terça-feira, 7 de setembro de 2021
DESTRUIÇÃO SISTEMÁTICA DAS POUPANÇAS, SALÁRIOS E PENSÕES
sexta-feira, 5 de março de 2021
ALGUNS NÚMEROS DO NAUFRÁGIO DA ECONOMIA MUNDIAL
[tradução de parte de artigo de Simon Black, «Sovereign Man», «28 Triliões de Razões Para Ter um Plano B» ]
sexta-feira, 4 de dezembro de 2020
O PARADOXO DO DÓLAR VERSUS VALORAÇÕES BOLSISTAS
domingo, 8 de novembro de 2020
O ESTERTOR FINAL VIRÁ, DISSO PODEMOS ESTAR CERTOS
Na Europa, o ECB imprimiu e emprestou a juro zero aos bancos da zona euro, dinheiro que serviu para eles consolidarem os seus balanços desastrosos, onde certos bancos - não dos menores, como por exemplo Santander - têm uma enorme carga de dívida não paga, de cobrança difícil ou impossível.
O dinheiro deveria ser visto como um meio de troca de uns valores por outros, mas não como um valor em si. A impressão monetária tem um efeito depressor na economia, contrariamente ao que a escola Neo-keynesiana pretende. Com efeito, a inundação de dinheiro, não correspondente a acréscimo de bens e serviços só pode ter como resultado o aumento da inflação. Esta pode exprimir-se no domínio das bolhas especulativas, bolsas de valores e imobiliário, principalmente; ou poderá exprimir-se pelo aumento dos preços ao consumidor. Esta segunda modalidade já começou a manifestar-se nos bens alimentares, os que afectam mais a população pobre. Ela terá uma aceleração brusca, a partir do momento em que as pessoas percebam que a causa da inflação reside no dinheiro ser demasiado abundante, não nos preços ao consumidor dos produtos (estes são uma consequência).
Na primeira parte da entrevista de Claudio Grass a Rafi Farber, um economista da Escola Austríaca, o entrevistador colocava a pergunta seguinte (ver abaixo), à qual RF respondeu de maneira brilhante e original. Traduzi aquela resposta, sugerindo aos leitores deste blog que leiam também a entrevista na íntegra. Tem passagens de grande profundidade e inteligência.
CG: Logo desde o começo da crise do COVID, vimos os bancos centrais e governos tomarem passos inéditos, com medidas fiscais e monetárias extremas. Porém, quando temos em conta a escala de destruição económica, pode ser um desafio determinar-se que força irá prevalecer, por isso se assiste a um vivo debate «inflação vs deflação». Como é que se posiciona neste debate?
RF: Eis uma questão fascinante. Deixe-me responder sinteticamente e depois explicar. Inflação/deflação é uma falsa dicotomia. Inflação é deflação. São a mesma coisa. Dirá, isso é sem-sentido! Como é isso possível? Vou explicá-lo de forma simples.
A produção real mergulhou em todo o Mundo, enquanto a abundância de divisas «fiat» (não sustentadas por valor tangível) cresce numa parábola. Como é que alguém poderá dizer que isto não é inflacionário, quando aquilo que todos os bancos centrais estão fazendo é literalmente inflacionar? A resposta é que, no momento em que as dívidas têm de ser pagas, mas os fluxos de pagamento param, o serviço da dívida não pode ser satisfeito e portanto tem de ser obtido «cash» (dinheiro líquido) por qualquer meio possível para pagamento, ou as obrigações entrariam em incumprimento e o sistema bancário, todo ele cheio de dívida tóxica até ao pescoço, entra em colapso. Eles estão cheios até às goelas com este veneno.
