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sexta-feira, 7 de setembro de 2018

OS CÃES DA GUERRA LADRAM, A CARAVANA - DA NOVA ROTA DA SEDA - PASSA

                       
                                           Mulheres e crianças em Djibouti


Leia o artigo de Pepe Escobar, no «Asia Times»: 

Sei que Pepe Escobar é um óptimo advogado do sistema político chinês mas, através dos seus artigos temos um contra-peso à propaganda baixa da media ocidental «mainstream». Essa media, quase exclusiva fonte de informação num país como Portugal, apenas tem estado preocupada em servir seus donos (grupos económicos, governos, ou até as antenas locais da CIA, MI6, etc). 
Ela apenas pega em aspectos problemáticos (que existem, sem dúvida) da política interna ou externa chinesa, para insinuar a ideia de que a China, com a sua expansão, está querendo por em cheque a dominação hegemónica dos EUA, para se tornar ela própria a super-potência dominante
No entanto, os países africanos não vêem isso assim, tendo eles sofrido séculos de opressão colonial, de escravatura, massacres, sub-desenvolvimento, depredação das riquezas, às mãos da «civilização» ocidental.   

Para que uma expansão seja considerada imperialista, quais os critérios? O que deveria ser observado, caso houvesse uma situação dessas?

- A força expansionista deve subjugar ou colocar numa situação de subordinação clara os governos e Estados sobre os quais estende o seu poder.
- A potência dominante extrai recursos, sem contrapartida que arranque os países explorados à sua miséria.
- Pressiona os países subjugados a apoiarem suas posições e sua política nas organizações internacionais.
- Ela dita aos países subjugados com quem estes devem ou não desenvolver relações e obriga-os a aceitar as suas escolhas nas relações internacionais
- Instala bases militares em múltiplos locais (sob comando continental unificado, como no caso da AFRICOM), usadas para quaisquer finalidades que ache convenientes, como - por exemplo - operações bélicas em países vizinhos, sem ter em conta o governo do país onde se instalou. 
  
Não vejo nada disso, nas relações da China com Angola, ou Moçambique, ou outra das ex-colónias portuguesas de África. Na verdade, através de contactos diversos, eu teria - com certeza - informações sobre tais acções ou comportamentos da China, se existissem realmente, pois tenho amigos e conhecidos que trabalham/trabalharam nestes países e tenho conhecimento através da imprensa e redes sociais, de vários aspectos doutros países e sociedades africanas. 
Embora haja prepotência e autoritarismo em certos governos africanos, não se pode atribuir a responsabilidade disso à influência chinesa. São eles próprios, governantes e seus apoiantes, que estão a trilhar esses caminhos. 
A não-ingerência, vista sob o prisma do governo chinês, quer dizer que eles não se vão imiscuir nos assuntos internos, na política dos Estados com os quais têm projectos em comum. 
Não creio que exista um imperialismo «benévolo», seja ele qual for, seja qual for a sua bandeira e ideologia; mas também não me parece lícito projectar na China a intenção maléfica de repetir  aquilo que - no passado - as nações orgulhosas do «ocidente» fizeram, durante e depois da era colonial. 

sábado, 20 de janeiro de 2018

ESTADO ISLÂMICO, INSTRUMENTO DE TERROR IMPERIAL


                     US Gambling on the Islamic State to Undermine China and Russia’s Position in Africa


