Muitas pessoas aceitam a situação de massacres de populações indefesas em Gaza e noutras paragens, porque foram condicionadas durante muito tempo a verem certos povos como "inimigos". Porém, as pessoas de qualquer povo estão sobretudo preocupadas com os seus afazeres quotidianos e , salvo tenham sido também sujeitas a campanhas de ódio pelos seus governos, não nutrem antagonismo por outro povo. Na verdade, os inimigos são as elites governantes e as detentoras das maiores riquezas de qualquer país. São elas que instigam os sentimentos de ódio através da média que controlam.
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quarta-feira, 22 de julho de 2020

[Manlio Dinucci] PARLAMENTO «COESO» SOBRE AS MISSÕES NEOCOLONIAIS

                              EUTM Mali | EUTM Mali Mission
                No Mali, União Europeia envolvida em missão de «aconselhamento e educação»
                             


O Ministro da Defesa, Lorenzo Guerini (Partido Democrático) manifestou grande satisfação pelo voto “coeso” do Parlamento, sobre as missões internacionais. Excepto alguma divergência no apoio à Guarda Costeira de Trípoli, a maioria e a oposição aprovaram, de maneira compacta, sem voto contra e foram prorrogadas as principais “missões de manutenção da paz” em curso, há décadas, na peugada das guerras USA/NATO(nas quais a Itália participou) nos Balcãs, no Afeganistão e na Líbia, e na de Israel no Líbano, que fazem parte da mesma estratégia.
A estas foram acrescentadas algumas novas: a operação militar da União Europeia no Mediterrâneo, formalmente para “impedir o tráfico de armas na Líbia”; a missão da União Europeia de “apoio ao aparelho de segurança no Iraque”; a Missão da NATO para o fortalecimento do apoio aos países localizados no Lado Sul da Aliança.
Aumentou fortemente o compromisso militar italiano na África Subsaariana. As forças especiais italianas participam na Task Force Takuba, enviada ao Mali sob comando francês. Também opera no Níger, no Chade e em Burkina Faso, no âmbito da operação de Barkhane, ma qual estão envolvidos 4.500 soldados franceses, com veículos blindados e bombardeiros, oficialmente apenas contra as milícias jihadistas.
No Mali, a Itália também participa na Missão da União Europeia, EUTM, que fornece treino militar e “aconselhamento” às forças armadas deste e de outros países limítrofes. No Níger, a Itália tem a sua própria missão bilateral de apoio às forças armadas e, ao mesmo tempo, participa da missão da União Europeia EuCAP Sahel Níger, numa área geográfica que também inclui a Nigéria, o Mali, a Mauritânia, o Chade, Burkina Faso e o Benin.
O Parlamento italiano também aprovou o uso de “um dispositivo aéreo e naval nacional para actividades de presença, de vigilância e de segurança no Golfo da Guiné”. O objectivo declarado é "proteger os interesses estratégicos nacionais nesta área (leia os interesses da ENI - "Ente Nazionale Idrocarburi"), apoiando o navio mercante nacional em trânsito”.
Não é por acaso que as áreas africanas, nas quais se concentram as “missões de manutenção da paz”, são as mais ricas em matérias-primas estratégicas - petróleo, gás natural, urânio, coltan, ouro, diamantes, manganês, fosfatos e outros - exploradas por multinacionais americanas e europeias. No entanto, o seu oligopólio está agora ameaçado pela crescente presença económica da China.Não conseguindo combatê-la só através de meios económicos e vendo, ao mesmo tempo, diminuir a sua influência no interior dos países africanos, os Estados Unidos e as potências europeias recorrem à antiga, mas ainda eficaz, estratégia colonial: garantir os seus interesses económicos através de meios militares, incluindo o apoio às elites locais que baseiam o seu poder nas forças armadas.
A oposição às milícias jihadistas, a motivação oficial para operações como a da Task Force Takuba, é a cortina de fumo atrás da qual se escondem os verdadeiros objectivos estratégicos.
O governo italiano declara que as missões internacionais servem para “garantir a paz e a segurança destas zonas, para a protecção e para a tutela das populações”. Na realidade, as intervenções militares expõem as populações a riscos posteriores e, ao reforçar os mecanismos de exploração, agravam o seu empobrecimento, com o consequente aumento de fluxos migratórios para a Europa.
Para manter milhares de homens e veículos envolvidos em missões militares, a Itália utiliza mais de um bilião de euros, directamente, num ano, fornecidos (com dinheiro público) não só pelo Ministério da Defesa, mas também pelos Ministérios do Interior, da Economia das Finanças e pela Presidência do Conselho.
No entanto, esta soma é apenas a ponta do iceberg da crescente despesa militar (mais de 25 biliões por ano), devido ao ajuste de todas as forças armadas a essa estratégia. Aprovada pelo Parlamento com consentimento bipartidário unânime.

