quinta-feira, 17 de junho de 2021

[OBRAS DE MANUEL BANET] PALAVRAS QUE SE EVADEM DO PRESÍDIO


Assim começa a história, assim se compõe a vida; somente um sopro de vela na vela da despedida

Como saber o que seria, se não fosses -tu- presença do quotidiano?

 Sonhar outros mundos: assim se escapa da realidade, se esquece - por instantes - o olhar impiedoso do espelho.

Vou sinceramente procurar ser como um bicho, um animal que sente e reage e não pensa; não pensa, isto é... pensa, mas com as células todas do corpo.  

Numa manhã de nevoeiro, imaginei-me a caminhar pela beira-mar. Não sei o que lá fazia; nem porquê. Apenas a brisa recolhia, que me beijava os lábios e os cabelos.

Sonho secreto dum eu que não se manifesta, que se esconde numa toca, uma doninha ou um coelho. Como viver, afinal? Respeitando o animal secreto, deixando-o tranquilo, lá na sua toca?  Sim, sem dúvida!

Se tu não existisses, o mundo seria totalmente diferente; seria muito diferente, porque a tua existência é um facto indelével da realidade; é uma realidade indelével do real; sem ti, o mundo não seria o mesmo; porque o mundo precisa de ti, tanto como tu precisas do mundo. Com isto, não deves orgulhar-te nem encolher-te. Deves aceitar o facto, como um simples constatar de que a equação matemática está correta.

Oiço o teu respirar no silêncio da noite: é como se ouvisse a minha respiração... é a minha respiração.


 

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