No afã de obter «cash» por quaisquer meios, a procura de dinheiro sobe precipitadamente; inversamente, a procura de bens e serviços vai cair nesta emergência, temporariamente puxando o nível dos preços para baixo. Isto é visto como deflação. Acontece que o único propósito de um banco central, a própria razão de sua existência, é manter todo o esquema da dívida a funcionar, de ser o «emprestador de último recurso» e portanto eles não podem deixar que isto aconteça, nunca. Então, em vez de deixar que tudo acabe por deflacionar numa implosão espectacular, em vez de deixar que toda a dívida tóxica seja reduzida ao seu valor intrínseco, que é zero, os bancos centrais simplesmente compram todo o lixo («junk») e entregam «cash», que produzem a partir de nada. Agora, toda a gente está em dívida para com eles, porque eles compraram todas as dívidas com nada.
Num certo momento, muito em breve, os detentores internacionais de dólares vão tomar consciência do que está a acontecer e irão desfazer-se dos dólares e comprar algo tangível, para fazerem face ao que se está a passar. A China já está a fazê-lo com matérias primas agrícolas como trigo e soja. O mesmo se passa com o Egipto e Jordânia, por sinal. Os preços dos bilhetes de avião podem estar em queda, mas apenas porque é impossível voar para qualquer lado sem quarentenas. No entanto, o preço da comida está a subir em todo o lado, e depressa. Uma vez que o dólar seja trocado internacionalmente por bens tangíveis - e isto pode tornar-se muito sério, assim que o novo resgate de multi-triliões de dólares for aprovado – o efeito nos preços ao consumidor nos EUA vai ser drástico e assustador: nesse momento, veremos rapidamente uma hiper inflação nos preços ao consumidor.
Mas se pensarmos um pouco mais profundamente, o que é realmente a hiper-inflação? É a destruição de toda a dívida, expressa em dinheiro-fiat, de todos os activos em papel, em benefício dos activos tangíveis. A híper inflação é uma completa e manifesta deflação, em termos do ouro e da prata. Em termos de dinheiro real (ouro e prata) os preços literalmente tombam. É verdade que, quem não tem dinheiro real, ouro e prata, ficará desesperadamente pobre, o que é horrível. No entanto, os que têm ouro e prata ficam, de repente, com todo o poder de compra. Na Alemanha de Weimar, em 1923, podia-se comprar uma bela casa no centro de Berlim, apenas com quatro onças de ouro. Só isso. A hiper inflação é apenas hiper deflação, com outro nome. Tudo converge para o mesmo objectivo - o fim da bolha de dinheiro-fiat, que permitiu este crime contra a civilização humana, que está a atingir o pico em mais do que uma maneira.
Ou a bolha deflaciona, ou hiper- inflaciona e explode. Em ambos os casos, o resultado final é o mesmo.
Murray Rothbard descreve a hiper- inflação no livro « Man Economy and State », não como uma tragédia que deva ser evitada, mas como uma última defesa do povo contra a impressão sistemática de divisas e o correlativo roubo. É apenas uma tragédia, se não se está preparado para isso. Estamos agora no 50º aniversário da monstruosa bolha, que começou em 1971 e que procura desesperadamente deflacionar. E irá fazê-lo. Se a FED não deixar que a dívida tóxica, com juros negativos deflacione completamente e morra, e se deixar que os bancos criminosos sobrevivam, o povo - espontaneamente - irá destruir a bolha por ele próprio, atacando o próprio dólar. A inflação é deflação, em termos de dinheiro real. É a mesma coisa; é para lá que caminhamos.
segunda-feira, 27 de julho de 2020
É SÓ UMA QUESTÃO DE TEMPO...
Estou a falar do desenvolvimento da grande crise, supostamente causada pelo coronavírus, mas que - na realidade - deriva inteiramente da incrível dívida que se tem vindo a acumular, ao nível mundial.
São cerca de 4 quadriliões de dólares de dívidas no total mundial, de Estados, empresas e indivíduos. Um número com 4, seguido de 15 zeros!
A possibilidade dessa dívida jamais ser cobrada, está para além da mais fantasiosa imaginação. É absolutamente impagável.
A oligarquia sabe-o e não é de agora; simplesmente, tem aproveitado a situação da melhor forma (para seus interesses), à custa da saúde da economia mundial.