Manlio Dinucci
il manifesto, 21 de Julho de 2020
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DECLARAÇÃO DE FLORENÇA
Para uma frente internacional NATO EXIT, em todos os países europeus da NATO

Manlio Dinucci
Geógrafo e geopolitólogo. Livros mais recentes: Laboratorio di geografia, Zanichelli 2014 ; Diario di viaggio, Zanichelli 2017 ; L’arte della guerra / Annali della strategia Usa/Nato 1990-2016, Zambon 2016, Guerra Nucleare. Il Giorno Prima 2017; Diario di guerra Asterios Editores 2018; Premio internazionale per l'analisi geostrategica assegnato il 7 giugno 2019 dal Club dei giornalisti del Messico, A.C.

Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos
Email: luisavasconcellos2012@gmail.com
Webpage: NO WAR NO NATO

domingo, 23 de fevereiro de 2020

[Thierry Meyssan] «NATO Go Home!»

[REDE VOLTAIRE | DAMASCO (SÍRIA) | 19 DE FEVEREIRO DE 2020


Desde há duas décadas, as tropas norte-americanas impõem a sua lei no Médio-Oriente Alargado. Agora, países inteiros estão privados de Estado que os defenda. Populações inteiras foram vítimas da ditadura dos islamistas. Assassínios em massa foram cometidos. Também imperaram fomes. O Presidente Donald Trump impôs aos seus generais o repatriamento dos soldados, mas o Pentágono entende prosseguir a sua campanha com os soldados da OTAN.

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Chegada ao Conselho Atlântico do Comandante Supremo das Forças norte-americanas para a Europa, e Comandante Supremo da Aliança do Atlântico Norte, o General Tod D. Wolters (Bruxelas, 12 de Fevereiro de 2020).

O Presidente Trump consagrará o último ano do seu primeiro mandato a trazer os Boys (“Rapazes”- ndT) para casa. Todas as tropas norte-americanas estacionadas no Próximo-Oriente Alargado e em África deverão ser retiradas. No entanto esta retirada dos soldados não significará, de forma alguma, o fim da governança dos EUA nestas regiões do mundo. Muito pelo contrário.
A estratégia do Pentágono
Desde 2001 —e é uma das principais razões dos atentados do 11-de-Setembro—, os Estados Unidos adoptaram, em segredo, a estratégia enunciada por Donald Rumsfeld e pelo Almirante Arthur Cebrowski. Esta foi evocada na revista da Infantaria do Exército, pelo Coronel Ralf Peters, dois dias após os atentados [1] e confirmada, cinco anos mais tarde, pela publicação do mapa do Estado-Maior do novo Médio-Oriente [2]. Ela tinha sido mostrada em detalhe pelo assistente do Almirante Cebrowski, Thomas Barnett (Capitão-ndT), num livro para o grande público The Pentagon’s New Map (O novo mapa do Pentágono) [3] [4].

