo do sistema monetário internacional e da emissão de papel-moeda. 
Os EUA, graças ao seu poderio militar-económico, obtêm a submissão dos governos e políticos corruptos nos países-vassalos.

Mas, a política do caos chegou ao seu fim, no Afeganistão:
Assim como a experiência amarga do Vietname serviu de lição aos jovens americanos que deixaram de ver seu governo como essencialmente benéfico para eles e para os seus «aliados», também a experiência afegã está a mostrar aos americanos e ao mundo que o império tem pés de barro, que os políticos estão sempre a mentir e apenas querem dar a ilusão de que controlam as situações.


No entanto, estes políticos são completamente impotentes para inverter, ou somente travar, as tempestades que eles próprios desencadeiam e lhes vêm parar à porta. Uma economia em involução, nos EUA e nos países da sua órbita, vai desencadear múltiplos fenómenos políticos e sociais.

A crise do «COVID» tem-se revelado como a tentativa de controlar os cidadãos e os Estados, de forma a evitar poderosos movimentos de massas, decorrentes da situação de depressão económica, que se abateu sobre o Ocidente e que poderá arrastar-se durante várias décadas. Esta crise começou em 2008, mas tem sido camuflada pelas medidas cosméticas dos governos e bancos centrais. 


Os poderes precisam, neste contexto, de reforçar os mecanismos do controlo e repressivos. Mas, esta viragem autoritária, totalitária, quer se chame «Great Reset» ou outra coisa, tem uma grande limitação: A impossibilidade de obterem o consentimento dos cidadãos.
Nas democracias liberais, o consenso da cidadania era fundamental para o funcionamento - sem sobressaltos - da economia, até à burocracia de Estado e aos partidos políticos.
Com a coerção e patente violação das liberdades fundamentais, os poderes poderão obter a submissão pelo medo, mas não a adesão voluntária às suas políticas, usurpadoras dos legítimos direitos dos cidadãos. As pessoas comuns vão sofrer perdas, a todos os níveis: económico, de segurança e das liberdades.
Enquanto muitos no Ocidente sofrem as consequências da viragem autoritária, incluindo as campanhas de terror psicológico ao estilo da guerra-fria, o que se passa nos países do «eixo Euro-Asiático»? No sistema multipolar Euro-Asiático em construção, um número considerável de povos sairá da pobreza, terá capacidade de gerar a sua produção e desenvolvimento. Estas nações estarão, cada vez mais, «no centro». 
Pelo contrário, as democracias ocidentais decadentes, incluindo a potência hegemónica que as controla, estão em vias de «terceiro-mundialização».


É impossível prever precisamente como as coisas se vão passar, mas - de uma ou outra forma - a cidadania irá reagir: A dissociação entre governantes e governados origina, necessariamente, uma instabilidade. A casta política e a oligarquia que a sustenta, nunca irão devolver 'de mão-beijada' o poder retirado aos seus súbditos.

Neste contexto, as pessoas devem preparar-se, o melhor  possível:
Há dois conceitos que se deveriam pôr em prática, tanto ao nível individual, como das famílias e comunidades: os conceitos de resiliência e de autonomia, os quais estão ligados.
Prometo escrever sobre esta questão, sob um ângulo prático: «como enfrentar agora um mundo em completa transformação, aos níveis dos indivíduos, das famílias e das relações sociais».

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PS1: Inicia-se nova era pós- invasão americana do Afeganistão. O estado de espírito dos imperialistas parece ser o que vingança, de querer castigar o povo afegão por ter feito sofrer a humilhante derrota ao poderoso exército e ao complexo militar industrial: https://www.moonofalabama.org/2021/09/why-us-plans-for-revenge-in-afghanistan-may-not-succeed.html#more

sábado, 12 de junho de 2021

A CAPA DE ESQUERDA QUE NOS CONFUNDE

O MEDO é raramente algo que nos induza a ter comportamentos racionais. Quando alguém opera impulsionado pelo medo, tem tendência a tomar decisões terríveis e a apoiar causas e leis opressoras. As pessoas amedrontadas também tendem a juntar-se em largas multidões, formadas com outras pessoas, como elas amedrontadas: Assim, sentem-se mais seguras e anónimas, no meio da massa. Assim também, poderão atuar, impulsionadas pelo medo, sem terem que pagar pelas consequências dos seus atos.

