sábado, 31 de agosto de 2019

AMAZÓNIA... PARAÍSO COBIÇADO


                              

Segundo o ministro brasileiro do ambiente, Ricardo Salles, o que esteve em jogo na vaga de fogos de floresta na Amazónia foi uma conjugação de factores climáticos: «o tempo seco, vento e calor». Mas, as evidências amontoam-se de que esta crise tem relação directa com a crescente desflorestação, que tem ocorrido em resultado da política pró-liberalização, do governo do presidente Jair Bolsonaro.
As zonas incendiadas surgem com os padrões típicos do desbaste pelo fogo, para obtenção de terras de cultivo. Esta constatação é feita por Paulo Artaxo físico da atmosfera da Universidade de São Paulo. 
As moto-serras vão à frente, seguidas pelas chamas e, por fim, o gado. «Não há dúvida de que este crescimento em incêndios está associado ao crescimento acentuado da desflorestação», disse ele. 

Neste assunto, tem havido imensa exploração mediática, mas muito pouca objectividade em explicar os fenómenos que estão ocorrendo, ocultando a verdadeira responsabilidade dos grandes fazendeiros. 
É preciso compreender - antes de mais - o que são 5,1 milhões de quilómetros quadrados de «Amazónia Legal», dos quais são brasileiros cerca de 4,2 milhões de quilómetros quadrados (uma área equivalente à Europa ocidental: Portugal, Espanha, França, Itália, Alemanha...). Esta vastíssima área tem uma densidade populacional muito baixa e sobretudo uma população muito pobre, pois as condições económicas dos habitantes nos vários Estados englobados são das piores do Brasil: Cobrindo... «61% do território brasileiro, tem menos de 13% da população e corresponde a menos de 8% do PIB do país».
A questão do desenvolvimento desta vastíssima área não pode ser vista, nem tratada, com demagogia. 
Não se trata de entregá-la à voragem do agro-negócio e das explorações minerais e de madeira, obviamente, mas - igualmente - não se pode aceitar que, em nome de uma natureza divinizada, as cerca de 25 milhões de pessoas, que aí habitam, sejam condenadas a um perpétuo subdesenvolvimento... 
Um desenvolvimento sustentável é necessário e imprescindível. É a melhor solução, tanto em termos de  preservação de riquezas naturais, como do bem-estar das populações, que deveriam alcançar padrões de qualidade de vida decentes. 
Agora, verifica-se que é dada luz verde (incondicional) para uma exploração insustentável da Amazónia. Isto é falsamente equiparado a «desenvolvimento», quando deveria estar claramente caracterizado como depredação. 
Muitos disparates científicos são ditos - com ares muito doutos - por políticos e por pseudo-ecologistas, como denuncia Geraldo Luís Lino, um geólogo brasileiro, num artigo recente de «Global Research»

Os  interesses reais, a médio e longo prazo, das populações são convergentes com a preservação dos ecossistemasEstes interesses não são defendidos, longe disso, na política-espectáculo da globalização: 
- Enquanto ocorriam as devastações dos incêndios na Amazónia, os chefes de Estado e de governo do G7, reunidos em Biarritz (França), faziam declarações ribombantes e ocas para disfarçar sua absoluta incapacidade em fazer algo de positivo, tanto no que respeita à Amazónia, como em relação à economia mundial. Com efeito, esta começou a entrar em recessão, em parte devido à crise sistémica do capital, mas ela tem sido agravada pelas suas intervenções. 

Como vivemos numa bolha mediática, também «celebridades» e outras nulidades se sentiram na «obrigação» de fazer declarações bombásticas, juntando até fotos aos seus tweets que nada tinham que ver com os fogos na Amazónia, mas de outros locais do mundo e tiradas há anos atrás!