Desde que Nixon descolou o dólar do ouro em 1971, a «impressão monetária» tem sido o «instrumento de governação financeira nº1» de todos os governos.
A história não serve de lição aos políticos, nem - tão pouco - aos economistas ao serviço do sistema: Ambos têm sido beneficiados com as migalhas que caem do banquete da oligarquia.
Mas o crescimento - durante décadas - da dívida, tanto pública como privada, significa que muitas das empresas e não poucos Estados estão na bancarrota, tecnicamente.
Chegou-se a um ponto em que o serviço da dívida, que inclui juros cada vez mais pesados, é incomportável para o orçamento de cada Estado.
A maneira de disfarçar isso é de inflacionar. É fazer com que o dinheiro corresponda a cada menos valor, a muito menos poder de compra.
A explicação que dão os economistas «mainstream» para a suposta necessidade de inflação seria a de um efeito psicológico sobre os consumidores, que assim teriam a sensação de que a economia está «a crescer» e portanto, seriam mais inclinados a gastar dinheiro. Por outro lado, a inflação vai diminuir a carga de juros e de prestações de capital em dívida, se um empréstimo for a taxa fixa, o que - no longo prazo - confere vantagem ao devedor.
Simplesmente, a economia não se esquematiza da forma simplista como estes economistas «certificados» a entendem. No cômputo geral, deve-se ter em conta o declínio do poder de compra de salários e pensões, tanto maior, quanto maior for a inflação:
Como - infelizmente - nem aos assalariados, nem aos pensionistas lhes é reconhecido o direito de aumento automático na mesma proporção da inflação, eles vão perdendo capacidade aquisitiva à medida que vai passando o tempo, mesmo num contexto de inflação dita «baixa».
Chega-se ao ponto de ruptura quando as sociedades, até então usufruindo de bem-estar generalizado, começam a sofrer o empobrecimento rápido das várias camadas laboriosas. Na mesma ocasião, uma minoria ínfima de especuladores consegue acumular e enriquecer muito mais, sem gerar qualquer coisa real, em termos de bens ou serviços.
Na UE, com o pacote decidido recentemente pelos Estados membros, permitindo que as dívidas (sobretudo as do Sul) sejam garantidas pelo Norte, o euro caminha para um processo inflacionário acelerado, mesmo que os míopes declarem que as constantes injecções de biliões de euros, saídos do nada, não terão efeitos na inflação:
Não apenas terão efeitos visíveis, como desencadear inflação é justamente um dos objectivos dos governos da UE e do Banco Central Europeu (BCE).
A destruição do valor dos meios de subsistência - que são os salários e as pensões - é sempre passada sob silêncio, como se a economia fosse independente da população.
Com efeito, se aumenta a massa monetária em circulação, por exemplo, por um factor de 50%, é inevitável que os preços disparem, porque a quantidade de bens e serviços transaccionáveis irá manter-se sensivelmente a mesma, mas a quantidade de dinheiro disponível para a adquirir, vai aumentar: Se um quilo de laranjas valia 1 euro antes, agora vai valer 1,5 euros.
Dizem-me que a enorme crise de produção resultou numa escassez de bens e serviços, havendo uma retracção da economia e logo uma severa deflação; dizem-me também que o aumento da massa monetária não irá implicar inflação mais acentuada, porque terá pela frente o fenómeno contrário. Uma situação deflacionária tem toda a probabilidade de se verificar agora, em relação a determinados bens: equipamentos, automóveis, imobiliário, bens de «prestígio» e de «luxo», etc.
Mas, pode muito bem ocorrer - em simultâneo e em paralelo - com uma inflação acrescida, incidindo sobre os bens de consumo corrente, como alimentos, transportes públicos e fornecimento de serviços diversos, desde restauração a cabeleireiros.
Tudo isto é provável que esteja a acontecer, mas é ocultado pela descarada falsificação dos números oficiais da inflação. Com efeito, uma pessoa sente no quotidiano a generalização do aumento dos preços, mas ela deverá ser quantificada pela estatística.
