segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

A SINFONIA DE MONTEVERDI A HAYDN (Segundas-f. musicais nº41 )

 A sinfonia é um género musical, que teve uma evolução muito rápida na época clássica. 

O típico exemplo de «sinfonia clássica» possui 4 movimentos: um allegro inicial, um andante ou adagio; um scherzo (ou um menuet) e um final (presto ou allegro molto). Esta codificação, como todas em música, pode sofrer pequenas variações. Por exemplo, a sequência acima descrita pode ser antecedida por um breve andamento lento e solene... 

As sinfonias que aparecem antes da época clássica, possuem o mesmo nome, mas francamente não pertencem ao mesmo tipo de música. Receberam o nome «sinfonia», no sentido de serem peças em que os vários instrumentos formam conjunto. Mas, de resto pouco mais têm em comum. A designação de tais peças tornou-se comum em óperas já no tempo de Monteverdi, sendo depois muito frequente aparecer em oratórias e cantatas. Haendel e J.S. Bach compuseram sinfonias no sentido antigo do termo. Carlos Seixas e Vivaldi, seus contemporâneos, usaram o termo no mesmo sentido. 

As primeiras sinfonias no sentido moderno são devidas à escola napolitana, com Alexandre Scarlatti e seus discípulos. Nesta época (por volta de 1700) o termo era intercambiável com o de «Overture». De facto, muitas aberturas de óperas tinham a designação e estrutura da sinfonia.

Foi a escola Checa com Johann e Carl Stamitz, que no século XVIII codificou a sinfonia: os andamentos, os naipes de instrumentos e a unidade temática de cada andamento. 

O célebre e cosmopolita Johann Christian Bach, filho de João Sebastião, fez carreira em Milão e em Londres. Ele compôs sinfonias e concertos para orquestra com solista. A sua criatividade e seu saber transparecem nas sinfonias, pelo equilíbrio entre a tradição do barroco e o  estilo galante. 

Mas, foram Mozart e Haydn que elevaram a sinfonia ao estatuto de composição de grande significado, de monumento revelador dos recursos do compositor e que punha à prova a qualidade dos instrumentistas e do maestro.

Cada exemplo abaixo, justificaria extenso comentário. Mas, decidi cingir-me apresentar as peças, esperando que a curiosidade do auditor o leve a procurar elementos sobre elas e seus respectivos compositores.

                 MONTEVERDI 
                                                                             Sinfonia do «Orfeo»



J. B. LULLY       
   
                   Sinfonia de «Amadis»


CARLOS SEIXAS 
                                                                                  Sinfonia em Si bemol maior


VIVALDI           
                                                                                 Sinfonia «Al Sepolcro»


J.C. BACH 
                                                                              Allegro con Spiritu 


J.C. BACH 
            Andante


J.C. BACH 
                    Allegro


W.A. MOZART
              Overture «Cosi fan Tutte»



JOSEPH HAYDN 
                                                                    Andante da sinfonia Hob. 101 «The Clock»







domingo, 7 de dezembro de 2025

OTAN envolve-se diretamente na guerra contra a Rússia



O prof. Mearsheimer dá conta da gravidade da situação político-militar. As forças da OTAN nunca estiveram antes envolvidas em combates diretos contra o território russo. É um momento que pode significar uma escalada de parte a parte. Putin avisou muito diretamente que um ataque contra solo russo pelas forças da OTAN legitmava uma resposta nuclear pela Rússia, contra cidades desses países, incluindo os EUA.




ATUALIZAÇÃO:

APOSTA [OBRAS DE MANUEL BANET]



Sempre tive grande relutância

Em apostar nalguma coisa

Ou acontecimento. Pensava:

Se podes calcular a probabilidade

Dessa coisa, apostar é fútil,

E se não podes, é suicidário.


Mas hoje declaro que aposto.

Aposto pela vida, face ao caos

Face à extinção, ao domínio

Absoluto, incontroverso;

Face à capitulação, também

À fraqueza dupla do querer.


Aqueles que hesitam, calculam

Mas calculam mal; o cálculo 

É simples: Escolhes lutar 

Ou sofrer a humilhação 

Antes de morreres esmagado.

Só os fracos hesitariam


Porque quem luta, quem se ergue

Usando seus meios e inteligência

Está a ganhar a partida;

Se ganhou, salvou-se e salvou-nos

De uma secular servidão.

Se perdeu, não perdeu... pois

A sua semente vingará.

Se não luta,  é certo:

Perderá de certeza.


Por isso, aposto que o tempo

Trará uma nova geração

Bastante mais comprometida

Perante a urgência 

De salvar a humanidade

De quem pretende dominá-la.

Se eles fizerem esta aposta

Terão meu apoio e participação

Na medida em que puder ser útil


A esperança reside no humano

Que subsiste em cada um.

Que este ascenda à consciência,

É A MINHA APOSTA 


Murtal, Parede

A 5 de Dezembro de 2025





 

sábado, 6 de dezembro de 2025

OURO, PRATA E YUAN: OS 3 VECTORES DA QUEDA DO DÓLAR

A China tem avançado passo a passo, para desinvestir do dólar:

A- Lançando obrigações em yuan que podem ser convertidas em ouro no Mercado de Metais Preciosos de Xangai. Com rendimento de 7%, são  muito mais apetecíveis que as Treasuries americanas, que apenas dão 2%.

B- Compra de ouro em quantidades bem superiores (10 vezes mais) às oficialmente declaradas.

