Transcrevo o texto de apresentação da memorável conversa, do vídeo acima «A Tirania Da Mentira»:
quinta-feira, 15 de maio de 2025
PEDRO BAÑOS E CRISTINA JIMÉNEZ: «A TIRANIA DA MENTIRA»
terça-feira, 29 de abril de 2025
O COLAPSO DAS REDES IBÉRICAS DE ELETRICIDADE - ALGUMAS REFLEXÕES
Tinha ido a Lisboa e circulava de automóvel no momento em que se deu o corte de energia elétrica (por volta das 11.15 h. locais, do dia 28.04.2025).
Primeira impressão: A ausência de luzes nos semáforos. Notei um trânsito não caótico, mas em que os condutores tomavam as devidas precauções para evitar colisões. A ausência de semáforos tinha o efeito de aumentar a consciência e condução responsável das pessoas!
Depois, fomos informados da escala do «apagão», por pessoas na rua; algumas tinham logo conhecimento de que este acidente afetara não só o país (Portugal), como a vizinha Espanha. Na realidade, apontavam um fenómeno atmosférico pouco usual, algures em Espanha, como causa desta quebra generalizada de eletricidade.
Porém, ao longo do dia 28 de Abril, as pessoas foram deixadas no «escuro», não apenas literalmente, como também devido a uma ocultação «burocrática» pelo governo e pelas instâncias que têm por função gerir situações de emergência.
Numa circunstância como esta, seria de esperar uma presença visível de polícia de trânsito nas ruas: Nada, ausência completa, da polícia de trânsito ou de outra. O papel da polícia não é de defender e ajudar a cidadania, como ingenuamente muitos pensam; é de guardar os poderes, o governo, os bancos, etc... Em caso de emergência, são estas as prioridades; a regulação do trânsito não cabe em tais prioridades!
Também tive conhecimento de que a CNN tinha propalado a (des)informação de que a avaria das redes elétricas ibéricas «tinha sido provocada pelos russos». O jornal «Observador» (de tendência direitista) precipitou-se a dar a «notícia», o que nos permite verificar que certos media, não só propagam uma ideologia neo-liberal, como inclusive propagam falsas notícias, com intuito claro de propaganda de guerra, que podem causar muito alarme e pânico.
De facto, tem havido um mutismo completo, do lado das autoridades, sobre o que desencadeou esta enorme falha da rede elétrica: Porém, é evidente que, por detraz do motivo técnico pontual, é um facto que as redes não possuem sistemas de disparo automático (ou estes não funcionam) numa extensa parte do território europeu.
Quando se dá uma anomalia da corrente num determinado ponto do sistema, há mecanismos instantâneos que cortam e isolam os subsistemas uns dos outros. Estes estão presentes noutros sistemas elétricos da Europa, onde acidentes em centrais e nodos elétricos não provocam tais quebras de energia na rede de países inteiros, mas apenas em determinados setores.
De facto, a falha que afetou Portugal e Espanha e parte da França, Bélgica e Holanda, terá tido esta dimensão porque os sistemas de controlo europeus estão vetustos, não foram atualizados; terão talvez mais de 20 anos de atraso sobre o que seria o padrão de segurança atual.
As empresas de geração e distribuição de energia elétrica têm sido privatizadas nos referidos países e noutros da UE. O efeito está à vista: As empresas de eletricidade, uma vez privatizadas, deixam de investir na segurança, porque o seu único propósito é gerar lucro para os accionistas. O Estado está também culpado neste abandono dos padrões mínimos de segurança, pois não preenche adequadamente as funções que lhe cabem, por falta crónica de investimento. É a mesma situação, exatamente, que se verifica em relação aos sistemas públicos de saúde, de transportes, de educação, etc.
Foi um momento pontual, mas que mostra às pessoas atentas, como os nossos Estados, tomados pela máfia «neo-liberal» desde há decénios, deixaram que os sistemas públicos (não apenas no setor da eletricidade) fossem fragilizados. Estes interesses privados e os governos neoliberais, são ambos os responsáveis do crónico sub-investimento nas infraestruturas dos nossos países.
