sábado, 20 de abril de 2024

O TRIUNFO DA ESTUPIDEZ

 


Os ocidentais, pelo menos os que detêm mais poder, seja ele económico ou político, são capazes de ficar muito orgulhosos porque «fizeram uma tonelada de dinheiro». É assim que pensam, realmente. Confundem as coisas. Não têm a mínima noção da realidade económica. São capazes de ficar extasiados perante a subida das bolsas e das ações nas quais apostaram, porém, não têm em conta que a divisa na qual essas mesmas são avaliadas (e todos os ativos, geralmente), se deprecia em proporção tão grande como a «valorização» dos seus ativos. 

Nunca na História se acumularam tantos erros estratégicos, pela chamada elite. Os poderosos, nos anos noventa, decidiram que os países pobres, do Terceiro Mundo, eram os locais apropriados para deslocalizar as suas empresas. «Matavam de uma cajadada, dois coelhos»: Obtinham enormes lucros com estas deslocalizações e conseguiam controlar a classe trabalhadora dos próprios países, sujeitando-a à precariedade, ao desemprego, à diminuição do seu nível de vida.  Na realidade, estavam a serrar o ramo sobre o qual se sentavam; numa sociedade capitalista o mercado (dos bens materiais e dos serviços) é que dita o lucro: Se não houver escoamento para a mercadoria, os seus fabricantes podem ter acumulado muita mais-valia (potencial) no processo de produção, isso não produz qualquer lucro líquido, pois no final, eles só podem concretizar a operação pela venda dos tais produtos acabados. Se não há compradores, ou porque o produto proposto não lhes interessa ou porque estão debilitados economicamente e não podem gastar dinheiro em coisas não essenciais, os capitalistas irão, com certeza, para a falência. E assim foi. 

Os produtos elaborados no «Oriente» eram muito mais baratos e mais satisfatórios. Portanto, tinham colocação garantida tanto nos povos do oriente, como do ocidente. A desindustrialização foi um desastre para o capitalismo ocidental, promovido pelo mesmo e resultou num maior crescimento da capacidade produtiva e do poderio económico das economias orientais. 

Outra das belas operações dos ocidentais foi a sua obsessiva venda de ouro, quer estivesse guardado em cofres-fortes de bancos comerciais, ou nos bancos centrais dos diversos Estados. 

Os países recetores foram aqueles com excedentes comerciais crónicos. Foram acumulando ouro, tanto quanto podiam, sabendo que o preço a que lhes era vendido, era um preço de saldo. 

O ouro está agora em mãos fortes. Ele foi cedido  por mãos fracas. Infelizmente, não  apenas as mãos eram fracas, também as cabeças: Com efeito, acreditaram numa espécie de ladainha que «justificava» as vendas massivas do ouro como ele sendo «a pet rock» («uma rocha de estimação»). 

Mas o ouro é dinheiro verdadeiro, há mais de 5000 anos, que não sobe nem desce, pelo contrário são as divisas fiat que sobem e descem constantemente. Se assim não fosse, não haveria nenhuma lógica para os bancos centrais de todo o Mundo acumularem este metal especial. 

Agora, vê-se que quem possui o ouro, possui o poder. O mais extraordinário, é que a classe possidente no Ocidente se convenceu das suas próprias falácias, acreditou na sua própria propaganda. 

Nunca se viu um grau tão grande de autoderrota. Não tenho pena das classes possidentes ocidentais, tenho compaixão pelas pessoas trabalhadoras, exploradas, enganadas, espoliadas dentro desse tal «jardim do Paraíso» do Ocidente (como diz Josep Borrell). 

Afinal eles, trabalhadores dos países ocidentais, devem sentir-se ainda mais infelizes, perante os milhões de pessoas que deixaram de ser pobres e que ascenderam ao nível de «classe média» no Oriente, enquanto elas, no Ocidente, desciam para o inferno da pobreza.