A guerra dita contra o «terror» foi um instrumento de dominação, planeado e executado pelos neocons, no aparelho de Estado (o chamado «Estado profundo») dos EUA. 
Mas, a partir da década de 2010, essa guerra «contra o terror» já estava claramente perdida com as derrotas humilhantes no Afeganistão e no Iraque, da maior superpotência que jamais infectou o planeta.
Assim, as «luminárias» da administração Obama, aproveitando a onda de contestação nos países árabes da orla do Mediterrâneo (Tunísia, Egipto, etc) produzida por um empobrecimento das pessoas e a manutenção de regimes corruptos e autoritários, desencadeia a operação chamada «primavera árabe».
Esta consistia em utilizar, nestes países, os elementos radicais islamitas, em geral de obediência sunita, onde a sociedade secreta, a Fraternidade Muçulmana, tinha muita força. 
F. W. Engdahl descreveu tal jogada, ocorrida durante a passagem de Hilary Clinton pelo Departamento de Estado dos EUA, pelo que não irei aqui desenvolver o assunto. 
Basta recordar que, muito antes de Trump, por volta de 2014, já era completamente claro o papel desastroso que esta política representava para o conjunto das nações do Médio Oriente. 
Com efeito, esta política, começada com a guerra terrorista contra a Líbia, continuou com a exportação dos Jihadistas usados como elementos no derrube do regime de Kadafi (em particular em Benghazi)  para a guerra «civil» Síria. 
Esta guerra «civil» foi claramente insuflada do exterior, numa coligação operacional que envolvia Israel, a Arábia Saudita e os Emiratos (nomeadamente o Quatar, proprietário da cadeia de tv internacional Al Jeezira), assim como os aliados / súbditos da NATO (Turquia, França, Alemanha, Grã Bretanha...). 
Mas esta guerra «civil» também não estava a correr bem: 
O regime de Damasco, em vez de ser derrubado, estava-se consolidando e começou a ser apoiado militarmente pela Rússia. Esta decidiu ir em socorro do seu aliado sírio, para contrariar estrategicamente a expansão da «Jihad» no seu território. Lembremos as Repúblicas de maioria muçulmana, da Federação Russa no Cáucaso, não apenas a Chéchénia, e das minorias muçulmanas presentes em muitas outras partes da Federação Russa.
Para contrariar a influência russa no Médio Oriente, o presidente Obama e seus conselheiros arriscaram montar uma «Segunda Al Quaida». A primeira, com Osama Bin Laden, foi também organizada pelos serviços secretos americanos, durante a luta contra a URSS, no Afeganistão. O resultado fatal e trágico é que, tal como os monstros do tipo «Frankenstein», estas organizações terroristas sempre escapam ao seu criador.  
A segunda Al Quaida foi baptizada ISIS (mas este nome não era conveniente, pois idêntico ao acrónimo oficial, em inglês, dos serviços secretos de Israel). Depois, o seu nome foi resumido para «IS» (Islamic State) ou Estado Islâmico (ou Daech).
Esta força consistia numa reunião heterogénea de mercenários jihadistas, equipados, treinados e financiados pelos serviços secretos dos EUA e diversos Estados vassalos (Turquia, Arábia Saudita, Quatar, Jordânia...).
Esta coligação manteve, durante algum tempo, o jogo duplo, de combater formalmente o Daesh, enquanto lhes fornecia equipamento e abastecimento necessários para a continuidade da guerra contra Assad, na Síria, o regime que o «Ocidente» queria a todo o custo derrubar. 
Cabe aqui reflectir no que seria hoje em dia o Médio Oriente, se estas ambições dos imperialistas se tivessem concretizado: 
- Estaríamos perante um Califado, a estender-se desde Bagdad até a Damasco. Este Califado seria de obediência fundamentalista islâmica. As minorias, árabes ou não, muçulmanas, cristãs, ou outras, seriam impiedosamente sujeitas a «limpeza étnica» (exactamente como fizeram no Kosovo com a minoria sérvia ortodoxa). Mesmo os muçulmanos não sunitas radicais (existem grandes minorias Chiitas, Alauitas, etc.) seriam submetidos, num reino de terror, como aconteceu nas zonas e cidades (Mossul, Raqqa, etc,) sob controlo do ISIS.
 Não se deve esquecer que sejam eles designados por Al Quaida, Estado Islâmico, etc. são fundamentalmente a mesma coisa: 
- uma organização de mercenários, fanatizados na versão  mais fundamentalista do Islão.

Apesar da aparente modificação (apenas retórica?) da doutrina oficial de «defesa» nacional dos EUA da era Trump, o facto é que estes continuam a apoiar estes grupos e agora planeiam usá-los* de modo encoberto, nas repúblicas (ex-soviéticas) da Ásia Central, que têm fronteiras com a Rússia e a China, com o claro propósito de colocar em cheque a Nova Rota da Seda. Desestabilizando estes vastos territórios, tanto no interior da China e Rússia, como nos Estados fronteiriços, os imperialistas continuam a apostar na política de guerra-fria, afinal mais e sempre mais guerra. 
Além do sofrimento das populações destas regiões, tais políticas podem desencadear uma guerra mundial entre superpotências. 

(*) 


sábado, 24 de abril de 2021

[Xuefei Yang] Guizos dos Camelos ao Longo da Rota da Seda

Guizos dos Camelos ao Longo da Rota da Seda*

 ...do álbum «Sketches of China».

Xueifei Yang  também interpreta neste blog música do Brasil.

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*Composição de música tradicional chinesa (de Yong Ning e de Nian-bin Zhang). Versão para guitarra de Xueifei Yang.

segunda-feira, 19 de setembro de 2022

A ILHA FORMOSA (TAIWAN) E PORTUGAL

 

Eu prefiro a designação «Formosa» dada a essa ilha dos mares do Sul da China pelos portugueses, no século XVI, quando tinham alcançado com suas frotas mercantes esses mares e tinham ajudado o Império do Meio a ver-se livre de piratas que enxameavam a costa. Os portugueses eram força ínfima, face à força considerável do Império da China. Este Império, no seu auge de poderio era generoso para com estrangeiros, desde que estes fossem não hostis. Ofereceu à coroa portuguesa o estabelecimento de um entreposto de comércio, num ponto da costa. Assim, Macau (Cidade do Nome de Deus), nunca foi uma colónia portuguesa, mas um porto franco. No contexto político regional de então, a aliança estabelecida entre o Reino de Portugal e o Império da China foi - antes de mais - construída sobre a base pragmática do interesse mútuo. Era a primeira versão marítima das Rotas da Seda. As Rotas da Seda terrestres passavam, como é sabido, pela Ásia Central e Médio Oriente, transportando preciosos bens nos dorsos de dromedários. 

Era a Rota das Especiarias dos portugueses, que se estendia até às ilhas ricas em especiarias que hoje são parte da Indonésia. Este comércio era muito perigoso, devido aos piratas que infestavam os mares. Sabem-no os que leram a «Peregrinação» de Fernão Mendes Pinto - um relato autobiográfico de viagens pelo Oriente tão vívido e rigoroso, que continua a ser um precioso repositório de dados sobre os reinos do extremo-oriente da época e sobre o relacionamento dos portugueses com eles.