PS: Algumas imagens dos apagões em Portugal, Espanha e França:
sexta-feira, 15 de novembro de 2024
DETIDO, COM 20 MILHÕES DO NARCOTRÁFICO, O CHEFE DA UNIDADE DA POLÍCIA ANTI-DROGA
O vídeo acima analisa o modo como o chefe da Unidade de Delitos Económicos, também encarregada de reprimir o narcotráfico, fornecia informações para que a cocaína importada da Colômbia para Espanha, escapasse a controlos alfandegários. Foram capturados sacos de dinheiro, no total vinte milhões, escondidos no interior das paredes de sua residência.
Isto mostra a amplitude das redes criminosas e a sua capacidade em se infiltrarem ao mais alto nível das instituições supostamente vocacionadas para dar combate ao narcotráfico.
NOTA: UM CANAL INDIANO, EM LÍNGUA INGLESA, RELATA TAMBÉM O OCORRIDO, AQUI.
domingo, 3 de novembro de 2024
A FACE ESCONDIDA DA DÍVIDA (DOCUMENTÁRIO)
Um excelente documentário sobre o mecanismo da dívida e como acabou por capturar a economia dos Estados, empresas e pessoais.
(Falado em francês, com legendas em francês)
terça-feira, 22 de outubro de 2024
PRIMEIRO DIA DA CIMEIRA DOS BRICS EM KAZAN (RÚSSIA)
Tal como temos vindo a relatar, os BRICS foram fortalecendo as suas trocas comerciais recíprocas, evitando o dólar como intermediário, fazendo o ajuste final com ouro (visto que os câmbios entre duas divisas podem oscilar durante a negociação). Este processo é bastante simples e não implica uma entidade centralizada (a instauração do «BRICS Pay» irá potenciar as trocas país a país).
Esta entrevista acima, em espanhol (pode ativar as legendas na mesma língua), pode exemplificar o ponto de vista, não apenas do entrevistado (De Castro), como de muitos empresários, espanhóis e europeus.
Há que ver as coisas num modo não ideológico, não preconceituoso. E tem razão o entrevistado, pois o pragmatismo permitiria aumentar os intercâmbios comerciais entre a Europa e o resto do Mundo, aliviando assim a crise de recessão/depressão que a Europa tem estado a sofrer, desde há dois anos, por mais que politicamente tentem ocultar a gravidade da sua situação. A existência desta oportunidade, da Europa se unir ao Sul Global, é posta em relevo pelo entrevistado.
domingo, 22 de setembro de 2024
DANÇAS IBÉRICAS (Segundas-f. musicais nº18)
FANDANGO- FLAMENCO - FOLIA - PASACALLES - CHACONA
O Fandango é uma dança popular, de origem espanhola do séc. XVII, mas que pode ter sido adaptada de danças extraeuropeias, tal como outras danças, originadas na América Central ou do Sul, ou ainda nas Canárias.
Em Portugal, o fandango surge no séc. XVIII, provavelmente trazido por trupes teatrais castelhanas. Tornou-se rapidamente elemento do património folclórico português.
Hoje em dia, o fandango está muito associado aos forcados do Ribatejo (uma espécie de «cowboy português») mas os grupos instrumentais e de danças, do Minho aos Açores, utilizam o fandango.
Dois grandes músicos de origem italiana, que exerceram a maior parte da carreira de músicos nas cortes da Ibéria, Domenico Scarlatti e Luigi Boccherini, compuseram fandangos, ou melhor, arranjos do fandango para cravo (Scarlatti) e para pequeno conjunto instrumental (Boccherini).
A origem do fandango será talvez sempre obscura, como muitas expressões da criatividade popular, depois retomadas como moda pelas classes mais elevadas, como a aristocracia, no séc. XVIII.
