sexta-feira, 10 de outubro de 2025

COMO É QUE PORTUGAL NÃO FOI ABSORVIDO PELA ESPANHA

 Na realidade, esta questão é um bocado misteriosa para mim, que não sou historiador e tenho ideias demasiado esquemáticas do que foi o Condado Portucalense e todas as relações entre famílias reinantes, de Portugal, Castela e restantes reinos ibéricos, que tanta influência tiveram na evolução da geografia política da Península Ibérica. 

O que me apraz sublinhar é que o estado de guerra não era de todo o mais comum entre os reinos vizinhos de Portugal e Castela. Antes pelo contrário, as casas reais estavam aparentadas por uma série de casamentos entre príncipes dos dois reinos, forma como eram seladas ou consolidadas as alianças, nessa época.  Apenas uma visão maniqueísta coloca os dois reinos ibéricos em contenda permanente. 

Lembremos que o grande período de hostilidade aconteceu no final do Séc. XVI, quando o rei D. Sebastião de Portugal morreu em combate na batalha de Alcãcer Quibir (Marrocos) e foi sucedido pelo Cardeal D. Henrique, o qual não possuía descendência. 

As cortes estabeleceram que o legítimo herdeiro do trono era Felipe IIº de Espanha, tendo os seus exércitos invadido Portugal e derrotado uma fraca resistência militar, fiel ao candidato português ao trono (D. António Prior do Crato, «bastardo» real) e durante 60 anos foi o domínio dos Felipes na coroa de Portugal, não fusionada com a de Espanha, mas mantidos os dois reinos separados, com à cabeça, o mesmo monarca. 

Esta situação agradava a uma parte da aristocracia portuguesa. Por isso não houve grande resistência em Portugal durante a maior parte do período. Foi devido a uma série de acasos felizes que a conjura de 1ª de Dezembro de 1640 teve sucesso. Um facto importante, foi que o exército castelhano estava ocupado - nesse preciso momento  - a reprimir uma insurreição na Catalunha. Esta foi um fracasso, mas o resultado foi que, entretanto, Portugal sob o novo monarca, D. João IV,  teve tempo de organizar um exército próprio e fazer face às incursões espanholas. A guerra «de baixa intensidade» que se seguiu, durou bem até ao reinado de D. João V. Só no reindao deste, houve um tratado de paz com o rei de Espanha, da dinastia Bourbon. Nesta ocasião, foi celebrado o casamento entre o monarca espanhol e D. Maria Bárbara de Bragança princesa real, que se tornou assim Rainha de Espanha. 

Não foi o final das discórdias entre os reinos ibéricos. Lembro que houve combates na América do Sul por causa da delimitação dos territórios das colónias pertencentes a Espanha e a Portugal. Posteriormente, em 1801, na «Guerra das Laranjas» Portugal foi invadido por um exército espanhol, por iniciativa de Godoy, primeiro-ministo e nas boas graças do Consul vitalício, Napoleão Bonaparte.  

Durante a terrível guerra civil espanhola (1936-39), participaram forças portuguesas, de um lado e do outro: são conhecidas participações diretas de comunistas e de anarquistas nas milícias republicanas; do lado falangista, também houve voluntários. Esta guerra ocorreu já durante a ditadura de Salazar (1930-1966). Ele e o seu regime eram totalmente favoráveis aos insurrectos comandados por Franco. Quando algum «rojo» atravessava a fronteira para Portugal, era quase certo que seria apanhado, entregue aos falangistas e executado.  

No período pós-25 de Abril de 74, houve grupos (ELP, MDLP) de portugueses contra-revolucionários (grupos armados, praticando atos terroristas)  que se acolheram em Espanha, onde ainda vigorava o regime falangista. 

Mais, tarde, aquando da adesão de Portugal e Espanha à então CEE, havia um certo preconceito dos eurocratas e dos principais países membros formando então «o Mercado Comum», em colocar Portugal e Espanha «no mesmo barco». Isto porque viam uma maior vantagem na adesão da Espanha com a indústria, agricultura e as relações com a América-Latina. 

Porém, acabaram por encontrar uma fórmula, em que Portugal (o que nele possuía maior potencial) foi entregue como «prenda de noivado» ao país vizinho. Os espanhoís puderam desenvolver em Portugal uma estratégia agressiva de aquisições em vários sectores, na indústria, nas pescas, no imobiliário, etc. O resultado foi uma ainda maior «terceiro-mundialização» de Portugal, como se pode verificar até hoje. 

Nos períodos em que Portugal fez face a Espanha, em geral, tinha o apoio duma grande potência, como o Reino Unido ou a França. Também nestas circunstâncias, Portugal teve de ceder muito, não só no seu império colonial, como em relação ao comércio da metrópole: por exemplo, os britânicos conseguiram obter exportações em exclusivo de uma série de artigos para o Reino lusitano  e obtiveram o exclusivo do cultivo e exportação dos vinhos do Porto, da transformação das lãs da Covilhã, etc. 

Pode dizer-se que o Portugal do século XVIII já tinha características de neocolónia, embora fosse - ele próprio - um império colonial. Mas o colonialismo português foi, quase sempre, subordinado a interesses estrangeiros até ao final do período colonial. Com efeito, eram numerosos os empreendimentos agrícolas, industriais e mineiros, nas colónias portuguesas, entregues a parceiros da OTAN (EUA, Reino Unido, França, Bélgica...). Também na metrópole,  durante o período da ditadura de Salazar, as grandes empresas com lucros assegurados eram britânicas, alemãs, estado-unidenses, francesas e doutros países. 

O regime de Salazar e Caetano oferecia as bases estratégicas (dos Açores, de Beja, e outras) às forças armadas de países da OTAN. Estas, tinham, graças a estas bases,  a possibilidade da aviação alcançar pontos estratégicos no Médio Oriente. Em contrapartida, recebia apoio diplomático na ONU e noutras instâncias, assim como armamento.

As armas, aviões, carros de combate, etc. fornecidos, eram muitas vezes em segunda mão ou modelos que já não eram usados pelos países doadores (por exemplo, aviões da guerra da Coreia, dados pelos americanos). 

As guerras, no fim do período colonial, foram guerras «proxi», em que os soldados eram portugueses, mas a grande maioria do equipamento provinha de aliados da OTAN. Quanto aos interesses defendidos, estes eram claramente os dos grandes empórios estrangeiros e da política hegemónica dos EUA, em confronto com o campo socialista e os movimentos anti-coloniais. 

Portugal, em conclusão, é um país muito dependente, quer dos seus parceiros da UE, quer dos seus aliados mais fortes da OTAN.

quarta-feira, 8 de outubro de 2025

REINICIALIZAÇÃO SERÁ ORIENTADA PARA EXTRAIR RIQUEZA DAS PESSOAS!

