sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

«BANK RUN» EM BEIRUTE... muito grave, mas não se fala nos media ocidentais!



Pierre Jovanovic volta de Beirute (Líbano), onde se passam cenas quotidianas de violência, nas agências bancárias*. Nestas, os empregados e o público engalfinham-se em lutas corpo a corpo (como se pode ver numa passagem deste vídeo) porque o governo decretou uma limitação de levantamento semanal para todos os depósitos, desactivando todas outras formas de pagamentos e transferências em cartões (Visa, Mastercard,...) e obrigando o público a fazer bichas para «pedinchar» uns 200 dólares por semana para sobreviver. 


Há uma autêntica atmosfera de revolta no ar, porque tudo resulta de um sistema bancário corrupto, de um governo corrupto, de um regime que não tem viabilidade e que se tem mantido apenas pelos discretos apoios financeiros da França, Arábia Saudita, Emiratos, etc..


Como explica este jornalista, a situação é tanto mais explosiva, que existem muitas armas nas mãos da população, que passou por 15 anos de guerra civil.


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A media ocidental está completamente comprada, pois a situação (explosiva) desenrola-se desde Outubro passado, mas não tem suscitado «interesse». Porquê este black-out informativo?
- Os poderes, certamente, não desejam que as pessoas se ponham a pensar no que poderá também acontecer na banca dos países europeus!

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

A EPIDEMIA NA CHINA, POR CORONAVÍRUS, PODE TORNAR-SE UMA PANDEMIA

corona vírus que está a espalhar-se pela China e pelos países fronteiriços pertence à mesma família que o vírus SARS

              RT
Primeira imagem divulgada do coronavírus de Wuhan. Já há pessoas infectadas em muitos países limítrofes de China, e nos EUA.

A transmissão inicial do vírus, que se pensa foi originada no mercado de Wuhan, onde são mantidos animais vivos, muitos dos quais, animais selvagens capturados, considerados iguarias por alguns. Pensa-se que os portadores do coronavirus sejam civetas capturadas e vendidas no mercado.

              

Os animais selvagens estão infectados frequentemente com vírus, cujo efeito no seu corpo é nulo ou muito benigno, designam-se por «portadores sãos». Os gansos selvagens, que migram do círculo ártico, até zonas temperadas no inverno, são responsáveis pela disseminação de sucessivas gripes. Considera-se que as novas ondas anuais de epidemia de gripe, têm a ver com essa disseminação durante o seu voo migratório.
Na realidade, o organismo humano está em permanente contacto com um certo número de vírus, mas o seu reportório de anti-corpos permite-lhe manter o seu corpo saudável, na maior parte dos casos. Os vírus com os quais os humanos nunca contactaram, esses, têm uma eficácia muito grande, se conseguirem infiltrar-se no corpo, muito frequentemente pelas vias respiratórias, sobretudo se conseguem alojar-se nas nossas células. Aí, colocam a máquina celular do hospedeiro ao serviço de reproduzir novas partículas virais, que depois se espalham pelo organismo do paciente. 
Dá-se uma corrida de velocidade, entre a taxa de reprodução e propagação do vírus e a rapidez com que o sistema imunitário do corpo infectado está a produzir anti-corpos, primeiro fracamente eficazes contra esse vírus, mas progressivamente mais, até conseguir anti-corpos perfeitamente adequados. 
Quando o vírus é derrotado, a pessoa fica com um stock de anti-corpos contra o mesmo, além de que o seu sistema imunitário todo ele, passa a resistir à infecção pelo mesmo vírus, pela mesma estirpe viral. 
Mas, o vírus ganha se for mais rápido ou se a pessoa tem um sistema imunitário deficiente: não é apenas o caso das doenças imuno-supressoras como a SIDA, mas também em pessoas idosas, com alimentação deficiente, com desnutrição proteica, ou ainda, alguém ter sido sujeito a tratamento imuno-supressor, para uma operação.     
A eficácia da transmissão é um factor muito importante para a difusão duma epidemia; se a capacidade de difusão do vírus, de um humano para outro humano, é fraca, pode ser relativamente fácil controlar a sua difusão e limitar a epidemia com medidas preventivas.
Infelizmente, a constante deslocação das pessoas de um lado para o outro do Globo, hoje em dia, tornam muito difícil a contenção de um vírus deste tipo. 
Muitas pessoas -sem saberem - podem ser transportadoras de um vírus: ou porque o seu organismo está imune naturalmente à estirpe em causa (portadores sãos) ou porque estão num estado pré-sintomático de evolução da doença, ou seja, estarão francamente doentes dentro de dias ou semanas, mas - por enquanto - não têm sintomas.
Apesar das técnicas de construção de vacinas contra determinado vírus terem progredido imenso, os ensaios (obrigatórios para poderem ser colocadas no mercado) e a produção em larga escala levam meses. 
Neste espaço de tempo, um vírus que tenha uma virulência grande pode ter-se disseminado, a epidemia irá progredir de modo exponencial

