terça-feira, 7 de janeiro de 2020

O QUE ESTÁ POR DETRÁS DO ASSASSINATO DO GENERAL SOLEIMANI

                             

Para além da decisão táctica de Trump e do Pentágono de eliminar Soleimani, o que está em jogo é o controlo da região mais rica em petróleo e decisiva para o abastecimento internacional. 

Até agora, os americanos contentaram-se em obter acordos de «protecção» dos reinos petrolíferos a troco da exclusividade da venda do petróleo em dólares. Lembre-se que as transacções em US$ são rastreadas pelos bancos dos EUA, e podem ser eficazmente embargadas por ordem de Washington. 
Lembremos também o papel decisivo dos petro-dólares na compensação do défice crónico e monstruoso do orçamento dos EUA. O défice é colmatado graças à compra de obrigações do tesouro dos EUA por parte das petro-monarquias. Além disso, com os dólares obtidos, a Arábia Saudita e outros, compram armamento sofisticado e sua manutenção à indústria bélica americana (o maior exportador de armamento mundial).

Se decidiram assassinar Soleimani, não foi certamente pelas razões invocadas. Mas antes, porque estão desesperados por não conseguir mais fazer funcionar o sistema do petro-dólar, pois demasiados actores estão a rebelar-se ou a - discretamente - virar a casaca, para garantirem protecção dos poderosos aliados Rússia e China. Esta é a realidade estratégica global a que os EUA estão confrontados. 

A resposta a esta situação foi - com certeza - cozinhada pelas forças que controlam Washington e que têm Trump na mão (chame-se complexo militar industrial, Estado profundo, militaristas do Pentágono...): Para eles, a solução longamente planeada era o confronto directo com o Irão, única forma que encaravam para contrariar a deserção de uma série de aliados na região e portanto, a perda de hegemonia e o fim do sistema do petro-dólar. Eis a lógica intrínseca deles: Como não conseguem mais obter, como dantes, a submissão dos seus aliados-vassalos no Médio-Oriente, têm de fomentar uma guerra. Assim, poderão obter o alinhamento forçado destes contra o Irão. 
Eventualmente, conseguirão - em caso de vitória - o controlo directo dos poços de petróleo iraquianos, o que revela sua ambição totalitária de domínio mundial. Esta ambição de guerra já existia há muito tempo, manifestou-se múltiplas vezes, mas muitas pessoas não conseguiam compreender a natureza verdadeira do jogo. 
Agora, com a pretensão de Trump de se apropriar (roubar) o petróleo, não só da Síria, como do Iraque, está-se perante uma afirmação clara e descarada de apropriar o petróleo do Médio-Oriente, como despojo de guerra. 

Claro que, tanto os inimigos como os amigos dos EUA, vêm isto tudo e estão a posicionar-se em conformidade.

[Manlio Dinucci] Qual é a verdadeira ameaça nuclear no Médio Oriente?

                         

