A voz de Billie Holiday tem-me acompanhado nos bons e maus momentos, como se fosse uma secreta mensagem, dando-me coragem ou alegria, conforme as situações...Porque tudo me soa perfeito nestas gravações, a voz e o acompanhamento dos músicos. Uma «cançoneta na moda», interpretada por ela, transforma-se num pequeno cofre cheio de joias. Confesso-me incapaz de fazer uma lista definitiva das gravações da Lady 'Day, embora tenha tentado. Há uma autenticidade nestas gravações, uma perfeita adequação interpretativa, que raramente encontro noutras vozes do jazz. Há interpretes de quem gostamos tanto, que queremos nos apropriar das suas canções, da sua arte. Mas, afinal, acabam por ser eles a apropriarem-se de nós!!
Aqui têm a «playlist» RECALLING BILLIE. Mergulhem no seu universo sonoro: Verão que as melodias e letras, na sua voz, carregam muita energia. Não sei explicar a atração que sinto, mas acabo sempre por voltar à Billie Holiday.
Não a vi nunca, pessoalmente. Nem à distância, numa sala de espetáculos. Porém, poucas artistas marcaram, tanto como ela, a minha vida. Na infância, adolescência, idade adulta e nesta idade, já perto do fim. Apercebi-me, agora que ela partiu, como foi importante em toda a minha vida.
Autora e compositora, além de sublime intérprete da canção francesa, foi reconhecida nas várias línguas* em que cantou. Mas, a língua francesa deve-lhe algo muito especial. Foi imensa a sua irradiação artística: Com a sua voz inconfundível, ela exprimiu a música intrínseca dos poemas, os seus e os de uma profusão de poetas.
A qualidade das letras, das melodias e das orquestrações parece-me patente na discografia de Françoise Hardy: Foi o que procurei ilustrar, nesta amostra, com as mais belas canções**. São das que eu ouço sem me enfastiar: a cada vez, encontro algo de novo, que me tinha escapado até então.
Até amanhã na outra vida, Françoise Hardy.
---------------------
* Canções em inglês, alemão, italiano, espanhol...
À mon dernier repas Je veux voir mes frères Et mes chiens et mes chats Et le bord de la mer
À mon dernier repas Je veux voir mes voisins Et puis quelques chinois En guise de cousins
Et je veux qu'on y boive En plus du vin de messe De ce vin si joli Qu'on buvait en Arbois
Je veux qu'on y dévore Après quelques soutanes Une poule faisane Venue du Périgord
Puis je veux qu'on m'emmène En haut de ma colline Voir les arbres dormir En refermant leurs bras
Et puis je veux encore Lancer des pierres au ciel En criant Dieu est mort Une dernière fois
À mon dernier repas Je veux voir mon âne Mes poules et mes oies Mes vaches et mes femmes
À mon dernier repas Je veux voir ces drôlesses Dont je fus maître et roi Ou qui furent mes maîtresses
Quand j'aurai dans la panse De quoi noyer la terre Je briserai mon verre Pour faire le silence
Et chanterai à tue-tête À la mort qui s'avance Les paillardes romances Qui font peur aux nonnettes
Puis je veux qu'on m'emmène En haut de ma colline Voir le soir qui chemine Lentement vers la plaine
Et là debout encore J'insulterai les bourgeois Sans crainte et sans remords Une dernière fois
Après mon dernier repas Je veux que l'on s'en aille Qu'on finisse ripaille Ailleurs que sous mon toit
Après mon dernier repas Je veux que l'on m'installe Assis seul comme un roi Accueillant ses vestales
Dans ma pipe je brûlerai Mes souvenirs d'enfance Mes rêves inachevés Mes restes d'espérance
Et je ne garderai Pour habiller mon âme Que l'idée d'un rosier Et qu'un prénom de femme
Puis je regarderai Le haut de ma colline Qui danse, qui se devine Qui finit par sombrer
Et dans l'odeur des fleurs Qui bientôt s'éteindra Je sais que j'aurai peur Une dernière fois
Esta soberba canção abre a minha playlist, dedicada ao mais notável autor-compositor de origem franco-flamenga. Ele nos encantou enquanto adolescentes, encarnando todo o fulgor de revolta e de amor que nos incendiava também.
