sexta-feira, 31 de outubro de 2025

Ascensão do nacionalismo na ex- Jugoslávia e no Mundo







A entrevista de Pascal Lottaz ao Prof. Zlatko Hadžidedić é particularmente esclarecedora.
Ela permite-nos colocar em perspectiva o reativar dos nacionalismos, no contexto dum capitalismo globalizado. Para o autor, é a própria sobrevivência do capitalismo - na sua forma contemporânea de híper-capitalismo - que está em jogo.
Para este Professor, o capitalismo contemporâneo socorre-se da narrativa identitária do nacionalismo para sobreviver, visto que as contradições que ele engendra são de tal maneira que, sem a «cola social» do nacionalismo autoritário, estas sociedades entrariam em crise terminal e se desmembrariam.

Referências:

quarta-feira, 29 de outubro de 2025

PODER HIERÁRQUICO E BOM SENSO FUNDAMENTAL


 A humanidade tem progredido - sobretudo - em complexidade material, quer dizer, através de tecnologias cada vez mais sofisticadas. Porém, existe também a complexidade organizacional, que não é realmente explorada como deveria ser, apesar dos muitos críticos da «burocracia». 

É a complexidade organizacional que implica uma hierarquia das relações ou, pelo contrário, uma hierarquia das relações que implica uma complexidade organizacional? 

 -Esta questão deve ser desmembrada para se extrair daí uma nova maneira de ver o problema: 

-Muitas pessoas pensam a complexidade segundo níveis hierárquicos. Dirão que essa hierarquia é «natural», que ela é observada em todas as sociedades humanas e que se observa também na natureza, nas sociedades animais. 

Esta forma de encarar a complexidade não tem em conta que - por norma - as estruturas do mesmo nível de complexidade se organizam de forma «não-hierárquica»: uma colónia de seres unicelulares, é constituída por muitos  milhares ou milhões de indivíduos, cada um deles capaz de vida independente. Um tecido, num organismo animal ou vegetal, é formado por células idênticas na sua função, às quais se somam, frequentemente, células especializadas. No tecido animal ou vegetal, a função é desempenhada por este todo. De tal maneira esta função coletiva é de importância primordial, que existem em reserva células não-especializadas, embrionárias (células-tronco) que se poderão diferenciar e substituir as células danificadas, no conjunto das células tissulares.  

Portanto, contrariamente à visão estrictamente hierárquica, no nível  mais baixo de funcionamento dos sistemas complexos, devemos antes ver que tais seres complexos são organismos, isto é, uma federação de células, umas idênticas, outras  diferenciadas, mas todas desempenhando a(s) função(ões) conjuntamente.

E ao nível de conjuntos de indivíduos, ao nível das populações? 

- Embora uma versão ideológica, ultra-simplificada do darwinismo (a vulgata «neoliberal») nos tenha induzido a ver como predominantes as relações de competição entre os indivíduos, o facto é que a estabilidade dos grupos, das populações, depende da cooperação muito enraízada, ao ponto de se considerar que alguns dos comportamentos cooperativos observados são transmitidos pelos genes e não pela aprendizagem. 

Além das relações intra-específicas, existem muitas outras que se estabelecem de forma estável, ou transitória, entre seres de espécie diferente. As relações de simbiose potenciam as capacidades de seres de duas espécies diferentes, ao ponto da vida (ou a reprodução) dum dos simbiontes ser inviável, sem a colaboração do outro simbionte. Por exemplo, há espécies de plantas que têm uma anatomia da flor tal que apenas uma espécie de insecto consegue alcançar o néctar e carregar (ou descarregar) o pólen para fertilizar a planta; se desaparece o insecto, a planta rapidamente desaparece também, visto que não se pode mais reproduzir; se for a planta a desaparecer primeiro, a tal espécie de insecto desaparece logo de seguida visto que, não havendo a espécie vegetal, o insecto morre, não consegue adaptar-se instantaneamente a nenhuma outra espécie.

As interações entre plantas, animais e  microorganismos são de grande importância nos ecossistemas. Um ecossistema pode entrar em desequilibrio e acabar por ser destruído, apenas pela remoção de uma ou muito poucas de suas espécies. Com efeito, é o que se tem observado em situações onde a floresta (ecossistema complexo) é substituída por plantações; mesmo que permaneçam alguns restos da floresta original na periferia, ou «ilhéus» da mesma, no meio das terras cultivadas. Como tais restos de floresta deixaram de ter a sua capacidade auto-reprodutora, as diferentes espécies ou desaparecem ou diminuem rapidamente. Surgem então as espécies oportunistas, que tomam o lugar. Elas, muitas vezes, são pragas que fazem diminuir o rendimento das explorações.

Estes exemplos acima mostram como as relações naturais são de complexidade muito maior, do que imaginadas pelos humanos, ao longo da História. O ser humano tem sido frequentemente perturbador dos delicados equilíbrios naturais. Os cientistas do ambiente têm experimentado recuperar ecossistemas, devolvendo-os ao seu estado primitivo, em diversidade de espécies e em produtividade de biomassa. Infelizmente, têm tido muitos os fracassos e poucos os sucessos.

