O OURO DOS BANCOS CENTRAIS

O ouro que está à guarda dos bancos centrais, na Europa, pertence ao respectivo povo. Não pertence ao governo, não pertence ao Banco Central Europeu (BCE), nem à Comissão de Bruxelas. É preciso reafirmá-lo neste momento, pois os governos querem usá-lo na guerra contra a Rússia. Uma guerra que não conta com o apoio da maioria do povo europeu. Os governos procuram a guerra para não ter de prestar contas da sua gestão catastrófica das economias. A guerra serve para disfarçar a bancarrota; esta pode facilmente (e falsamente) ser atribuída à guerra.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

A GUERRA NÃO DECLARADA JÁ ESTÁ AQUI HÁ BASTANTE TEMPO [Crónica da IIIª Guerra Mundial nº53]



Quando os dirigentes da Europa ocidental, quer na UE, quer na OTAN, fazem muito barulho, ameaçam a Rússia com uma guerra devastadora, o que é têm que estes 'valentes' (que mandam os outros combater)?

Não me estou a referir a patologias; certamente, as têm e do foro psicológico. Não; estou a referir-me ao que têm em termos de meios quer humanos, quer logísticos, quer armamentos.

Quanto a economia, já estamos conversados; eles próprios «lamentam» que nestes três anos de guerra na Ucrânia, não conseguiram (dizem eles) evitar a compra do petróleo russo. Quanto ao gás, a auto-sabotagem do gazoduto Nordstream, foi encarecer a produção industrial não só na Alemanha, como noutras nações da UE. A sua dependência em relação aos produtos russos é maior do que muita gente pensa:

- Eles precisam dos adubos sintéticos feitos na Rússia, para que a sua agricultura não baixe dramaticamente de rendimento.

-Também precisam de metais estratégicos e «Terras Raras» e não têm escolha senão ir buscar à China ou a outros países dos BRICS, pois eles próprios (tal como os EUA) deslocalizaram há muito a refinação destes minerais, deixando para o Terceiro Mundo a tarefa poluente de transformar minério em metal purificado. Estas Terras Raras são indispensáveis, não apenas em aplicações de eletrónica e microinformática civil, como também militar. Quanto aos metais estratégicos: Sem o titânio e outros, não se podem produzir ligas metálicas para aviões militares, tanques, etc.

- Além disso, estão mergulhados numa crise política profunda; por mais que ocultem, os povos estão descontentes, dissociados e mesmo hostis aos projetos militaristas. Estes, são acompanhados por maior vigilância e repressão contra a dissidência, numa postura autoritária que já não se disfarça (veja-se o caso de Palestine Action, no Reino Unido, e repressão massiva e indiscriminada contra os que protestam contra o genocídio em Gaza). - A impopularidade destes governos é inédita. Por exemplo, um parfrtido nacionalista conservador a AfD na Alemanha cresce nas sondagens, como sendo o primeiro partido na escolha dos alemães.

- Todas as reuniões e declarações dos chefes de Estado e de Governo dos países da Europa ocidental, são atoardas de quem pode vozear em relação ao «inimigo» declarado, mas não tem meios próprios para sustentar uma guerra direta.

A estratégia, simultaneamente cobarde e suicidária (para os povos) é de multiplicar as provocações, lançamento de mísseis no interior da Rússia, atos de sabotagem, etc. Estes ataques são declarados como «façanhas» do exército ucraniano, quando todos sabemos que eles não fabricam estas armas; recebem-nas dos EUA e de países europeus da OTAN . Além disso, está comprovado que os sistemas atuais de mísseis são demasiado sofisticados e implicam pessoal treinado. O treino de especialistas ucranianos é demasiado longo para atender às necessidades: Logo, muitos dos que servem estes sistemas de mísseis são militares dos países ocidentais.

Apesar do black-out informativo, sabe-se que têm morrido ou ficado gravemente feridos membros das forças armadaas de vários países da OTAN (EUA, Polónia, Reino Unido, França, Alemanha e outros), pois estes mísseis, estacionados em solo ucraniano são obviamente um alvo para as forças aéreas russas.

A perversidade dos maquiavélicos, faz que estejam prontos a arriscar um confronto nuclear com a Rússia, confiantes de que será ela a vítima principal. Mesmo que tal fosse verdade, o que eu duvido muito, o sofrimento humano seria indicível, impossível de quantificar e recairia também sobre o ocidente, inevitavelmente.

Seria o fim da civilização ocidental. Significaria a destruição de centenas de milhares ou de milhões de vidas inocentes, a destruição dos ecossistemas, o seu envenenamento radioactivo durante inúmeras gerações, o que tornaria as cidades e os campos impossíveis de habitar.

Tudo isso é considerado aceitável pelos que estão à frente das principais nações da UE e dos órgãos próprios deste super-Estado em construção.

O afastamento dos EUA em relação aos planos dos governos europeus da OTAN mais agressivos é uma boa coisa, pois sem o «guarda-chuva» nuclear dos EUA, a possibilidade de uma guerra total contra a Rússia fica muito remota, para não dizer inviável. Mesmo loucos fanáticos, reconhecem isso, pelo que as atoardas dos políticos no poder vão contribuir para complicar os esforços de paz. Mas, sobretudo, destinam-se à política interna, a cercear as liberdades, perseguir os oponentes à guerra, intensificar a exploração para maior lucro das empresas, sobretudo das que se reconverteram a fabricar armamentos e munições.

Mas, é fundamental que as pessoas tomem consciência e que ajam, dentro das suas competências e dos meios de que dispõem, para fazer obstáculo a esta onda de militarismo despudorado. A guerra na Europa ocidental (países da UE + Reino Unido) é - cada vez mais - uma guerra contra os seus próprios povos, contra os trabalhadores, os jovens, os empresários e todos os que têm contribuído para a riqueza e grandeza das suas nações respectivas.