A dramatização é incentivada pela media, que prefere ocultar factos científicos que a contradigam, como expõe William Engdahl
As narrativas globalistas não toleram a contradição; são como dogmas religiosos. Porém, revestem-nas de uma «capa» de ciência. Estas narrativas, veiculadas incessantemente pelos media, postulam que o «Homem é responsável pelo aquecimento global» e que «o efeito de estufa, acentuado pela emissão de CO2 pela indústria humana, está a mudar rapidamente o clima» (são hipóteses não provadas, no melhor dos casos). 
Simplesmente, outras interpretações dos dados, ou outros dados diferentes e contraditórios, e que eles nos ocultam, são arredados sem serem seriamente considerados, sob a (falsa) etiqueta de «anti-científicos e ao serviço das indústrias poluidoras»! Tenho exposto, há vários anos, esta fraude, apresentando dados e teorias demonstradas.
Porém, tudo lhes serve para deitar mais achas para a fogueira (!), alimentando a histeria mediática e política, que nos quer empurrar para uma política dita «verde», mas afinal, cujo «verde» é o das notas de dólar, não o verde da fotossíntese!



sexta-feira, 30 de agosto de 2019

GLENN GREENWALD SOBRE AMAZÓNIA, CORRUPÇÃO E INGERÊNCIA DOS EUA

Se ainda não visualizou este vídeo, não perca!
Pode acompanhar a entrevista lendo as legendas (em inglês) para facilitar a compreensão:


quinta-feira, 29 de agosto de 2019

VINÍCIUS DE MORAES, TOM JOBIM, TOQUINHO E MIUCHA

A MÚSICA ESTÁ NAS NOSSAS VEIAS AFRO-BRASIL-PORTUGAL


O primeiro encontro entre o poeta e diplomata Vinicius de Moraes e o jovem - e já afamado - compositor Antonio Carlos Jobim aconteceu em um bar no ventre do Rio de Janeiro, em 1956. Desta parceria nasceram belas composições que se tornaram conhecidas em todo o mundo, tais como "Felicidade", "Garota de Ipanema", "Chega de Saudade", entre tantas outras.
Gravado em 18 de Outubro de 1978, este DVD é um registo inédito e único da apresentação destes dois "monstros sagrados" da música brasileira nos estúdios da RTSI Televisione Svizzera.


Além do próprio Jobim ao piano e de Toquinho no violão, os músicos Azeitona (baixo), Mutinho (bateria), Roberto Sion (flauta e sax) e Georgiana de Moraes (percussão) mostram ao mundo toda a elegância e a beleza da música brasileira.

O show -- que tem participação especial de Toquinho e Miúcha -- reúne grandes sucessos da dupla Vinicius & Jobim, além de parcerias destes com outros autores, entre eles Chico Buarque e Caetano Veloso. 
No repertório, canções como "Tarde em Itapuã", "Desafinado", "Wave", "Águas de Março", "Samba do Avião", "O Que Será" e muito mais.


Um DVD antológico. Para ver, ouvir e se emocionar!


0:20 Samba de Orly 2:50 Tributo a Caymmi 7:37 Tarde em Itapoã 12:03 Desafinado 15:35 Wave 17:55 Samba de uma Nota Só 20:40 Águas de Março 24:35 Samba do Avião 27:04 O que Será (À Flor da Pele) (Chico Buarque) 30:07 Samba para Vinicius 31:46 Vai Levando 35:15 A Felicidade 37:17 Água de Beber 40:52 Garota de Ipanema / Sei Lá 48:30 Berimbau / Canto de Ossanha

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

DOIS GRÁFICOS RESUMEM A SITUAÇÃO FINANCEIRA PRESENTE

 Retirei ambos os gráficos do excelente artigo de Stewart Thomson
No primeiro, vê-se a evolução do índice Dow Jones. 
Está patente uma situação de rebentamento da bolha das acções, a qual já começou, aliás, mas ainda está no princípio duma descida vertiginosa...


                                 


A segunda imagem é um gráfico de um ano, do índice GDX, que permite visualizar a subida espectacular, nos últimos tempos, do ouro.

                                       


Fica clara, como água de nascente, a visão da crise financeira que estava anunciada pelo menos desde 2011, mas que os malabarismos dos bancos centrais e governos ocidentais preveniram que se desenrolasse. 

Não devemos estar-lhes gratos por isso, pois esta crise será cem vezes pior que a de 2008, visto que toda a situação global é pior do que na véspera desse primeiro colapso.