                 
                                       https://www.zerohedge.com/geopolitical/uk-researcher-predicts-over-250000-people-china-will-have-coronavirus-ten-days

Nesta fase inicial, antes de se ter uma vacina, recorre-se a métodos com uma eficácia comprovada: máscaras para as pessoas não-afectadas; confinamento das pessoas infectadas em áreas específicas de hospitais. Pode-se chegar, em caso extremo, ao isolamento da população que seja reconhecida como centro de foco infeccioso. Estas, são as medidas eficazes possíveis.
A OMS tem uma reunião hoje para determinar se declara esta epidemia com coronavirus uma epidemia planetária, ou não.

Pelo que tenho visto dos números de pessoas infectadas e os mapas correspondentes da difusão da infecção, parece-me que se deveria proceder como estando a humanidade perante o perigo de uma nova pandemia. Isso obrigaria a tomada de medidas preventivas e ajudaria a acelerar a  confecção de vacina adequada.



quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

[Greg Mannarino] COMO NOS PROTEGERMOS DA PRÓXIMA CRISE?


Greg Mannarino é um famoso e experiente «trader» nos mercados de acções, obrigações e derivados. As suas convicções sobre a evolução das finanças dos EUA e mundial, são portanto alicerçadas na prática, não em teorias ou modelos matemáticos. 

Mannarino crê que os Bancos centrais têm puxado para um extremar da dívida, para conseguirem o seu objectivo de controlo: serem eles os emprestadores e compradores de último recurso. 

Sem a persistente e coordenada acção dos Bancos Centrais nos mercados, seria impossível as bolhas financeiras e outras, se desenvolverem como têm feito. 

Se as unidades de conta - que são os dólares ou outras divisas - correspondem apenas à emissão de mais dívida, o ciclo torna-se muito rapidamente vicioso, ao postular-se, como os bancos fazem, que dívida é «riqueza», em substituição da riqueza real, tangível.

Nesta forma extremada da financiarização da economia mundial, tudo se transforma em ficção. É impossível determinar o preço de qualquer coisa: ninguém pode determinar o montante total da dívida pendente, ao nível mundial, muito menos se pode avaliar correctamente, tanto um activo financeiro (acções, obrigações, etc...), como um activo tangível, por exemplo, o imobiliário. 

Esta distorção grave dos mecanismos de preços, tem uma consequência importante, para além da ilusão de riqueza de alguns: ela é causa de muitas decisões erradas na economia, em todos os domínios, em todas as escalas, pois o valor futuro do dinheiro não é estimável (por ninguém!) com um mínimo de objectividade. 

A distorção causada pela emissão constante de dívida, para cobrir dívidas mais antigas e juros respectivos («QE» «quantitative easing»), conjugada com a supressão dos juros (juros próximos de zero ou negativos), para possibilitar a continuação do endividamento, tem consequências: inevitavelmente, chegará o momento em que todos esses dólares (ou outras divisas) a mais, a flutuar no espaço digital, acabarão por procurar adquirir «coisas», afectando a economia real. 