C- Venda de prata no Mercado de Xangai, mas apenas em Yuan. Como existe uma enorme falta de prata disponível nos mercados ocidentais, os compradores têm de trocar as suas divisas por Yuan, para poderem comprar em Xangai. O valor da divisa chinesa e a sua internacionalização são  cada vez maiores e a fatia das trocas comerciais em dólares vai diminuindo. 

D - A China deixou, há anos, de acumular dólares  sob forma de obrigações do Tesouro americano e tem colocado à  venda quantidades elevadas das mesmas obrigações. 

E- Tem promovido, com os seus parceiros dos BRICS (e outros), contratos comerciais envolvendo apenas Yuan e divisas dos parceiros, com exclusão do dólar. 

Veja o vídeo abaixo, de Paulo Nogueira Batista Junior:



sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

JÁ NÃO HÁ COMO DISFARÇAR...

 (debaixo das imagens clica nos URL  para visualizar os vídeos)



https://www.youtube.com/watch?v=JcRPHORpaRg&t=150s

PS1: Dois vídeos com origem no Brasil, com uma qualidade e profundidade de análise notáveis. Não se trata aqui de propaganda, nem de especulações. Trata-se de pôr em perspectiva a fragilidade insuspeitada por muitos, do Império USA. As pessoas, não tendo este conhecimento, podem ainda estar na ilusão da omnipotência do Império. No entanto, as manifestações de resistência do resto do mundo, por um lado e a crescente incoerência das respostas americanas aos desafios que lhe são colocados, por outro, são prova de que a estrutura hegemónica dos EUA, com os seus capitais, as suas forças armadas e com as agências encarregues da «guerra suja», já não são mais do que um pálido reflexo do passado. De um passado em que a hegemonia dos EUA permitia que eles ditassem quem pode comerciar com quem, visto que dispunham da divisa indispensável para efetuar as trocas comerciais internacionais. Quem não se conformasse, era sancionado. 
Mas, hoje as coisas mudaram: A Venezuela, com as suas fragilidades e contradições, tem sabido evitar o colapso deliberadamente provocado pelos EUA e mostra que é possível vender o seu petróleo, recebendo Yuan e outras divisas, mas não o dólar, tornando as sanções dos EUA muito menos eficazes. 

quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

Richard Wolff: PARA ONDE VAI O DINHEIRO PERDIDO NUM CRASH DA BOLSA?



            [Se tiver dificultade em ir diretamente para o vídeo, clique no URL acima]


 Este vídeo do prof. universitário Richard Wolff explica em pormenor os mecanismos bolsistas que se alimentam do subjectivismo dos investidores. Ao contrário da bolsa e de todo o mecanismo especulativo que a sustenta, a economia real não depende de "sentimentos" , de "intuições" ou de "jogadas audaciosas". Muito pragmaticamente, depende de trabalho real, para fornecer bens ou serviços, de que a sociedade necessita e aos quais atribui valor. Mas, na economia financeirizada tem sido atribuido valor e capital a ativos inflacionados em bolhas, cada vez mais monstruosas. Porém, TODAS as bolhas estão destinadas a esvaziar-se. Tal aconteceu em TODOS os casos historicamente registados. Vemos agora isto com as empresas que pretendem "desenvolver a IA", algo semelhante ao que ocorreu em 2000, com as empresas "DOT.COM" e em 2007, com o crédito hipotecário.  

quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

O MEDO E COMO O COMBATER






A configuração das relações de força internacionais, a agressividade crescente da media, que atiça os conflitos em vez de os tentar explicar, a preocupação permanente com a sobrevivência de muitos milhões, que os leva a viver numa prisão de trabalhos forçados, esgotando-se e não conseguindo satisfazer as necessidades elementares, o crescimento de toda a espécie de patologias do foro psíquico... Todos os fenómenos acima são sinais dum desequilíbrio fundamental que atingiu a humanidade.

Mas que fenómeno? Que desequilíbrio?

- Penso que - para além de factores materiais, objetivos, jogam factores da área afetiva-cognitiva.

Estes últimos factores costumam ser desprezados, em geral, talvez por os indivíduos do século XXI estarem fortemente condicionados a pensar em termos materialistas. Não no sentido filosófico de materialista, mas no sentido de apenas ter interesse pelos aspetos materiais da vida, aquilo que se chama de «materialismo vulgar». No entanto, este tipo de materialismo tanto ocorre em pessoas ateias, como em pessoas aderindo a uma crença religiosa.

Mas é justamente nesta área afetiva/cognitiva, que se dão grande parte dos traumas, embora não imediatamente visíveis. É nestes domínios que as pessoas se tornam incapazes de conduzir a sua vida, de conservar o sentido do real, de se relacionar humanamente com os outros humanos.

As pessoas que estão sujeitas a enorme pressão (e são cada vez mais), são muitas vezes incapazes de compreender o que se passa com elas e com o seu entorno. Se o fossem, na mesma teriam dificuldades e teriam de lutar, mas isso não as faria bascular para um desequilíbrio crónico, para um refúgio fora da realidade, para um regresso a aspectos da psique infantil. Todos estes mecanismos são resultantes duma incapacidade continuada em fazer face à realidade .

Por isso, são destruidores os traumatismos de guerra, ou de períodos prolongados de violência: Porque sobre tal violência, as pessoas não têm hipótese de agir. São situações em que a sobrevivência parece dever-se ao acaso e as acções que se tomarem, tanto podem ser efetivas na salavaguarda individual, como conduzir ao contrário, ou seja, à morte.

