quinta-feira, 31 de outubro de 2024

O NAUFRÁGIO DA UNIÃO EUROPEIA [Frédéric Farah]

 

https://www.youtube.com/watch?v=ZpxX0EPPJCc&t=2849s

COMENTÁRIO:

A União europeia tornou-se - a partir de Maastricht - numa modalidade de dominação neocolonial dos países nórdicos sobre os países do Sul. 

Apesar de todo o chinfrim e lamúrias feitas por alemães e outros, os países do Sul (os «PIGS»= Portugal, Itália, Grécia, Spain), foram sistematicamente arredados da competição nos domínios mais tecnológicos, embora à partida devessem ser os favorecidos, isto se a «fábula» da aproximação dos níveis de desenvolvimento e de vida, fosse mais do que a forma de «embrulhar» os povos na ilusão, para aceitarem o desaparecimento de uma parte considerável da sua soberania, ou seja, a renúncia a cunhar moeda própria. 

A incapacidade de desvalorizar a moeda nacional (visto não existir mais este instrumento de soberania) obriga a que a desvalorização do trabalho assalariado seja a única variável possível - em regime de mercado único - para conseguir aguentar a competição com países concorrentes comerciais mais fortes. 

Assim, de forma institucional, os governos do Sul foram «convidados» a implementar políticas de austeridade, que significam estagnação e sofrimento económico e social para os respetivos povos: Basta comparar os níveis de desemprego no Norte da UE e no Sul, no período considerado, nos anos entre 1992 e 2022.  

Durante algum tempo, as pessoas dos países do Sul foram iludidas e julgaram que realmente iriam alcançar os padrões de bem-estar dos países do Norte. Mas, as sucessivas políticas de austeridade, além da enorme fuga de capitais, fizeram com que - numa proporção maior que os ricos - fosse a classe trabalhadora (operariado + classe média) a sustentar a maior parte das despesas do Orçamento, com os seus impostos. 

- Na ausência de significativo investimento nos domínios tradicionais suscetíveis de crescerem numa primeira fase (por exemplo, as indústrias alimentares, as confeções, etc.) houve uma invasão dos produtos do Norte. 

- Não só a viabilidade de pequenas e médias empresas industriais dos países do Sul ficou posta em causa, com o desemprego correlativo, como também foram destruídos muitos postos de trabalho a montante e a jusante, na agricultura  e nos serviços. 

O balanço destas 3 décadas de União Europeia pós-Maastricht, para os países pobres, não poderia ser mais triste. 

- Perderam a possibilidade de desenvolver aquelas áreas onde possuíam reais vantagens, em relação aos concorrentes europeus e mundiais. 

- Houve destruição de sectores inteiros, como as pescas em Portugal, por exemplo.

- Agravou-se a miséria, que somente foi minorada com o renovo de fluxos migratórios em direção às economias do Norte. 

- As indústrias do Norte europeu ficaram com um vasto mercado cativo, não apenas em relação a automóveis e outros produtos industriais, mas também em relação a produtos antes fabricados no Sul, cujas empresas agrícolas e industriais foram liquidadas. 

- Parte da classe política (incluindo à «esquerda») em Portugal, continua a alimentar o mito do sucesso do projeto da UE. Trata-se daquela pequena casta, muitíssimo beneficiada com prebendas e privilégios da UE e suas agências, mas sem qualquer contributo positivo para este país.


Frédéric Farah é autor de um artigo recente, sobre como se originou e quais as consequências da bolha no imobiliário em Portugal:

 https://elucid.media/economie/flambee-immobiliere-portugal-malheurs-deregulation-europeenne-frederic-farah

quarta-feira, 30 de outubro de 2024

PAÍSES OCIDENTAIS PRETENDEM CANCELAR O NOVO SISTEMA DE TRANSFERÊNCIAS DOS BRICS (MBRIDGE)



Se aquilo que Lena Petrova relata se confirma, que o BIS está na disposição de cancelar o M-BRIDGE, isto significa que o BIS está totalmente alinhado com os EUA e o «ocidente», já não é mais uma organização independente.
É um nível mais elevado na escalada da guerra económica do Império USA contra  os BRICS.
 
PS1: Esta louca corrida para a frente dos que controlam ainda parte substancial das finanças mundiais (bancos centrais ocidentais, o BIS, o FMI...) deve ser avaliada em função de dois fenómenos inquietantes (para eles):

1) A subida vertiginosa dos mercados na China (30% em dez dias), em resposta à descida das taxas pelo banco central chinês. 
2) A dificuldade em colocar obrigações do tesouro dos EUA (treasuries) a 2 e a 5 anos, levou ao aumento da taxa de juro e portanto, à diminuição do valor destas treasuries. 
Isto deve-se à expetativa dos investidores de que irá disparar a inflação nos EUA. Num primeiro momento, os EUA poderão conseguir exportar a inflação, como tem acontecido no passado. 
Mas, a partir de certo ponto, haverá uma relutância e depois recusa, nos outros países, em aceitar dólares em pagamento. Então, será o fim do domínio do dólar. 

 

COMPLEXO DE CULPA ALEMÃO E WOKISMO

 DISSECADO POR UM FILÓSOFO ALEMÃO

 

 O prof. Hans-Georg Moeller é professor na universidade de Macau.

terça-feira, 29 de outubro de 2024

SAIRMOS DAS ILUSÕES E ESTARMOS PREPARADOS

 

                                     https://www.youtube.com/watch?v=5x76O5lJcj0&t=2391s
(Entrevista com Yves Cochet,  ex-ministro da ecologia num governo da França)