Os jogos de poder nas sociedades humanas são, por vezes, equiparados aos atos de predação de animais no estado selvagem. Este tipo de comparação não tem nada de científico;  mostra a ignorância de quem usa estes exemplos («o leão e a gazela», etc...). Com efeito, a predação é um processo complexo de interação entre a espécie-presa e a predadora. Os predadores têm tendência a atacar os mais fracos, devido à idade, a ferimentos ou doença. Este facto de predação preferencial, favorece as presas mais robustas, mais saudáveis, tendo portanto o efeito de apurar, constante e espontaneamente, suas capacidades físicas e - em especial - as suas capacidades em escapar aos predadores. O simétrico também é verdadeiro, pois as espécies-presa - ao serem difíceis da capturar - exercem uma pressão sobre a população dos predadores, seleccionando aqueles mais capazes de levar a cabo a caça.

Aliás, é bem conhecido e observado o comportamento de que os predadores não atacam suas presas, quando têm a barriga cheia. A predação natural, em circunstâncias não falseadas pela intervenção humana, parece-se mais com um «podar as hastes e ramos duma árvore». 

Embora estejam sempre a extinguir-se espécies, mesmo sem a intervenção direta ou indireta dos humanos, estas espécies são geralmente substituídas por outras, que aproveitam a oportunidade para se expandir ou diferenciar. O homem, pelo contrário, nos espaços que domina - ecossistema urbano, ecossistema agrícola - arrasa tudo o que não lhe convém e, muitas vezes, importa plantas e animais doutros ecossistemas, que podem ter efeitos devastadores nas floras e faunas autóctones (vejam-se os casos da colonização da Austrália e de muitas ilhas). 

A ideia bíblica da humanidade que recebeu este planeta de Deus, tendo que cumprir o seu dever de guardião das espécies, com prudência e respeito, foi completamente subvertida. A partir da era industrial, foi substituída pela depredação pura e simples, baseada na ideia de que a propriedade da terra seria um bem «absoluto» e que o seu proprietário podia fazer dela o que bem entendesse.

O estímulo para se ser «empreendedor» tem vigorado como parte da ideologia que minimiza ou anula as obrigações  do indivíduo para com a coletividade e isto, sem contrapeso. Com efeito, têm-se descurado os deveres públicos de ordenação, planificação e fiscalização (os quais, quando existem, muitas vezes são infestados por corrupção). Esta estranha «moda» tem como efeito difundir um ideal de triunfo do indivíduo sobre a sociedade e portanto,  de destruição da própria sociedade. 


RELACIONADO: Documentário sobre a  cooperação ao nível dos seres celulares há biliões de anos.


segunda-feira, 27 de outubro de 2025

TERÁ BACH COMPOSTO PARA O ALAÚDE? (segundas-f. musicais nº 37 )


Bach é celebrado hoje, como talvez nunca foi antes: É com base em obras de Bach que se ensinam os rudimentos da arte de tanger os instrumentos de tecla, mormente o órgão, mas também o cravo e clavicórdio. Porém, este sucesso póstumo levou a uma visão demasiado rígida, a uma visão de sua música como sujeita a um canon interpretativo, que coloca certas escolhas à margem, como heresias, ou como adaptações inapropriadas...
Porém, o próprio Mestre esteve sempre implicado em adaptações, apropriações, ou «plágios», como diríamos hoje, de obras de outros ou de composições dele próprio, que teria composto anteriormente.

O detalhe da vida e obra de Bach, leva-nos - no entanto - a compreender melhor o espírito do grande Mestre. É consensual que, no aspecto de usar vários instrumentos para as peças, estava perfeitamente dentro do «mainstream» da época.

Paul O'Dette, Nigel North e Eliot Fisk - excelentes intérpretes-alaudistas e também profundos conhecedores de Bach e sua época - vêm nos ajudar em Watch History a deslindar a questão de saber se aquilo que hoje em dia é tido como «obras de Bach para alaúde» o são verdadeiramente, ou se foram escritas para outros instrumentos e porteriormente transcritas, para serem executadas no alaúde.

Este magnífico instrumento foi importado da música árabe. Na Península Ibérica, nomeadamente, desenvolveu-se uma civilização requintada (Al Andaluz) que influenciou os eruditos cristãos, mas também se fixou nas tradições do povo. Basta ver as influências mozárabes, muito nítidas na Peninsula Ibérica, bem depois do último Reino Árabe, nas artes do século XVI e posteriormente.
Tornou-se o alaúde, no Renascimento, o instrumento preferido no acompanhamento do canto popular, como se pode verificar pela iconografia. As partes de acompanhamento da melodia, até ao século XV, em geral, eram apenas delineadas, sendo tarefa do cantor/alaúdista de  improvisar as partes não  escritas. 
Do ponto de vista acústico, é um instrumento com baixo volume sonoro, sendo mais apropriado como instrumento de câmara do que para manifestações ao ar livre.
Com outros instrumentos, participava em conjuntos, fossem eles de cordas e arco, ou da família das flautas. Na era barroca era usado com o teórbo, enquanto «baixo contínuo», em peças instrumentais. Nas primeiras óperas, ou «Dramas em Música», Monteverdi e outros compositores, utilizaram profusamente o alaúde e o teórbo.
Os alaudistas - nomeadamente os franceses - foram muito importantes na génese da Suite para instrumentos de corda e tecla. Os cravos possuíam um registo dito de alaúde (a extremidade percutente era em pele de búfalo, em vez de pena de pássaro).
Pode notar-se na escrita de cravistas da época (como Louís Couperin e muitos outros), a importação do estilo «brisé», muito comum na forma de executar acordes no alaúde.
No século XVIII, houve um renovo de interesse pelo instrumento. Mas, limitou-se a um público de amadores requintados, tocado muitas vezes a solo, ou em pequeno conjunto instrumental.