Não vale a pena, sequer, esgrimir argumentos com os falsos «especialistas» ou «economistas da treta», que enxameiam os nossos media corporativos: Se uma pessoa quer olhar os factos por si mesmos, sem se distrair pelas argumentações sofísticas, tem de concordar comigo: 

- Nos finais do século XX e nos princípios deste século, a classe dominante dos nossos países ocidentais, possuída de vertigem do poder e da sua invencibilidade, provocou a sua própria queda.

quinta-feira, 18 de abril de 2024

HOMENAGEM A LIANE AUGUSTIN [Playlist]

                                 Um dos melhores LPs de Liane: Orient express 







Uma criança de seis anos passeia em Viena de Áustria, em 1960, pela mão do Pai e da Mãe. Estes, fazem-lhe visitar magníficos palácios, museus, salas de concerto e o famoso teatro de marionetas, onde ouve e vê pela primeira vez a ópera de Mozart «A Flauta Mágica».  Nesta idade, não se tem recordações nítidas do que se viu, ouviu ou testemunhou. Mas fica o encantamento. E ficaram os discos - comprados e trazidos para Lisboa, pelos pais -  de Liane Augustin e do seu trio do Bohème Bar.

Hoje em dia, reconheço a qualidade excecional de Liane, que tanto se adapta perfeitamente a interpretar canções vienenses, como grandes nomes da canção francesa, ou da ópera dos Três Vinténs, de Brecht/Weil, da qual se tem uma excelente gravação com partes selecionadas. 

O fascínio pela artista Liane Augustin é perfeitamente natural, pois representa uma tradição de continuidade desde antes da IIª GuerraMundial, até às primeiras décadas do pós-guerra, seleccionando aquilo que existe de melhor, tanto na canção de cabaret, como na canção francesaanglo-saxónica e italiana, além da alemã.

Esta qualidade é difícil de apreciar, dada a técnica pouco sofisticada de gravação, em discos mono, sem captação diferenciada da voz em relação ao acompanhamento instrumental. O estado de conservação dos discos de vinil que serviram para as regravações, podem afastar um público mais exigente em relação à qualidade técnica. Mas, eu proponho que «afinemos» o ouvido, tentando captar a autenticidade da voz e acompanhamento instrumental nestas gravações.  

LISTA DE CANÇÕES INTERPRETADAS POR LIANE AUGUSTIN



Relacionado:







HISTÓRIA DA SUBIDA AO PODER DOS XIITAS NO IRÃO (e relações «secretas» com Israel)

 


Este vídeo também esclarece obre a possibilidade das hostilidades entre Israel e o Irão serem o ponto de partida para uma 3ª Guerra Mundial. 

quarta-feira, 17 de abril de 2024

COMO SITUAR O CONCEITO DE «REVOLUÇÃO», NA HISTÓRIA?

 A história que nos é ensinada nas escolas, desde há gerações, segue uma vulgata marxista, o mesmo é dizer, que é algo ideológico.

No cerne dos preconceitos que enformam as gerações de estudantes formados após o 25 de Abril de 74, sobressai o de «revolução». Nenhum conceito poderia ser ensinado de modo mais confuso e mais ideológico. Fala-se de revolução a torto e a direito, a propósito de golpes de Estado e outros derrubes mais ou menos violentos, em contradição com os sistemas políticos instituídos.

Mas, na verdade, não houve senão duas revoluções, no sentido marxista (sem ironia!): pois a teoria marxista acentua o facto de uma revolução implicar profundas modificações no modo de produção, por sua vez, transformando as relações sociais, em profundidade e de modo duradoiro. A partir da consolidação da nova ordem, muitos aspetos super estruturais das sociedades, ficam profundamente modificados.

Para se aderir a esta visão do que seja «a revolução», teremos necessariamente de excluir as «revoluções políticas», as mudanças políticas, mesmo que elas nos pareçam muito significativas. De facto, o que é apontado como revoluções não o foram, por certo; mas foram antes epifenómenos de algo que estava a agir em maior profundidade.