Em Portugal, a fraca informação, não atempada e claramente distorcida, para favorecer o governo, faz parte da panóplia que permite manter um nível de salários e pensões próximo, ou ao nível da indigência, em muitos casos.
O disparar da inflação irá ocorrer, inevitavelmente, quer a nível nacional, com a acumulação de divida pelo Estado e particulares, quer na Comunidade Europeia, com os défices crónicos das balanças de pagamentos de todos os países do Sul. Tristemente, o único remédio que os dirigentes conhecem (ou estão disponíveis para aplicar), face ao crescimento incipiente, ou à estagnação, é a acumulação de mais dívida.
Por isso, é apenas uma questão de tempo, até a hiperinflação se desencadear. Não será nada bonito de se ver, pois irá acompanhar-se dum imenso sofrimento social.
Mas, a oligarquia pretende levar as coisas ao extremo, seguindo a estratégia de «choque e pavor», ou de «problema- reacção - solução». Desta forma, pretende perpetuar-se no poder, fazendo o tal «Great Reset» à sua medida, isto é, na forma que permita conservar o essencial dos seus privilégios.
terça-feira, 9 de junho de 2020
GRANDE «RESET» ANUNCIADO PELO FMI
Comentário de MB:
Na realidade, o discurso de Natalina Georgieva, actual presidente do FMI, é mais uma peça de propaganda do que um programa.
É preciso ler, nas entrelinhas, o que significam para o FMI, as «palavras de ordem» de um novo sistema monetário, que permita uma economia mundial mais «verde», mais «inteligente», com maior «equidade».
Penso que anúncios como este se destinam a preparar o terreno e a fazer pressão sobre os governos, para discutirem as reformas dentro de determinadas linhas.
A «demolição controlada» da economia mundial, sob pretexto de Coronavírus, foi a saída encontrada pelos globalistas para um colapso que estava em marcha, de qualquer maneira.
O sistema mundial entrou em colapso em 2008, mas foi mantido artificialmente, com uma aparência de vida, durante estes 12 anos que seguiram.
O que havia de valioso dentro do sistema, foi então esvaziado, sistematicamente, pelos que ditam as políticas aos Estados e às instituições internacionais: houve uma maciça transferência de riqueza do domínio público para o domínio privado.
- Os grandes bancos e instituições financeiras despejaram as perdas (activos arriscados, tóxicos, os derivados...) nos bancos centrais. Chamaram a estas operações «quantitive easing» e «estímulo da economia»... Assim, as perdas das especulações e má gestão são assumidas - em última análise - pelos Estados.
- O «bail out», ou resgate dos bancos falidos - um pouco por todo o lado - fez-se à custa de dinheiro público, subtraído ao erário público, aos orçamentos dos Estados.
- Nestas últimas duas décadas, a desvalorização das diversas moedas causou inflação - disfarçada por uma estatística falsificada dos índices - e foi destruindo o valor real dos salários, pensões, etc. ... mas, de tal maneira que o público -em geral- não se apercebe e não compreende o mecanismo.
- No mesmo intervalo de tempo, as grandes fortunas foram aumentando sua riqueza patrimonial. Foram despejando os activos bolsistas e financeiros, transformando-os em activos não financeiros, evitando assim a erosão da sua riqueza.
- O golpe, em Março de 2020 (o início, numa grande parte do Mundo, dos confinamentos / prisões domiciliárias, falências provocadas das economias) correspondeu ao capítulo final da transferência maciça de riqueza: «socialismo para os ricos e capitalismo para a plebe».
Penso que a grande finança dos países ocidentais irá tentar negociar, com a China e a Rússia, um novo compromisso, ou seja, um novo sistema monetário mundial. Um novo «Bretton Woods» será negociado entre as grandes potências, tendo os restantes países como figurantes.
segunda-feira, 21 de outubro de 2019
MERCADO DE OBRIGAÇÕES SOBERANAS = ESQUEMA DE PONZI PLANETÁRIO
Para as pessoas não embrenhadas nas subtilezas dos mercados financeiros mundiais, a diminuição constante das taxas de juro das obrigações, nomeadamente as que são emitidas pelos Estados (obrigações «soberanas» ou «do tesouro»), pode parecer misteriosa(*). De facto, a media convencional faz tudo para ocultar a realidade, admitindo que os jornalistas económicos tenham um acesso, pelo menos igual ao meu, à informação sobre estas questões.