 Reinicialização (reset em inglês):  o termo escolhido pelos globalistas para a tomada de controlo financeiro e monetário  em todos os países.  Através destas alavancas (controlo do dinheiro digitalizado e controlo dos cidadãos através da vigilância 24/24) e usando os Bancos Centrais, os bancos comerciais e os Estados, eles procuram obter um controlo a 100% da população. 

                                    https://youtu.be/pukTTXAmENA?si=zFIrZbkhHmlywvZi



terça-feira, 7 de outubro de 2025

GAZA: AS MENTIRAS PROPALADAS PARA ENCOBRIR O CRIME DE GENOCÍDIO


 Escutei várias vezes com atenção este vídeo do «Le Quotidien Global». No seu conteúdo, este relato é dos mais objetivos que tenho até agora ouvido sobre Gaza, a Palestina, Israel, o regime de Netanyahu. Também é notório que os poderes ocidentais, foram apoiantes ativos, sobretudo EUA e Reino Unido, da campanha de terror contra civis, desde o primeiro momento. 

Quando se faz a apologia da ação militar de Israel em Gaza, está-se a criar clima favorável a todos os atos que depois cometeu. Seus apoiantes, chefes de Estado e governo, de vários países ocidentais deveriam também ter um lugar reservado no banco dos reús, no Tribunal Penal Internacional.

Quando a media corporativa perpetua as mentiras típicas da propaganda de guerra e não faz nenhum esforço para desfazer aquilo que propalou, sabemos que a sua missão deixou de ser (há muito tempo, na verdade) de divulgar as notícias o mais próximo possível da realidade e de modo objetivo, neutral, não enviesado.

Ás numerosas pessoas que há dois anos me diziam que o Hamas tinha cometido atrocidades, eu respondia que a saída de 7 de Outubro para fora da prisão de Gaza, FOI UM ATO MILITAR  e que numa circunstância assim, os militantes palestinianos tinham que se preocupar - em exclusivo - em neutralizar as forças inimigas da IDF (forças armadas de Israel) que mantinham o cerco da Faixa de Gaza. 

As barbaridades atribuídas aos gerrilheiros palestinianos eram construções da propaganda sionista, destinada a virar a opinião pública mundial contra os palestinianos. Compreendi logo isso e depois veio a ser confirmado plenamente, com provas irrefutáveis. 

De facto, os objetivos mais importantes da operação da resistência palestiniana foram alcançados. Mostraram que Israel (o seu governo, as suas forças armadas) era opressor, sem qualquer preocupação com os aspectos humanitários, com prazer sádico em matar e humilhar uma população indefesa. 

O objetivo declarado pelo governo de Netanyahu de «liquidar o Hamas», não apenas não foi conseguido, como a posição do Hamas se fortificou no seio do povo palestiniano, como também a nível internacional. Além disso, a questão do estatuto da Palestina enquanto Estado independente, nunca se colocou com tanta força como agora. 

Não sei, evidentemente, o que o futuro trará, mas creio que é importante que Gaza fique como símbolo da barbárie contra um povo indefeso e que resiste desde 1948. 

Com efeito, foi vítima da histórica injustiça que lhe foi feita, quando a ONU reconheceu o Estado de Israel e deixou «no vácuo» a questão do reconhecimento dos territórios palestinanos, conforme prometido, enquanto território nacional dos palestinianos.

O 7 de Outubro de 2023 será lembrado como um gesto de libertação, de coragem dos resistentes, não apenas do Hamas, como doutras organizações da Resistência palestiniana. 

A resistência de todo um povo - os palestinianos de Gaza e dos restantes territórios - ficou demonstrada. Os habitantes de Gaza recusaram abandonar a cidade que tinha sido transformada em ruínas, assim como todas as infraestruturas e recursos (hospitais, escolas, mesquitas, igrejas cristãs, etc), intencionalmente bombardeadas e demolidas pelos  israelitas.

É terrível o peso que devem sentir muitos judeus, pelo mundo fora, perante a perpetuação de crimes em massa, que só têm paralelo no horror e desumanização que os nazis fizeram ao povo judeu, logo em 1933, mas que se foi intensificando como morticínio em massa, nos finais da IIª Guerra Mundial. 

Mas, o sofrimento da população palestiniana durante estes anos todos, desde antes da implantação do Estado de Israel, deveria ensinar a todos que não se pode aceitar um Estado étnico (um Estado que apenas reconheça como cidadãos de pleno direito os de uma dada etnia) e/ou um Estado com religião oficial (em que é crime criticar a religião e onde as leis são moldadas para se conformar com um credo religioso), nem um Estado que discrimine como não-cidadãos quem aí vive desde há séculos e séculos. Chama-se neste último caso, «apartheid», nome dado ao regime de segregação racial promovido pelos brancos na África do Sul, que só acabou na década de 1980.

Não tenho nenhuma compaixão pelos sionistas e seus comparsas: andaram a atear campanhas de ódio, de propaganda do mais vil conteúdo, para «justificar» os horrores cometidos quotidianamente, nestes dois anos de matança. Não chamo a isto «guerra», pois os alvos principais dos sionistas eram civis e os palestinianos resistentes armados, não tinham meios para contrariar, de modo eficaz, os atos do exército inimigo.

O meu horror e tristeza não ficam confinados ao regime monstruoso de Netanyahu e seus apoiantes internos e externos: 

É que nós temos vivido numa bolha de ilusões, nos regimes ocidentais, de «democracia liberal»; de que estes tinham valores e que os assumiam. Não! Apenas usaram, durante mais de um século, uma «indignação» fabricada, para lançar campanhas contra seus opositores, encobrindo os crimes deles próprios contra forças anti-coloniais, anti-capitalistas, pró-socialismo, pró-autodeterminação, que surgiram neste século e meio, em todos os continentes e nos países-sedes coloniais e imperiais. 



domingo, 5 de outubro de 2025

«CLAIR DE LUNE» DE CLAUDE DEBUSSY (+ Recordação de infância)

EVGUENY KISSIN 


                                           https://www.youtube.com/watch?v=_5h4Y66HnG0


-  NOITE CLARA DE LUAR E ESTRELAS

- VULTOS SOBRESSAÍAM SOB A ABÓBADA CELESTE.

A criança -que era eu - olhava com maravilhamento estes adultos, que evoluíam nos jardins, no ar noturno um pouco húmido. Já era Setembro e, nas montanhas ao longe, uma manta de névoa esbranquiçada recobria os cumes.

A música, essa, era um mistério, um sortilégio inexplicável, um efeito mágico de todo o ambiente que se desprendia dos jardins ornados de estátuas, mosqueadas de musgo verde escuro.