É bem possível nalguns casos (noutros sendo certo) que peças para outros instrumentos (violoncelo, cravo, etc) tivessem sido adaptadas por Bach, ou seus discíplos, ao alaúde.

É esta flexibilidade interpretativa, que envolve a sonoridade dos instrumentos, as diferenças tonais e utilização de diferentes ornamentos, que me seduz.

Pessoalmente, as «Suites de Bach para alaúde» soam-me muito naturais para este instrumento, sobretudo quando executadas por grandes intérpretes contemporâneos, que nos dão a conhecer as composições mais intimistas do Kantor da Igreja  de S. Tomás de Leipzig.

sábado, 25 de outubro de 2025

MEARSHEIMER: PAZ SABOTADA PELOS GOVERNOS OCIDENTAIS

 


O Prof. Mearsheimer apresenta aqui um discurso notável: o seu realismo mostra como os dirigentes ocidentais falharam por ausência de estratégia. Um discurso que desmonta as retóricas e ações inconsequentes.

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Comentário de Manuel Banet:

Os políticos europeus, que dirigem os governos do Reino Unido, Alemanha e França, são tão medíocres e falhos de visão em questões internacionais, como ao nível interno. 
Durante decénios, o poder «liberal-democrático» habituou-se a governar à custa de slogans, de efeitos pirotécnicos, de «campanhas morais», etc... Sem dúvida, esqueceram as suas funções, os seus deveres principais como governantes. Mas, sobretudo, nunca estiveram confrontados com situações dramáticas, para eles próprios e para seus regimes. Na Europa (e no Mundo), vivem-se agora momentos trágicos e decisivos para o futuro, não apenas  do continente, como da humanidade.
Porém, os partidos de poder, que mais têm empurrado para a guerra, são liderados por medíocres. Por pessoas que, em situações trágicas e de grande perigo, não fazem senão perorar frases-feitas, de retórica vazia, como as que produziram durante toda a sua carreira. Isto é o que se pode esperar deles. Nem, ao menos, estão imbuídos duma qualquer visão histórica. Eles navegam ao sabor das conveniências. E as conveniências, digamos francamente, é manterem-se a flutuar na esfera do poder (enquanto governo, ou oposição), evitando a ira popular. O que mais temem, é que venham a conhecimento público suas inúmeras manobras  protegendo os interesses de grandes financeiros e industriais, e assim comprando a sua protecção. Não vou aqui demonstrar, de novo, como a chamada «democracia liberal», cada vez tem menos de «democracia», ou de «liberal». Alás, basta ver o que se passa nos países tidos como «faróis da democracia», naquilo em que se transformaram.
O fracasso consiste não só na guerra Ucrânia-Rússia, em si mesma, como no bloqueio da sua resolução, por via dum acordo de paz que confira estabilidade e segurança a todos os países europeus, incluindo a Rússia.
Este fracasso é inteiramente devido à pusilanimidade de chefes de governo, de altos responsáveis da OTAN e de toda a pseudo-elite que tem produzido campanhas de ódio e de falsificação dos factos no terreno. 
Qualquer pessoa, independentemente das suas convicções, deveria desprezá-los, pois eles causaram as conversações resvalarem duas vezes para o impasse, daí resultando a continuação da guerra e seus muitos milhares de mortos (1ª vez em Istambul, em abril de 2022; 2ª em Budapest em out. de 2025). 

A propaganda de guerra pode enganar um certo número de pessoas, durante um dado tempo; porém, nunca poderá enganar todas as pessoas, durante todo o tempo.

sexta-feira, 24 de outubro de 2025

ÁFRICA, DISTORCIDA NAS NOSSAS IMAGINAÇÕES

 

 África e a Projecção de Mercator [*]


Durante mais de 450 anos, a nossa visão do mundo tem sido moldada por um mapa que é enganador. Na realidade poderíamos encaixar os EUA, a China, a Índia, o Japão e muito da Europa, dentro de África, que ainda ficariam espaços de terra restantes...


Analogamente, a Gronelândia parece semelhante em tamanho à África, em muitos mapas, quando de facto, a África é 14 vezes maior. O Alasca parece ter o mesmo tamanho que a Austrália, embora a Austrália seja 4,5 maior.


A causa destas distorções, reside na projecção de Mercator, que aumenta as massas terrestres tanto mais, quanto estas estiverem distantes do equador. Em consequência, regiões como a Gronelândia ou a Antártida parecem muito maiores do que seu verdadeiro tamanho, enquanto as terras equatoriais ficam diminuídas em tamanho.

