sábado, 4 de junho de 2022
DEMOCRACIA NÃO É «LOBBYISMO»
segunda-feira, 30 de maio de 2022
A REALIDADE ACABA, SEMPRE, POR SER MAIS FORTE
FAMÍLIA BIDEN E A CHINA, UMA REDE DE COMPANHIAS E CORRUPÇÃO
Sasha Gong, jornalista de origem chinesa, que conhece a fundo a sociedade chinesa, é entrevistada por Syer Iyer (autor indiano)
sábado, 19 de março de 2022
CITAÇÕES DE GEORGE ORWELL
quarta-feira, 26 de janeiro de 2022
AQUILO QUE NÃO TEM PREÇO [entrevista a Annie Le Brun]
domingo, 23 de janeiro de 2022
[REFLEXÃO] A «LIBERDADE» DE SER ESCRAVO
Leviathan: o poder é composto de muitos súbditos que formam a sua anatomia
Quando eu oiço, leio e vejo muitas das coisas que ocorrem no presente, fico estarrecido. Questiono-me, algumas vezes, por que razão as pessoas não acordam: Várias explicações psicológicas podem ser avançadas. Uma, que me parece aplicar-se com especial acuidade à época que vivemos, é a da «dissonância cognitiva».
- O que é a dissonância cognitiva?
Melhor que ninguém vos dirão os psicólogos, mas pelo que compreendo deste assunto, a dissonância cognitiva surge em situações de extrema tensão (stress), uma tensão que não se pode resolver, ou seja, o sujeito não pode nem escolher a «fuga», nem o «combate». Uso estes termos entre aspas, porque estas designam situações tanto em sentido literal, como metafórico. As pessoas vêm-se numa situação penosa, frustrante, incapazes de fugir ou de combater o mal que as atormenta. A dissonância surge da contradição entre a realidade que cerca o indivíduo e as crenças que lhes foram plantadas na mente, pela propaganda, educação, religião, etc. A fictícia resposta consiste em não querer ver a realidade, negar as evidências, em «preferir» acreditar nos contos de fadas, a ter que reconhecer que tudo em que se tinha «acreditado», era apenas uma mentira, era falso. Isto caracteriza o estado de denegação (= denial em inglês).
Na sociedade distópica atual, as realidades que todos podem constatar são negadas, enquanto nos obrigam a «acreditar» (ou a fingir que acreditamos) nas narrativas mais retorcidas e absurdas. Por exemplo, vemos a transformação dos Estados ditos democráticos em ditaduras policiais; a criação duma classe de sub-humanos; a instauração de um apartheid «sanitário». Todas estas monstruosidades destinam-se a criar um estado de sideração e medo nas pessoas «normais»,* que «cumprem seus deveres e obedecem às leis». O problema, é que essas tais «leis» são celeradas (também ilegítimas e inconstitucionais). Quem as planeou e decretou, são criminosos psicopatas; e quem as implementa, fica conivente desses crimes.
Mulher mostra o seu «passe vacinal»
O fosso entre o real e a narrativa imposta, por todos os meios, é cada vez mais gritante. A falsa lógica sanitária, mas - de facto - lógica de coerção arbitrária, acaba por moldar as nossas vidas. O que me faz pensar que a sociedade descrita por Orwell, no seu romance «1984», está aqui e agora.
Um dos truques da media inteiramente ao serviço do poder, é colocar como algo no futuro, aquilo que já existe. Por exemplo: A vigilância generalizada, ou o controlo através de implantes debaixo da pele, etc. O truque de os colocar no futuro é subtil, pois nos convence que estes dispositivos não estão ainda a ser usados e que - a serem - apenas verão o dia em ditaduras autoritárias (nunca em democracias!). Mas estas medidas já foram postas em prática em vários países ditos democráticos. E muitas mais medidas estão na calha e serão implementadas no momento oportuno pelos poderes, quer no plano político, quer económico, quer noutro. Na verdade, as máscaras estão a cair, literal e metaforicamente. As oligarquias, os multimilionários que controlam as nossas vidas, sabem esconder-se por detrás da «ribalta» do teatro do poder, porém as máscaras nunca são perfeitas.