Gostava de poder regressar a estes momentos mágicos, para sempre idos. Mas, pelo menos, posso ouvir com toda a atenção esta interpretação de Evgueny Kissin, do «Clair de Lune» de Debussy. Não me recordo se o concerto de que guardo memória incluía ou não, a célebre peça de Debussy. 
O que sei é que os jardins e a atmosfera nostálgica me transportaram para um estado de sensibilidade serena. Neste estado, consegue-se usufruir dos sons, como se produzidos pelo nosso cérebro: Somos um com a música, embora saibamos perfeitamente que vem de fora de nós.

Recolho-me em Debussy, como noutros compositores, pois cada um deles tem algo único para me dar. É uma espécie de segredo que eu guardo, em relação aos compositores que mais frequento. Talvez Debussy e Rachmaninov, sejam os que melhor me projetam para a infância ideada, sonhada, talvez vivida como se fosse outra vida.

Como se pode ser feliz, na infância ! Se na minha infância o fui, devo-o aos meus pais, que me educaram o gosto musical e me proporcionaram estudar música. Não me tornei um músico profissional, nem um executante que se pudesse apresentar num recital público. 
Porém, estou convencido que apreendo as peças musicais com um grau de compreensão mais elevado, do que se nunca tivesse estudado música. A gramática e o estilo em música são como no discurso literário. A não compreensão dum texto literário, pode resultar da incapacidade em apreender a sua estrutura gramatical e o estilo do mesmo.

O intelecto e a sensibilidade são ambos de grande importância para usufruirmos plenamente da música. Também o silêncio; fazer o silêncio interior, deixando que os sons nos penetrem, se organizem na nossa mente. Só assim conseguimos captar a totalidade da beleza do que estamos a ouvir.


sexta-feira, 3 de outubro de 2025

Prof. Mearsheimer: EXISTE ALGO NOS FICHEIROS EPSTEIN QUE CONDICIONA TODA A POLÍTICA DOS EUA

A lucidez e cuidadosa documentação do Prof. Mearsheimer mostram que as supostas propostas de paz, vindas da administração Trump e dirigidas aos palestinianos, não têm qualquer hipótese, são uma «proposta» de criação duma Palestina neocolonial, sob controlo de Israel. Nada aponta, na proposta de acordo, para instaurar um Estado palestiniano independente... Mearsheimer explica que um tal alinhamento com o governo genocida de Netanyahu mostra que Trump (e pessoas da administração Biden), têm estado sob um processo de chantagem. Netanyahu é um político experiente e sem escrúpulos, que conhece bem os meandros de Washington.


 

HIPOCRISIA DO RECONHECIMENTO DO ESTADO DA PALESTINA


Como refere o artigo de Kit Knithly no «Off-Guardian», as potências ocidentais decidiram reconhecer o Estado da Palestina e advogarem a «solução» dos dois Estados. 

- Mas, a que preço? Com que intenções? Terão assim assegurado que muitas pessoas, seus cidadãos, irão esquecer a sua inação vergonhosa, durante quase dois anos de genocído pelas forças armadas de Israel contra o povo indefeso da Faixa de Gaza? 

Pensam, os governantes ocidentais, que a nova Palestina ficará erradicada dos «elementos terroristas» ... Leia-se, dos diversos grupos que têm efetuado ações de defesa armada contra os atos de agressão e barbárie de Estado de Israel. Nunca será demais insistir: Os responsáveis nos países do Ocidente, tinham conhecimento dos planos genocidas de Netanyahu, muito antes de Outubro de 2023. 

Cala-se a história sombria do conluio da grande finança com os governos imperialistas, incluindo o governo nazi, para a saída dos judeus da Europa e sua instalação na Palestina, terra árabe conquistada aos otomanos na 1ª Guerra Mundial, sob mandato britânico, desde o final da 1ª Guerra Mundial: 

Na declaração Balfour (1917), diretamente sugerida pelo banqueiro Rothchild ao primeiro-ministro britânico em 1917, prometia-se uma terra que não era britânica, mas árabe, para satisfazer a ambição sionista de «dar terra própria» ao povo judeu. Mas, esta generosa «oferta», à custa de território alheio, tinha como contrapartida, satisfazer a premente necessidade britânica de que os EUA entrassem na guerra. 

E assim foi: Bernays e muitos outros nos Estados Unidos, orquestrando uma enorme campanha, lograram mudar a opinião do povo americano, que se tinha manifestado, até então, como anti-guerra. Conseguiu o lóbi judaico obter essa reviravolta graças a uma parte substancial dos «opinion makers» nos jornais, maioritariamente nas mãos de magnates judeus da grande finança. 

Infelizmente, a conivência da classe plutocrática no Ocidente em expoliar a terra dos que sempre lá viveram, os palestinianos, ainda é considerada tabu. Desenvolve-se um complexo de culpa, que faz com que muitas pessoas tenham medo de «passar por anti-semitas». Ora, os semitas tanto são os judeus naturais do Médio Oriente, como as populações palestinianas e outras, nesta região. 

Os supostos «semitas» que vieram em massa povoar as terras do que depois se tornou o Estado de Israel são - na imensa maioria não semitas- de origem Khazar, ou seja, povos do sul do Cáucaso. O império Khazar existiu na Idade Média, e converteu-se oficialmente ao Judaísmo: Depois dele se ter desfeito, as populações foram para diversos países do Leste europeu. Eis a razão de ter existido importante população judaica (Ashkenazi) nos países eslavos (Rússia, Polónia, etc) e nos germânicos (A Alemanha, nessa altura, dividida em muitos reinos e principados). 

Estes Ashkenazi não têm os genes típicos das populações Sefarditas, os judeus de origem ibérica. Estes, que vieram do Mediterrâneo,  têm parte importante de ascendência dos judeus da Palestina, que se dispersaram em toda a bacia Mediterrânea, após a destruição de Jerusalém, pelo exército do império romano em 70 A.C. 

É verdade que os judeus foram mantidos em ghettos, nas cidades da Europa cristã medieval e que, devido aos interditos que pesavam sobre eles, estavam proíbidos de exercer certas profissões. Mas, graças à interdição para os cristãos, de receber juros em operações bancárias de empréstimos, a atividade bancária era tolerada para os judeus, que acabaram por desenvolver redes bancárias de grande dimensão, na altura. Eles tinham uma relação ambivalente com o poder civil e com a igreja católica: Forneciam dinheiro e crédito bancário, a príncipes e papas. Mas, estes - de vez em quando - desencadeavam ondas de fanatismo religioso contra eles. 

Foi assim que, nos finais do século XV, em Espanha e Portugal, os judeus foram forçados a converter-se (muitos, superficialmente aceitando o baptismo cristão, iam seguindo - em segredo- os ritos judaicos: os marranos) ou, em alternativa, a exilarem-se: Muitos foram para o Norte de África, para os Países Baixos, ou o Império Otomano, ou ainda para outros países. 

Evidentemente, os autóctones da Palestina não tinham qualquer responsabilidade nestas intolerâncias contra os judeus. Sob o Império Otomano, os judeus gozavam de relativa liberdade, eram estimados e respeitados, podiam exercer livremente a sua religião. Havia conselheiros judeus na corte Otomana e tinham posições de destaque nas instituições académicas. 