Até agora, esses dólares têm sobretudo adquirido activos financeiros... daí as bolhas. Mas, num ou noutro momento, irá dar-se uma explosão dos preços em geral, uma hiperinflação, tal como já se verificou n vezes, no passado. As pessoas que não se preocuparam, ou não acompanharam a situação, e mantiveram o essencial dos seus activos em produtos financeiros, ficarão severamente afectadas.

Num instante, como na crise de Weimar de 1923, ruirão fortunas e os membros das classes média e alta ficarão na miséria. 

Mas, não se pense que neste processo ocorre uma destruição de riqueza; ela apenas transita das mãos de uns, para as de outros. Nesta transição, os bancos comerciais maiores vão adquirir ainda mais poder

Aqueles que viram com antecedência chegar esta crise e se posicionaram de forma adequada, estarão depois em condições de comprar «por tuta e meia» bens tangíveis, úteis ou valiosos. Os outros serão varridos, os que se mantiveram na ilusão de que a riqueza é equivalente a ter as carteiras de títulos recheadas de acções e obrigações. 

Porém, todo o excesso de dívida [isso inclui, nomeadamente, o dinheiro «cash» e obrigações de empresas, ou Estados], terá que ser «queimado». 
Assim como o restolho, que se acumula na floresta e tem de ser removido e queimado, para as suas cinzas fornecerem nutrientes para novas plantas. 
Quanto às acções: elas terão quebras da ordem de 95%, em muitos casos, pois estão agora - em média - 30 vezes acima do valor real das respectivas empresas cotadas em bolsa. 

É preciso não esquecer que, quando um grande número de entidades entra em falência, as pessoas que não participaram nos mercados financeiros, que apenas trabalham ou são pensionistas, também serão cruelmente afectadas. 

Uma crise desta dimensão não se limitará ao sector financeiro: irá empurrar inúmeras empresas para a falência, mesmo as que tinham viabilidade, no longo prazo.

«O mundo não é governado por primeiro-ministros, presidentes, monarcas, etc. É governado por BANCOS»

Mannarino diz tudo... só que não é ouvido!

terça-feira, 21 de janeiro de 2020

[Manlio Dinucci] OS AGRESSORES SÃO AGORA OS RESPONSÁVEIS PELA «SOBERANIA» DA LÍBIA

               


