sábado, 17 de agosto de 2024
DENIS NOBLE: PALESTRA «A MÚSICA DA VIDA» + ENTREVISTA SOBRE EVOLUÇÃO
sábado, 25 de setembro de 2021
A ARTE RUPESTRE DO PALEOLÍTICO QUESTIONA O HOMEM CONTEMPORÂNEO*
Gostava de levantar alguns pontos de reflexão no que toca à arte parietal do paleolítico, as representações ou as figuras abstratas, que revelam algumas grutas e alguns locais a céu aberto.
O que me toca mais - e isto é uma reflexão inteiramente subjetiva - é a estranha sensação que tenho quando olho, observo estes testemunhos dos caçadores-recolectores de há dezenas, senão centenas de milhares de anos: é a sensação de que estas figuras me estão próximas, que estou vendo algo muito antigo, mas em simultâneo algo feito por pessoas como eu, como nós, com as mesmas características.
Quando digo pessoas como eu, como nós, refiro-me aos aspetos anatómicos. Se um desses humanos voltasse à vida e fosse arranjado e vestido como os contemporâneos, seria impossível de distingui-lo de nós, apenas talvez notáveis por uma complexão vigorosa, pelo corpo fortemente musculado. Mas, também me refiro aos aspetos mais sociais, psicológicos. Acredito que tivessem uma forte ligação ao seu grupo, que tivessem perpetuado desde incontáveis gerações narrativas semi-históricas, semi-fantásticas, que narravam e transmitiam, à luz da fogueira. Não podem ter sido senão excelentes observadores do mundo natural, pois as figuras de animais representadas têm um vigor e precisão anatómica que implicam uma visão muito apurada e um sentido mesmo do movimento dos referidos animais. A sua utilização dos volumes das paredes rochosas, a disposição e a forma como delineavam precisamente certas partes do contorno enquanto outras apenas eram esboçadas, ou até suprimidas, não podem ter sido fruto do acaso. São resultantes de um saber-fazer, duma técnica, dum conhecimento de como determinada imagem iria vibrar à luz das tochas, visto que muitas destas imagens parietais estão presentes em salas recuadas dos complexos cavernícolas, apenas podiam ser vistas à luz artificial, de tochas ou lamparinas.
Não creio que seja por acaso que não se encontrem, ou sejam tão raras, representações humanas, anteriores ao neolítico, nesta arte parietal. É um facto que existem raras figuras humanas ou humanoides, corpo de homem, com cabeça de cervo, ou com cabeça de leão das cavernas, porém estes exemplos, além de raros, estão sobretudo presentes em pequenas estatuetas de marfim ou de osso, que poderiam ser transportadas como amuletos. Porém, são menos raras as representações estilizadas do órgão sexual feminino, a vulva. Os órgãos masculinos nunca, que eu saiba, estão representados em separado. Conhece-se uma figura masculina, aparentemente tombada, com o pénis em ereção. Parece-me correto dizer-se, pelo menos à luz das descobertas feitas até hoje, que a figura humana está quase ausente do conjunto de arte parietal paleolítica.
A este propósito, não deixa de ser intrigante que, em muitos exemplos de arte neolítica, nos primeiros povos praticando agricultura e pastorícia, as representações humanas, em monumentos, nos objetos de adorno, etc. são muito mais frequentes.
Muita tinta deve ter corrido para «explicar» a visão do mundo dos homens paleolíticos. Muito do que se tem especulado, tem mais a ver com a projeção da mentalidade e preconceitos dos seus autores, sobre o que seja o homem paleolítico, a evolução biológica humana, etc. do que uma tentativa séria, mesmo que especulativa, para ir ao encontro de um mistério, para perceber a realidade essencialmente interior dos humanos, que produziram aquelas expressões do psiquismo, que nós consideramos «arte». Eu tenho lembrança dos escritos de André Leroi-Gouhan, que foram tão importantes para minha formação pessoal, no início dos anos 70 (Le Geste et la Parole; La Mémoire et les Rythmes; Techniques et Langage...)