A «revolução francesa», por exemplo, foi o derrube de uma ordem monárquica mas, nem por isso foi a transformação radical da forma produtiva, nem sequer da dominância das classes. A transição da sociedade agrária para a sociedade industrial estava muito avançada quando, a 14 de Julho de 1798, um grupo de populares parisienses tomou a Bastilha. As relações de produção continuaram as mesmas, antes e depois da «revolução», não foi pelo facto de um certo número de cabeças rolarem, nem de propriedades, que antes pertenciam a aristocratas, passarem a pertencer a burgueses, que se modificou em profundidade a relação entre as classes e nem sequer ao nível do poder político. Note-se que os cargos políticos, já antes da chamada revolução, eram largamente ocupados por elementos da alta burguesia, os quais exerciam esses cargos no poder central e provincial do Estado, muitas vezes relacionados com funções legislativas e da justiça. Mesmo nos altos postos das forças armadas, um campo supostamente reservado à nobreza, as classes não nobres iam progressivamente tomando conta de mais e mais postos. Não devemos ficar iludidos pelo facto do monarca enobrecer um alto funcionário ou uma alta patente do exército: era uma forma, por um lado, de mostrar confiança nesse indivíduo e, por  outro, demonstrar que, servindo o reino, se podia ascender aos cargos e privilégios mais elevados, independentemente da origem social. Napoleão, auto- coroando-se de imperador dos franceses, apenas acentuou essa tendência, que já vinha de longe, criando uma nova  aristocracia, desde barões a príncipes.

Não se encontra, no domínio  da política, nenhum aspeto de fundo que tenha modificado realmente a estrutura das relações sociais. Alguns burgueses tiveram oportunidade de enriquecer, tomando as propriedades das ordens religiosas. Note-se que, eles já pertenciam aos extratos elevados da burguesia, quando compraram (por bem pouco!) os bens das ordens religiosas, postos à venda pelo Estado «revolucionário». 

Poderíamos facilmente mostrar que, ao longo do período napoleónico, contrariamente à mitologia, as classes populares (operários, artesãos, camponeses), não só ficaram subjugadas pelos mesmos ou por outros senhores, como se acentuou a proletarização brutal. Foram colocadas pessoas de ambos os sexos, de todas as idades e incluindo crianças, numa relação de dependência e precariedade, que se traduziu em miséria para as classes populares urbanas. As pessoas esquecem muitas vezes a enorme sangria que foram as guerras revolucionárias e napoleónicas: Durou cerca de 25 anos, em várias partes da Europa. Foi um rasto de destruição «a ferro e a fogo», desde Lisboa  até Moscovo. Estas guerras forçaram comunidades rurais inteiras a migrarem para as cidades, visto que as suas explorações agrícolas tinham sido devastadas ou tinham perdido sua viabilidade económica. 

Do ponto de vista estritamente político, após as guerras napoleónicas reconstituiu-se rapidamente a aliança entre a alta burguesia e a aristocracia. Os governos e monarquias constitucionais que se formaram em quase toda a Europa, são o resultado disso. De fora, ficaram apenas elementos mais radicais, como os republicanos, que continuaram a ser perseguidos: não houve «liberdade de imprensa», nem liberdade de qualquer espécie, durante largos períodos do século XIX, tanto nos países onde tinha havido forte apoio às ideias revolucionárias, como nos que não se deixaram seduzir por elas.  

Na verdade, o fenómeno político, as revoluções liberais, anti autoritárias, anti monárquicas, que houve ao longo do século XIX, são sobretudo o epifenómeno duma profunda transformação na estrutura produtiva. A revolução industrial, que se tinha desenvolvido bem antes, desde o século XVIII, pelo menos, estava a transformar as relações entre classes em profundidade, mas de uma forma silenciosa, não em consequência de qualquer proclamação de princípios revolucionários. O que houve de revolucionário (sem aspas) ao nível da produção, foram, entre outros, a primeira mecanização, a utilização de máquinas a vapor e a concentração de trabalhadores em grandes manufaturas. Estes, eram frescamente saídos dos campos, onde seu trabalho deixou de ter viabilidade económica. 

A concentração de proletários nos centros urbanos, por sua vez, obrigou à transformação das práticas agrícolas: a utilização de processos mecânicos, a generalização dos adubos, os tratamentos fitossanitários, a maior racionalidade no uso dos solos e das culturas, produziram aumentos significativos da produtividade agrícola. Assim se criaram os excedentes que permitiram alimentar a massa humana cada vez maior, nas cidades industriais, porém utilizando muito menos braços nas tarefas agrícolas.  