[ * Traduzido a partir de https://www.james-lucas.com/ ]

quinta-feira, 23 de outubro de 2025

JOHN MEARSHEIMER ANALISA A GUERRA UCRÂNIA-RÚSSIA [CRÓNICA DA IIIª GUERRA MUNDIAL, Nº50]


A lição que o Prof. Mearsheimer nos dá a todos, é memorável a vários títulos:

É a defesa apaixonada da realidade sobre a política de sentimentos
A retórica foi substituir as realidades no terreno, por dirigentes europeus e norte-americanos 
Não é com discursos que se modificam as realidades; é abordando as realidades sem viseiras
As relações dentro da Aliança Atlântica entre a parte europeia e dos EUA
Mostra-nos o que aconteceu à Ucrânia em resultado da  «cruzada moral» do Ocidente

... E muitos outros tópicos. 

Se juntarmos os pontos de vista deste prof. com a de vários membros (nos EUA) da comunidade de defesa e de inteligência, verificamos que existem muitas pessoas qualificadas, que articulam críticas de fundo à maneira como o poder presidencial se tem comportado desde o tempo de Obama, passando por Trump 1º , Biden e Trump 2º.
De facto, a OTAN e a UE estão em grave crise, experimentam divisões internas e um divórcio crescente com as populações dos respectivos países.  
Mearsheimer aponta o dedo para a crise moral, para a incompetência e apego ao poder das classes dirigentes destes países. 
Penso que a confiança é o capital que pode manter a aceitação pela cidadania da sua liderança, num contexto de «não-ditaduras totalitárias».  Porém, agora, todos sabemos, a confiança popular nos governos dos países da Europa ocidental desvaneceu-se. As sondagens não mentem: Os dirigentes dos mais fortes países da Europa ocidental (Reino Unido, França, Alemanha) estão com uma popularidade extremamente baixa, assim como a Presidente da Comissão Europeia, Úrsula von der Leyen. 
Nestas circunstâncias, a forma que eles encontram para se conservarem no poder, é  fazer com que passe uma imagem falsa, propagandística, de uma Rússia inimiga, agressiva, desejosa de se expandir a Oeste. Como esta e outras imagens de propaganada se vão desgastando, porque a realidade acaba sempre por vir ao de cima, a credibilidade dos dirigentes europeus aproxima-se de zero.
Como podem eles (elas) pretender mobilizar uma boa parte do continente para uma guerra, quando as populações recusam fazer sacrifícios porque sentem que o que lhes pedem é completamente absurdo? 
Na minha opinião, os dirigentes europeus globalistas decidiram fazer a guerra contra as próprias populações. Temos visto exemplos de terrorismo de Estado e subversão de quaisquer laivos de Estado de Direito que restem, para levar à guerra (e inevitável derrota) seus respectivos países. 
Não ficarão as presentes lideranças muito tempo no poder, pois a ilusão de «derrotar a Rússia» está a desfazer-se como um castelo de cartas. Bem depressa, espero, os povos vão acordar e perceber que os dirigentes estão desesperados, e que encontraram uma escapatória nesta política de «guerra à outrance».


quarta-feira, 22 de outubro de 2025

ROUBO DE JÓIAS DO MUSEU DO LOUVRE COLOCA MÚLTIPLAS QUESTÕES

 MUSEU DO LOUVRE, 19 -10- 2025


O roubo, efetuado com grande profissionalismo e à luz do dia, mostra até que ponto as peças mais valiosas dos museus estão sujeitas a roubos.

Não há dúvida que o Museu do Louvre é um dos mais bem dotados, não apenas em financiamento estatal, como também por doadores privados. Logo, coloca-se a questão de saber porque motivo os museus com as peças mais representativas e valiosas do património nacional têm uma segurança bastante deficiente. Parece ser mais precária - a sua segurança - que a dos grandes bancos.

Basta ler o artigo «How The Louvre 'Heist Of The Century' Unfolded» para se compreender que os assaltos a museus e, em particular, a grandes museus como o Louvre, são frequentes. Por outro lado, a probabilidade de recuperar as peças roubadas é baixa, quer se trate de  quadros, de objetos de arte ou de jóias. 

As peças agora roubadas provavelmente nunca serão de novo vistas (*). Os profissionais, não apenas desmontam, como retalham as pedras preciosas, de modo que estas não possam ser detetadas. 

Outro fator muito desfavorável para a eventual recuperação do produto dos roubos, é a facilidade em transaccionar com criptodivisas. Estes podem atingir enormes cifras, movimentadas de modo que é muito difícil identificar os intervenientes na transação.

 No passado, na lavagem do dinheiro destas operações, usava-se «cash»; esta lavagem era mais difícil e arriscada para os ladrões de obras de arte e seus clientes. Com efeito, o mercado de obras de arte estava sempre estreitamente vigiado, havendo probabilidade de detecção das quantias avultadas. 

Hoje, devido aos movimentos de dinheiro não passarem por sistemas bancários e devido à total confidencialidade das transações com criptodivisas, os pagamentos tornaram-se mais seguros para  os ladrões,  os receptadores e os clientes finais.


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(*) Excerto do artigo acima:

Tobias Kormind, managing director of 77 Diamonds, told The Associated Press: “It’s unlikely these jewels will ever be seen again. Professional crews often break down and re-cut large, recognizable stones to evade detection, effectively erasing their provenance.”