Um caso particular de guerra, é a guerra económica lançada pelas «elites» do capital e do Estado sobre os mais frágeis, os destituídos, os que dependem do salário para sobreviver e sustentar a família. Este terrorismo económico, prolonga-se no tempo e no espaço, para que as pessoas não vejam que ele é uma estratégia deliberada da classe possidente. Porém, é nas sociedades ocidentais, ditas democráticas, que a modalidade «guerra económica» mais se tem feito sentir. As garantias de emprego, de salário, de pensão de reforma, e outras, consideradas desde os anos 60 (há 60 anos, pelo menos!) como «naturais», foram paulatinamente retiradas ou abastardas, pelos senhores do capital e do Estado, de forma que isso não suscitasse demasiada indignação, usando todas as manhas, desde jogar com a inflação monetária, às sucessivas modificações das leis. Este expoliar fraccionado conduz a que as pessoas sejam defraudadas daquilo que lhes tinha sido prometido, porém sem que elas tenham realmente compreendido como foram defraudadas.

A insegurança na satisfação das necessidades básicas vai conduzir as pessoas a uma série de mecanismos de «auto-defesa» que são apenas ilusões, ou mecanismos simbólicos. Assim, interioriza-se a angústia, o medo constante mas indefinível, de impossibilidade de se manter as condições mínimas económicas e um nível básico de satisfação das necessidades.

O bombardear pela publicidade comercial e, sobretudo, por órgãos da media transformados em máquinas de condicionamento de massas (ou de lavagem ao cérebro), faz com que a maior parte das pessoas sinta os medos sem a mínima capacidade de análise crítica e muito menos de distanciamento. O efeito, é que estas pessoas vão reagir automaticamente a certos estímulos, a palavras ou imagens, de forma condicionada, desencadeando respostas reflexas, que podem parecer genuínas, mas que foram incutidas.

As pessoas condicionadas não aceitam a realidade. Esta foi substituída por uma grelha de leitura codificada pelo seu entorno e reforçada pela média corporativa, de tal forma que rejeitam liminarmente tudo o que saia fora do «molde» interior. É como se todos fôssemos ensinados que «2+2= 5» e alguém nos viesse dizer que não, que não é 5, mas 4. Tal indivíduo seria visto como louco, extravagante ou até subversivo ... pondo em causa a «normalidade».

A coação psicológica é muito mais importante que a coação física. Embora esta seja dura e brutal, sabemos de onde parte e quem a exerce, mas a coação psicológica é muito mais subtil: As pessoas que amamos, inclusive, podem ser veículo dessa coação, pensando que o fazem para o nosso bem, para nossa proteção...

A figura tutelar da «autoridade», reproduzindo a imagem interior que tivemos na fase precoce da nossa vida, em relação a pai e mãe, vai imiscuir-se de forma subreptícia: Através de símbolos, de gestos, de palavras que ativam esse condicionamento da infância e desencadeiam uma reacção automática de submissão. É portanto compreensível que muitas pessoas se projetem como «filhos» e «filhas» de pais e mães simbólicos, que são afinal os poderosos.

A emancipação em relação a estes esquemas de poder é possível, mas a grande maioria não irá fazê-lo. Na prática, é necessário ter-se um projeto de libertação individual e de autonomia, que poucas pessoas adoptam. Por outro lado, na sociedade fragmentada e atomizada contemporânea, certas pessoas podem ter um tal projeto. Porém, ele só se poderá concretizar se houver convergência de vários indivíduos para a construção conjunta de projetos explicitamente destinados a instaurar uma prática social diferente. Existem, mas são minoritários. Creio que será difícil desenvolver uma dinâmica que os transforme em prática corrente.

Aquilo que é possível fazer (e pude verificar, em várias circunstâncias), é criar espaços conjuntos, onde haja troca de bens e serviços, ao mesmo tempo que se desenvolvem capacidades de interação, de auxílio mútuo, de audição atenta do outro e de debate de ideias sem censura, mas com autodisciplina, onde ninguém se sinta coagido ou inibido.

Um projeto para singrar não tem necessariamente de ser do agrado da maioria, nem deve implicar que a maioria se possa nele participar. Os núcleos que dinamizarem estes projetos grupais, devem ter flexibilidade e uma grande clareza de objetivos: 
- Queremos desenvolver um projeto assim, para quê? E como ? E em que área(s)? E para que fim (fins)? ... etc.




terça-feira, 2 de dezembro de 2025

segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

A CHINA CONTINENTAL É COMUNISTA?

(alguns vídeos foram retirados do artigo de Hua Bin seguinte:)


                                                     Documentário sobre modernas cidades chinesas 


Lembro-me de ter visto um pedinte, com as pernas gravemente incapacidadas, que se arrastava pelo chão do acesso a uma estação de comboio, algures no centro da China. Ele pedia esmola, erguendo um copo, à caridade dos transeutes que passavam sem lhe prestar atenção. Esta cena deixou-me perturbado, não que não tivesse visto coisas semelhantes do Ocidente e no meu próprio país, mas justamente porque este tipo de estendal de miséria não era próprio de um país que se considera praticando uma moral comunista, um país do socialismo da abundância, ou seja, o tal «socialismo com características chinesas». 

