sábado, 30 de novembro de 2019

ATACAR A FONTE E NÃO O CONTEÚDO: A FALÁCIA MAIS COMUM

                            


No  recente artigo da jornalista independente Caitlin Johnstone,  é dissecada aquela que -porventura- será a falácia mais comum, ou seja, um argumento que, não sendo válido, é apresentado como sendo, numa discussão. Se eu digo que «determinada informação ou opinião é inválida porque foi proferida por X (sendo X uma pessoa, ou uma entidade)» estou, na realidade a fugir a analisar e discutir o conteúdo dessa mesma informação ou opinião, estou desviando a atenção para um julgamento de valor sobre o emissor da mesma: neste exemplo, descreveria X como alguém 'com interesse em fazer a propaganda de um dado ponto de vista', ou X como alguém 'sem qualificações para emitir juízos sobre a matéria em causa', etc...
Este tipo de falácia chama-se «ad hominem», porque vai argumentar contra o emissor da opinião ou argumento, não contra o seu conteúdo. Não precisa ser um insulto, propriamente, pode ser uma recusa simples de discutir algo, só porque vem de determinada pessoa, de determinada fonte, de certo jornal, de certa corrente partidária, etc.
Na realidade, os políticos e as pessoas que passam por opinadores, especialmente neste Portugalzinho de «brandos» costumes,  estão constantemente a fazer esse erro, a cometer esta falácia. Assim, costumam «argumentar», perante a opinião contrária, simplesmente emitindo um juízo de valor sobre quem (a pessoa ou a instituição) a emite: um apontar a dedo, que eles esperam fazer passar por argumento junto dum público apressado e pouco esclarecido nestes «truques». Assim, eles dão, a um certo número na audiência, a ilusão de que estão a debater a sério, seja que assunto for. 
Como aconselha Caitlin Johnstone, a réplica a este tipo de ataques, não consiste em fazer como quem nos ataca desta forma, mas antes desmontar a falácia. 
Mas é necessário que o público, não só os protagonistas, esteja consciente do seguinte: 
Certas pessoas ou entidades, ao fazer passar por argumento, aquilo que na realidade é um ataque «ad hominem» estão a ser extremamente autoritárias, estão a desprezar o outro (como se alguém não tivesse direito a ter seus próprios pontos de vista) e a desprezar a audiência, o público. Com efeito, quem faz esse tipo de falácia nos debates, julga que o público é tão ignorante ou estúpido que engole estas acrobacias verbais, como se fossem argumentos reais e com interesse para o tema em debate.
Nota-se este comportamento em todo o espectro político e ideológico. Nota-se nos canais de media «mainstream» e também, em canais de media «alternativos». 
O facto de ser tão banal, torna esta falácia ainda mais perigosa, pois ela surge como «natural», como «pecadilho». 
Na verdade, não o é: porque, como refiro acima, é autoritária; exclui o debate; torna impossível qualquer diálogo; impossibilita que se vá ao cerne de um assunto; transforma um debate de ideias, num juízo sobre pessoas e virtudes ou pecados das mesmas. No fundo, é uma recusa em dialogar, não explicitamente assumida, uma hipócrita forma de rebaixar eventuais opositores.
 Revela uma grande instabilidade e insegurança por parte de quem assim procede pois, quem está seguro dos argumentos que defende, não teme discuti-los. 
Pelo contrário, quem teme o debate, esconde-se atrás de falácias. A mais corriqueira destas falácias consiste em «por em causa» o portador do argumento e não o argumento em si mesmo.


«CHOROS» DE ERNESTO NAZARETH E ZEQUINHA DE ABREU

Continuo a aprofundar o meu contacto e conhecimento da música latino-americana, em particular, brasileira. 
Aqui, dois nomes essenciais, que inspiraram gerações de músicos, Ernesto Nazareth e Zequinha de Abreu: do primeiro, o choro-tango «Odeon» interpretado no cravo por Rosana Lanzelotte (*) e o segundo, o celebérrimo «Tico-tico no Fubá» ao piano, por João Tavares Filho.

  




[...]
Nazareth e Chiquinha Gonzaga criaram as primeiras composições que firmaram o choro como género musical com características próprias, além de formar a primeira geração de “pianeiros” cuja obra resistiu ao tempo e ajudou a constituir o que se conhece hoje como “piano brasileiro”.
A partir da década de 30, impulsionado pelo rádio e pelo investimento das gravadoras de disco, o choro torna-se sucesso nacional. Uma nova geração de chorões organizou-se em conjuntos chamados regionais e introduziu a percussão nas composições. Nos anos seguintes, surgiram vários músicos, como Canhoto, Altamiro Carrilho, Jacó do Bandolim, Valdir Azevedo, Nelson Cavaquinho e Pixinguinha, entre outros (a data de nascimento de Pixinguinha, 23 de Abril, é assinalada como o Dia Nacional do Choro). No piano, os grandes nomes da época foram o pianeiro e compositor carioca Sinhô e Zequinha de Abreu, autor de “Tico-Tico no Fubá” e “Sururu na Cidade”.
O choro, carinhosamente chamado de chorinho, teve seus elementos musicais característicos explorados por inúmeros compositores, como Villa-Lobos, Francisco Mignone, Osvaldo Lacerda e Camargo Guarnieri, para citar alguns. Entre os nomes mais recentes que se dedicaram ao gênero estão Radamés Gnattali, Cyro Pereira, Edmundo Villani Cortes e o pianista Hercules Gomes, grande divulgador do estilo atualmente.