Tratava-se de adaptar as missões dos exércitos dos EUA a uma nova forma de capitalismo, dando o primado à Finança sobre a Economia. O mundo deve ser dividido em dois. De um lado, os Estados estáveis integrados na globalização (o que inclui a Rússia e a China); do outro, uma vasta zona de exploração de matérias-primas. Por isso é que convêm enfraquecer consideravelmente, idealmente arrasar, as estruturas estatais dos países dessa zona e impedir o seu ressurgimento por todos os meios. Este «caos construtor», segundo a expressão de Condoleeza Rice, não deve ser confundido com o conceito rabínico homónimo, mesmo que os partidários da teopolítica tudo tenham feito para isso. Não se trata de destruir uma ordem má para refazer uma ordem melhor, mas, sim de destruir todas as formas de organização humana para impedir qualquer forma de resistência e permitir às transnacionais explorar esta zona sem restrições políticas. Trata-se, portanto, de um projecto colonial no sentido anglo-saxónico do termo (não confundir com a colonização de povoamento).

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Segundo este mapa, extraído de um Powerpoint de Thomas P. M. Barnett, aquando de uma conferência no Pentágono em 2003, todas as estruturas estatais da zona rosada deviam ser destruídas.

Ao iniciar o lançamento desta estratégia, o Presidente George Bush Jr falou de «guerra sem fim». Com efeito, já não se tratava mais de ganhar guerras, e de vencer adversários, mas de as fazer durar o maior tempo possível, «um século» dissera ele. De facto, esta estratégia foi aplicada no «Médio-Oriente Alargado», quer dizer, numa zona indo do Paquistão até Marrocos e cobrindo todo o teatro de operações do CentCom e a parte Norte da do AfriCom. No passado, os GIs garantiam o acesso dos Estados Unidos ao petróleo do Golfo Pérsico (doutrina Carter). Hoje em dia, eles estão presentes numa zona quatro vezes mais vasta e ambicionam derrubar qualquer tipo de ordem, seja ela qual for. As estruturas estatais do Afeganistão desde 2001, do Iraque desde 2003, da Líbia desde 2011, da Síria desde 2012 e do Iémene desde 2015, já não são capazes de defender os seus cidadãos. Contrariamente ao discurso oficial, jamais se tratou de derrubar governos, mas muito mais de destruir Estados e de impedir a sua recuperação. A título de exemplo, a situação das populações no Afeganistão não melhorou com a queda dos Talibã, há 19 anos, antes piora inexoravelmente de dia para dia. O único exemplo contra poderia ser o da Síria que, de acordo com a sua tradição histórica, conservou o seu Estado apesar da guerra, absorveu os golpes e, muito embora arruinada hoje em dia, atravessou a tormenta.

Note-se de passagem que o Pentágono sempre considerou Israel como um Estado europeu e não como sendo médio-oriental. Portanto, ele não é envolvido neste vasto sobressalto.
Em 2001, o Coronel Ralf Peters entusiasmado assegurava que a limpeza étnica «funcionava!» (Sic), mas que as leis da guerra proibiam os EUA de a aplicar eles próprios. Daí a transformação da Alcaida e a criação do Daesh (E.I.) que fizeram por conta do Pentágono, o que ele desejava, mas não podia abertamente empreender.
Para bem captar a estratégia Rumsfeld/Cebrowski, convêm distingui-la da operação das «Primaveras Árabes», imaginada pelos Britânicos seguindo o modelo da «Grande Revolta Árabe». Nessa, tratava-se, então, de colocar a Confraria dos Irmãos Muçulmanos no Poder, tal como Lawrence da Arábia tinha colocado no Poder a dos Waabitas em 1915. 

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Objectivo oficial, mesmo que não assumido publicamente, do Estado-Maior dos EUA: fazer rebentar as fronteiras do Médio-Oriente, destruir os Estados, tanto inimigos como amigos, aplicar a limpeza étnica.

Os Ocidentais, em geral, não têm qualquer visão do Médio-Oriente Alargado como uma região geográfica em si. Só conhecem alguns países e imaginam cada um deles isoladamente dos outros. Deste modo, convencem-se a si mesmos que os trágicos acontecimentos experimentados por esses povos têm todos razões específicas, aqui uma guerra civil, acolá o derrube de um sanguinário ditador. Para cada país, dispõem de uma história bem escrita quanto à razão do drama, mas nunca têm nenhuma para explicar por que é que a guerra dura para além disso e, sobretudo, não querem que alguém os questione quanto a tal assunto. Em cada oportunidade, denunciam «a incúria dos Americanos» que não conseguiriam terminar a guerra, esquecendo que eles reconstruiram a Alemanha e o Japão após a Segunda Guerra Mundial. Recusam constatar que, desde há duas décadas, os Estados Unidos aplicam um plano, enunciado com antecedência, ao preço de milhões de mortos. Jamais se sentem, portanto, como responsáveis por estes massacres.
Os Estados Unidos, esses, face aos seus cidadãos negam aplicar esta estratégia. Assim, o Inspector-Geral encarregado de investigar a situação no Afeganistão redigiu um relatório lamentando-se sobre as muitas ocasiões falhadas pelo Pentágono em conseguir a paz, quando, exactamente, este nunca a desejava.