 


OS ALVORES DUM NOVO REICH???



A



Transcrevo parte de uma carta de CJ Hopkins. Um caso que pode parecer absurdo, mas que é - pelo contrário - muito real, pois as autoridades policiais e judiciais alemãs sabem perfeitamente o que dizem as leis e a constituição da própria Alemanha, sobre a liberdade de opinião e o direito de expressão do pensamento e opiniões, oralmente ou por escrito. Também as autoridades respectivas do IIIº Reich sabiam aquilo que estava consignado na constituição da República de Weimar, mas «estavam-se nas tintas».

[....]

 A Swiss organization defending freedom of speech in Switzerland and Germany, Bündnis Redefreiheit (Free Speech Union) has taken on my case, and they published a rather good introduction to it and the issues in question.

The German version is on their website. The English version is below.

Before you read it, I want to say a few words about “book burning,” which the folks at Bündnis Redefreiheit mean metaphorically, of course. The German authorities are not literally burning books or organizing public book-burning rituals like the Nazis.

However, I am being criminally investigated for publishing and promoting a book. The police raided my home looking for evidence that I am the publisher of a book. That is the “crime” that is cited as grounds for this second investigation.

Please, reflect on that for a minute.

The book in question has been banned in Germany since the summer of 2022. As far as I know, the German authorities still deny that it is banned, but it is. It was pulled from distribution by German booksellers (presumably by Libri and the other major German book distributors) at the same time that it was officially banned in Germany by Amazon and the previous criminal investigation of me was launched. And now I’m being criminally investigated for the second time, and having my home raided and searched by the police, for the “crime” of publishing, distributing, and promoting it.

A book.

Obviously, at this point, it is clear that the German authorities have absolutely zero respect for the law, or the rule of law, or the Grundgesetz (i.e., basically the German constitution), or basic democratic rights and principles like freedom of speech. The fact that a German judge actually signed a search warrant authorizing the police to raid my home because I wrote and published a book, well, I don’t know what to say exactly, other than … welcome to the New Normal Reich!

I’ll have more to say about it as time goes by, and after the German authorities send my attorney the new case file, and after I recover and regain my strength a bit. I am extremely worn out at the moment. I just did an exhausting two-month road trip all over the USA. And of course I caught a nasty winter bug upon my return. And, well, honestly, I’m utterly burnt-out from the last five years of opposing this new form of totalitarianism that is taking hold, not just here in Germany, but all throughout the West. I’ll dig into all that once again after I get my sea legs back.

For now, here’s the overview of my case(s) by Bündnis Redefreiheit.


The C. J. Hopkins Case: Modern Book Burning

Bündnis Redefreiheit

On the morning of Wednesday, 26 November 2025, three armed police officers arrived at the Berlin apartment of American writer C. J. Hopkins with a search warrant issued by the Amtsgericht Tiergarten. As he reports on his Substack, the officers not only searched the apartment but also confiscated his computer and interrogated his wife.

Hopkins is an award-winning playwright, novelist, and political satirist. In 2022, he published The Rise of the New Normal Reich: Consent Factory Essays, Vol. III (2020–2021), a book that delivers a sustained and sharply argued critique of the authoritarian tendencies that emerged during the Covid era. It was this book that brought the police to his door that morning.

The cover of the book makes Hopkins’ point immediately visible. Drawing on the familiar design of William L. Shirer’s history book The Rise and Fall of the Third Reich, which features a large swastika, Hopkins’ version shows the same symbol partly obscured by a Covid mask. It is a direct visual statement: in Hopkins’ view, the coercive measures of the Covid period bore an uncomfortable resemblance to an earlier authoritarian system that also invoked emergency measures to override basic rights. The image is unmistakably political commentary of the anti-authoritarian kind.

But the Berlin state prosecutor sees it differently. According to the warrant for the house search, the cover allegedly violates §86a of the German Criminal Code, the law that forbids the use of unconstitutional symbols when used in a supportive way. Hopkins is accused of publishing, selling, and displaying his book, and of showing the cover on his website. In other words, the prosecutor is treating an anti-authoritarian book as a criminal act.

The police search was authorized to determine whether Hopkins published, distributes, and promotes his book, and whether he is the owner and operator of his blog, consentfactory.org, where the book is advertised. But these questions are not mysteries. The answers are public knowledge. Hopkins is the author. His website bears his name, his photo, and his biography. His books are advertised and sold by booksellers worldwide. There is nothing hidden here.

A house search, however, is one of the most invasive measures the state can take. It must be proportionate and requires a clear need to uncover evidence that cannot be obtained in any other way. That bar was not met. There was no serious question that required armed officers to enter the home of an author. The search served no legitimate investigative purpose. It served a symbolic one. It sent a message: we can come into your home and harass you for what you write.

This alone should concern anyone who values free expression. But the core issue runs deeper. Hopkins’ book does not promote fascism. It warns against it. It uses the symbol of the swastika not to support Nazi ideology, but to condemn modern political trends that he believes resemble it. The entire point of the book is to say: “Be careful. This looks familiar.” And the phrase “The New Normal Reich” carries just a trace of satire, enough to signal discomfort and alert the grey cells that danger is afoot.

In any healthy democracy, such a warning falls squarely under protected political speech. It is the kind of analogy that writers, historians, and political thinkers have always made. One may find it exaggerated, uncomfortable, or even unfair, but that is not the same as illegal. Satire is not propaganda. Criticism is not endorsement. A warning is not a celebration.

By treating a critical image as criminal use of Nazi symbols, the state prosecutor collapses distinctions that are essential to free debate. It is a category error with serious consequences. If this interpretation of the state prosecutor stands, then any critical representation of a Nazi symbol, whether in a documentary, a satirical cartoon, a historical comparison, or a work of fiction, could be targeted in exactly the same way.

