terça-feira, 1 de outubro de 2019

VIRAGEM NA GUERRA DO IÉMENE, NÃO FAVORÁVEL À ARÁBIA SAUDITA

*Notícia de última hora - SAUDITAS CAPITULAM, VEJAM:




Muita gente pode ter sido levada a acreditar que os houthis são uma milícia tribal que não possui qualquer sofisticação.  
No Sábado 28 de Setembro, os houthis cancelaram qualquer especulação nesse sentido, ao confirmar aquilo que as pessoas bem informadas já sabiam desde há meses: as tácticas da guerra assimétrica dos houthis conjugadas com as capacidades convencionais do exército iemenita, eram capazes de colocar de joelhos o reino saudita.
Elementos simpatizantes dos huthis dentro da Arábia Saudita – uma importante minoria xiita – desempenharam um papel de reconhecimento e de fornecimento de informações que permitiram que o exército iemenita levasse a cabo complexos ataques com mísseis e com drones. Os golpes certeiros fizeram com que a produção petrolífera do Reino ficasse reduzida a metade, com a ameaça de continuar, alcançando outros alvos, se os sauditas não parassem com o genocídio de população do Iémen.

                      

No Sábado 28, os houthis e o exército iemenita levaram a cabo uma manobra audaciosa, de ataque terrestre, atravessando a fronteira iemenita- saudita. Esta operação envolveu, certamente, elementos complexos, quer de recolha de informação por espionagem, quer de planeamento operacional. Foi muito mais sofisticada do que o ataque à refinaria da Aramco. As reportagens iniciais indicam que as forças sauditas foram atraídas para uma ratoeira, ficando em posições vulneráveis, sendo depois envolvidas por um movimento rápido dentro do território saudita. Os houthis cercaram a vila de Najran e capturaram a maior parte de três brigadas, com milhares de soldados e dúzias de oficiais superiores, assim como numerosos veículos de combate.
A operação em larga escala foi antecedida por uma barragem de tiros de artilharia pelos iemenitas contra o  Aeroporto de Jizan, onde 10 mísseis paralisaram todos os movimentos de partidas e chegadas. Isto fez com que o apoio aéreo às tropas cercadas em Najran fosse impossível.  Os houthis também atingiram o aeroporto internacional de Riade, numa operação que obrigou os helicópteros Apache aí estacionados a fugir da área. As bases vizinhas também foram atingidas, de forma a cortar a possibilidade de reforços e interrompendo a cadeia de comando. Isto levou a uma fuga desorganizada das forças sauditas.
Imagens captadas e exibidas pelos houthis mostram dúzias de veículos tentando fugir e a serem atacados, de ambos os lados da estrada. Este desastre para as forças sauditas, pode ser confirmado pelo número elevado de baixas e pelo número de prisioneiros que foram feitos.  

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A visão de prisioneiros sauditas escoltados por soldados iemenitas para campos de prisioneiros é qualquer coisa que desafia a imaginação. Porém, isto aconteceu e mostra como é frágil um exército muito bem equipado (os sauditas têm o 3º lugar mundial no que toca a despesas de armamento, com 90 biliões de dólares por ano, de orçamento militar) mas confiando apenas nessa suposta superioridade tecnológica.  Os houthis, além de todos acontecimentos acima relatados, conseguiram manter sob controlo mais de 350 quilómetros de território saudita.
As forças houthis usaram drones, mísseis, sistemas anti-aéreos e dispositivos electrónicos capazes de prevenir que os sauditas apoiassem as suas tropas cercadas com aviação ou por outros meios. Os testemunhos de soldados sauditas dão a entender que as tentativas feitas para os socorrer foram feitas sem grande convicção e tiveram pouco efeito. Os prisioneiros de guerra sauditas acusam as chefias militares de terem-nos deixado à mercê dos seus adversários.
Ver também:


BRASSENS - DUAS CANÇÕES MINHAS PREFERIDAS

Há tantas canções do imortal Georges Brassens que poderiam figurar aqui! 
Eu escolhi duas, das que me agradam mais, pessoalmente, pelas suas qualidades poéticas e musicais.