A intervenção russa
De forma a pulverizar todos os Estados do Médio-Oriente Alargado o Pentágono montou uma absurda guerra civil regional, da mesma maneira como havia inventado a guerra entre o Iraque e o Irão (1980-88). Por fim, o Presidente Saddam Hussein e o Aiatola Khomeini perceberam que se matavam por nada e fizeram a paz contrariando os Ocidentais.
Desta vez, é a oposição entre sunitas e xiitas. De um lado, a Arábia Saudita e os seus aliados, do outro o Irão e os seus. Pouco importa que a Arábia Saudita wahhabita e o Irão khomeinista tenham combatido juntos, sob o comando da OTAN, durante a guerra na Bósnia-Herzegovina (1992-95), ou que inúmeras tropas do «Eixo da Resistência» não sejam xiitas (100% dos Palestinianos da Jiade Islâmica, 70% dos Libaneses, 90% dos Sírios, 35% dos Iraquianos e 5% dos Iranianos).
Ninguém sabe por que é que estes dois campos se confrontam, mas acabam levados a sangrarem-se mutuamente.

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                  Um terço das populações do Eixo xiita da Resistência não é xiita.

Seja como for, em 2014, o Pentágono aprestava-se a fazer reconhecer dois novos Estados de acordo com o seu mapa de objectivos: o «Curdistão livre» (fusão do Rojava Sírio e da província curda do Iraque, ao qual uma parte do Irão e todo o Leste da Turquia deveriam ser posteriormente adicionados) e o «Sunnistão» (composto da parte sunita do Iraque e do Leste da Síria). Ao destruir quatro Estados, o Pentágono pensava abrir a via a uma reacção em cadeia que devia, por ricochete, destruir toda a região.

A Rússia interveio então militarmente e fez respeitar as fronteiras da Segunda Guerra Mundial. Escusado será dizer que estas são arbitrárias, decorrentes dos acordos Sykes-Picot-Sazonov de 1915, e por vezes difíceis de aceitar, mas sendo ainda menos aceitável modificá-las pelo sangue.
A propaganda do Pentágono sempre fingiu ignorar aquilo que estava em jogo. Ao mesmo tempo, porque não assume publicamente a estratégia Rumsfeld/Cebrowski como porque iguala a adesão da Crimeia à Federação da Rússia a um golpe de força.
A “troca de pele” dos partidários da estratégia Rumsfeld/Cebrowski
Após dois anos de luta encarniçada contra o Presidente Trump, os oficiais generais do Pentágono, dos quais quase todos foram pessoalmente formados pelo Almirante Cebrowski, submeteram-se a ele mas sob certas condições.
Assim, eles aceitaram não
criar qualquer Estado terrorista (o Sunnistão ou Califado) ;
modificar as fronteiras pela força ;
manter tropas dos EUA nos campos de batalha do Médio-Oriente Alargado e de África.
Em troca, ordenaram ao seu fiel Procurador Robert Mueller —que já tinham utilizado contra o Panamá (1987-89), a Líbia (1988-92) e durante os atentados do 11-de-Setembro (2001)— para enterrar o seu inquérito sobre o “Russiagate”.
Tudo se desenrolou então como uma pauta musical.
A 27 de Outubro de 2019, o Presidente Trump ordenou a execução do califa Abu Bakr al-Baghdadi, principal figura militar do campo sunita. Dois meses mais tarde, a 3 de Janeiro de 2020, ordenou a do General iraniano Qassem Soleimani, principal figura militar do Eixo da Resistência.
Tendo desta maneira demonstrado que os EUA continuava a ser o mestre do jogo ao eliminar as personalidades mais simbólicas dos dois campos, reivindicando-o e sem incorrer em resposta significativa, o Secretário de Estado, Mike Pompeo, revelou o dispositivo final, a 19 de Janeiro, no Cairo. Este prevê prosseguir a estratégia de Rumsfeld/Cebrowski já não mais com os exércitos dos EUA, mas com os da OTAN, incluindo Israel e os países árabes.
A 1 de Fevereiro, a Turquia oficializava a sua ruptura com a Rússia ao assassinar quatro oficiais do FSB em Idleb. Depois, o Presidente Erdogan dirigiu-se à Ucrânia para gritar em coro a divisa dos Banderistas (os legionários ucranianos do IIIº Reich contra os Soviéticos) junto com a Guarda Nacional Ucraniana e para receber o Chefe da Brigada Islamista Internacional (os Tártaros anti-russos), Mustafa Djemilev (dito «Mustafa Kırımoğlu»).