A explicação que é dada - normalmente - prende-se com o «relançar da economia». Com efeito, segundo o esquema clássico, um investimento em obrigações (a taxa fixa durante um certo número de anos) terá um retorno inferior ao investimento do capital num mercado mais dinâmico, como o das acções cotadas em bolsa. Em termos de rendibilidade /segurança, os investidores que tiverem um apetite maior para o risco, irão escolher investimentos com maior rendibilidade (as acções), em detrimento dos que ofereçam maior segurança (as obrigações). Se o ambiente económico geral é de optimismo, haverá maior tendência para os investimentos com maior risco, o inverso se passando quando se entra em recessão, ou quando a economia abranda e se perfila uma recessão no horizonte.
Se aceitamos a lógica tradicional, então esta descida constante das taxas de juro das obrigações soberanas, em paralelo com a subida das bolsas, seria sinal de que «tudo vai pelo melhor, no melhor dos mundos possíveis».
Porém, o mercado das obrigações soberanas, como todos os mercados financeiros hoje em dia, sofre distorções, está viciado, é um jogo em que Estados, os bancos centrais e a grande banca exercem uma pressão constante.
Hoje sabemos que os bancos centrais de muitos países (cerca de 30), retomaram o caminho de «quantitive easing», ou seja, de fornecer dinheiro (aos bancos comerciais) em grande quantidade.
O banco central americano - a «FED» - tem estado ultimamente a fornecer 60 a 75 biliões (segundo Jeff Berwick, o montante diário é de $160 biliões) aos bancos comerciais, para que não «seque» o mercado inter-bancário de empréstimos a curto prazo («overnight lending»).
Este afluxo de dinheiro fresco é obtido pela compra de activos financeiros, que os bancos possuem em reserva, nomeadamente obrigações do tesouro desses mesmos países. Os bancos dos EUA terão uma grande quantidade de reservas sob forma de obrigações do tesouro americano, o banco central europeu e os bancos comerciais da zona-euro, têm uma percentagem elevada de obrigações do tesouro dos países membros da zona-euro, etc. Portanto, havendo procura elevada, mantida pela compra constante dos bancos centrais destas obrigações, os respectivos juros vão diminuir. Isto deve-se ao facto dos portadores de obrigações ficarem com uma maior garantia de que conseguirão facilmente vendê-las, havendo sempre compradores, quanto mais não seja, os bancos centrais.
Chega-se a um ponto em que a procura de obrigações soberanas aumenta, por parte de investidores particulares e institucionais, devido às incertezas da economia.
Nesta altura, aquelas obrigações são percebidas como investimento-refúgio, não são adquiridas com o objectivo de obter lucro, mas de garantir o capital. As obrigações começam a ter uma remuneração muito baixa, abaixo da taxa de inflação do país de emissão, para atingir, depois, uma taxa negativa: ou seja, chega-se à situação dos investidores comprarem obrigações, por exemplo, 1000 euros a dez anos, com a certeza de que, após dez anos, irão recuperar 998 euros.
Em artigo anterior, já tinha explicado como é que o mecanismo destas obrigações com juros negativos, se instalou: a incerteza dos actores institucionais, em relação aos mercados, a incerteza quanto à continuidade no longo prazo do Euro, tem levado a que as obrigações soberanas alemãs (e outras) sejam compradas com taxas de juro negativas. Com efeito, o marco alemão, no qual seria pago de volta o capital investido nas obrigações, no caso dum rebentamento da zona euro, seria cotado - segundo várias estimativas - muito acima (cerca de 20% acima, segundo alguns) do valor do euro, nessa altura.
