sexta-feira, 9 de setembro de 2022

CRÓNICA (nº7) DA III GUERRA MUNDIAL - A EMERGÊNCIA DE UM NOVO PADRÃO MONETÁRIO

                                                              
                                                       Bolsa do Ouro em Xangai


Antes de mais nada, devo especificar que o meu papel, a minha função, é sobretudo de refletir sobre o que se passa à minha volta e no mundo. Não é de fazer propaganda ou de «fazer claque» por um dos lados, enaltecendo as virtudes de uns e denunciando os podres de outros.
Como testemunho interessado (pois vivo neste mundo, não num mundo imaginário) verifico que realmente estamos numa confrontação global de longa duração.
Sendo que este confronto é por razões bastante fundas, não se resolve portanto, senão por uma nova arquitetura global. Ou seja, que «Novo Mundo», que nova «Ordem Mundial» está aí às portas do futuro?
Este novo mundo não nos cai dos céus, resulta da ação dos homens, não apenas de chefes de estado e governo, como também dos povos e de uma multiplicidade de fatores imponderáveis, que estão sempre a brotar no quotidiano. Temos prova disso quando «grandes cataclismos» anunciados, afinal, são «nothing-burgers» e o reverso, coisas triviais que se avolumam, fazem bola de neve e transformam completamente o cenário.
Hoje, irei falar da guerra mais difícil de perceber para o comum dos mortais, a que tem a ver com a ordem financeira e monetária global. O assunto não será esotérico, em si mesmo. Não, antes é simples de se compreender, na essência.
Mas, somos impedidos de prestar atenção pela nossa mente dominada pelas notícias a cada instante, pela media que satura todos os nossos canais com lixo informativo e nos impede de tomar recuo e pensar por um lado, por outro, a des-educação em que se transformou o ensino, a todos os níveis, causando a cada vez mais visível catástrofe dos «analfabetos funcionais»: Refiro pessoas que sabem ler e escrever, que podem manipular com à-vontade o computador ou smartphone e são, no entanto, profundamente ignorantes do mundo em que vivem. A nível universitário, esta nova patologia é ainda mais conspícua, em combinação com uma autossuficiência, uma afirmação enfática de banalidades ou slogans, apresentados como «verdades eternas».
Na ordem mundial saída da II Guerra Mundial - o acordo de Bretton Woods, que reuniu as nações vencedoras (incluindo a URSS) para arquitetar uma nova ordem financeira mundial - foi muito evidente o peso e influência dos EUA. Não apenas na criação do FMI e Banco Mundial, com regras que colocam (ainda hoje) estas instituições como instrumentos dóceis do imperialismo americano, como na própria existência de uma moeda especial, o dólar dos EUA, entronizado no papel de reserva mundial, ou seja, daquela que os bancos centrais de todos os países teriam de possuir e, portanto, que teria o papel de intermediário nas transações financeiras e comerciais internacionais, não apenas de Estado para Estado, mas em transações entre bancos, para pagamentos de bens industriais, agrícolas, etc.
Esta arquitetura foi possível porque Keynes, representante do Reino Unido à conferência, não teve apoio suficiente em torno do seu projeto de «bancor», divisa que não pertenceria a um banco central nacional, pois seria um cabaz de algumas das moedas mais representativas.
Este bancor, se tivesse sido adotado, poderia desempenhar um papel estabilizador das relações monetárias internacionais, visto que a oscilação duma moeda fazendo parte do bancor, não seria suficiente para desequilibrar o conjunto, sendo certo que, quando uma divisa diminui, é sempre em relação a outra(s), que aumenta(m) (veja-se o que está a acontecer à relação dólar-euro neste momento).
No concreto, Bretton Woods assumiu que a divisa dólar (a moeda de reserva mundial) era remível por ouro a 35 dólares a onça, sendo que este valor vigorava somente nas trocas entre bancos centrais, não era um valor correlacionado diretamente com o comércio de ouro.
Assim, os países tinham a possibilidade de trocar (ao nível dos bancos centrais) seu excedente de dólares, em ouro. Mas, quando houve a guerra do Vietname, os EUA começaram ter grandes aumentos de despesas, aumentos dos défices orçamentais e muitos (entre eles, os britânicos e os franceses) decidiram começar a trocar as notas de dólar por onças de ouro, fazendo descer significativamente as reservas de ouro em Fort Knox.
Nixon, em 1971 decidiu «provisoriamente» desindexar o dólar do ouro, tendo - a partir daí - a cotação do ouro subido de 35 dólares /onça, para mais de 800 dólares / onça. Hoje (09/09/2022), situa-se em 1720 dólares /onça. Para os EUA, era vital conseguirem manter o dólar como a divisa de reserva mundial, o que lhes conferia o «exorbitante privilégio» (Giscard d'Estaing) de ter défices crónicos, no orçamento e na balança de pagamentos, sem ter severas consequências com isso, enquanto quaisquer outros países mergulhariam em crise grave.
Foi Kissinger que negociou com o então rei Saud da Arábia Saudita, o chamado acordo dos petrodólares, em 1973, pelo qual os EUA dariam proteção militar sem limites e apoio ao Reino saudita, em troca deste apenas aceitar dólares como pagamento do seu petróleo.