Portanto, a revolução industrial é o grande motor das transformações. Estas, não se limitaram ao século XIX:

Obviamente, a «grande revolução russa» correspondeu à transformação do país essencialmente agrário, numa potência industrial moderna. Que esta transformação se tenha operado a partir de 1917 sob um governo despótico, totalitário, não impede que tal transformação tenha sido o principal aspeto estrutural da «revolução russa». Os bolcheviques, para efetivação da sua tomada de poder, souberam aproveitar as simpatias de partes do campesinato e do proletariado citadino, por determinadas ideias sociais, o socialismo, o comunismo e o anarquismo. Estes foram instrumentalizados, por vezes esmagados, para a transformação desejada pela «elite» soviética. Não esqueçamos a famosa fórmula de Lenine: «o comunismo consiste nos sovietes, mais a eletrificação do país».

É estranho, mas os que se dizem marxistas não conseguem fazer leituras objetivas dos fenómenos sociais e políticos, quando neles estão envolvidos partidos e correntes «comunistas». A mesma incompreensão dos fenómenos leva certos «revolucionários auto-proclamados » a fazerem uma leitura totalmente errada do  maoismo e do processo de emancipação da China, da sua passagem de uma sociedade atrasada, com características feudais, para uma grande potência industrial e tecnológica. 

Nós - porém - não estamos bloqueados por preconceitos ideológicos. Temos acesso  a um manancial de factos registados, pelo menos desde o início do século XIX, até hoje: não precisamos de distorcer a realidade, ou de fabricar «narrativas convenientes», para convencer os outros de que temos razão, que estamos na linha justa, etc. 

É necessário compreender que a revolução industrial continua, que ela não parou: não é como um comboio que parte dum ponto, para chegar à estação de destino final. A revolução industrial tem vários episódios, continua a modificar a infraestrutura produtiva, a transformar as relações sociais, a condicionar a vida das nações e dos indivíduos e (como epifenómeno) segrega ideologias, as quais são uma espécie de «secreção» que o tecido social produz, enquanto este vai sofrendo inúmeras micro transformações.

A outra grande revolução na história da humanidade, é a revolução agrária. Ela dura desde há cerca de 10 mil anos. No presente, também continua e as suas transformações estão interligadas com as transformações da revolução industrial. Talvez, um dia escreva sobre a revolução agrária. De qualquer maneira, está tão ligada com as primeiras civilizações, que seria necessário compulsar um número impressionante de dados, só para darmos conta da origem e do desenvolvimento desta revolução agrária. É como fazer a história da humanidade, excetuando o longo período paleolítico.

Não poderei pretender mais, neste pequeno texto, do que delinear as questões teóricas em relação com o conceito de revolução e expressar estranheza, perante a «cegueira voluntária» dos que se assumem como sábios, como sabendo em profundidade as coisas, mas que cometem as mais grosseiras falhas de lógica, de bom-senso, para já não falar de método científico. Não poderei convencer tais  indivíduos de que estão errados. Estão numa esfera do tipo crença religiosa, dentro dos seus casulos mentais, sem nenhuma abertura para a realidade... 

Assim constatei, em vários, ao longo da minha vida. Felizmente, existem espíritos mais abertos, que conseguiram aperceber-se das falsidades que lhes andaram a contar durante boa parte da sua vida. 

Mas, aos outros, que não estejam vinculados às falsas religiões das ideologias, digo-lhes: - Vejam este escrito como chamada de atenção e um apelo ao vosso espírito crítico. Não é por algo ser crença de muita gente à vossa volta, que isso é «verdade», nem tão pouco, que seja a verdade a versão oficial, canónica da História, ensinada desde a escola primária, à universidade! 

Eu não pretendo ser detentor da verdade. Apenas tento equacionar os dados do problema ... claro que posso também me enganar. Porém, espero que o meu comportamento desinibido desencadeie nalguns o desejo de inquirir estes assuntos por eles próprios.

