A IIIª Guerra Mundial tem sido, desde o início, guerra híbrida e assimétrica, com componentes económicas, de subversão, desestabilização e lavagens ao cérebro, além das operações propriamente militares. Este cenário era bem visível, desde a guerra na Síria para derrubar Assad, ou mesmo, antes disso.
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sábado, 22 de setembro de 2018

TULSI GABBARD: UMA VOZ DE PAZ E BOM SENSO NO CONGRESSO DOS EUA

Tulsi Gabbard é uma mulher corajosa. Antes de ser representante pelo Estado do Hawai, foi militar nas forças americanas de ocupação do Iraque. Provavelmente, isso permitiu-lhe ver a realidade em frente. 
Agora, diz aquilo que é preciso dizer sem nenhum «filtro», de forma que os americanos percebam. Também aponta o dedo ao poder, à conivência e incoerência de transformar a Al Quaida de maior inimigo, em aliado dos EUA.  
Tulsi tem apoio numa minoria de pessoas nos EUA, que não é assim tão pequena, simplesmente a completa vassalagem da poderosa media corporativa, impede que suas vozes sejam ouvidas e seus pontos de vista expressos. 
É uma forma encoberta de censura: 
Dum lado (o da guerra) há uma total cobertura nos media, para apoiarem e mesmo reforçarem com argumentos dos mais falaciosos, incluindo campanhas de propaganda enganosa. 
Do lado da paz, apenas alguns meios com circulação restrita dão voz aos que defendem a paz. Os media mainstream, ou omitem completamente declarações e tomadas de posição pacifistas ou noticiam, mas de forma esporádica e sem  darem especial relevo. 
Perante este regime aristocrático, em que muitos cobardes e corruptos estão conscientemente a fazer o jogo sujo dos detentores do poder, é de saudar a coragem e senso de justiça desta congressista. 
Ela consegue congregar vozes dentro e fora do Congresso Americano, no sentido de impedir o lançamento de mais guerras de agressão (sob falsos pretextos humanitários) por parte dos EUA.

Leiam a entrevista no link abaixo, dada a James Carden e publicada em «The Nation»

                           Tulsi Gabbard TPP

https://www.thenation.com/article/tulsi-gabbard-on-the-administrations-push-for-war-in-syria/

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

MALTHUSIANISMO E NEO-MALTHUSIANISMO

Neste curto ensaio vou desenvolver alguns aspetos da questão populacional. A biologia das populações sempre foi um domínio de que eu gostei, embora não tenha especificamente trabalhado como biólogo das populações. 
O malthusianismo, do economista inglês Thomas Malthus (1766-1834) é uma teoria que encara a população sob o duplo prisma dos recursos e da sua taxa de reprodução. Malthus postulou que os recursos - os bens necessários à subsistência humana tais como alimentos, casas, roupas, etc. - poderiam - quanto muito - progredir numa progressão linear (ou diretamente proporcional), enquanto a multiplicação dos indivíduos ocorria numa progressão geométrica ou exponencial.  Da divergência entre estes dois crescimentos, originava-se fatalmente uma escassez, que se traduzia em fomes, violências e guerra. Para evitar este terrível destino, teriam de ser tomadas medidas concretas para limitar a população (encorajamento da contraceção, esterilizações...), com vista à estabilidade populacional.
O princípio malthusiano era pessimista porque postulava que as pessoas, ao multiplicarem-se, iriam necessariamente ficar cada vez mais pobres, mais destituídas. A elite aproveitou o mesmo princípio para lutar contra a tendência para aumento dos salários e diminuição das horas de jornada de trabalho, que foram as grandes causas movimentando o proletariado, desde a primeira metade do século XIX, até hoje. 

                                     
A obra de Malthus foi utilizada por Marx e Engels assim como por Darwin, entre outros. Marx e seguidores tiraram daí o conceito da autodestruição inerente ao sistema de exploração capitalista. 
                                            
Darwin inspirou-se em Malthus para explicar a inerente competição pelos recursos escassos entre todas as espécies vivas; foi também buscar a este autor a ideia do efeito da predação (e incluindo o parasitismo) como forma de ajustar os efetivos das populações de presas e de predadores.                 
Após Darwin, o seu sobrinho Galton adaptou os conceitos de seu tio e de outros. Numa linha neomalthusiana defendeu a eugenia - ou seja - que os «melhores» deviam ser estimulados a procriar enquanto os que eram portadores de «taras» deviam ser impedidos de procriar. 