Só a crueldade e o cinismo podem fazer "pagar" ao povo palestiniano pelos males dos quais, nem eles, nem seus antepessados, são responsáveis. Eis um enorme crime contra todo um povo, que o Ocidente nunca assumiu e que não se pode perdoar (pelo menos, aos seus responsáveis). Querem agora arrasar mais de 20 séculos de História, com medidas cosméticas que não irão jamais cancelar os problemas, mas projetá-los nas vidas das gerações presentes e futuras. 

Na realidade, só a generosidade natural das pessoas, sem a interferência da idologia ou de poderes, sejam eles quais forem, poderá resolver os problemas, cancelando injustiças e ódios, de forma a que as comunidades possam viver enquanto vizinhas, em paz e sem se odiarem, sem pretender dominar as outras.

-----------------------


PS1: A pirataria do Estado de Israel continua. Agora capturaram 500 pessoas da flotilha para Gaza, no alto mar, em águas internacionais. Não há muita media a dar conta do sucedido. Vejam:

https://consortiumnews.com/2025/10/01/watch-live-feed-from-sumud-flotilla/


PS2: Veja como os governos ocidentais traem os esforços dos membros da frota de paz e fazem como se não tivessem obrigações enquanto signatários de convenções de direitos humanos e de leis, que Israel está constantemente a violar: 

https://www.youtube.com/watch?v=KKK2ztmlE4Y

quinta-feira, 2 de outubro de 2025

EMMANUEL TODD: «a Europa é agora uma colónia dos EUA»


 Jeff Rich, o historiador australiano de «Burning Archive», analisa uma entrevista dada em francês por Emmanuel Todd (historiador e demógrafo), que tem a característica da clareza e da visão no longo prazo, embora enraízada no presente.

quarta-feira, 1 de outubro de 2025

A «LÓGICA» DA GUERRA




A «lógica» da guerra não é muito complicada de se perceber. Mas, para tal, é necessário fazer tábua rasa dos argumentos sobre «quem fez isto, quem fez aquilo» e deixar de se atribuir responsabilidades, consoante as simpatias ou antipatias pessoais, ideológicas e outras.

Com efeito, a guerra é um encadeamento de atos preparados meticulosamente, determinados pelos poderes, que estão convencidos de que precisam dessa guerra para chegar aos seus fins. Só que estes fins nunca são claros, nem são enunciados de forma que permita ao comum dos mortais entender o que se passa. O processo atual da guerra está relacionado, como sempre, com uma disputa pela hegemonia. Antes, a hegemonia era relativa a um espaço limitado geograficamente. Mas, a partir da 1ª Guerra Mundial, de forma reeiterada com a 2ª Guerra Mundial e desde então, com a chamada «Guerra Fria», tratava-se de um jogo global, destinado a obter o controlo dos principais recursos do planeta, ou seja, alcançar  a hegemonia mundial. 

Nos dias de hoje, a hegemonia que esteve nas mãos dos EUA e seus aliados/vassalos da OTAN, durante algum tempo (desde 1991 até à primeira década do século XXI), tem sido posta em causa. Tal controlo tem escapado cada vez mais aos ocidentais. Antes, muitos deles possuíram colónias ou eram senhores de países neo-coloniais.

Tem-se registado a perda de influência no comércio mundial, dos países do «Ocidente» e o aumento de utilização de divisas próprias pelo Sul Global, neste comércio e destronando o dólar. No desenvolvimento industrial e na capacidade de inovar em domínios de ponta, os países formando o «coração» dos BRICS, têm mostrado o seu dinamismo. Este tem sido tal, que exercem uma atração sobre os múltiplos países do «Sul Global». Surge a esperança de um contexto internacional mais equilibrado. Um sem número de fatores mostram que o Sul Global e os BRICS são uma força económica e estratégica em ascenção e que o chamado Ocidente, está em decadência, em colapso mesmo, a julgar pelas revoltas que se multiplicam. 

Tipicamente, nos países cujos governos estão ameaçados, a oligarquia que os domina transforma as leis e dispositivos legais, reforça os instrumentos de repressão, de modo a que a cólera dos descontentes não se transforme em insurreição. Para guardarem as aparências, vão impor estas restrições com um pretexto, que é o mesmo, desde sempre: O inimigo externo, os agentes de subversão a soldo desse inimigo externo, a necessidade de mais despesas militares e de cortes nos orçamentos sociais, para fazer face à ameaça (que pode ser puro delírio) .

A UE, sob a batuta de Ursula Von der Leyen, está em estado de quase ruptura; certas oligarquias nacionais não estão dispostas a «ir para o fundo com o navio» e já começaram a criticar as medidas tomadas pela presidente (não eleita) da Comissão Europeia. 

As sondagens de opinião mostram que os povos não têm confiança nos seus líderes; sabem que têm sido utilizados como rebanho de ovelhas, sujeitos a lavagem ao cérebro, sobre «os maus dos russos, o terrível Putin, etc.» 

A guerra é a saída para a oligarquia eurocrática, porque assim poderá impor as restrições que quiser às liberdades e ao funcionamento das instituições nos seus países, poderá espremer ainda mais os trabalhadores e a classe média, para obter os fundos necessários para as forças armadas. Terá um meio muito prático para calar quem discorde destas medidas, acusando essas pessoas de serem agentes do inimigo, traidores que merecem a condenação à morte. Deste modo, será fácil intimidar os que, não estando de acordo com as políticas, não se sintam dispostos a desempenhar o papel de mártires. 

Nós todos podemos saber qual o momento em que uma dada guerra é desencadeada. Penso que todas as pessoas atentas concordam que as palavras de guerra estão em todas as bocas dos responsáveis políticos europeus.  Mas, ninguém pode prever quando uma guerra, seja ela qual for, irá terminar. 

As consequências mais terríveis duma guerra são para os pobres, para os trabalhadores, para as pessoas que não contribuíram para o estado de coisas presente. Por isso, é justo que a guerra - em si mesma- seja criminalizada: Os que a desencadeiam ficam nas suas poltronas, gabinetes, salas de imprensa, a fazer o papel de «chefes de guerra», como se fossem eles a lutar no campo de batalha. Entretanto, no verdadeiro campo de batalha (e fora dele, em «danos colaterais» envolvendo os não-combatentes), as pessoas são mortas, feridas, feitas em pedaços, mas pouco ou nada se fala delas; só para lhes dirigir palavras ocas de agradecimento, quando elas deram o que tinham de mais precioso, a própria vida. 