Sua difusão e perpetuação dá-se pela apropriação pelo povo e com modificação da dança cortesã. Isto é observável com as Pasacalles e a Chacona (ambas oriundas da América hispânica e trazidas pelos marinheiros), a Folia (de provável origem portuguesa). Todas estas danças, de origem plebeia, foram codificadas por músicos «eruditos» e integradas em Suites de danças ou em peças autónomas, do tipo «Tema com variações».
Quanto ao flamenco, a sua origem remonta ao início do Renascimento. Foram compostas versões instrumentais, por António de Cabezón (músico da corte de Carlos V), usando a sequência do baixo e a estrutura harmónica do Villancico «Guarda me Las Vacas», dos Séc. XV e XVI.
Diferencias «Las Vacas», A. de CabezónDevido à relativa similitude do ritmo e das formas de dançar, muitas pessoas confundem o fandango e o flamenco. Porém, são duas formas de dança distintas, culturalmente pertencentes ao mundo ibérico, ambas de origem popular e posterior apropriação erudita.
Em Portugal, é muito conhecida a toada do fandango; consiste num baixo obsessivo*, sobre o qual se vêm desenvolver variações do tema melódico.
https://www.youtube.com/watch?v=E3NSldeHE_0
O esquema é semelhante ao das danças supracitadas, a Pasacalle, a Chacona, a Folia e o Flamenco.
Para finalizar, vejamos/oiçamos uma versão para conjunto de câmara, sobre original para cravo de D. Scarlatti, interpretada no Palácio Nacional de Ajuda (Lisboa), pela Orquestra Sem Fonteiras.
https://www.youtube.com/watch?v=7EMgb4BimxE
É curioso que as cortes europeias do passado tenham -repetidas vezes- assimilado danças populares, transformando-as em modas cortesãs. É difícil de imaginar isso hoje em dia, pois a aristocracia do dinheiro ou oligarquia, não tem qualquer afinidade com o sentir do povo; suas músicas e modas preferidas são totalmente diferentes das populares. Conservam assim a separação estrita da sua casta, originada pela fortuna.
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*) O «basso ostinato» é muito usado noutras composições, em escolas não-ibéricas: É o caso do célebre ground em Dó menor, por William Croft (durante muito tempo atribuído a Henry Purcell)
domingo, 19 de novembro de 2023
EM ESPANHA ESTÃO A CRIAR AMBIENTE PARA A GUERRA CIVIL
Foto: Rei de Espanha, Filipe VI e Pedro Sanchez, presidente do governo
As ondas que agitam a vizinha Espanha são quase ignoradas pelos portugueses. Mas, não deviam, pois o momento é realmente grave.
Um coro de vozes indignadas, da direita, faz muito barulho, porque o presidente do PSOE, Pedro Sanchez, negociou com os independentistas catalães o apoio à votação do novo governo socialista, em troca duma lei de amnistia. Esta, iria resolver a situação dos políticos catalães independentistas que em 2017, organizaram e executaram um referendo pela independência da Catalunha. O referendo foi declarado anticonstitucional e seus organizadores foram presos ou tiveram que se exilar.
Eu não vou - aqui e agora- discutir questão do independentismo, tal como se colocou em 2017. A questão de fundo é importante e grave, mas não estou suficientemente por dentro dos assuntos políticos de Espanha, para opinar de modo esclarecido.
O que vou dizer aqui, é exprimir a minha estranheza por forças da direita considerarem que o indigitado presidente do governo estava a cometer uma falta grave, ao negociar apoio parlamentar junto dos deputados eleitos dos partidos independentistas catalães.
Indigna-se a gente de direitas, por esse apoio ter implicado negociar uma lei de amnistia. Porém, em muitos países e em diversas circunstâncias, foram feitas leis de amnistia para os crimes políticos. Inclusive em Espanha, os independentistas da ETA, do País Basco, foram amnistiados.
Os catalães perseguidos e condenados podem ter razão ou não, no que fizeram. Podem ter violado ou não, a constituição de Espanha. Mas, ainda assim, a sua ação foi realizada dentro dos limites da democracia representativa. Por outras palavras; não se tratou de um ato insurrecional.