(*) Aprecia esta versão de Baden Powell:
https://www.youtube.com/watch?v=GsieDkg2vPE


[Manlio Dinucci] F-35 LEVANTAM VOO COM ASAS BIPARTIDÁRIAS


                         


Lorenzo Guerini (PD), Ministro da Defesa do Governo Conte II, comunicou às comissões parlamentares, a passagem para a fase 2 do programa de compra dos F-35, da empresa americana Lockheed Martin. Passagem preparada pelo Governo Conte I: o Vice Primeiro Ministro Salvini (Lega) sublinhou, em Março passado, que “qualquer hipótese de abrandamento ou correcção do programa de compra dos F-35 seria uma perda para a economia italiana”; o Subsecretário dos Negócios Estrangeiro, Di Stefano (M5S) solicitou uma “revisão profunda dos acordos”, mas acrescentou que “se tivermos penalidades a pagar, certamente não entraremos na História por ter traído um acordo feito com empresas privadas: existe toda uma cadeia que deve ser respeitada”. Em Maio passado, o Governo Conte I autorizou “a construção e entrega de 28 caças F-35 até 2022 (os aviões entregues até ao momento são 13), cujos contratos foram completamente financiados”, obviamente com dinheiro público.
Em Outubro passado, em conversas confidenciais com o Governo Conte II, em Roma, o Secretário de Estado USA, Mike Pompeo, pedia à Itália para desbloquear a encomenda para uma compra posterior. O Ministro da Defesa Guerini assegurou-lhe, imediatamente, numa entrevista ao Corriere della Sera, que "a Itália é um país confiável e credível em relação aos compromissos internacionais: contribuir para o programa F-35 é um sinal tangível de nossa confiabilidade". Alguns dias depois, durante uma conferência de imprensa em Washington com o presidente Mattarella, o presidente Trump anunciou exultante: "A Itália acabou de comprar 90 novos F-35. O programa é muito bom".
A Itália confirma, portanto, o seu empenho em comprar 90, com uma despesa prevista de cerca de 14 biliões de euros. A essa é junta-se a não quantificável para a actualização contínua do software de caça. A Itália não é só compradora, mas fabricante do F-35, como parceira de segundo nível. La Leonardo - a maior indústria militar italiana, da qual o Ministério da Economia e Finanças é o principal accionista, com cerca de 30% - está fortemente integrada no complexo industrial militar USA. Foi, por este facto, escolhida para gerir a fábrica Faco, em Cameri (Piemonte), de onde saem os caças destinados à Itália e à Holanda. A Leonardo produz, também, as asas completas para os aviões montados nos USA, utilizando materiais produzidos nas fábricas de Foggia (Puglia), Nola (Campania) e Venegono (Lombardia). O emprego na Faco é de cerca de mil postos de trabalho, dos quais muitos são provisórios, apenas um sexto do previsto. A despesa para a construção da fábrica Faco e a compra dos caças são superiores ao valor dos contratos estipulados pelas empresas italianas para a produção do F-35. Do ponto de vista económico, ao contrário do que o governo alega, a participação no programa F-35 é um fracasso para o erário público.

O Ministro Guerini lançou a fase 2 do programa F-35 “sem uma avaliação de mérito e na ausência de uma declaração, em discordância com as indicações do Parlamento”, denuncia o deputado da LeU, Palazzotto, pedindo que o Ministro explique “em que base, assumiu, autonomamente, esta decisão”. Na sua “explicação”, o Ministro nunca dirá a verdadeira razão pela qual tomou essa decisão, não autonomamente, mas por deliberação do ‘establishment’ italiano. A participação no programa F-35 reforça a ancoragem política e estratégica da Itália aos Estados Unidos, integrando ainda mais o complexo militar industrial italiano no gigantesco complexo militar-industrial USA. A decisão de participar no programa é, portanto, uma escolha política, feita numa base bipartidária. Confirma-o, o facto da Liga, adversária do Partido Democrata, aplaudir o Ministro do Pd: “Observamos com satisfação, que sobre o F-35, o Ministro Guerini anunciou o início da fase 2”, declaram, unânimes, os legisladores da Liga. As principais forças políticas, em contraste uma com a outra, reagrupam-se, seguindo os Estados Unidos, “o aliado privilegiado” que, em breve, instalará em Itália, juntamente com os F-35, as novas bombas nucleares B61-12 projectadas, em particular, para estes caças da quinta geração.
il manifesto, 30 de Novembro de 2019







                                   

DECLARAÇÃO DE FLORENÇA
Para uma frente internacional NATO EXIT, 
em todos os países europeus da NATO


Manlio DinucciGeógrafo e geopolitólogo. Livros mais recentes: Laboratorio di geografia, Zanichelli 2014 ; Diario di viaggio, Zanichelli 2017 ; L’arte della guerra / Annali della strategia Usa/Nato 1990-2016, Zambon 2016, Guerra Nucleare. Il Giorno Prima 2017; Diario di guerra Asterios Editores 2018; Premio internazionale per l'analisi geostrategica assegnato il 7 giugno 2019 dal Club dei giornalisti del Messico, A.C.

Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos 
Webpage: NO WAR NO NATO

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

CAMPANHA «VERDE»: RENTÁVEL ESTRATÉGIA DA OLIGARQUIA BILIONÁRIA

[Enquanto, na Suécia, Greta Thunberg é ensinada às crianças em classe de «ensino religioso» , onde se propõe que façam troça de quem seja contra Thunberg, transformada em santa...]

                                           

Aqui, uma síntese de um interessante artigo de Herland Report

Bill Gates levantou a lebre, referindo a existência de uma conferência em New York em que muito ricos investidores, pretendiam controlar financeiramente companhias que emitem CO2 para a atmosfera e reorientá-las para uma «economia verde» (ver em: Bill Gates on #ClimateChange da Newsletter «Herland Report»).

Segundo o referido artigo: 
«...A ironia consiste no facto do mais proeminente gestor de fundos bilionários, há muito tempo conhecido como manipulador dos mercados, George Soros, é um dos impulsionadores por detrás das organizações para a transição climática, para um mundo livre de energia fóssil.
Trata-se, no presente, de uma actividade com financiamento bilionário. A Heritage Foundation revela que, em 2012, a Climate Policy Iniciative publicou no estudo «Investimento global nas alterações climáticas», que 359 milhares de milhões de dólares tinham sido investidos em eco-projectos, apenas nesse ano. O Show de Greta Thunberg é somente uma pequena parte da campanha bilionária «ecológica».
Não pode ser surpresa para o público que o mercado dos media e o sistema financeiro estejam a exercer predação sobre a paz e prosperidade, em benefício das suas próprias elites. Isso tem acontecido desde há muito tempo.
Em 2007, quando a crise financeira chegou, uma grande parte foi devida à voracidade de Wall Street. Os americanos pobres receberam empréstimos, para compra de habitações, que não poderiam jamais pagar. Toda a gente sabia isso.
O mundo não possui qualquer fonte de energia comparável ao carvão, petróleo e gás natural. As energias hídrica, solar e eólica, não estão neste estádio de desenvolvimento a qualquer nível comparável à intensidade adequada para satisfazer as necessidades mundiais em energia.  Portanto, quem está a manipular o mercado de energia através duma reorientação de investimentos da ordem de biliões de dólares?...»
...
Soros e os capitais ligados a Wall Street, desejam apropriar-se do mercado das energias renováveis. Nisso, têm a aprovação e o encorajamento dos neo-cons que dominam largos sectores do «Estado Profundo» nos EUA. Eles pretendem, através de uma guerra de preços da energia, destruir a Rússia e o Irão, cujas economias estão largamente dependentes do preço do petróleo e do gás. 

PAPA FRANCISCO, «A BOMBA ATÓMICA É IMORAL E CRIMINOSA»



 As palavras embaraçosas do Papa Francisco, a partir de Hiroshima: «A bomba atómica é imoral e criminosa». 
Silêncio bipartidário sobre o Papa

Manlio Dinucci


Il papa in Giappone


Silêncio de tumba no arco institucional italiano, sempre loquaz sobre o Papa, sobre as palavras proferidas por Francisco, em 24 de Novembro, em Hiroshima e Nagasaki: “O uso da energia atómica para fins de guerra é hoje, mais do que nunca, um crime. É imoral a posse de armas atómicas ”.
Palavras embaraçosas para os nossos expoentes máximos institucionais que, como os anteriores, são responsáveis pelo facto de que a Itália, um país não nuclear, hospede e esteja preparada para usar armas nucleares americanas, violando o Tratado de Não Proliferação ao qual aderiu, que proíbe aos Estados militarmente não nucleares, receber armas nucleares e controlá-las directa ou indirectamente. Responsabilidade ainda mais grave porque a Itália, como membro da NATO, recusou-se a aderir ao Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares, votado pela grande maioria da Assembleia Geral da ONU: que obriga os Estados signatários a não produzir nem possuir armas nucleares, não usá-las ou ameaçar usá-las, não transferi-las ou recebê-las directa ou indirectamente, com o objectivo da sua eliminação total.
EMBARAÇOSA para os governantes, a pergunta que o Papa Francisco faz, de Hiroshima: “Como podemos falar sobre paz enquanto construímos novas e formidáveis armas de guerra?” Em Itália, as bombas nucleares actualmente estimadas, são cerca de 70, todas do modelo B61, mas estão para ser instaladas no território italiano, as novas e mais mortíferas bombas nucleares USA B61-12 (número ainda desconhecido) no lugar das actuais B-61. A B61-12 possui uma ogiva nuclear com quatro opções de potência seleccionável: no momento do lançamento, é escolhida a potência de explosão, dependendo do alvo a atingir. Ao contrário da B61, lançada na vertical sobre o alvo, a B61-12 é lançada a distância e guiada por um sistema de satélite. Tem, também, a capacidade de penetrar no subsolo, mesmo através de betão armado, explodindo em profundidade para destruir os bunkers dos centros de comando e estruturas subterrâneas, de modo a “decapitar” o país inimigo, num ‘first strike’ nuclear.
IGUALMENTE EMBARAÇOSA é a outra pergunta do Papa: “Como podemos propor a paz se usamos continuamente a intimidação bélica nuclear como recurso legítimo para a resolução dos conflitos?” A Itália, como membro da NATO, apoiou a decisão de Trump de cancelar o Tratado INF que, assinado em 1987 pelos Presidentes Gorbachev e Reagan, tinha permitido a eliminação de todos os mísseis nucleares de alcance intermédio com base no solo, distribuidos na Europa, incluindo aqueles instalados em Comiso. Os USA estão a desenvolver novos mísseis nucleares de alcance intermédio, tanto de cruzeiro como balísticos (estes capazes de atingir alvos poucos minutos após o lançamento), a serem distribuídos na Europa, certamente também em Itália, contra a Rússia e na Ásia, contra a China. A Rússia advertiu que, se forem disseminados na Europa, apontará os seus mísseis nucleares para os territórios nos quais serão instaladas.
AS POTÊNCIAS NUCLEARES possuem um total de cerca de 15.000 ogivas nucleares. Mais de 90% pertencem aos Estados Unidos e à Rússia: cada um dos dois países possui cerca de 7 mil. Os outros países que possuem ogivas nucleares são: França (300), China (270), Grã-Bretanha (215), Paquistão (120-130), Índia (110-120), Israel (80), Coreia do Norte (10- 20). Cinco outros países - Itália, Alemanha, Bélgica, Holanda e Turquia - têm em conjunto, cerca de 150 ogivas nucleares americanas instaladas nos seus territórios. A corrida armamentista está a ocorrer agora, não em quantidade, mas em qualidade: ou seja, no tipo de plataformas de lançamento e nas capacidades ofensivas das ogivas nucleares.
E QUANDO o Papa Francisco afirma que o uso da energia nuclear para fins de guerra é “um crime não apenas contra o Homem e sua dignidade, mas contra qualquer possibilidade de futuro na nossa casa comum”, que põe em perigo o futuro da Terra, aqui não devem calar-se os que estão empenhados na defesa do meio ambiente: porque a ameaça mais grave para o ambiente da vida no planeta é a guerra nuclear e é prioritário, o objectivo da eliminação completa das armas atómicas.
Será agora recebida a advertência do Papa Francisco, na Igreja e entre os católicos – que, no Japão, estão na primeira fila contra qualquer rearmamento e reforma da Constituição da Paz?