There has been speculation that cryptocurrency could play a part in the crime. British private detective John Eastham said that art-crime investigators are seeing a sharp pivot from cash-based laundering to crypto-based liquidity when stolen goods are difficult to sell openly.

“When a theft involves extraordinary value—particularly heritage items—the real question isn’t just what was taken, it’s how will it be monetized? You can’t simply walk into a bank with millions in notes or diamonds. Crypto offers speed, anonymity, and international reach in a way cash no longer can,” Eastham said in an emailed statement.

“It’s highly likely that whoever is behind the Louvre theft already had a digital exit plan—either melting down components and selling through private networks or using high-value NFTs (Non-Fungible Tokens) or stablecoins to launder the funds.”

terça-feira, 21 de outubro de 2025

COMO VIVERMOS NUM TEMPO DE CRISE



"Contra a estupidez, até os Deuses lutam em vão "

( frase atribuída a Goethe)




Este escrito não é contra uma pessoa ou partido, é somente um aviso em relação à ficção da realidade: Como algo envolvido em papel decorativo, como uma caixa de chocolates. Com a diferença de que o envólucro de que eu falo, não encerra nada.

A estupidez tornou-se traje de rigor. A imbecilidade, a marca obrigatória. As pessoas que apenas cultivaram as aparências, como sendo algo de «valor», são as que triunfam.

Quanto à «turba mediática»: Essa nunca se assume como ignorante. Está sempre disposta a servir-nos o «prato» das notícias, com a última moda, o último pseudo-pensamento, acompanhados da eterna salada da ignorância...

Só que virá um tempo em que as pessoas acima mencionadas já não triunfarão em coisa nenhuma. E esse tempo está para breve, a meu ver, porque a maré mudou.

Mas não esperem reconhecimento, meus caros leitores, se porventura pertenceis aos poucos que ainda têm curiosidade em procurar entender e alcançar as raízes dos fenómenos.

O reconhecimento será o de vós próprios, de saberdes ver a realidade e, com isso, saberdes navegar nestes tempos conturbados. Esta propriedade, que já é tão rara, vai tornar-se preciosa nos tempos mais próximos.

O mais importante, nesta época, é saber distinguir a realidade profunda, de toda a espécie de epifenómenos, que até poderão ser reais, poderão corresponder a factos ocorridos. Porém, na nossa visão, há que distinguir entre as realidades que podem vir a configurar mudanças estratégicas, das que serão somente o borbulhar, a espuma dos dias...





Sei que estas palavras, no fundo e antes de mais, a mim próprio respeitam. É certo que não pretendo conquistar discípulos, adeptos ou seguidores.

No entanto, o que deve determinar a minha ação, ou seja, os fins, são coisas que me parecem, afinal, comuns a todos: a preservação da sua pessoa, o procurar o equilíbrio, o não se deixar arrastar nas ondas de fanatismo e de intolerância que se observam, o proporcionar para a família e os amigos um porto de abrigo no sentido próprio e figurado, o esclarecimento das pessoas que comigo convivam, não para as convencer, mas para aumento do grau de lucidez e consciência no meu entorno... E, sobretudo, imponho a mim próprio a disciplina de não ceder perante meus gostos, preferências, ou afinidades ideológicas, e exercer sobre os meus pontos de vista uma rigorosa crítica e autocrítica. Assim, poderei continuar a errar, como é evidente, mas será menos provável que persista no erro.

Só gostava que as pessoas que eu estimo, não se equivoquem sobre as minhas intenções, os meus desejos: Não pretendo convencer ninguém, nem afirmar que tenha razão sobre um dado assunto, seja ele qual for. Simplesmente, se emitir uma opinião, faço-o com um máximo de dados sólidos e não de subjectivismo.

...

Quanto ao resto, julgo adequado parafrasear o escritor do início do século XX, Pierre Louÿs e o seu romance «Les Aventures du Roi Pausole».

No reino de Pausole, havia somente duas leis:

-1° Não faças nada que possa ferir, magoar, ou prejudicar alguém.

-2° Uma vez bem assimilado o significado da frase acima, faz o que quiseres.




HAVERÁ UMA FATALIDADE PARA O COLAPSO DE «DIVISAS DE RESERVA» ?

 


Temos sempre algo que aprender com a História. Mas, se não o fizermos, estamos condenados a repeti-la ... sobretudo os seus falhanços.

segunda-feira, 20 de outubro de 2025

UM RABI EXPLICA O QUE É E COMO NASCEU O SIONISMO


Este vídeo parece-me muito informativo. A entrevista entre Pascal Lottaz (Neutrality Studies) e o Prof. Yakov Rabkin esclarece muito, permite-nos compreender as raízes ideológicas e influências da ideologia que se apoderou do governo de Israel: a corrente política chamada «sionismo». 



domingo, 19 de outubro de 2025

INICIAÇÃO - poema de Fernando Pessoa








INICIAÇÃO


Não dormes sob os ciprestes
Pois não há sono no mundo.
..........................
O corpo é a sombra das vestes
Que encobrem teu ser profundo.

Vem a noite, que é a morte,
E a sombra acabou sem ser,
Vais na noite só recorte,
Igual a ti sem querer.

Mas na Estalagem do Assombro
Tiram-te os Anjos a capa.
Segues sem capa no ombro,
Com o pouco que te tapa.

