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sexta-feira, 21 de abril de 2017

CIÊNCIA, RELIGIÃO, ESPIRITUALIDADE, ÉTICA

                                 



Este cientista tem uma abordagem de bom senso, mas de um bom senso que não vai tão longe como isso. Quando fala da impossibilidade de se solucionar o «porquê», mas apenas o «como» dos fenómenos, através da ciência, está a ser correcto.
Porém, a existência de um espírito cósmico é vista com relutância por uma série de pessoas imbuídas de cientismo, talvez mais do que de ciência propriamente dita. O facto é que o célebre teorema de Goedel implica que não possamos abarcar nunca o todo para o submeter à lei de um sub-conjunto, seja ele qual for.
A ciência é um instrumento precioso, mas não é uma chave de sabedoria.
A sabedoria tem como fundamento o «coração», a ciência tem como fundamento a «razão». Quando a razão se junta com desejo de poder, transforma-se numa mistura muito perigosa e instável, dando origem às derivas mais obscuras da história humana.
Só enunciarei algumas delas (cada uma necessitaria de uma longa explanação):

- J. Robert Openheimer, um dos pais da bomba A, suicidou-se cheio de remorsos pelo monstro que ajudou a criar. Com efeito, muitos cientistas envolvidos em torno do Manhattan project consideravam como um dever patriótico desenvolver essa bomba, até porque havia indicações da espionagem (erradas ou sobrevalorizadas como depois se verificou) de avanços significativos dos cientistas alemães nazis neste domínio, de controlarem o átomo para fabricarem a bomba atómica.

- O darwinismo foi distorcido e transformado em «argumento» para justificar duas teorias monstruosas, o racismo e arianismo dos nazis, o lyssenkismo na URSS do tempo de Estaline.

- A eugenia é uma teoria racista que foi originada por Galton (sobrinho de Darwin) e que tem feito muito mal, inspirado muitos programas nefastos, desde esterilizações em massa de vários povos, até à promoção das guerras em que uma parte da humanidade contemporânea está mergulhada.

Poderia continuar com uma infindade de factos, por todos os investigadores consensualmente aceites, nomeadamente com a utilização de saberes das ciências e técnicas, para cometer depredações ou crimes ecológicos extremamente graves para o presente e futuro da humanidade...

O meu argumento é de que a ciência é um instrumento, podendo ser empregue para o bem ou para o mal, consoante as mãos nas quais esteja.
Isto sempre foi compreendido pelos cientistas, eles próprios. Por exemplo, Leonardo da Vinci escrevia os seus textos, suas notas para estricto uso pessoal, numa escrita indecifrável (excepto para ele). Era afinal a imagem em espelho da escrita vulgar, que ele treinou, provavelmente desde muito jovem, como «canhoto» que era. Os célebres manuscritos de Da Vinci só foram reconhecidos plenamente no seu enorme significado científico e filosófico, muito recentemente, em pleno século XX!

A não conflitualidade da pesquisa científica e dos seus conceitos e teorias com a religião foi reconhecida pelo papa João Paulo II. Ele, evidentemente, procedeu ao «aggiornamento» indispensável para manter a influência do catolicismo na intelectualidade esclarecida da sua/nossa época.
Do lado do ateísmo, Michel Onfray por exemplo, afirma sem qualquer problema que - apesar de ateu - ele (e muitos outros) é culturamente cristão, o que é uma evidência, não apenas pela educação, mas também pelo facto de que praticamente todas as teorias sociais e políticas contemporâneas (republicanismo, democratismo, socialismo, comunismo, anarquismo...) serem afinal laicizações do cristianismo. Esta constatação, que poderá surpreender alguns, teria de ser desenvolvida por si só num artigo ou numa série de artigos...

Mas o mais interessante, no meu ponto de vista, é que se afastem falsos argumentos:

- Uns, imbuídos do prestígio «mágico» do cientismo, usam abusivamente o nome de «ciência».

Já ouviram, com certeza, pessoas a falar do que em geral NÃO SABEM: costumam dizer, doutoralmente: «a ciência prova que...» ora a ciência nunca provou, nem prova nada, como dizia Bateson*; as ciências físicas e naturais não são como a matemática em que, aí sim, existe prova, ainda que esteja subordinada a um conjunto de axiomas (ex.: a geometria mais corrente é euclidiana; porém não tem cabimento num contexto riemanniano).

- Outros, temerosos da ciência, combatem-na em nome duma «fé», não compreendendo que a sua fé só pode ganhar com um aprofundamento do conhecimento do Universo, ou seja, de Deus.

Segundo uma visão muito consensual em várias religiões, não se pode ter uma compreensão total, nunca, do que está para além da compreensão racional, seja qual for o estado da ciência ou do desenvolvimento tecnológico humano. Porém, se essa «fé» é temerosa da ciência enquanto método de conhecimento do real, é apenas um medo, uma ignorância. Talvez essas pessoas precisem de ter mais fé, para que ela não seja abalada pelo tipo de estudo realizado no âmbito da pesquisa científica.

Isto não significa que não se coloquem limites éticos à pesquisa científica. A procura da verdade, em si mesma, não deve ser vista como um absoluto. Praticamente todos os cientistas e filósofos, quer sejam ateus, ou possuíndo alguma forma de espiritualidade, entendem que devem existir limites éticos a essa pesquisa científica, podem é não estar de acordo no traçado das fronteiras.

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Science sometimes improves hypothesis and sometimes disproves them. But proof would be another matter and perhaps never occurs except in the realms of totally abstract tautology. We can sometimes say that if such and such abstract suppositions or postulates are given, then such and such abstract suppositions or postulates are given, then such and such must follow absolutely. But the truth about what can be perceived or arrived at by induction from perception is something else again.
  • p. 27