Não existe guerra justa, porque as guerras são fabricadas pelas oligarquias e destinam-se a ter os súbditos bem controlados. Os pretextos ideológicos, políticos, económicos, etc. são apenas pretextos. As somas gastas na guerra não servem para produzir mais riqueza, só servem para armas e munições e estas, ou ficam armazenadas, ou são utilizadas. Neste segundo caso, vão causar mais destruição de vidas e do que foi construído por gerações de trabalhadores pacíficos. Nenhum país pode melhorar sua economia com o chamado «Keynesianismo de guerra». É uma forma de levar as pessoas a acreditar que a guerra possa fazer sentido económico. Mas isto é uma enorme falácia!


--------------------------------------

Relacionado:

Veja o vídeo de 09 de Outubro de 2025 e repare como os factos relatados confirmam o que eu disse no artigo acima.

XUEFEI YANG - «Canção de Inverno» de Baden Powell



 A impecável interpretação de Xuefei, põe em evidência o lirismo e a maturidade da composição de Baden Powell. Uma grande interprete da China, para um grande compositor do Brasil!

NOTA: CONSULTAR AQUI um artigo dedicado a Baden Powell

sábado, 27 de setembro de 2025

TODA A EVOLUÇÃO HUMANA TERÁ DE SER REESCRITA?










A origem dos Denisovanos e do Homo longi, estaria revelada num fóssil de crânio com um milhão de anos, encontrado em Yunxian. Este, teria vivido 400 mil anos mais cedo do que se pensava ser a bifurcação entre neandertais e homens «modernos». 
Além disso, também a origem da nossa linhagem poderá ser razoavelmente considerada como estando na Ásia e não em África, como era consenso geral, até há pouco tempo. 
Mas, a revolução na cronologia das formas ancestrais não se fica por aqui: Estudos recentes, reavaliando a datação de fósseis da Sima de los Huesos (Espanha), situam-nos anteriormente aos primeiros neandertais: Isto implica que a divergência entre neandertais e homens «modernos»  é necessariamente anterior à idade dos referidos fósseis da Sima de los Huesos. Se a emergência acima referida dos neandertais foi há cerca de 800 mil anos, a divergência entre linhagens conducentes ao «homem moderno» e aos neandertais, deve ter sido - no mínimo - há um milhão de anos.
Assim, a linhagem específica produtora dos H. sapiens, tem uma profundidade insuspeitada e que põe em causa um conjunto de relações filogenéticas do género Homo.
Estas descobertas recentes revelam igualmente a profundidade doutras linhagens, mais  diversas e mais antigas do que inicialmente postulado.
Estas evidências reforçam a nossa visão da evolução humana seguindo um «padrão arbustivo». Muitos ramos desenvolveram-se em paralelo, havendo introgressões (cruzamentos entre espécies diferentes mas próximas) e migrações numa enorme área geográfica (África e o continente Euro-asiático). 
 O facto de hoje haver apenas uma espécie humana, tem muito a ver com o acaso, visto que numerosas espécies aparentadas connosco viveram e prosperaram antes e durante a presença de H. sapiens.



Relacionado:







Algumas leis monetárias que todos devíamos saber

 


quinta-feira, 25 de setembro de 2025

Obras de Manuel Banet: «SE EU PUDESSE VOAR...»



Se eu pudesse voar, levantava voo

De cada vez que troassem os céus;

Que reflexos metálicos, meus olhos

Subitamente captassem.

Não deixaria nem pluma

Nos pavimentos de sangue

Mental escorrendo dos carrascos.

Nem hesitaria procurar

Abrigo nas sombras do arvoredo

Certo de que a sombra é aliada

Quando o Sol ilumina

Infâmias, traições e cobardias




Se eu pudesse voar

Estaria numa ilha deserta

Junto dos meus semelhantes.

Com eles, mesmo doutras espécies,

Faria como que uma sociedade,

Mas nunca poderia integrar

As tropas de rapinadores

Só procurando destruição

Só interessados em sangue




Se eu pudesse voar

Não iria nunca descer

Aos antros das hienas

Em que se rasgam as carnes

Pelo prazer da destruição.

Ficaria junto de minhas gentes

Aladas, sobrevoando cidades

Campos, colinas e rios

...

Ah, se eu pudesse voar!





quarta-feira, 24 de setembro de 2025

ENDOGAMIA E EVOLUÇÃO


A ideia muito divulgada de que os cruzamentos consanguíneos terão necessariamente como resultado o enfraquecimento das gerações futuras, é muito simplista e pode até induzir-nos em grave erro.

Primeiro, a existência de um par de alelos idênticos num indivíduo, só é problemática se estes forem de genes causadores de deficiência. No caso contrário, com genes alelos idênticos e «normais», ou seja, perfeitamente funcionais, esta homozigotia não deve apresentar problemas, nem para os seus portadores, nem para a descendência.

Só assim se compreende a existência de animais perfeitamente viáveis, seleccionados pelo homem, portadores de características próprias (as raças artificiais), que resultam de séculos de «apuramento», ou seja, da rejeição dos genes não-conformes ao padrão desejado e da reprodução selectiva dos animais portadores dos genes desejados. Se houvesse problemas graves resultantes da homozigotia numa extensa parte do genoma, estes animais não seriam viáveis, ou seriam de tal maneira frágeis, que não serviriam os propósitos dos criadores.

Num ambiente natural, pequenas populações isoladas não terão outro modo de subsistir e de perpetuar-se, senão através de cruzamentos consanguíneos, numa percentagem mais ou menos elevada. 
O conceito de especiação por «genetic drift» implica que a população isolada, possuíndo determinado conjunto de genes, irá cruzar-se entre si (endogamia), originando assim uma nova espécie, se o isolamento desta população for por tempo suficiente.
No caso da espécie humana (e englobando aqui os homininos que antecederam, ou viveram em simultâneo com Homo sapiens), a estrutura das populações seria de pequenos bandos isolados, em extensos territórios. Por vezes, dois bandos encontravam-se e haveria trocas, incluindo «noivos e noivas» de um bando que passavam para o outro, sendo automaticamente adoptados como novos membros do bando de acolhimento.

Deve ter sido tal norma que proporcionou encontros fecundos entre humanos modernos e neandertais, entre denisovanos e neandertais e entre homens modernos e denisovanos. Os estudos com ADN antigo mostram a existência de híbridos, assim como a integração, no genoma antigo, de pedaços de ADN mais ou menos extensos, vindos doutra(s) espécie(s).

O que é notável, neste caso, é que os genes conservados não sejam ao acaso. Isto significa que havia um certo grau de incompatibilidade genética entre estes híbridos. 
Nos humanos modernos, verifica-se a exclusão de certos conjuntos de genes de origem neandertal, por exemplo, os relacionados com funções reprodutoras.
Mas, outros genes de origem neandertal, conferindo imunidade, ou da cor da pele, do cabelo, dos olhos, etc, foram conservados. As populações euroasiáticas atuais contêm de 1 a 4% de ADN de origem neandertal, individualmente; mas, no seu conjunto, cerca de 40% do genoma neandertal está representado na população humana contemporânea. Isto quer dizer que houve uma selecção positiva para certos genes neandertais e uma exclusão por incompatibilidade, para outros genes da referida espécie, no ambiente genético prevalecente nos humanos (sapiens).