ITALIANO PORTUGUÊS
«O Irão não respeita os acordos nucleares» (Il Tempo), «O Irão retira-se dos acordos nucleares: um passo em direcção à bomba atómica» (Corriere della Sera), «O Irão prepara bombas atómicas: adeus ao acordo sobre o nuclear »(Libero): é assim apresentada por quase toda a comunicação mediática a decisão do Irão - após o assassinato do General Soleimani ordenado pelo Presidente Trump - de não aceitar mais os limites para o enriquecimento de urânio, estabelecidos pelo acordo assinado em 2015 com o Grupo 5 + 1, ou seja, os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia, China) e a Alemanha. Portanto, não há dúvida, segundo estes meios de divulgação de “informação”, sobre qual é a ameaça nuclear no Médio Oriente. Esquecem-se que foi o Presidente Trump, em 2018, que fez com que os EUA se retirassem do acordo definido por Israel como “a rendição do Ocidente ao Eixo do Mal, liderado pelo Irão”. Silenciam o facto de que existe apenas uma única potência nuclear no Médio Oriente, Israel, que não está sujeita a nenhum controlo, visto que não adere ao Tratado de Não-Proliferação, assinado pelo Irão.
O arsenal israelita, envolto numa espessa capa de segredo e de silêncio, é estimado em 80-400 ogivas nucleares, além de plutónio suficiente para construir outras centenas. Israel também produz, seguramente, trítio, o gás radioactivo com o qual fabrica armas nucleares de nova geração. Entre estas, mini-bombas nucleares e bombas de neutrões que, provocando menor contaminação radioactiva, seriam as mais adequadas contra alvos não muito distantes de Israel. As ogivas nucleares israelitas estão prontas para serem lançadas em mísseis balísticos que, com o Jericó 3, atingem de 8 a 9 mil km de alcance. A Alemanha forneceu a Israel (sob a forma de um presente ou a preços promocionais) quatro submarinos Dolphin modificados para o lançamento de mísseis nucleares Popeye Turbo, com um alcance de cerca de 1.500 km. Silenciosos e capazes de permanecer imersos durante uma semana, atravessam o Mediterrâneo Oriental, o Mar Vermelho e o Golfo Pérsico, prontos 24 sobre 24 horas, para o ataque nuclear.
Os Estados Unidos, que já forneceram mais de 350 caça-bombardeiros F-16 e F-15 a Israel, estão a fornecer-lhe pelo menos 75 caças F-35, também com dupla capacidade nuclear e convencional. Uma primeira entrega de F-35 israelitas entrou em operação em Dezembro de 2017. As Israel Aerospace Industries produzem componentes de asas que tornam o F-35 invisível aos radares. Graças a essa tecnologia, que também será aplicada nos F-35 italianos, Israel potencia a capacidade de ataque das suas forças nucleares.
Israel - que tem apontadas contra o Irão 200 armas nucleares, como especificou o antigo Secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, em 2015 - está decidido a manter o monopólio da Bomba no Médio Oriente, impedindo o Irão de desenvolver um programa nuclear civil, que poderia permitir-lhe um dia fabricar armas nucleares, capacidade essa que hoje é possuída no mundo por dezenas de países. No ciclo de utilização do urânio, não há uma linha divisória clara entre o uso civil e o uso militar do material físsil. Para bloquear o programa nuclear iraniano, Israel está determinado a usar todos os meios. O assassinato de quatro cientistas nucleares iranianos entre 2010 e 2012 é, provavelmente, obra do Mossad.
As forças nucleares israelitas estão integradas no sistema electrónico da NATO, como parte do “Programa de Cooperação Individual” com Israel, um país que, embora não seja membro da Aliança, tem uma missão permanente no quartel general da NATO, em Bruxelas. Segundo o plano testado no exercício USA-Israel Juniper Cobra 2018, as forças USA e NATO viriam da Europa (sobretudo das bases em Itália) para apoiar Israel numa guerra contra o Irão. Ela poderia iniciar-se com um ataque israelita às instalações nucleares iranianas, como o que foi efectuado em 1981 contra o reactor iraquiano de Osiraq. O Gerusalem Post (3 de Janeiro) confirma que Israel possui bombas não nucleares anti-bunker, utilizáveis ​​especialmente com os F-35, capazes de atingir a instalação nuclear subterrânea em Fordow. O Irão, no entanto, apesar de estar livre de armas nucleares, possui uma capacidade de resposta militar que a Jugoslávia, o Iraque ou a Líbia não possuíam no momento do ataque USA/NATO. Nesse caso, Israel poderia usar uma arma nuclear pondo em movimento uma reacção em cadeia de consequências imprevisíveis.

il manifesto, 7 de Janeiro 2020







DECLARAÇÃO DE FLORENÇA
Para uma frente internacional NATO EXIT,
em todos os países europeus da NATO
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PORTUGUÊS ROMÎNA SLOVENSKÝ SVENSKA TÜRKÇE РУССКИЙ


Manlio DinucciGeógrafo e geopolitólogo. Livros mais recentes: Laboratorio di geografia, Zanichelli 2014 ; Diario di viaggio, Zanichelli 2017 ; L’arte della guerra / Annali della strategia Usa/Nato 1990-2016, Zambon 2016, Guerra Nucleare. Il Giorno Prima 2017; Diario di guerra Asterios Editores 2018; Premio internazionale per l'analisi geostrategica assegnato il 7 giugno 2019 dal Club dei giornalisti del Messico, A.C.

Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos
Email: luisavasconcellos2012@gmail.com
Webpage: NO WAR NO NATO

domingo, 5 de janeiro de 2020

No imediato, SAÍDA DO IRAQUE. Depois, DERROTA TOTAL

A «hubris» é o termo grego que designa a embriaguez do poder absoluto, a sua arrogância e incapacidade para se dar conta da realidade. Tudo isso, e a ausência total de moral, desencadeiam a fúria dos deuses, que lançam decretos fatais para castigar a personagem e todos aqueles que a seguem.

                              General Qassem Soleimani 440f3

É portanto o momento da viragem, este 2 de Janeiro, em que Trump decide assassinar o general Qasem Soleimani, o militar de mais alta patente do Irão, em visita ao Iraque. Este ataque brutal, que matou outros destacados membros da comitiva assim como das milícias xiitas iraquianas, tem o cunho de uma hubris, de uma loucura sem qualquer justificação ética, ou até, meramente de oportunidade. 
Agora, o destino dos EUA na região está traçado. As condições de sua permanência vão ser tão gravosas em termos militares e diplomáticos, que terá de «aviar as malas» e abandonar esses países, que tem ocupado e martirizado ao longo das duas primeiras décadas do século XXI.
O papel de criador, fornecedor secreto e protector do ISIS por parte dos EUA e de seus serviços secretos, está agora mais patente do que nunca, sabendo-se que Soleimani foi o mais destacado inimigo dessa organização terrorista, tendo as forças iranianas por ele comandadas desempenhado um papel fundamental na derrota do «Estado Islâmico» no Iraque e depois na Síria. 
Fica também tristemente patente a relação de Trump à expressão mais brutal e descarada de «nazi-sionismo», do primeiro-ministro Natanyahu: «o que o primeiro-ministro de Israel deseja, o presidente dos EUA faz».
A guerra de genocídio no Iémene pelos Sauditas e Emiratos, apoiada pelos EUA e pelos seus lacaios, França e Reino Unido, vai tomar uma viragem muito significativa.
O Médio Oriente todo vai entrar numa fase de intensificação dos conflitos, aos quais os regimes clientes dos imperialistas não poderão responder, pois serão os próprios povos a entrar em guerra insurreccional contra os seus governos. 
Muito deste fervor é causado por sentimentos religiosos ou nacionalistas. Mas, na base  estão sentimentos de injustiça, de indignação, perfeitamente compreensíveis por quaisquer humanos. 
Embora o sofrimento de povos inteiros, sujeitos a odiosas campanhas de supressão e mesmo de genocídio, tenha até agora deixado indiferentes as massas ocidentais (Europa e América do Norte), perfeitamente anestesiadas no seu conforto egoísta, este sofrimento não pode deixar de se repercutir na perda total de imagem do Império, visto como aquilo que é, uma besta sanguinária, que nem sequer sabe cuidar dos seus próprios interesses. 
Com efeito, os EUA são a nação excepcional, no sentido de que não têm a mínima preocupação com leis, tratados, acordos internacionais, dos quais são - eles próprios - signatários. 
Julgam-se invencíveis, usando a ameaça da força e a força bruta militar, sempre que acham conveniente e sem dar conta das consequências dos seus actos. 
Destaca-se também como país excepcional, pela indiferença em relação aos seus pobres, aos fracos, até mesmo, no modo como trata os veteranos das suas guerras. 
São um país sem uma diplomacia digna desse nome, por isso mesmo, tido como não credível pelos outros. 
Conforma-se em tudo com a definição de «Estado pária» (rogue State), termo que seus dirigentes inventaram para descrever regimes (como o Iraque de Saddam Husein, a Coreia do Norte,  o Irão, ou outros), que eles derrubaram, ou tentaram derrubar. 
O facto mais importante nesta situação é que o Estado-pária EUA não pode apontar uma arma à cabeça dos regimes Iraniano, Sírio, ou Iraquiano ... Porque agora estes têm meios para resistir e têm o apoio, na retaguarda, da Rússia e da China. 
Estas duas grandes potências vão ganhando terreno em todos os planos: 
- financeiro: o dólar como moeda de reserva está sendo destronado, como se pode ver pela generalizada corrida ao ouro
- diplomático: China e Rússia estão  de boas relações com muitos países, incluindo os da órbita dos EUA e ganham maior simpatia internacional e firmam acordos importantes económica e estrategicamente , cada dia que passa, pela sua política de não ingerência nos assuntos internos dos outros países;
-militar: têm desenvolvido armas com um enorme alcance e não detectáveis pelos dispositivos dos EUA, o que torna os sistemas de armamento dos EUA obsoletos;
- económico: têm crescido em termos de PIB, de exportações e de auto-suficiência e isto tudo, apesar das sanções ilegais e unilaterais a que os EUA os têm sujeitado;
- geo-político: os EUA estão numa postura defensiva (especialmente, depois do assassínio do General Soleimani) enquanto o eixo Russo-Chinês, tem vindo a agregar potências da Ásia Central, na Organização de Cooperação de Xangai.

