De que é que serve a nossa
razão moral, anos depois de centenas de milhares de mortos?
Isabel do Carmo
Esta reputada médica coloca
a questão num artigo de opinião surgido nas páginas do «Público».
Eu coloco a questão de
outro modo.
Se a razão moral é uma
medida de alguma coisa, será da nossa
impotência. Ou – simetricamente – da força brutal dos poderes do capital,
dos governos e dos media, que puderam ignorar completamente o grito moral de
muitos milhões de pessoas que se manifestaram, incluindo nos países que seriam –
dias depois - agressores nesta guerra criminosa do Iraque.
Esta guerra de 2003 foi
antecedida de uma década de sanções crudelíssimas contra as populações civis
iraquianas, elas próprias atos de guerra, assim como esporádicos ataques aéreos
«preventivos», com devastadoras consequências nas depauperadas infraestruturas
do Iraque.
Muitos se recordam da
entrevista dada por Madeleine Allbright (da administração Clinton) que
respondeu a uma pergunta da entrevistadora sobre se este regime de sanções
contra o Iraque se justificava em face de cerca de quinhentas mil mortes de
crianças, provocadas pelas condições sanitárias deficientíssimas e carências
alimentares, além de outras carências. Ao que a representante da diplomacia dos EUA
respondeu que sim, que estas sanções se justificavam.
As pessoas do Ocidente,
supostamente educadas, civilizadas, não podem deitar para traz das costas a sua objetiva conivência, com os facínoras,
os Blair, os Bush, os Obama e todos os seus acólitos e agentes, incluindo as
hierarquias das forças armadas, do comando da NATO, etc. Elas – ao saberem dos
crimes de guerra – quando escolheram «ignorar», comportaram-se como se fossem pessoalmente
inocentes desses crimes. Na realidade, se elas se consideram livres,
logicamente deveriam considerar que livremente
elegeram políticos monstruosos capazes de mentira, de crimes contra a
humanidade, para se manterem no poder. Ainda maior sua responsabilidade será, no
caso de nada terem feito para impedir essas monstruosidades, mesmo depois de denunciadas por organizações
e pessoas inteiramente credíveis.
Nem sequer estão totalmente
isentas de responsabilidade moral em relação ao terrorismo, perpetrado por pessoas desesperadas pelas devastações
que ocorreram nos seus países: Os crimes de guerra efetuados pelas potências
nessas terras são uma mancha indelével, uma ferida sangrando nessas zonas do
globo.
O cinismo das potências
vai ao ponto de levarem a cabo ataques com gases venenosos, causadores de
dezenas de mortes, como foi o caso há apenas 3 anos, na Síria, para depois, falsamente,
acusarem o presidente desse país, Assad, da responsabilidade deste crime…
A responsabilidade da média corrupta e mercenária é grande ao deitar
poeira para os olhos da opinião pública dos diversos países, ditos
democráticos, desviando o seu olhar dos comportamentos criminosos dos seus
dirigentes, carregando outros, Assad, Putin, Kim Jong Un, etc. com todos os
males, diabolizando esses dirigentes, assim como os seus governos e Estados. Ora,
se nenhum governo é perfeito, nós sabemos também que não se tolera, num Estado
dito de «de Direito», que alguém seja enxovalhado publicamente e sem possibilidade
sequer de se defender eficazmente, por crimes que lhes são imputados, mas nunca são minimamente demonstrados.
Este critério,
perfeitamente válido e aceite em relação a qualquer cidadão de um dos tais
países ditos civilizados, é alegremente ignorado quando se trata de governos
«inimigos».
Vale tudo; tudo é aceite
para nutrir o medo insuflado numa
opinião pública cobarde, infantilizada e disposta a tudo para não ter que
se confrontar com a triste realidade da sua inegável decadência moral.
Por esses motivos todos, considero
que só são dignos os que resistem, os
que dizem não a esta barbárie, especialmente os cidadãos e cidadãs dos países
da NATO e outros aliados dos EUA, cujos governos e forças armadas têm
contribuído para a destruição da paz e agredido violentamente populações
indefesas.
A única defesa contra o
terrorismo é depor
os governos que direta ou
indiretamente o fomentam, se alimentam dele, precisam dele para desencadear as
suas campanhas de medo e de ódio.
A NATO, porventura a maior
ameaça terrorista que ameaça a paz mundial e a sobrevivência do planeta, deveria ser dissolvida quanto antes e, no imediato, abolida qualquer pretensão
de ela ser «polícia mundial».