OPUS VOL.III, 13. O POETA TRANQUILO



Escrevia como se respira

Muitas vezes o vi sentado

Naquela mesa de café

Olhando o vazio

Logo de seguida

Mergulhava num caderno

Onde rabiscava 

Misteriosos signos

Depois, sorvia o café

E ia dar um passeio

Ou recolhia-se em casa

Se o tempo fosse agreste

Não sei o seu nome

Para mim, é «o poeta tranquilo»


terça-feira, 16 de abril de 2024

CRÓNICA (Nº26) DA IIIª GUERRA MUNDIAL... Desejada pelos neocons, entrou num novo patamar


Num certo sentido, a guerra mundial continua o seu curso. Ela não cessou desde que a URSS implodiu. Manifestou-se de forma ostensiva com o ataque - não motivado - das forças da OTAN, para esmagarem a ex-Jugoslávia, o país que não se conformava ao «diktat» neoliberal. A falsa bandeira - o tal 2º «Pearl Harbour», desejado pelos neocons no poder - do 11 de Setembro, foi pretexto para uma série de guerras de agressão, nas quais os EUA arrastaram os seus Estados-vassalos. Mas, apesar da força avassaladora e da (dita) «superioridade moral» ocidental («With God on our side»), foram escorraçados do Afeganistão e do Iraque; e falharam o derrube, através de proxies (Alquaida, Al Nousra e ISIS, criações do tipo «Frankenstein», do Império), do regime sírio.

Na faixa de Gaza falharam o objetivo declarado pelo estado sionista de Israel, seu governo e sua chefia militar: destruir por completo o Hamas. Não só não o conseguiram, como ficaram muito mais isolados na cena internacional, para não falar da eliminação do sonho, iniciado no consulado de Trump, dos «acordos de paz de Abraão» (com participação da Arábia Saudita e de outros atores vassalos dos EUA). Perante o falhanço, entraram em guerra direta com o Irão, com o objetivo de forçar a intervenção dos EUA, ao lado de Israel, para esmagar definitivamente o Irão. Também neste caso, falharam. O ataque criminoso ao consulado iraniano de Damasco será devidamente vingado pelo Irão, mas não o foi, por enquanto: O que o Irão fez, em vez de cair na ratoeira armada pelos sionistas, foi «mostrar os dentes»*. Fizeram a demonstração de que um futuro ataque maciço com drones e mísseis cruzeiro, não poderia ser eficazmente travado pelas defesas antiaéreas sionistas, nem mesmo com ajuda dos seus aliados.
Se a mensagem não foi claramente compreendida, se se efetivar uma «retaliação» israelita ao ataque do Irão, desta vez haverá nova onda de mísseis, mas já não previamente avisada e com alvos muito mais estratégicos incluindo, por exemplo, centrais elétricas e redes de distribuição de energia elétrica. Sem um fornecimento regular de eletricidade, a sociedade de Israel, sofisticada e demasiado segura de si própria, será confrontada com a realidade; será o desmoronamento dos mitos em que tem sido mantida pela extrema-direita no poder.

 

Creio que as grandes potências tutelando um e outro lado (China e Rússia, por um lado e EUA por outro), não deixarão que as hostilidades possam escalar até ao ponto em que o governo sionista seja tentado a pôr em prática o seu «plano Sansão»: A destruição completa de Israel, conjuntamente com seus inimigos, através da explosão de bombas nucleares (são mais de uma centena, guardadas na base de Dimona).

A atitude dos EUA tem sido muito ambígua; tem fingido que desaprova (fez isso em relação ao genocídio em Gaza, repetiu com o ataque ao consulado iraniano em Damasco), mas não faz rigorosamente nada para impedir que o governo de Israel continue na mesma senda. Porém, seria muito fácil; bastaria ameaçar com o corte do fornecimento de armas e munições ao seu aliado enlouquecido.
Mas não, a chefia dos EUA é do mesmo quilate que a de Israel. O governo dos EUA está dominado pelos neocons, ou seja, os que defendem a hegemonia («full spectrum dominance») dos EUA, a manutenção do seu poderio, das suas bases e das forças aliadas, o que inclui Israel, façam estes o que fizerem.
Espero que a realidade obrigue o bando de criminosos no poder em Washington, a manter-se sóbrio e perceber que não pode vencer esta partida pela força das armas: O melhor dos casos (para ele), seria conseguir o prolongamento do status quo mundial, utilizando diplomacia, não a força bruta.