Por exemplo, em Portugal, as grandes fortunas determinam quem vai ou não ser propulsionado para o poder, quem vai ter um papel importante dentro dos partidos, quem vai ter um lugar no parlamento, no governo ou noutra estrutura do Estado. A partir do momento em que determinado político é «apadrinhado», ele ou ela será «docemente» pressionado/a para adotar uma abordagem «realista», ou seja, que não ponha em causa os possidentes, os verdadeiros detentores do poder.
E o que acontece quando o «cão morde o dono»? Se alguém se rebelar contra a mão (encoberta) que o guindou aos altos cumes do Estado, esse indivíduo será sabotado, excluído e denunciado pelos próprios colegas de partido. Toda a casta política, toda a media corporativa, sabem isso. Eles são os lacaios ao serviço dos verdadeiros donos. Os donos, são os que detêm as fortunas, as empresas, os bancos, etc... em Portugal, ou noutras paragens.
Aliás, uma das caraterísticas curiosas do pós-25 de Abril de 74, é que todos sabem que os políticos e os empresários possuem contas offshore, muitas vezes, em nome de terceiros. Era fácil de comprovar isto, se fossem feitas auditorias (sérias) às contas dos políticos (sediadas em Portugal ou em offshores) e se fossem também investigadas as contas para as quais são transferidas, ou de onde recebem, somas importantes. Sem isso, vai continuar a haver uma total corrupção no Estado e na sociedade. Mas, embora todos saibam, todos «assobiam e olham para o lado».
Os media e os políticos criam os chamados «factos políticos», ou seja, incidentes artificiais, de importância secundária, para gerar falso debate e polarizar a discussão. Assim, está garantido que não se levantarão questões incómodas. Estas questões estão excluídas de qualquer debate, ou entrevista com dirigentes partidários.
A saber, por exemplo: Que políticos têm contas em off-shores? Quais os conflitos de interesse, ou seja, terem que legislar ou terem um papel de decisores em casos onde estejam envolvidos interesses próprios, ou de familiares. Apesar de uma lei que determina as incompatibilidades, ela não parece incomodar muito os políticos... e também os médicos, advogados, juízes, altas patentes militares, etc.
Tudo é mantido numa redoma, permitindo que a corrupção se desenvolva em absoluta impunidade. No contexto desta democracia corrompida (ou seja, da não-democracia), ninguém tem coragem de denunciar alguém, pois sabe que ele próprio também «tem telhas de vidro».
As pessoas, de certo modo fora dos circuitos do poder, que se atrevem a denunciar esta podridão, mesmo que apresentem sólidas evidências, são sujeitas ao «black-out» informativo. Mas, se alguém tiver grande audiência, é logo silenciado, de várias formas. Além da recusa da media em difundir as suas ideias, em jornais, livros ou sob outras formas, fica sujeito à brutal difamação, um crime sem castigo em Portugal. A forma como atua o poder judicial no concreto, acaba por favorecer somente quem tem muito poder e dinheiro. Nesta «democracia», os ricos e poderosos beneficiam de uma justiça muito branda, cega e lenta. Mas, os pobres ou os não protegidos pelos poderosos, são tratados à partida como culpados, são humilhados de todas as maneiras.
Remeto para os escândalos de «Joe Berardo», do «BES», de «Isabel dos Santos» e tantos outros, que rebentaram e se arrastam, sem conclusão, ao longo dos anos ou acabam por prescrever. Qualquer um desses processos, se for analisado a fundo, põe em causa as castas políticas e o próprio regime.
A essência do parlamentarismo é a completa desapropriação do poder que pertence ao povo (em teoria, segundo a constituição). Aquilo que se faz, não tem que ver com aquilo que se diz, que se proclama, este é o padrão de comportamento em todo o espectro político-partidário. A política transformou-se num teatro, que consiste em dizer coisas bonitas, enquanto se esmagam as pessoas. Neste teatro, são atores principais os que possuem maiores ambições, os que pensam que «merecem ser ministro», ou outra situação de prestígio, convencidos de que «nasceram» para isso. Os políticos que são capazes literalmente de tudo pelo poder, são aqueles que conseguem chegar a postos cimeiros dentro dos partidos e do Estado. Têm um desprezo absoluto pelo povo que dizem servir. Têm sempre palavras falsas para encobrir a parasitagem do Estado, a sua real e única vocação.