Falta ver até que ponto o aviso lançado pelo Papa Francisco, a partir de Hiroshima, é recebido na própria Igreja e em geral entre os católicos. Não é a primeira vez que ele lança esse alerta, mas sua voz, para usar uma frase do Evangelho, assemelha-se à de “alguém que grita no deserto”. Neste ponto, surge espontaneamente uma proposta laica: Se falta a consciência, que se revele, ao menos, o instinto de sobrevivência.

il manifesto, 26 de Novembro de 2019

Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

O MEDO, INSTRUMENTO DOS PODEROSOS

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Medo de perder o emprego
Medo de ser assaltado(a) na rua
Medo de apanhar doença contagiosa
Medo do futuro
Medo de se enganar
Medo do ridículo
Medo de falhar
etc,etc.

                                             

Todos estes medos são usados como ingredientes, num ou noutro cocktail de notícias, que nos é servido, num fluxo ininterrupto, pelos media. Aquilo que «vende», em termos noticiosos, é o que causa mais medo, mais espanto, mais receio... 
A psicose colectiva do «aquecimento global», psicose induzida em larga escala pelos próprios poderes globalistas, é o exemplo máximo dessa infusão de medo nas pessoas. 
Também para uma esquerda completamente destituída do sentido de emancipação da classe trabalhadora, das suas próprias raízes, a luta contra o aquecimento global surgiu como uma (mais uma) bóia de salvação. Sabemos como ela se tornou órfã do socialismo estatal, após implosão da URSS, da conversão da China popular, sob a batuta do Partido Comunista  da China, no maior explorador de mão-de-obra barata e apologista do capitalismo mais desenfreado, ou quando os movimentos de libertação, desde Angola até ao Vietname, passaram - num espaço de tempo muito curto -  de celebrados, a celerados
Repare-se que a histeria com a «guerra global contra o terrorismo» abrandou temporariamente, ou ficou em segundo plano, embora se continue a registar atentados terroristas quotidianamente no Médio Oriente, ou noutras zonas, mas que não são notícia de primeira página, pois não pertencem ao «mundo desenvolvido». 
A casta política sabe, perfeitamente, que precisa que o medo nas pessoas atinja um paroxismo, de tal maneira que estas se conformem e aceitem o irracional, não porque se tornou de repente racional, mas porque «todos» têm o mesmo discurso.
E assim, mesmo antes duma sociedade totalitária se instalar, criam-se as bases do Estado totalitário, o totalitarismo «soft». Repare-se na generalização, sob pretexto da segurança e combate ao crime, da vigilância contínua, da digitalização em massa dos rostos e outras características, graças a algoritmos de reconhecimento automatizado, a impossibilidade de se estar num espaço público de uma grande cidade sem se ser filmado por câmaras de vigilância, de tal modo que ficam captadas imagens que poderão ser repescadas em qualquer momento... As recolhas maciças de dados de conversações telefónicas ou e-mails, no mundo inteiro (pela NSA e por outras agências), armazenadas em super computadores, que servem para moldar as estratégias dos poderes globais.
Alguns «Robin Hood», lançadores de alerta, como Julian Assange ou Edward Snowden, são apresentados com as cores mais carregadas possíveis pelos media, como se a missão destes fosse o apoio à propaganda do poder (na realidade, eles transformaram-se nisso mesmo). Nunca se coloca a questão do conteúdo daquilo que os lançadores de alerta revelaram, esta parece ser a regra da «informação» ao público.