                    
Vários países praticaram a esterilização sistemática de pessoas consideradas «inferiores». Muitas pessoas têm ideia de que apenas a Alemanha de Hitler e quanto muito alguns dos seus estados-vassalos da Europa praticaram essas medidas. Hoje, sabe-se que não foi assim: Desde a Suécia à Austrália, sucedem-se histórias verídicas de políticas de Estado, da esterilização forçada de certos grupos de cidadãos.
  

A grande indústria e em particular o império Rockefeller estão associados desde o principio, ou seja, antes ainda do partido NAZI subir ao poder, através da Fundação Rockefeller, em apoio entusiástico ao eugenismo prático, além de serem financiadores de muita da investigação científica destinada a melhoramento da espécie humana. É com base em programas financiados pelos grandes empórios da agroquímica que são criados OGM, organismos geneticamente modificados. William Engdahl explica de modo muito convincente e exaustivo, no livro «As sementes da destruição»,  que a oligarquia (Rockfeller e outros bilionários) esteve - desde o princípio - a subsidiar e promover as OGM. Décadas antes (nos anos 70), defendendo uma estratégia tipicamente neo-malthusiana, o seu protegido H. Kissinger tinha já delineado uma estratégia de guerra económica utilizando sementes, trigo, soja, leite, principalmente.

                  
A utilização dos alimentos estratégicos (sobretudo dos cereais) como arma de chantagem permitiu a Washington impor aos governos de países do Terceiro Mundo, programas de «controlo da natalidade» (que incluíram esterilizações em massa e sem conhecimento/consentimento das mulheres) como condição para beneficiarem do apoio alimentar não só dos EUA, directamente, como também de agências internacionais, mas de facto controladas pelos EUA.

Actualmente, as chamadas guerras contra o terror têm uma dimensão de destruição massiva não apenas das populações como também das infraestruturas. Assim, no Afeganistão, no Iraque, na Síria, na Líbia, no Iémene, estão documentados actos destinados a destruir ou inviabilizar estruturas fundamentais para a população civil, desde centrais eléctricas e geradores de corrente, a sistemas de canalização e tratamento de água potável e de esgotos. O resultado é a morte de milhões de crianças, principalmente causada pela desnutrição, ausência de cuidados básicos de saúde, de água potável, etc. Note-se que estes países ficam com uma população reduzida, não somente porque tem de emigrar para longe, como refugiados, como também está desnutrida, enfraquecida, mais sujeita a doenças, em países devastados, onde não existem os recursos médicos e sanitários mais elementares. 
                 

Estas guerras do Império, de uma crueldade incrível, seriam suficientes, por si só, para condenar os presidentes e seus respectivos governos (George H. Bush, Bill Clinton, George W. Bush, Barack Obama e Donald Trump), se houvesse o equivalente do tribunal de Nuremberga. Infelizmente, os países que participam no tribunal da Haia, consentiram que os EUA se auto-excluíssem de poder jamais comparecer no dito cujo tribunal, apesar de terem sido os mais fervorosos impulsionadores do mesmo.
A política de destruição sistemática ocorre nos países do «crescente fértil», onde nasceu a agricultura há 12 mil anos, onde existe uma parte muito grande do petróleo explorado.

O trazer aí o caos, encorajando a intolerância religiosa, sectária e étnica, não é fruto do acaso ou daquilo que os  media corporativos nos querem fazer crer: é resultado duma política neo-malthusiana destinada a reduzir drasticamente certas populações, sobretudo,  se elas são dos países que detêm recursos (o petróleo, mas também certos minerais) de que o «Ocidente» carece para as suas indústrias, para satisfazer o seu estilo de vida e consumo.


Existe uma forte corrente que se designa de «neocon» que capturou sectores inteiros do governo dos EUA e sobretudo do chamado «Estado Profundo», incluindo as agências CIA, NSA, Homeland Security, etc. Esta corrente advoga que é possível uma guerra nuclear ser «ganha» pelos EUA, havendo depois um redistribuir de poderes e de recursos em benefício dos mesmos e de seus vassalos de «primeira» (essencialmente anglossaxónicos «de pele branca»: Grã-Bretanha, Austrália, Canadá, Nova-Zelândia).