Non, ce n'était pas le radeau
De la Méduse, ce bateau
Qu'on se le dise au fond des ports
Dise au fond des ports
Il naviguait en pèr' peinard
Sur la grand-mare des canards
Et s'app'lait les Copains d'abord
Les Copains d'abord
Ses fluctuat nec mergitur
C'était pas d'la litterature
N'en déplaise aux jeteurs de sort
Aux jeteurs de sort
Son capitaine et ses mat'lots
N'étaient pas des enfants d'salauds
Mais des amis franco de port
Des copains d'abord
C'était pas des amis de luxe
Des petits Castor et Pollux
Des gens de Sodome et Gomorrhe
Sodome et Gomorrhe
C'était pas des amis choisis
Par Montaigne et La Boetie
Sur le ventre ils se tapaient fort
Les copains d'abord
C'était pas des anges non plus
L'Évangile, ils l'avaient pas lu
Mais ils s'aimaient tout's voil's dehors
Tout's voil's dehors
Jean, Pierre, Paul et compagnie
C'était leur seule litanie
Leur Credo, leur Confiteor
Aux copains d'abord
Au moindre coup de Trafalgar
C'est l'amitié qui prenait l'quart
C'est elle qui leur montrait le nord
Leur montrait le nord
Et quand ils étaient en détresse
Qu'leurs bras lançaient des S.O.S.
On aurait dit les sémaphores
Les copains d'abord
Au rendez-vous des bons copains
Y avait pas souvent de lapins
Quand l'un d'entre eux manquait a bord
C'est qu'il était mort
Oui, mais jamais, au grand jamais
Son trou dans l'eau n'se refermait
Cent ans après, coquin de sort
Il manquait encore
Des bateaux j'en ai pris beaucoup
Mais le seul qu'ait tenu le coup
Qui n'ai jamais viré de bord
Mais viré de bord
Naviguait en père peinard
Sur la grand-mare des canards
Et s'app'lait les Copains d'abord
Les Copains d'abord
Des bateaux j'en ai pris beaucoup
Mais le seul qu'ait tenu le coup
Qui n'ai jamais viré de bord
Mais viré de bord
Naviguait en père peinard
Sur la grand-mare des canards
Et s'app'lait les Copains d'abord
Les Copains d'abord




La femme qui possède tout en elle
Pour donner le goût des fêtes charnelles,
La femme qui suscite en nous tant de passion brutale,
La femme est avant tout sentimentale.
Main dans la main les longues promenades,
Les fleurs, les billets doux, les sérénades,
Les crimes, les foli’s que pour ses beaux yeux l'on commet
La transportent, mais...
Refrain :
Quatre-vingt-quinze fois sur cent,
La femme s'emmerde en baisant.
Qu'elle le taise ou le confesse
C'est pas tous les jours qu'on lui déride les fesses.

Les pauvres bougres convaincus
Du contraire sont des cocus.
A l'heure de l'oeuvre de chair
Elle est souvent triste, peuchèr’ !
S'il n'entend le coeur qui bat,
Le corps non plus ne bronche pas.

Sauf quand elle aime un homme avec tendresse,
Toujours sensible alors à ses caresses,
Toujours bien disposé’, toujours encline à s'émouvoir,
Ell’ s'emmerd' sans s'en apercevoir.
Ou quand elle a des besoins tyranniques,
Qu'elle souffre de nymphomani’ chronique,
C'est ell' qui fait alors passer à ses adorateurs
De fichus quarts d'heure.

Quatre-vingt-quinze fois sur cent,
La femme s'emmerde en baisant.
Qu'elle le taise ou le confesse
C'est pas tous les jours qu'on lui déride les fesses.
Les pauvres bougres convaincus
Du contraire sont des cocus.
A l'heure de l'oeuvre de chair
Elle est souvent triste, peuchèr’ !
S'il n'entend le coeur qui bat,
Le corps non plus ne bronche pas.