The result is predictable: people stop speaking. Writers avoid certain topics. Artists censor themselves. Publishers become nervous. And so, the range of permitted thought narrows. This is how censorship works today: through the banning of books, and the steady pressure of enforced legal threats backed by bureaucratic intimidation.

The fact that this search occurred at all is evidence of such pressure. A police raid is frightening, disruptive, and humiliating. It disturbs daily life. It seizes tools required for work. It intrudes into private space. And it does all this without any real necessity. The message is unmistakable: writing and publishing this book will cost you.

As Hopkins’ lawyer has rightly argued, the raid was not merely a procedural excess but an assault on several of the most basic guarantees of a democratic society: freedom of opinion, freedom of the press, artistic freedom, and the inviolability of the home. These principles are not decorative features of a constitution; they are the very bedrock by which a people keep power from coagulating into something unaccountable and oppressive. That the German authorities are acting arbitrarily here is beyond question, since Der Spiegel and Stern have already employed the swastika critically on their respective magazine’s covers, without police searching their offices.

It takes only a moment’s honest reading to see that Hopkins cannot, by any stretch available to common sense or literary judgment, be aligned with fascism or Nazism, for his entire argument depends on the premise that the Covid era represented, in miniature and in embryo, a repetition of the authoritarian temptations that disfigured the twentieth century. A man does not praise what he holds up as a warning sign; he does not revere the very phenomenon he uses as the yardstick of political decay.

Hopkins invokes the Third Reich not as a beacon but as a boundary, the outer edge of what a society must never again permit itself to become. And in doing so he places Nazism in the same conceptual space one reserves for toxic substances, useful only as a reference point for recognizing when the air has gone foul. To accuse him of sympathy with fascism is to miss the entire structure of his criticism, to mistake the smoke alarm for the fire. Hopkins is not flirting with Nazism; he is arguing that its ghost walks more easily in modern halls than we care to admit, and he is pleading for the vigilance necessary to keep that ghost from taking on flesh once more.

Germany no longer burns books in the literal sense. Instead, it restricts their distribution. It removes them from platforms. It harasses their authors. It treats political criticism as criminal offenses. The flames are gone, but the censorial principle survives. Indeed, you can no longer buy Hopkins’ book in German book stores, nor on Amazon in Germany, Austria, and the Netherlands.

One does not have to agree with C. J. Hopkins to recognize what is at stake. Today, it is a satirical book cover. Tomorrow, it could be Shirer’s history book about the Third Reich (which is still freely available in Germany). The next day, a political cartoon. Once the state begins treating dissent as danger, and criticism as extremism, the slope quickly becomes very slippery and steep.

In this case, the German authorities have done something abominable in a state that still considers itself liberal and democratic. They have taken a critic of authoritarianism and responded to his critique with authoritarian methods. And that is precisely the problem Hopkins has been writing about all along.

C. J. Hopkins wrote about the house search on his Substack: https://cjhopkins.substack.com/p/a-visit-by-the-german-thought-police

Hopkins’ lawyer gave Junge Freiheit an interview about the house search and the charges filed: https://jungefreiheit.de/debatte/interview/2025/sonst-haetten-auch-spiegel-oder-stern-bestraft-werden-muessen/

A note on an earlier, pending case

Hopkins’ has had dealings with the German state before. That first trouble began with two tweets he posted in August 2022, each accompanied by the same image of his book now at the center of this newest case: a medical mask over a still visible swastika. One tweet quoted Germany’s then health minister saying that masks “always send a signal,” and the other described masks as symbols of ideological conformity. The meaning was obvious: Hopkins was criticizing coercive government measures, not supporting Nazism.

But the Berlin prosecutor treated the image as “dissemination of Nazi symbols,” ignoring the context entirely and pursuing him as if he were a propagandist rather than a satirist. What should have been recognized instantly as a political warning was instead hauled into court as a criminal offense. This case of Hopkins’ tweets is currently pending in Germany’s constitutional court.

POST SCRIPTUM:

A raiva persecutória estende-se a Elon Musk e a «X» com uma  avultada multa, dentro do mesmo espírito de reprimir, desencentivar, intimidar, para que as críticas sejam silenciadas. Porém, esta indiferença pelos valores (supostamente) defendidos nas democracias liberais, só mostra que - afinal - a adesão a tais princípios e valores é uma fachada, para os poderes. Apenas tolerados, na medida em que não incomodem. 

Hoje CJ Hopkins, Elon Musk e muitos outros de que nem ouvimos falar, amanhã a mordaça para todos os que não estão ao diapasão do Novo Reich e da Comissão de Bruxelas, com a Führerin Úrsula... Eis, de novo, os fantasmas que se introduzem nas nações europeias, sem terem sido convidados. A cidadania tem de acordar e reagir. Isto já foi longe demais.


RELACIONADO:

 MANIPULAÇÃO DAS MASSAS

ALEMANHA É OFICIALMENTE UM ESTADO DE VIGILÂNCIA GENERALIZADO




quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

MEARSHEIMER SOBRE A GUERRA DAS TARIFAS

 

O prof. John Mearsheimer calmo e racional, desfia o rol dos erros estratégicos dos EUA nestes trinta anos de política hegemónica.  Como ele relembrou, a dominância dos EUA existiu durante algum tempo. Durante menos de duas décadas, parecia que nenhuma força poderia enfrentar o seu poderio.

 Entretanto, foi desenvolendo uma política de sanções, de instrumentalização do dólar e dos sistemas de pagamento e punindo com tarifas "amigos e inimigos". 