Manipula-se o medo nas pessoas mas, igualmente, induz-se ao indiferentismo, submergindo-as numa catadupa de notícias, apresentadas com idêntico destaque, como se fossem equivalentes em importância. O objectivo é exactamente esse mesmo; as pessoas darão mais importância a um caso pontual, um fait-divers, muitas vezes envolvendo uma «celebridade» qualquer, sobretudo se tiver conotações de sórdido, de sexual, de imoral, etc... Assim, não irão captar a importância doutras notícias, que poderão ter muito mais a ver com elas próprias, com o seu futuro, ou que poderão ser exemplos de acções contra os poderosos... 

A máquina repressiva, por um lado, e a constante monitorização das mentes, por outro, já estarão montadas, quando houver a «descida aos infernos» da próxima crise económica e financeira global do capitalismo, o que vai brevemente acontecer (ou está já acontecendo). Os defensores do status quo, a minoria de 1% da população, detentora do monopólio dos meios de comunicação de massas e de coerção, vão tudo fazer para que a transição seja em seu benefício, para maior controlo sobre os mais pobres, para um reforço da riqueza e poderes da classe oligárquica, dentro de cada país e internacionalmente. 

No entanto, existem sempre variáveis que eles - os globalistas - não controlam, existe sempre uma parte da realidade que é aleatória, ou não determinista... Tenho alguma esperança, que as suas utopias regressivas (distopias), sejam desfeitas, no médio-prazo e que apenas tenham lugar nos livros de História, sobre as primeiras décadas do século XXI.  

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

VALSA nº2 DE DMITRI SHOSTAKOVICH

Célebre valsa, da suite «jazz»


Esta pequena peça, extraída da suite nº2 «Jazz», é a mais popular e celebrada do compositor soviético

É paradoxal que o gosto das pessoas se tenha fixado em formas musicais do século XIX ou, por outras palavras, que a maior parte das experiências musicais levadas a cabo no século XX (e XXI) deixem uma grande parte do público «frio». 
Porém, observa-se com o gosto pela música, o que eu designo como «o paradoxo da abundância». Aliás, este paradoxo é geral, pois envolve  muitas circunstâncias da vida de hoje, não apenas no campo musical. Pode-se enunciar da seguinte maneira:
«A selectividade do público perante produções (culturais) decresce, na medida em que cresce a oferta (a facilidade de acesso) do referido bem (cultural).»
Ao longo do século vinte, assistimos à extraordinária difusão do disco e da rádio, na sua primeira metade e da TV, do vídeo, da Internet, na segunda... Todos estes meios facilitaram extraordinariamente o acesso de todos os públicos, tanto o erudito como o ignorante, aos mais variados géneros e estilos de músicas. 
Nota-se, com o evoluir dos tempos, um consumo de massas cada vez menos selectivo. 
É certo que a qualidade do que é produzido, em várias épocas, é difícil de apreciar, até porque nossas apreciações estão fortemente enviesadas pelo sucesso de certas obras e autores. Esse sucesso vai mantendo determinadas composições na memória colectiva, sendo executadas em concertos ou em disco, repetidas vezes. 

Creio que o factor essencial é a educação (neste caso, a educação musical). 
Sem uma educação, uma cultura, um conhecimento mais do que superficial, não se pode usufruir com plenitude uma obra de arte. 
É como a iliteracia: temos capacidade de ler (ouvir) as palavras de um texto, mas sem fazer a conexão entre elas (a gramática e a semântica). Embora a faculdade de compreender a língua falada do nosso meio de origem, seja em certo grau, herdada, é muito insuficiente, está muito aquém de nos habilitar a usufruir das grandes obras da literatura ou, mesmo, de pequenos textos efémeros, que também podem ser geniais, à sua maneira.
- Tal como existe uma relação  entre a compreensão espontânea e básica duma língua e a capacidade em apreciar as produções da sua literatura, também o mesmo se aplica à arte musical, ou noutras artes. 
Nas artes plásticas, por exemplo, não se pode compreender determinada obra, sem conhecer os códigos estéticos que vigoravam na época da sua produção e mesmo, sem saber algo sobre os constrangimentos inerentes aos materiais e às técnicas utilizados nessa obra ... 
A fixação do gosto das massas é causada pela exposição repetitiva a determinados clichés musicais, reiterados e usados como fórmulas de sucesso. Mas, a originalidade também deveria ser factor de favorecimento do público. 
Com efeito, no caso musical, a originalidade consiste, por exemplo, em obter um efeito sonoro imprevisto, mas que se enquadra dentro da lógica da composição. Ela também é detectável numa composição dita «fácil», que nos «entra no ouvido».
É o caso da Valsa nº2 de Shostakovich: se analisada cuidadosamente, teremos a surpresa de encontrar nela pequenos detalhes subtis, reveladores da mão de um mestre. 

terça-feira, 26 de novembro de 2019

GUILLAUME PITRON: «o automóvel eléctrico polui tanto ou mais que o diesel»