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*O Irão agiu com medida e prudência para não desencadear o alastramento da guerra no Médio-Oriente, na sua retaliação, face ao crime de guerra israelita de bombardear instalações consulares iranianas em Damasco. Mas, ao mesmo tempo, deixou uma mensagem muito clara aos sionistas e a todos os inimigos que se atrevam a agredi-lo: - O Irão tem meios para causar muito mais danos do que causou agora. Somente danificou pistas de duas bases militares aéreas israelitas, mas tem capacidade técnica para atingir outros alvos, muito mais importantes, em Israel. Não foi uma vingança, efetuarem este ataque de aviso; os iranianos colocam-se num plano de superioridade militar e moral, face aos israelitas. https://www.moonofalabama.org/2024/04/iranian-missiles-hit-israel.html#more

segunda-feira, 15 de abril de 2024

CAUSA PRINCIPAL DO ATRASO ESTRUTURAL DE PORTUGAL

Quais as consequências do alheamento do público em relação ao setor da investigação pública e privada nacionais?

É difícil destrinçar as causas e consequências do atraso secular de Portugal no campo dos saberes e da infraestrutura industrial.

Mas, há interesse dalguns em manter o público arredado. Na base, trata-se por parte dessa «elite», de criar um sentimento de perplexidade no auditor/leitor: «Se isto é tão complicado, com certeza é muito profundo. De tal maneira que eu não consigo penetrar...» A pessoa ingénua é colocada na postura da criança que perante um discurso dos adultos, está desprovida de instrumentos conceptuais, para avaliar o seu conteúdo concreto. Porém, o conteúdo concreto, para quem se dê ao trabalho de esmiuçá-lo, pode ser de uma completa banalidade, quando não de imbecilidade, que apenas as catadupas de termos rebuscados, ocultam. 

Quando estes discursos rebuscados são produzidos, normalmente em congressos, ou outras reuniões entre pares, as pessoas estão numa de duas posturas: ou estão coniventes, porque fazem exatamente o mesmo e - portanto - não vão levantar problemas. Vão coibir-se de fazer críticas demasiado acerbas, pois elas também têm «telhados de vidro». Ou, não percebem realmente que se trata de «pechisbeque», em vez de algo com valor, estão neste caso pessoas que se deixam enganar, entontecidas pelas «luzes da ribalta» e não se atrevem a questionar o «discurso de poder», para não fazer «má figura». É literalmente aquilo a que se resume a maior parte das comunicações de filósofos, economistas, cientistas sociais, etc. que enxameiam a academia.

 Mas, as coisas não se ficam por aqui: O grande - exponencial - crescimento de publicações nas ciências ditas «duras» (física, química, biologia), também é um caso de fancaria, em numerosos casos. Não se trata de publicação de novos avanços, nem enquanto descobertas, nem de algo original, muitas vezes são reproduções de resultados já existentes, ou resultados de duvidosa legitimidade. O prestígio de um cientista individual mede-se pelo número de publicações que este pode apensar ao seu currículo, não à relevância das mesmas para o seu ramo de ciência. 

Como as atividades dos laboratórios de investigação - sejam de instituições públicas ou privadas - estão na dependência de grandes empórios,  como a poderosa indústria farmacêutica em relação às ciências da vida e da saúde, o que sai deles é apenas o que esteja dentro dos parâmetros, dos interesses e das conveniências desses mesmos grandes grupos. O fenómeno é transversal. O resultado, é que se instalou uma relação inversa entre o número de pessoal altamente qualificado na atividade de investigação, e a qualidade intrínseca da investigação realizada, já para não falar da sua relevância social.

Todos, seja a nível de pessoas individuais, seja a nível de instituições, têm de justificar avultados investimentos, com as tais publicações, com os relatórios, com as comunicações a congressos, etc. Que tal seja o produto natural da investigação científica, não nos surpreende: Desde há muitos decénios que é assim. Mas, o que choca é  ausência de mecanismos de controlo, de real avaliação da qualidade da investigação. Chegou-se a um ponto em que a fraude é coletivamente encoberta, para conseguir-se uma aparência de respeitabilidade, na dita investigação. 