Mas, a Ilha Formosa - para darmos um salto até ao século XX - parte integrante da China histórica, foi refúgio do Kuomintang, ou seja, do partido nacionalista que combateu contra o Partido Comunista da China na guerra civil, que se traduziu pela derrota dos nacionalistas e pela proclamação de República Popular da China, em 1949. No decurso dessa longa guerra civil e de libertação contra os invasores japoneses, os do Kuomintang não foram sempre adversários dos exércitos imperialistas japoneses, havendo casos em que o exército comunista teve de combater ao mesmo tempo dois inimigos, os nacionalistas e os japoneses. 

                              Chiang Kai-shek, quando jovem 

O refúgio da ilha Formosa, para Chiang Kai-shek e o seu derrotado exército do Kuomintang, foi tornado possível pela assistência - o salvamento - dos americanos, que eram seus aliados. 

Os americanos - em 1945 - tinham já vencido militarmente o exército imperial japonês e, apesar de tudo, cometeram o maior crime contra a humanidade, em Hiroxima e Nagasaki. Note-se que os japoneses tinham previamente dado múltiplos sinais diplomáticos de que desejavam render-se aos americanos, por medo de serem invadidos e ocupados pelo exército soviético. O apoio americano ao Kuomintang deu-se no contexto da nascente Guerra Fria, perante uma União soviética vitoriosa, que eles temiam se alastrasse pelos territórios do extremo-oriente. 

Aliás, já em finais da IIª Guerra Mundial, a luta entre Partido Comunista e Kuomintang assumiu rapidamente o significado de luta entre a URSS e os EUA, uma das guerras por procuração (proxi wars) que marcaram o pós-II Guerra Mundial. O período de 1945-1991, não foi um período de paz, nem de «Guerra Fria» sequer, mas uma sucessão ininterrupta de guerras regionais, bem «quentes» e mortíferas, com exércitos ou grupos de guerrilha, pertencentes a fações opostas, apoiadas pelas forças da NATO e dos EUA, por um lado;  pela URSS + outros membros do Pacto de Varsóvia e pela China Popular, por outro. 

A sabedoria da civilização multimilenar chinesa, explica -em grande parte - que a China continental não tenha nunca invadido Taiwan/Formosa, como não invadiu Hong-Kong, nem Macau. A sabedoria filosófica do Confucionismo, conjugada com o Taoismo de Lao Tseu, deu o saber teórico e prático de como conduzir os assuntos do Estado, sendo a Arte da Guerra  do general Sun Tzu  a obra literária de estratégia -política e militar - mais conhecida, no Ocidente.

Eu acredito que as pessoas com responsabilidades políticas, de um e outro lado do estreito, que separa a Ilha Formosa da China Continental, tenham em conta os interesses respetivos dos povos, que governam. Acredito que resistirão às provocações e manipulações dos imperialistas anglo-americanos, que nunca param de se imiscuir em assuntos internos dos chineses. Se o povo da Ilha Formosa se considera parte da «China eterna», independentemente do que pense sobre o regime que vigora em Pequim, se o regime do Partido Comunista da China Continental respeita a sua própria palavra solene dada perante todo o povo (e internacionalmente), então os respetivos líderes encontrarão uma solução que será pacífica e que pode até ser um modelo de conciliação nacional. 

- Será sonhar demais? 

- Não me parece, pois a civilização chinesa, a mais antiga e sábia civilização que superou tantos momentos críticos da sua história, tem muito caminho para percorrer no futuro. 

Eu sei que Portugal é mantido, politica e militarmente, na contemporânea «prisão dos povos», a Aliança Atlântica, mas a vocação dos portugueses sempre foi universal. Penso que o coração deste pequeno povo está com a China e com seu povo.

sexta-feira, 28 de julho de 2017

O SONHO DOS «NEOCONS»: CONQUISTAR A RÚSSIA

Há mais de vinte anos, o regime decorrente da dissolução da URSS estava sob ataque cerrado.
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Os «conselheiros», que rodeavam Yeltsin e toda uma corte da barões envolvidos na maior traficância de bens nacionais jamais ocorrida em toda a História, não apenas russa, como de todo o planeta, tinham como verdadeira missão, não a transformação dos despojos da URSS numa «democracia» de mercado ao estilo ocidental, mas sim numa neo-colónia dos triunfadores da guerra fria, o Império USA e seus acólitos atlantistas.
O saque foi interrompido no entanto, porque Yeltsin, apesar de muito doente de alcoolismo e de cardiopatia, percebeu que estava a ser um joguete de forças que apenas desejavam esse destino para a Rússia, o de neo-colónia.

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Chamou Putin, uma surpresa para os atlantistas e para muitos dos bilionários russos recém-instaurados graças à década de 90, essencialmente a pior vivida pela população russa, desde o fim da IIª Guerra mundial.
Basta lembrar a subida exponencial dos suicídios, do alcoolismo, a diminuição brusca da esperança de vida, a fome, a miséria, o aumento de banditismo, além do terrorismo associado a islamitas salafitas na Tchetchénia e noutras repúblicas do Caucaso.  

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Putin e seus apoiantes souberam dominar os donos de fortunas (Berezovsky, Khodorkovsky…) obtidas com a compra de empresas por um preço ridículo e imediatamente rentáveis.