Não foi caso único, também encontrei um sem-domicílio enrolado numa manta numa passagem subterrânea duma grande avenida de Pequim. Não julguem que eu estava à procura desses casos, nada disso: Eu estava inserido num grupo de turistas, todos portugueses, que visitavam a China.  

Numa noite em que jantámos num célebre restaurante de  Pequim, deparei-me com uma mulher idosa a pedir na rua, onde estacionavam os carros, fazendo gestos de «levar comida à boca». Fez-me pena, embora tais cenas estejam igualmente presentes em capitais de países ocidentais e das mais opulentas. 

Mas eu acreditava, ingenuamente, que tais manifestações de miséria eram impossíveis num país dito socialista e orgulhoso das suas façanhas económicas e em ter arrancado da miséria uma grande fatia da sua população. Mas, o pior de tudo era que tais exemplos concretos de miséria, recebiam apenas indiferença da população. 

As pessoas são iguais em Pequim, Toronto, Londres, ou Madrid: quanto mais afluentes, menos se preocupam com as pessoas destituídas. Esta também é uma lição para confrontar a realidade com a propaganda de um «socialismo» com «rosto capitalista». Pode ser socialista na condução geral da economia, mas as pessoas concretas não «comem o PIB», nem se vestem com «estatísticas da produção». 

Martin Armstrong é capitalista e favorável ao tipo de regime (dito de «democracia liberal») que vigora nos países ocidentais. No entanto, como pessoa inteligente e pragmática que também é, tanto apresenta os lados positivos como negativos do regime chinês. A bem da verdade, tenho de confirmar que ele tem razão em vários pontos de um artigo seu, abaixo (*).

O prof. Michael Hudson, que tem trabalhado em universidades chinesas, como professor convidado de economia, caracteriza a China como um sistema misto. Ele é globalmente favorável ao regime aí implantado, porém reconhece que foi a abertura à iniciativa privada, no tempo de Deng Xiao Ping, que permitiu o arranque para o desenvolvimento neste imenso país. 

A China foi ficando para trás, após a implantação da RPC em 1949, durante mais de 20 anos de comunismo radical sob a batuta autoritária do partido e do seu «timoneiro» Mao Tsé Tung. Continua oficialmente o regime, continua a ditadura «proletária» do partido, mas o regime foi-se transformando profundamente por dentro. 

As pessoas esperam que, no futuro, tal como no passado recente, o seu nível de vida vá melhorar ainda mais. As pessoas na China são iguais às pessoas noutro ponto qualquer do globo. Querem viver com o mínimo de decência e dignidade, não precisando de se dobrar perante cada «apparatchik» que lhes apareça. 

Será «virtuoso» enriquecer, como dizia a propaganda no tempo de Deng? - Sim, na medida em que este enriquecimento provenha do trabalho e do reconhecimento social por esse mesmo trabalho. Este princípio pode e deve existir numa sociedade socialista, ao contrário do que a propaganda propala de que o socialismo é igualizador, de que mata toda a criatividade, etc. Aliá, esta propaganda é afinal auto-destruidora, pois ela não explica como o desenvolvimento técnico e científico, assim como a excelência nas artes, se desenvolveram na URSS, na China e em muitos países «socialistas» durante a Guerra-Fria. 

Se as pessoas fossem condicionadas a pensarem rotineiramente, nem cientístas, nem engenheiros, nem artistas em todas as artes, poderiam ter surgido. Dirão que são uns poucos que escaparam a um condicionamento radical; pois, a ser assim, estes que se notabilizavam seriam logo esmagados por hierarcas e pelos seus iguais. Algo de semelhante a isso começou - como um vento destruidor - na China durante  a «revolução cultural»: Nesta altura foram destruídos imensos monumentos e sobretudo criminosamente enxovalhadas, castigadas e humilhadas centenas de milhares de pessoas, intelectuais na maioria. Muitos indivíduos que deram o melhor de si próprios, nos anos anteriores, foram alvos preferidos dos «guardas vermelhos» da China. 

Deng Xiao Ping foi uma  vítima, assim como o pai de Xi Jin Pin e o próprio Xi. Se a «revolução cultural», iniciada com o pleno acordo e estímulo de Mao e continuada pelos seus mais chegados aliados, fosse coroada de sucesso, hoje a China seria um país miserável. 

Para mim, que aceito de bom grado os objetivos últimos do comunismo, mas não os desmandos que foram cometidos em seu nome (numa grande parte do século XX, sobretudo), não tenho qualquer complexo de superioridade em relação ao povo chinês. Antes, fico maravilhado pela sua capacidade de «endurance», de trabalho árduo, de solidariedade familiar, de auto-disciplina, de espírito coletivista. Devo dizer, no entanto, que estas propriedades não se desenvolveram a partir da China «comunista». Foram, durante milénios, o produto das experiências, dos fracassos mais sangrentos aos períodos mais aúreos, do povo chinês.    

Para mim, o trato com um chinês é o mais natural, pois eu tenho muito respeito pela sua civilização e procuro naturalmente pontes para me relacionar com ele. Os chineses que eu encontrei ao longo da minha vida, muitas vezes foram cordiais, nada distantes. Pois, eles intuíam que eu não tinha qualquer complexo racista, de ser produto duma «civilização superior». 

Por isso, amo as pessoas, compreendo que todos somos uma raça única, temos todos as mesmas necessidades fundamentais e legitimidade para nos afirmar dentro da sociedade, dando o melhor de nós próprios e recebendo - em troca - a justa recompenasa. 