Na Conferência de Berlim, o Secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, pediu “o fim da interferência estrangeira na Líbia, o embargo de armas e um cessar-fogo duradouro”. O mesmo fizeram a França, o Reino Unido e a Itália, os mesmos países que há nove anos formavam, juntamente, com os Estados Unidos, a ponta de lança da guerra NATO contra a Líbia.
Antes tinham armado contra o governo de Tripoli, sectores tribais e grupos islâmicos, e infiltrado forças especiais entre as quais, milhares de comandos do Catar. Em seguida, declarando que queriam imobilizar Kadafi, o “carrasco do seu povo”, foi lançada a operação de guerra sob comando USA. Em sete meses, a aviação da NATO efectuou 30 mil missões, das quais 10 mil de ataque com mais de 40 mil bombas e mísseis. A Itália colocou à disposição da NATO, 7 bases aéreas e empreendeu com os seus caça-bombardeiros, mais de 1.000 missões na Líbia.
Foi demolido, assim, aquele Estado que, na costa sul do Mediterrâneo, registava “níveis elevados de crescimento económico e indícios avultados de desenvolvimento humano” (como documentado em 2010 pelo próprio Banco Mundial), onde encontravam trabalho cerca de dois milhões de imigrantes africanos.Assim, foi demolido o projecto da Líbia de criar, com os seus fundos soberanos, organismos económicos independentes da União Africana.
Os EUA e a França concordaram em bloquear com a guerra o plano líbio de criar uma moeda africana, em alternativa ao dólar e ao franco CFA imposto a 14 antigas colónias africanas: provam-no os emails da Secretária de Estado, Hillary Clinton, trazidos à luz pelo WikiLeaks ( “Crime” pelo qual Julian Assange está detido numa prisão britânica e arrisca, se for extraditado para os EUA, desde a prisão perpétua até à pena de morte).
Os fundos soberanos, cerca de 150 biliões de dólares investidos no estrangeiro pelo Estado líbio e “congelados” na véspera da guerra, estão em grande parte desaparecidos. Dos 16 biliões de euros líbios bloqueados pelo Euroclear Bank, desapareceram 10 biliões e o mesmo aconteceu noutros bancos da União Europeia (UE).
Agora, a UE, como declarou na Conferência de Berlim, está empenhada em dotar a Líbia da “capacidade de construir instituições nacionais, como a Companhia Petrolífera, o Banco Central e a Autoridade para os Investimentos”. Tudo no âmbito das “reformas económicas estruturais”, ou seja, da privatização das empresas públicas. Dessa forma, pretende-se legalizar o sistema actual, segundo o qual as entradas da exportação de energia, estimadas em mais de 20 biliões de dólares em 2019, são divididas entre grupos de poder e multinacionais. Além das reservas petrolíferas (a maior da África) e do gás natural, existe o imenso aquífero núbio de água fóssil, em perspectiva mais preciosa do que o petróleo, que o Estado líbio começou a usar transportando água através de condutas de 1.300 poços no deserto, para as cidades costeiras.
Está em jogo o controlo do mesmo território líbio de grande importância geoestratégica: recorde-se que, em 1954, os EUA instalaram a Wheelus Field nos arredores de Tripoli, a sua principal base aérea no Mediterrâneo, com caça-bombardeiros também armados com bombas nucleares.
Um dos principais objectivos da política russa de hoje é, certamente, impedir a instalação de bases militares USA/NATO na Líbia. De qualquer forma, a NATO, convidada de pedra na Conferência de Berlim, continuará a desempenhar um papel de primeiro plano na situação da Líbia, em particular através da base de Sigonella. Uma eventual “missão de paz” da União Europeia na Líbia, veria a participação dos países da NATO, que usariam, de facto, os serviços secretos/inteligência, a rede de telecomunicações e o apoio logístico da Aliança, sob comando USA. No entanto, existe a máxima garantia: em Berlim, os USA e a União Europeia comprometeram-se, solenemente, a “continuar a apoiar fortemente a soberania da Líbia”.

il manifesto, 21 de Janeiro de 2020

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DECLARAÇÃO DE FLORENÇA
Para uma frente internacional NATO EXIT, 
em todos os países europeus da NATO


Manlio DinucciGeógrafo e geopolitólogo. Livros mais recentes: Laboratorio di geografia, Zanichelli 2014 ; Diario di viaggio, Zanichelli 2017 ; L’arte della guerra / Annali della strategia Usa/Nato 1990-2016, Zambon 2016, Guerra Nucleare. Il Giorno Prima 2017; Diario di guerra Asterios Editores 2018; Premio internazionale per l'analisi geostrategica assegnato il 7 giugno 2019 dal Club dei giornalisti del Messico, A.C.

Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos 
Email: luisavasconcellos2012@gmail.com
Webpage: NO WAR NO NATO

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

PEPE ESCOBAR: RAÍZES DA DEMONIZAÇÃO DO ISLÃO XIITA, PELOS NORTE-AMERICANOS

                               
17/1/2020, Pepe Escobar, Unz Review
Tradução Amigos do Brasil


O assassinato premeditado pelos EUA, que se serviram de um drone como arma do crime, do major-general Qassem Soleimani, além de uma torrente de ramificações geopolíticas cruciais, mais uma vez empurra para o centro do palco uma verdade bastante inconveniente: a incapacidade congênita das chamadas elites norte-americanas para, pelo menos que fosse, tentar entender o xiismo – e a incansável demonização 24 horas por dia, 7 dias por semana, com o objetivo de degradar não apenas os xiitas mas também os governos liderados por xiitas.

Washington já fazia uma Guerra Longa antes mesmo de o conceito ser popularizado pelo Pentágono em 2001, imediatamente após do 11/9: uma Guerra Longa contra o Irã. Tudo começou mediante o golpe contra o governo democraticamente eleito de Mosaddegh em 1953, substituído pela ditadura do xá. Todo o processo vem sendo super turbinado há mais de 40 anos, desde quando a Revolução Islâmica esmagou aqueles bons velhos tempos da Guerra Fria, quando o xá reinava como o privilegiado “gendarme americano do Golfo (persa)”.