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Esta venda ao desbarato processou-se da seguinte maneira: os grandes conglomerados da URSS eram juridicamente propriedade do povo soviético. Quando se procedeu ao desmantelamento do regime soviético, houve que dar uma aparência de legalidade a esse processo. Lembraram-se então de distribuir títulos de propriedade dos bens nacionais a cada cidadão russo, por forma que ele teria a possibilidade de transacioná-los.
Assim aconteceu com praticamente todos os tais «donos» de títulos, pois eles estavam perante uma desproteção completa face à hiperinflação que se abatera sobre o rublo (vejam as taxas de desvalorização, nos anos 90, de 1 para mil!).
Com um rublo em queda livre, uma involução total do aparelho produtivo, um aumento exponencial do crime organizado, etc… não foi difícil a um certo número de «espertos» obterem os tais títulos de propriedade, oferecendo aos seus detentores somas muito ridículas, aos olhos de hoje.
Assim, arrivistas da pior espécie conseguiram - num ápice - multiplicar as suas fortunas por dez ou por cem, através de métodos com a aparência de «legais»!
Na primeira década do nosso século deu-se o reerguer do Estado russo, pelas mãos de Putin e seus apoiantes. Desencadeou-se um processo de reverter parte das riquezas, principalmente petróleo e gás, para benefício nacional, sem eliminar porém a totalidade dos oligarcas formados na década anterior.
A partir desse momento, com a restauração da produção industrial e a correlativa capacidade de exportação da Rússia, os aliados atlantistas do Império, começaram a perceber que seria melhor entrarem em parceria estratégica com o novo senhor do Kremlin, beneficiando de fluxo contínuo de gás natural para abastecer as suas economias, assim como de uma parte importante do petróleo (extra OPEP), não sendo mais reféns energéticos absolutos dos países árabes, principalmente da Arábia Saudita e dos Emiratos.

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Estavam eles - os dirigentes dos principais estados da UE - muito contentes, quando os americanos - sob a administração Obama - decidem interferir pesadamente, através de ONGs que recebiam ajudas de milhões (foram, pelo menos, gastos 5 mil milhões, segundo disse Hillary Clinton em público) para derrubar o governo constitucional e democraticamente eleito na Ucrânia.
Em Fevereiro de 2014, sob a estreita tutela de Victória Nulan, os neo-nazis conseguiram derrubar, num golpe violento, o governo ucraniano.

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Eram saudosos do tempo em que legiões ucranianas (o seu chefe, Stepan Bandera, foi promovido a herói e inspirador dessa escumalha neo-nazi) se aliaram a Hitler para massacrar polacos, judeus, e «vermelhos». São histéricos capazes das piores atrocidades, como vieram a demonstrar meses depois, em Odessa. Furiosamente anti-russos, ao ponto de não deixar nenhuma hipótese às províncias do leste, maioritariamente russófonas, senão ficarem independentes do poder instalado.
Os americanos tinham o que queriam. As relações, entre a Rússia e a União Europeia, tinham-se degradado. Para culminar, fabricaram o trágico incidente com o avião de passageiros em Julho de 2017, para incriminar falsamente os russos pelo sucedido, ao mesmo tempo que inviabilizavam uma peritagem independente e neutral para investigar as causas e circunstâncias desta tragédia.

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Desde 2014 até agora e apesar de todas as variações de humor em Washington, apesar da mudança de presidente, que se presumia ser decisiva em política internacional, as políticas de Washington resumem-se a impor um regime de sanções, restringindo o comércio, proibindo  contactos, cercando a Rússia com mísseis, etc.
Este tipo de comportamento é compensador para manter a hegemonia da superpotência no curto prazo, mas tem o grave inconveniente de não poder ser levado para além de um certo ponto. Com efeito, o ponto de ruptura já foi alcançado em dois casos, de forma totalmente visível:
- com o governo turco - há cerca de um ano- na sequência de uma tentativa de golpe contra Erdogan, que este afirma teve apoio dos EUA.  

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- agora, com o governo alemão, visto que a Alemanha tinha sido poupada a incluir a construção do gasoduto Nord Stream no regime de sanções, imposto a todos os membros da NATO e decorrente da situação na Ucrânia.

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Este gasoduto é uma obra conjunta da Rússia e da Alemanha e irá abastecer em gás natural este último país, por um trajeto bem mais seguro do que os gasodutos actuais que passam pela Ucrânia e são susceptíveis de sabotagem, de serem danificados por falta de manutenção adequada, etc.
A Alemanha é um país industrial que teve o bom senso de não exportar toda a sua infraestrutura e produção e, portanto, necessita absolutamente de um fornecimento  regular de energia, a um preço competitivo, coisa que os EUA não poderão dar, pois não têm capacidade de colocar seus excedentes do «fracking» de forma regular, durante largo prazo. Nem jamais conseguirão fazê-lo a preços inferiores aos russos. Ou seja, eles queriam obrigar os europeus a privarem-se de uma fonte de abastecimento de energia abundante e relativamente barata, por uma energia mais cara e contingente!

Não é difícil ver que a hegemonia dos EUA está periclitante.