Não só no seu ciclo de vida completo, um automóvel eléctrico emite mais CO2 do que um veículo a diesel... mas, também causa uma grande depredação dos ambientes naturais pelo mundo fora, devido à voracidade das baterias dos automóveis eléctricos, em lítio e em metais raros.
Guillaume Pitron chama a atenção para o facto de que uma conversão do mercado automóvel a energias ditas «não poluentes», apenas vai reforçar o nosso estilo de vida consumista, com desprezo pelos danos causados noutras zonas do globo e seus povos (China, Mongólia, Rép. Dem. Congo, Bolívia, etc), que pagam o preço das modas «ecológicas» dos ricos. Tudo isto, para maximizar os lucros de gigantes corporativos, Tesla, Apple, Samsung, etc...
Afinal, trata-se de esventrar a Terra, com mineração destruidora de ecossistemas, culturas, comunidades, etc. Como essas minas estão «longe» da vista, também não fazem estremecer o coração, ou os miolos, dos afortunados consumidores do 1º Mundo!
As energias «renováveis» são apenas os painéis publicitários do novo consumismo, dito ecologicamente responsável ou «verde», como se tal não fosse uma impossibilidade lógica e factual!!




MANLIO DINUCCI: A Itália na primeira linha da 'guerra dos drones'

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Por Manlio Dinucci
Aterrou na base USA/NATO, em Sigonella, na Sicília, depois de um voo de 22 horas a partir da base aérea de Palmdale, na Califórnia, o primeiro drone do sistema AGS (Alliance Ground Surveillance) da NATO, uma versão aperfeiçoada do drone Global Hawk dos EUA (Falcão Global). De Sigonella, principal base operacional, este e mais quatro aviões do mesmo tipo com pilotagem remota, apoiada por diferentes estações terrestres móveis, permitirão “vigiar”, ou seja, espiar vastas áreas terrestres e marítimas do Mediterrâneo e de África, do Médio Oriente e do Mar Negro.
Os drones NATO teleguiados por Sigonella, capazes de voar a uma altitude de 16.000 a 18.000 m, irão transmitir para a base os dados recolhidos. Estes, depois de serem analisados pelos operadores de mais de 20 estações, serão inseridos na rede criptografada, chefiada pelo Supremo Comandante Aliado na Europa, sempre um general USA, nomeado pelo Presidente dos Estados Unidos.
O sistema AGS, que se tornará operacional na primeira metade de 2020, será integrado no Hub de Direcção Estratégica para o Sul: o centro de Serviços Secretos/Inteligência que, no quartel general da NATO, em Lago Patria (Nápoles), sob comando USA, tem a tarefa de recolher e analisar informações funcionais para operações militares, sobretudo, em África e no Médio Oriente.
A principal base para o lançamento dessas operações, efectuadas, principalmente, em segredo, com drones de ataque e forças especiais, é a de Sigonella, onde estão localizados os drones US Reaper, armados com mísseis e bombas guiadas por laser e satélite. Os drones de ataque e forças especiais, enquanto em acção, estão ligados, através da estação MUOS, de Niscemi (Caltanissetta), ao sistema militar de comunicações por satélite de alta frequência que permite ao Pentágono controlar, através da sua rede de comando e comunicações, drones e caça-bombardeiros, submarinos e navios de guerra, veículos militares e divisões terrestres, enquanto estão em movimento, em qualquer parte do mundo.
No mesmo âmbito, operam os 15 drones Predator e Reaper e os outros da Força Aérea Italiana, teleguiados pela base de Amendola, em Puglia. Os Reaper italianos também podem ser armados com mísseis e bombas guiadas a laser, para missões de ataque.
O sistema AGS, que potencia o papel da Itália na “guerra dos drones”, é realizado com “contribuições significativas” de 15 Aliados: Estados Unidos, Itália, Alemanha, Noruega, Dinamarca, Luxemburgo, Polónia, Roménia, Bulgária, República Checa, Estónia, Letónia, Lituânia, Eslováquia, Eslovénia. A principal entidade contratada, que fabrica este sistema é a firma norte americana, Northrop Grumman. A empresa italiana Leonardo, fornece duas estações terrestres transportáveis.
A “contribuição” italiana para o sistema AGS consiste, além de nela estar incluída a disposição da principal base operacional, em comparticipar nas despesas, inicialmente, acima de 210 milhões de euros. Outros 240 milhões de euros foram despendidos na aquisição dos drones Predator e Reaper. Incluindo os outros já adquiridos e os que se espera que sejam comprados, a despesa italiana com os drones militares aumenta para cerca de um bilião e meio de euros, à qual se juntam os custos operacionais. Pago com dinheiro público, no contexto de uma despesa militar que está prestes a passar da média actual de cerca de 70 milhões de euros por dia, para cerca de 87 milhões de euros por dia.
Os investimentos italianos sucessivos em drones militares acarretam consequências que vão mais além das económicas. O uso de drones de guerra para operações secretas sob o comando USA/NATO, retira ainda mais ao Parlamento, qualquer poder real de tomada de decisão sobre a política militar e, consequentemente, sobre a política externa. A destruição recente de um Reaper italiano (que custou 20 milhões de euros), ao sobrevoar a Líbia, confirma que a Itália está envolvida em operações militares secretas, violando o Artigo 11 da nossa Constituição.

il manifesto, 26 de Novembro de 2019

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

REVELAÇÕES SOBRE A MORTE DO PAPA JOÃO PAULO 1º




Podemos avaliar a força do establishment, que tem sistematicamente abafado os escritos, inclusive livros muito bem documentados (caso de «Em Nome de Deus» de D. Yallop) sobre os claros indícios de crime na morte do papa João Paulo I, falecido em condições misteriosas no Vaticano a 28 de Setembro de 1978 e a sua relação com os escândalos do Banco do Vaticano e a existência de ligações entre as altas hierarquias católicas e a loja maçónica, fascista e golpista, P2.

