Muitas pessoas aceitam a situação de massacres de populações indefesas em Gaza e noutras paragens, porque foram condicionadas durante muito tempo a verem certos povos como "inimigos". Porém, as pessoas de qualquer povo estão sobretudo preocupadas com os seus afazeres quotidianos e , salvo tenham sido também sujeitas a campanhas de ódio pelos seus governos, não nutrem antagonismo por outro povo. Na verdade, os inimigos são as elites governantes e as detentoras das maiores riquezas de qualquer país. São elas que instigam os sentimentos de ódio através da média que controlam.

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

VALSA nº2 DE DMITRI SHOSTAKOVICH

Célebre valsa, da suite «jazz»


Esta pequena peça, extraída da suite nº2 «Jazz», é a mais popular e celebrada do compositor soviético

É paradoxal que o gosto das pessoas se tenha fixado em formas musicais do século XIX ou, por outras palavras, que a maior parte das experiências musicais levadas a cabo no século XX (e XXI) deixem uma grande parte do público «frio». 
Porém, observa-se com o gosto pela música, o que eu designo como «o paradoxo da abundância». Aliás, este paradoxo é geral, pois envolve  muitas circunstâncias da vida de hoje, não apenas no campo musical. Pode-se enunciar da seguinte maneira:
«A selectividade do público perante produções (culturais) decresce, na medida em que cresce a oferta (a facilidade de acesso) do referido bem (cultural).»
Ao longo do século vinte, assistimos à extraordinária difusão do disco e da rádio, na sua primeira metade e da TV, do vídeo, da Internet, na segunda... Todos estes meios facilitaram extraordinariamente o acesso de todos os públicos, tanto o erudito como o ignorante, aos mais variados géneros e estilos de músicas. 
Nota-se, com o evoluir dos tempos, um consumo de massas cada vez menos selectivo. 
É certo que a qualidade do que é produzido, em várias épocas, é difícil de apreciar, até porque nossas apreciações estão fortemente enviesadas pelo sucesso de certas obras e autores. Esse sucesso vai mantendo determinadas composições na memória colectiva, sendo executadas em concertos ou em disco, repetidas vezes. 

Creio que o factor essencial é a educação (neste caso, a educação musical). 
Sem uma educação, uma cultura, um conhecimento mais do que superficial, não se pode usufruir com plenitude uma obra de arte. 
É como a iliteracia: temos capacidade de ler (ouvir) as palavras de um texto, mas sem fazer a conexão entre elas (a gramática e a semântica). Embora a faculdade de compreender a língua falada do nosso meio de origem, seja em certo grau, herdada, é muito insuficiente, está muito aquém de nos habilitar a usufruir das grandes obras da literatura ou, mesmo, de pequenos textos efémeros, que também podem ser geniais, à sua maneira.
- Tal como existe uma relação  entre a compreensão espontânea e básica duma língua e a capacidade em apreciar as produções da sua literatura, também o mesmo se aplica à arte musical, ou noutras artes. 
Nas artes plásticas, por exemplo, não se pode compreender determinada obra, sem conhecer os códigos estéticos que vigoravam na época da sua produção e mesmo, sem saber algo sobre os constrangimentos inerentes aos materiais e às técnicas utilizados nessa obra ... 
A fixação do gosto das massas é causada pela exposição repetitiva a determinados clichés musicais, reiterados e usados como fórmulas de sucesso. Mas, a originalidade também deveria ser factor de favorecimento do público. 
Com efeito, no caso musical, a originalidade consiste, por exemplo, em obter um efeito sonoro imprevisto, mas que se enquadra dentro da lógica da composição. Ela também é detectável numa composição dita «fácil», que nos «entra no ouvido».
É o caso da Valsa nº2 de Shostakovich: se analisada cuidadosamente, teremos a surpresa de encontrar nela pequenos detalhes subtis, reveladores da mão de um mestre. 

1 comentário:

Manuel Baptista disse...

Outra peça muito divertida de Shostakovitch:
https://www.youtube.com/watch?v=HD3ZG_nAFjk