Les "encore", les "c'est bon", les "continue"
Qu'ell' cri’ pour simuler qu'ell' monte aux nues,
C'est pure charité, les soupirs des anges ne sont
En général que de pieux mensonges.
C'est à seule fin que son partenaire
Se croie un amant extraordinaire,
Que le coq imbécile et prétentieux perché dessus
Ne soit pas déçu.

Quatre-vingt-quinze fois sur cent,
La femme s'emmerde en baisant.
Qu'elle le taise ou le confesse
C'est pas tous les jours qu'on lui déride les fesses.
Les pauvres bougres convaincus
Du contraire sont des cocus.
A l'heure de l'oeuvre de chair
Elle est souvent triste, peuchèr’ !
S'il n'entend le coeur qui bat,
Le corps non plus ne bronche pas.

J'entends aller bon train les commentaires
De ceux qui font des châteaux à Cythère :
"C'est parce que tu n'es qu'un malhabile, un maladroit,
Qu'elle conserve toujours son sang-froid."
Peut-être, mais si les assauts vous pèsent
De ces petits m'as-tu-vu-quand-je-baise,
Mesdam’s, en vous laissant manger le plaisir sur le dos,
Chantez in petto...

Quatre-vingt-quinze fois sur cent,
La femme s'emmerde en baisant.
Qu'elle le taise ou le confesse
C'est pas tous les jours qu'on lui déride les fesses.
Les pauvres bougres convaincus
Du contraire sont des cocus.
A l'heure de l'oeuvre de chair
Elle est souvent triste, peuchèr’ !
S'il n'entend le coeur qui bat,
Le corps non plus ne bronche pas.


segunda-feira, 30 de setembro de 2019

A DESDOLARIZAÇÃO JÁ TEM EFEITOS TANGÍVEIS

                


Que relação poderá existir entre:
- a recente crise de liquidez no mercado «ovenight» ou REPO* que obrigou a intervenção da FED, acorrendo com centenas de biliões, para garantir que este mercado se mantinha líquido,
- a intensa venda de treasuries (obrigações do tesouro americano) por parte de competidores mundiais dos EUA, como Rússia e China, 
- a aceitação de moedas outras que não o dólar em pagamento do petróleo, por vários países, incluindo certos emiratos do Golfo
-  a existência de uma indústria do petróleo e gás de xisto nos EUA, cuja produção actual ultrapassa a da Arábia Saudita, mas que tem um défice estrutural, pois a obtenção de cada litro desse petróleo faz-se com prejuízo em dólares, apenas colmatado com o constante bombear de dinheiro por Wall Street