COMENTÁRIO por Manuel Banet :
Os processos caóticos de crescimento das urbes em todo o mundo, fizeram com que a maioria da humanidade se acumule hoje em mega cidades. Estas, não apenas atraíram populações rurais que viviam nesses países, deixando extensões enormes de terras semicultivadas ou abandonadas, como também concentraram recursos económicos e consumindo cada vez mais matérias-primas, num ciclo de reforço positivo (ou «ciclo vicioso»). É muito visível que as fronteiras citadinas não cessam de se alargar, abrangendo vilas situadas em zonas periféricas, que se transformam em subúrbios da mega-urbe. 
A mega urbe como forma de organização do espaço, obriga a que crescentes quantidades de matérias-primas, sobretudo alimentares, sejam importadas e consumidas a  milhares de quilómetros dos locais onde são produzidas. Quanto aos países produtores e exportadores destes alimentos e matérias-primas, são - em regra - países com grandes carências económicas e humanas. Estão metidos noutro ciclo vicioso, complementar do ciclo vicioso do consumo nas grandes urbes. Como países frágeis economicamente, têm sido mantidos assim pelo neocolonialismo e pela «economia de mercado», por uma série de processos que implicam a troca desigual e o bloqueio do desenvolvimento autóctone. Entendo por «autóctone», o que é originado dentro destas sociedades e capaz de as emancipar da dependência externa.
Por outro lado, as tecnologias informática, cibernética, da Internet e outras, atingiram um desenvolvimento tal, que a vida em zonas rurais, outrora desprezada pelas classes ricas e médias nos países avançados tecnologicamente, se torna muito atrativa agora, enquanto a qualidade de vida nas grandes cidades se degrada. Se houver núcleos urbanos novos, ou antigos, mas rejuvenescidos, os entornos vão tornar-se produtores de bens agrícolas, artesanais e outros, se lhes for dada a oportunidade de escoar seus produtos e se não forem esmagados pelos hipermercados. 
Estas transformações não implicam uma revolução, implicam a planificação inteligente de espaços urbanos e rurais, a flexibilidade nos serviços de apoio, a visão clara e a determinação em criar condições favoráveis às pequenas e médias explorações agrícolas, às empresas da indústria transformadora e às redes locais de comércio e serviços, como as escolas, os centros de saúde, a construção e manutenção de estradas e caminhos-de-ferro, etc.
Este tipo de sociedade não é uma utopia, pelo contrário, é muito realista. Em várias zonas da Europa existiu e, nalgumas províncias, ainda subsiste. A geografia destas zonas inclui aglomerados urbanos de média dimensão, 10 a 50 mil habitantes, uma distribuição espalhada das aldeias e explorações agrícolas bem dimensionadas. 
Penso que o maior obstáculo para a concretização duma tal sociedade, mais equilibrada, reside na visão estreita e a curto-prazo, de políticos e de empresários.

O problema que se coloca, não é, portanto, o de procurar novas soluções técnicas; estas já existem e podem ser melhoradas no futuro próximo. O mais importante é a transformação das mentalidades. Urge sairmos da cultura de acumulação, típica do capitalismo, para uma cultura de autonomia funcional. Esta última não poderá ser implementada por uma elite ou oligarquia, que saberia o que é melhor para o povo, o qual apenas se poderia conformar com as ordens que emanam do alto.  
A cultura da autonomia funcional implica a transição dos atributos e das prerrogativas das instâncias centrais para as locais, sempre que isso seja possível e desejável. O objetivo desta transição seria de que nada continuaria a ser do domínio central, quando pudesse ser do domínio local, ou regional. 

Claro que tal processo é muito complicado. Aquilo que eu delineei acima é apenas a visão esquemática duma organização autenticamente sustentável. A minha ênfase é deliberadamente na organização social e política, em detrimento da insistência na mudança dos comportamentos individuais dos cidadãos. Considero que esta ênfase, não apenas está mais de acordo com o conceito de justiça social, mas também que aponta o caminho mais realista. Como implementá-lo, é a grande e decisiva questão. 
Mas, qualquer grande caminhada tem de começar com um primeiro passo...

segunda-feira, 28 de outubro de 2024

RECORDANDO BILLIE HOLIDAY (Segundas-f. musicais, nº24)


 A voz de Billie Holiday tem-me acompanhado nos bons e maus momentos, como se fosse uma secreta mensagem, dando-me coragem ou alegria, conforme as situações...   Porque tudo me soa perfeito nestas gravações, a voz e o acompanhamento dos músicos. Uma «cançoneta na moda», interpretada por ela, transforma-se num pequeno cofre cheio de joias.  Confesso-me incapaz de fazer uma lista definitiva das gravações da Lady 'Day, embora tenha tentado. Há uma autenticidade nestas gravações, uma perfeita adequação interpretativa, que raramente encontro noutras vozes do jazz. Há interpretes de quem gostamos tanto, que queremos nos apropriar das suas canções, da sua arte. Mas, afinal, acabam por ser eles a apropriarem-se de nós!!

Aqui têm a «playlist» RECALLING BILLIE. Mergulhem no seu universo sonoro: Verão que as melodias e letras, na sua voz, carregam muita energia. Não sei explicar a atração que sinto, mas acabo sempre por voltar à Billie Holiday.

  Playlist RECALLING  BILLIE 



ATUAÇÕES AO VIVO:









sábado, 26 de outubro de 2024

OPUS VOL. III nº 28: IMPENITENTE

 


Há um cadafalso que te espera

Impenitente verdadeiro

Fugidio relapso 

Insensato herege

Amante da vida 'té à morte

"Ela que entre" dizes, sorrindo

"E nos teus braços se extinga 

O fraco pulsar do coração".


Murtal, Parede

Outubro, 2024


OPUS. VOL. III nº27: REGISTO



Vivi em parte incerta, em tempo remoto

Dos humanos desprezado, confidente dos bichos

Sua língua falei;  foi também a minha

Desenhei quantas nuvens se desdobram no céu

Fui escrivão de sonhos, as palavras eu comi

E o vento, d'erva fresca temperado, eu bebi 

Debaixo de terra permaneço; aqui fico

Tranquilo espero a eternidade.


sexta-feira, 25 de outubro de 2024

O GLOBALISMO É SEMPRE OPRESSOR.