Não pensem que estou muito contente por ter razão: não estou, pois sei que as pessoas modestas, os mais fracos na sociedade é que irão (injustamente) pagar o preço da hiperinflação, da perda completa do poder de compra das pensões e dos salários, do aumento brusco do desemprego e de todas as consequências sociais, incluindo revoltas, que uma tal catástrofe irá trazer, na maior parte do chamado «Ocidente». 

Depois, os loucos e corruptos dirigentes dos nossos países  terão a tentação de desencadear uma guerra (provavelmente contra a Rússia, ou a China, ou ambas as nações). 

Vai ser preciso coragem e sangue frio, das pessoas com capacidade de liderança, mas sem aquela estúpida ganância pelo poder, para «aguentar a situação».

domingo, 25 de agosto de 2019

OS DIRIGENTES DO G7 JÁ NÃO CONSEGUEM ESCONDER SUA IRRELEVÂNCIA

                       

As conversações de Biarritz (País Basco Francês) entre líderes  mundiais, deixam de fora dois factos incómodos:

- primeiro, os países que constituem os BRICS têm agora, em agregado de PIB e de população, a maioria em relação aos países participantes no G7. Porém, as relações de alguns membros do G7 com este bloco têm sido hostis.

- segundo, quer a nível das conversações, quer na preparação de Biarritz, não se vê que as grandes questões estejam a ser tratadas, pelo menos, com um mínimo de seriedade. 
Estes dirigentes vão - com certeza - apresentar grandes declarações de princípio sobre temas que sabem terem eco mediático assegurado como, por exemplo, os grandes incêndios que assolam a Amazónia (... e África, da qual quase não se fala!) mas sobre os quais não irão fazer nada.

Quanto às economias do Ocidente, lideradas por bancos centrais: a sua linha é a da política de juros zero ou negativos, associada a injecção de triliões, no que designo como economia fictícia - os mercados de obrigações e acções e ainda os derivados - para «estímulo», supostamente, da economia global, sem que estimulem nada... senão bolhas especulativas. 
Já expliquei que a motivação real é salvarem bancos e grandes instituições corporativas da falência, usando os Estados como fiadores e promovendo a espiral inflacionista. 
A desvalorização das moedas ocidentais vai continuar e acelerar-se; é a única coisa que sabem fazer. Eles nunca foram vistos, desde a criação do G7 (1973), a enfrentar uma crise com políticas de desenvolvimento industrial, em seus respectivos países. 
Não espero que ocorra qualquer mudança de rumo quanto à guerra comercial iniciada e estimulada pela administração Trump contra a China, assim como as tarifas que ameaçam amigos e inimigos
Os EUA irão continuar, arrastando os outros, com as sanções económicas. São actos de guerra, são ilegais face ao direito internacional... Mas, é como se tal fosse absolutamente normal! 

A ironia disto tudo sobressai, se nos referirmos ao entusiasmo com que os mesmos países ocidentais criaram a OMC, há pouco mais de 25 anos e, rapidamente, admitiram nela a China. 
Agora - sobretudo os EUA, país que pretende ser o «líder» no mundo - querem inverter tudo, ao se depararem com as demasiado visíveis consequências. 
Com efeito, a catástrofe da globalização capitalista (mercados laborais desregulados, transferências de tecnologia, economia de «serviços», dependência às indústrias situadas noutros países e continentes, etc.) foi fabricada totalmente pela «elite» no poder no Ocidente. 
Aliás, os que tentaram destruir a Rússia nos anos 90 e quase conseguiram, submetendo a sua população a ataque severo, na época de Yeltsin, pilotaram políticas económicas em tudo análogas, no sul da Europa e noutros pontos, incluindo países do G-7.