Mas é processo que vai muito além da geopolítica. Não há absolutamente nenhuma maneira de alguém conseguir compreender as complexidades e o apelo popular do xiismo, sem pesquisa acadêmica séria, complementada com visitas a locais sagrados selecionados no sudoeste da Ásia: Najaf, Karbala, Mashhad, Qom e o santuário Sayyida Zeinab perto de Damasco. Pessoalmente, tenho percorrido esse caminho do conhecimento desde o final dos anos 90 – e continuo estudante humilde.

Em espírito de abordagem inicial – para abrir um debate bem informado leste-oeste sobre uma questão cultural crucial, totalmente marginalizada no ocidente ou afogada por tsunamis de propaganda, pedi a colaboração de três excelentes pesquisadores, que ofereceram algumas primeiras impressões.

São eles: Prof. Mohammad Marandi, da Universidade de Teerã, especialista em Orientalismo; Arash Najaf-Zadeh, que escreve sob o pseudônimo de Blake Archer Williams e especialista em teologia xiita; e a extraordinária Princesa Vittoria Alliata, da Sicília, escritora e principal islamologista italiana, autora, dentre outros livros, do hipnotizante Harem – que detalha suas viagens por terras árabes.

Há duas semanas, fui hóspede da princesa Vittoria em Villa Valguarnera, na Sicília. Estávamos mergulhamos numa longa e envolvente discussão geopolítica – da qual um dos principais temas era EUA-Irã – poucas horas antes de um ataque de drone no aeroporto de Bagdá matar os dois principais xiitas na guerra real contra ISIS/Daech e al-Qaeda/al-Nusra: o major-general iraniano Qassem Soleimani e o iraquiano Abu Mahdi al-Muhandis, segundo no comando do grupo Hashd al-Shaabi.

Martírio x relativismo cultural

O professor Marandi oferece explicação sintética: “O ódio irracional dos EUA ao xiismo deriva do forte senso de resistência à injustiça, característico dos xiitas – a história de Karbala e do Imã Hussein e o muito que os xiitas enfatizam a proteção dos oprimidos, a defesa dos oprimidos e a resistência contra o opressor. São ideias que os EUA e as potências ocidentais hegemônicas simplesmente não podem tolerar. “

Blake Archer Williams enviou-me me resposta que foi publicada como artigo à parte. Essa passagem, em que o autor discorre sobre o poder do sagrado, sublinha claramente o abismo que separa a noção xiita de martírio, de um lado, e, de outro, o relativismo cultural ocidental:

“Nada mais glorioso para um muçulmano que alcançar o martírio enquanto luta no Caminho de Deus. O general Qāsem Soleymānī lutou por muitos anos com o objetivo de acordar o povo iraquiano, até o ponto em que eles passaram a desejar assumir com as próprias mãos o comando do destino do próprio país. A votação do parlamento iraquiano mostrou que ele alcançou seu objetivo. Seu corpo foi tirado de nós, mas seu espírito foi amplificado mil vezes, e seu martírio garantiu que fragmentos de sua luz abençoada sejam incorporados nos corações e mentes de todo homem, mulher e criança muçulmana, imunizando todos contra o câncer-zumbi dos relativistas culturais satânicos da Novus Ordo Seclorum [Nova Ordem dos Tempos]. “

[um ponto em discussão: Novus Ordo Seclorum, ou Saeculorum, significa “nova ordem dos tempos”, e deriva de famoso verso de Virgílio que, na Idade Média, era considerado pelos cristãos como profecia da vinda de Cristo. Sobre isso, Williams respondeu que “embora esse sentido etimológico da frase seja verdadeiro e ainda permaneça, a frase foi sequestrada por um George Bush O Jovem como representante da cabala globalista da Nova Ordem Mundial, e é nesse sentido que predomina hoje” [e aparece no verso da nota de 1 EUA-dólar. (NTs)]