Só não acredito que um sistema ferreamente hierárquico, mesmo que tal ocorra apenas numa fase de transição histórica, possa conduzir-nos a um comunismo verdadeiro, aquele em que as pessoas têm igualdade de direitos e deveres, um poder largamente distribuido por todos, uma liberdade de expressão e criação em todos os domínios . 

É como se me quisessem convencer que a melhor maneira de ir de Lisboa ao Porto, é tomar a estrada em sentido contrário, a que vai de Lisboa a Setúbal. Por que razão toda a gente veria isto como loucura, mas uma parte das pessoas convenceu-se que a «ditadura do proletariado» (do partido, na verdade) era, não apenas o melhor mas o «único» caminho para o socialismo e comunismo? 

- Eu chamo a isso alucinação, mais que endoutrinamento, porque muitas pessoas - minhas conhecidas - adoptaram esse ponto de vista e não eram estúpidas, eram inteligentes e pareciam-me sinceras.

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(*) MARTIN ARMSTRONG:

« The Chinese Communist Party is not “communist.” China permits private ownership and corporations. Consumerism and capitalism are alive and well. Forbes reported in April 2021 that a new billionaire was created worldwide every 17 hours, with the majority of newfound wealth coming from China.

The USA may be the billionaire capital of the world, with between 813 and 902 billionaires recorded, but China has seen a significant rise in the top wealth bracket in recent years. Mainland China currently has around 450 billionaires with a combined wealth of $1.7 trillion. China also hosts over 1,400 people with fortunes above $700 million. Billionaires do not exist in communist nations.

Karl Marx’s communism involved seizing the means of production. The government owns land, infrastructure, factories, and corporations under the premise that the ruling class could be eliminated by surrendering ownership to the state. Citizens may not accumulate wealth, as no one may have more than another, and certainly not more than the state. Everyone must be equal in poverty.

Under communism, the incentive for innovation is null and void. China has become a pioneer in innovative technologies and discoveries in every sector. Entrepreneurs are abundant in China, and investment and international trade are encouraged. The China of today is one of the leading players in the global economy, driven by modernization and competitiveness. The China of the past may have been communist, but the government is not going to take down statues of Mao or announce past wrongdoings.

China quietly moved away from communism decades ago. They saw it wasn’t working and made a change without a public declaration. Yes, the CCP is certainly authoritarian to some degree, but it is a fallacy to call China a communist nation.»

SANTANA LIVE 1970 (Segundas-f. musicais Nº40)

ESTES VÍDEOS DE 1970, MOSTRAM UMA ATUAÇÃO AO VIVO, EM TANGLEWOOD.
(clica no título das canções para abrir os vídeos)


                                 Black Magic Woman + Oye Como Va


 
                                                                        Evil Ways



                                                                       Soul Sacrifice




Os desempenhos de Carlos Santana e do seu grupo, foram a surpresa de Woodstock 1969. Um grupo completamente desconhecido, que nem tinha gravado um disco, fez despertar a audiência, cansada pela falta de sono e pelas diversas substâncias fumadas, ingeridas,  etc...
 Tanglewood (1970) aconteceu já com o primeiro álbum publicado («Santana»); foi ocasião para apresentarem as canções já publicadas do 1º álbum e as  reunidas no álbum «Abraxas». 
A síntese de percussões afro-latinas, com as guitarras e órgão elétricos, resultou num som inconfundível e totalmente original para a época. Nessa altura, a juventude estava tomada pelo rock; a presença deste «som latino» era muito mais exótica do que agora. 
Isto já era motivo para eles se destacarem. A qualidade dos músicos e seu desempenho em palco fizeram o resto. 
Desde então, têm tido um sucesso continuado, em palco e em discos vendidos. Poucos músicos e bandas de rock-pop têm tido tanto sucesso ao longo dos anos e abrangendo sucessivos públicos. 

quinta-feira, 27 de novembro de 2025

O EPÍLOGO DESTA PEÇA SANGRENTA... [Crónica da III Guerra Mundial, Nº52]

 Sentimos todos que o fim da guerra na Ucrânia está próximo. No entanto, ninguém pode dizer exactamente quando vai haver um cessar-fogo efetivo, que conduza a negociações de paz, a uma paz duradoira. 

O continente europeu, no seu conjunto - ou seja, do Atlântico aos Urais - sofreu imenso, com uma guerra cruel, que fez-nos lembrar a guerra das trincheiras, na 1º Guerra Mundial. Mas, também as matanças em 1941 e anos seguintes, no sul da União Soviética (Ucrânia incluída) durante o avanço das tropas da Wehrmacht acompanhadas por tropas especiais das SS, nas quais se incluía uma divisão ucraniana, sobretudo recrutada na Galícia. 

Mas, esta guerra também apresentou uma profusão de aspectos novos, inéditos. Talvez o que se destacou mais foi a utilização dos drones, em missões que tinham que ver com reconhecimento, mas também com o ataque a colunas de tanques, a instalações e mesmo a soldados individuais.

A assimetria de forças estava patente desde o princípio e só quem estivesse obnubilado, não percebia que os russos não iriam meter-se numa guerra às suas fronteiras, sem terem maximizado as probabilidades de sucesso. 