Bem, tudo o que está descrito acima tem-se verificado, significando que o petro-dólar está nas suas últimas. Significa também que não tardará o dia em que os produtores de matérias-primas e de produtos industriais torcerão o nariz a pagamentos em dólares e dirão «não aceitamos pagamento com dólares US».
Para que funcione o sistema do petro-dólar, o qual é o fundamento do domínio financeiro dos EUA sobre o mundo, é necessário que haja uma constante demanda de dólares nos mercados. É assim que o dólar mantém a sua cotação, é assim que existem compradores para as obrigações do tesouro denominadas em dólares, etc. 
O sistema do petro-dólar tem funcionado, visto que há uma demanda constante no comércio internacional, nomeadamente por causa da exclusividade de cotação em dólares do petróleo (acordo de 1973 entre Nixon/Kissinger e Arábia Saudita, depois alargado a toda a OPEP).
Mas, ultimamente,  vimos a Rússia desfazer-se das suas reservas, sob forma de «treasuries» (obrigações do tesouro USA), vimos alguns produtores importantes de petróleo como o Irão, a Venezuela e a Rússia a aceitarem outras divisas - que não o dólar - em pagamento do seu «crude». 
Vemos também que a desconfiança de muitos investidores, incluindo gestores de fundos bilionários, em relação ao sistema do dólar tem aumentado e se exprime na compra (publicitada) de ouro e metais preciosos, com o objectivo de salvaguardar valor do capital, em face da crise sistémica vindoura, anunciada por muitos.
Por outro lado, a grande banca, sobretudo nos EUA, está realmente em grandes dificuldades, pois não consegue já ocultar que a sua rentabilidade mergulhou, que está cada vez mais exposta a investimentos tóxicos, nos quais se incluem os derivados, assim como outros investimentos não rentáveis. 
Entre estes, encontra-se a indústria do «fracking». Desde o primeiro dia desta indústria, o seu funcionamento e viabilidade dependia, não tanto da cotação do barril de petróleo ao nível internacional, como da capacidade dos bancos e entidades financeiras, atraírem dinheiro para a financiar. 
Assim, os pequenos investidores e os investidores institucionais (como seguradoras, fundos de pensões, etc...) foram atraídos a investirem numa indústria que nunca foi rentável, que acumulou sempre perdas. No final, os pequenos vão ficar «depenados», salvando-se os grandes magnates...  
Se a FED e o Tesouro (através do seu fundo financeiro de intervenção) precisam de intervir, baixando as taxas de juro, «imprimindo» dólares, comprando «treasuries», isto vai, obviamente, no sentido de aumentar a quantidade de dólares em circulação. Estes dólares não causam inflação, porque são «enterrados» em dois grandes «poços de dinheiro»: 
- as indústrias bélicas e as guerras, directamente ou por intermediários, pelo mundo fora.
- a indústria do fracking nos EUA, que dá a ilusão de uma grande autonomia energética, mas é sustentada de forma artificial pelo constante colectar de «capital fresco», junto dos investidores que procuram uma maior rendibilidade, a todo o custo**.

Por um lado, o dólar não pode estar em excesso nos mercados mundiais, senão ele vai perder cotação, face a outras moedas e face ao ouro.  
Mas, por outro lado, não podem os bancos (nomeadamente os grandes, que estão no centro do mercado REPO ou «overnight») ficar com falta de liquidez. 
A subida dos juros do «overnight» (nalguns casos, atingiu os 10%, quando o valor «normal» era em torno dos 2%) assinala ao mundo que é difícil obter financiamento, que há falta de liquidez (como aconteceu no desencadear da crise de 2007/2008). 
Daí a injecção de centenas de biliões nesse mercado, por parte da FED. Agora, a FED quer servir-se do pretexto de assegurar a liquidez no mercado REPO, para fazer novo QE (Quantative easing) envergonhado.

Esta «engenharia financeira» global, apenas pode funcionar por algum tempo. 
Assim que existam alternativas viáveis ao dólar, tais como as notas de crédito para pagamento de combustíveis em Yuan, é só uma questão de tempo até o mundo reconhecer que o sistema do dólar já não oferece nenhuma garantia, porque seu valor é mantido artificialmente. 
A força bruta, o poder militar, não podem estar em todo o lado, simultaneamente e em força. 
Não pode o Império do Dólar coagir tudo e todos a usarem a sua moeda, quase em exclusivo, nas relações comerciais e financeiras internacionais, como aconteceu no passado, durante largas décadas, nem manter uma hiper-valorização artificial dos «bonds» americanos, com rentabilidade bem acima das dos bonds de  muitos países, cujas obrigações soberanas oferecem um juro menor e, portanto, são menos atraentes para os investidores.
É só uma questão de tempo, até o império do dólar se desmoronar**. 
Pode ser uma experiência muito dolorosa para o mundo, pois os EUA têm tido a habilidade de «exportar» a sua crise para outros parceiros, nomeadamente, o Japão e a UE. 
Outros países, ditos em desenvolvimento, poderão ficar com as suas economias seriamente afectadas. Por exemplo, muitos países endividaram-se em dólares quando o juro dessa dívida era mais atraente e sobretudo  quando o dólar estava «barato» em relação a outras divisas. Depois, o dólar subiu e manteve-se alto, o que obrigou esses países a fazer um esforço maior no pagamento dos juros e do capital em dívida. 