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É muito menos fácil compreender para onde se dirige o mundo, dado que existem demasiadas forças contraditórias na geopolítica mundial e que as questões decisivas quase nunca são expostas de forma franca e aberta. Pode mesmo dizer-se que nunca o são, pois raras vezes se vem a saber realmente o que estava em jogo, mesmo passados decénios sobre os acontecimentos.
Do meu ponto de vista, a perigosidade do Império Anglo-Americano irá crescendo. Porque não conseguirá ter sucesso em amarrar o sistema financeiro mundial ao petro-dólar, mas verá cada vez mais países se unirem em torno de projectos concretos que irão viabilizar maior intercâmbio, comércio, desenvolvimento, através da iniciativa «One Belt One Road», ou seja, «a nova rota da seda».
Como tem sido hábito desde o final da II Guerra Mundial, os grandes poderes irão continuar a disputar as suas zonas de influência através de guerras  por procuração, cada um procurando desestabilizar o adversário em zonas críticas e onde estejam já presentes as sementes da discórdia.
O Médio Oriente vai continuar por algum tempo a sofrer este destino, como encruzilhada entre vários interesses contraditórios e numa região do globo simultaneamente rica em termos de combustíveis fósseis e vital em termos das rotas comerciais marítimas Leste-Oeste.
Mas o grande «bolo» será, sem dúvida, o Continente Europeu, demasiado grande e poderoso para ser - simplesmente - «neo-colonizado» por americanos ou por sino-russos.
Apenas será possível, a qualquer deles, obter parcerias estratégicas, ou seja, em que a Europa mantenha a sua capacidade de autonomia, não sendo lacaio ou vassalo de nenhum dos superpoderes.
Por isto, ou apesar disto, os EUA apostaram - veja-se o papel deles no golpe da Ucrânia- na desestabilização e em subjugar os seus aliados europeus. O tiro saiu-lhes pela culatra. No entanto, eles deixaram no seu rastro, destruição de vidas, de economias e vários Estados falidos. Não é apenas o caso da Ucrânia, mas também da Líbia e, num certo grau, o da Síria.
Certamente, a principal causa do fluxo de refugiados que assola a Europa, nestes anos e tem desestabilizado os vários governos, é a política americana no Médio Oriente e Norte de África.

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Recentemente, nos EUA, o grupo designado por «neocons», que se entrincheirou há décadas no «Estado profundo», tem mostrado como ainda possui um peso muito grande, por directa ou indirecta sabotagem da política de Trump. Com isso, pretende obrigar o poder presidencial a conformar-se com a política internacional que tem vindo a ser seguida, indiferentemente, por administrações republicanas e democratas.  
É necessário compreender que este grupo dos «neocons» não se contenta com os EUA serem a primeira potência militar do planeta, eles querem dominância total: isto significa que o seu  objectivo é o de fazer com que não existam competidores, não apenas no plano militar, como no plano económico e de desenvolvimento científico-tecnológico, pois estes três aspectos se entrelaçam de forma indissociável.
Assim, o plano deles é tornar o mais difícil possível, que a China e a Rússia se desenvolvam, se expandam, tanto nas suas capacidades industriais, como nas trocas comerciais com o resto do mundo. Eles querem que existam «regimes espantalhos», como o Norte Coreano, para «justificar» uma política de sanções.
Esta forma de guerra económica, de assédio, serve muito bem aos EUA para continuar a intimidar (fazer bullying) aos outros países, sejam eles competidores ou aliados.

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A lógica neocon está completamente viciada por uma visão megalomaníaca de uma América superpoder «bondoso» da história mundial, apenas ela capaz de levar a todo o globo a democracia como eles a concebem, ou seja, o  regime liberal capitalista, tal como existe na Europa e América do Norte.
No longo prazo, porém, eles sabem que a estratégia dita de «contenção» não chega.
Para o seu objetivo ser alcançado, para essa tal hegemonia, têm de desmantelar a Rússia.
A Federação Russa terá, na perspectiva deles, de se fragmentar, ficando como uma série de mini-estados facilmente controláveis, sem poder para contrariar o grande poder hegemónico.
Eles não temem a guerra nuclear; pensam que ela será ocasião de arredar definitivamente a competição que faz obstáculo aos seus grandiosos projetos.

Se esta descrição vos parece vinda de mentes enlouquecidas, pois é verdade: mas não é a minha, nem a de muitos analistas que descrevem os problemas, mais ou menos, nos mesmos termos.
Ela é a visão louca de um poderoso grupo, os «neocons», que tem dominado totalmente a política externa americana desde os tempos do presidente Bill Clinton e tem mantido o seu controlo, apesar das mudanças na Presidência e no Congresso, nestas últimas décadas.

quarta-feira, 10 de julho de 2019

SE O MUNDO FOSSE UM TABULEIRO DE XADREZ...

Se o mundo for visto como um enorme e multidimensional xadrez....

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Os EUA serão, obviamente, jogadores principais, detentores de um império, chamemos-lhe grupo «N» (NATO e associados).
No lado oposto, está um consórcio de nações poderosas, tanto geo-estrategicamente como economicamente, a Rússia, a China e também a Índia, que agora fez uma viragem decidida para o lado euro-asiático, afastando-se dos cantos de sereia anglo-americana (ver aqui a tradução de artigo de Pepe Escobar). 
Mas também o Irão, assim como um enorme conjunto de nações, mais de 60, que já participam em projectos das Novas Rotas da Seda (chamemos a esse grupo X, da Organização para a Cooperação de Xangai).

No campo N, encontram-se os parceiros dos EUA, mas essas parcerias são cada vez mais problemáticas.
- Por exemplo, Doha (Qatar) fez uma viragem decisiva há alguns anos, em direcção ao Irão (visto que têm interesse comum em explorar o gás natural que se encontra em jazida comum por debaixo das águas territoriais de ambos). O Qatar recebeu auxílio da Turquia, quando a Arábia Saudita fez um autêntico cerco, tentando curvar o emir de Qatar à disciplina do Conselho dos Estados do Golfo, entidade que agrupa os emirados e monarquias que bordejam o Mar Vermelho.