Escravizados pelo wahabismo

A princesa Vittoria prefere organizar o debate em torno da atitude dos norte-americanos de não questionar o wahabismo: “Não acho que tudo isso tenha algo a ver com odiar o xiismo ou ignorá-lo. Afinal, o Aga Khan está super inserido na segurança dos EUA, uma espécie de Dalai Lama do mundo islâmico. Acredito que a influência satânica vem do wahabismo e da família saudita, que são muito mais hereges que os xiitas, para todos os sunitas do mundo, mas sempre foram o único contato com o Islã aceito pelos governantes dos EUA. Os sauditas financiaram a maior parte das guerras e dos assassinatos feitos primeiro pelos Irmãos Islâmicos, depois pelas outras formas de salafismo, todos eles inventados sobre base wahabista. “

Assim, diz a princesa Vittoria, “eu não tentaria tanto explicar o xiismo, mas, sim, mais, tentaria explicar o wahabismo e suas consequências devastadoras: daí nasceram todos os extremismos, bem como o revisionismo, o ateísmo, a destruição de santuários e de líderes sufistas por todo o mundo islâmico. E, claro, o wahabismo está muito próximo do sionismo. Existem até pesquisadores que exibem documentos que parecem provar que a Casa de Saud é uma tribo de Dunmeh de judeus convertidos expulsos de Medina pelo Profeta depois de tentarem matá-lo, apesar de terem assinado um tratado de paz. “

A princesa Vittoria também enfatiza o fato de que “a revolução iraniana e os grupos xiitas no Oriente Médio são hoje a única força bem-sucedida de resistência aos EUA, e isso faz com que sejam odiados mais do que outros. Mas, isso, só depois que todos os outros oponentes sunitas foram eliminados, mortos, aterrorizados (pense na Argélia, mas existem dezenas de outros exemplos) ou corrompidos. Essa, é claro, não é posição exclusivamente minha, mas é a posição da maioria dos islamólogos de hoje.”

O profano contra o sagrado

Conhecendo o imenso conhecimento de Williams sobre a teologia xiita e sua experiência em filosofia ocidental, incentivei-o a, literalmente, “pular na jugular” da questão. E ele não fugiu: “A questão de por que os políticos americanos são incapazes de entender o Islã xiita (ou o Islã em geral) é simples: o capitalismo neoliberal irrestrito gera oligarquia, e os oligarcas “selecionam” candidatos que representam seus interesses, já antes de serem “eleitos” pelas massas ignorantes. Exceções populares, como Trump, ocasionalmente escorregam para dentro do poder (ou não, como no caso de Ross Perot, que se retirou sob coação), mas mesmo Trump passou imediatamente a ser controlado pelos oligarcas com ameaças de impeachment, etc. Portanto, o papel do político eleito nas democracias parece incluir não se esforçar para compreender coisa alguma, mas, simplesmente cumprir a agenda das elites que são donos deles, que mandam neles.”

A resposta “pulo na jugular”, de Williams, é ensaio longo e complexo que gostaria de publicar na íntegra, mas só quando nosso debate aprofundar-se – acompanhado de possíveis refutações.

Para resumir, ele esboça e discute as duas principais tendências da filosofia ocidental: dogmáticos versus céticos; detalha como “a trindade sagrada do mundo antigo era de fato a segunda onda dos dogmáticos, tentando salvar as cidades gregas e o mundo grego de maneira mais geral, da decadência dos sofistas”; investiga a “terceira onda de ceticismo”, que começou com o Renascimento e atingiu o pico no século 17 com Montaigne e Descartes; e depois estabelece conexões “com o Islã xiita e com o fracasso do Ocidente em entendê-lo”.

E isso o leva ao “cerne da questão”: “Uma terceira opção e uma terceira corrente intelectual, além e acima dos dogmáticos e céticos, e essa é a tradição dos xiitas tradicionais (em oposição aos filósofos) estudiosos da religião.”