Todos os outros países sofreriam devastações tais, que durariam muitos anos a recomporem-se. Loucamente, delirantemente, imaginam conseguir obter uma redução de 4/5 da população mundial, por este meio (o holocausto nuclear) e que as populações sobreviventes viverão em condições muito satisfatórias. Mas uma guerra nuclear significa a destruição completa da habitabilidade do planeta ou, no mínimo, a perda irreversível das condições para os sobreviventes. É este o perigo que o mundo enfrenta, se deixar um punhado de pessoas com poder (os neocons e a oligarquia mundial) manobrar as políticas dos Estados.


sábado, 30 de setembro de 2017

REFLECTINDO SOBRE O NACIONALISMO

Catalunha, País Basco, Escócia, Flandres, etc... São frequentes nos últimos anos os casos de nações europeias, incluídas à força dentro das fronteiras de um estado, que tentam separar-se do estado, obtendo a independência por meios democráticos. 

                                  Foto de Pepe Escobar.

Porém, a arquitetura da Europa da UE não é nada favorável, com a sua rigidez, com as suas burocracias meticulosamente repartidas entre seus estados-membros, com os seus tratados que têm como um dos principais aspetos a manutenção do status quo. Vemos a difícil separação da Grã Bretanha da UE, o famoso «Brexit». Estes movimentos centrífugos e de recusa do ultra-centralismo, quer seja ao nível de estados-nações, quer ao nível de super-estado (U.E.), têm sido mais vigorosamente expressos nas nações cujo território encerra indústrias ou recursos naturais que permitiriam uma economia viável, fora do conjunto nacional no qual se encontram incluídas. 
Noutros pontos do globo, como nas zonas habitadas por curdos da Síria, Iraque (com potencial para se alargarem para partes do território Turco e Iraniano), verificamos tentativas de avanço para maior autonomia no caso da Síria e para uma completa independência (Curdos iraquianos).  Os traçados de fronteiras artificiais resultantes da 1ª guerra mundial e do desmoronar do império otomano, são responsáveis pela situação, mas também o próprio princípio centralista dos Estados, concentrando ao máximo o poder político, administrativo e económico.
As proclamações da ONU sobre os direitos dos povos à autodeterminação e independência, que foram um importante  apoio à luta e ao triunfo dos movimentos independentistas anti-coloniais, implicava também uma aceitação tácita das fronteiras arbitrariamente desenhadas pelos vários colonizadores. Esta situação fez com que - em África - não existe (que eu saiba) nenhum estado, presentemente, cuja população seja etnicamente homogénea, longe disso. Há zonas de povoamento de etnias cortadas por fronteiras entre estados; há etnias que são muito hostis uma em relação à outra e - no entanto - são obrigadas a coexistirem dentro do mesmo estado, a viverem sob o mesmo governo. 
Os estados e organizações supra-estatais de âmbito regional (como a UE) ou internacional (como a ONU) são totalmente incapazes de se auto-reformarem de modo a que seja mais fácil e natural a separação de povos que vivem dentro de suas fronteiras nacionais. 
O federalismo, como era entendido pela República espanhola , tinha permitido uma larga autonomia das nações que a constituíam.  Os princípios federativos da URSS (embora a prática fosse coisa totalmente distinta) também permitiam uma larga autonomia e a independência, em princípio.
O federalismo de Proudhon e de Bakunin foi largamente inserido nos princípios da 1ª Internacional, que a 2ª Internacional (dos partidos social-democratas e socialistas) herdou. É porém notável verificar-se que os herdeiros (nominais) de tais organizações - como o PSOE - têm uma posição claramente centralista.
Os processos de desagregação dos estados europeus, ou de outras paragens, é sintoma de senescência destas estruturas. Porém, sua decadência pode durar vários séculos.
Estou convencido que a esclerose dos estados vai de par com um maior autoritarismo, o que equivale - na prática - a maior centralização. Nunca se viu uma deriva autoritária de um poder, que não fosse centralizadora. 
Pelo contrário, a descentralização verdadeira, ou seja, a aplicação dum federalismo autêntico, faz com que as uniões entre várias entidades acabam por ser mais sólidas e duradoiras porque não se revestem do odioso duma etnia a oprimir outra, ou outras. 