Mas, o problema continua, não se resolve, porque os oprimidos, os desapossados, muitas vezes, não pensam noutra solução senão no voto: O voto em quem os quer enganar doutra forma, com outras palavras bonitas, com outros atores teatrais, treinados para o efeito.
É portanto muito grande e muito vasto o universo de pessoas em negação da realidade (em denegação), constituindo um complexo individual e coletivo de dissonância cognitiva. É este o suporte do poder. As pessoas colocam-se numa postura de «bons alunos», de quererem mostrar que são «bons cidadãos».
Mas, qual a postura que um povo livre e que viva em democracia, deveria adotar?
Deveria o povo considerar que os representantes políticos são - apenas e somente - mandatários, o que significa que têm de cumprir fielmente o contrato para o qual foram eleitos**. Em democracia, são os representantes políticos os «empregados», enquanto os «patrões» são os eleitores! E, tal como um empregado que cometer uma falta grave pode ser despedido com justa causa, o mesmo deveria acontecer aos políticos que não cumprissem os contratos.
Portanto, não faz sentido continuar-se em denegação. O primeiro passo para a nossa libertação é examinarmos como é que caímos nesta situação. Teremos de aceitar que coletivamente, enquanto sociedade, cometemos erros ou fomos induzidos em erro. O povo pode tornar-se livre outra vez, no entanto, se acreditar em si próprio.
Eu não saberia viver, senão livre. Mas, uma das condições fundamentais para se ser livre - realmente livre - é estar rodeado de gente livre. Não posso ser livre, se estiver rodeado por escravos.
...............
* A tática de "choque & pavor", antes aplicada a força inimiga em contexto de guerra, é agora aplicada às próprias populações.
sexta-feira, 3 de dezembro de 2021
MISSIVA Nº2 À CONFEDERAÇÃO INTERGALÁCTICA
À Irmandade Intergaláctica,
MB
domingo, 22 de agosto de 2021
ASSIM VAI O IMPÉRIO
Estão em curso tentativas de lançar moedas digitais, pelos bancos centrais do Ocidente. Elas serão apenas variações das moedas «fiat» atuais, caso não estejam garantidas por algo de sólido, nomeadamente, o ouro.
Não se deve, porém, desprezar o poderio dos EUA: Continuam a dispor dum poder temível, pois têm uma capacidade nuclear maior que qualquer outra potência e forças armadas hipertrofiadas. Possuem bases militares - cerca de 800, segundo estimativas prudentes - nos cinco continentes.
No entanto, estes políticos são completamente impotentes para inverter, ou somente travar, as tempestades que eles próprios desencadeiam e lhes vêm parar à porta. Uma economia em involução, nos EUA e nos países da sua órbita, vai desencadear múltiplos fenómenos políticos e sociais.
Os poderes precisam, neste contexto, de reforçar os mecanismos do controlo e repressivos. Mas, esta viragem autoritária, totalitária, quer se chame «Great Reset» ou outra coisa, tem uma grande limitação: A impossibilidade de obterem o consentimento dos cidadãos.
É impossível prever precisamente como as coisas se vão passar, mas - de uma ou outra forma - a cidadania irá reagir: A dissociação entre governantes e governados origina, necessariamente, uma instabilidade. A casta política e a oligarquia que a sustenta, nunca irão devolver 'de mão-beijada' o poder retirado aos seus súbditos.
sábado, 12 de junho de 2021
A CAPA DE ESQUERDA QUE NOS CONFUNDE
O MEDO é raramente algo que nos induza a ter comportamentos racionais. Quando alguém opera impulsionado pelo medo, tem tendência a tomar decisões terríveis e a apoiar causas e leis opressoras. As pessoas amedrontadas também tendem a juntar-se em largas multidões, formadas com outras pessoas, como elas amedrontadas: Assim, sentem-se mais seguras e anónimas, no meio da massa. Assim também, poderão atuar, impulsionadas pelo medo, sem terem que pagar pelas consequências dos seus atos.
As mesmas pessoas que estão sob o domínio do medo, são - quase todas - das classes que têm sido atacadas e submetidas pelo neoliberalismo, nestes últimos decénios. São pessoas que perderam a segurança no emprego, a capacidade de levar a cabo uma vida normal, de conservar o poder de compra que tiveram no passado. Em suma: São massas destituídas da capacidade de resistir às crises, de enfrentar os tempos difíceis. Por isso, têm medo. Mas, o seu medo exprime-se de modo irracional, manifesta-se em termos de pânico.