Agora, um mafioso (António Raimondi), um dos co-autores do crime e primo do Cardeal Marcinkus (o outro assassino), vem confessar* como os dois efectuaram o crime. Ele diz-se condenado a morrer em breve, devido a cancro.
O silêncio total sobre a notícia* do mês de Outubro deste ano, da parte da media em Portugal e noutros países, demonstra o enorme controlo, a censura totalitária que se abateu sobre toda a informação, sobretudo a que põe em causa os poderes instalados. 

sábado, 23 de novembro de 2019

PETER PAUL & MARY: «500 MILES»




If you miss the train I'm on, you will know that I am gone
You can hear the whistle blow a hundred miles
A hundred miles, a hundred miles
A hundred miles, a hundred miles
You can hear the whistle blow a hundred miles

Lord, I'm one, Lord, I'm two, Lord, I'm three, Lord, I'm four
Lord, I'm five hundred miles from my home
Five hundred miles, five hundred miles
Five hundred miles, five hundred miles
Lord, I'm five hundred miles from my home

Not a shirt on my back, not a penny to my name
Lord, I can't go a-home this a-way
This a-away, this a-way, this a-way, this a-way
Lord, I can't go a-home this a-way

If you miss the train I'm on, you will know that I am gone
You can hear the whistle blow a hundred miles


Esta melodia, tão apropriada à letra, exprime uma nostalgia intemporal.
Provavelmente, a mais bela canção interpretada pelo célebre grupo vocal dos anos 60. Foi retomada por inúmeros agrupamentos...
 500 milhas? ........ A quantas milhas mais estaremos desse tempo, em que havia tempo para sonhar !

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

CHINA, EUA E GEOPOLÍTICA DO LÍTIO [F. William Engdahl]

                       


Nos últimos anos, desde o avanço global para desenvolver Veículos Eléctricos (VEs) numa escala massiva, o elemento Lítio tem vindo a ser considerado um metal estratégico. A procura é enorme na China, nos EUA, na UE, no presente; a garantia do controlo do fornecimento de lítio desenvolve-se numa luta geopolítica própria, o que não deixa de evocar a do controlo do petróleo.





A China Joga para Assegurar Fornecimento



Para a China, que estabeleceu entre os principais objectivos tornar-se o principal produtor mundial de VEs, desenvolver os materiais das baterias a lítio é uma prioridade para o 13º Plano Quinquenal (2016-20). Embora a China possua as suas próprias reservas de lítio, a capacidade de recuperação é limitada, levando-a a assegurar direitos de mineração de lítio no estrangeiro.


Na Austrália, a companhia Chinesa Talison Lithium, controlada por Tianqi, faz mineração e possui as reservas maiores do mundo e de maior teor em Greenbushes, na Austrália Oeste, perto de Perth.


O maior produtor primário de lítio mundial é a Talison Lithium Inc. A mina de Greenbushes na Austrália, produz hoje cerca de 75% do consumo chinês em lítio e cerca de 40% do consumo mundial. Isto, assim como outras matérias-primas australianas, fez com que as relações com a Austrália, um aliado firme dos EUA, assumissem importância estratégia para Pequim. Igualmente, a China tornou-se o maior parceiro comercial da Austrália.


No entanto, a influência crescente da China na economia do Pacífico, em torno da Austrália, levou o primeiro-ministro Scott Morrison a enviar uma mensagem de aviso no sentido da China não se imiscuir nesta região estratégica para a Austrália. Em finais de 2017, a Austrália, crescentemente preocupada com a expansão chinesa na região, retomou a cooperação com aquilo que se designa informalmente o «Quad», com os EUA, a Índia e o Japão, ressuscitando uma tentativa anterior de pôr em cheque a influência da China no Pacífico Sul. A Austrália, também recentemente, avançou com empréstimos a nações insulares do Pacífico para contrabalançar os empréstimos da China. Tudo isto torna claro o imperativo da China em ir à procura globalmente doutras fontes para assegurar abastecimento em lítio, de modo a se tornar o agente principal da economia emergente dos VE, na próxima década.


Assim que o desenvolvimento dos veículos eléctricos se tornou uma prioridade na planificação económica chinesa, a procura de fonte segura de lítio levou-a a virar-se para o Chile, outra das principais fontes de lítio. Aqui, a empresa chinesa Tianqi é detentora duma participação importante da Sociedad Quimica Y Minera (SQM) chilena, um dos maiores produtores mundiais de lítio. Se a empresa chinesa Tianqi conseguir ganhar o controlo da SQM, isso irá mudar a geopolítica do controlo do lítio, segundo as notícias da indústria mineira.

O fornecimento global de metais de lítio, uma componente estratégica das baterias a iões lítio utilizadas para os veículos eléctricos (VEs), está concentrado em muito poucos países.