Como tenho dito noutros artigos neste blog, a besta ferida pode ainda causar muitas mortes, muita devastação, mas já não pode vencer. 
Quando uma grande potência chega ao ponto de cometer actos completamente estúpidos, com efeitos inteiramente negativos para o seu jogo, é sinal de que o fim está próximo.
  

CHIQUINHA GONZAGA - COMPOSITORA BRASILEIRA (1847-1935)

            


Hércules Gomes traz-nos uma famosa obra de compositora imprescindível da cultura lusófona e latina:    Chiquinha Gonzaga (Rio de Janeiro17 de outubro de 1847 — Rio de Janeiro28 de fevereiro de 1935).
As suas músicas fizeram sonhar nossas bisavós e bisavôs, em torno de 1900, para quem o Brasil era a «Terra Prometida», muito mais que a «América»  (... ou seja, os EUA). O público português estava bem ao corrente da vida na «alta sociedade» brasileira, das suas intrigas e paixões, que alimentavam a crónica dos jornais, de lá e de cá. 
Acredito que nos salões de festas de Portugal também se ouviam tais composições, ao som das quais se dançava alegremente, misturando valsas com chorinhos, tangos com lundus e maxixes com polcas!

sábado, 4 de janeiro de 2020

RAPOSAS, LOBOS, CÃES: DOMESTICAÇÃO, GENÉTICA, EVOLUÇÃO



Este vídeo introduz-nos um estudo experimental da evolução. Com efeito, a um nível micro, aquilo que os experimentadores soviéticos fizeram foi realmente acelerar a selecção (artificial, neste caso) de modo a fazer com que prevaleça uma modalidade de comportamento, transportada por um gene ou genes. 
Não podemos reconstruir exactamente as etapas que aconteceram na domesticação das espécies pelo homem há dezenas de milhares de anos, nomeadamente o cão a partir do lobo, mas sabemos hoje como este tipo de processo se pode ter desenrolado, por analogia com a domesticação das raposas. 

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

[Manlio Dinucci] Fogos de artifício de fim de ano: 50 bombas nucleares USA da Turquia para Aviano

                            

Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos
Email: luisavasconcellos2012@gmail.com
Webpage: NO WAR NO NATO