Não são pessoas com treino de análise racional e crítica, que saibam distinguir e desmascarar a trapaça, a demagogia, o apontar de bodes expiatórios, e de todas as demais artimanhas da oligarquia dominante e de seus vassalos e prostitutos, em lugares de poder.
A fúria destruidora, motivada em primeiro lugar pelo medo, é convenientemente desviada pela propaganda insidiosa da media, dos políticos demagogos e reforçada pelos preconceitos ancestrais. A designação do inimigo, tanto externo como interno, nunca corresponde ao perigo real: São sempre os outros povos, «os russos», «os chineses», ou outra religião, o «islamismo»; ou ainda, etnias diferentes que «invadem» o país, mas que, afinal, são pobres imigrantes com salários miseráveis, que trabalham como escravos.
Ora, convenientemente, uma «esquerda bem-pensante», tem sempre feito a ginástica necessária para parecer estar contra os poderes dominantes mas, em simultâneo, iludindo as massas que nelas acreditam. Trata-se de fenómeno religioso, de fé na salvação. Os dirigentes políticos e sindicais especializaram-se em dirigir seus adeptos para pseudo-lutas, intencionalmente sem hipótese real de sucesso.
Os dirigentes e os quadros mais importantes desses partidos de esquerda, têm grande ambição de poder, que disfarçam com belas palavras de «servir o povo», etc. Sabem disfarçar suas traficâncias para alcançar e se manterem no poder. Os militantes estão sob hipnose. É para isso que servem as palavras de ordem, os rituais dos comícios, propriamente religiosos, mesmo sem Deus. Os adeptos estão condicionados a reagir perante os estímulos fornecidos pela elite partidária: não pensam. Não precisam de pensar mas, somente, de ter uma fé infinita nos líderes, reproduzindo preconceitos de toda a ordem.
Não são diferentes, na verdade, dos fanáticos nazis ou fascistas, deste século e do século passado. São feitos da mesma massa. Os slogans são diferentes, as cores e os símbolos, também. Mas, os objetivos são os mesmos. Eles não suspeitam sequer disso. Por debaixo das retóricas de emancipação das classes trabalhadoras, está a verdadeira motivação: A propulsão da casta dirigente partidária ao poder. Uma vez no poder, fazem exatamente o que outros fizeram: Irão favorecer (discretamente) os que lhes forneceram os fundos, usando uma retórica mais ou menos «audaciosa», mas só para iludir o povo fiel.
Ao fim e ao cabo, serão os serventuários mais eficazes do grande capital, das forças mais reacionárias, dos imperialismos: porque estes precisam de atores que mantenham a ficção da democracia representativa, que desempenhem o papel de defensores dos oprimidos, dos explorados, com algum grau de verosimilhança.
Os esquerdistas são de tendência autoritária, quase todos: Têm uma visão destorcida da democracia. Acham que 51% dos votos para um dado partido ou coligação, legitima que os eleitos façam tudo, como se os 49% eleitoralmente derrotados, não tivessem diretos, não tivessem voz na matéria. O que -obviamente- é uma completa negação da nossa constituição e das leis. Também é negação de um conceito realmente democrático. Mas isso não lhes importa muito, pois são eles que fazem a lei, são eles que são a legalidade, são eles que decidem o que é ou não, legal e legítimo.
Viu-se e vê-se em Portugal e noutros países europeus, ditos democráticos:
- O espezinhar a constituição, decretando um «estado de emergência», em violação flagrante do que diz a constituição sobre as condições exigidas para tal.
- Produção pelo governo de legislação avulsa, criminalizando pessoas que pacificamente apenas desejam continuar a exercer sua atividade, como comerciantes.
- Imposição da absurda obrigatoriedade de máscara, mesmo ao ar livre, na rua.
- Negação da liberdade de informar e ser informado sobre a verdadeira biologia do vírus SARS-Cov-2, sobre a verdadeira ciência epidemiológica, sobre as boas práticas terapêuticas, deixando morrer milhares de pessoas que poderiam ter sobrevivido e ficado curadas, se tivessem sido aplicadas terapêuticas comprovadas, tudo isso para favorecer o cartel das grandes farmacêuticas...