Não vou retraçar aqui as peripécias, tantas e tão dramáticas, desta guerra, desde Fev. de 2022 até Nov. de 2025. Mas, irei aqui fazer notar que se tratou de um conflito a vários níveis: intra-ucraniano, intra-eslavo e também internacional. 

Os mísseis do lado ucraniano eram manejados por equipas de soldados ocidentais. Muitos soldados (e até oficiais de média e alta patente) de países ocidentais morreram nesta guerra, combatida para destruir a Rússia, pela qual nutrem um medo e ódio completamente irracionais. 

A destruição de tantas vidas poderia ser, de algum modo, compensada com um regresso ao bom-senso. Resumidamente, no continente europeu só pode haver paz, caso se considere a segurança colectiva, de tal maneira que a segurança de uns, não seja em detrimento de outros.

 Também é preciso que seja desmontada a estrutura monstruosa da OTAN, virada para o passado, o da Guerra-Fria, que afinal continua na cabeça de muitas altas patentes e na de dirigentes políticos. 

Eles estão tomados de uma singular forma de loucura: pretendem fazer-nos recuar no tempo, o que não apenas é impossível, como só levaria à construção de estruturas totalitárias, distopias, a Estados mantendo uma vigilância permanente e total da cidadania.

Porém, quem irá oferecer-se como voluntário para uma guerra e sacrificar-se por uma monstruosidade assim?? 

Claro que a media - vendida ao grande capital e os seus representantes diretos, que são os «partidos de poder» - pinta o cenário com cores totalmente diferentes da realidade. Mas a realidade não pode ser suprimida com «narrativas». 

A realidade é que vários governos europeus, agora, são odiados por grande parte das suas próprias populações. A realidade é que os países e populações dos outros continentes vêem o que se passa e qual o papel anacrónico que a «elite» europeia desempenha.

A dominação conservadora na Europa, depois da IIª Guerra Mundial, a pretexto de «luta contra o comunismo» acabou por produzir uma forma autoritária de governança, de que a U.E. é o modelo acabado. 

Muitas pessoas, que não trocam a sua liberdade, nem a dos seus povos, por propaganda, sabem ver o grau de arbítrio, de autoritarismo e de ilegitimidade, que esta casta política da U.E. encorpora. 

Os regimes que os políticos ocidentais costumam apelar de autocráticos, não mostram o grau de indiferença e de opressão dos seus próprios cidadãos, que têm sido demonstrados por governos da Europa ocidental. 

As pessoas não são estúpidas. Muitas, apesar das notícias tendenciosas, compreendem que a motivação verdadeira dos oligarcas ocidentais nada tem que ver com democracia, direitos civis, liberdade, Estado de Direito, etc. Antes pelo contrário. 

No pós-guerra, pode haver muitos desenvolvimentos. Porém, no essencial: 

- Ou os Estados da Europa Ocidental (a U.E. mais o Reino Unido) se transformam em ditaduras, que «proclamam a liberdade, para a estrangular melhor»...

Ou as cidadanias compreendem o logro em que têm sido mantidas e emancipam-se - elas próprias - desta casta eurocrática e totalitária, que continuamente tem levado os povos a fracassos, à perda do elevado nível de vida e do bem-estar para o povo. Sobretudo, à  perda da capacidade para enfrentar os desafios do futuro.

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PS1: A recusa de Zelensky em aceitar o plano esquematizado por Trump para conversações de paz, mas aceite pela Rússia, como base preliminar a um verdadeiro documento de negociação, irá tornar muito maior o grau de destruição do exército ucraniano, já derrotado. Leia o artigo seguinte:

Ukraine Rejects Trump’s Peace Plan – U.S. Reacts To Its Defiance

O sistema monetário dos BRICS





 

terça-feira, 25 de novembro de 2025

Stanislav Krapivnik: BAIXAS REAIS NA UCRÂNIA DE MILITARES (NÃO MERCENÁRIOS) DE PAÍSES DA OTAN


 O desmascarar do memorando em 28 pontos apresentado por Trump, muito desfavorável para a Rússia, mas apresentado de forma completamente distorcida pela media corporativa do Ocidente.
Os ucranianos podem morrer «como moscas», mas os dirigentes ucranianos e da UE não se importam. Não são as suas famílias que estão em risco.

ENQUANTO ...[OBRAS DE MANUEL BANET]



 Enquanto a música  fluir no ar

e para os meus ouvidos

e nos circuitos neuronais

o meu cérebro poderá nutrir-se

de surpresa, fantasia e liberdade;

Enquanto intérpretes fizerem reviver

as ideias de compositores 

nos seus instrumentos 

e vibrar as cordas

das sensíveis almas;

Enquanto houver

aves selvagens

e cantos de pastores

que os cães reconhecem;

Enquanto a vida florescer

a cada manhã de sol

erguendo os rostos

para o calor suave ...

haverá razões para estar

aqui , ser testemunho

das coisas belas

e efémeras que vejo

e recolho no meu ser.







segunda-feira, 24 de novembro de 2025

DOSSIER «IA» («INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL»)

 Decidi criar um dossier que agrupasse artigos e vídeos mais significativos em termos de aprofundar uma abordagem do fenómeno «IA», desde o ponto de vista da economia geral, à sua repercussão sobre as liberdades e autonomia dos cidadãos. O facto de transcrever ou citar qualquer artigo ou vídeo, não significa, obviamente, que eu esteja 100% de acordo com aquilo que nele é expresso. Antes pelo contrário,  não limitarei as entradas aos pontos de vista que estejam mais próximos dos meus. 