Então Arcanjos da Estrada
Despem-te e deixam-te nu.
Não tens vestes, não tens nada:
Tens só teu corpo, que és tu.

Por fim, na funda caverna,
Os Deuses despem-te mais.
Teu corpo cessa, alma externa,
Mas vês que são teus iguais.

.........................

A sombra das tuas vestes
Ficou entre nós na Sorte.
Não estás morto, entre ciprestes.
.........................
Neófito, não há morte.

(Presença, nº 35, Maio de 1932)



Este poema corresponde a uma fase relativamente tardia da produção do poeta. Escrito em 1930, tem aspectos de síntese de toda uma vivência passada, de sua proximidade com círculos iniciáticos, especialmente nos anos de sua juventude.
Com efeito, Pessoa tinha traduzido obras esotéricas, de Mme Blavatsky, de Alister Croley e doutros autores. Várias das obras em causa destinavam-se a fazer parte do catálogo duma editora, que ele próprio fundara, mas que depressa entrou em falência. Muitas das referências nos seus escritos inéditos mostram que Pessoa se preocupou durante toda sua vida com o esoterismo.
Teve uma relação bastante próxima com o referido Aleister Crowley, que se deslocou a Portugal, tendo o autor esotérico britânico protagonizado uma «aventura cómica», com a colaboração Fernando Pessoa*.

A substância do poema é deveras interessante, pelas correspondências que estabelece entre a vida corrente, o corpo enquanto «sombra de vestes», e o ser profundo.
A esotérica abordagem exprime-se nas três fases pelas quais o indivíduo é despido:
Primeiro, os Anjos retiram-lhe a capa; depois, os Arcanjos despem-no completamente, o indivíduo fica nu. Por fim, é despido o próprio corpo nu, no momento de revelação da alma,  junto de «seus iguais», os Deuses.
Este poema pode ser interpretado a vários níveis, enquanto símbolo e como sinal dum saber iniciático, oculto.
O classicismo na construção do poema, além de lhe conferir um tom solene, torna-o ideal para transmissão da verdade veículada no verso que encerra o poema: «Neófito, não há morte».


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Em 1930, Aleister Crowley, simulou ter-se suicidado na Boca do Inferno (Cascais). Crowley, com a ajuda de Pessoa, fingiu-se de morto, com Pessoa entregando o bilhete de despedida para a mídia. Três semanas depois, Crowley reapareceu publicamente em Berlim.




MAIS ARTIGOS SOBRE FERNANDO PESSOA:







sábado, 18 de outubro de 2025

VENEZUELA - NOBEL DA «PAZ» E «FRUTO PENDENTE*»

*Nota: A tradução mais comum para "hanging fruit" é «oportunidade fácil» ou «resultado fácil de alcançar». No entanto, preferi usar uma expressão mais literal, como "fruto pendente", pois esta é compreensivel no contexto deste artigo.

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 O presidente  Trump deve ter feito uma grande pressão para que o elegessem prémio  Nobel da Paz. O juri do Nobel deve ter sentido alguns pruridos de consciência  e decidiu antes escolher uma venezuelana, líder  de oposição  anti chavista e grande amiga dos EUA.  Maria Corina Machado, eleita prémio Nobel da Paz, "não é nenhuma flor pacifista":

- Internamente, não cessou de fazer apelos incendiários à sublevação contra o regime de Maduro.

- Em relação  ao estrangeiro, convidou os «pacíficos»  Netanyahu e Trump, a invadirem o país, com a garantia de que, se o fizessem e a pusessem na presidência, teriam garantido o petróleo venezuelano e tudo o mais. 

Não  creio que estas tomadas de posição públicas sejam adequadas para quem está comprometida num caminho de paz e de oposição não  violenta!



No entanto, a Venezuela tem forças militares e populares que não seria prudente ignorar. Se houvesse invasão pelos EUA ou forças mercenárias, a tarefa não seria fácil. Além disso, a Venezuela está hoje de boas relações com as potências mais significativas do ponto de vista económico e militar dos BRICS, a China e a Rússia. Tanto os chineses como os russos já  deram discretos sinais de que não irão ficar passivos perante uma eventual tentativa de derrube do regime venezuelano.

Um império em decadência acelerada já não mete tanto medo, sobretudo após os fiascos militares deste século XXI: Afeganistão, Iraque, Líbia, assim como outras situações em que os americanos foram obrigados a recuar.  Na verdade, as " guerras sem fim" que eles vão criando - incluindo a Ucrânia  - são apenas causadoras  de morte, destruição e dívidas colossais, além de criarem animosidade em muitos povos e governos diversos. Alienaram laços  fortes com a Arábia Saudita, Indonésia e vários países africanos ou latino-americanos. O apoio incondicional ao governo de Israel, nestes dois anos de matança de civis indefesos em Gaza, também contribuiu para que muitos perdessem a ilusão sobre as intenções humanitárias e benévolas de Washington.

Maduro, vendo as provocações constantes, o assassinato dos tripulantes de lanchas, supostamente transportando droga para os EUA (creio que já afundaram 4 desses barcos), percebeu que as forças militares dos EUA se preparavam para  uma invasão da Venezuela. Estas brutais execuções  extra-judiciais de pessoas que os americanos nem sabiam ao certo quem eram, são mais uma prova da hipocrisia do poder imperial. Mas, sobretudo, revelam o intuito de criar o pretexto da agressão («casus belli») e derrube do governo de Maduro.