O prof. Mersheimer delineou neste vídeo a reposta da China. Esta foi paciente, dirigida para novas relações comerciais, oferecendo oportunidades de negócios, não colocando condições, nem influindo na política interna dos Estados, até que chegou o momento em que o mundo inteiro pôde comparar as duas abordagens do comércio internacional e tirar as óbvias conclusões: 

- Por um lado, um império decadente, agressivo, caprichoso, que só promete revoluções coloridas ou invasões, aos recalcitrantes; 

- Por outro, uma potência que aposta nas relações "win-win", que respeita a soberania e oferece estradas, caminhos de ferro, portos, aeroportos e mais infraestruturas, que os países do Sul Global tanto pecisam. A China ajuda-os  sair do ciclo de dependência neo-colonial. Este ano, a China teve um excedente comercial de 1 Trilião de dólares.




Paulo Nogueira Batista descreve o contexto  
 

quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

GREVE GERAL A 11 DE DEZ. EM PORTUGAL CONTRA POLÍTICA LABORAL

 

Manifestações e concentrações estão previstas em vários pontos do país


[DO JORNAL MUDAR DE VIDA:]

Perante uma plateia de empresários da banca e do sector exportador (Millennium Portugal Exportador), o primeiro-ministro proferiu, no início de dezembro, uma discursata, tão cínica como patética, com o propósito de enaltecer as virtudes do novo pacote laboral, demonstrar a visão política do Governo e desmerecer as razões da greve geral convocada justamente contra esse mesmo pacote. Para ilustrar a bondade da sua política, lançou para o ar promessas de subida vertiginosa dos salários e de progresso económico que ninguém de bom senso (a começar pelos representantes patronais) leva a sério – como ninguém levou a sério as proverbiais promessas de bacalhau a pataco dos políticos da Primeira República.

A greve geral tem motivações políticas, como acusou Montenegro?

É claro que sim. A natureza das alterações à legislação laboral está bem identificada: um ataque às já escassas defesas dos trabalhadores e das organizações sindicais contra a arbitrariedade patronal. Se Montenegro tem toda a razão em ver na greve geral uma resposta política contra a conduta do Governo, mais razão têm os trabalhadores em ver nas propostas do Governo uma motivação política, da parte do poder e do patronato, para os reduzir a uma massa de gente sem capacidade de reacção. O sentido da greve geral é político por ser uma resposta de classe da parte dos trabalhadores a uma ofensiva igualmente de classe da parte do patronato e do governo que o serve.


CONTINUAÇÃO DO ARTIGO DO JORNAL MUDAR DE VIDA: 

https://www.jornalmudardevida.net/2025/12/09/nao-o-governo-nao-vive-numa-bolha/


ATUALIZAÇÃO: 

UMA DAS GREVES GERAIS MAIS PARTICIPADAS, MAIS DE 3 MILHÕES DE TRABALHADORES PARALIZARAM NO DIA 11.

terça-feira, 9 de dezembro de 2025

A VENEZUELA OFERECEU A EXPLORAÇÃO DO SEU PETRÓLEO A EMPRESAS AMERICANAS; OS EUA RECUSARAM

 


PAULO NOGUEIRA BATISTA:



RÚSSIA ACUSA: AMERICANOS ATACARAM UM CENTRO DE COMANDO RUSSO

 



Rússia lança ultimato aos EUA, depois de um ataque com mísseis ATACM ter destruído um comando do exército russo em Lugansk. 
Consideram que este ataque, nominalmente feito pelas forças armadas da Ucrânia, só foi possivel com a colaboração de sistemas de inteligência, satélites e peritagem dos EUA. 
Considera, portanto, que os EUA estão diretamente envolvidos e são, de agora em diante, um alvo legítimo, incluíndo o seu território, para ataques russos.

No contexto de guerra global (a IIIª Guerra Mundial em curso) esta etapa corresponde a uma aceleração factual e a uma escalada. Talvez seja o acontecimento pontual que marca uma viragem na História contemporânea. Será nos próximos dias que uns e outros vão definir os seus patamares para desencadear um ataque nuclear. 

COMO A MÉDIA MAINSTREAM SE CONVERTEU EM PROPAGANDA DOS ESTADOS

 





Um artigo circunstanciado, em como as «elites» ocidentais e o jornalismo mainstream apagaram das notícias as referências à ideologia nazi e aos atos criminosos contra os russo-falantes ucranianos, após o golpe de Maidan em 2014:
«Ucrânia : as provas apagadas» por Manlio Dinucci

PS1: Na minha opinião, a crise do COVID foi pretexto para alcançar um novo patamar de censura e discriminação contra tudo o que não se conformasse com a ditadura globalista.

PS2: 

Documentário Censurado Expõe Como o Governo dos EUA Difunde Propaganda Como Sendo «Jornalismo Independente», por The Dissident


segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

A SINFONIA DE MONTEVERDI A HAYDN (Segundas-f. musicais nº41 )





A sinfonia é um género musical, que teve uma evolução muito rápida na época clássica. 

O típico exemplo de «sinfonia clássica» possui 4 movimentos: um allegro inicial, um andante ou adagio; um scherzo (ou um menuet) e um final (presto ou allegro molto). Esta codificação, como todas em música, pode sofrer pequenas variações. Por exemplo, a sequência acima descrita pode ser antecedida por um breve andamento lento e solene... 

As sinfonias que aparecem antes da época clássica, possuem o mesmo nome, mas francamente não pertencem ao mesmo tipo de música. Receberam o nome «sinfonia», no sentido de serem peças em que os vários instrumentos formam conjunto. Mas, de resto pouco mais têm em comum. A designação de tais peças tornou-se comum em óperas já no tempo de Monteverdi, sendo depois muito frequente aparecer em oratórias e cantatas. Haendel e J.S. Bach compuseram sinfonias no sentido antigo do termo. Carlos Seixas e Vivaldi, seus contemporâneos, usaram o termo no mesmo sentido. 