Para se combater um inimigo, é preciso saber-se como é que ele raciocina. Conhecer o inimigo por dentro, é condição para poder derrotá-lo. Ora, muitas vezes, os globalistas revelam os seus pensamentos, as suas conceções do mundo e as suas estratégias.
É o caso do site do Fórum Económico Mundial, onde se afirma claramente o seguinte: «A paisagem geopolítica está a sofrer uma profunda transformação, dando origem a uma ordem mundial que é, não só multipolar, como multiconcetual.»
Esta ideia de uma transformação profunda é central na tese do «Grande Reset», defendida por Klaus Schwab e os multimilionários globalistas.
Há uma narrativa, que reza assim: 
- O Ocidente decadente procura impedir o agrupamento dos países, colonizados no passado, em torno de potências em ascensão, a China e a Rússia, capazes de colocar em xeque o domínio das potências (essencialmente da Europa e América do Norte), que foram responsáveis por longos séculos de colonialismo e a partir das quais se desenvolveu o capitalismo ocidental.
Esta narrativa, por muito sedutora que seja, omite alguns aspetos essenciais, nomeadamente: As nações outrora colonizadas,  são governadas por frações da burguesia autóctone, que se guindaram ao poder, para logo venderem todas as riquezas e privilégios que os tais capitalistas dos ex-impérios coloniais ou neocoloniais, poderiam desejar.
Além disso, os grandes motores da multipolaridade, a Rússia e a China, não hesitam em adotar políticas tipicamente capitalistas, como seja (entre outras), a agressiva penetração e domínio dos mercados de países inteiros, se isso for no sentido de reforçar o seu poderio.
Não existe na História qualquer exemplo de imperialismo «benévolo», nem aliás de capitalismo «defensor dos direitos humanos», pois estas máscaras caem, assim que os interesses das superpotências e das oligarquias que beneficiam delas, estejam em risco.
Estamos realmente numa situação semelhante à das últimas décadas do séc. XIX até ao eclodir da Iª Guerra Mundial, num aspeto: Novas potências sobem em competência industrial e militar, para disputar os mercados e também as alavancas políticas globais,  às potências até então dominantes, possuidoras de impérios coloniais.
Nos finais do século XIX, as potências ascendentes eram a Alemanha imperial, os Estados Unidos e o Japão imperial; as potências imperiais/coloniais ameaçadas eram a Espanha, a França, o Reino Unido, o império Otomano e a Rússia czarista.
Não se repete nunca a História, não veremos, de novo, a ascensão de potências imperiais típicas. O domínio unipolar dos EUA foi transitório e apenas possível por um conjunto de circunstâncias, que não voltarão a realizar-se com as mesmas formas e moldes, para originar uma situação idêntica.
Mas a História por vezes «rima», ou seja, podemos ver um conjunto de grandes e médias potências que, de forma bélica ou diplomática, acabam por engendrar uma nova configuração de esferas de poder, abrangendo zonas do Globo que elas consideram interessantes.


A nova ordem mundial, ou como a queiram chamar, não é um «comunismo», nem é uma ordem de nações respeitosas umas das outras, capazes de interagir, comercialmente e noutros domínios, através da estratégia «win-win» tão cara à direção do PC Chinês.
Tudo o que uns e outros desenvolvem como retórica, é apenas retórica, destinada a encobrir (dos ingénuos) a verdadeira natureza das suas jogadas de poder.
Dizer que a humanidade ficará mais resguardada numa «ordem multipolar», em relação à «unipolar», é uma grande ilusão, uma miragem que nos querem fazer engolir.
É fácil de engolir, tanto mais que detestamos e tememos o imperialismo decadente dos EUA. Este, ainda possui o maior arsenal de armas nucleares, a maior rede de bases espalhadas pelo globo, a maior economia (embora financeirizada) e o controlo de instituições multilaterais e regionais, o que lhes permite impor a sua «rules based order».
Mas, não desejo ver, no futuro, uma interminável sequência de guerras localizadas, seguidas de conferências para estabelecer novos equilíbrios instáveis. Nestas guerras, pequenas ou grandes, os sacrificados são sempre as classes despossuídas. Estas financiam diretamente essas matanças com o dinheiro dos seus impostos e com o sangue dos soldados (seus filhos e parentes).
Não creio porém que a humanidade em geral - e em particular, as pessoas aparentemente mais instruídas em cada nação - tenha a lucidez para compreender o que se está a passar. Esta compreensão é necessária para se conectarem e agirem, com vista a bloquearem os poderosos, porque estes têm como objetivo conservar ou alargar o seu próprio poder. Aos que herdaram o poder, ou que o tomaram pela força, como dizia Maquiavel, é mais vantajoso dominar os povos pela astúcia, pelo engano (demagogia) e sempre que necessário, através de violência e de crueldade.
Os «príncipes» do presente, não são diferentes - no essencial- dos príncipes do Renascimento, que Maquiavel serviu e observou. Todas as lutas pelo poder político, pela conservação hegemónica do poder, acabam por «obrigar», mesmo os mais idealistas, a cometer crimes para conquista ou manutenção do poder. O conhecimento da História dos séculos passados confirma-o.
Não está na natureza intrínseca do ser humano, ser «bom» ou «mau»; são as circunstâncias que o fazem «bom» ou «mau». Um mundo onde a força predomina sobre o mútuo acordo, onde a ganância é erigida em lei, onde a justiça é um apêndice da máquina de oprimir, um mundo assim não pode originar sociedades pacíficas, onde o melhor de cada um possa vir ao de cima, onde as pessoas estejam realmente livres e seguras, pois os seus direitos são respeitados. As pessoas deveriam  autoeducar-se para compreender o mundo real onde vivem e sairem da «Matrix». Só assim conseguirão encetar a construir, no seu entorno,  relações recíprocas e sem imposições, ou seja, um mundo verdadeiramente humano.
Estou convencido de que a natureza humana não é imutável; que as pessoas são determinadas pelas relações reais em que se encontram mergulhadas. As sociedades e os indivíduos, têm a faculdade de aprendizagem, não apenas das técnicas, como dos comportamentos e respetivos valores implícitos.
Se a natureza humana fosse imutável, não teria sido possível a evolução histórica, com todas as suas contradições e até com catástrofes (naturais ou causadas pelos humanos) e a saída das mesmas, graças à criatividade humana.

UNIÃO EUROPEIA MANIPULOU REFERENDO NA MOLDÁVIA

 



Já notaram que os políticos ocidentais acusam sistematicamente Putin, de manipular processos eleitorais no Ocidente? Porém, eles próprios fazem uma descarada manipulação e ingerência nos assuntos internos de certos países, que querem atrair para sua órbita !

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

PRIORIDADES DOS BRICS: ENTREVISTA DE LENA PETROVA COM YAROSLAV LISSOVOLIK


 

OPUS VOL. III. Nº26: METAFÍSICO




 Ah,  pudesse eu mais que em sonho abraçar-te

Se estivesses comigo agora, sentindo teu respirar 

Ser ou não ser, não importa mais qu'este  sofrer

O destino frio desta matemática ausência


Por que persigo o impossível com a aplicação

Dos loucos ou dos heróis, não posso desculpar-me.

A sombra que somente eu vejo não me esconde

É um sudário que recobre levemente o cadáver


Mas no espaço de infinitas dimensões, quem sabe?

Talvez nos encontremos, um átomo, um instante

Na impulsão de sonhar que nos propulsiona


Talvez nos encontremos em uma vida paralela

Á beira mar, com suave brisa e serena plenitude

Unida alma fluirá, bailando no céu de estrelas




terça-feira, 22 de outubro de 2024

PRIMEIRO DIA DA CIMEIRA DOS BRICS EM KAZAN (RÚSSIA)

 Tal como temos vindo a relatar, os BRICS foram fortalecendo as suas trocas comerciais recíprocas, evitando o dólar como intermediário, fazendo o ajuste final com ouro (visto que os câmbios entre duas divisas podem oscilar durante a negociação). Este processo é bastante simples e não implica uma entidade centralizada (a instauração do «BRICS Pay» irá potenciar as trocas país a país). 