Os que berram nas ruas contra o recém-empossado Presidente do governo espanhol, estão simplesmente a descarregar o seu rancor contra a esquerda, no que ela representa como posição mais tolerante, mais respeitosa do direito dos outros terem pontos de vista diferentes do nosso.
Amnistiar, não significa dar razão às pessoas que tinham sido condenadas, nem opinar se a condenação foi justa ou injusta. Significa que, no interesse da sociedade, o facto dessas pessoas serem amnistiadas, é preferível a cumprirem a pena até ao fim. É um processo de sarar as feridas resultantes dos choques políticos que dilaceraram o tecido da sociedade.
Para os direitistas que agitam «o papão» da ditadura, da perda da liberdade e do Estado de direito, o que seria «justo»? Seria que os implicados no processo sofressem o castigo mais severo? Seria só de prisão? Talvez mesmo, de pena de morte? Tudo isto, por se terem atrevido a desrespeitar a «sacrossanta» constituição espanhola. Lembro que a constituição atual foi negociada após a morte de Franco, entre governo, forças franquistas e os outros grupos e partidos, na chamada «transição*».
Para mim e para as pessoas com formação ética, qualquer que seja sua posição partidária, o extremar de posições - neste caso concreto - é criminoso, pois vai reabrir feridas antigas mas nunca totalmente saradas, da trágica Guerra Civil Espanhola de 1936-39.
Alguém, doutra região de Espanha que não da Catalunha, deveria ver com bons olhos a amnistia e também um referendo. Este, deveria ser de tal modo, que não fosse considerado anticonstitucional. Porque, mais vale um divórcio sem demasiados dramas, do que uma guerra civil. Além do mais, a entidade geográfica Península Ibérica foi sempre um conjunto heterogéneo de povos, de culturas e de reinos.
E, já agora, para lembrança dos portugueses, recordo que os Restauradores de 1640, que «traíram» o Rei (pois Filipe IV era Rei de Portugal, além de ser de Espanha), obtiveram sucesso nesta insurreição, porque havia uma revolução - em simultâneo - na Catalunha. A Restauração da independência de Portugal deve-se - em parte - aos independentistas catalães, que se revoltaram contra a coroa de Espanha e fracassaram. Os portugueses não tiveram que enfrentar logo os poderosos exércitos espanhóis, ocupados na repressão da revolta catalã; tiveram tempo para se organizar na defesa das fronteiras do território.
Mas, hoje em dia, é lamentável que demagogos de extrema-direita e ditos «de centro-direita», venham agitar suas hostes, criando um clima de alarme falso porque, na verdade, são eles que põem intenso dramatismo em torno dum processo que é - afinal de contas - banal: A negociação de apoio parlamentar para um governo minoritário. A amnistia para os independentistas catalães é equiparada por eles, a "traição à pátria".
Na verdade, eles querem criar uma situação de rutura ao nível institucional, político e sociológico. Eles querem uma grande agitação, um caos. O grande «argumento» deles é falso e nulo, quer em termos políticos, quer jurídicos. A agitação deles visa claramente o derrube do governo recém-nomeado. Pretendem assim reconquistar a maioria e retomar o poder.
Pelo menos, é o que vejo à distância de umas poucas centenas de quilómetros. Em todo o caso, os meus amigos espanhóis é que têm de resolver o problema, sem se deixarem arrastar por demagogias, de uns e de outros.
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*Veja-se os «Pactos de Moncloa»
segunda-feira, 26 de junho de 2023
CRISE DE SUPERPRODUÇÃO DO VINHO
https://www.zerohedge.com/commodities/europe-drowns-wine-eu-adopts-crisis-measures-rescue-producers
Em vários países europeus, o vinho estava mais ligado ao mercado externo do que ao consumo interno. O agravamento da crise reflete-se nos diversos países, no chamado consumo de luxo. Mesmo o vinho de média qualidade é considerado como luxo em países não tradicionalmente produtores, por exemplo os da Europa do Norte, da América do Norte e muitos países Africanos e Asiáticos. O mercado está saturado porque este produto tem tido uma expansão contínua desde há décadas, ora, apesar de novos países se abrirem ao consumo do vinho, uma expansão do mercado não pode durar sempre. Tem de vir um momento de contração.