PS1: Muitos se inquietam que esta bolha de «IA» seja o mesmo que a bolha dita «.com», ou ainda que a bolha das criptodivisas. Com efeito, esta corrida pela melhor capacidade de funcionamento de instrumentos de IA envolve (segundo artigo de Lena Petrova) somas colossais:

 . Alphabet levantou 17 milhares de milhões de dólares nos EUA e outros 6 milhares 500 mil milhões de euros na Europa.

.  Meta investiu uma soma brutal de 30 milhares de milhões de dólares, com um livro de encomendas batendo todos os records, de 125 milhares de milhões.

. Oracle vendeu 18 mil milhões de dólares para financiar a construção do seu centro de dados. De acordo com o banco Morgan Stanley, as ambições relativas à IA, poderiam implicar 1,5 biliões em empréstimos ao sector tecnológico até 2028. 

. JPMorgan estima que os hiper centros de dados irão custar 570 milhares de milhões apenas para o ano de 2026 - 4 vezes o que investiram, apenas há uns poucos anos..

[AI Boom Is Ending - The Truth Behind the Hype No One Wants to Admit]

Este massivo investimento da grande finança no sector da IA, amplificará as perdas que inevitavelmente surgirão, quando alguns projetos se mostrarem muito menos rentáveis do que tinha sido aventado inicialmente. 


World Affairs In Context:

                                            https://www.youtube.com/watch?v=Q6zHLELxEdA



Ben Norton:

                                         https://www.youtube.com/watch?v=JAZqYQBwWNY


Quantum Silk Route:

                                        https://www.youtube.com/watch?v=rtD_Emq0pbs


Entrevista a Iain Davis:The Technocratic Dark State  

(clicar no link para ir para o vídeo em ODYSEE)

https://off-guardian.org/2025/11/23/watch-the-technocratic-dark-state/


QUANTUM SILK ROUTE

                                  https://www.youtube.com/watch?v=oyS2s1LhMoA&t=3s


CNBC International

                                        https://www.youtube.com/watch?v=gQemV8nChDo




- O CEO de NVIDIA está desesperado. Com efeito, a sua companhia está em risco de perder acesso ao mercado chinês. As restrições colocadas pela China significam que NVIDIA não irá fazer negócio naquele país, daqui para a frente. Além disso, a China desenvolveu soluções muito mais eficientes, nomeadamente os «chips» analógicos muito mais rápidos e consumo muito menor em energia. Não há dúvida que as empresas chinesas irão dominar o mercado no futuro. 

SOUTH CHINA MORNING POST (HONG KONG)





 
It's Getting Harder And Harder To Preserve Our Mental Sovereignty
(*)
 https://substack.com/@caitlinjohnstone

(*) Está a tornar-se cada vez mais difícil  preservar a nossa soberania mental

MÚSICA CIGANA (INSTRUMENTAL) [ Segundas-f. musicais, Nº39]



A música cigana é pouco conhecida, fora dos círculos interessados na cultura da etnia cigana. Porém, tal como outras manifestações originalíssimas da alma cigana, esta música contribuiu muito para a cultura europeia, não apenas no folklore e no jazz, mas na música erudita também. 
Esta música é poucas vezes correctamente valorada, pois é expressão da cultura de um povo minoritário e nómada, recebendo desprezo racista, desde as épocas mais recuadas, duma parte dos povos sedentários, por onde passavam. 
Aqui, escolhi versões de músicas muito conhecidas, por interpretes que eu aprecio, independentemente de serem, ou não, ciganos. 
Deliciem-se - como eu - perante o rico manancial de talento e originalidade.


                                             Basilic Swing - "As Duas Guitarras" (ao vivo)


Django Reinhardt - Les Yeux Noirs

 

                                              Solo de Cimbalon por Jeno Farkas (Hungria)


Paco de Lucia - Entre dos águas






domingo, 23 de novembro de 2025

UM ROMANCE INÉDITO [OBRAS DE MANUEL BANET]



 Espectros distantes assomam às  janelas da mente..

Não com intenção de vindicta, mas de guias silenciosos. Será uma criação, fantasia da minha mente perturbada?

Serão outra realidade, que nós conseguimos apenas de quando em quando, aflorar? 

Por vezes sinto-me tão possuido de memórias do tempo em que tais espectros tinham "carne e osso", fossem eles parentes, mestres, amigos ...

Convivendo com estas memórias espectrais não tenho nada a recear, não caio num desequilibrio ou num alheamento da realidade. 

Antes pelo contrário, a minha vida pessoal e social , aparecem ambas com uma espessura, que permite avaliar os bons e maus momentos que agora atravesso.

Seria abusivo pretender que todo o meu saber-viver, de experiência acumulada e transmutada, o devo à frequentação daqueles meus espectros habituais.

Mas, o que é certo, é  que me proporcionam um diálogo interior. Pouco importa que o interlocutor seja imaginário.  De facto, este diálogo interior é o ancoradouro para eu não resvalar num estado patológico, que faço  tudo para evitar.

Não vivo no passado. Elaboro as experiências do presente e as reflexões que daí extraio, em confronto e em diálogo com as experiências passadas.