O fruto pendente das enormes reservas de petróleo e das minas de ouro da Venezuela, devem ter feito salivar os "neocons".  Wolfowitz, um destacado neocon conselheiro de George W. Bush, argumentava (em 2003) que a invasão do Iraque "se pagaria a si própria"  com as enormes somas obtidas na venda de petróleo deste país. Sabemos que não foi assim, mas também sabemos que pessoas gananciosas e estúpidas são capazes de cair duas vezes no mesmo erro. 

De qualquer maneira, se houver guerra, não é  a oligarquia dos EUA que irá pagar a fatura. São os pobres, que irão mais uma vez servir como carne para canhão em guerras do Império Ianque...

A CHINA TERÁ DEZ VEZES MAIS OURO DO QUE RECONHECIDO OFICIALMENTE


 Sendo impossível resumir de forma satisfatória  esta longa entrevista, queria deixar aqui minha opinião  sobre a validade das previsões: 
- De facto, todos nós fazemos previsões  nas nossas vidas e damos crédito a previsões  feitas por outros. Porém, trata-se de balizar os possíveis, tendo em conta o saber acumulado. 
É a este nível que se situa a fraca credibilidade da imprensa mainstream, sobretudo em questões  económicas. 
- Pela minha parte, tenho dado atenção à  questão  do ouro, sobretudo como salvaguarda perante um sistema baseado na dívida, como tem sido o sistema financeiro mundial, no passado  meio-século. 
 O desenvolvimento anómalo dos setores bancário e financeiro, veio criar um ambiente favorável aos especuladores e aos que já eram muito ricos. Enquanto os muito ricos enriqueceram ainda mais, os novos pobres foram-se somando, incluindo nos países  de capitalismo mais dinâmico.  

A contradição aguda entre o vigoroso progresso técnico e científico, em todas as áreas e o alastramento da pobreza sob todas as formas, deveria fazer-nos pensar que o capitalismo se esgotou.
 Deve-se procurar alternativas melhores, mais justas, enquanto formas de produção  e de sistemas sociais e políticos.  
Cabe aos jovens de hoje e às gerações vindouras, a tarefa de inventar alternativas válidas - em termos sociais e humanos - ao tipo de economia e de sociedade que têm vigorado no Ocidente.

sexta-feira, 17 de outubro de 2025

GROUND em DÓ MENOR por William Croft



 Este Ground em Dó menor foi, durante muito tempo, atribuído a Henry Purcell. Recentemente, foi reconhecido que seu autor é William CroftMuitas pessoas aprenderam este «ground», como sendo de autoria do famoso Purcell. A peça - em si mesma - é uma pequena obra-prima, além de ser uma curiosidade da História da Música ocidental. 
Decidi escolhê-la para ilustrar a técnica de escrita musical conhecida como «a variação». 

No caso do Ground, trata-se de variações baseadas sobre um baixo repetitivo (Ostinato), sobre o qual o tema melódico é tratado de várias maneiras: A variação pode incidir sobre os aspectos melódico, rítmico ou modal.

Desde os inícios da polifonia (Séc. XII-XIII), que um dos processos mais usados na composição, é o da construção a partir de um baixo. Deste baixo, o compositor extraía a textura harmónica, ou seja, a sequência de acordes. A partir do baixo e da voz mais aguda - portadora, em geral, da melodia - procedia-se ao «enchimento», ou seja, compunham-se as vozes intermédias. Estas deslocavam-se em movimento paralelo ou contrário ao da melodia. Esta «receita» para a construção duma peça musical tornou-se muito utilizada desde a época renascentista e dominou a escrita musical no Barroco. Note-se que muitas peças onde não figura explicitamente o termo «variação» no título, são - apesar disso - construídas sobre o referido princípio.

Na música posterior, seja ela Clássica, Romântica, Pós-romântica ou Contemporânea, continuou a ser aplicado o princípio da variação, em múltiplas peças vocais e instrumentais. 


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- EXEMPLOS DE OBRAS BASEADAS NO PRINCÍPIO DA VARIAÇÃO:


AS FOLIAS, DO FOLCLORE AOS MEIOS ARISTOCRÁTICOS


Ária com variações, dita «A Frescobaldina»


FANDANGO- FLAMENCO - FOLIA - PASACALLES - CHACONA 


 Louis Couperin, «Pasacalle em sol menor»






quinta-feira, 16 de outubro de 2025

APOSTILA: SABEREI... [OBRAS DE MANUEL BANET]





Saberei eu... sorrir?

Quando, vestidos de branco

Partilharmos instantes

Poucos, dum último olhar


Saberemos nós guardar

Intimidade num hospital

Indústria de morte asseptizada

Que nos vê como corpos?


Saberei eu ... no momento

Da separação, que seja

Realmente a nova etapa

De nosso amor?


Amor, que seja eu

O primeiro a partir.