As mesmas pessoas que estão sob o domínio do medo, são - quase todas - das classes que têm sido atacadas e submetidas pelo neoliberalismo, nestes últimos decénios. São pessoas que perderam a segurança no emprego, a capacidade de levar a cabo uma vida normal, de conservar o poder de compra que tiveram no passado. Em suma: São massas destituídas da capacidade de resistir às crises, de enfrentar os tempos difíceis. Por isso, têm medo. Mas, o seu medo exprime-se de modo irracional, manifesta-se em termos de pânico.

Não são pessoas com treino de análise racional e crítica, que saibam distinguir e desmascarar a trapaça, a demagogia, o apontar de bodes expiatórios, e de todas as demais artimanhas da oligarquia dominante e de seus vassalos e prostitutos, em lugares de poder.

A fúria destruidora, motivada em primeiro lugar pelo medo, é convenientemente desviada pela propaganda insidiosa da media, dos políticos demagogos e reforçada pelos preconceitos ancestrais. A designação do inimigo, tanto externo como interno, nunca corresponde ao perigo real: São sempre os outros povos, «os russos», «os chineses», ou outra religião, o «islamismo»; ou ainda, etnias diferentes que «invadem» o país, mas que, afinal, são pobres imigrantes com salários miseráveis, que trabalham como escravos. 

Ora, convenientemente, uma «esquerda bem-pensante», tem sempre feito a ginástica necessária para parecer estar contra os poderes dominantes mas, em simultâneo, iludindo as massas que nelas acreditam. Trata-se de fenómeno religioso, de fé na salvação. Os dirigentes políticos e sindicais especializaram-se em dirigir seus adeptos para pseudo-lutas, intencionalmente sem  hipótese real de sucesso. 

É por isso que são permitidas manifestações, greves simbólicas e que apenas afetam o salário ao fim do mês dos grevistas, grandes mobilizações eleitorais, com belos discursos e belas palavras, mas com o fim de obter assentos na Assembleia da República, onde irão cozinhar compromissos com partidos mais poderosos; normalmente, com aqueles que são a fundo, e não apenas marginalmente, subsidiados pela oligarquia.

Os dirigentes e os quadros mais importantes desses partidos de esquerda, têm grande ambição de poder, que disfarçam com belas palavras de «servir o povo», etc. Sabem disfarçar suas traficâncias para alcançar e se manterem no poder. Os militantes estão sob hipnose. É para isso que servem as palavras de ordem, os rituais dos comícios, propriamente religiosos, mesmo sem Deus. Os adeptos estão condicionados a reagir perante os estímulos fornecidos pela elite partidária: não pensam. Não precisam de pensar mas, somente, de ter uma fé infinita nos líderes, reproduzindo preconceitos de toda a ordem. 

Não são diferentes, na verdade, dos fanáticos nazis ou fascistas, deste século e do século passado. São feitos da mesma massa. Os slogans são diferentes, as cores e os símbolos, também. Mas, os objetivos são os mesmos. Eles não suspeitam sequer disso. Por debaixo das retóricas de emancipação das classes trabalhadoras, está a verdadeira motivação: A propulsão da casta  dirigente partidária ao poder. Uma vez no poder, fazem exatamente o que outros fizeram: Irão favorecer (discretamente) os que lhes forneceram os fundos, usando uma retórica mais ou menos «audaciosa», mas só para iludir o povo fiel. 

Os democratas de esquerda nos EUA são uma anedota. As figuras de proa dos partidos de esquerda europeia também. A traição da esquerda contemporânea, ao nível do mundo «ocidental», é só comparável ao que fizeram na véspera da 1ª guerra mundial. A esquerda desse tempo, renunciando ao combate contra o militarismo, recusando convocar uma greve geral, traiu a classe trabalhadora e tornou possível a 1ª Guerra Mundial.
A esquerda de hoje serve-se dos votos e dos lugares obtidos - em geral - graças às classes com menos poder, para ainda lhes retirar a réstia de poder que uma democracia fictícia e truncada ainda não tinha completamente roubado. Com efeito, estão dentro de estruturas de poder, o parlamento europeu, por exemplo, para «carimbarem» tudo o que os globalistas querem. Mais; são a garantia dos neo-liberais, de que têm uma pseudo-oposição, o que lhes dá um «verniz» democrático. Aliás, são eles os maiores responsáveis da subida da extrema-direita.

