Numa recente reunião de chefes de Estado e de governo da UE, Mário Draghi expôs o seu plano de revitalização da economia da Europa, tendo insistido no completar do mercado único, que implica uma planificação comum, uma integração total e uma centralização, que fariam da UE não mais a união de Estados independentes mas um super Estado.
Esta ideia de que, face a dificuldades, se deva acentuar o caráter centralista, irá favorecer o domínio - a todos os níveis - das partes mais fortes, as principais economias. A Alemanha, a França, a Itália e a Holanda ficarão ao leme, com as restantes nações ainda mais dependentes.
No fundo, trata-se de um modelo neocolonial e não federal ou confederal.
Macron e Van der Leyen têm pressionado fortemente para que tal plano seja implementado após "discussão" no parlamento europeu. Esta fuga para a frente foi justificada, como era de esperar, com "ameaças " externas: A eleição de Trump, a Rússia de Putin e os BRICS+ .
Parece loucura querer reformar profundamente a estrutura económica, financeira e política da UE, no momento presente; mas tem sido este o comportamento das forças dominantes, ao longo da história da UE: Veja-se o lamentável caso da constituição europeia, rejeitada em referendo pela França e a Holanda, reintroduzida - com outro nome - enquanto «Tratado de Lisboa».
Porém, as condições para realizar esta centralização, já seriam difíceis, mesmo num contexto bem menos tenso. A subida contínua de correntes do euro-cepticismo, relaciona-se de perto com a profunda crise económica associada à destruição do Estado Social durante mais de três décadas, com a imposição aos países mais fracos da moeda única e favorecendo as economias do Norte (Alemanha, Holanda e Escandinávia), o sobre-endividamento, a manutenção da política de "austeridade", mas só para as classes trabalhadoras.
Esta tentativa de consolidar o "barco" da UE, através de mais centralização, mais burocracia e maiores assimetrias sociais e regionais, vai ter um dos dois desfechos seguintes:
- Ou falha, logo à partida, porque não obtem apoio suficiente para ser implementada;
- Ou, caso seja implementada, vai ser mais um fator de discórdia, precipitando a saída de vários países e a explosão social nos outros.
Até agora, as populações dos países mais poderosos não sofriam, de forma acentuada, com as crises económicas. Mas, já se vê que estes povos estão a ser fortemente atingidos pela crise mundial económica e financeira que já começou.
As pessoas mais revoltadas são - em geral - as que possuíam algum bem-estar, que perdem o seu emprego. São as classes trabalhadora e média, reduzidas à pobreza, que irão revoltar-se contra os governos que elas apoiaram, ativa ou passivamente.
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