- Para culminar, a vacinação forçada (hipocritamente) pois as pessoas não poderão fazer nada senão ficarem em eterno confinamento, caso recusem ser vacinadas e o passaporte «sanitário»...
- E perante esta sucessão de atropelos e violações das liberdades e direitos, o que fazem os partidos de esquerda? O que fazem eles -realmente - para defender os oprimidos, os que ficam com a vida numa catástrofe, de um momento para o outro? O que fazem para impedir a supressão do Estado de Direito, com a instalação de um Estado de arbítrio, de ditadura sobre o povo?
- Têm sido eles os mais zelosos cumpridores e, por vezes, os mais entusiastas proponentes destas medidas!
Este comportamento é grave e traz consequências.
. A primeira das quais, é que as forças políticas de esquerda serão relegadas para as margens, como forças residuais.
. Outra, será a impossibilidade de se contar com estas forças, imbuídas de padrões autoritários, para combater as tentativas oligárquicas de impor a Nova Ordem Mundial.
. Quem não percebe, ou não quer perceber, o facto fundamental, de que elas estão apostadas em impor seu modelo distópico, malthusiano, eugenista, neofeudal, em que poderá contribuir para a resistência a tal estado de coisas?
. Será necessária uma outra consciência cívica e ética, distante dos modelos autoritários, de «esquerda» ou de «direita».
Por enquanto, ainda não verifico - apesar de manifestações em vários pontos do globo - o advento dum novo modo de fazer política. Acredito que ele virá e que será realmente a grande novidade, o polo emancipatório no século XXI.
Esse momento - creio - ainda não chegou. Porém, a minha esperança reside no facto das oligarquias terem projetos megalomaníacos, como - no seu tempo - os de Napoleão e Hitler. Mas, tais projetos, pela sua própria natureza e pela «húbris» dos seus líderes, estão destinados a falhar.
quinta-feira, 29 de abril de 2021
QUANDO OS POLÍTICOS FALAM...
terça-feira, 1 de setembro de 2020
FEUDALISMO, CAPITALISMO, NEO-FEUDALISMO : VISÃO DA HISTÓRIA
Vou arriscar apresentar uma visão histórica, embora eu não seja mais do que um curioso, interessado em estudar a História, sobretudo para compreender as dinâmicas do presente, pois quem não conhece o passado, não consegue interpretar correctamente o presente, mesmo que seja dotado de muita inteligência e acumule muita informação. Com efeito, a dimensão histórica, se não explica tudo do presente, pelo menos, explica a dinâmica que levou ao estado presente das coisas. Tudo o resto, é uma espécie de «espuma», de acontecimentos superficiais, que não desencadeiam real mudança de rumo nas sociedades, por mais que causem uma transitória comoção.
Assim, as pessoas deveriam compreender a profundidade do sistema em que nos encontramos hoje em dia mergulhados, indo muito mais além dos sistemas políticos instaurados com o liberalismo. Isto é, a maior parte das pessoas faz remontar o sistema de governo às revoluções liberais e democráticas, que sacudiram o Ocidente e depois se espalharam pelo Mundo, começando pela revolução americana, na segunda metade do século XVIII, a revolução francesa, nos finais do mesmo século, as revoluções da América Latina, desde os primeiros decénios do século XIX e as revoluções europeias ao longo do século XIX. Estas, eram essencialmente republicanas e estavam misturadas com uma forte componente nacionalista.
Porém, uma análise do sistema de governo, no sentido mais amplo, deve incluir muito mais que o governo, o poder político propriamente dito: também é essencial a análise da propriedade, a influência da religião e da Igreja (ou Igrejas), assim como o modo como o povo se relaciona com as classes dirigentes.