Quanto ao processo de investimento, esse sim, beneficia de uma entidade centralizada, o Banco de Investimento dos BRICS. Tem sido um motor para o desenvolvimento de muitos países do Sul Global, que anteriormente só podiam recorrer (na prática) às instituições controladas pelos EUA, como o FMI e o Banco Mundial, que só emprestavam a troco de condições como os famosos «programas de ajustamento estrutural», os quais levavam ao empobrecimento ainda maior destes países. 
Este investimento financiado pelos BRICS, incide em infraestruturas, novos meios de comunicação e em economia digital. Permite que - em pouco tempo - os países africanos atinjam a autossuficiência e desenvolvimento autónomo, como nunca tiveram, desde a descolonização. A África sairá grande vencedora (económica), na segunda metade do século XXI. 

No que toca à adesão plena aos BRICS de cerca de 40 países-candidatos, colocam-se dificuldades, pois o alargamento tem de ser feito perante regras claras e não ambíguas; o que era possível ser feito a 5, com um «consenso oral», já não é procedimento adequado a 40 ou 50. 
A prudência em fazer uma série de acordos parciais e bilaterais, com os países-candidatos, é de simples bom-senso; também é vantajosa para os candidatos, pois assim estarão em condições de avaliar as vantagens e inconvenientes das suas economias se integrarem plenamente aos BRICS. 


Esta entrevista acima, em espanhol (pode ativar as legendas na mesma língua), pode exemplificar o ponto de vista, não apenas do entrevistado (De Castro), como de muitos empresários, espanhóis e europeus. 

Há que ver as coisas num modo não ideológico, não preconceituoso. E tem razão o entrevistado, pois o pragmatismo permitiria aumentar os intercâmbios comerciais entre a Europa e o resto do Mundo, aliviando assim a crise de recessão/depressão que a Europa tem estado a sofrer, desde há dois anos, por mais que politicamente tentem ocultar a  gravidade da sua situação. A existência desta oportunidade, da Europa se unir ao Sul Global, é posta em relevo pelo entrevistado.


Relatório Chris Hedges: A História Secreta do Neoliberalismo

EXCERTO DO DIÁLOGO ENTRE CHRIS HEDGES E GEORGE MONBIOT

(retirado de  https://consortiumnews.com/pt/2024/10/18/o-relat%C3%B3rio-de-chris-hedges-a-hist%C3%B3ria-secreta-do-neoliberalismo/ )

Chris Hedges: O neoliberalismo é uma ideologia furtiva, que imediatamente domina nossas vidas, mas existe em relativo anonimato. Seus efeitos reconfiguraram radicalmente as sociedades ocidentais por meio da desindustrialização, austeridade, privatização de serviços públicos, serviços postais, escolas, hospitais, prisões, coleta de inteligência, polícia, partes das forças armadas e ferrovias, além de gerar estagnação salarial e servidão por dívida. Ele deformou um sistema tributário e destruiu regulamentações para canalizar riqueza para cima, criando uma desigualdade de renda que rivaliza com o Egito faraônico. No entanto, o neoliberalismo permanece em grande parte não mencionado e não examinado, especialmente pela academia e uma média que foi capturada por uma classe dominante que lucra com a doutrina neoliberal.

O neoliberalismo estava por trás do colapso financeiro catastrófico em 2007 e 2008. Ele está por trás do aumento do subemprego e desemprego crônicos, do ataque ao trabalho organizado, da queda nos padrões de saúde e educação, do ressurgimento da pobreza infantil, da degradação do ecossistema e da ascensão de demagogos como Donald Trump e a extrema direita. No mundo do neoliberalismo, tudo, incluindo os seres humanos e o mundo natural, é uma mercadoria que é explorada até a exaustão ou o colapso. O neoliberalismo inverte os valores sociais, culturais e religiosos tradicionais. O mercado é Deus. Todos serão sacrificados diante do ídolo Moloch.

Esta insensibilidade fez com que centenas de milhões de pessoas no mundo industrial que foram privadas de seus direitos sucumbisse a doenças de desespero, incluindo suicídio, vícios, jogos de azar, automutilação, obesidade mórbida, sadismo sexual e um recuo para o fascismo cristianizado – o assunto do meu livro. América: a turnê de despedida. Ela eviscerou a autoridade moral e o papel tradicional do governo, reduzindo o governo a um sistema simplificado de controle interno e defesa nacional. Juntando-se a mim para discutir a ideologia do neoliberalismo está George Monbiot que, junto com Peter Hutchison, escreveu Doutrina Invisível: A História Secreta do Neoliberalismo.

Então, vamos começar com o livro, que, como eu disse antes de irmos ao ar, é, quer dizer, você é um jornalista, então você pode escrever... E essa ideia do anonimato do neoliberalismo, eu descobri e acho que você está certo, é aceite como uma espécie de parte da ordem natural sem ser mais questionada. Você escreve no começo do livro "Para lidar com o escopo e a escala muito maiores das transações, as nações coloniais estabeleceram novos sistemas financeiros que acabariam dominando suas economias, instrumentos de extração cujo uso se intensificou. Continua hoje com sofisticação cada vez maior, auxiliado por redes bancárias offshore."




segunda-feira, 21 de outubro de 2024

OBRAS PARA ÓRGÃO DE BUXTEHUDE (Segundas-f. musicais nº 22)

 Hamburgo é a cidade da Europa mais rica em órgãos históricos: Vários deles foram construídos pelo organeiro Arp Schnitger. Noutra cidade da Liga Hanseática, Lübeck, exerceu grande parte da sua vida profissional o Mestre do órgão barroco nórdico. Chamava-se Buxtehude e foi organista da Igreja protestante de Stª Maria de Lübeck

O jovem J.S. Bach tinha tal admiração pelo Mestre de Lübeck, que pediu dispensa às autoridades eclesiásticas da paróquia de Arnstadt, na qual exercia o cargo de organista, para fazer a viagem (provavelmente a pé) e aprender com o Mestre incontestado da escola de órgão do Norte da Europa. 