Sabemos muito sobre a vida deste grande vulto da canção francófona, mas isso não explica nada, pois o fenómeno de criatividade, quer nas letras, quer nas melodias, continua a ser, para mim, um caso ímpar. Dificilmente, se encontra meia dúzia de interpretes/compositores, que tenham atingido a perfeição e qualidade de Jacques Brel.
Jacques Brel é também um formidável intérprete. Tem imensa qualidade vocal, nas gravações ao vivo ou em estúdio: Elas são de grande perfeição, não apenas pela sua musicalidade, como pela sua perfeita dicção: consegue-se perceber todas as palavras, mesmo nas canções com um ritmo muito vivo.
Algumas canções do «grand Jacques» foram interpretadas por outros cantores/cantoras. Mas, para mim, nenhuma dessas interpretações (embora algumas tenham real qualidade) vale a versão original.
Brel escreve sobre o amor, sobre os desencontros do amor, sobre os seus fracassos, sobre a condição humana, sobre os problemas sociais, sobre a guerra e a paz, sobre o militarismo, sobre a morte, etc. Dizer - porém - que é um «cantor/autor de intervenção» ou «engagé» é um bocado redutor, não se aplica ao personagem e à sua obra. Ele transcende as divisões esquerda/direita, ou ateísmo/religião. Por isso, pode ser amado ou odiado por muitos, em todos os quadrantes: as canções que eu escolhi na playlist dão, espero, uma amostra representativa das temáticas das canções de Brel.
Brel viveu apaixonadamente, nunca recusando os desafios que a vida lhe colocava. Pode dizer-se que é um exemplo de comportamento «heroico» ou voluntarista, mas não cai dentro da categoria típica das «stars», pois ele não gostava nada que os media da altura se imiscuíssem na sua vida privada. Tinha, além disso, um sentido profundo de solidariedade e de justiça social, que não era fictício, pois ele assumia estes valores que proclamava. Pode dizer-se que o seu substrato profundo fosse de um libertário social, que assumia o humanismo como herança da civilização em que estava inserido, mas rejeitava as hipocrisias dos burgueses, dos falsos devotos, etc.
Gostaria que houvesse outros artistas como ele, que estivessem vivos e atuantes, que soubessem fazer a denúncia das iniquidades e das brutalidades dos poderosos, com a mesma verve, pois a força da expressão artística tem a capacidade de abrir os corações. Uma das coisas que mais falta faz, neste século, parece-me ser a coragem de se ser coerente com os ideais proclamados.
Dedico esta playlist aos que frequentavam comigo o Hot Clube nas décadas de 70-80, quando aprendi a apreciar o jazz e «descobri» a voz e personalidade extraordinárias de Billie Holiday:
Otis Redding (9 de Setembro 1941 – 10 de Dezembro 1967) foi um autor, compositor e cantor americano, considerado dos maiores ídolos da música popular e artista de primeiro plano da música soul e rhythm and blues.
Ele influenciou muitos artistas que, não só interpretaram suas composições, como também se inspiraram do seu estilo vocal, gutural, rude e apaixonado.
Esta playlist inclui atuações em palco de Otis Redding, que mostram como ele criava uma atmosfera de exaltação, de conivência com o público e de entrega total.
A sua morte trágica, num acidente de avião, que envolveu também a morte de quase todos os passageiros e músicos da sua banda, ocorreu no auge da sua carreira.
Muitos discos surgiram após a sua morte; ele tinha gravado um grande número de inéditos.
Os seus álbuns são de qualidade muito acima da média, mesmo em relação aos anos 60, época de elevada criatividade, na música popular anglo-saxónica.
02 Les Trompettes De La Renommée
03 Brave Margot
04 La Mauvaise réputation
05 Le parapluie
06 Le petit Cheval
07 Le Gorille
08 J'ai rendez-vous avec vous
09 Les amoureux des bancs publics
10 Pauvre Martin
11 Il n'y a pas d'amour heureux
12 Auprès de mon Arbre
13 Le Pornographe
14 Le vieux Léon
15 Marquise
16 Les copains d'abord
17 Les sabots D'Hélène
18 Chanson pour l'auvergnat
19 La Prière
20 Gastibelza
21 La mauvais herbe
22 Une jolie fleur
23 Je suis un voyou
24 Putain de toi