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terça-feira, 19 de novembro de 2024

ATÉ QUE PONTO CONTROLAMOS AS NOSSAS MENTES? [DOCUMENTÁRIO]

 

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COMENTÁRIO DE MANUEL BANET:


Um documentário extenso e com conteúdo. Polémico, pois aborda aspetos da ciência nas fronteiras do saber.


Em relação aos conceitos de «livre-arbítrio» e de «determinismo», quer me parecer que são conceitos polissémicos, como os conceitos de «liberdade» e «destino».
São conceitos importados da teologia ou da filosofia moral, pelo que não me parecem apropriados numa discussão científica.
Um debate científico, para não cair na ideologia, deverá previamente definir, com o rigor possível, os termos e os âmbitos de aplicação dos mesmos.
Quanto à célebre experiência em que o sujeito tinha de primir um botão quando lhe apetecesse, sendo monitorizadas as suas ondas cerebrais:
Verificou-se que eram detetadas ondas indicando o impulso para efetuar este ato, algumas frações de segundo antes do sujeito da experiência ter efetiva consciência de que iria premir o botão.
Se a experiência se destinava a determinar se a ordem cerebral antecedia ou era simultânea à consciência do sujeito ter decidido efetuar o referido ato, ela era adequada. Mas, a dita experiência não  nos pode esclarecer realmente sobre a génese  da tomada de decisão. 
A «livre-vontade», ou «livre-arbítrio» é algo muito distinto disso. Penso que - na realidade - a experiência citada não permite inferir nada em relação à existência, ou inexistência, de um «livre-arbítrio». Sabe-se que a consciência das nossas decisões e dos nossos atos,  é do domínio do córtex frontal. Esta parte do cérebro é a racionalizadora dos impulsos mais profundos.
Mas, a tomada de decisão em fazer um determinado gesto, precedendo de frações de segundo o ato em si, é algo perfeitamente lógico, como é lógico que esta decisão demore alguns milissegundos a ser processada pelo "cérebro racional". Note-se que, só  então poderá o indivíduo tomar consciência da mesma.
Estes problemas surgem também em experiências noutras áreas científicas,  como em física quântica, ou melhor, na sua interpretação ou vulgarização. É frequente, apesar do aparato experimental ser rigoroso e as conclusões dos investigadores serem adequadas aos resultados, algumas pessoas  "apropriarem-se" (e distorcerem) os resultados destas experiências, para «validação» das suas próprias teorias.
Fala-se no vídeo sobre o dualismo cartesiano: Este tem muitas vidas, que se manifestam sob variadas formas, na História da Ciência. De facto, a filosofia e as ciências humanas são influenciadas, ora pelo dualismo cartesiano (separação radical da mente e do corpo), ora pelo materialismo mecanicista (somente o corpo é real, a mente é apenas uma emanação do mesmo).
Para que nosso pensamento seja um guia válido na investigação do Homem, temos de sair do «maniqueísmo» (= radical separação do bem e do mal), que instaura as dicotomias, para logo postular que somente é legítimo raciocinar dentro delas.
Temos, ao invés, de analisar as nossas crenças de um modo crítico: Os próprios «factos» (ou aquilo que consideramos serem factos) são construídos, muitas vezes; eles são reconhecidos como «factos», apenas quando se decide que são interessantes e que merecem ser investigados... no contexto de uma certa teoria. 


A polémica do determinismo versus livre-arbítrio, não faz sentido:
Em muitos casos, atribui-se a interpretação «correta», não à  que mais se aproxima da realidade observada, mas à que vem reforçar nossa interpretação de conceitos vagos, abstratos!
Por outras palavrás, não é nem boa ciência, nem boa filosofia; é confusão terminológica e metodológica.