Leroi-Gourhan e outros, podem estar datados, as conclusões a que chegaram devem ter sido profundamente revistas, algumas foram rejeitadas, mas a ciência é feita assim. Com a emissão de hipóteses, que num dado momento estão em conformidade com o conjunto de dados disponíveis sobre um assunto determinado, porém sempre a serem revistas, reelaboradas, rejeitadas e substituídas por outras hipóteses. O facto de que uma hipótese formulada cientificamente foi derrotada por um novo conjunto de dados, por descobertas que obrigam a modificar substancialmente e a impor-se um novo paradigma, não significa que essa hipótese anterior tenha sido em vão. Pelo contrário, é como o patamar, indispensável para se alcançar o andar acima.
Para além das teorias e as especulações mais ou menos imbuídas de elementos ideológicos, acho que podemos abordar as imagens, as representações deixadas pelo homem paleolítico, com respeito. Com o respeito decorrente de estarmos perante culturas, cuja trama mental e universo simbólico, não nos poderão ser revelados jamais, mas cujos produtos estão inegavelmente presentes, brutalmente contemporâneos de nós todos.
A arte é intemporal /A arte é fruto de uma época, de uma mentalidade, de uma cosmovisão
Este paradoxo é aparente, apenas, pois nada de essencialmente contraditório se encontra nas afirmações acima.
Confesso que tive um choque ao descobrir as gravuras rupestres do Foz-Côa, há mais de uma dúzia de anos. Deixaram-me uma impressão tão memorável como outros momentos cruciais da minha vida de 67 primaveras. O olhar que pousamos sobre a arte paleolítica é sobretudo sobre nós próprios: Assim como tu olhas para esta forma da expressão humana, assim eu sei em que cultura tu te encontras mergulhado, sei qual o substrato ideológico sobre o qual constróis os teus juízos estéticos. A história do modo como as diversas sociedades encararam o «homem primitivo», diz-nos muito mais sobre elas, do que sobre o dito homem.
Darwin, na segunda metade do século XIX, tinha a modéstia de reconhecer que dispunha de pouquíssimos dados paleontológicos sobre os antecedentes da humanidade. Porém, escreveu dois volumes sobre a origem do homem, baseado numa biologia comparativa, essencialmente, resultando de observações, quer sobre o homem atual, quer sobre outras espécies de mamíferos.
A descoberta, contemporânea de Darwin, do Homem de Neandertal, foi a primeira revelação concreta duma forma anterior ao Homo sapiens. Esta espécie é bastante recente, de facto, coexistiu com nossa espécie, por um período muito extenso de história comum. Foi, na época da sua descoberta, objeto da projeção de tudo o que - em finais do século XIX, princípio do século XX - se considerava como «primitivo, bruto»... Os que seguiram imediatamente Darwin não tinham mais que uma mão-cheia de achados, muito mal estudados. Alguns dos locais destes achados foram irremediavelmente destruídos. Porém, foram muito arrojados em avançar com teorias, caducas hoje em dia, que apenas têm interesse para a História das Ciências, para se perceber como a antropologia está eivada de preconceitos, que se espalham em determinadas épocas e sociedades.
Isto não significa que não se possa abordar a expressão estética no homem paleolítico. Significa antes, que se tem de abordar sob um prisma objetivista (como Leroi-Gourhan defendia), o que passa por um agudo sentido de autocrítica, uma modéstia e uma abertura enorme às opiniões alheias. Ao fim e ao cabo, isto remete para algo de muito filosófico, adequado a uma reflexão aprofundada sobre a humanidade.
A natureza humana, será imutável? Será ela resultante, mais ou menos direta, das condições de vida? Fará sentido falar-se de «natureza humana», para além da óbvia continuidade biológica da sucessão de gerações, no tempo e da não menos óbvia continuidade de caraterísticas comuns, ao longo do espaço geográfico da distribuição da espécie?
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*NB
O título pode parecer invertido, mas não: A verdade é que devemos questionar-nos aonde foi parar a humanidade do homem, este é o sentido primário da frase « A ARTE RUPESTRE DO PALEOLÍTICO QUESTIONA O HOMEM CONTEMPORÂNEO ». É, afinal de contas, esta reflexão que irá desencadear outra, ou seja, qual a realidade do que chamam «progresso» ou «civilização»!
quinta-feira, 13 de junho de 2019
AURORA DA HUMANIDADE
As próprias descobertas de Homo naledi ou de Australopithecus sediba também foram aventuras. No filme, as narrativas fascinantes do trabalho de cientistas e exploradores, são contadas na primeira pessoa.
quinta-feira, 9 de novembro de 2017
MALTHUSIANISMO E NEO-MALTHUSIANISMO
Neste curto ensaio vou desenvolver alguns aspetos da questão populacional. A biologia das populações sempre foi um domínio de que eu gostei, embora não tenha especificamente trabalhado como biólogo das populações.