terça-feira, 12 de setembro de 2017

A LUTA PELA AUTONOMIA NO CURDISTÃO SÍRIO

                         
Em 2014, quando os exércitos do Iraque e da Síria foram derrotados por uma repentina ofensiva do ISIS, algo muito particular surgiu no território Sírio, perto da fronteira com a Turquia, na região de Kobane. 
Milícias curdas de auto-defesa (YPG) ergueram-se para defender Kobane, a cidade onde predominava esta etnia, para que ela não caísse nas mãos dos djihadistas salafistas financiados pelas monarquias do Golfo, em especial pela Arábia Saudita, com a bênção e apoio logístico, em segredo, dos americanos. Nesta ocasião formou-se um movimento de solidariedade com os defensores de Kobane, tidos como próximos do partido curdo irmão do PKK.
O PKK, por sua vez, depois da prisão do seu líder Oçalan, numa ilha turca,  tinha sofrido uma mutação tanto estratégica quanto ideológica. O seu líder prisioneiro, tinha estudado com muito interesse Murray Bookchin e tinha chegado à conclusão de que o seu movimento se deveria inspirar pelo Municipalismo Libertário para construir a nova entidade, nas zonas libertadas. Assim, Kobane foi o primeiro laboratório em «escala real» de um movimento de guerrilha, que adotou princípios de horizontalismo, assembleísmo e de total igualdade entre homens e mulheres. Se tal postura já era por si só revolucionária em qualquer parte do mundo, em especial o seria frente a uma ofensiva dos ultra-conservadores, inspirados na interpretação mais obscurantista e fundamentalista do Corão: o Waabismo.
Porém, não devemos embandeirar em arco, pois as forças nas quais se integram os contingentes curdos sírios, as SDF (Sirian Democratic Forces) são largamente controladas, financiadas e equipadas pelos EUA. Estes, não querem perder o controlo estratégico do leste da Síria, onde se situa o petróleo e onde podem exercer vigilância sobre o Irão, sobretudo pretendem manter as bases ilegalmente aí implantadas, sob o pretexto de combater o Estado Islâmico (uma criação deles, da Mossad, dos sauditas, dos quataris, da Al Quaida, etc.) . 
Agora, com Dar-el-Zor prestes a ser libertada do cerco de anos pelas forças do Estado Islâmico, desenvolve-se uma corrida de velocidade para controlar esta região, rica em petróleo, entre as forças governamentais sírias, apoiadas pela Rússia, e as forças de SDF, apoiadas pelos EUA. 
O que deveria prevalecer seria um acordo para que não houvesse incidentes entre forças que, nominalmente, combatem o mesmo inimigo... mas sabemos que tem havido uma constante sabotagem disso, pelo Estado Profundo dos EUA, que já vem do tempo da presidência Obama. Não esqueçamos que um acordo de troca de informações entre forças dos EUA e Russas foi sabotado horas depois de concluído, pelo bombardeamento «por engano» de uma coluna do  exército sírio, causando mais de 60 mortes do lado sírio, na altura em que estes estavam a repelir o Estado Islâmico na zona de fronteira sírio-iraquiana.   
Vamos ver o que traz a queda da província de Dar-el-Zor

                             
                              
O que os EUA tentam cozinhar é claramente a construção de um mini-estado tampão, usando os curdos (tal como o fizeram, várias vezes, com os curdos iraquianos) para depois poderem se implantar permanentemente nessa zona do mundo, onde estritamente não têm absolutamente lugar nenhum, mas onde eles pretendem estar presentes, para controlo das rotas do petróleo, do gás e mantendo e acirrando rivalidades e conflitos entre povos, única coisa na qual eles são exímios! 

No meio disto, os militantes revolucionários vão ser - mais uma vez - «deitados para debaixo do autocarro», caso continuem a fazer a escolha errada e «apanhem o isco» de criar um mini estado Curdo, sem viabilidade e apenas baseado no apoio americano.

quinta-feira, 20 de julho de 2017

CAMINHOS DE PAZ NA PENÍNSULA COREANA

         

Pode-se ter uma opinião muito negativa sobre a dinastia vermelha que reina em Pyongyang. A media ocidental gosta de retratar o líder da Coreia do Norte com roupagens de extravagante e cruel déspota. Tudo o que fazem é reforçar preconceitos, como o de que o «comunismo» necessariamente conduz a monstruosidades como esta, ou ainda que a «raça amarela» é fanática e tem uma obediência cega ao líder carismático. 