Penso que os bancos centrais de muitas regiões do mundo, não apenas das «super-potências competidoras» China e Rússia, mas também de muitos outros países, incluindo aliados dos EUA, estão a tomar precauções face a uma enorme crise financeira, que está à vista. 
Não é por acaso que os bancos centrais de vários países  alinhados com os EUA e membros da NATO, como a Turquia ou a Polónia, estão a comprar grandes quantidades de ouro; é porque vêem «o que está escrito na parede»...
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Notas:

* O «REPO» é um mercado de empréstimo dos bancos entre si, de curta duração (por isso o termo overnight): um banco pode precisar de liquidez momentaneamente, sendo normalmente oferecido (a juro baixo) o empréstimo necessário, mediante colateral. Este normalmente, o colateral é sob forma de algo com cotação «triplo A» como obrigações do tesouro dos EUA ou equivalente...

**Ler W. Engdahl «The New American Oil Empire Built on Sand» em: 

*** Para maior esclarecimento, pode-se consultar o recente vídeo de entrevista de Greg Hunter a Rob Kirby: 
https://www.youtube.com/watch?v=xAF6_9_WS8g&t=1227s

domingo, 29 de setembro de 2019

«ENERGIAS RENOVÁVEIS» E MILHÕES DE AVES MORTAS


Este vídeo intitula-se Máquinas «verdes» de morte: a destruição causada por energias «renováveis», à Vida Animal e Natureza.
Neste pequeno vídeo, além das imagens impressionantes de aves e morcegos mortos pelas eólicas, as florestas naturais arrasadas e substituídas por plantações para produção de biocombustível, vemos como certas ONGs ambientais foram cooptadas pelo lóbi da «energia verde»: estas participam na campanha de imagem das chamadas energias renováveis, uma ocultação intencional dos problemas graves que se levantam, em termos ecológicos e de conservação.

sábado, 28 de setembro de 2019

REFLEXÃO: NEO-COLONIALISMO NO SÉCULO XXI

                        Mobutu Sese Seko and Richard Nixon in Washington DC in October 1973
Imagem: Mobutu Sese Seko encontra-se com Richard Nixon em Washington, em 1973 

Quando nos debruçamos sobre a História mundial do século XX e nos deparamos com a época das independências das colónias, que os vários poderes imperialistas europeus possuíam e cuja exploração permitiu grande parte do excedente para a construção da sociedade da abundância na Europa, devemos analisar como esses colonialismos (Britânico, Francês, Português, Belga...) se transmutaram em sociedades neo-coloniais, em que a estrutura da economia, baseada na extracção e exportação de matérias-primas, se manteve, quase sempre na posse dos mesmos poderosos grupos industriais. Mesmo nos casos em que houve nacionalizações, a estrutura dos mercados era tal, que as produções dos países ex-coloniais eram fundamentalmente para um mercado mundial, controlado pelos mesmos poderes da era colonial. 
Por outro lado, as instâncias políticas presentes nos mais diversos países, embora fossem de aparente cariz anti-colonial, eram muitas vezes complacentes com a continuação do estado de coisas anterior, a troco de situação de privilégio para si próprias. 
Isto podia ir até ao ponto de países ex-colonizadores irem defender militarmente os governantes (em geral, ditatoriais) contra todas as ameaças «terroristas» que eles tivessem de enfrentar. 
No presente século, as situações neo-coloniais, em África, Médio-Oriente, Ásia do Sul e América Central e do Sul, não evoluíram globalmente para uma maior autonomia, capacidade de desenvolvimento baseado nos próprios recursos, construção de Estados e modos de governar próprios. 
O «Ocidente» continua impiedosamente a esmagar as populações, sob as ditaduras locais:
 - As matérias-primas continuam a ser arrancadas a baixo custo, para depois serem colocadas nos mercados mundiais com lucros colossais, essencialmente fora do controlo das entidades nacionais dos países de onde provieram. 
- As fábricas, com as condições de trabalho mais duras e os salários mais irrisórios, continuam situadas nos mesmos pontos do globo, permitindo que multinacionais obtenham lucros por essa exploração impiedosa, essencial para os seus modelos de negócio, quer se trate de confecções, micro-electrónica, agricultura de exportação, ou até, de serviços como «tele-marketing»- deslocalizados da Europa e América do Norte. 
- Os exércitos da NATO, com ou sem cobertura das Nações Unidas, auto-instituem-se como «polícia mundial», mesmo que as pessoas que vivem nos países «policiados» (Afeganistão, vários países africanos) não tenham pedido esse «policiamento», nem o desejem e gostariam de ver pelas costas esses exércitos internacionais, que vêm manter «a ordem» isto é, um governo corrupto e submisso aos poderes globais, quer na forma de Estados, quer dos grandes grupos corporativos que os controlam (as indústrias do petróleo, a grande finança, as indústrias de armamentos, etc.).