Como a Arábia saudita era o maior produtor de petróleo nessa altura e como tinha o controlo da OPEP, não foi difícil a norma de pagamento do petróleo só em dólares, se estender a todos os outros exportadores, incluindo países que não faziam parte da OPEP (como a URSS, por exemplo). Começou assim o reinado do petrodólar, que está agora no seu fim.
Com efeito, a Rússia e a China primeiro, mas depois também a Índia, o Irão e outros países estão de acordo e já começaram a fazer troca direta, o diferencial do comércio bilateral sendo saldado com ouro, evitando assim envolver dólares nas trocas comerciais, ou então usando as divisas nacionais respetivas nas trocas bilaterais (rublos/yuan; rupias/rublos; etc...) com o mesmo fim.
Os países da Ásia supracitados sempre consideraram que o ouro era dinheiro. Foram sobretudo os bancos centrais asiáticos que adquiriram imenso ouro, mormente quando vendido a preço de saldo (por ordem do PM britânico Gordon Brown, mas também outros países ocidentais) nas primeiras duas décadas do século XXI. Igualmente, o ouro é considerado como reserva de valor, desde tempos imemoriais, pelas pessoas em toda a Ásia, incluindo as mais modestas.
Não admira portanto que a Rússia, em pagamento dos seus combustíveis, comprados por países «não-amigos», institua a regra de que serão pagos em rublos ou em ouro. Está perfeitamente em linha com a situação de rutura final com um Ocidente cheio de arrogância e agressividade, que provocou a Rússia ao ponto desta ser obrigada desencadear uma guerra preventiva.
O aspeto caricato disto, é que os sauditas têm comprado petróleo russo (com desconto), que depois revendem ao preço de mercado aos ocidentais. O acordo dos petrodólares foi completamente virado de «cabeça para baixo»: Pois, agora, não se trata de quem venda o petróleo, ter de aceitar dólares. Agora, quem quiser petróleo, terá de se contentar com o que lhe é oferecido a um certo preço, determinado pelo vendedor!
É inevitável, com ou sem guerra da Ucrânia, que os países produtores de bens e matérias primas, que  têm produzido para os ocidentais tudo ou quase tudo o que faz o conforto das suas vidas, queiram ver-se livres da ditadura do dólar.
O SWIFT e o dólar foram transformados em arma de guerra económica, contra o Irão e uma série de outros regimes (Venezuela, Coreia do Norte, etc.). Não apenas estas sanções são ilegais, como os americanos rasgaram o princípio da territorialidade das leis, com as sanções e ameaças de sanções contra bancos ocidentais (suíços, franceses) que infringissem os embargos decretados por Washington, não por quaisquer decisões das Nações Unidas. Estes bancos tiveram de pagar pesadas multas, sob ameaça de serem impedidos de ter sucursais e de fazer negócio, de qualquer espécie, nos EUA.
O pretexto das sanções contra o Irão, foi também o que «justificou» a prisão arbitrária da vice-presidente da Huawei no Canadá, quando esta regressava duma conferência internacional na América Latina. Isto foi considerado uma afronta nacional na China.
O comportamento dos EUA em relação a todos os que não estejam completamente submissos é duma brutalidade incrível. O que fizeram ao Iraque e à Líbia, permite-nos dizer que eles são os «bullies», que usam a força bruta para intimidar e fazer valer as «leis» que eles próprios decretam, mas que não possuem validade nenhuma nos outros países, face à lei internacional.
As construções de plataformas de negociação, de trocas comerciais, de defesa e de assistência mútua têm-se multiplicado, do Mar Báltico, ao Mar da China. Os países asiáticos têm estabelecido acordos de cooperação, que incluem as Novas Rotas da Seda, uma rede de transportes fluviais, ferroviários, rodoviários, assim como portos e aeroportos. Criaram e desenvolvem bancos, destinados a financiar os grandes projetos nos seus países e nos países do Terceiro Mundo. Têm a Organização de Cooperação de Xangai, para combater o terrorismo e para encontrar soluções negociadas em diferendos. Os BRICS são uma alternativa com voz própria, ao G7 e aos atlantistas que costumavam falar em nome «da comunidade internacional», que eram eles somente, afinal de contas.
Chegou agora o momento, face ao extremismo das sanções da parte dos países da NATO, da Rússia fazer aquilo que tinha - com certeza - planeado há muito. Estou a falar da criação de uma plataforma para negociar o ouro, em Moscovo, com os seus padrões e fazendo concorrência à londrina LBMA.
O objetivo será, com certeza, fazer o que é necessário, para sanear o referido mercado. Vai impossibilitar a especulação com contratos de futuros, responsável pela manutenção da cotação do ouro, muito abaixo do que seria normal, face à queda dos ativos financeiros, a cada crise do capitalismo. Com efeito, se o público começasse a ver que o ouro é realmente um refúgio eficaz em termos de conservação de valor, ao contrário do dólar e de quaisquer outras «divisas fiat», então haveria uma corrida para adquirir ouro e a confiança no dólar-rei desfazia-se por completo. O mesmo, em relação aos ativos financeiros denominados em dólares.
Uma moeda de reserva internacional com a sustentação do ouro e de matérias primas, como metais estratégicos, petróleo e gás, é o que os parceiros Euro-asiáticos estão AGORA a negociar.
Não se enganem; se isto não é reportado no Ocidente, isto significa que É IMPORTANTE. O que é importante tem sido ocultado do público, na esperança - absurda e fútil - de que seus efeitos sejam menos severos, do que efetivamente são. É «tapar o sol com uma peneira»!