As primeiras sinfonias no sentido moderno são devidas à escola napolitana, com Alexandre Scarlatti e seus discípulos. Nesta época (por volta de 1700) o termo era intercambiável com o de «Overture». De facto, muitas aberturas de óperas tinham a designação e estrutura da sinfonia.

Foi a escola Checa com Johann e Carl Stamitz, que no século XVIII codificou a sinfonia: os andamentos, os naipes de instrumentos e a unidade temática de cada andamento. 

O célebre e cosmopolita Johann Christian Bach, filho de João Sebastião, fez carreira em Milão e em Londres. Ele compôs sinfonias e concertos para orquestra com solista. A sua criatividade e seu saber transparecem nas sinfonias, pelo equilíbrio entre a tradição do barroco e o  estilo galante. 

Mas, foram Mozart e Haydn que elevaram a sinfonia ao estatuto de composição de grande significado, de monumento revelador dos recursos do compositor e que punha à prova a qualidade dos instrumentistas e do maestro.

Cada exemplo abaixo, justificaria extenso comentário. Mas, decidi cingir-me apresentar as peças, esperando que a curiosidade do auditor o leve a procurar elementos sobre elas e seus respectivos compositores.

                  MONTEVERDI    
                                                                             Sinfonia do «Orfeo»



J. B. LULLY       
   
                   Sinfonia de «Amadis»


                                                                                  Sinfonia em Si bemol maior


VIVALDI       
                                                                                 Sinfonia «Al Sepolcro»


                                                   Andante da Sinfonia em Ré Maior Op. 18, No. 4

             
 
                              

W.A. MOZART. 1º andamento da Sinfonia «Praga»



                                                                    Andante da sinfonia Hob. 101 «The Clock»



                            


domingo, 7 de dezembro de 2025

OTAN envolve-se diretamente na guerra contra a Rússia



O prof. Mearsheimer dá conta da gravidade da situação político-militar. As forças da OTAN nunca estiveram antes envolvidas em combates diretos contra o território russo. É um momento que pode significar uma escalada de parte a parte. Putin avisou muito diretamente que um ataque contra solo russo pelas forças da OTAN legitimava uma resposta nuclear pela Rússia, contra cidades desses países, incluindo os EUA.




ATUALIZAÇÃO:

EUROPA, ECOLOGIA E PAZ:


Retirado de Antithèse & Bon pour la tête contact@news.antithese.info 




APOSTA [OBRAS DE MANUEL BANET]



Sempre tive grande relutância

Em apostar nalguma coisa

Ou acontecimento. Pensava:

Se podes calcular a probabilidade

Dessa coisa, apostar é fútil,

E se não podes, é suicidário.


Mas hoje declaro que aposto.

Aposto pela vida, face ao caos

Face à extinção, ao domínio

Absoluto, incontroverso;

Face à capitulação, também

À fraqueza dupla do querer.


Aqueles que hesitam, calculam

Mas calculam mal; o cálculo 

É simples: Escolhes lutar 

Ou sofrer a humilhação 

Antes de morreres esmagado.

Só os fracos hesitariam


Porque quem luta, quem se ergue

Usando seus meios e inteligência

Está a ganhar a partida;

Se ganhou, salvou-se e salvou-nos

De uma secular servidão.

Se perdeu, não perdeu... pois

A sua semente vingará.

Se não luta,  é certo:

Perderá de certeza.


Por isso, aposto que o tempo

Trará uma nova geração

Bastante mais comprometida

Perante a urgência 

De salvar a humanidade

De quem pretende dominá-la.

Se eles fizerem esta aposta

Terão meu apoio e participação

Na medida em que puder ser útil


A esperança reside no humano

Que subsiste em cada um.

Que este ascenda à consciência,

É A MINHA APOSTA 


Murtal, Parede

A 5 de Dezembro de 2025





 

sábado, 6 de dezembro de 2025

OURO, PRATA E YUAN: OS 3 VECTORES DA QUEDA DO DÓLAR

A China tem avançado passo a passo, para desinvestir do dólar:

A- Lançando obrigações em yuan que podem ser convertidas em ouro no Mercado de Metais Preciosos de Xangai. Com rendimento de 7%, são  muito mais apetecíveis que as Treasuries americanas, que apenas dão 2%.

B- Compra de ouro em quantidades bem superiores (10 vezes mais) às oficialmente declaradas.

C- Venda de prata no Mercado de Xangai, mas apenas em Yuan. Como existe uma enorme falta de prata disponível nos mercados ocidentais, os compradores têm de trocar as suas divisas por Yuan, para poderem comprar em Xangai. O valor da divisa chinesa e a sua internacionalização são  cada vez maiores e a fatia das trocas comerciais em dólares vai diminuindo. 

D - A China deixou, há anos, de acumular dólares  sob forma de obrigações do Tesouro americano e tem colocado à  venda quantidades elevadas das mesmas obrigações. 

E- Tem promovido, com os seus parceiros dos BRICS (e outros), contratos comerciais envolvendo apenas Yuan e divisas dos parceiros, com exclusão do dólar. 

Veja o vídeo abaixo, de Paulo Nogueira Batista Junior:



sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

JÁ NÃO HÁ COMO DISFARÇAR...