É portanto muito importante, fundamental mesmo, para o capitalismo globalizado de hoje, a manutenção deste conjunto de relações neo-coloniais. Sem ele, certamente, o bem-estar material das populações da Europa e da América do Norte, não teria o mesmo nível. Sobretudo, os lucros das grandes corporações não poderiam ser tão elevados. 
É precisamente este o ângulo que é «omitido» em todas as análises sobre a One Belt One Road (OBOR) da China, que tenho lido na media ocidental corporativa. 
Se o aparato ideológico do «Ocidente» se atira contra a iniciativa de «One Belt One Road», que a China lançou há cerca de 6 anos, é porque ela está sendo - no geral - bem sucedida, com adesão de muitos países (mais de 60), com estatuto de «desenvolvidos» ou de «em desenvolvimento», nos quatro continentes. 
Em desespero, o Império dos EUA tem feito soar os tambores da guerra, quer contra a China, quer contra a Rússia, multiplicado as sanções económicas, os boicotes, as ameaças, não apenas a estes dois gigantes, mas também a outros, seus aliados ou apenas seus parceiros comerciais. 
Nisto, podemos ver o desespero dum animal ferido de morte, que tenta - em vão - virar o sentido da História. Eles, dirigentes e ideólogos do globalismo sabem, melhor que ninguém, que não há futuro para um monopólio mundial do poder, uma hegemonia duma só potência sobre todas as outras. Mas pensam, erroneamente, poder atrasar a vinda desse momento, em que a Terra será de novo um planeta com muitos e diversos conjuntos de nações, com alianças diversas e com múltiplos laços de comércio, com interesses variados partilhados, sem que nenhum esteja em posição de ditar ao mundo inteiro a «sua verdade de nação excepcional». 

Nada poderá atrasar uma força irresistível e que vem do fundo de nós todos, de cada pessoa individual e dos grupos humanos, dos povos, das civilizações mundializadas. Pois trata-se de uma profunda aspiração a maior autonomia, à auto-determinação das nossas vidas, ao desenvolvimento das nossas economias, das nossas culturas, numa grande diversidade, com entendimento fundamental e com respeito mútuo entre todos. 
Só nesse momento, quando houver uma real igualdade de acesso das pessoas à educação, à cultura e uma igualdade de acesso dos países às trocas, ao comércio internacional, no respeito e interesse mútuo, poderemos dizer que ultrapassámos - enquanto Humanidade - a era colonial e seu prolongamento, o neo-colonialismo.

sexta-feira, 27 de setembro de 2019

QUAIS OS PAÍSES COM MAIOR (E MENOR) CONTRIBUIÇÃO PARA ORÇAMENTO DA UNIÃO EUROPEIA?

Veja, no infográfico abaixo, as diversas contribuições para a UE.