                       
O Conselho do Atlântico Norte aprova a ida de formadores da OTAN para o Médio-Oriente Alargado (Bruxelas, 13 de Fevereiro de 2020).


A 12 e 13 de Fevereiro, os Ministros da Defesa da Aliança Atlântica tomaram nota da retirada inevitável das forças dos EUA e da próxima dissolução da Coligação Internacional contra o Daesh (EI). Muito embora sublinhando que não destacariam tropas de combate, eles aceitaram enviar os seus soldados para treinar os dos exércitos árabes, quer dizer, supervisionar os combates no terreno.
Os formadores da OTAN serão prioritariamente colocados na Tunísia, no Egipto, na Jordânia e no Iraque. Assim: - A Líbia será cercada a partir do Oeste e do Leste. Os dois governos rivais, de Fayez al-Sarraj —apoiado pela Turquia, pelo Catar e com já 5. 000 jiadistas vindos da Síria, via Tunísia— e o do Marechal Khalifa —apoiado pelo Egipto e pelos Emirados— poderão ir-se matando entre si eternamente. A Alemanha, muito feliz por retomar o papel internacional, do qual estava privada desde a Segunda Guerra Mundial, fará de pregador agitado dissertando sobre a paz para abafar os gemidos dos agonizantes. - A Síria será cercada por todos os lados. Israel é já de facto um membro da Aliança Atlântica e bombardeia o que quer e quando quer. A Jordânia é já o «melhor parceiro mundial» da OTAN.
O rei Abdalla II veio a Bruxelas para conversações muito demoradas com o Secretário-geral da Aliança, Jens Stoltenberg, em 14 de Janeiro, e para participar numa reunião do Conselho Atlântico. Israel e a Jordânia dispõem já de um gabinete permanente na sede da Aliança. O Iraque receberá também instrutores da OTAN, muito embora o seu Parlamento tenha acabado de votar pela retirada das tropas estrangeiras. A Turquia é já membro da Aliança e controla o Norte do Líbano graças à Jamaa Islamiya. Juntos, eles poderão fazer aplicar a lei «César» dos EUA que interdita qualquer empresa, seja de onde for, de ajudar na reconstrução deste país.
Assim, a pilhagem do Médio-Oriente Alargado, iniciada em 2001, prosseguirá. As populações mártires desta região, cuja única falha é a de estarem divididas, continuarão a sofrer e a morrer em massa. Os Estados Unidos conservarão os seus soldados em casa, no quentinho, como anjinhos de coro, enquanto os Europeus irão carregar com os crimes dos Generais dos EUA.
Segundo o Presidente Trump, a Aliança poderia mudar de nome e tornar-se talvez a OTAN-MédiOriente (OTAN-MO/NATO-ME). A sua função Anti-Russa passaria para segundo plano em favor da sua estratégia de destruição da zona não-globalizada.
Coloca-se a questão de saber como a Rússia e a China reagirão a esta redistribuição de cartas. A China precisa, para se desenvolver, de ter acesso às matérias-primas do Médio-Oriente. Portanto, ela deverá opor-se a este controle ocidental muito embora a sua preparação militar seja ainda insuficiente. Pelo contrário, a Rússia e o seu imenso território são auto-suficientes. Moscovo (Moscou-br) não tem nenhuma razão prática para se bater. Os Russos podem até ficar aliviados com a nova orientação da OTAN. No entanto, é provável que, por motivos espirituais, eles não deixem cair a Síria e talvez apoiem mesmo outros povos do Médio-Oriente Alargado.
Tradução