“Cinquenta ogivas nucleares estariam prontas para mudar da base turca de Incirlik, na Anatólia, para a base USAF de Aviano, em Friuli Venezia Giulia, já que os EUA desconfiam cada vez mais da lealdade à NATO do presidente turco Erdogan”: relata a ANSA citando o que foi declarado pelo general aposentado da Força Aérea dos EUA, Chuck Wald, numa entrevista à Bloomberg, em 16 de Novembro. O facto da ANSA e alguns jornais falarem sobre este assunto, mesmo tarde, ainda é positivo. Isto confirma o que il manifesto documentou há muito tempo. "Parece provável - escrevemos em 22 de Outubro (mas a ANSA ignorou a notícia) - que, entre as opções consideradas em Washington, há a transferência de armas nucleares dos EUA da Turquia para outro país mais confiável. Segundo o Atomic Scientists Bulletin (EUA), a base aérea de Aviano pode ser a melhor opção europeia do ponto de vista político, mas provavelmente não tem espaço suficiente para receber todas as armas nucleares da Incirlik. O espaço poderia, no entanto, ser obtido, dado que já havia começado em Aviano, o trabalho de reestruturação para acolher as bombas nucleares B61-12 ».
Baseado no que foi relatado pela ANSA, o coordenador nacional dos Verdes, Angelo Bonelli, pergunta ao governo se confirma a notícia e traz imediatamente o problema à avaliação do Parlamento, pois que a Itália seria “transformada no maior depósito de armas nucleares da Europa e este silêncio do governo italiano é inaceitável”. Na realidade, não é só o governo que está calado, mas o próprio Parlamento, onde a questão das armas nucleares dos EUA em Itália, é tabu. Levantá-la significaria questionar a relação de sujeição da Itália aos Estados Unidos.
Assim, a Itália continua a ser a base avançada das forças nucleares USA. Segundo as últimas estimativas da Federação de Cientistas Americanos, em cada uma das duas bases italianas e nas da Alemanha, Bélgica e Holanda, actualmente existem 20 bombas B61 para um total de 100 mais 50 em Incirlik, na Turquia. No entanto, ninguém pode verificar quantas são na realidade. Das estimativas resulta que os USA estão a diminuir o seu número, o que está longe de ser tranquilizador. Eles estão a preparar-se para substituí-las pelas novas bombas nucleares B61-12. Diferentemente da B61, lançada verticalmente, a B61-12 segue em direcção ao alvo, guiada por um sistema de satélite e também tem a capacidade de penetrar no subsolo, explodindo em profundidade para destruir os bunkers dos centros de comando. O programa do Pentágono planeia, a partir de 2021, construir 500 bombas B61-12 com um custo de aproximadamente 10 biliões de dólares. Não se sabe quantas B61-12 serão instaladas em Itália, nem em que bases, provavelmente não só em Aviano e Ghedi. Como mostra o mesmo anúncio do projecto, publicado pelo Ministério da Defesa, os novos hangares de Ghedi poderão hospedar 30 caças F-35 com 60 bombas nucleares B61-12, o triplo das actuais B-61 (il manifesto, 28 de Novembro de 2017).
Ao mesmo tempo, os USA estão a preparar-se para instalar mísseis nucleares terrestres (entre 500 e 5.500 km) na Itália e em outros países europeus, semelhantes aos Euromísseis eliminados pelo Tratado INF, assinado em 1987 pelos USA e pela URSS. Acusando a Rússia (sem qualquer prova) de tê-lo violado, os USA retiraram-se do Tratado, começando a construir mísseis da categoria proibida: em 18 de Agosto eles testaram um novo míssil de cruzeiro e, em 12 de Dezembro, um novo míssil balístico, este último capaz de atingir o objectivo em poucos minutos. Ao mesmo tempo, estão a fortalecer o “escudo antimísseis” na Europa. Na sua “resposta assimétrica”, a Rússia começa a instalar mísseis hipersónicos que, capazes de atingir uma velocidade de 33.000 km/h e de manobrar, podem perfurar qualquer “escudo”.
A situação em que nos encontramos é, portanto, muito mais perigosa do que demonstra a notícia já alarmante da provável transferência de bombas nucleares USA de Incirlik para Aviano. Nesta situação, domina o silêncio imposto pela vasta coligação política bipartidária responsável pelo facto da Itália, país não nuclear, albergar e estar preparada para usar armas nucleares, violando o Tratado de Não Proliferação que ratificou. Essa responsabilidade torna-se ainda mais grave, pelo facto da Itália, como membro da NATO, se recusar a aderir ao Tratado sobre a Proibição de armas nucleares (Tratado ONU), votado por uma grande maioria da Assembleia Geral das Nações Unidas.

il manifesto, 30 de Dezembro de 2019