Mas, interessará discutir numa base moral ou racial os regimes e as suas políticas? Não seria mais produtivo e inteligente fazer-se uma avaliação pragmática das políticas internas e externas dos diversos países? 

Com efeito, a estratégia da Coreia do Norte, no que toca à sua defesa, é tudo menos estúpida
É uma estratégia destinada a meter medo aos EUA, o país que nos anos da guerra da Coreia, ameaçou o Norte com o lançamento de uma bomba nuclear, que efectuou sistemático «carpet bombing» contra áreas industriais e aldeias na Coreia do Norte, crime de guerra na escala do genocídio. 
Evidentemente, isso não é ensinado nas escolas ou difundido na media de nenhum país ocidental, nem tãopouco nas escolas e media da Coreia do Sul. 
Os seus episódios dramáticos estão presentes na memória do povo da Coreia do Norte. 

Nós sabemos que o Iraque não tinha «armas de destruíção maciça» e o Pentágono e a CIA também sabiam o mesmo; porém houve uma campanha de provocações, culminando com uma cena teatral de Colin Powell na ONU, agitando um frasquinho como «prova» de que os iraquianos tinham armas de destruíção maciça e que se tinha de derrubar o ditador. 
O mesmo se passou em 2014, quando fizeram crer que um ataque usando armas químicas contra civis, da autoria dos terroristas islamitas que combatiam Assad, tinha sido obra do regime sírio. O que evitou uma invasão pelo «virtuoso» polícia mundial e seus vassalos, foi - por um lado - a Câmara dos Comuns britânica ter negado ao primeiro ministro Cameron o apoio à guerra na Síria, com o «Grande Irmão» americano, e - por outro lado - a proposta russa de desactivar e retirar todas as armas químicas na posse do regime sírio, proposta essa que foi aprovada e implementada pela ONU. 
Podemos ver pelos exemplos acima que os EUA atacam, bombardeiam, invadem, quando têm a certeza que o outro país está incapaz de se defender, de realizar um contra-ataque devastador. 

Como dissuasor de tais ataques, o programa  norte-coreano de desenvolvimento de mísseis balísticos intercontinentais e de bombas nucleares faz todo o sentido. 
O regime da Coreia do Norte não poderia aguentar-se face às ameaças permanentes da maior potência militar que jamais existiu no Planeta, sem uma forma ou outra de retaliação, suficiente para deter o ímpeto dos neocons, com suas delirantes doutrinas de hegemonia planetária. Estes têm dominado a política externa de Washington, desde de Bill Clinton, até hoje.  

Outro dado do problema, a política de mais de seis décadas (!) na região manteve sempre o status quo entre as duas Coreias, por uma simples razão: durante o período da guerra fria, de 1954-91, e depois, mantiveram-se e consolidaram-se dois regimes totalmente opostos, em termos de valores, de política, de economia, de alianças, de modos de vida e de cultura, na península da Coreia
A unificação da Coreia parece apenas um objectivo longínquo, que os dirigentes costumam introduzir nos seus discursos, para ir ao encontro dos sentimentos das massas, as quais têm parentes ou amigos de um e outro lado da linha de demarcação que faz as vezes de fronteira entre as duas Coreias. Mas, do ponto de vista das potências externas esta situação de «nem paz, nem guerra» permitiu que elas se imiscuíssem nos assuntos da península coreana. 
Nomeadamente, os EUA mantiveram - desde o tempo da guerra da Coreia até hoje - um exército de 35 mil homens, pelo menos, além de um número elevado de civis que dão apoio a bases militares americanas na Coreia do Sul. 
Esta situação não poderia continuar se os dois regimes se entendessem, se baixarem as ameaças de parte a parte, se houvesse um tratado de paz, passados 63 anos sobre o fim da guerra da Coreia. Este tem sido repetidas vezes proposto por parte da Coreia do Norte e persistentemente negado do lado americano, sob os mais diversos pretextos.  
Os mísseis THAAD, supostamente defensivos, são - na verdade - ofensivos. Com efeito, a decisão de serem disparados como retaliação contra o inimigo do Norte, ou em «prevenção» contra uma (suposta) ameaça, está inteiramente nas mãos dos americanos. 
O novo presidente da Coreia, Moon Jae-in, teve um primeiro amargo de boca diplomático e militar, pouco depois de ter assumido a presidência, ao verificar que o número e localização desses sistemas de mísseis lhe tinham sido ocultados e que se preparavam para instalar ainda mais sistemas sem o seu conhecimento, sem a prévia autorização do chefe de Estado da Coreia do Sul.
Neste contexto, o duo Rússia-China tem feito esforços para apaziguar, para levar os lados a sentarem-se à mesa de negociações. 