Deixa-me adormecer

Sob teu carinhoso olhar


Não consigo viver sem ti

Não por ter necessidades

De qualquer espécie

No vazio da tua ausência


Mas, não saberei

Viver sem ti

Tão simples como isso;

Sem ti, nada faz sentido


Eu não temo a morte,

Mas tua ausência

Porque, agora sei,

És meu fluído vital


Deixa-me crer que a morte

Seja, afinal, a transição.

Pois, Amor, se assim for

Não terei queixumes


Não precisarei de nada

Sabendo que nos veremos

De novo noutra dimensão

As almas emparelhadas


SINDICATO DO CRIME U.S.A.

 



Vale a pena ouvir este diálogo  entre George Galloway e Gerald Celente, caracterizando o regime dos EUA como uma monstruosa empresa criminosa, só diferindo da Máfia num aspecto: É que cometem os seus crimes odiosos à  frente de toda a gente ... e gabam-se das façanhas!!!

REGRAS DE BASILEIA: COMO A GRANDE BANCA TOMOU O CONTROLO


 

quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Saga dos neandertais na Ibéria e sua hibridação com H. sapiens



 A imagem popular dos Neandertais como bestas possantes, resistentes a condições adversas, mas de pouca inteligência, veio «explicar» durante decénios a extinção deste grupo de humanos arcaicos, à medida que se espalhava a população dos "Cro Magnon"* que são nossos ancestrais diretos, humanos anatomicamente modernos.

Porém, desde cedo, a imagem de brutamontes dos Neandertais estava posta em causa, pelo facto de existirem várias evidências de importações de tecnologias de talhe da pedra, oriundas dos Homo sapiens, pois estão já presentes em África, antes da última onda migratória para a Europa*. No entanto, essas técnicas foram copiadas e adaptadas por neandertais. As técnicas de talhe «Levallois» são tipicamente de transição entre a cultura Musteriense (típica de neandertais) e de «Homo sapiens sapiens».

Antes de estarem disponíveis as técnicas de análise de ADN antigo, João Zilhão e equipa (1998) levantaram a hipótese de que o Menino de Lapedo (ver vídeo abaixo), possuía inegáveis traços anatómicos de neandertal, embora fosse um «humano moderno».  Zilhão interpreta este hibridismo como sinal de que havia - disseminados na população a que pertencia o menino de Lapedo - genes originários dos neandertais. Tal como acontece com a nossa herança de genes neandertais, os cruzamentos na origem do hibridismo do Menino de Lapedo tiveram lugar muito tempo antes (milhares de anos).

No âmbito da genética das populações é sabido que os genes podem persistir ou desaparecer numa população ao longo das gerações, devido aos efeitos da selecção (selecção «darwiniana»), ou devido ao acaso.  Sabemos que quanto mais distantes no tempo forem os acontecimentos de hibridação  inter- específica,mais os genes importados estarão diluídos nas gerações subsequentes. 

Observou-se uma percentagem maior de genes de origem neandertal em populações atuais da Ibéria, em comparação com a percentagem em populações da Europa Oriental ou Asiáticas.  Este facto reforça um conjunto de evidências de que a extinção dos neandertais foi muito mais tardia na Ibéria, em relação a outras zonas que eles povoaram. 

Os documentários abaixo são interessantes. Em certos pontos, avançam com teorias ou hipóteses, para as quais não existe acordo na comunidade científica. Isso é o normal na ciência, que precisa do confronto de posições para o avanço nas pesquisas, nas investigações no terreno, nos debates teóricos...

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* Os primeiros humanos modernos (chamados de Cro-Magnon) chegaram à Europa há cerca de 45.000 anos. 




 Neandertais SOBREVIVERAM ATÉ 25.000 ANOS ATRÁS 




      CRIANÇA DE LAPEDO : hibridação H. sapiens x H. neanderthalensis


RELACIONADO:






segunda-feira, 13 de outubro de 2025

PRIMEIRO REACTOR NUCLEAR A TÓRIO (NA CHINA, DESERTO DE GOBI) FUNCIONA EM CONTÍNUO

 


Esta tecnologia usa matéria-prima abundante (o Tório), largamente distribuída no planeta, ao contrário do isótopo de urânio utilizado nas centrais atuais. 

A quantidade de Tório disponível no território da China, é suficiente para fornecer eletricidade a toda a sociedade chinesa durante 20 000 anos.

Será uma energia praticamente ilimitada.

domingo, 12 de outubro de 2025

APOSTILA: O Remanescente são Palavras [OBRAS DE MANUEL BANET]

 


Deixa a ridícula miragem

De sermos perpétuos, eternos

Não desprezes um suspiro

Um olhar, ou gesto inacabado


Sermos aquilo que somos

Parece o mais difícil, afinal:

Neste mundo, enganados somos

Pelos espelhos da nossa vaidade


Afinal, a felicidade está no instante,

No efémero, no real ao nosso alcance;

Nesta curvatura do espaço-tempo

Onde cegos e surdos caminhamos


Mas ouvir os sons naturais,

Apreciar uma paisagem intacta

Sem «monumentos» que plantaram

Os humanos na sua ébria vaidade


Colher tais impressões não cansa:

Levo-as para casa, nelas renovo

A misteriosa e potente força

Que a Vida nos oferece


Fecho os olhos e vejo a realidade

Transmutada em sonho único

Que nenhum artifício captaria

Porque o sonho é meu guia