Ao fim e ao cabo, serão os serventuários mais eficazes do grande capital, das forças mais reacionárias, dos imperialismos: porque estes precisam de atores que mantenham a ficção da democracia representativa, que desempenhem o papel de defensores dos oprimidos, dos explorados, com algum grau de verosimilhança.

Os esquerdistas são de tendência autoritária, quase todos: Têm uma visão destorcida da democracia. Acham que 51% dos votos para um dado partido ou coligação, legitima que os eleitos façam tudo, como se os 49% eleitoralmente derrotados, não tivessem diretos, não tivessem voz na matéria. O que -obviamente- é uma completa negação da nossa constituição e das leis. Também é negação de um conceito realmente democrático. Mas isso não lhes importa muito, pois são eles que fazem a lei, são eles que são a legalidade, são eles que decidem o que é ou não, legal e legítimo.

Viu-se e vê-se em Portugal e noutros países europeus, ditos democráticos:

- O espezinhar a constituição, decretando um «estado de emergência», em violação flagrante do que diz a constituição sobre as condições exigidas para tal. 

- Produção pelo governo de legislação avulsa, criminalizando pessoas que pacificamente apenas desejam continuar a exercer sua atividade, como comerciantes. 

- Imposição da absurda obrigatoriedade de máscara, mesmo ao ar livre, na rua.

- Negação da liberdade de informar e ser informado sobre a verdadeira biologia do vírus SARS-Cov-2, sobre a verdadeira ciência epidemiológica, sobre as boas práticas terapêuticas, deixando morrer milhares de pessoas que poderiam ter sobrevivido e ficado curadas, se tivessem sido aplicadas terapêuticas comprovadas, tudo isso para favorecer o cartel das grandes farmacêuticas... 

- Para culminar, a vacinação forçada (hipocritamente) pois as pessoas não poderão fazer nada senão ficarem em eterno confinamento, caso recusem ser vacinadas e o passaporte «sanitário»... 

- E perante esta sucessão de atropelos e violações das liberdades e direitos, o que fazem os partidos de esquerda? O que fazem eles -realmente - para defender os oprimidos, os que ficam com a vida numa catástrofe, de um momento para o outro? O que fazem para impedir a supressão do Estado de Direito, com a instalação de um Estado de arbítrio, de ditadura sobre o povo?

- Têm sido eles os mais zelosos cumpridores e, por vezes, os mais entusiastas proponentes destas medidas!

Este comportamento é grave e traz consequências. 

. A primeira das quais, é que as forças políticas de esquerda serão relegadas para as margens, como forças residuais. 

. Outra, será a impossibilidade de se contar com estas forças, imbuídas de padrões autoritários, para combater as tentativas oligárquicas de impor a Nova Ordem Mundial. 

. Quem não percebe, ou não quer perceber, o facto fundamental, de que elas estão apostadas em impor seu modelo distópico, malthusiano, eugenista, neofeudal, em que poderá contribuir para a resistência a tal estado de coisas? 

. Será necessária uma outra consciência cívica e ética, distante dos modelos autoritários, de «esquerda» ou de «direita». 

Por enquanto, ainda não verifico - apesar de manifestações em vários pontos do globo - o advento dum novo modo de fazer política. Acredito que ele virá e que será realmente a grande novidade, o polo emancipatório no século XXI.

Esse momento - creio - ainda não chegou. Porém, a minha esperança reside no facto das oligarquias terem projetos megalomaníacos, como - no seu tempo - os de Napoleão e Hitler. Mas,  tais projetos, pela sua própria natureza e pela «húbris» dos seus líderes, estão destinados a falhar.

 

quinta-feira, 29 de abril de 2021

QUANDO OS POLÍTICOS FALAM...

                          

Ninguém consegue controlar, todo o tempo e perfeitamente, a comunicação sub-liminal.

O modelo de comunicação de Albert Mehrabian {7-38-55} diz que somente 7% da comunicação de sentimentos e atitudes tem lugar através das palavras que utilizamos, enquanto 38% ocorre pelo tom e volume da voz e os restantes 55% da comunicação destes factores é feita pela linguagem corporal usada (especificamente as nossas expressões faciais).