Em complemento: Leia o artigo, muito bem escrito e cheio de dados factuais, de Mcleod:

 https://www.goldmoney.com/research/an-asian-bretton-woods


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https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/03/cronica-da-terceira-guerra-mundial.html

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/03/cronica-da-terceira-guerra-mundial_13.html

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/03/cronica-da-terceira-guerra-mundial_0396436697.html

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/03/cronica-da-terceira-guerra-mundial_24.html

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/04/cronica-da-terceira-guerra-mundial-um.html

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/04/cronica-da-iiimundial-guerra-biologica.html


quinta-feira, 8 de setembro de 2022

Europeus indignados com os aumentos dos preços da energia manifestam-se em várias capitais


 

UM POEMA É SONHO [OBRAS DE MANUEL BANET]

 



Um poema é sonho...

Não vás procurar racionalidade e lógica

Mas de facto o sonho tem um fio condutor

Esquece as quadras e as rimas

Escolhe a música que brota

Do interior das palavras

E as palavras que são música

E que fluem do peito e da alma 

Canção aflorando na memória

Seja alegre ou nostálgica

Ela irrompe e arrasta-nos

Para terras nunca exploradas


Poeta, seja a música que te guie

E deixa para compêndios de filosofia

Os discursos racionais, demonstrativos

O que tem a demonstrar o cântico

Da ave, senão "olha; estou aqui!"

Assim seja o poema, belo e puro

Melodia natural como um rio!


               
                                                           Melro comum (macho)



 










terça-feira, 6 de setembro de 2022

Prelúdio e fuga Nº. 6, BWV 875 do 2º LIVRO do «CRAVO BEM TEMPERADO»

 As peças dos 2 livros do «Cravo Bem Temperado» de J.S. Bach, são bem conhecidas: Não faltam integrais de ambas as recolhas, de entre as quais se podem escolher  interpretes e instrumentos ao gosto de cada um. 