Dificilmente se poderá usar a expressão «políticas liberais» para estas situações, se as palavras guardam um significado com relação à História:
- Os liberais, historicamente, defendiam uma ordem mundial onde os mercados não eram confinados, limitados, por barreiras alfandegárias, por tarifas e impostos ao comércio entre países. Ao nível interno, eram pela liberdade do indivíduo face ao Estado, etc. 
Podemos ver agora o exemplo dos «campeões» da «democracia liberal» - os EUA, Reino Unido, seus aliados  dentro e fora do G7 que afinam pelo mesmo diapasão - só que é o exacto oposto do «liberalismo clássico». 
O liberalismo político, como o económico, são explicitamente contrariados, em ambos os casos: 
- Protagonizam uma política agressiva, imperialista, belicista, fora das regras do direito internacional, no campo externo.
- No campo interno, há cada vez maior repressão, retirada sistemática de direitos aos mais pobres, desprezo pela legalidade, produção de leis limitadoras e mesmo anuladoras das liberdades individuais, perseguição de jornalistas e de quaisquer pessoas por exprimirem sua opinião, etc, etc.

A resposta ao G-7 não foi, infelizmente, dada adequadamente pelos anti-globalistas, impedidos de se manifestar, sob o pretexto falacioso de que «poderiam» adoptar posturas violentas, ilegais, etc. Assim, a polícia e o Estado francês, não apenas estão a negar os direitos constitucionais dos manifestantes, como o fazem com o claro objectivo de dar campo de manobra e, discretamente, promover quem lá for com intuito violento... é assim que infundem a desinformação e o medo perante a dissidência, nos espíritos das pessoas comuns.

Na minha modesta opinião, o G7 é somente um «show» caro e vazio de propaganda dos dirigentes globalistas. 
A forma de os desmascarar será mostrar o seu ridículo, arrogância e autoritarismo... 
Não interessam para nada! Vão para vossas respectivas mansões e deixem as pessoas comuns se auto-governarem; estas sabem o que é necessário para começar a consertar a «porcaria» que vocês têm feito!!!   

SAM COOKE- «BRING IT ON HOME TO ME» AO VIVO NO HARLEM SQUARE CLUB (1963)

Nesta versão, extraída do álbum Live at Harlem Square Club (1963) vibra aquela atmosfera de festa, o «acto de consagração da música Soul» ... Foi Sam Cooke o criador desta canção, retomada pelos mais célebres cantores e grupos, sobretudo nos anos sessenta (Otis Redding, The Animals, etc, etc...).



0:00 Introduction 0:46 ( Don't Fight It ) Feel It 3:45 Chain Gang 6:57 Cupid 9:43 It's All Right/For Sentimental Reasons 14:55 Twistin' The Night Away 19:14 Somebody Have Mercy 24:00 Bring It On Home to Me 29:38 Nothin' Can Change This Love 33:23 Having A Party

Ele também sabe recriar as canções dos outros, com um estilo, uma qualidade  ... oiçam!



sábado, 24 de agosto de 2019

CHINA RETALIA FACE ÀS TARIFAS DOS EUA - MAS AFIRMA QUE ÚNICO CAMINHO É COOPERAÇÃO


Trump anunciou a imposição de tarifas de 10% sobre uma série de bens chineses. 
A notícia do canal acima - a posição oficial de Pequim -apareceu pouco tempo depois do anúncio de Trump, o que mostra que não hesitam em responder, embora continuem a afirmar que para um futuro melhor, o único caminho é o do diálogo.
Esta situação está a piorar a economia dos países ocidentais e dos EUA, numa escala maior que o prejuízo causado à China. Com efeito, todos os índices económicos estão em descida: as bolsas de valores, a produção industrial, o consumo privado, o crédito... todos estão a apontar para uma crise muito próxima, incluindo a inversão das taxas de juro (os juros dos treasuries a 2 anos acima dos a 10 anos).
Há consenso de que haverá uma grande crise no ocidente e que será exacerbada pela guerra comercial com a China.