[1] “Stability, America’s Ennemy”, Ralph Peters, Parameters, Winter 2001-02, pp. 5-20. Reproduit in Beyond Terror : Strategy in a Changing World, Stackpole Books.
[2] “Blood borders - How a better Middle East would look”, Colonel Ralph Peters, Armed Forces Journal, June 2006.
[3] The Pentagon’s New Map, Thomas P.M. Barnett, Putnam Publishing Group, 2004.
[4] The Pentagon’s New Map, Thomas P.M. Barnett, Putnam Publishing Group,

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

OS CÃES DA GUERRA LADRAM, A CARAVANA - DA NOVA ROTA DA SEDA - PASSA

                       
                                           Mulheres e crianças em Djibouti


Leia o artigo de Pepe Escobar, no «Asia Times»: 

Sei que Pepe Escobar é um óptimo advogado do sistema político chinês mas, através dos seus artigos temos um contra-peso à propaganda baixa da media ocidental «mainstream». Essa media, quase exclusiva fonte de informação num país como Portugal, apenas tem estado preocupada em servir seus donos (grupos económicos, governos, ou até as antenas locais da CIA, MI6, etc). 
Ela apenas pega em aspectos problemáticos (que existem, sem dúvida) da política interna ou externa chinesa, para insinuar a ideia de que a China, com a sua expansão, está querendo por em cheque a dominação hegemónica dos EUA, para se tornar ela própria a super-potência dominante
No entanto, os países africanos não vêem isso assim, tendo eles sofrido séculos de opressão colonial, de escravatura, massacres, sub-desenvolvimento, depredação das riquezas, às mãos da «civilização» ocidental.   

Para que uma expansão seja considerada imperialista, quais os critérios? O que deveria ser observado, caso houvesse uma situação dessas?

- A força expansionista deve subjugar ou colocar numa situação de subordinação clara os governos e Estados sobre os quais estende o seu poder.
- A potência dominante extrai recursos, sem contrapartida que arranque os países explorados à sua miséria.
- Pressiona os países subjugados a apoiarem suas posições e sua política nas organizações internacionais.
- Ela dita aos países subjugados com quem estes devem ou não desenvolver relações e obriga-os a aceitar as suas escolhas nas relações internacionais
- Instala bases militares em múltiplos locais (sob comando continental unificado, como no caso da AFRICOM), usadas para quaisquer finalidades que ache convenientes, como - por exemplo - operações bélicas em países vizinhos, sem ter em conta o governo do país onde se instalou. 
  
Não vejo nada disso, nas relações da China com Angola, ou Moçambique, ou outra das ex-colónias portuguesas de África. Na verdade, através de contactos diversos, eu teria - com certeza - informações sobre tais acções ou comportamentos da China, se existissem realmente, pois tenho amigos e conhecidos que trabalham/trabalharam nestes países e tenho conhecimento através da imprensa e redes sociais, de vários aspectos doutros países e sociedades africanas. 
Embora haja prepotência e autoritarismo em certos governos africanos, não se pode atribuir a responsabilidade disso à influência chinesa. São eles próprios, governantes e seus apoiantes, que estão a trilhar esses caminhos. 
A não-ingerência, vista sob o prisma do governo chinês, quer dizer que eles não se vão imiscuir nos assuntos internos, na política dos Estados com os quais têm projectos em comum. 
Não creio que exista um imperialismo «benévolo», seja ele qual for, seja qual for a sua bandeira e ideologia; mas também não me parece lícito projectar na China a intenção maléfica de repetir  aquilo que - no passado - as nações orgulhosas do «ocidente» fizeram, durante e depois da era colonial.