- Outro exemplo, a Turquia, embora se possa considerar este país o mais estratégico da NATO - com uma posição de extensa fronteira com a Rússia e uma localização de «pivot» na Ásia Central - está realmente em rota de colisão com os americanos e com a NATO, ao adquirir o sistema de mísseis S-400 russo. 
Mas esta aquisição é afinal a consagração da inversão de alianças, após a tentativa falhada de golpe de Gülen, eminência parda dos Irmãos Muçulmanos, inicialmente um dos promotores de Erdogan. O golpe contava com apoio encoberto da CIA e da NATO. Aliás, Gülen refugiou-se nos EUA e estes têm repetidamente recusado extraditá-lo, apesar de existirem provas inequívocas da conspiração e de ele ter prosseguido actividades contra o regime turco no exílio americano. 
Só a ajuda da Rússia, então uma potência «quase» inimiga, permitiu que as forças leais a Erdogan fizessem abortar o golpe em curso. Muitos mortos, feridos e presos resultaram da sangrenta aventura inspirada ou, pelo menos, aprovada por Langley (o quartel-general da CIA, nos EUA).

- Os países que experimentaram a brutal agressão e ocupação pelos EUA, o Afeganistão e o Iraque, não estão dispostos a servir como rampa de lançamento de um qualquer ataque contra o vizinho Irão. As grandes manifestações de agressividade dos EUA no mês passado, contra o Irão, acabaram com um «rabo entre as pernas», pois qualquer ataque teria de ser efectuado à distância, sem possibilidade de uma invasão, por terra ou por mar. Isto porque as relações dos EUA com muitos países árabes e da Ásia Central se têm deteriorado nos últimos tempos.

- Outra carta que tem sido jogada pelos EUA, além da ameaça militar, é a das sanções. 
Estas sanções, «urbi et orbi», estão a deslocar completamente o puzzle das alianças e acordos entre países, incluindo  os que estão no «coração» da Aliança Atlântica. 
Quer os europeus, que já não alinham com os EUA para sancionar o Irão e montaram um sistema de pagamentos alternativo, por forma a terem a possibilidade de continuar a comerciar com a república islâmica, sem terem de sofrer sanções, quer a Turquia, muito interessada no petróleo iraniano e que tem feito uma troca directa de petróleo por ouro, torneando assim as sanções impostas pelos EUA... quer ainda, os próprios britânicos que - no afã de garantirem uma posição vantajosa para a sua banca, na internacionalização da moeda chinesa (o  Yuan) - estão a participar em projectos dos BRICS. 
Este grupo (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), representa cerca um quarto das trocas comerciais mundiais. Nele existem muitas diferenças, como seria de esperar. Porém, a aliança Rússia-China está cada vez mais consolidada em múltiplos planos, desde o financeiro  ao militar. Porém, a Índia fez recentemente um passo decisivo em direcção a um compromisso maior com os dois colossos, Rússia e China.

Isto são apenas exemplos. De facto, as Novas Rotas da Seda são essencialmente imbatíveis, se se mantiverem dentro dos princípios saudáveis da não-intervenção nos assuntos internos dos Estados e das trocas com vantagens mútuas. Este projecto é imbatível porque não se trata de um projecto militar, ou imperialista, o que implicaria a conquista de territórios, a ocupação de nações. 
Trata-se de um projecto genuinamente comercial. É a versão contemporânea da ideia liberal do livre comércio, do comércio sem obstáculos políticos ou institucionais e que vai enriquecer todos os intervenientes (estratégia «win-win»). 

Evidentemente, o poderio militar americano não desapareceu, até pode reforçar-se em múltiplos aspectos. Também o anúncio do destronar do dólar como principal moeda de reserva bancária e das trocas comerciais, é prematuro. 

Mas, projectando a situação presente no futuro não muito distante, verificamos que os EUA estão com maior dificuldade em impor pela força (ou ameaça dela) a sua vontade, quer aos adversários, quer aos aliados (ou vassalos). A doutrina oficial dos EUA é de que tem de exercer a hegemonia, de que não pode tolerar que outra potência seja capaz de desafiar a sua vontade (doutrina Brzezinski).

Diria que, se não é ainda um «xeque mate» para o império globalista, é certamente um ponto em que fica claro para todos, que o melhor que pode esperar o «eixo Atlântico» (EUA e aliados da NATO, etc) será uma situação de empate, ou seja, um mundo multipolar onde é necessário contar com o eixo Euro-asiático (os BRICS, a OCX - Organização de Cooperação de Xangai). 

Para mais pormenores sobre o tema, recomendo as leituras seguintes:



domingo, 5 de agosto de 2018

JOHANNESBURG: CIMEIRA BRICS PLUS

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Não é o facto da média corporativa ocidental fazer um quase black-out sobre a cimeira dos BRICS em Johannesburg, que acabou agora, que nos deve impedir de tomar conhecimento das decisões aí tomadas, das declarações feitas, do que será a grande cartada de uma integração dos países do «Sul global» para responder à hegemonia decadente e ameaçadora de Washington. Por exemplo: quem, no «Ocidente», sabe que a Turquia, a Jamaica e a Argentina foram convidadas de honra na referida cimeira?