Porém, uma das caraterísticas fundamentais destas COLETÂNEAS PEDAGÓGICAS é serem exercícios de estilo, de «bom gosto», mais do que meros exercícios de aperfeiçoamento da execução.

Praticamente todas as peças exigem muita destreza e controlo do executante, num ou noutro aspeto. Porém, não são certamente concebidas para exercitar a velocidade.  Ora, alguns interpretes caem no erro de executar certas peças, no máximo da velocidade de que são capazes. Com isso, lamentavelmente, desnaturam a musicalidade dos prelúdios e fugas!

É portanto crítico encontrar o andamento adequado para as referidas peças, de modo que possa sobressair sua beleza própria. É importante também o temperamento , quer enquanto sinónimo de afinação do instrumento, quer no sentido metafórico, ou seja do caráter. 

A escolha que fiz de interpretações abaixo podem não ser das mais célebres, mas são as que me pareceram mais apropriadas para exprimir o espírito da peça, quer interpretada ao cravo, quer ao piano.


Nicola Bisotti numa cópia de cravo Ruckers (1612)


András Schiff ao piano


Pode-se acompanhar o prelúdio com partitura,  AQUI.

                           A partitura da fuga, pode ser visualizada AQUI.

POR QUE RAZÃO A MEDIA PROPAGA FALSAS NARRATIVAS DA GUERRA NA UCRÂNIA


 
PROGRAMA DE CHRIS HEDGES: A Ucrânia e a crise de censura da media

Durante a guerra da Ucrânia, as instituições de notícias do Ocidente têm papagueado sem critério as opiniões da elite governante e veiculado uma narrativa desligada do mundo real.
Patrick Lawrence foi colunista e correspondente, durante cerca de 30 anos, para os jornais «Far Eastern Economic Review», «International Herald Tribune» e «The New Yorker».
Patrick fala no vídeo de sua experiência como correspondente em Portugal na revolução dos cravos.
Ele é autor dos livros «Somebody Else's Century: East and West in a Post-Western World» e de «Time No Longer: America After the American Century.»

Veja «Chris Hedges Report» ao vivo no YouTube, em estreia às 6ªf., no site de «Real News Network»: https://therealnews.com/chris-hedges-report

segunda-feira, 5 de setembro de 2022

ESTRUTURA DEFEITUOSA DO EURO E COLAPSO DA ECONOMIA EUROPEIA


Ao vermos esta apresentação, percebemos que a UE, com os desequilíbrios entre Estados devedores (o Sul) e credores (o Norte, a Alemanha), não está em condições de aguentar o choque da interrupção de fornecimento do gás russo.
Ao decidir cortar (a si própria) o fornecimento de gás e petróleo provenientes da Rússia, a U. E. está a fazer suicídio. Se não houver abastecimento energético suficiente, a indústria, a agricultura, os transportes e a própria sobrevivência das pessoas, ficam postos em causa.

Em complemento, pode ler-se o artigo abaixo, que relata as medidas que a Áustria e a Suécia estão a tomar, perante a crise energética na UE:

domingo, 4 de setembro de 2022

MITOLOGIAS (XI) HISTÓRIA NATURAL DO UNICÓRNIO

Há uma certa dificuldade em compreender como é que se construiu este mito do unicórnio. Este animal magnífico foi, desde a Grécia Antiga e em narrativas posteriores, descrito como possuindo muitas virtudes e qualidades benéficas. Isto contradiz a tendência claramente dominante do «bestiário mitológico». Dos dragões aos lobisomens, quase todos possuem propriedades inquietantes, aterradoras.
O unicórnio é um animal muito belo, geralmente parecido a um nobre cavalo, de cor branca, simbolizando a pureza. É dócil perante donzelas, para junto das quais se dirige respondendo, solícito, ao seu apelo. Personificação do bem, da nobreza, da coragem, é um dos animais mais representados na heráldica. Algumas vezes, está presente no interior do próprio escudo heráldico; noutras, fora dele, segurando estandartes, como em muitos brasões. 
 