Por exemplo: Quando os políticos falam, aquilo que deve prender menos a nossa atenção é o conteúdo explícito do discurso. A informação real ou a significação real do que ele/ela veicula, está mais seguramente no tom de voz, na postura corporal, enfim, em todos os aspectos que não são controlados, pelo menos não o são a 100%. 
Mesmo grandes actores / actrizes, não conseguem evitar uma dissonância no tom de voz, na atitude, etc. Sobretudo, se o que é pensado é contraditório - ou mesmo, antagónico - daquilo que é falado. 
Os políticos de carreira são mentirosos consumados. 
Mas nós podemos ser psicólogos consumados e ler as suas expressões faciais, o seu tom de voz, etc. : Podemos avaliar a mensagem sub-liminal que alguém emite quando fala. 
Nós até já fazemos isso intuitivamente: ficamos (ou não) convencidos que certa pessoa nos fala verdade (ou não), consoante a postura não-verbal nos dá sinais (ou não) de «sinceridade», e isto, muito mais do que pela coerência intrínseca da sua mensagem verbal.
Uma afirmação verbal pode ser negada ou estar em contradição com um gesto, uma expressão facial. 
Por exemplo, se alguém pergunta a um trabalhador/a: «estás contente com o teu trabalho?», não é impossível que este/a diga que «sim», porém com um tom de voz ou uma linguagem não-verbal, que deixam pressentir que não é exactamente assim.

Para melhor conhecimento sobre a teoria de Mehrabian da comunicação não-verbal:


terça-feira, 1 de setembro de 2020

FEUDALISMO, CAPITALISMO, NEO-FEUDALISMO : VISÃO DA HISTÓRIA

                                 Medieval knight Royalty Free Vector Image - VectorStock

Vou arriscar apresentar uma visão histórica, embora eu não seja mais do que um curioso, interessado em estudar a História, sobretudo para compreender as dinâmicas do presente, pois quem não conhece o passado, não consegue interpretar correctamente o presente, mesmo que seja dotado de muita inteligência e acumule muita informação. Com efeito, a dimensão histórica, se não explica tudo do presente, pelo menos, explica a dinâmica que levou ao estado presente das coisas. Tudo o resto, é uma espécie de «espuma», de acontecimentos superficiais, que não desencadeiam real mudança de rumo nas sociedades, por mais que causem uma transitória comoção.

Assim, as pessoas deveriam compreender a profundidade do sistema em que nos encontramos hoje em dia mergulhados, indo muito mais além dos sistemas políticos instaurados com o liberalismo. Isto é, a maior parte das pessoas faz remontar o sistema de governo às revoluções liberais e democráticas, que sacudiram o Ocidente e depois se espalharam pelo Mundo, começando pela revolução americana, na segunda metade do século XVIII, a revolução francesa, nos finais do mesmo século, as revoluções da América Latina, desde os primeiros decénios do século XIX e as revoluções europeias ao longo do século XIX. Estas, eram essencialmente republicanas e estavam misturadas com uma forte componente nacionalista. 

Porém, uma análise do sistema de governo, no sentido mais amplo, deve incluir muito mais que o governo, o poder político propriamente dito: também é essencial a análise da propriedade, a influência da religião e da Igreja (ou Igrejas), assim como o modo como o povo se relaciona com as classes dirigentes.

