Caminha pela rua, bamboleia-se
Ao ritmo da música dos auscultadores
Imagina-se a deslizar numa onda,
Surfando sobre a música, quase voando
Voando pelos ares irradiando energia
Não vê nada além do sonho
O sonho sem os limites do mundo
Tudo o que tem de fazer
É mover o corpo, esse avatar
Obedecendo ao ritmo
Que se desprende incessante
Obsessivo, hipnótico
E, muito mais que isso,
Um espesso vidro, inquebrável
Vive no simulacro do corpo
Mas habitado pelo som
Em todas as moléculas
Vibra e ondeia no espaço
No interior/exterior
Da sua fantasia
Evolui em espirais
Pelo espaço-tempo
Ao ponto muito elevado
De onde observa a rua
Com a sua banalidade
E as pessoas cansadas
Ou vagarosas, distraídas
Ou pensativas, raivosas
Ou sorridentes, enfim
Se elas soubessem
Se elas acordassem
Se elas escapassem
Coitadas...
Só que nunca o fazem!
Um vulto no passeio
Avança com passos
Cadenciados gestos
Nos dedos e nas mãos
Trejeitos na boca
Oscilando a cabeça
Possuído pela música
Indiferente ao resto