 (debaixo das imagens clica nos URL  para visualizar os vídeos)



https://www.youtube.com/watch?v=JcRPHORpaRg&t=150s

PS1: Dois vídeos com origem no Brasil, com uma qualidade e profundidade de análise notáveis. Não se trata aqui de propaganda, nem de especulações. Trata-se de pôr em perspectiva a fragilidade insuspeitada por muitos, do Império USA. As pessoas, não tendo este conhecimento, podem ainda estar na ilusão da omnipotência do Império. No entanto, as manifestações de resistência do resto do mundo, por um lado e a crescente incoerência das respostas americanas aos desafios que lhe são colocados, por outro, são prova de que a estrutura hegemónica dos EUA, com os seus capitais, as suas forças armadas e com as agências encarregues da «guerra suja», já não são mais do que um pálido reflexo do passado. De um passado em que a hegemonia dos EUA permitia que eles ditassem quem pode comerciar com quem, visto que dispunham da divisa indispensável para efetuar as trocas comerciais internacionais. Quem não se conformasse, era sancionado. 
Mas, hoje as coisas mudaram: A Venezuela, com as suas fragilidades e contradições, tem sabido evitar o colapso deliberadamente provocado pelos EUA e mostra que é possível vender o seu petróleo, recebendo Yuan e outras divisas, mas não o dólar, tornando as sanções dos EUA muito menos eficazes. 

quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

Richard Wolff: PARA ONDE VAI O DINHEIRO PERDIDO NUM CRASH DA BOLSA?



            [Se tiver dificultade em ir diretamente para o vídeo, clique no URL acima]


 Este vídeo do prof. universitário Richard Wolff explica em pormenor os mecanismos bolsistas que se alimentam do subjectivismo dos investidores. Ao contrário da bolsa e de todo o mecanismo especulativo que a sustenta, a economia real não depende de "sentimentos" , de "intuições" ou de "jogadas audaciosas". Muito pragmaticamente, depende de trabalho real, para fornecer bens ou serviços, de que a sociedade necessita e aos quais atribui valor. Mas, na economia financeirizada tem sido atribuido valor e capital a ativos inflacionados em bolhas, cada vez mais monstruosas. Porém, TODAS as bolhas estão destinadas a esvaziar-se. Tal aconteceu em TODOS os casos historicamente registados. Vemos agora isto com as empresas que pretendem "desenvolver a IA", algo semelhante ao que ocorreu em 2000, com as empresas "DOT.COM" e em 2007, com o crédito hipotecário.  

quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

O MEDO E COMO O COMBATER






A configuração das relações de força internacionais, a agressividade crescente da media, que atiça os conflitos em vez de os tentar explicar, a preocupação permanente com a sobrevivência de muitos milhões, que os leva a viver numa prisão de trabalhos forçados, esgotando-se e não conseguindo satisfazer as necessidades elementares, o crescimento de toda a espécie de patologias do foro psíquico... Todos os fenómenos acima são sinais dum desequilíbrio fundamental que atingiu a humanidade.

Mas que fenómeno? Que desequilíbrio?

- Penso que - para além de factores materiais, objetivos, jogam factores da área afetiva-cognitiva.

Estes últimos factores costumam ser desprezados, em geral, talvez por os indivíduos do século XXI estarem fortemente condicionados a pensar em termos materialistas. Não no sentido filosófico de materialista, mas no sentido de apenas ter interesse pelos aspetos materiais da vida, aquilo que se chama de «materialismo vulgar». No entanto, este tipo de materialismo tanto ocorre em pessoas ateias, como em pessoas aderindo a uma crença religiosa.

Mas é justamente nesta área afetiva/cognitiva, que se dão grande parte dos traumas, embora não imediatamente visíveis. É nestes domínios que as pessoas se tornam incapazes de conduzir a sua vida, de conservar o sentido do real, de se relacionar humanamente com os outros humanos.

As pessoas que estão sujeitas a enorme pressão (e são cada vez mais), são muitas vezes incapazes de compreender o que se passa com elas e com o seu entorno. Se o fossem, na mesma teriam dificuldades e teriam de lutar, mas isso não as faria bascular para um desequilíbrio crónico, para um refúgio fora da realidade, para um regresso a aspectos da psique infantil. Todos estes mecanismos são resultantes duma incapacidade continuada em fazer face à realidade .

Por isso, são destruidores os traumatismos de guerra, ou de períodos prolongados de violência: Porque sobre tal violência, as pessoas não têm hipótese de agir. São situações em que a sobrevivência parece dever-se ao acaso e as acções que se tomarem, tanto podem ser efetivas na salavaguarda individual, como conduzir ao contrário, ou seja, à morte.

Um caso particular de guerra, é a guerra económica lançada pelas «elites» do capital e do Estado sobre os mais frágeis, os destituídos, os que dependem do salário para sobreviver e sustentar a família. Este terrorismo económico, prolonga-se no tempo e no espaço, para que as pessoas não vejam que ele é uma estratégia deliberada da classe possidente. Porém, é nas sociedades ocidentais, ditas democráticas, que a modalidade «guerra económica» mais se tem feito sentir. As garantias de emprego, de salário, de pensão de reforma, e outras, consideradas desde os anos 60 (há 60 anos, pelo menos!) como «naturais», foram paulatinamente retiradas ou abastardas, pelos senhores do capital e do Estado, de forma que isso não suscitasse demasiada indignação, usando todas as manhas, desde jogar com a inflação monetária, às sucessivas modificações das leis. Este expoliar fraccionado conduz a que as pessoas sejam defraudadas daquilo que lhes tinha sido prometido, porém sem que elas tenham realmente compreendido como foram defraudadas.

A insegurança na satisfação das necessidades básicas vai conduzir as pessoas a uma série de mecanismos de «auto-defesa» que são apenas ilusões, ou mecanismos simbólicos. Assim, interioriza-se a angústia, o medo constante mas indefinível, de impossibilidade de se manter as condições mínimas económicas e um nível básico de satisfação das necessidades.