Contrariando a rígida política de «guerra fria», a Presidente destituída Park Geun-hye, apesar do seu conservadorismo, continuou e aprofundou as boas relações com a China. 
As relações económicas e comerciais desenvolveram-se: muitos produtos industriais coreanos são hoje fabricados na China e há um constante afluxo de turistas chineses à Coreia do Sul. 

A política sul-coreana em relação ao regime do norte foi, em momentos recentes da História, pautada por realismo e por um desejo de aproximação passo a passo: isso traduziu-se pela abertura de centros de manufatura industrial sul coreanos, em território da Coreia do Norte. 
Kim Dae-jung, o presidente que protagonizou essa política, recebeu o prémio Nobel da paz, mas o seu partido não conseguiu manter-se no poder e entretanto, com a «guerra contra o terror» decretada por George W. Bush, houve um re-alinhamento mais estricto da política externa coreana com as posições americanas.

Durante os dois mandatos de Obama, tanto em relação ao Irão como à Coreia do Norte,  a política de sanções e a ameaça do uso da força têm levado ao fechamento (previsível) e à consolidação (previsível) destes regimes em face da ameaça externa. 
A guerra económica é uma forma de guerra e não menos cruel do que as guerras «quentes»; lembremos que Madeleine Albright (secretária de Estado de Bill Clinton) declarou que as sanções contra o Iraque «tinham valido a pena», apesar da entrevistadora lhe ter lembrado as cerca de 500 000 mortes de crianças iraquianas provocadas pelas mesmas. 

Analogamente, as fomes de que se fala em relação à Coreia do Norte, não terão a ver, tanto com a incompetência ou insensibilidade dum regime ditatorial em relação à sua própria população, mas antes com as severas sanções económicas que o «Ocidente», sob a batuta dos EUA, impõe a este país. 

Agora - apesar duma adminstração Trump incapaz de se libertar da chantagem e sabotagem dos «neocons», que continuam a dominar o «Estado profundo» - surgiu uma  nova possibilidade de abertura, com o novo presidente Sul-coreano propondo conversações directas  Norte - Sul, ao nível de chefias militares e da Cruz Vermelha. 
Isto seria uma boa base para diminuir as tensões e riscos de uma guerra se desencadear devido a um simples erro humano, como tem hipóteses de acontecer nos cenários onde existem armas sofisticadas, programadas para automaticamente detetar e reagir a quaisquer invasões inimigas do espaço aéreo.

               Foto de Ann Wright.

Na guerra fria Nº1 houve várias circunstâncias em que se esteve próximo de se desencadear uma guerra EUA- URSS por engano. Lembro-me do exemplo de um bando de gansos selvagens ter sido captado nos radares de um dos lados e tomado por uma esquadrilha de aviões invasora ...

Igualmente prometedora é a linha de comboio trans-coreana, que permitirá o transporte de produtos da Coreia do Sul por via terrestre, via Sibéria, para a Europa: esta será um importante troço do gigantesco projecto One Belt One Road, levado a cabo pela China, Rússia e pelos países seus aliados.
Os interesses económicos partilhados, a estratégia «win-win», são o meio mais seguro de garantir que se preserva a paz. 