Para se ter uma ideia da procura potencial de lítio, a bateria para o Modelo S da Tesla, requer 63 quilogramas de carbonato de lítio, o suficiente para cerca de 10 000 baterias de telefones celulares. Numa notícia recente, o banco Goldman Sachs designou o carbonato de lítio como a nova gasolina. Apenas 1 por cento de aumento na produção de veículos eléctricos, poderia aumentar a procura de lítio em mais de 40% da produção global actual, de acordo com Goldman Sachs. Com tantos governos a exigir menores emissões de CO2, a indústria automóvel global está a expandir os seus planos para produção em massa de VEs na próxima década, o que torna o lítio potencialmente tão estratégico como hoje o petróleo. 

Qual é a «Arábia Saudita» do Lítio?

A Bolívia, cujo lítio é de longe mais complicado de se extrair, também tem sido alvo de interesse de Pequim, nos anos mais recentes. Algumas estimativas geológicas consideram a Bolívia como a detentora das maiores reservas mundiais. Apenas nos depósitos salinos de Salar de Uyuni, estima-se que haja nove milhões de toneladas de lítio.


Desde 2015, a companhia mineira chinesa CAMC Engineering Company, tem vindo a operar uma grande fábrica na Bolívia, para produzir Cloreto de Potássio como fertilizante. A CAMC é discreta quanto ao facto de que, sob o cloreto de potássio, se encontram as maiores reservas de lítio conhecidas no mundo, nos depósitos salinos de Salar de Uyuni, um dos 22 depósitos salinos da Bolívia. A empresa chinesa Linyi Dake Trade em 2014 construiu uma fábrica piloto de baterias de lítio, nesta mesma localização.


Depois disso, em Fevereiro de 2019, o governo de Morales assinou outro acordo de exploração do lítio, desta vez com o grupo chinês do Xinjiang, TBEA Group Co Ltd, que terá uma posição de 49% de participação na companhia estatal boliviana YLB. Este acordo destina-se a produzir lítio e outros materiais, a partir das salinas de Coipasa e de Pastos Grandes, com um custo estimado em 2,3 biliões de dólares.


Em termos de lítio, a China está actualmente a dominar o Novo Grande Jogo global pelo controlo de recursos. As entidades chinesas controlam agora quase metade da produção de lítio mundial e 60% da capacidade de produção de baterias eléctricas a lítio. Dentro duma década, prediz a Goldman Sachs, a China poderia fornecer 60% das baterias para os VEs no mundo inteiro. Em resumo, o lítio é uma prioridade estratégica para Pequim.


EUA/China Rivalidade pelo Lítio?


O outro actor principal no mundo da mineração do lítio, hoje, é os EUA. A companhia Albemarle, de Charlotte, Carolina do Norte, com um impressionante conselho de directores, tem participações mineiras principais na Austrália e no Chile, nomeadamente, tal como tem a China. Em 2015 a Albemarle tornou-se um factor dominante no mundo da mineração do lítio, quando comprou a companhia dos EUA, Rockwood Holdings. Significativamente, a Rockwood Lithium estava operando no Chile, no Salar de Atacama e na acima citada mina de Greenbushes da Austrália, onde o grupo industrial chinês Tianqi possui 51%. Isto dava a Albemarle 49% de participação no vasto projecto de lítio australiano, em parceria com a China.


O que começa a tornar-se claro é que as tensões sino-americanas no plano económico, também incluem provavelmente a contenção da influência chinesa no controlo das reservas estratégicas de lítio. O recente golpe militar que forçou Evo Morales a ir para o exílio  no México mostrou, desde logo, as impressões digitais de Washington. A entrada da presidente interina Jeanine Áñez, uma cristã direitista e do milionário direitista, Luis Fernando Camacho, assinalam um nefasto virar à direita, no futuro político deste país, com um claro apoio de Washington. Será crucial, entre outras questões, verificar se um futuro governo irá anular os acordos de mineração de lítio com as companhias chinesas.


Igualmente, a anulação do encontro da APEC de 16 de Novembro no Chile, que iria ser palco duma cimeira sobre comércio, entre Trump e Xi Jinping, adquire outro significado. O encontro também seria ocasião para concluir acordos de comércio entre a China e o Chile, de acordo com o «South China Morning Post». A delegação prevista do lado de Xi, incluía 150 chefes de empresa e tinha planos para assinar acordos económicos importantes, aumentando ainda mais os laços económicos China-Chile, algo que os EUA recentemente desaconselharam.


A erupção de protestos de massas em todo o Chile, opondo-se ao aumento dos bilhetes de transportes públicos, mostra sinais semelhantes a outras causas económicas desencadeando distúrbios, no início de Revoluções Coloridas. Os protestos tiveram o efeito de cancelar a cimeira da APEC no Chile. O papel activo de ONGs financiadas pelos EUA nos protestos do Chile, não foi confirmado, mas as relações económicas crescentes entre o Chile e a China, realmente não podem ser vistas como positivas por Washington. A exploração de lítio no Chile pela China é, neste ponto, um factor estratégico e geopolítico pouco discutido, e que poderia ser alvo das intervenções de Washington, apesar do presente governo chileno ter uma orientação económica de mercado livre.

Nesta confluência, torna-se clara a existência de uma batalha global pela dominação do mercado de baterias de VEs, onde o controlo do lítio tem um lugar central.

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F. William Engdahl é um consultor de risco estratégico e conferencista, possui um diploma em política da universidade de Princeton; é um autor de «best-sellers» sobre petróleo e geopolítica; o artigo acima foi primeiro publicado em inglês no magazine online “New Eastern Outlook.”