                                          Buxtehude tocando viola da gamba

Dieterich (ou Didrick) Buxtehude é um compositor germano-dinamarquês, nascido na cidade (hoje sueca), de Helsingborg. Seu legado é muito importante, incontornável, na História da Música europeia. De facto, ele impulsionou a literatura de órgão para um nível de qualidade, que não existira antes. Isso mesmo foi reconhecido pelo seu contemporâneo, o músico e crítico musical Johann Matheson, que cunhou o termo Stylus Fantasticus, para descrever as composições livres, típicas do barroco, toccatas ou prelúdios com grande variedade temática, recorrendo a efeitos espetaculares e jogando com os contrastes entre secções.

Na Península Ibérica do Séc. XVII, desenvolveu-se um tipo específico de toccata, designado por «Batalha» (o seu modelo foi a famosa "Batalha de Marignan" de C. Janequin). Estas peças ibéricas, tal como as Toccatas e Prelúdios nórdicos, preenchiam as mesmas funções: Destinavam-se às entradas ou às saídas das Missas. Por sua vez, tanto a Escolasl Nórdica, como a Ibérica, tinham conhecimento dos prelúdios, toccatas e outras peças não usando contraponto estrito, das escolas de órgão francesa e da Itália (do Norte)

Tal como as paisagens das Escolas de Pintura do Norte da Europa, nos séc. XVII-XVIII, as composições de Buxtehude, de Vincent Lubeck, de Nikolaus Bruhns ou de Jan Pieterszoon Sweelinck, irradiam uma luminosidade matizada pela interioridade. 

Buxtehude e Johann Sebastian Bach estiveram em relação com uma corrente da Reforma luterana designada por pietismoÉ importante compreender o caracter espiritual na base das composições destes mestres: Elas destinavam-se a ser apoios para as preces dos cristãos.

Deixo aqui algumas obras para órgão que, na minha opinião subjetiva, traduzem a essência da música de Dietrich Buxtehude. Há muito mais obras do Mestre de Lübeck que merecem audição atenta: Porém, o meu intuito ao redigir este artigo, foi somente o de estimular a curiosidade do leitor.


Passacaglia em Ré menor, por Helmut Walcha:


Prelúdio e fuga Fá# menor, por Bernard Foccroulle:


Prelúdio e fuga BuxWV 148, por René Saorgin:








NOTA: Além da música para órgão, da qual existem várias integrais (de Ton Koopmann, por exemplo), Buxtehude compôs grande número de peças; muitas cantatas e peças para conjuntos instrumentais de câmara. 
Um conjunto de peças vocais e instrumentais é designada por Abendmusik. Estas peças eram executadas nos concertos espirituais, organizados por Buxtehude com a colaboração de discípulos e de músicos da cidade.

PS: As suites  de D. Buxtehude para instrumentos de tecla e corda (cravo ou clavicórdio), são notáveis pela sua qualidade: Suite em Mi menor BuxWV 236





domingo, 20 de outubro de 2024

ISRAEL ATACA AS NAÇÕES UNIDAS [Thierry Meyssan, Rede Voltaire]

Israel ataca as Nações Unidas
Thierry Meyssan

Contrariamente a uma ideia feita, a Assembleia Geral das Nações Unidas aceitou a adesão de Israel apenas de forma condicional (Resolução 273). No entanto, mesmo assim Telavive jamais respeitou os seus compromissos. Recusa-se a aplicar 229 Resoluções do Conselho de Segurança e da Assembleia Geral. Acaba de declarar uma agência da ONU de « organização terrorista », apelou à demolição da sua sede em Nova Iorque, designou como persona non grata o seu Secretário-Geral, António Guterres, e acaba de atacar quatro vezes as forças da ONU no Líbano (FINUL- UNIFIL), ferindo dois capacetes azuis .


Benyamin Netanyahou, declarou numa alocução televisionada, em 13 de Outubro : « Eu queria lançar um apelo directo ao Secretário Geral da ONU. Chegou o momento para retirar a FINUL dos bastiões do Hezbolla e das zonas de combate. O Exército israelita solicitou isto em várias ocasiões e recebeu recusas repetidas, o que tem por efeito providenciar escudos humanos aos terroristas do Hezbolla. A sua recusa em evacuar os soldados da FINUL transformou-os em reféns do Hezbolla, coloca-os em perigo, assim como aos nossos soldados ».

Durante a retirada britânica da Palestina do Mandato (ou seja, da Palestina colocada pela SDN sob administração provisória do Reino Unido), em 14 de Maio de 1948, o Conselho Geral sionista, emanação da Haganah (ou seja, a principal milícia da comunidade judaica imigrante), proclamou unilateralmente a independência do Estado de Israel. Ela foi proclamada pelo presidente da Agência Judaica (ou seja, o executivo da Organização Sionista Mundial).
Importa salientar aqui que o ocupante britânico se retirou apenas de cerca de um quarto da Palestina do Mandato. Ele já havia oficialmente saído dos outros três quartos, o que formava a Transjordânia do Mandato, a futura Jordânia.

Em nome do Conselho Geral sionista, David Ben Gurion lê a declaração de independência do Estado de Israel.

Após alguns dias de reflexão, a Assembleia Geral das Nações Unidas decidiu reconhecer o novo Estado, mas não sem ter sublinhado que, em princípio, não cabia a uma milícia, a Haganah, proclamar um Estado, ainda que esta proclamação viesse preencher o vazio da partida da autoridade do Mandato, ou seja, os Britânicos. A Assembleia Geral salientou que a proclamação da independência nada afirmava sobre o regime deste Estado (teocracia ou república), nem sobre as suas fronteiras. Ela pretendia prosseguir o seu plano, o qual tinha em vista a criação de um Estado binacional, árabe e judeu, sem continuidade territorial entre as duas entidades (Jerusalém e Belém com estatuto internacional). Ela ficara tranquilizada pela referência do novo Estado a « uma completa igualdade de direitos sociais e políticos para todos os cidadãos, sem distinção de credo, de raça e de sexo ».
No dia seguinte à independência, o Egipto, o Iraque, a Transjordânia, o Líbano, a Síria e o Iémene enviaram os seus exércitos para a Palestina. A história oficial garante hoje que estes seis países (os «árabes», entenda-se os «muçulmanos») não aceitavam um Estado judeu, e que enquanto cinco deles se opunham à colonização judaica após a colonização britânica, o sexto apoiava Israel. A religião era um problema apenas para Izz al-Din al-Qassam, os Irmãos Muçulmanos e o Mufti nazi Mohammed Amin al-Husseini. Identicamente, a propaganda garante que estes Exércitos foram derrotados pelo valoroso Exército israelita, subentendendo-se que « desde o primeiro dia, os judeus são moralmente superiores aos árabes ». Mas, a realidade foi bem diferente. A Guerra mundial tinha acabado de terminar e nenhum destes países, com excepção da Transjordânia, tinha um exército digno desse nome. As suas tropas eram exclusivamente compostas por voluntários. Além disso, o Exército da Transjordânia, que pôs fim ao conflito, bateu-se ao lado de Israel contra os outros árabes. Na verdade, a Transjordânia, sempre sob influência britânica, esperava impedir a criação de um Estado palestiniano e anexar o seu território. O seu Exército não era outro senão o anterior exército dos Britânicos (a «Legião Árabe») e esteve sempre sob o comando do General John Bagot Glubb (de alcunha «Glubb Pacha»). Foram os Transjordanos (na realidade, os Britânicos) e não os Israelitas que venceram os outros Exércitos árabes. No decurso do conflito, o seu soberano, o Rei Abdallah I foi, aliás, proclamado « Rei da Palestina».