De qualquer maneira, duvido da tese segundo a qual os neandertais se terão extingido por excessiva endogamia. 
De facto, tanto os neandertais como os humanos modernos (sapiens) atravessaram fases extremamente difíceis para sua subsistência, devido ao clima e à escassez de alimentos. Estes fatores causaram um estreitamento dos efetivos populacionais, em populações que - normalmente - já viviam dispersas.

Nestas centenas ou milhares de anos de máximos glaciares, a endogamia seria absolutamente indispensável para dar continuidade à espécie. Nestas condições extremamente rudes, a selecção natural atuava em pleno: Ela excluía as combinações de genes deficitárias,  que incapacitam seu portador, face às rigorosas condições de existência. Se uma característica desfavorável resulta desse(s) gene(s), ele(s) seria(m) excluído(s), não havendo, em geral, oportunidade do seu portador chegar ao estado adulto e reproduzir-se. É a exclusão sistemática dos genes deficientes, que se observa hoje nas populações de animais selvagens. Ela mantém o grau elevado de adaptação destas populações, perante as exigências do ambiente.

Os genomas neandertais têm evidências de introgressões, resultantes de cruzamentos com H. sapiens. Em seguida à reprodução, um mecanismo complexo de exclusão, por incompatibilidade nos híbridos, parece ter existido. Ainda assim, seria necessário dispormos de evidências sólidas de que isto efetivamente aconteceu. Tal mecanismo iria operar segundo o princípio da exclusão dos híbridos (nas duas espécies). É um mecanismo ao nível cromossómico que acaba por levar à separação de populações, parcialmente interférteis, que - ao longo do tempo - foram divergindo, ao ponto dos seus genomas se tornarem incompatíveis em certas sequências. É uma forma de especiação observada em várias espécies, tanto no Reino Animal, como no Reino Vegetal.

A adaptabilidade às variações do ambiente tem sido a característica mais notável do género Homo. De outro modo, como viveriam eles  - originários dos climas tropicais equatoriais de África - durante as eras glaciares, na Europa e na Ásia, em climas semelhantes aos das estepes siberianas de hoje? Sabemos que os humanos (H. sapiens, ou espécies irmãs) estiveram próximos da extinção, em várias ocasiões. Se não houvesse recurso à endogamia, os pequenos grupos iriam extinguir-se e, com eles, seria  a extinção da própria espécie. 
Se a endogamia fosse causadora de extinção, então não haveria descendentes para repovoar o planeta, depois desses tais estrangulamentos populacionais (e sabemos que houve vários).
As causas da extinção dos neandertais (ou dos denisovanos), que foram durante milénios contemporâneos do homem «moderno»,  será sempre um mistério. Haverá evidências que irão favorecer mais uma hipótese, enquanto outras evidências apontam noutra direcção. Mas, os estudos sobre populações animais que, durante várias gerações, praticam endogamia, quer no estado selvagem, quer em cativeiro, não apoiam a tese da extinção por excesso de endogamia.

Creio que a «ciência popular» difundiu uma ideia errada: O incesto é mau porque perpetua «defeitos» genéticos. No fundo, trata-se dum moralismo encoberto por argumentação falsa, vinda da biologia, pois pretende «justificar biologicamente» o tabu do incesto nas sociedades atuais. Mas, querer justificar tais escolhas éticas e comportamentais do homem contemporâneo à custa de argumentos especiosos, não é nem etica, nem cientificamente defensável.

O último a saber ...



 «O último a saber» é a expressão que se aplica, proverbialmente, para se referir ao marido enganado. 

Mas, neste caso, não se trata do marido enganado, trata-se antes da grande maioria do público nos países «ocidentais», que incluem os do Ocidente (Europa e América do Norte) e países que se situam na Ásia (Japão, Coreia do Sul) e na Oceânia (Austrália, Nova Zelândia). 

Porque, aquilo que está em jogo é uma mudança do sistema monetário, o «Great Reset». O sistema financeiro mundial, desde há vários anos, pelo menos desde a grande crise financeira de 2008, que quase se tornou a crise definitiva do capitalismo, está em ruptura. As moedas dos vários países, foram desenhadas para se irem desvalorizando. Assim, iam possibilitando que os governos e grandes empresas entrassem em dívida, mesmo de maneira crónica, sem grandes consequências para eles, pois estariam apenas obrigados a pagar dentro de X anos, numa divisa que perdeu - em termos reais - uma parte do seu valor. Mas, um sistema que queira conservar uma certa fiabilidade, uma certa estabilidade, tem de ser adossado a algo sólido. E dizer «algo sólido», em termos monetários, traduz-se em metais preciosos como garantia e - em particular - em relação ao ouro.

Desde cedo, que eu estava numa posição de descrença em relação ao sistema no qual vivíamos. Para mim, a crise de 2008 não foi a surpresa, mas foi-o seu «epílogo». Os grandes bancos, as multinacionais, as grandes fortunas, serem refinanciados apesar do que tinham desbaratado, em particular, na financiarização e desindustrialização (auto-induzida): Por exemplo, empresas industriais «convertidas» em empresas de gestão de capitais bolsistas. As injeções de dinheiro fresco, não correspondente a maior riqueza, nem a contrapartida de qualquer espécie, foram-se sucedendo sob o nome de «Q.E.». O pretexto falacioso, totalmente contrário ao mantra do «livre mercado» capitalista, era de que os grandes bancos, as grandes empresas, eram «demasiado grandes», para se deixar ir à falência. Esta extravagância na proteção aos mais ricos, em detrimento de todos os outros, induziu o comportamento de irresponsabilidade total, tanto nas finanças públicas, com nos grandes empórios monopolistas. Acentuou-se a divisão entre aqueles que tinham acesso ilimitado ao crédito barato, virtualmente com zero de juros, e todos os outros que, para comprar casa, carro, etc, tinham de pagar  empréstimos aos bancos, com juros que pesavam nos seus orçamentos.  

Entretanto, a crise do COVID pôs a nu a situação que já vinha de antes e se traduziu numa crise, em Setembro de 2019, com a subida brutal dos juros nos mercados Repo ( = mercados interbancários de empréstimos a muito curto prazo). 

Não sei a partir de quando as altas oligarquias deram ordens para accionar o seu «Grande Reset», mas o facto é que, logo a seguir ao «COVID», se preocuparam muito pouco com qualquer semblante de equilíbrio e preferiram gastar milhares de milhões numa guerra estúpida, cruel e destinada a ser perdida, mas que lhes permitiria travar os BRICS e as " Novas Rotas da Seda" ou «Cintura e Estrada» (Belt and Road Iniciative). Estas, correspondem à verdadeira globalização, a das mercadorias e das trocas comerciais em todo o planeta.