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

PAUL CRAIG ROBERTS ANALISA SITUAÇÃO DA ECONOMIA DOS EUA

                              


No artigo acima («o que o globalismo fez foi transferir a economia dos EUA para a China»), de uma clareza e precisão notáveis, Paul Craig Roberts destrói o mito de uma economia americana em crescimento e em condições de enfrentar a guerra comercial com a China (eu já tinha feito uma análise semelhante há alguns meses atrás; ver aqui )

Este autor, economista e ex-membro da equipa de Reagan, não é «esquerdista»: arruma-se no campo «conservador». Porém, faz análises implacáveis e justas da economia globalista, dos dogmas neo-liberais, da estupidez da governação, tanto pelos seus políticos como pela classe empresarial. Por isso, eu considero as suas análises muito mais significativas, pela sua lucidez e pelo bom-senso fundamental. 
Camões inventou a figura de «Velho do Restelo» e os gregos, muito antes disso, a de Cassandra: 
O Velho do Restelo é a personificação das vozes que se erguiam contra a expansão ultramarina, desguarnecendo o país, a causa profunda da decadência que iria custar a independência ao reino de Portugal. 
Cassandra era dotada pelos deuses do dom da profecia, mas esse dom era acompanhado pela maldição de ninguém acreditar naquilo que ela dizia. 
Paul Craig Roberts possui características de ambas as personagens lendárias; digo isto, sem desprezo ou ironia.

A conclusão lógica da sua demonstração rigorosa: é impossível imaginar outro resultado para a economia e o poderio dos EUA, que não seja o acelerar da sua queda. No final, os EUA cairão num estado semelhante ao dos países do chamado «Terceiro Mundo», nos anos 60 do século passado. 
Eu diria também que ao procurar desestabilizar e semear o caos por todo o lado, também está a contribuir para um cada vez maior isolamento: os EUA são o maior «Estado-pária» («Rogue state»), do qual todos os outros, amigos e inimigos, têm de se precaver.

É realmente impressionante acompanhar, como tenho feito, as crónicas deste eminente economista e político, há vários anos: a justeza das suas análises é muito superior à de quaisquer neo-liberais revestidos de mantos de «esquerda» que se pavoneiam no mundo mediático.

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

O QUE ESTÁ EM JOGO NA CRISE DE HONG-KONG?

                                 
                              Hong Kong’s days as global financial hub may be numbered – Jim Rogers

Ela pode ter sido fortemente impulsionada pela comunidade de negócios, aliada com os serviços de «inteligência» dos EUA e britânicos. Mas, o facto permanece que os problemas de Hong-Kong são os mesmos que os da China continental, mas sob outra perspectiva. 


Vou tentar explicitar o meu ponto de vista da forma mais simples possível.

A estrutura do poder na China é a dum capitalismo de Estado (designada «socialismo com características chinesas»). 
Neste capitalismo de Estado, contam sobretudo as ligações orgânicas ao poder político e à hierarquia militar. Os que estão próximos do poder, beneficiam de uma situação de enorme privilégio que lhes permitiu amassar - durante menos de vinte anos - fortunas. A China é um paraíso para bilionários... 
A China reveste-se portanto das roupagens do «socialismo», para levar a cabo um desenvolvimento que efectivamente arranca milhões da pobreza, mas também projecta a desigualdade e a estratificação de classes para níveis do século XIX. 
Os marxistas auto-iludem-se ao ver a China como a grande esperança de um socialismo brotar - como que por encanto - do mais vigoroso desenvolvimento capitalista deste século.  

Quando Hong-Kong entra em revolta dá-se uma coligação frágil de interesses entre defensores de uma visão radical da democracia (essencialmente estudantes) e  uma burguesia, que vive numa bolha artificial de negócios, centro internacional da Ásia como há poucos, com toda a espécie de negócios, o capitalismo sem máscara, glorificado pelos mais fundamentalistas religiosos dos mercados. 
Do outro lado, a burocracia do partido comunista está interessada em Hong-Kong enquanto porta de entrada de capitais frescos para alimentar a economia de exportação - embora esta esteja em desaceleração - na China continental. Este facto é suficiente para esperar que a situação se acalme, em vez de usar a violência da repressão, conquanto não a descarte totalmente, como se pode verificar com o amassar de forças militares na cidade próxima de Hong-Kong, em  Shenzhen.