O resultado concreto, é que o discurso vai sendo cada vez mais esotérico, mas não traz nada de novo, em conteúdo. A ciência que se faz, seja em termos de ciências humanas ou de ciências físicas e naturais, é de qualidade intrínseca cada vez mais fraca. Sobretudo, confrontando a qualidade média de publicações académicas de há 30, 40 ou 50 anos atrás, com a qualidade média dos artigos produzidos hoje. Esta degradação da qualidade intrínseca é também notória noutros países, que eram considerados «locomotivas» da investigação científica, como o Reino Unido e a França, por exemplo.

A divulgação científica atingiu um nível tal que é impossível descer mais baixo: Vimos isso, a propósito do episódio da «pandemia do COVID», com o nível deplorável das intervenções mediáticas, completamente falseadas e a reboque da propaganda governamental. Mas, para haver tal monstruosa operação de propaganda, que atingiu o grau de terrorismo psicológico de massas em muitos casos, foi importante a colaboração ativa de alguns, que se apresentaram como especialistas disto ou daquilo, enquanto difamavam e silenciavam os poucos especialistas que tentavam colocar a discussão em termos honestos, no debate científico. Este episódio, cuja importância não pode ser menosprezada, teve - pelo menos - a vantagem de abrir os olhos a muitos, que tinham uma visão ingénua da ciência e da integridade dos cientistas, principalmente dos que desempenhavam funções de poder e de prestígio.  

O dispositivo académico está totalmente dependente dos poderes: Seja da indústria, seja dos políticos com importantes cargos no Estado, eleitos ou não. Este dispositivo académico tem cada vez maior necessidade do financiamento destas entidades, visto que as somas atribuídas para investigação, projetos específicos, bolsas, etc., são cada vez mais de exclusiva decisão dos poderes políticos e/ou industriais. Ora, como é bem conhecido, «quem paga é quem manda». O resultado disso, não é apenas uma diminuição da qualidade intrínseca dos resultados da investigação. É também o desperdício de verbas cada vez maiores e de recursos técnicos e humanos, para ir ao encontro de agendas nada transparentes, no mínimo. Não haveria problema que uma parte da investigação fosse financiada pela indústria, se resultante de contratos estabelecidos, de forma transparente, entre instituições. Mas, o problema surge com as inúmeras influências exercidas desde os planos pessoais de certos investigadores, até às influências exercidas através dos ministros e outros em cargos de poder.

Nos países dependentes, como Portugal, é frequente pessoas serem doutoradas no estrangeiro e virem exercer cargos de responsabilidade no país, onde tentam continuar projetos em que estavam envolvidas, nos países onde fizeram o doutoramento: Neste país (Portugal) não existe verdadeiro programa conferindo prioridades e canais de financiamento privilegiados, para certas áreas científicas. Assim, o  trabalho destes investigadores, por muito meritório que seja, acaba por ter como principais beneficiários outros países, outros projetos científicos, aqueles onde foram originados. 

No conjunto, a classe política tem estado «à vontade» em relação à ciência, seja ela feita em laboratórios do Estado, ou em departamentos de Universidades: É um domínio em que tem podido exercer a sua influência, para comprar e deixar-se comprar, pelos grandes interesses. Que estes dominem o país, do ponto de vista económico e financeiro, não nos pode surpreender. Daí decorre a ausência de controlo e fiscalização dos recursos que estão destinados pelo Orçamento de Estado às entidades universitárias e de investigação: É impossível que sejam encaminhados para áreas realmente prioritárias, se os critérios não são os do interesse nacional, numa perspetiva ampla, diferenciada dos interesses particulares, sejam de grandes empórios, ou até pessoais, de «bonzos» instalados nas instituições em causa.

As pessoas, em geral, não fazem ideia de quanto dinheiro é mal aplicado na investigação, mas ainda menos têm noção da riqueza que deixa de ser produzida, em virtude da forma peculiar, irracional e por vezes criminosa, como este setor é gerido. Só um país do terceiro mundo (ou do quarto?) esbanja desta maneira seus recursos financeiros destinados á investigação, os seus recursos de «massa cinzenta» também. Embora isto seja somente um aspeto da dependência face aos países  mais poderosos, é sintomático. A possibilidade de arranque para o desenvolvimento autónomo fica posto em cheque pela política corrompida, neste setor tão crítico.