No caso do vinho, essa contração coincide com a provocada pela inflação mundial, assim como as piores previsões económicas, relativas a países afluentes e que eram tradicionalmente consumidores de vinho dos países do Sul da União Europeia, como a Alemanha ou o Reino Unido.
Ao nível nacional, os portugueses têm diminuído o consumo de vinho, o que tem causas múltiplas, entre elas o acentuar da inflação (que toca mais os produtos não-essenciais), a diminuição do poder de compra das classes menos favorecidas e da classe média, a evolução do consumo das camadas mais jovens que se têm desviado para o consumo das cervejas (nomeadamente, as «artesanais») e para os álcoois fortes, ingredientes de cocktails ou «shots», muito em voga.
Dá-se a situação de retração simultânea nos mercados interno e internacional, em especial, para os países menos afortunados da UE, mas também em países beneficiando (ainda) de confortável nível de vida.
As marcas de vinho deveriam ter visto esta crise chegar, mas - pelo menos em Portugal - insistiram em subir constantemente o preço dos vinhos nos supermercados, ao ponto de que, vinhos correntes passaram a ser algo que muitos agora consomem apenas em ocasiões especiais. O setor vinícola, além de fundamental economicamente em várias zonas agrícolas do país, era também enorme fonte de divisas, não apenas na exportação, como no consumo dos turistas dentro de Portugal.
As zonas do Sul da Europa já são as principais vítimas económicas do cerco contra a Rússia, mesmo antes do inicio da guerra imposta pelos belicistas da OTAN, assim como pelos globalistas:
- Estes, não se importam com a sobrevivência económica dos mais fracos, preferindo até que haja muito desemprego, para manter as populações debaixo do jugo da necessidade.
Estas populações serão «beneficiárias» do «Rendimento Mínimo Universal», em conjugação com a introdução das «Divisas Digitais dos Bancos Centrais».
Tudo corre às mil maravilhas para os globalistas: Podem fazer «à saúde», erguendo os copos, cheios dos vinhos mais caros do mercado!
terça-feira, 16 de novembro de 2021
VELASQUEZ E O JOGO DE ESPELHOS
Se o século XVII teve alguns génios em pintura, Velasquez é certamente um deles. Tentarei explicar porquê.
A arte, nos reinos europeus, no período que vai do Renascimento até meados do século XVII, é toda ela figurativa e simbólica. O cânon era dado pela civilização greco-romana, considerada o pináculo inultrapassável de elevação estética.
A própria estética estava imbrincada com o sentido moral, visto como muito mais elevado que o saber técnico. Este, o saber técnico, seria elemento fundamental para alcançar a maestria, mas não o único pois, necessariamente, a elevação moral tinha de perpassar nas obras. Elas tinham de ter uma componente exemplar.
As grandes obras tinham de ser modelos, não apenas estéticos, como de conduta. O tema duma obra como «Las Meninas» era imediatamente compreendido pelos contemporâneos. Retratava a família real e a corte, em torno da infanta, a única descendente sobrevivente.
O génio do pintor está no arranjo da cena: Aparentemente, capta um momento do seu trabalho, enquanto pintava o retrato do casal real. O espelho no fundo reflete a imagem desfocada, mas perfeitamente identificável, do rei e da rainha, que estariam no plano donde nós observamos o quadro.
A chave deste quadro está encerrada na cena, ela própria.
Poucas pessoas se perguntam porque razão este quadro foi intitulado «Las Meninas», ou seja, as aias da princesa. Não seria mais apropriado designá-lo como «A infanta visitando Velasquez, enquanto pintava o casal real»? - Sim e não.