O bombardear pela publicidade comercial e, sobretudo, por órgãos da media transformados em máquinas de condicionamento de massas (ou de lavagem ao cérebro), faz com que a maior parte das pessoas sinta os medos sem a mínima capacidade de análise crítica e muito menos de distanciamento. O efeito, é que estas pessoas vão reagir automaticamente a certos estímulos, a palavras ou imagens, de forma condicionada, desencadeando respostas reflexas, que podem parecer genuínas, mas que foram incutidas.

As pessoas condicionadas não aceitam a realidade. Esta foi substituída por uma grelha de leitura codificada pelo seu entorno e reforçada pela média corporativa, de tal forma que rejeitam liminarmente tudo o que saia fora do «molde» interior. É como se todos fôssemos ensinados que «2+2= 5» e alguém nos viesse dizer que não, que não é 5, mas 4. Tal indivíduo seria visto como louco, extravagante ou até subversivo ... pondo em causa a «normalidade».

A coação psicológica é muito mais importante que a coação física. Embora esta seja dura e brutal, sabemos de onde parte e quem a exerce, mas a coação psicológica é muito mais subtil: As pessoas que amamos, inclusive, podem ser veículo dessa coação, pensando que o fazem para o nosso bem, para nossa proteção...

A figura tutelar da «autoridade», reproduzindo a imagem interior que tivemos na fase precoce da nossa vida, em relação a pai e mãe, vai imiscuir-se de forma subreptícia: Através de símbolos, de gestos, de palavras que ativam esse condicionamento da infância e desencadeiam uma reacção automática de submissão. É portanto compreensível que muitas pessoas se projetem como «filhos» e «filhas» de pais e mães simbólicos, que são afinal os poderosos.

A emancipação em relação a estes esquemas de poder é possível, mas a grande maioria não irá fazê-lo. Na prática, é necessário ter-se um projeto de libertação individual e de autonomia, que poucas pessoas adoptam. Por outro lado, na sociedade fragmentada e atomizada contemporânea, certas pessoas podem ter um tal projeto. Porém, ele só se poderá concretizar se houver convergência de vários indivíduos para a construção conjunta de projetos explicitamente destinados a instaurar uma prática social diferente. Existem, mas são minoritários. Creio que será difícil desenvolver uma dinâmica que os transforme em prática corrente.

Aquilo que é possível fazer (e pude verificar, em várias circunstâncias), é criar espaços conjuntos, onde haja troca de bens e serviços, ao mesmo tempo que se desenvolvem capacidades de interação, de auxílio mútuo, de audição atenta do outro e de debate de ideias sem censura, mas com autodisciplina, onde ninguém se sinta coagido ou inibido.

Um projeto para singrar não tem necessariamente de ser do agrado da maioria, nem deve implicar que a maioria se possa nele participar. Os núcleos que dinamizarem estes projetos grupais, devem ter flexibilidade e uma grande clareza de objetivos: 
- Queremos desenvolver um projeto assim, para quê? E como ? E em que área(s)? E para que fim (fins)? ... etc.




terça-feira, 2 de dezembro de 2025

segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

A CHINA CONTINENTAL É COMUNISTA?

(alguns vídeos foram retirados do artigo de Hua Bin seguinte:)


                                                     Documentário sobre modernas cidades chinesas 


Lembro-me de ter visto um pedinte, com as pernas gravemente incapacidadas, que se arrastava pelo chão do acesso a uma estação de comboio, algures no centro da China. Ele pedia esmola, erguendo um copo, à caridade dos transeutes que passavam sem lhe prestar atenção. Esta cena deixou-me perturbado, não que não tivesse visto coisas semelhantes do Ocidente e no meu próprio país, mas justamente porque este tipo de estendal de miséria não era próprio de um país que se considera praticando uma moral comunista, um país do socialismo da abundância, ou seja, o tal «socialismo com características chinesas». 

Não foi caso único, também encontrei um sem-domicílio enrolado numa manta numa passagem subterrânea duma grande avenida de Pequim. Não julguem que eu estava à procura desses casos, nada disso: Eu estava inserido num grupo de turistas, todos portugueses, que visitavam a China.  

Numa noite em que jantámos num célebre restaurante de  Pequim, deparei-me com uma mulher idosa a pedir na rua, onde estacionavam os carros, fazendo gestos de «levar comida à boca». Fez-me pena, embora tais cenas estejam igualmente presentes em capitais de países ocidentais e das mais opulentas. 

Mas eu acreditava, ingenuamente, que tais manifestações de miséria eram impossíveis num país dito socialista e orgulhoso das suas façanhas económicas e em ter arrancado da miséria uma grande fatia da sua população. Mas, o pior de tudo era que tais exemplos concretos de miséria, recebiam apenas indiferença da população. 

As pessoas são iguais em Pequim, Toronto, Londres, ou Madrid: quanto mais afluentes, menos se preocupam com as pessoas destituídas. Esta também é uma lição para confrontar a realidade com a propaganda de um «socialismo» com «rosto capitalista». Pode ser socialista na condução geral da economia, mas as pessoas concretas não «comem o PIB», nem se vestem com «estatísticas da produção». 

Martin Armstrong é capitalista e favorável ao tipo de regime (dito de «democracia liberal») que vigora nos países ocidentais. No entanto, como pessoa inteligente e pragmática que também é, tanto apresenta os lados positivos como negativos do regime chinês. A bem da verdade, tenho de confirmar que ele tem razão em vários pontos de um artigo seu, abaixo (*).

O prof. Michael Hudson, que tem trabalhado em universidades chinesas, como professor convidado de economia, caracteriza a China como um sistema misto. Ele é globalmente favorável ao regime aí implantado, porém reconhece que foi a abertura à iniciativa privada, no tempo de Deng Xiao Ping, que permitiu o arranque para o desenvolvimento neste imenso país. 