Agora, Honk Kong vai ter um depósito de ouro, para comerciar com o resto do mundo, sendo claro para o «Sul Global» e para os BRICS, que o ouro é o veículo de troca ideal para intercâmbios internacionais, não estando sujeito aos abusos do dólar, ou de qualquer outra moeda que viesse a suceder ao dólar, depois deste ser destronado. 

O público ocidental foi mantido no escuro, foi enganado vezes sem conta sobre o ouro e sobre a «subida» das moedas fiat, sobre os ativos bolsistas e doutros ativos financeiros sem substância no mundo real. Entretanto, paulatinamente, os bancos centrais iam comprando ouro às dezenas de toneladas (tanto os bancos centrais de países orientais, como ocidentais) e os muito ricos convertiam em ouro, ou em propriedades, uma grande parte dos ativos financeiros.

Agora, quem quiser comprar ouro (ou prata), terá de desembolsar uma soma bem maior do que há poucos anos atrás (ver gráfico* sobre o custo do ouro em dólares, no último decénio). Pois, o público ocidental é «o último a saber»...



* Custo do ouro em dólares, no último decénio



terça-feira, 23 de setembro de 2025

O MELHOR DE TOM JOBIM




 Interpretando suas próprias canções, Tom Jobim dá-nos o seu melhor...

EXPLORE ESTE ÁLBUM 

(poesia de Vinícius de Moraes em muitas das faixas)

No mundo não lusófono, Tom Jobim não é adequadamente celebrado como compositor de real talento e inventor de um novo estilo (a Bossa Nova). As pessoas conhecem a «Garota de Ipanema», mas nem sequer conhecem a sua versão original (em português) e desconhecem o nome do compositor. Mas, Tom Jobim é nome indelével, incontornável, da música brasileira e lusófona...

segunda-feira, 22 de setembro de 2025

A NOVA DESORDEM MUNDIAL [CRÓNICA DA IIIª GUERRA MUNDIAL, Nº 49 ]

 Não sei se algum título como este já existe, é provável - mas no caso deste escrito - entendo que se trata do título mais apropriado.

Senão vejamos; a liberdade é proclamada e negada, na prática. Não se pode defender um determinado ponto de vista perfeitamente legítimo e racional, sem se ter consequências gravosas, se este ponto de vista se traduz numa desacralização do poder.

Pelo contrário, podem cometer-se atrocidades, violações sistemáticas dos direitos humanos, impunemente, se forem cometidas sob a tutela e seguindo o guião da potência hegemónica. As coisas não mudaram, desde há cerca de 75 anos. Um adjunto do presidente dos EUA, Truman, fez-lhe notar que se estava a apoiar uns «bastardos» (já não sei de que país latino-americano); ao que Truman respondeu...«Sim; mas são os NOSSOS bastardos».

Hoje em dia, a ditadura totalitária de Zelensky tem as honras de governos ocidentais, enquanto vai prendendo os opositores, que «desaparacem», ou vai colocando para sacrifício inútil, centenas de milhares de soldados na mira de fogo das tropas russas, sobretudo vai construíndo - ele e seus associados - fortunas colossais, à custa do erário  público ucraniano (e nosso). Mas ninguém se preocupa, nas administrações que têm doado sucessivos  biliões, para onde vão estas somas. 

Os manifestantes que protestam contra o genocídio dos palestinianos, são dispersos à bastonada, são presos às centenas; isto tem lugar no suposto «modelo» da democracia e dos direitos civis, a Grã Bretanha. 

Em simultâneo, a indústria armamentista, nomeadamente, na UE, no Reino Unido e nos EUA, envia para Israel o que este precisa para efetuar o referido genocídio. Como podem os políticos  se apresentar como «observadores impotentes», durante estes quase três anos de genocídio, sabendo-se que um embargo de armas a Israel iria fazer parar rapidamente o Holocausto Palestiniano?

Claro que jogam os interesses económicos e a importância dos lobis pró-sionistas. Aliás, não devemos confundir estes com as comunidades judaicas: Estas podem estar completamente dissociadas da mentalidade suprematista e colonialista do governo de Israel. 

Em todo o lado, a igualdade dos seres humanos perante a lei, a sua dignidade fundamental, estão postas em causa. Um assassinato irá fazer a primeira página dos noticiários, consoante a vítima seja judeu (sionista ou não) ou um arauto «cristão», em associação com o sionismo, ou consoante se trate de um árabe, que pode ser muçulmano, cristão, de outra religião ou mesmo, ateu. No caso do árabe, nem será referido na maior parte dos noticiários; se o for, será classificado de «terrorista» ou de membro do Hamas, para desencadear repúdio e não qualquer sentimento de compaixão no público.

A ordem moral é a primeira a desfazer-se, quando se inicia a derrocada da ordem política-económica-jurídica.

 Aquilo que se chama «civilização» é um estado de imposição duma falsa ordem, porque baseada na repressão: É isso que significam expressões como «Pax Romana», ou «Pax Americana». 

A ordem moral não pode subsistir quando os do topo da hierarquia são impunes, face às regras aplicadas ao comum dos mortais. Vejam-se os casos (abafados) dos escândalos sexuais em torno da figura de Jeffrey Epstein, ou a total impunidade dos criminosos que lançaram a operação COVID («vacina anti-COVID») para benefício das multinacionais farmacêuticas Pfizer, Moderna, Astra-Zeneca...

Apenas dois exemplos acima citados, mas haveria muitos mais, se contabilizarmos os que no establishment se especializaram em lançar guerras  (Afeganistão, Iraque, Líbano, Líbia, Palestina, Irão...) que têm causado milhões de mortes, incontáveis feridos e deslocados. Mas, a media corporativa reserva sempre o melhor acolhimento para estes senhores e senhoras. 

Em desespero, os antigos aliados de ontém do Ocidente, estão em massa a aderir aos BRICS ou, pelo menos, a  estabelecer acordos comerciais frutuosos com estes países, pois vêm que do lado Ocidental e Americano, só há a perspectiva de manter os países mais fracos sob o seu domínio, por todos os meios, incluindo militares.

 Mas, o comércio precisa de liberdade. Sobretudo, de liberdade de escolha; em dado país participar ou não num dado acordo. Também precisa de um conjunto de regras. Porém, estas regras (acordadas e ratificadas na OMC) são sistematicamente ignoradas ou violadas pelos mesmos que clamam pelo seu respeito.  

A utilização do dólar como arma, abusando do privilégio de ser a principal moeda de reserva mundial (uma herança do acordo de Bretton Woods, 1944), levou a que mais trocas sejam efetuadas nas divisas dos respetivos países, não envolvendo o dólar. O dólar deixou de ser visto como «porto seguro», como reserva nos Bancos Centrais, em muitos países:  Estes passaram a acumular ouro, o qual não pode ser instrumentalizado. Quanto muito, poderá ser expropriado ou roubado, num contexto de guerra, com invasão e tomada do ouro do banco central (como aconteceu na Líbia e noutros casos).