Com o feudalismo nos países do Ocidente europeu, que se veio a instalar em consequência do desmoronar do Império Romano, nos séculos IVº-Vº, verifica-se a fase de conquista por povos germânicos - Godos, Visigodos, etc.- que estão interessados em fazer valer seus direitos de conquista sobre terras que foram do Império romano. Para tal, precisam de se fazer legitimar como reis e senhores de determinado território, por vezes uma província do antigo Império, por vezes menos que isso. Eles precisavam do aval da autoridade espiritual, da Igreja. Apenas ela - nesses momentos conturbados - faria com que os seus súbditos aceitassem as novas entidades reinantes, visto que tinham a unção de Igreja. Mas, muito cedo começou a haver contendas e lutas pelo poder, no interior desses reinos, sendo indispensável para o rei local distribuir terras e os rendimentos associados, por seus tenentes, seus colaboradores, seus parentes. Nasce então o feudalismo, onde o poder do rei se torna apenas virtual ou nominal, para além do palácio real e das terras directamente possuídas pela coroa e administradas em nome dela. Nos territórios dos duques, condes, marqueses e barões, estes tinham poder e exerciam-no como senhores das terras e das gentes que aí viviam. É um facto que eram vassalos do rei, porém sua dependência quase se resumia a serem obrigados a tomar armas e levantarem tropas, nos territórios que administravam, em caso de guerra. Esta situação de dependência militar do rei, em relação aos senhores feudais teve como consequência que o rei caísse na dependência daqueles. Os senhores feudais tinham imenso poder e não hesitavam demarcar-se do rei, quando este tentava interferir com o que consideravam ser as suas competências e privilégios.
Como o rei tinha pouco poder - de facto - em muitos casos, os mercadores, artesãos, camponeses, estavam sujeitos a uma multidão de regulamentos e de obrigações. Estas dependências não se limitavam aos senhores feudais, pois incluíam a Igreja, que se comportava exactamente como grande senhor feudal, ela própria: Recolhia impostos sob forma de géneros e de trabalho, dos que viviam nas suas terras, ou sob sua jurisdição. É por isso que a burguesia, desde muito cedo, reforçou o poder dos reis (por exemplo, em Portugal uma revolução popular e burguesa pôs no poder um novo rei, D. João I).
O poder dos reis vai afirmar-se contra o poder da aristocracia, em múltiplos casos, nos vários reinos europeus. A Igreja foi muitas vezes aliada dos reis, neste jogo de limitar o poder da aristocracia. Do mesmo modo, a burguesia foi cooptada, através de vários mecanismos, que lhe permitiam aceder ao estatuto de nobreza, sendo frequente haver nas cortes (parlamentos), um partido constituído por nobreza hereditária e outro por nobres mais recentes, «a nobreza de função».
O absolutismo, que resultou na eliminação dos aspectos potencialmente perigosos, para a autoridade real, do feudalismo, foi consolidado pela aliança entre os reis e a burguesia. Muito depressa, esta vai ter um papel decisivo na condução das diversas políticas, com excepção do comando militar, domínio reservado à nobreza antiga, a «de sangue».
Fazendo um salto no tempo, por cima das revoluções democráticas e burguesas, que se desenrolaram ao longo dos dois séculos e meio anteriores, verificamos que, hoje em dia, se está perante um enfraquecimento do Estado, o substituto da figura do rei (atribui-se a Luís XIV a frase: «o Estado sou eu»). Está-se perante a destituição do poder do cidadão: a cidadania nominal deixou de ter conteúdo real. A partir das técnicas de manipulação da opinião pública, desde os meados dos anos 20 do século passado, os poderosos puderam manter ou recuperar o controlo sobre os cidadãos: controlando a mente, a vontade, os desejos, os sentimentos, pela propaganda («public relations»), sempre mais sofisticada e universal.
As constituições são apenas papéis, com umas palavras impressas, que se agitam quando se quer fazer valer determinada posição, mas que, nem os que se encontram no poder, nem as oposições, realmente respeitam, nem querem fazer respeitar.
O poder, no século presente e já no anterior, é sobretudo económico, encontra-se na mão das corporações, conglomerados gigantes, possuindo ramos inteiros de indústria, fatias consideráveis da riqueza das nações, até mesmo com rendimento superior ao P.I.B. de várias nações e não das menores.
Quem está à frente dos bancos, ou multinacionais das indústrias tecnológicas, é - para todos os efeitos práticos oligarquia, ou seja, senhores feudais. São pessoas efectivamente tão poderosas como os senhores feudais. Mas, os senhores feudais da Idade Média exerciam seu poder em reinos, muitas vezes, de pequenas dimensões. Hoje em dia, a oligarquia exerce seu poder ao nível mundial e fá-lo com garantia de ser intocável, de estar muito acima dos poderes políticos, que - apenas teoricamente - se poderiam colocar ao mesmo nível que os poderes dos monarcas, dos Estados da era feudal. O poderio desta oligarquia globalizada exerce-se ao nível de organismos internacionais «públicos», como a OMS, em que as multinacionais farmacêuticas e fundações, como a de Bill e Melinda Gates, exercem a suserania, colocando seu secretário-geral num papel de mero fantoche.