Durante este conflito, as Forças israelitas deixaram os Britânicos da Transjordânia lutar contra os árabes e aplicaram a estes o Plano D (em hebraico : Plano « Dalet »). Com efeito, a Haganah pretendia partilhar o mínimo de território possível com a Transjordânia. As Forças israelitas importaram ilegalmente armas da Checoslováquia (já dirigida pelos comunistas), provavelmente com o acordo da URSS, supostamente para lutar contra a colonização britânica, mas na realidade para expulsar os Palestinianos. Foi a Nakhba (catástrofe). Assim, são expulsos à força 750 mil Palestinianos (entre 50 e 80 % da população) .

No ano seguinte, Israel solicita e obtêm a sua adesão às Nações Unidas. À época, nenhum estado descolonizado fazia parte dela. Os países de influência anglo-saxónica formam a maioria. No entanto, eles só aceitam Israel de forma condicional. Na sua Resolução 273, a Assembleia Geral da ONU faz referência a um compromisso escrito do Ministro dos Negócios Estrangeiros do Governo Provisório de Israel, Moshe Shertok, no qual ele « aceita sem qualquer reserva as obrigações decorrentes da Carta das Nações Unidas e se compromete a cumpri-las a partir do dia em que se tornar membro das Nações Unidas [1].

Em 15 de Novembro de 1970, Chaïm Herzog, representante permanente de Israel nas Nações Unidas (e futuro Presidente do Estado de Israel), rasga na tribuna da Assembleia Geral a Declaração 3379 que qualifica o sionismo de « forma de racismo e de discriminação racial. »

Até à data, Israel não respeitou este compromisso e não cumpriu 229 Resoluções do Conselho de Segurança e da Assembleia Geral. A sua adesão poderia, portanto, ser suspensa a qualquer momento.


No decurso dos últimos meses,
• O Ministro israelita dos Negócios Estrangeiros, Israël Katz, declarou, em 23 de Março, que a ONU se tinha tornado « uma organização anti-semita e anti-israelita que abriga e encoraja o terrorismo ».
• Israel lançou uma campanha contra uma agência das Nações Unidas, o Gabinete de Socorro e de Operações das Nações Unidas para os refugiados da Palestina no Próximo-Oriente (UNRWA), acusando-a de estar ao serviço do Hamas. Em Julho passado, o Knesset (parlamento-ndT) adoptou três leis (1) interditando a UNRWA de operar em território israelita (2) privando o seu pessoal de imunidade diplomática (3) declarando-a uma organização terrorista.
• O Representante permanente de Israel nas Nações Unidas, Gilad Erdan, declarou aquando do final do seu mandato, em Agosto último, ao falar na sede da ONU em Nova Iorque, que « este edifício deve varrido da face da Terra. »
• O Ministro israelita dos Negócios Estrangeiros, Israël Katz, declarou o Secretário Geral das Nações Unidas, António Guterres, persona non grata.
• As Forças de Defesa de Israel (FDI) visaram deliberadamente os soldados, franceses, italianos e irlandeses da Força Interina das Nações Unidas no Líbano (FINUL).



O que é preciso ter em conta :
• Israel não foi criado pelo seu povo, mas pelo seu exército.
• A primeira guerra israelo-árabe não foi ganha pelos Israelitas, mas pelos árabes da Transjordânia sob comando Britânico.
• Ao aderir às Nações Unidas, Israel comprometeu-se a respeitar todas as suas resoluções, o que nunca fez por 229 vezes.
• Após a Palestina, o Líbano, a Síria, o Iraque, o Iémene e o Irão, o governo de Netanyahou abriu uma oitava frente contra as Nações Unidas.


Tradução

sábado, 19 de outubro de 2024

O «RESET» QUE VIRÁ PELOS BRICS: M-BRIDGE, DIVISA DIGITAL, CABAZ COM 40% DE OURO

A 4 dias da cimeira de Kazan dos BRICS, as diversas fontes alternativas de notícias esmeram-se em trazer especialistas (reais) nos domínios financeiros, monetários, geoestratégicos e de matérias-primas, para darem um panorama sobre as decisões prováveis e aquilo que isso influi na balança de poder internacional, nas relações económicas entre países, etc. 

Andrew Schectman é um experiente negociante em metais preciosos, dos EUA, que tem uma visão de largo alcance sobre muitos assuntos, pelo que esta entrevista com Michele Makori de KITKO news deverá dar-nos pistas válidas sobre o próximo futuro. Andy tem previsto com notável precisão as mudanças que correspondem às diversas etapas para um «reset» monetário mundial, não exatamente o que os globalistas queriam, mas no qual eles tentam influir para não ficarem completamente fora da partida.





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PS1: Alasdair Mcleod mostra como o ouro subiu em relação às principais divisas, mas devemos reconhecer, diz ele, que o ouro não subiu; as divisas é que desceram em relação ao ouro!



sexta-feira, 18 de outubro de 2024

NÃO EXISTEM IMPÉRIOS BENÉFICOS

 A ideia que é mais difundida, é que a União Europeia seria a consequência de uma vontade de paz, de bom entendimento entre povos diversos, mas partilhando uma cultura comum, com valores comuns e, portanto, que poderiam ser vertidos dentro de um mesmo molde, para produzir uma harmoniosa síntese, «uma cidadania europeia».

 «A Europa», é uma construção, sem dúvida, muito presente no discurso de políticos (de praticamente todos os quadrantes), mas sem outro fim senão o de fazer com que os eleitores, os povos, continuem a oferecer mandatos periódicos e incondicionais à oligarquia europeia, a «dona» dos chefes políticos das nações mais poderosas. Estes políticos europeístas apoiam e são apoiados pela grande burguesia dos respetivos países.  Sobretudo, todos eles fizeram vassalagem ao suserano americano. 