Nota-se também que o nível de confiança - no conjunto da UE - sobre a própria UE, é muito baixo (somente 44% que confiam, para 46% que não confiam).

https://www.zerohedge.com/s3/files/inline-images/eu-budget-chart.png?itok=BnxHlSL7




quarta-feira, 25 de setembro de 2019

AS PSEUDO-POLÉMICAS SOBRE O SALAZARISMO

                                       
                  [imagem: a «sopa do Sidónio» ou sopa dos pobres, nos anos 40 em Portugal]

A discussão sobre o fascismo (48 anos da nossa história!) não deve cingir-se a como foi mau, cruel, etc... foi! Isso é um facto, mas o problema de se voltar sempre À QUESTÃO DA BRUTALIDADE DO REGIME, é que a discussão mais importante para o presente e para o futuro não é feita. É iludida!
Os que se dizem patriotas ou nacionalistas e têm veneração saudosista pela época salazarista, têm uma enorme desinformação, pelo menos alguns terão. 
Por outro lado, as pessoas ditas anti-fascistas, são-no sobretudo com «as tripas». Muito bem, mas não chega, é preciso pensar este regime. 

Em primeiro lugar, Salazar não foi nacionalista, em nenhum sentido real do termo. Porque foi nacionalista, só no discurso. Ele queria agradar a um republicanismo de direita, nacionalista, que aceitou o regime, sem no entanto abraçar o seu «corporativismo».  O «nacionalismo»


de Salazar consistiu em obter concessões políticas, diplomáticas e outras da Grã-Bretanha (então o império dominante, não esqueçamos) para consolidar o seu regime, a troco de oferecer as empresas mais rentáveis (na altura) a Carris, os Telefones, etc... à exploração por empresas britânicas. 
Depois, com a IIª  Guerra mundial, inicialmente a sorte das armas parecendo estar do lado das potências do Eixo (Alemanha, Itália, Japão e outros) foi entregar o melhor que tinha aos alemães nazis, mantendo este país numa falsa neutralidade. 
Quando os ventos mudaram de novo, foi entregar as bases dos Açores aos ingleses e americanos... Assim, conseguiu que Portugal entrasse na OTAN (NATO) etc, etc... 
Reparem: todas estas reviravoltas e importantes concessões, foram de grande significado, na época, para os imperialismos dominantes. Salazar e toda a «elite» fascista, sabiam-no perfeitamente. 
Sabiam que estavam a oferecer os melhores «bocados» de Portugal, a troco da sua impunidade pessoal e do regime, que estivera completamente alinhado com o fascismo de Franco e também, desde sua ascensão ao poder, até pouco antes do final da Guerra, com os regimes fascista italiano e nazista alemão. 
Tudo isso foi feito em nome duma suposta «luta contra o comunismo», em defesa da democracia (sic!). A fantochada sangrenta continuou até ao 25 de Abril de 74.
Nas colónias, o sangue dos soldados portugueses foi derramado totalmente em vão e foi uma traição directa também a eles, pois os chefes sabiam a impossibilidade de ser ganha uma guerra destas, do lado português. 
Os portugueses estiveram em África como lacaios dos anglo-americanos e outros (franceses, belgas, etc) que exploraram o que havia de melhor no império colonial português africano (Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné, São Tomé e Príncipe), sem os custos associados, de seus respectivos países terem de «manter a ordem» e «combater os terroristas»... 
 Isto são factos, não são opiniões. Isso é que deveria ser realmente debatido, para desfazer o mito do fascismo e salazarismo, como expoentes de «nacionalismo»!

Que pena os anti-fascistas não verem que este ângulo de crítica é aquele que pode ter maior eficácia! É preciso conhecer (e debater) as questões económicas, políticas, geo-estratégicas, etc. subjacentes. 
As torturas da PIDE não se tornariam menos monstruosas; nem, tão-pouco, o atraso em que as populações foram mantidas. 
Mas, se o discurso polémico fosse centrado no interesse global do país, ao longo destas décadas, compreendia-se que o fascismo foi apenas uma capa para a oligarquia, que nunca houve nesta um autêntico sentido de defesa nacional. 
Ao ser confrontado com os dados concretos, desde a história económica à diplomática, passando pela história social... nenhum investigador sério poderá passar ao lado da óbvia questão: será que o regime instaurado por Salazar e seus defensores merece o adjectivo de «nacionalista»?