Com o feudalismo nos países do Ocidente europeu, que se veio a instalar em consequência do desmoronar do Império Romano, nos séculos IVº-Vº, verifica-se a fase de conquista por povos germânicos - Godos, Visigodos, etc.- que estão interessados em fazer valer seus direitos de conquista sobre terras que foram do Império romano. Para tal, precisam de se fazer legitimar como reis e senhores de determinado território, por vezes uma província do antigo Império, por vezes menos que isso. Eles precisavam do aval da autoridade espiritual, da Igreja. Apenas ela - nesses momentos conturbados - faria com que os seus súbditos aceitassem as novas entidades reinantes, visto que tinham a unção de Igreja. Mas, muito cedo começou a haver contendas e lutas pelo poder, no interior desses reinos, sendo indispensável para o rei local distribuir terras e os rendimentos associados, por seus tenentes, seus colaboradores, seus parentes. Nasce então o feudalismo, onde o poder do rei se torna apenas virtual ou nominal, para além do palácio real e das terras directamente possuídas pela coroa e administradas em nome dela. Nos territórios dos duques, condes, marqueses e barões, estes tinham poder e exerciam-no como senhores das terras e das gentes que aí viviam. É um facto que eram vassalos do rei, porém sua dependência quase se resumia a serem obrigados a tomar armas e levantarem tropas, nos territórios que administravam, em caso de guerra. Esta situação de dependência militar do rei, em relação aos senhores feudais teve como consequência que o rei caísse na dependência daqueles. Os senhores feudais tinham imenso poder e não hesitavam demarcar-se do rei, quando este tentava interferir com o que consideravam ser as suas competências e privilégios. 

   Como o rei tinha pouco poder - de facto - em muitos casos, os mercadores, artesãos, camponeses, estavam sujeitos a uma multidão de regulamentos e de obrigações. Estas dependências não se limitavam aos senhores feudais, pois incluíam a Igreja, que se comportava exactamente como grande senhor feudal, ela própria: Recolhia impostos sob forma de géneros e de trabalho, dos que viviam nas suas terras, ou sob sua jurisdição. É por isso que a burguesia, desde muito cedo, reforçou o poder dos reis (por exemplo, em Portugal uma revolução popular e burguesa pôs no poder um novo rei, D. João I). 

O poder dos reis vai afirmar-se contra o poder da aristocracia, em múltiplos casos, nos vários reinos europeus. A Igreja foi muitas vezes aliada dos reis, neste jogo de limitar o poder da aristocracia. Do mesmo modo, a burguesia foi cooptada, através de vários mecanismos, que lhe permitiam aceder ao estatuto de nobreza, sendo frequente haver nas cortes (parlamentos), um partido constituído por nobreza hereditária e outro por nobres mais recentes, «a nobreza de função».

O absolutismo, que resultou na eliminação dos aspectos potencialmente perigosos, para a autoridade real, do feudalismo, foi consolidado pela aliança entre os reis e a burguesia. Muito depressa, esta vai ter um papel decisivo na condução das diversas políticas, com excepção do comando militar, domínio reservado à nobreza antiga, a «de sangue». 

Fazendo um salto no tempo, por cima das revoluções democráticas e burguesas, que se desenrolaram ao longo dos dois séculos e meio anteriores, verificamos que, hoje em dia, se está perante um enfraquecimento do Estado, o substituto da figura do rei (atribui-se a Luís XIV a frase: «o Estado sou eu»). Está-se perante a destituição do poder do cidadão: a cidadania nominal deixou de ter conteúdo real. A partir das técnicas de manipulação da opinião pública, desde os meados dos anos 20 do século passado, os poderosos puderam manter ou recuperar o controlo sobre os cidadãos: controlando a mente, a vontade, os desejos, os sentimentos, pela propaganda («public relations»), sempre mais sofisticada e universal.

As constituições são apenas papéis, com umas palavras impressas, que se agitam quando se quer fazer valer determinada posição, mas que, nem os que se encontram no poder, nem as oposições, realmente respeitam, nem querem fazer respeitar.

 O poder, no século presente e já no anterior, é sobretudo económico, encontra-se na mão das corporações, conglomerados gigantes, possuindo ramos inteiros de indústria, fatias consideráveis da riqueza das nações, até mesmo com rendimento superior ao P.I.B. de várias nações e não das menores. 

Quem está à frente dos bancos, ou multinacionais das indústrias  tecnológicas, é - para todos os efeitos práticos oligarquia, ou seja, senhores feudais. São pessoas efectivamente tão poderosas como os senhores feudais. Mas, os senhores feudais da Idade Média exerciam seu poder em reinos, muitas vezes, de pequenas dimensões. Hoje em dia, a oligarquia exerce seu poder ao nível mundial e fá-lo com garantia de ser intocável, de estar muito acima dos poderes políticos, que - apenas teoricamente - se poderiam colocar ao mesmo nível que os poderes dos monarcas, dos Estados da era feudal. O poderio desta oligarquia globalizada exerce-se ao nível de organismos internacionais «públicos», como a OMS, em que as multinacionais farmacêuticas e fundações, como a de Bill e Melinda Gates, exercem a suserania, colocando seu secretário-geral num papel de mero fantoche.