A China foi ficando para trás, após a implantação da RPC em 1949, durante mais de 20 anos de comunismo radical sob a batuta autoritária do partido e do seu «timoneiro» Mao Tsé Tung. Continua oficialmente o regime, continua a ditadura «proletária» do partido, mas o regime foi-se transformando profundamente por dentro. 

As pessoas esperam que, no futuro, tal como no passado recente, o seu nível de vida vá melhorar ainda mais. As pessoas na China são iguais às pessoas noutro ponto qualquer do globo. Querem viver com o mínimo de decência e dignidade, não precisando de se dobrar perante cada «apparatchik» que lhes apareça. 

Será «virtuoso» enriquecer, como dizia a propaganda no tempo de Deng? - Sim, na medida em que este enriquecimento provenha do trabalho e do reconhecimento social por esse mesmo trabalho. Este princípio pode e deve existir numa sociedade socialista, ao contrário do que a propaganda propala de que o socialismo é igualizador, de que mata toda a criatividade, etc. Aliá, esta propaganda é afinal auto-destruidora, pois ela não explica como o desenvolvimento técnico e científico, assim como a excelência nas artes, se desenvolveram na URSS, na China e em muitos países «socialistas» durante a Guerra-Fria. 

Se as pessoas fossem condicionadas a pensarem rotineiramente, nem cientístas, nem engenheiros, nem artistas em todas as artes, poderiam ter surgido. Dirão que são uns poucos que escaparam a um condicionamento radical; pois, a ser assim, estes que se notabilizavam seriam logo esmagados por hierarcas e pelos seus iguais. Algo de semelhante a isso começou - como um vento destruidor - na China durante  a «revolução cultural»: Nesta altura foram destruídos imensos monumentos e sobretudo criminosamente enxovalhadas, castigadas e humilhadas centenas de milhares de pessoas, intelectuais na maioria. Muitos indivíduos que deram o melhor de si próprios, nos anos anteriores, foram alvos preferidos dos «guardas vermelhos» da China. 

Deng Xiao Ping foi uma  vítima, assim como o pai de Xi Jin Pin e o próprio Xi. Se a «revolução cultural», iniciada com o pleno acordo e estímulo de Mao e continuada pelos seus mais chegados aliados, fosse coroada de sucesso, hoje a China seria um país miserável. 

Para mim, que aceito de bom grado os objetivos últimos do comunismo, mas não os desmandos que foram cometidos em seu nome (numa grande parte do século XX, sobretudo), não tenho qualquer complexo de superioridade em relação ao povo chinês. Antes, fico maravilhado pela sua capacidade de «endurance», de trabalho árduo, de solidariedade familiar, de auto-disciplina, de espírito coletivista. Devo dizer, no entanto, que estas propriedades não se desenvolveram a partir da China «comunista». Foram, durante milénios, o produto das experiências, dos fracassos mais sangrentos aos períodos mais aúreos, do povo chinês.    

Para mim, o trato com um chinês é o mais natural, pois eu tenho muito respeito pela sua civilização e procuro naturalmente pontes para me relacionar com ele. Os chineses que eu encontrei ao longo da minha vida, muitas vezes foram cordiais, nada distantes. Pois, eles intuíam que eu não tinha qualquer complexo racista, de ser produto duma «civilização superior». 

Por isso, amo as pessoas, compreendo que todos somos uma raça única, temos todos as mesmas necessidades fundamentais e legitimidade para nos afirmar dentro da sociedade, dando o melhor de nós próprios e recebendo - em troca - a justa recompenasa. 

Só não acredito que um sistema ferreamente hierárquico, mesmo que tal ocorra apenas numa fase de transição histórica, possa conduzir-nos a um comunismo verdadeiro, aquele em que as pessoas têm igualdade de direitos e deveres, um poder largamente distribuido por todos, uma liberdade de expressão e criação em todos os domínios . 

É como se me quisessem convencer que a melhor maneira de ir de Lisboa ao Porto, é tomar a estrada em sentido contrário, a que vai de Lisboa a Setúbal. Por que razão toda a gente veria isto como loucura, mas uma parte das pessoas convenceu-se que a «ditadura do proletariado» (do partido, na verdade) era, não apenas o melhor mas o «único» caminho para o socialismo e comunismo? 

- Eu chamo a isso alucinação, mais que endoutrinamento, porque muitas pessoas - minhas conhecidas - adoptaram esse ponto de vista e não eram estúpidas, eram inteligentes e pareciam-me sinceras.

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(*) MARTIN ARMSTRONG:

« The Chinese Communist Party is not “communist.” China permits private ownership and corporations. Consumerism and capitalism are alive and well. Forbes reported in April 2021 that a new billionaire was created worldwide every 17 hours, with the majority of newfound wealth coming from China.

The USA may be the billionaire capital of the world, with between 813 and 902 billionaires recorded, but China has seen a significant rise in the top wealth bracket in recent years. Mainland China currently has around 450 billionaires with a combined wealth of $1.7 trillion. China also hosts over 1,400 people with fortunes above $700 million. Billionaires do not exist in communist nations.

Karl Marx’s communism involved seizing the means of production. The government owns land, infrastructure, factories, and corporations under the premise that the ruling class could be eliminated by surrendering ownership to the state. Citizens may not accumulate wealth, as no one may have more than another, and certainly not more than the state. Everyone must be equal in poverty.

Under communism, the incentive for innovation is null and void. China has become a pioneer in innovative technologies and discoveries in every sector. Entrepreneurs are abundant in China, and investment and international trade are encouraged. The China of today is one of the leading players in the global economy, driven by modernization and competitiveness. The China of the past may have been communist, but the government is not going to take down statues of Mao or announce past wrongdoings.

China quietly moved away from communism decades ago. They saw it wasn’t working and made a change without a public declaration. Yes, the CCP is certainly authoritarian to some degree, but it is a fallacy to call China a communist nation.»