O
malthusianismo, do economista inglês Thomas Malthus (1766-1834) é
uma teoria que encara a população sob o duplo prisma dos recursos e da sua taxa
de reprodução. Malthus postulou que os recursos - os bens necessários à subsistência humana tais
como alimentos, casas, roupas, etc. - poderiam - quanto muito - progredir numa
progressão linear (ou diretamente proporcional), enquanto a multiplicação
dos indivíduos ocorria numa progressão geométrica ou exponencial. Da
divergência entre estes dois crescimentos, originava-se fatalmente
uma escassez, que se traduzia em fomes, violências e guerra. Para evitar
este terrível destino, teriam de ser tomadas medidas concretas para limitar a
população (encorajamento da contraceção, esterilizações...), com vista à
estabilidade populacional.
O princípio
malthusiano era pessimista porque postulava que as pessoas, ao
multiplicarem-se, iriam necessariamente ficar cada vez mais pobres, mais
destituídas. A elite aproveitou o mesmo princípio para lutar contra a tendência
para aumento dos salários e diminuição das horas de jornada de trabalho, que
foram as grandes causas movimentando o proletariado, desde a primeira metade do
século XIX, até hoje.
A obra de Malthus foi utilizada por Marx e Engels assim como por Darwin,
entre outros. Marx e seguidores tiraram daí o conceito da autodestruição
inerente ao sistema de exploração capitalista.
Darwin
inspirou-se em Malthus para explicar a inerente competição pelos recursos
escassos entre todas as espécies vivas; foi também buscar a este autor a
ideia do efeito da predação (e incluindo o parasitismo) como forma de ajustar
os efetivos das populações de presas e de predadores.
Após Darwin, o
seu sobrinho Galton adaptou os conceitos de seu tio e de outros. Numa linha neomalthusiana
defendeu a eugenia - ou seja - que os «melhores» deviam ser estimulados a
procriar enquanto os que eram portadores de «taras» deviam ser impedidos de
procriar.
Vários países
praticaram a esterilização sistemática de pessoas consideradas «inferiores».
Muitas pessoas têm ideia de que apenas a Alemanha de Hitler e quanto muito
alguns dos seus estados-vassalos da Europa praticaram essas medidas. Hoje,
sabe-se que não foi assim: Desde a Suécia à Austrália, sucedem-se histórias
verídicas de políticas de Estado, da esterilização forçada de certos grupos de
cidadãos.
A grande indústria
e em particular o império Rockefeller estão associados desde o principio, ou
seja, antes ainda do partido NAZI subir ao poder, através da Fundação
Rockefeller, em apoio entusiástico ao eugenismo prático, além de
serem financiadores de muita da investigação científica destinada a
melhoramento da espécie humana. É com base em programas financiados pelos
grandes empórios da agroquímica que são criados OGM, organismos geneticamente
modificados. William Engdahl explica de modo muito convincente e
exaustivo, no livro «As
sementes da destruição», que a oligarquia (Rockfeller e outros
bilionários) esteve - desde o princípio - a subsidiar e promover as OGM.
Décadas antes (nos anos 70), defendendo uma estratégia tipicamente
neo-malthusiana, o seu protegido H. Kissinger tinha já delineado uma estratégia
de guerra económica utilizando sementes, trigo, soja, leite, principalmente.
A utilização
dos alimentos estratégicos (sobretudo dos cereais) como arma de chantagem
permitiu a Washington impor aos governos de países do Terceiro Mundo, programas
de «controlo da natalidade» (que incluíram esterilizações em massa e sem
conhecimento/consentimento das mulheres) como condição para beneficiarem do
apoio alimentar não só dos EUA, directamente, como também de agências
internacionais, mas de facto controladas pelos EUA.