Com certeza que Hong-Kong, na sua natureza capitalista não disfarçada, contradiz a doutrina socialista com características chinesas oficial. Porém, o facto de ter regressado à soberania chinesa foi um êxito do regime pós-Mao. 
Com efeito, o regime chinês mascara-se de socialista, mas a sua essência é a de  um capitalismo de Estado, de características orientais, evocando o «Modo de Produção Asiático» que Marx inventou para arrumar aquilo que não se conformava nem com o modelo feudal, nem com o capitalista. 
É igualmente importante, sobretudo pela coesão das massas com a elite dirigente, o nacionalismo nesse dito «socialismo com características chinesas». 
A aceitação passiva pelo povo do PCCh, tem a ver com a cultura nacionalista arreigada, nomeadamente, com a atribuição aos imperialistas de todos os males que sofreu o povo chinês no «século de humilhação»(entre 1840 e 1949). 
Mas também tem a ver, por outro lado, com a rápida ascensão do nível de vida de milhões de pessoas, devido ao «milagre» económico das últimas décadas. As pessoas renunciam à esfera política, porque ocupando-se apenas dos assuntos do quotidiano, das suas vidas pessoais, conseguem alcançar uma relativa felicidade, avaliada em termos da construção de uma carreira, de uma família etc. 
Apenas os estudantes, com o seu modo de vida incerto, enquanto grupo social em transição, sem segurança, sem fortes amarras ao mundo da produção, têm atracção pela militância política; em geral ela traduz-se pela defesa de mais democracia, mais liberdade, maior justiça social. As suas posturas tornam-se facilmente extremas e as formas, radicais. 
Isto verificou-se também, ironicamente, nos movimentos radicais na origem do Partido Comunista da China e de outros partidos comunistas da Ásia, na década de 1920.

Em termos gerais, a situação encontra-se num impasse. Mas ela terá uma resolução, seja ela qual for, mais ou menos repressiva. Tal, porém, dificilmente será no sentido de satisfazer os anseios da população autóctone pela conservação da sua democracia e auto-governo, sentimentos generalizados dos que se manifestam pacificamente em Hong-Kong. 

A razão deste meu pessimismo, é que as forças que têm conduzido a contestação não estão interessadas na conciliação com o poder comunista, não querem a negociação: querem prolongar o braço-de-ferro, porque a sua táctica, inspirada e encorajada pelas agências da ex-potência colonial (Grã-Bretanha) e dos EUA, é a de expor o poder de Pequim, como sendo de natureza totalitária. 

As potências ocidentais esperam assim desautorizar a ascensão da China à liderança do Terceiro Mundo, como no tempo do Movimento dos Não-Alinhados dos anos 60 do século passado. Mas agora, esta liderança já não seria sob a bandeira internacionalista (incluindo nela o nacionalismo revolucionário dos movimentos de libertação), mas teria as roupagens dum mundo multipolar, através das «Novas Rotas da Seda».

No ponto de vista geo-estratégico, esta agitação em Hong-Kong é um episódio da guerra híbrida levada a cabo pelos poderes ocidentais e os EUA contra a China. Não existe solidariedade verdadeira com a população de Hong-Kong da parte destes governos, nem da media ocidental; não estão realmente interessados na liberdade dos cidadãos de Hong-Kong. 
Eles tentarão tudo para desencadear uma situação de repressão, com Pequim no papel de «mau da fita».

O jogo das potências ocidentais é triplo: trata-se de 
(1) afundar a sedução das Novas Rotas da Seda junto de governos dos países do «Terceiro Mundo», 
(2) desestabilizar por dentro o regime chinês e
(3) «justificar» perante a sua opinião pública ocidental a agressividade, o cerco militar que têm levado a cabo, iniciado com o «Pivot to China» de Obama e continuado por Trump. 

Se houver um banho de sangue em Hong-Kong, tanto melhor! É assim que eles raciocinam...

PS: uma outra perspectiva sobre HK, no vídeo abaixo. 
https://www.youtube.com/watch?v=a38bOtUEXcc
   

domingo, 18 de agosto de 2019

A CRISE VIRÁ DO LADO DA DÍVIDA SOBERANA, DOS TÍTULOS DA DÍVIDA PÚBLICA


                        Resultado de imagem para treasure bond coupon

Sabe-se que o grave problema que afecta o sistema económico e financeiro ocidental é a enormidade da dívida. Dívida dos Estados, dívida das empresas e dívida das famílias... tudo somado, a quantidade de dívida é muito maior do que a existente nas vésperas do colapso de Lehman Brothers!