Mas o investidor particular, que faz o cálculo e avaliação acima descritos, não pode ser responsável exclusivo da enorme quantidade de dinheiro aplicado em obrigações com rendimento negativo que existem hoje, ao nível mundial (cerca de 14 triliões de dólares).
Os diversos investidores institucionais são obrigados, pelas regras em vigor dos seus países, no que respeita à estrutura das suas reservas, a deter significativa percentagem de activos em «valores seguros».
Nestes, estão incluídas as obrigações do tesouro, nomeadamente, dos países onde estas instituições estejam sediadas. Tais imposições legais na estrutura dos activos detidos em reserva, dizem respeito a bancos comerciais, a fundos de pensões, a fundos das seguradoras, etc.
Nos EUA e noutros países, os governos têm estado cronicamente a pedir emprestado mais do que recebem sob forma de impostos. O resultado, é um crescimento da dívida soberana, ao longo dos anos. Com o aumento da dívida, dá-se o aumento dos juros da mesma, que tem de estar incluído nas contas dos orçamentos dos respectivos Estados. Se parte significativa do orçamento é destinada a pagar juros, estas somas não vão ser canalizadas para outros fins, investimentos - directa ou indirectamente - produtivos (e, portanto, não poderão gerar receitas de impostos).
Esta espiral descendente não pode prosseguir de modo indefinido: o dinheiro que é necessário subtrair para pagar os juros da dívida torna-se incomportável para a economia desses países.
Os Estados têm interesse em que baixem os juros da sua dívida soberana, pois assim podem liquidar com dinheiro recém-emprestado, as dívidas antigas, pagando juros mais elevados: por exemplo, se obtiverem um novo empréstimo com juro de 2%, poderão, com esse dinheiro, liquidar dívida que tinha um juro de 4%.
Mas, se este movimento descendente dos juros alivia as contas dos Estados, do ponto de vista da poupança, ele é lesivo. As taxas de juro dos depósitos e dos fundos de poupança estão indexadas à taxa de juro das obrigações soberanas. Se o juro da dívida pública diminui, a remuneração do dinheiro, mantido nas contas a prazo, irá diminuir, mais ou menos na mesma proporção. Os particulares e os investidores institucionais são induzidos a procurar maior rendibilidade do capital, investindo em fundos especulativos, portanto com muito maior risco associado.
Mas, o pior de tudo é o comportamento de risco, induzido nos investidores institucionais: observa-se o aumento do risco, na procura de maior rendimento na Segurança Social pública, ou nos fundos de pensões privados, pois estas instituições têm uma pressão muito grande pelo aumento de pessoas que atingem a idade da reforma, enquanto devido ao desemprego elevado e à baixa natalidade, há cada vez menos pessoas a descontar para estes fundos. Isto significa que a bolsa e os mercados de derivados vão ser áreas financeiras com maior peso destes grandes investidores, como forma de manterem os pagamentos das reformas presentes e futuras, a que estão obrigados.
Devido a isto, quer os fundos de pensões públicos, quer os privados, estão demasiado expostos; corre-se o risco das pensões não serem pagas, por falência. Já ocorreram situações destas em fundos de empresas (privados) e públicos (fundos municipais e outros) nos EUA. Numa eventualidade de crise severa, os sistemas público e privado de pensões irão à falência, nos países de economia de mercado.
A diminuição das taxas de juro da dívida pública, sendo um «alívio» para as finanças públicas, por um lado, por outro é uma catástrofe em perspectiva (cuja dimensão se vai avolumando com o tempo) para as instituições que são garantes das nossas pensões ...
Existe portanto uma contradição insanável entre o interesse da generalidade das pessoas (os pensionistas de hoje e os de amanhã) e o interesse dos que governam os Estados. Estes, são entidades orientadas pela classe política, essencialmente, para ela própria se manter no poder. «Custe o que custar» e «depois de mim, venha o dilúvio» são estes os motes que norteiam a classe política. Evidentemente, ela não diz isso ao seu eleitor!