Uma potência mundial em ascenção, a China, tem esta postura. Outra, em decadência acelerada, os EUA, agarra-se à política do «pau e da cenoura». 
- Como evoluirão a curto-médio prazo? 
Não sei, mas vendo os conflitos e guerras presentes e o potencial de destruição das grandes potências, parece-me que nunca foi tão necessário evitar a guerra, consolidar a paz.

segunda-feira, 18 de julho de 2016

RAZÃO MORAL E CONSCIÊNCIA



De que é que serve a nossa razão moral, anos depois de centenas de milhares de mortos?
Isabel do Carmo

Esta reputada médica coloca a questão num artigo de opinião surgido nas páginas do «Público». 
Eu coloco a questão de outro modo.
Se a razão moral é uma medida de alguma coisa, será da nossa impotência. Ou – simetricamente – da força brutal dos poderes do capital, dos governos e dos media, que puderam ignorar completamente o grito moral de muitos milhões de pessoas que se manifestaram, incluindo nos países que seriam – dias depois - agressores nesta guerra criminosa do Iraque.
Esta guerra de 2003 foi antecedida de uma década de sanções crudelíssimas contra as populações civis iraquianas, elas próprias atos de guerra, assim como esporádicos ataques aéreos «preventivos», com devastadoras consequências nas depauperadas infraestruturas do Iraque.
Muitos se recordam da entrevista dada por Madeleine Allbright (da administração Clinton) que respondeu a uma pergunta da entrevistadora sobre se este regime de sanções contra o Iraque se justificava em face de cerca de quinhentas mil mortes de crianças, provocadas pelas condições sanitárias deficientíssimas e carências alimentares, além de outras carências. Ao que a representante da diplomacia dos EUA respondeu que sim, que estas sanções se justificavam.
As pessoas do Ocidente, supostamente educadas, civilizadas, não podem deitar para traz das costas a sua objetiva conivência, com os facínoras, os Blair, os Bush, os Obama e todos os seus acólitos e agentes, incluindo as hierarquias das forças armadas, do comando da NATO, etc. Elas – ao saberem dos crimes de guerra – quando escolheram «ignorar», comportaram-se como se fossem pessoalmente inocentes desses crimes. Na realidade, se elas se consideram livres, logicamente deveriam considerar que livremente elegeram políticos monstruosos capazes de mentira, de crimes contra a humanidade, para se manterem no poder. Ainda maior sua responsabilidade será, no caso de nada terem feito para impedir essas monstruosidades, mesmo depois de denunciadas por organizações e pessoas inteiramente credíveis.
Nem sequer estão totalmente isentas de responsabilidade moral em relação ao terrorismo, perpetrado por pessoas desesperadas pelas devastações que ocorreram nos seus países: Os crimes de guerra efetuados pelas potências nessas terras são uma mancha indelével, uma ferida sangrando nessas zonas do globo.
O cinismo das potências vai ao ponto de levarem a cabo ataques com gases venenosos, causadores de dezenas de mortes, como foi o caso há apenas 3 anos, na Síria, para depois, falsamente, acusarem o presidente desse país, Assad, da responsabilidade deste crime…
A responsabilidade da média corrupta e mercenária é grande ao deitar poeira para os olhos da opinião pública dos diversos países, ditos democráticos, desviando o seu olhar dos comportamentos criminosos dos seus dirigentes, carregando outros, Assad, Putin, Kim Jong Un, etc. com todos os males, diabolizando esses dirigentes, assim como os seus governos e Estados. Ora, se nenhum governo é perfeito, nós sabemos também que não se tolera, num Estado dito de «de Direito», que alguém seja enxovalhado publicamente e sem possibilidade sequer de se defender eficazmente, por crimes que lhes são imputados, mas nunca são minimamente demonstrados.
Este critério, perfeitamente válido e aceite em relação a qualquer cidadão de um dos tais países ditos civilizados, é alegremente ignorado quando se trata de governos «inimigos».
Vale tudo; tudo é aceite para nutrir o medo insuflado numa opinião pública cobarde, infantilizada e disposta a tudo para não ter que se confrontar com a triste realidade da sua inegável decadência moral.
Por esses motivos todos, considero que só são dignos os que resistem, os que dizem não a esta barbárie, especialmente os cidadãos e cidadãs dos países da NATO e outros aliados dos EUA, cujos governos e forças armadas têm contribuído para a destruição da paz e agredido violentamente populações indefesas.
A única defesa contra o terrorismo é depor os governos que direta ou indiretamente o fomentam, se alimentam dele, precisam dele para desencadear as suas campanhas de medo e de ódio.

A NATO, porventura a maior ameaça terrorista que ameaça a paz mundial e a sobrevivência do planeta, deveria ser dissolvida quanto antes e, no imediato, abolida qualquer pretensão de ela ser «polícia mundial».