O mesmo acontece com o complexo militar-industrial, mormente nos EUA, em que os sistemas ditos de «defesa» são cada vez mais caros, exercem uma punção cada vez maior no orçamento federal, mas isso é conseguido graças aos poderosos grupos de influência, «lobbies», destinados a favorecer os negócios destes fabricantes de instrumentos mortíferos. Os lobbies que circundam os locais de poder executivo e legislativo - o Pentágono e as Câmaras dos Representantes e o Senado - dispõem de rios de dinheiro, que lhes permitem comprar as boas graças de quem quiserem. 

Com efeito, o sistema dito «representativo», enferma dum grave problema: quaisquer políticos, para conseguirem ser eleitos, têm de ter muito dinheiro para pagar as campanhas eleitorais, muitos milhões. Estes números são tais, que é impossível imaginar que através de donativos modestos, de muitos seguidores ou simpatizantes, se pudesse igualar o que recebem como «donativo» (na realidade, investimento) de empórios bancários e financeiros, da construção, das indústrias químicas, farmacêuticas, turísticas, etc, etc. O problema é simples de resolver, em teoria, mas na prática, é impossível, pois a maioria dos políticos, quer enquanto membros de partidos, quer a título individual, irá sempre impedir à nascença, ou fazer abortar, quaisquer projectos legislativos que verdadeiramente impedissem que o mundo empresarial comprasse suas influências junto da casta política. 

Temos - portanto - uma partição muito assimétrica do poder, entre os servos e os senhores: os servos estão destituídos de poder verdadeiro, incapazes de fazer valer sua vontade, na «coisa pública», a todos os níveis. As suas armas são irrisórias, face ao armamento das polícias. Comparativamente, as armas dos servos medievais eram mais eficientes, face aos soldados dos senhores feudais.

 O armamento, nos Estados modernos, não apenas é muito mais sofisticado, como não deve ser visto apenas como limitando-se a armas de fogo: os dispositivos de vigilância electrónica, as câmaras de vídeo que filmam locais públicos, etc., um aparato muito diversificado, que tornam qualquer tentativa de revolta armada um jogo suicida, da parte dos revoltosos.

Torna-se quase impossível a dissidência política verdadeira. O que se verifica é cooptação de pessoas e partidos que tradicionalmente se colocavam do lado do povo, dos trabalhadores, contra os poderosos. Quanto à revolta niilista, à partida, não tem qualquer objectivo político. O revoltado (não digo «revolucionário», note-se) vai quebrar umas montras, confrontar-se com a polícia, etc., mas isto não implica qualquer estratégia contra o poder. Podem sempre dizer que estão a «deslegitimar» o poder mas, na verdade, estão a fazer o contrário; estão a dar pretexto para o mesmo poder recorrer à repressão, com mão cada vez mais pesada, com o pretexto de que está perante opositores violentos ... A própria polícia, o próprio Estado, têm interesse em que se dêem incidentes violentos, para melhor poder reprimir manifestantes pacíficos, apanhados no meio de um motim.

Realmente, não existe solução, a não ser que haja um despertar, uma tomada de consciência, dum número elevado de pessoas, que compreenda que o poder pode estar nas suas mãos, se se unirem em busca de uma solução. Uma acção política de massas continuada é mais difícil de se realizar do que no passado. Mas, alternativas como movimentos niilistas, apenas desejosos de extravasar violência, ou cidadãos disciplinados, dispostos a votar naqueles que - na própria legislatura ou na seguinte - irão trair os compromissos assumidos com os eleitores... não são alternativas!

Entendo por acção política de massas continuada, uma rede de centros (ou grupos, colectivos) onde se tomam iniciativas destinadas a melhorar o quotidiano, sendo através de tais formas concretas que se podem forjar novos relacionamentos e uma nova cultura, não-tributária do circo eleitoral (isso inclui - obviamente - as eleições municipais). 

Sei que é possível grupos de pessoas construírem esta dinâmica, já participei nalguns desses grupos com tais características e tenho conhecimento sobre muitos outros.