A «diversidade política» é apenas aparente, não reflete uma real contradição de projetos de seus atores, antes pelo contrário: Os partidos, os que formam governos em cada país, as assembleias de deputados nacionais, os grupos políticos artificiais no parlamento europeu, todas estas instâncias estão bem controladas, para que o interesse comum seja entendido como o da oligarquia europeia. Por isso, quase não existe contestação no seio do Parlamento Europeu, às políticas europeias. Tudo é feito para que se mantenha o simulacro de unidade dos povos, quando apenas existe unidade de uns lacaios que fazem o frete (muito bem pago) de "representar" os povos.

Quem, de facto, beneficia com esta pseudo União europeia, é a grande burguesia europeia. Ela tem tudo a ganhar em se manter subordinada ao poderio imperial americano. Ela foi colocada e mantida no poder por esse mesmo complexo político-militar-industrial dos EUA, após a IIª Guerra Mundial.

A propósito disto, quando na Europa se discutia (entre as elites políticas e empresariais), como se deveria implementar o projeto do Euro, quais os efeitos na Europa e no Mundo dessa moeda transnacional, pan-europeia, lembro-me ter visto na TV, uma entrevista ao Presidente Bill Clinton. Perguntava o entrevistador, «Não se tornará o Euro uma ameaça para o Dólar e portanto para os EUA?», ao que Bill Clinton respondeu, em substância: «Aquilo que é benéfico para a Europa, é também para os EUA». Esta pequena frase generosa, à primeira vista, poderia ser interpretada como se o presidente dos EUA aceitasse que os seus aliados formassem um império rival, mas tendo os mesmos princípios gerais que o dos EUA e portanto, benéfico para os EUA também. Mas poderia ser a resposta, ambígua, do presidente que sabia que a unificação monetária da parte ocidental do continente europeu iria principalmente beneficiar os EUA. Estes, poderiam fazer com que os produtos e as empresas estadunidenses mais facilmente penetrassem e dominassem o mercado europeu unificado. Já não ter que adaptar os seus produtos e estratégias a 27 diferentes realidades nacionais (pequenas, médias ou grandes) que complicavam muito, era - em si mesma - uma vantagem estratégica considerável para os EUA: Desde logo, económica, devido ao desaparecimento de tarifas diversas e à uniformização de legislações comerciais e laborais nos diversos países do Euro.

Mas também, política, pois haveria -de ora em diante- uma Europa tendente à unificação das políticas económicas (a partir de Maastricht). Igualmente favoráveis iriam ser as consequências da adoção da moeda comum, desde a uniformização de impostos, à política monetária do (futuro) Banco Central Europeu.
Nestas circunstâncias, era tudo diferente (para melhor), do ponto de vista dos EUA: Os lucros das empresas transnacionais americanas, mais fortes que as concorrentes europeias, iriam decuplicar-se. Haveria igualmente uma real expansão e maior interpenetração do capital financeiro e industrial, dos dois lados do Atlântico.

É no contexto da crise do sistema burocrático e tecnocrático da União Europeia que vem crescendo - no público europeu - a consciência de que a U.E., afinal, não é mais do que a federação de vassalos europeus dos EUA. Esta «união de vassalos», é conduzida por uma Comissão Europeia que somente responde aos interesses dos grandes grupos económicos europeus e transnacionais.
A Comissão e a União Europeia, com todos os seus órgãos são, ao fim e ao cabo, a parte civil da OTAN.
Esta aliança (a OTAN) manteve a Europa dividida desde a sua fundação, tendo mantido o seu papel de domínio militar-estratégico sobre os territórios que «protegia». Mas, deixou de ter razão de ser, desde que ruiu o Pacto de Varsóvia e a URSS (afinal, apenas um pretexto conveniente). Já lá vão trinta e três anos, que a OTAN deixou de poder proclamar-se «aliança defensiva». Mas tem, evidentemente, mantido o seu papel, de conservar a Europa ocidental e central, sob tutela americana.
A constatação óbvia da forte dependência da União Europeia ao império americano, desde as origens, foi posta entre parêntesis ou omitida, pela esquerda, incluindo o movimento sindical.

Nesta conversa abaixo, entre Olivier Berruyer e Olivier Delorme, dizem-se verdades amargas, que poucas vezes temos oportunidade de escutar.

(pode ativar as legendas automáticas em francês para facilitar a compreensão)




quinta-feira, 17 de outubro de 2024

SERÁ QUE O CAPITALISMO ESTÁ A MORRER?




Ouvem-se vozes anunciando a morte próxima do capitalismo. Mas, o que entendem por "capitalismo"?

Do meu ponto de vista, o capitalismo não é uma "forma de economia" somente, é sobretudo um "modo de produção". É o capitalismo, enquanto modo de produção, que estabelece a relação dos homens com as mercadorias e define as relações hierárquicas entre eles, decorrentes da posição de cada um no processo de produção das referidas mercadorias. A detenção privada dos meios de produção não pode ser critério suficiente para caracterizar o modo capitalista de produção. Basta ver que, nos modos de produção esclavagista e feudal, as respetivas classes dominantes possuíam a quase totalidade dos meios produtivos.

Uma das notáveis características do capitalismo, é que os que detêm a propriedade dos meios e controlam a produção, acumulam poder sob forma de dinheiro. O dinheiro e a inteira panóplia dos veículos financeiros, deixaram de ser apenas meios auxiliares nas trocas, passaram a ser a forma preferida de acumulação de capital. Preferida, em relação às propriedades fundiária, imobiliária, ou industrial ... O próprio capital financeiro passou a controlar as outras formas de capital.
O trabalho assalariado, historicamente, veio substituir outras formas de exploração. Mas, anteriormente, as classes dominantes exploravam o trabalho do escravo e depois, do servo. Também, através de rendas, em produtos ou em dinheiro, beneficiavam dos frutos do trabalho do camponês, do artesão e do comerciante.
Dizer que a instauração do salariato foi um progresso, ou até, um passo para a emancipação do trabalho, é uma falácia: A relação salarial foi sempre fortemente assimétrica, até aos dias de hoje. Proporciona um controlo quase absoluto do trabalhador assalariado pelo empregador.
Se certas formas de exploração do trabalho se encontram hoje em declínio, suplantadas por outras, isto tem relação direta com mutações nos processos produtivos, e não com o suposto "fim" do sistema capitalista.