O processo de um Estado se ver livre da dívida pública é somente um, na prática. Embora, em teoria, um governo pudesse decretar insolvência, reconhecendo estar falido e portanto não pagar aos seus credores, isso é demasiado penoso e politicamente suicida. Portanto, os governos irão fazer aquilo que sempre fizeram, ou seja, inflacionam a sua moeda nacional (no caso do Euro, será antes a moeda comum de uma série de Estados da União Europeia).

Um dos casos mais graves de acentuado crescimento da dívida pública, sem fim à vista e com tendência para se agravar, é o dos EUA. Obama conseguiu o «glorioso feito» de duplicar, durante os seus dois mandatos, a dívida pública acumulada antes dele, desde o início da existência dos EUA.
Nada menos fiável do que os EUA. Se decidirem que algum país está com exigências excessivas, podem simplesmente obliterá-lo do mapa... veja-se o caso da Líbia! 
Mesmo os aliados não estão a salvo de serem «esfolados»: como clausula secreta dos acordos que instituíam o sistema do petro-dólar (em 1973), os sauditas foram obrigados a fornecer muitos biliões em treasuries, que provinham do petróleo, para os seus protectores de Washington disporem dessas somas colossais. Não estão nominalmente na posse do Tesouro, mas é como se estivessem: as tais treasuries servem como «fundo de estabilização» do Tesouro. Quando os mercados variam bruscamente ou quando algo vai num sentido desfavorável aos interesses de Washington, esse fundo gigantesco intervém, discretamente. Os especialistas dos mercados conhecem bem as intervenções do referido fundo.    
É basicamente o medo, a impressionante máquina militar, que impõe «respeito» pelo dólar US, com o qual os EUA compram tudo o que precisam, dando em troca... esses papéis verdes impressos! 

A China foi acumulando, em resultado do seu comércio com os EUA e outras partes do mundo, a gigantesca soma de 1,3 triliões de dólares, que estão sob forma de obrigações do Tesouro dos EUA («treasuries»).
Há quem diga que esta constitui uma arma poderosa da China, que poderá despejar no mercado fazendo baixar subitamente o valor dos referidos treasuries. Mas, isso é falso. Não só não é possível eles desfazerem-se de tal soma bruscamente, como teria um efeito oposto ao desejado. Ainda por cima, poderia desencadear uma guerra, por os EUA se sentirem acossados naquilo que é fundamental para eles, a sustentabilidade da sua dívida...

Os russos, há algum tempo, desfizeram-se de quase todas as suas treasuries. Mas eles tinham muito menos, do que a China tem. O que eles fizeram foi genial: Eles deram os treasuries como aval a vários bancos europeus, para garantia de empréstimos aos mesmos bancos. Depois, fizeram default sobre as dívidas a esses bancos e estes tomaram posse das treasuries, dadas como aval. Assim, não colocaram no mercado essas treasuries e obrigaram a outra parte a aceitá-los. Não me parece que se possa repetir isso.

Os Chineses fizeram a Belt and Road: é - além de outras coisas - um processo lento de se desfazerem de treasuries. Com esses dólares, eles financiam grandes obras, portos, aeroportos, caminhos de ferro, etc. nos países mais diversos, com os quais têm acordos. Ficam aliviados do excedente em dólares e tornam-se credores de vários países, sendo possível que recebam em pagamento géneros (matérias-primas), ou notas de crédito denominadas em Yuan.

Segundo uns analistas, os americanos têm de comprar a si próprios (a FED compra ao Tesouro, o qual emite dívida) cerca de 70% da dívida emitida e têm de fazer malabarismos, usando derivados (credit default swaps), para criar a ilusão de procura de treasuries e assim sustentar seu preço. 
Também conseguem procura porque têm uma taxa ligeiramente acima de zero, enquanto muitas das obrigações europeias (como os bunds alemães) estão com juros negativos, ou seja, o emprestador tem - ao fim de x anos - a soma investida, MENOS uma determinada soma y, correspondente ao juro negativo. 

