O meu ponto de partida para esta ideia, foi o constatar que estamos (quase)
todos concentrados numa ideia de «escola», vista como uma espécie de fábrica de
«futuros trabalhadores e cidadãos», coisa que correspondeu à era Taylorista e
Fordista do século XX.
Porém, a escola como aparelho ideológico do Estado (sem dúvida permanece
assim, mesmo em escolas privadas ou cooperativas) é uma realidade que esmaga o
indivíduo, que o marca a ferrete como sendo «escolarizado» (ou não), detentor
de «diplomas (ou não), ou seja como explorável, como «útil-utensílio» na forma
última de alienação no trabalho e pelo trabalho.
A questão do trabalho-mercadoria ultrapassa então a questão laboral; não
poderia ficar assim «limitada» ao que se passa no local de trabalho: Como
Marx viu e muito bem, a alienação do trabalhador implica que esteja
completamente destituído de poder, escravo à mercê de uma máquina impiedosa que
fabrica «lucro» antes de produzir bens e serviços... Pois o fim último da
produção desses bens e serviços é o lucro.
O homem é portanto reduzido a uma «variável ajustável» às conveniências da
«empresa», do capital. O capital é que rege o nosso ser e devir de nós todos,
produtores/consumidores que somos. Apenas teremos uma hipótese de nos
emanciparmos: a de nos apossarmos de nosso ser, nossa inteligência, vontade,
querer e «coração», para construir (ou reconstruir) um mundo onde o humano
esteja no centro.
O mundo social é um mundo sempre construído por nós, mas o nosso «input»
nele é variável. Podemos ter o input de «formigas» OU SEJA, DE AGENTES ANÓNIMOS
intercambiáveis, exploráveis, recicláveis ou deitados fora, como lixo... ou- em
alternativa - sermos PROTAGONISTAS da nossa própria vida, da nossa construção
interior, da nossa educação, dos laços diversos que constituem a teia única de
cada ser no seio da sociedade.
Podemos fazer isso, sem necessidade de grandes teatros e proclamações, de
grandes manifestos e marchas, que -muitas vezes- apenas são encenações do
capital, ou seja, formas dele nos ludibriar e nos convencer de que sim, estamos
a fazer algo por vontade própria, que estamos a mexer com algo, que estamos a
ser «agentes ativos» de mudança. Mas, na realidade, continuamos num estado
alienado, desapoderado. Isto é: temos todos os sintomas de zombies sociais…
A condição primeira para a libertação,
emancipação e autonomia, enquanto indivíduos, grupos, comunidades e sociedades
em geral, é de uma tomada de consciência social.
Por oposição à consciência individual
que está centrada no ego, a consciência social parte da existência dum
«sofrimento social». Face a este sofrimento, a atitude ativa é a de descobrir,
debater, analisar, procurar soluções dessa disfunção social.
O debate proposto, sobre o conceito de
uma Escola Sem Muros, é um contributo para essa procura de soluções.