Actualmente, as chamadas guerras contra o terror têm uma dimensão de destruição
massiva não apenas das populações como também das infraestruturas. Assim, no
Afeganistão, no Iraque, na Síria, na Líbia, no Iémene, estão documentados actos
destinados a destruir ou inviabilizar estruturas fundamentais para a população
civil, desde centrais eléctricas e geradores de corrente, a sistemas de
canalização e tratamento de água potável e de esgotos. O resultado é a morte de
milhões de crianças, principalmente causada pela desnutrição, ausência de
cuidados básicos de saúde, de água potável, etc. Note-se que estes países
ficam com uma população reduzida, não somente porque tem de emigrar para longe,
como refugiados, como também está desnutrida, enfraquecida, mais sujeita a
doenças, em países devastados, onde não existem os recursos médicos e sanitários
mais elementares.
Estas guerras
do Império, de uma crueldade incrível, seriam suficientes, por si só, para
condenar os presidentes e seus respectivos governos (George H. Bush, Bill
Clinton, George W. Bush, Barack Obama e Donald Trump), se houvesse o equivalente
do tribunal de Nuremberga. Infelizmente, os países que participam no tribunal
da Haia, consentiram que os EUA se auto-excluíssem de poder jamais comparecer no
dito cujo tribunal, apesar de terem sido os mais fervorosos impulsionadores do
mesmo.
A política de
destruição sistemática ocorre nos países do «crescente fértil», onde nasceu a
agricultura há 12 mil anos, onde existe uma parte muito grande do petróleo
explorado.
O trazer aí o caos, encorajando a intolerância religiosa, sectária e étnica,
não é fruto do acaso ou daquilo que os media corporativos nos querem
fazer crer: é resultado duma política neo-malthusiana destinada a reduzir
drasticamente certas populações, sobretudo, se elas são dos países que
detêm recursos (o petróleo, mas também certos minerais) de que o «Ocidente»
carece para as suas indústrias, para satisfazer o seu estilo de vida e consumo.
Existe uma
forte corrente que se designa de «neocon» que capturou sectores inteiros do
governo dos EUA e sobretudo do chamado «Estado Profundo», incluindo as agências
CIA, NSA, Homeland Security, etc. Esta corrente advoga que é possível uma
guerra nuclear ser «ganha» pelos EUA, havendo depois um redistribuir de poderes
e de recursos em benefício dos mesmos e de seus vassalos de «primeira»
(essencialmente anglossaxónicos «de pele branca»: Grã-Bretanha, Austrália,
Canadá, Nova-Zelândia).
Todos os
outros países sofreriam devastações tais, que durariam muitos anos a
recomporem-se. Loucamente, delirantemente, imaginam conseguir obter uma
redução de 4/5 da população mundial, por este meio (o holocausto nuclear) e que
as populações sobreviventes viverão em condições muito satisfatórias. Mas
uma guerra nuclear significa a destruição completa da habitabilidade do planeta
ou, no mínimo, a perda irreversível das condições para os sobreviventes. É
este o perigo que o mundo enfrenta, se deixar um punhado de pessoas com poder
(os neocons e a oligarquia mundial) manobrar as políticas dos Estados.
A obra de Malthus foi utilizada por Marx e Engels assim como por Darwin, entre outros. Marx e seguidores tiraram daí o conceito da autodestruição inerente ao sistema de exploração capitalista.
Actualmente, as chamadas guerras contra o terror têm uma dimensão de destruição massiva não apenas das populações como também das infraestruturas. Assim, no Afeganistão, no Iraque, na Síria, na Líbia, no Iémene, estão documentados actos destinados a destruir ou inviabilizar estruturas fundamentais para a população civil, desde centrais eléctricas e geradores de corrente, a sistemas de canalização e tratamento de água potável e de esgotos. O resultado é a morte de milhões de crianças, principalmente causada pela desnutrição, ausência de cuidados básicos de saúde, de água potável, etc. Note-se que estes países ficam com uma população reduzida, não somente porque tem de emigrar para longe, como refugiados, como também está desnutrida, enfraquecida, mais sujeita a doenças, em países devastados, onde não existem os recursos médicos e sanitários mais elementares.
O trazer aí o caos, encorajando a intolerância religiosa, sectária e étnica, não é fruto do acaso ou daquilo que os media corporativos nos querem fazer crer: é resultado duma política neo-malthusiana destinada a reduzir drasticamente certas populações, sobretudo, se elas são dos países que detêm recursos (o petróleo, mas também certos minerais) de que o «Ocidente» carece para as suas indústrias, para satisfazer o seu estilo de vida e consumo.
sexta-feira, 21 de abril de 2017
CIÊNCIA, RELIGIÃO, ESPIRITUALIDADE, ÉTICA
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