A dívida excessiva a nível mundial não poderá ser aliviada por uma espécie de «jubileu», pois haverá países que ficam a perder imenso com isso por comparação com outros que até incluem os mais ricos, pois estes têm tido um comportamento irresponsável de acumulação de dívida, sem contrapartida em criação de riqueza. Quando uma pessoa ou uma empresa ou um Estado se endividam pode ser uma coisa boa e sensata ou o contrário: se for para investir em algo que por sua vez irá gerar rendimento, irá produzir algo (bens ou serviços), irá traduzir-se por um acréscimo de rendimento (ao nível dos Estados, maior receita de imposto), então é provável que tal investimento seja sensato e produtivo. Mas um empréstimo gasto em despesa não reprodutível, que não vai gerar capital que o pague no médio/longo prazo, é somente um peso suplementar que incide sobre as economias, sobretudo das gerações futuras. 

Num contexto de sobre-endividamento, a inflação é desejada por bancos centrais e por governos, porque vai «comer» parte da dívida acumulada, ou seja, é como um «default» suave, a uma taxa de uns pouco por cento ao ano, que o público não compreende e atribui à ganância dos comerciantes ou às reivindicações excessivas dos assalariados, etc... mas, não aos verdadeiros culpados.

Perante um aumento descontrolado da dívida, a tentação é desvalorização correspondente do dinheiro, o que tem sido feito, de forma sistemática, sem que as pessoas percebam o que se está a passar: se a inflação registada nas estatísticas ao longo de um ano, for de 2%, por hipótese mas - na verdade -  sendo esta de 4 ou 5 %, como se tem verificado, é muito difícil alguém contrariar o discurso oficial. Seria preciso um instrumento independente, de recolha e tratamento estatístico, algo como um Instituto de Estatística alternativo, ou algo parecido, com credibilidade igual ou superior aos institutos do Estado. 

Portanto, a aceleração da impressão monetária, ou seja,  «Quantitive Easing» e as taxas de juro próximas de zero ou negativas  anunciadas pelos bancos centrais ocidentais, irão apenas contribuir para manter durante algum tempo (quanto?) as bolhas das bolsas de acções, das obrigações, do imobiliário... em que se tem vivido. 
Mas, chegará o momento em que as pessoas compreenderão que estão a ser aldrabadas, que números crescentes não representam aumento de valor, não correspondem a nada de sólido. 

A perda de confiança numa divisa, nas divisas «em papel», é um processo muito rápido: compreende-se que os bancos centrais dos países do Oriente se previnam disso, comprando todo o ouro que podem nos mercados. Alguns financeiros, gerindo fundos bilionários, também compreendem o que se está a passar e também estão a aconselhar os seus clientes a fazer o mesmo.

A subida dos metais preciosos, em especial do ouro (e isto é notável) faz-se, apesar da existência confirmada de conluio entre bancos centrais ocidentais e grandes bancos, emissores de contratos de futuros (um tipo de derivado) sobre o ouro e a prata. Eles despejam no mercado, em momentos especiais, quantidades abismais de contratos. É assim que o preço do ouro e da prata têm sido reprimidos, ao ponto de, em paridade do poder de compra, a prata nunca ter estado tão barata! Se estes contratos correspondessem - de facto - a ouro físico, seria necessária várias vezes a produção anual minerada. Evidentemente, trata-se duma fraude, mas fraude consentida pelas entidades ditas supervisoras dos mercados e pelos bancos centrais.
O sistema de emissão de dinheiro ilimitado e controlado pelas entidades globais, é inviável: dentro de um prazo (não determinável exactamente, pois dependerá da duração e profundidade da crise vindoura), terá de haver uma profunda reforma do sistema monetário.  
Mas, entretanto, é bem provável que haja guerras, revoluções, fomes, transferências de riqueza, fenómenos que se verificaram no passado, em associação com as crises económicas mais graves.