O nome «Las Meninas» é apropriado, porque elas estão realmente no primeiro plano e descrevem uma espécie de anel protetor em torno da infanta. Elas próprias estão rodeadas pelas figuras do anão e da anã, com o cão, o mastim pachorrento e, mais atrás, dois vultos; uma mulher, com hábito de religiosa e um homem.
No umbral da porta aberta, uma silhueta de homem austero, criado ou nobre, junto ao espelho refletindo o casal real.
Tudo está arranjado para dar a impressão de espontâneo, mas encerra um significado e simbolismo discretos. A própria ambiguidade dos planos em que está construída a obra, a sensação espacial que daí se desprende, traz complexidade, tanto na leitura da ótica física da cena, como de sua ótica simbólica, do «recado implícito» que transmite. Nem uma, nem outra são simples: A obra está estruturada com grande maestria técnica, mas não é o exercício de virtuosismo gratuito que muitos descrevem.
A tela transporta uma imagem fulcral, a de Velasquez que, ao se auto retratar, quis demonstrar algo. Ele, que estava ao serviço do monarca Filipe IV, implicitamente colocava-se ao serviço da herdeira do trono e fazia-o como alguém orgulhoso de servir.
Não é por acaso que ostenta no gibão a Cruz de Cavaleiro da Ordem de Santiago: Está a dizer que seu trabalho é o de um Cavaleiro, não de mero prático, de artesão afortunado, premiado pelo seu rei. Com sua presença, está a afirmar seu dever e compromisso de servir a infanta, tal como as duas «Meninas» o fazem, mas de outro modo.
Este quadro fez correr «rios de tinta» e fará correr muitos mais, estou convencido. Afinal, esta obra realiza, de um modo que Velasquez nunca sonhou, a perpetuação da memória do tempo em que a Espanha era governada pela monarquia dos Habsburgo.
Impressiona-me pensar que posso ver as figuras do rei, da rainha, da infanta, dos nobres, etc. na sua «palpável humanidade». Mas, ao mesmo tempo, penso como eram figuras tão poderosas. Detinham uma fortuna quase impossível de avaliar, dominavam metade do planeta, com seus povos e nações. Não é estranho que sua aparência no quotidiano chegue até nós, como se estivéssemos no palácio real?
Velasquez era um génio. Como todos os génios, transcendeu as circunstâncias históricas de sua época. Por isso hoje, também, suas obras podem iluminar (no sentido de educar) as pessoas.
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Nota: Possuem interessante informação, estes dois vídeos sobre o quadro.
segunda-feira, 5 de abril de 2021
DOMENICO SCARLATTI NA GUITARRA CLÁSSICA
terça-feira, 27 de outubro de 2020
«O COLOSSO» de Francisco de Goya
«O Colosso» de Francisco de Goya
segunda-feira, 30 de março de 2020
EPIDEMIA DE COVID-19: ... E A ESPANHA AQUI TÃO PERTO...
segunda-feira, 8 de outubro de 2018
O CREPÚSCULO DA INTELIGÊNCIA PÚBLICA NO OCIDENTE
A minha tese é muito simples:
A partir deste momento, uma pessoa deixa de ser manipulável. Uma pessoa não manipulável tem tendência a propagar essa postura de espírito à outras. Se o processo se repete "n" vezes, já ninguém liga à propaganda. Toda a gente está consciente de que «as notícias» são falsidades fabricadas para levar as pessoas a adoptar uma determinada posição.
Também na Polónia, República da Checoslováquia, República Democrática Alemã e mesmo na União Soviética, países que visitei várias vezes e contactei com pessoas comuns, intelectuais ou operários, jovens ou anciãos, nos anos 1976-1985.
Foi muito importante para mim, para compreender que as pessoas, uma vez despertas, ficam como que «vacinadas» contra a propaganda.
domingo, 2 de setembro de 2018
COLAPSO DAS MOEDAS DOS PAÍSES EMERGENTES