É como se recorresse a escritos passados, desde meus rascunhos, a obras lidas de vários autores, para compor uma nova obra. A diferença com um escritor verdadeiro existe porém  e não  é  pequena, pois eu não me dou ao trabalho de redigir e burilar a escrita deste romance: Ele permanece inédito; antes o quero viver, que escrevê-lo!

sábado, 22 de novembro de 2025

CRAIG MURRAY: SOBRE NAVIOS RUSSOS PERTO DE ÁGUAS TERRITORIAIS BRITÂNICAS



Leia aqui o artigo de Craig Murray: THE BEAT OF THE WAR DRUMS


Craig Murray, embaixador reformado do Reino Unido, esclarece-nos sobre o Direito do Mar, o que realmente é muito útil para sabermos ao certo o que se passa quando vemos notícias (alarmistas, em geral) sobre navios russos ao largo das costas de um país da OTAN. Neste caso é o Reino Unido, mas o mesmo se tem passado com outros, incluindo Portugal. É uma técnica clássica de manipulação, fazer passar uma atividade perfeitamente legal, prevista no Direito do Mar, como sendo um ato de «violação da soberania» dum país. Acresce que estas passagens, próximo das águas costeiras, mas ainda no Mar Alto, são rotineiramente efetuadas pelos navios de guerra da OTAN, em especial, ao largo das costas da Rússia. Claro que não nos dizem nada sobre isso, dando a entender (mentindo por omissão) que são os russos os culpados de violações da soberania dos Estados. Temos aqui um exemplo de manipulação - consciente - pois os profissionais de informação têm de verificar se o que se diz e escreve corresponde a factos reais. Mas, não, eles nunca fariam isso, pois são eles os autores, ou veículadores conscientes, da desinformação.



A Royal Navy enviou navios, incluindo o RFA Proteus (à direita em segundo plano) para monitorizar o «navio-espião» russo Yantar (primeiro plano) ao largo das costas da Cornualha, em Novembro 2024. Foto da Royal Navy


 Craig Murray: «In armed forces media the UK boasted it was an assertion of freedom of navigation. Yet we harass the Russian vessel equally on the High Seas for exercising its freedom of navigation. That was also perfectly legal. The idea that the same activity is worthy when we do it, but a pretext for war if the Russians do it, is so childish as to be beyond ridicule. But there is not one single mainstream journalist willing to call it out.»

(tradução: Nos media militares, o Reino Unido gaba-se de que é um exercício de liberdade de navegação. Porém, nós perseguimos um navio russo, que estava igualmente no Mar Alto, exercendo a sua liberdade de navegação. Isto era perfeitamente legal. A ideia de que a mesma actividade é válida quando nós a fazemos, mas torna-se um pretexto para a guerra, quando os russos a fazem, vai para além do ridículo, é infantil. Mas não existe um único jornalista mainstream que faça notar tal situação.)

sexta-feira, 21 de novembro de 2025

Um em cada oito estudantes nos EUA incapaz de compreensão de matemática elementar

          Foto: Educação «on-line»

Retirado e traduzido a partir de Armstrong Economics

A Universidade UC San Diego divulgou um estudo preocupante que mostrava que 1 em cada 8 alunos candidatos ao curso da faculdade (college) tem uma competência de apenas escola média em matemática. A instituição viu-se forçada a introduzir cursos de recuperação em matemática para os alunos dos primeiros anos da faculdade, que colmatassem as carências que vinham desde a escola elementar, até ao liceu. O denominador comum tem sido o COVID, pois as notas caíram rapidamente desde 2020.

O número de estudantes que precisavam de aulas de recuperação em matemática amplificou-se de 1 em 100, para 1 em 8.  Os estudantes têm dificuldade em resolver equações básicas. “Preencha o valor de X correspondente: 7 + 2 = X + 6.” Uma assustadora percentagem de 25%  de estudantes não conseguia responder a esta pergunta. Cerca de 37% dos estudantes eram incapazes de subtraír fracções e 61% tinham dificuldade em fazer um arredondamento com números elevados, até à centena mais próxima. A UCSD está classificada atualmente como a 5ª melhor universidade pública americana e tem 24% de aceitação. A situação na generalidade dos estudantes americanos é muito pior. 

O estudo não atribuia o problema à política de «Nenhuma Criança Fica Para Trás» implementada pelo ex-presidente George W. Bush em 2001. O estudo da UCSD atribui o declínio acentuado a factores mais recentes, como a paragem educativa devida ao COVID-19, a eliminação de testes estandardizados nas admissões, a inflação das notas e o crescente recrutamento a partir de liceus sub-financiados.

Estes estudantes estavam nos 8º ou 9º anos quando os «lockdowns» fizeram a educação parar. O que acontecerá aos estudantes mais jovens que viveram interrupções quando estes conceitos básicos foram indroduzidos pela primeira vez no curriculum?

O Programa para Avaliação Internacional dos Estudantes (PISA) é efetuado cada três anos, para avaliar a educação entre as nações da OCDE. O teste é dado a cerca de 600 mil estudantes de 15 e 16 anos, nos vários países, para avaliar o seu nível de compreensão de matemática, ciências e leitura. Em relação a 2022, estas são as dez nações com melhores resultados em matemática: Singapura (575), China (552), Taiwan (547), Hong Kong (540), Japão (536), Coreia do Sul (527), Estónia (510), Suíça (508), Canadá (497), Países Baixos (493). Os estudantes dos EUA têm um score de 465, ficando 90 pontos abaixo da China.

Os lockdowns do COVID apenas exacerbaram a crise educacional nos EUA; a próxima geração de trabalhadores estará numa desvantagem extrema.