O esquema de redução da dívida, por redução das taxas de juro das obrigações soberanas, tem sido praticado por todos os Estados europeus sobre-endividados graças ao BCE. São realmente muito poucos, os que não têm precisado de pedir dinheiro emprestado.
Se os empréstimos fossem destinados ao investimento produtivo, o lançamento de dívida pública não seria um problema, desde que a rendibilidade dos investimentos públicos fosse garantida, dentro de um certo prazo. Neste caso, as dívidas contraídas seriam pagas pelo acréscimo de receitas em impostos, em consequência do maior desenvolvimento económico. Porém, não é nada disto que se passa, na generalidade dos casos.
- Em muitos casos, trata-se de cobrir despesas do próprio serviço da dívida, os juros e o capital em dívida, com o novo empréstimo contraído, o que significa - ao fim de certo tempo - uma acumulação incomportável de dívida e de juros.
- Muitos governos lançam programas ambiciosos, mas sem sustentabilidade, para agradar aos eleitores. Depois, têm de cobrir os défices do orçamento com mais empréstimos.
- Noutros casos, «têm de» socorrer instituições bancárias ou outras, que entram em incumprimento. Os governos preferem ter perdas severas, a terem de gerir a situação de bancarrota de um banco, causando pânico generalizado. Por exemplo, tal foi o caso em Portugal, com a falência do BES [Banco Espírito Santo] e de vários outros bancos...
Quando as dívidas públicas e privadas se acumulam de forma exponencial, os Estados e respectivos bancos centrais emitem mais moeda, para «pagar» a dívida, arriscando deste modo fazer disparar a espiral da inflação. Desta maneira, estão a diluir o poder de compra da divisa, ou seja, o seu valor real. É assim que ocorre a perda do poder de compra dos salários, das pensões, das poupanças. Em suma: rouba-se os pobres. É este o caminho que os Estados do Ocidente, mesmo os mais poderosos, têm trilhado, após a crise de 2008.
Agora, nos EUA, na UE, na China, foi retomado ou ampliado o «quantitive easing» (ou seja, impressão monetária, use-se este ou outro eufemismo!). Esta impressão monetária destemperada não é uma escolha dos bancos centrais. Estão encurralados a fazer isso, pois a alternativa era deixar o sistema evoluir sem intervenção. Eles temem que, se não houver intervenção, os valores inflacionados desçam bruscamente, desencadeando um crash e uma brutal recessão mundial. Como se vê, estes banqueiros centrais e governos, entalaram-se a si próprios, colocaram-se a si próprios num beco sem saída.
Globalmente, este estado de coisas é insustentável e a próxima recessão não vai ser suave e passageira, mas antes uma longa depressão, em que muito vão sofrer as classes menos abonadas. Mesmo uma fatia significativa das classes médias será duramente afectada.
(*) NOTA: Pode-se pensar que o aumento da dívida vá fazer subir as taxas de juro. Porém, é exactamente o contrário.
Harry Dent, cita o economista Lacy Hunt, que explica o fenómeno:
https://www.silverdoctors.com/headlines/world-news/harvard-trained-economist-what-higher-debts-do-to-bond-rates/
sábado, 14 de setembro de 2019
HARLEY SCHLANGER: GLOBALISTAS E BANQUEIROS QUEREM DOMÍNIO HEGEMÓNICO
sábado, 3 de agosto de 2019
GREAT RESET: OPERAÇÃO ENCOBERTA DOS BANCOS CENTRAIS
quinta-feira, 20 de junho de 2019
DESFAVORÁVEL PARA A ECONOMIA / FAVORÁVEL PARA O OURO
A noção clara de que a situação da dívida, mesmo nos países afluentes, está num ponto crítico e de que - a todo o momento - se pode desencadear um «crack» nas acções e nas obrigações, sem outro possível refúgio senão os metais preciosos, é agora lugar comum nos meios financeiros. A crise económica continuou pós 2008, até hoje, apenas disfarçada por medidas cosméticas, mas estas estão a desfazer-se claramente.