Previamente à cimeira, o mundo tomou conhecimento da decisão do Banco Central da Rússia de vender, em Abril passado, basicamente todas as suas reservas em «treasuries» dos EUA, tendo a Rússia um discurso muito claro justificando o referido passo.      
  
               
A desdolarização da economia mundial, significando com isso que a divisa dos EUA deixa de ser «a moeda de reserva» internacional, tem consequências muito amplas ao nível da perda de controlo por uma potência do grosso do comércio e operações financeiras mundiais. 
Não menos significativa é a consciência clara de que os EUA deixaram de ser um parceiro fiável, como se pode constatar com a desastrosa retirada dos EUA do acordo multi-países que teria permitido levantar as sanções do «Ocidente» ao Irão. Esta retirada foi claramente um triunfo do lóbi sionista nos EUA, o lóbi com mais forte  influência na política internacional dos EUA.  
O Irão tem muito a ver com o acrescento «Plus» na designação dos BRICS. Sendo um país estratégico para a nova rota da seda, tem vindo a aproximar-se do eixo Pequim-Moscovo, sendo certo que irá - em breve - aderir formalmente à OSC Organização de Cooperação de Xangai. Igualmente, o Irão tem sido decisivo na resolução da tragédia da Síria, participando com a Rússia na Conferência de Astana, destinada a dar um futuro político a esse país, após uma guerra civil de sete anos.

As pessoas têm tendência a só atenderem às questões que são ventiladas na grande média: mas esta está, desgraçadamente, ao serviço das grandes corporações e do poder imperial. De maneira que o público dos países ditos «desenvolvidos» e «democráticos», perdeu acesso verdadeiro à informação, não tem portanto instrumentos reais para avaliar o mundo de hoje com realismo e formar um conceito próprio sobre a maneira como os dirigentes têm conduzido as políticas na arena internacional. 
É essa, precisamente, a razão de ser da fraca cobertura e do silêncio dos comentaristas de serviço, no caso da cimeira dos BRICS em Johannesburg e das decisões estratégicas que seus protagonistas têm adoptado, neste e noutros fórums que a precederam. 

quarta-feira, 30 de setembro de 2020

[Manlio Dinucci] Gasoduto explosivo no Mediterrâneo


                                 


No Mediterrâneo Oriental, em cujas profundezas foram descobertas grandes jazidas offshore de gás natural, está em curso um contencioso acirrado sobre a definição de zonas económicas exclusivas, dentro das quais (até 200 milhas da costa) cada um dos países costeiros tem o direito de explorar essas reservas.

Os países directamente envolvidos são a Grécia, a Turquia, o Chipre, a Síria, o Líbano, a Palestina, Israel, (cujas jazidas, nas águas de Gaza, estão nas mãos de Israel), o Egipto e a Líbia. O confronto é particularmente tenso entre a Grécia e a Turquia, ambos países membros da NATO. A aposta em jogo não é apenas económica.

A verdadeira discórdia que se joga no Mediterrâneo Oriental é geopolítica e geo-estratégica e envolve as grandes potências mundiais. Neste âmbito insere-se o EastMed, o gasoduto que trará para a União Europeia grande parte do gás desta área. A sua realização foi decidida na cimeira, realizada em Jerusalém em 20 de Março de 2019, entre o Primeiro Ministro israelita Netanyahu, o Primeiro Ministro grego Tsipras e o Presidente cipriota Anastasiades.

Netanyahu salientou que "o gasoduto se estenderá de Israel à Europa através do Chipre e da Grécia" e Israel tornar-se-á assim uma "potência energética" (que controlará o corredor energético para a Europa), Tsipras sublinhou que "a cooperação entre Israel, a Grécia e o Chipre, na sexta cimeira, tornou-se estratégica». 

Esta cooperação é confirmada pelo pacto militar assinado pelo governo de Tsipras com Israel há cinco anos (il manifesto, 28 de Julho de 2015). Na cimeira de Jerusalém (cujas actas, publicadas pela Embaixada dos EUA no Chipre),esteve presente Mike Pompeo, Secretário de Estado americano, sublinhando que o projecto EastMed lançado por Israel, pela Grécia e pelo Chipre, "parceiros fundamentais dos EUA para a segurança", é "incrivelmente oportuno", já que "a Rússia, a China e o Irão estão a tentar colocar os pés no Oriente e no Ocidente".

A estratégia dos EUA é declarada: reduzir e finalmente bloquear as exportações do gás russo para a Europa, substituindo-as por gás fornecido ou, de outra forma, controlado pelos EUA. Em 2014, eles bloquearam o SouthStream, que teria trazido através do Mar Negro gás russo para a Itália a preços competitivos, e estão tentando fazer o mesmo com o TurkStream que, através do Mar Negro, transporta o gás russo para a parte europeia da Turquia para fazê-lo chegar à União Europeia.

Ao mesmo tempo, os USA tentam bloquear a Nova Rota da Seda, a rede de infraestruturas concebida para ligar a China ao Mediterrâneo e à Europa. No Médio Oriente, os USA bloquearam com a guerra o corredor de energia que, segundo um acordo de 2011, teria transportado o gás iraniano através do Iraque e da Síria para o Mediterrâneo e para a Europa. A esta estratégia junta-se a Itália, onde (na Apúlia) chegará a EastMed que também levará o gás para outros países europeus.