O mesmo acontece com o complexo militar-industrial, mormente nos EUA, em que os sistemas ditos de «defesa» são cada vez mais caros, exercem uma punção cada vez maior no orçamento federal, mas isso é conseguido graças aos poderosos grupos de influência, «lobbies», destinados a favorecer os negócios destes fabricantes de instrumentos mortíferos. Os lobbies que circundam os locais de poder executivo e legislativo - o Pentágono e as Câmaras dos Representantes e o Senado - dispõem de rios de dinheiro, que lhes permitem comprar as boas graças de quem quiserem.
Com efeito, o sistema dito «representativo», enferma dum grave problema: quaisquer políticos, para conseguirem ser eleitos, têm de ter muito dinheiro para pagar as campanhas eleitorais, muitos milhões. Estes números são tais, que é impossível imaginar que através de donativos modestos, de muitos seguidores ou simpatizantes, se pudesse igualar o que recebem como «donativo» (na realidade, investimento) de empórios bancários e financeiros, da construção, das indústrias químicas, farmacêuticas, turísticas, etc, etc. O problema é simples de resolver, em teoria, mas na prática, é impossível, pois a maioria dos políticos, quer enquanto membros de partidos, quer a título individual, irá sempre impedir à nascença, ou fazer abortar, quaisquer projectos legislativos que verdadeiramente impedissem que o mundo empresarial comprasse suas influências junto da casta política.
Temos - portanto - uma partição muito assimétrica do poder, entre os servos e os senhores: os servos estão destituídos de poder verdadeiro, incapazes de fazer valer sua vontade, na «coisa pública», a todos os níveis. As suas armas são irrisórias, face ao armamento das polícias. Comparativamente, as armas dos servos medievais eram mais eficientes, face aos soldados dos senhores feudais.
O armamento, nos Estados modernos, não apenas é muito mais sofisticado, como não deve ser visto apenas como limitando-se a armas de fogo: os dispositivos de vigilância electrónica, as câmaras de vídeo que filmam locais públicos, etc., um aparato muito diversificado, que tornam qualquer tentativa de revolta armada um jogo suicida, da parte dos revoltosos.
Torna-se quase impossível a dissidência política verdadeira. O que se verifica é cooptação de pessoas e partidos que tradicionalmente se colocavam do lado do povo, dos trabalhadores, contra os poderosos. Quanto à revolta niilista, à partida, não tem qualquer objectivo político. O revoltado (não digo «revolucionário», note-se) vai quebrar umas montras, confrontar-se com a polícia, etc., mas isto não implica qualquer estratégia contra o poder. Podem sempre dizer que estão a «deslegitimar» o poder mas, na verdade, estão a fazer o contrário; estão a dar pretexto para o mesmo poder recorrer à repressão, com mão cada vez mais pesada, com o pretexto de que está perante opositores violentos ... A própria polícia, o próprio Estado, têm interesse em que se dêem incidentes violentos, para melhor poder reprimir manifestantes pacíficos, apanhados no meio de um motim.
Realmente, não existe solução, a não ser que haja um despertar, uma tomada de consciência, dum número elevado de pessoas, que compreenda que o poder pode estar nas suas mãos, se se unirem em busca de uma solução. Uma acção política de massas continuada é mais difícil de se realizar do que no passado. Mas, alternativas como movimentos niilistas, apenas desejosos de extravasar violência, ou cidadãos disciplinados, dispostos a votar naqueles que - na própria legislatura ou na seguinte - irão trair os compromissos assumidos com os eleitores... não são alternativas!
Entendo por acção política de massas continuada, uma rede de centros (ou grupos, colectivos) onde se tomam iniciativas destinadas a melhorar o quotidiano, sendo através de tais formas concretas que se podem forjar novos relacionamentos e uma nova cultura, não-tributária do circo eleitoral (isso inclui - obviamente - as eleições municipais).
Sei que é possível grupos de pessoas construírem esta dinâmica, já participei nalguns desses grupos com tais características e tenho conhecimento sobre muitos outros.