                                 
As propriedades do único corno do animal também eram maravilhosas: as taças dos reis e doutros personagens poderosos eram - às vezes - em chifre do unicórnio, considerado um antidoto eficaz contra venenos e infeções. Na «lógica por analogia», um fragmento do animal que simboliza a pureza, seria ele próprio, remédio ou preventivo eficaz contra substâncias impuras.

                    

Mas, se o unicórnio é animal lendário, a sua marca distintiva, o "chifre" (na realidade, um dente), não é um objeto imaginário: Seu detentor, o narval, é uma espécie de baleia do Oceano Ártico. Nos machos, um dos dentes cresce desta maneira. Após a morte dos mamíferos marinhos, é natural que algumas presas (dentes muito modificados) se destaquem do esqueleto e vão dar às costas geladas que rodeiam o Oceano Ártico desde o extremo Norte da Rússia e Norte da Escandinávia, à Gronelândia e Leste do Canadá.

                       

Para quem os recolhesse, tal poderia significar - senão o enriquecimento - pelo menos, um rendimento considerável. Depois, uma longa cadeia de intermediários encarregava-se de fazer chegar os espécimes raríssimos - com o seu preço decuplicado, pelo menos - a palácios reais e mansões de ricos comerciantes.
Os dentes de narval são representados em pinturas e frescos por artistas medievais, do renascimento e posteriores enquanto chifres de unicórnio. Algumas vezes, são montados em pedestais, como raridades preciosas.

O século XIX, apesar do seu cientismo e sua racionalidade, não esqueceu completamente o gentil unicórnio:
                              
O professor Charles Lutwidge Dodgson, mais conhecido pelo seu pseudónimo Lewis Carroll, escreveu, em «Alice no País das Maravilhas», um diálogo entre um Unicórnio e Alice (1).
Carroll, professor de lógica matemática, inventa um diálogo pleno de humor. Estabelece a equivalência perfeita entre a «realidade de Alice» (personagem ficcional) e a «realidade do Unicórnio» (outro personagem ficcional). Esta equivalência é afirmada através de um truque, ou falácia: «se tu me reconheces como real, então eu também te reconheço» ou seja, mútuo reconhecimento como «critério de verdade», entre personagens ficcionais.
Neste diálogo, CC. L. Dodgson/ Lewis Carroll desfaz humoristicamente aquele género de falácia.


No século XXI, deu-se um novo sentido ao termo unicórnio, mas no vocabulário dos «traders».
Na gíria da finança, uma empresa «unicórnio» é aquela que rapidamente atinge um valor considerável em bolsa, com elevados lucros, sobretudo para os que primeiro nela apostaram. Infelizmente, o mais frequente, é que empresas «unicórnio» sejam uma autêntica fraude. Verificou-se a entrada em bolsa de empresas destituídas de receitas (2), antecedendo tanto a crise das «dot.com» do ano 2000, como o grande crash de 2008. 


Hoje, classificar uma dada empresa como «unicórnio», pode ter conotação irónica, designando empresas lançadas com muita publicidade, mas sem substância, que atraem os investidores ávidos de lucros fáceis. As cotações destas empresas, inicialmente sobem muito depressa e logo também depressa descem, podendo mesmo ser varridas, num instante.
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1) DIÁLOGO : ALICE E O UNICÓRNIO (de «Alice no País das Maravilhas»):

 ‘What—is—this?’ he said at last.

‘This is a child!’ Haigha replied eagerly, coming in front of Alice to introduce her, and spreading out both his hands towards her in an Anglo-Saxon attitude. ‘We only found it to-day. It's as large as life, and twice as natural!’

‘I always thought they were fabulous monsters!’ said the Unicorn. ‘Is it alive?’

‘It can talk,’ said Haigha, solemnly.

The Unicorn looked dreamily at Alice, and said ‘Talk, child.’

Alice could not help her lips curling up into a smile as she began: ‘Do you know, I always thought Unicorns were fabulous monsters, too! I never saw one alive before!’

‘Well, now that we have seen each other,’ said the Unicorn, ‘if you'll believe in me, I'll believe in you. Is that a bargain?’

‘Yes, if you like,’ said Alice.


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(2) Ou não produziam realmente qualquer produto ou serviço, ou - caso produzissem - eram cronicamente deficitárias. Apesar disso, puderam ser inscritas nas bolsas de ações!


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