O Ministro Patuanelli (M5S) definiu o gasoduto, aprovado pela União Europeia, como um dos "projectos europeus de interesse comum", e a Subsecretária Todde (M5S) levou a Itália a aderir ao East Med Gas Forum, sede de "diálogo e cooperação” sobre o gás no Mediterrâneo Oriental, do qual participam - além de Israel, da Grécia e do Chipre - o Egipto e a Autoridade Palestina. Também participa a Jordânia, que não tem jazidas de gás offshore no Mediterrâneo, mas que o importa de Israel. 

No entanto, estão excluídos do Fórum, o Líbano, a Síria e a Líbia, a quem pertence parte do gás do Mediterrâneo Oriental. Os Estados Unidos, a França e a União Europeia anunciaram, previamente, a sua adesão. A Turquia não participa devido ao diferendo com a Grécia, que a NATO, no entanto, se compromete a resolver: "delegações militares" dos dois países já se reuniram seis vezes na sede da NATO, em Bruxelas. Todavia, no Mediterrâneo Oriental e no vizinho Mar Negro, está em curso um destacamento crescente de forças navais dos EUA na Europa, com sede em Nápoles Capodichino. 

A sua "missão" é "defender os interesses dos Estados Unidos e dos Aliados e desencorajar a agressão ['russa']" e a mesma "missão" para os bombardeiros estratégicos americanos B-52, que sobrevoam o Mediterrâneo Oriental acompanhados por caças gregos e italianos.

Manlio Dinucci

il manifesto, 29 de Setembro de 2020


Manlio DinucciGeógrafo e geopolitólogo. Livros mais recentes: Laboratorio di geografia, Zanichelli 2014 ; Diario di viaggio, Zanichelli 2017 ; L’arte della guerra / Annali della strategia Usa/Nato 1990-2016, Zambon 2016, Guerra Nucleare. Il Giorno Prima 2017; Diario di guerra Asterios Editores 2018; Premio internazionale per l'analisi geostrategica atribuído em 7 de Junho de 2019, pelo Club dei giornalisti del Messico, A.C.


Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos 
Email: luisavasconcellos2012@gmail.com

segunda-feira, 11 de junho de 2018

QUANDO UMA CIMEIRA FALHADA É SINAL DE RENOVO

                     Une image vaut mille mots : quand une photo résume la désunion du G7 à elle seule

A cimeira do G7 não podia ter corrido pior... Sim, isso é a posição que o «mainstream», a media prostituta do poder globalista, tem vindo a proclamar como se fosse uma «evidente evidência»!

No entanto, a mesma media esconde cuidadosamente a razão do conflito entre a posição de Trump e restantes membros: a Rússia. 
Sim, é Trump ele próprio que, para além de todos os pontos de fricção, deseja que a Rússia volte a participar no G7. São os dirigentes dos países europeus (+Trudeau+Abe) que insistem em avançar com um comunicado provocatório, sempre a acusar a Rússia da tentativa de assassinato dos Skripal (sem que fosse apresentada qualquer evidência), insistindo que o regime sírio é o responsável por ataques químicos, cujas evidências vão no sentido contrário, ou seja, falsas bandeiras orquestradas pelos Estado Islâmico e seus satélites...A mesma coisa com a Ucrânia, onde «ignoram» o referendo em que a população da Crimeia votou maciçamente pela reintegração na Rússia (durante a vigência da URSS foi retirada da Federação Russa em 1954, ilegalmente, por Krustchev). 

Trump sabe perfeitamente quão falaciosos são estes argumentos (e os restantes dirigentes também). 
Ele não podia subscrever a linha dura baseada nas falsidades da declaração final, pois ele tem de ter as mãos livres para a aproximação com a Rússia, com a Coreia do Norte e mesmo com a China (e apesar do momento baixo, com as taxas sobre determinados produtos). 

A política de Trump não interessa a uma facção do poder global, que tem o firme propósito de criar uma nova «Guerra fria». 
Trump, apesar das contradições (apoio ostensivo a Israel), tem feito tudo ao contrário do que os poderes globalistas querem. 

Trudeau, May, Merkel, Macron... são, antes de mais, agentes deste poder globalista. Exprimem, na sua política, a forma de ver desse mesmo poder. Não são genuínas expressões duma vontade política dos respectivos povos, sobretudo ao nível internacional.

O tecido de mentiras nos quais se basearam para escrever o rascunho de comunicado final, que Trump não subscreveu, é apenas uma forma de vincular as diplomacias desses mesmos países a seguirem  a agenda globalista, incluindo o cerco militar à Rússia (com a NATO), o isolamento diplomático desta e seus aliados, as sanções económicas e políticas a perder de vista... 

Como eles sabem muito bem, a verdade não tem nada que ver com as «razões» que apresentam, mas sim com a perda de hegemonia do eixo «Atlântico» e a ascensão do eixo «Euro-Asiático» com a Rússia, a China, o Irão, os BRICS e os participantes na «Nova Rota da Seda». 

É a Conferência de Segurança e Cooperação de Xangai, cuja reunião anual ocorreu quase ao mesmo tempo, que irá marcar o tempo e o compasso da transição do mundo unipolar (sob hegemonia americana) para um mundo multipolar, com fortes potências regionais, mas não tão fortes, no entanto, que possam ditar a sua vontade ao mundo inteiro.