A derrocada do capitalismo pode advir de muitas maneiras, numa forma ou noutra de autodestruição: Por exemplo, pela externalização dos custos ambientais, causando irreversível degradação do ambiente em todo o planeta; pode resultar de uma guerra nuclear generalizada; pode advir de confrontos no seio das sociedades, sem que ocorra revolução: Uma série de revoltas, guerras civis, golpes de Estado, terminam, geralmente, em maior repressão pelas polícias e forças armadas e pela conversão das democracias formais em regimes autoritários.
Tudo isto tem possibilidade de ocorrer. Pode acontecer em várias combinações, ou em simultâneo. Mas, a «Grande Revolução», nos moldes em que os românticos revolucionários imaginam ... só acontecerá nas suas cabeças, impregnadas de narrativas fantasiadas do passado.

O capitalismo não está moribundo; porém está em crise. Reconhecer-se isto, não equivale a dizer que esta crise seja a derradeira. 
Uma característica do modo de produção capitalista, é de se autodestruir parcialmente e periodicamente para, num novo ciclo de crescimento, aproveitar as dinâmicas de reconstrução: Isto traduz-se por lucros, resultantes da intensificada exploração dos humanos e dos recursos naturais, por um lado; e por outro, por maior controlo exercido pela classe dirigente, sobre as restantes classes.

Qual é o país onde o capital está a fazer maiores lucros?
- Todos sabemos que é a China. O facto de uma casta controlar este país com mão-de-ferro, não significará que ela própria beneficia, direta e indiretamente, dos privilégios do poder? - Se assim não fosse, seria caso inédito em toda a História! - Não, o que acontece é que ela está adiantada, em relação às oligarquias do Ocidente, nomeadamente, nos métodos de controlo social.
A experiência em grande escala do COVID, serviu para o poder - na China e depois, no resto do mundo - testar sua capacidade em submeter as massas. 
Os processos de controlo social ultimamente postos em prática em países de "democracia liberal", foram copiados da China, onde já estavam sendo praticados.
Pode-se argumentar, sem sofisma, que a organização do capitalismo na China atingiu um nível superior de eficiência. Esta eficiência permitiu que haja uma real melhoria no nível de vida das massas laboriosas chinesas, não há dúvida sobre isso. 
De certa maneira, ocorreu algo semelhante nos EUA, durante a transição do séc. XIX para o séc. XX; e na Europa Ocidental, nos 30 anos após a IIª Guerra Mundial.
Observa-se hoje, na China, a vigorosa expressão da nova forma* de capitalismo: Nesta, a sociedade é dirigida por um coletivo autoritário, que decide sobre todos os domínios, desde os setores exportadores, até às indústrias de defesa. Quanto aos capitalistas, se eles quiserem prosperar, terão de obedecer às diretrizes estatais e receberão proteção e favorecimento Estado, controlado pela casta no poder. 
Na China de hoje, não apenas cerca de 800 milhões de pessoas saíram da pobreza absoluta; também se regista o maior crescimento em novos multimilionários, anualmente.
Curiosamente, a China começou a desenvolver-se, quando deixou de praticar a ortodoxia marxista-leninista (e maoista) e iniciou a construção dum capitalismo industrial, moderno e eficaz, com total pragmatismo. Aproveitou os capitais e o «know-how» das grandes firmas capitalistas ocidentais, que deslocaram para a China parte das suas instalações fabris. 
É escusado dizer, a China «comunista» soube tirar partido da mão-de-obra. Foi graças à sua elevada produtividade, que se acumulou uma imensa riqueza nas mãos dos dignitários do regime, dos grandes capitalistas seus protegidos e das empresas multinacionais.
Na China, a extração de lucro pelos capitalistas (nacionais ou estrangeiros) está garantida pelo aparelho administrativo e político do Estado. Por outro lado, a classe operária tem aceitado esta situação, pois seu bem-estar tem melhorado de ano para ano.
A força deste sistema produtivo, que não tem nada de socialismo, advém de fatores como a importação de capitais, o facto de ignorar o direito de patentes, na fase inicial da industrialização, a penetração nos mercados mundiais, graças a preços imbatíveis, os quais foram possíveis, tanto pelos baixos salários praticados, como pelo efeito de  escala. O tamanho do território chinês e da sua população, permitem produzir grandes quantidades de bens, com menor custo que noutros  países competidores.
Existem, porém, fragilidades: Se houver marasmo ou menor crescimento económico, é impossível satisfazer a expectativa da população em melhorar suas condições de vida. Por isso, os dirigentes chineses têm grande preocupação em manter satisfeita a sua classe operária.
O sistema dito "misto" chinês, é tão capitalista como o capitalismo histórico, ou seja, como o capitalismo industrial que se desenvolveu, dos meados do século XIX até princípios do Séc. XX, na Europa e na América do Norte, principalmente.
O regime chinês, não é análogo das «democracias liberais» do Ocidente.  Porém, não se pode classificar a China como "socialista", ou como em "transição para o socialismo". Entendo por «socialismo», a sociedade onde os meios de produção, o poder político e a organização da sociedade, em geral, estão sob o controlo da classe trabalhadora.

Mas, o desenvolvimento pujante da China, levou a que ela já seja hoje a maior potência económica. Sem dúvida que estes resultados se devem à política industrial, dirigida de forma inteligente pela elite do Estado, utilizando as potencialidades do imenso país e com seu povo, disciplinado  e diligente. 
Não sei se o socialismo virá para a China, na segunda metade do presente século. Mas, se assim for,  terá que ser um socialismo da abundância** e não da escassez. Este socialismo da escassez - repetidas vezes - teve resultados desastrosos em todo o mundo (incluindo na China da época de Mao). 
Entretanto, a China, apesar de todos os problemas internos por resolver e de todos os perigos globais, que a poderão ameaçar, está já em primeiro lugar, como potência económica mundial, se a avaliarmos em paridade de poder de compra, o que me parece a forma justa de comparar os desempenhos económicos entre países.   

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*A «fusão do Estado com as corporações», é a fórmula pela qual Mussolini definiu o fascismo. Também se aplica ao capitalismo de Estado, que surgiu nas democracias liberais após a IIª Guerra Mundial e aos capitalismos de Estado «comunistas», soviéticos ou de inspiração soviética.

**Um socialismo da abundância, não significa um esbanjar de recursos, nem um consumo desenfreado. Antes, que todas as pessoas têm um mínimo garantido, seja qual for o seu trabalho ou situação. Uma repartição equitativa dos bens sociais e de consumo será realizável no concreto.  Um fator importante para isso, será o constante melhoramento dos processos produtivos, o que irá libertar os humanos de grande parte das tarefas penosas e insalubres. Os robots serão utilizados para isso; não para potenciar os lucros e fazer pressão sobre o mercado de trabalho, como agora.