A «lei» da força, ela própria, está posta em causa quando os rivais dos EUA e dos países da OTAN, possuem armas ao mesmo nível, ou que ultrapassam as ocidentais. Em relação à guerra assimétrica, temos assistido aos danos severos causados por mísseis e drones das milícias Houthis (Iemene), a instalações militares e civis israelitas, assim como mantêm o bloqueio no Mar Vermelho, para a navegação destinada a Israel, incluindo porta-aviões dos EUA. Podíamos também descrever o efeito do uso maciço dos drones que - com uma tecnologia relativamente simples - conseguem ultrapassar defesas anti-aéreas de uns e de outros, no teatro da guerra Russo-Ucraniana.

O mundo está cada vez mais complexo e as armas mais perigosas (armas nucleares) estão sob controlo de psicopatas, nalguns casos. A determinação de Netanyahu, ou do seu sucessor, em fazer explodir bombas nucleares contra inimigos (Irão, principalmente) pode configurar a «alternativa Sansão». Ou seja, tal como na narrativa bíblica, trata-se de deitar abaixo todo o edifício (Israel), de modo que os seus inimigos também morram. É uma loucura completa, mas que está consignada em manuais de estratégia militar israelitas, pelo que não pode ser tomada ao de leve.


‐------------------------

Ps1: Jeffrey Sachs e a nova ordem  mundial 

https://youtu.be/97pxh5BifVU?si=H58F_pxUbI0pYdi_


PS2: ANGELA MERKEL atribui a países da OTAN a responsabilidade pelo rebentar da guerra na Ucrânia: 

https://youtu.be/g8iNwQTm6Mk?si=Aop9vp4Fq6dCJEpZ

domingo, 21 de setembro de 2025

ALASDAIR MCLEOD: O YUAN, internacionalizado, vai ser garantido por ouro

 


Há razões para ter esperança. Não que a «limpeza» do sistema monetário internacional, que o yuan/ouro vai certamente ajudar, seja a resolução definitiva para os graves problemas económicos e distorções financeiras, que temos vivido durante mais de 50 anos. Mas, no contexto atual, vai permitir «retirar os dentes» da víbora do poder financeiro que se acoita em Wall Street e na City de Londres. A nova ordem mundial não poderá ser outra coisa senão multipolar, queiram ou não queiram os EUA e seus aliados.



Relacionado:




quinta-feira, 18 de setembro de 2025

Assassinos Silenciosos - Como a Política Ocidental Causou 38 Milhões de Mortes

 NOVO RELATÓRIO PUBLICADO NO PRESTIGIADO JORNAL MÉDICO «THE LANCET»

Veja o mais recente vídeo por Lena Petrova:


O que este estudo mostra, é que as sanções não são «alternativa pacífica» para a guerra. São antes uma forma de guerra através de outros meios.

quarta-feira, 17 de setembro de 2025

FORMAÇÃO PODENDO ORIGINAR UM TERRAMOTO COMO O DE LISBOA DE 1 DE NOV. DE 1755 (*)



(*) A data 1 de novembro de 1755 marca o
 evento cataclísmico que devastou a capital portuguesa e outras regiões, seguido por um maremoto e incêndios que causaram milhares de mortes e uma destruição quase total da cidade. Este sismo é considerado um dos mais importantes e mortíferos da história e deu origem à sismologia moderna.

DESCIDA AO INFERNO DA DÍVIDA ( ...DOS EUA)


Como dizia um membro da administração dos EUA, no início dos anos 70: "o dólar é a nossa divisa, mas é   o VOSSO problema!"
Esta era de dominância da divisa dos EUA, enquanto moeda de reserva universal, está a chegar ao fim!
 

terça-feira, 16 de setembro de 2025

OS CHINESES SÃO MUITO MAIS RICOS QUE OS AMERICANOS!

 

[retirado de:

Godfree Roberts, Here Comes China! herecomeschina@substack.com





O POVO MAIS RICO DO MUNDO É O CHINÊS , NÃO O AMERICANO

"O rendimento líquido das famílias médias é basicamente nada.  Nós temos problemas graves na nossa economia»" – Carl Icahn.


Quatro anos depois de derrotar militarmente os EUA, em 1955, Mao disse aos seus  colegas: «Se não conseguirmos ultrapassar a América em 100 anos, não merecemos existir. Deveríamos ser varridos da face da terra». Menos de setenta anos depois, a China ultrapassou a América.

Hoje, os chineses são muito mais ricos que os cidadãos da América e da Europa, vivem mais tempo, com vidas mais saudáveis e seus filhos formam-se - em grande número -em cursos superiores nas áreas de Matemática, Informática e Engenharia.

 Mas, antes de examinar a subida da China, vejamos o declínio do Ocidente:
  • A maioria dos americanos poupou menos de $10 000. Apenas 0.1% possui $5 milhões (ou mais), sendo este o mínimo para uma reforma sem sobressaltos.

  • “Duas vezes por semana a YMCA organiza distribuição gratuita de comida para a comunidade de ex-militares, e cada semana, há mais famílias na fila do que refeições para servir.” NBC News, 8/2/25.

  • A taxa oficial de pobreza nos EUA é de 11.6%, com 38 milhões de pessoas a viverem na pobreza. US Census

  • “A maior parte dos americanos não ganha o suficiente para garantir os custos básicos de vida, segundo uma análise,”

    Megan Cerullo, CBS News.

  • Os 50%  cidadãos americanos mais pobres possuem 2.5% da riqueza nacional. St. Louis Federal Reserve.

  • Em 2007, um comprador mediano de casa nos EUA, tinha 39 anos. Hoje, tem 56.

  • Em 2025, o dinamarquês médio trabalha 6500 horas por cada ano de pensão de reforma. Os chineses trabalham 4600 horas.

  • No ano passado, a riqueza média na cidade alemã mais rica, Berlim, era de $89 000, diz o Bundesbank.


Como é que a China realizou isto

Em termos reais, o rendimento dos trabalhadores americanos não subiu desde 1975, as suas poupanças têm diminuído constantemente desde 1989 e os resultados são incontestáveis.

Os trabalhores chineses, por contraste, duplicaram os seus rendimentos cada 10-12 anos, desde 1955 e pouparam 35% dos seus rendimentos cada ano. Em  2020, as famílias medianas urbanas na China, tinham um património de $200 000. Em 2025, este será de $250 000.

Os nossos media e governos irão continuar a suprimir os dados sobre estas mudanças, enquanto for possível. Mas, uma vez que isto for um conhecimento comum, ele irá mudar permanentemente o mundo.