Agora compare tudo isso e o último empurrão dos céticos, “como o próprio Descartes admite, dado pelo daemon que veio a ele em sonhos, e que resultou na escrita de seu Discurso sobre o Método (1637) e Meditações sobre a Primeira Filosofia (1641). O Ocidente ainda sofre efeitos desse golpe, e parece ter decidido deixar de lado os andaimes de sustentação da razão e os sentidos (que Kant tentou em vão conciliar, tornando as coisas mil vezes piores, mais complicadas e desagregadas), para deixar-se afogar e afogar na modalidade autocongratulatória do irracionalismo conhecido como pós-modernismo, que deveria ser chamado de ultramodernismo ou hipermodernismo, pois não está menos enraizado na “virada subjetiva” cartesiana e na “revolução copernicana” kantiana, do que os pré-modernos e modernos”.

Para resumir uma justaposição bastante complexa, “o que tudo isso significa é que as duas civilizações têm duas visões totalmente diferentes sobre o que deva ser a ordem mundial. O Irã acredita que a ordem do mundo deve ser o que sempre foi e é na realidade, gostemos ou não, e mesmo que não creiamos na realidade (como alguns no Ocidente não costumam crer). E o ocidente secularizado acredita numa nova ordem mundana (em oposição à ordem de outro mundo, ou divina).

E, portanto, não é tanto um choque de civilizações, mas um choque de profano contra o sagrado, com elementos profanos nas duas civilizações que combatem as forças sagradas nas duas civilizações. É o choque da ordem sagrada da justiça versus a ordem profana da exploração do homem nas mãos de seu próximo; profanar a justiça de Deus para o benefício (a curto prazo ou mundano) dos que se rebelam contra a justiça de Deus. “

Dorian Gray revisitado

Williams fornece um exemplo concreto para ilustrar esses conceitos abstratos: “O problema é que, embora todos saibam que a exploração do 3º Mundo nos séculos 19 e 20 pelas potências ocidentais foi injusta e imoral, essa mesma exploração continua até hoje. A continuação dessa injustiça ultrajante é a base definitiva para as diferenças existentes entre o Irã e os Estados Unidos, que continuarão inevitavelmente enquanto os EUA insistirem em suas práticas de exploração e enquanto continuarem a proteger os governos de protetorados norte-americanos, os quais só sobrevivem contra a vontade avassaladora do povo que governam, por causa da presença deformante e viciante das forças americanas que os sustentam para que continuem a servir aos interesses dos EUA, não aos interesses dos respectivos governados. É uma guerra espiritual pelo estabelecimento de justiça e autonomia no 3º Mundo.

O Ocidente pode continuar a parecer bem aos seus próprios olhos, porque controla reality-show dito “realidade” (o discurso mundial), mas sua imagem real é bem clara para todos verem, embora o Ocidente continue a se ver como Dorian Gray, no único romance de Oscar Wilde: como uma pessoa jovem e bonita cujos pecados só apareciam num retrato. O ‘retrato’ reflete a realidade que o 3º Mundo vê todos os dias, enquanto o ocidental Dorian Gray continua a se ver como é retratado pelas CNNs e BBCs e New York Times do mundo.”

“O imperialismo ocidental na Ásia ocidental é geralmente simbolizado pela guerra de Napoleão Bonaparte contra os otomanos no Egito e na Síria (1798–1801). Desde o início do século 19, o Ocidente tem sugado a veia jugular do corpo muçulmano político, como um verdadeiro vampiro cuja sede de sangue muçulmano nunca é saciada e que se recusou a soltar a jugular muçulmana.

Desde 1979, o Irã, que sempre desempenhou o papel de líder intelectual do mundo islâmico, levantou-se para acabar com esse ultraje contra a lei e a vontade de Deus, e contra toda decência.

Portanto, trata-se de revisar uma visão falsa e distorcida da realidade, devolvendo-a ao que a realidade realmente é e deve ser: uma ordem justa. Mas essa revisão é dificultada tanto pelo fato de que os vampiros controlam o ‘making-of’ da realidade, quanto pela inaptidão dos intelectuais muçulmanos e por sua incapacidade de entender até os rudimentos da história do pensamento ocidental, seja em seu período antigo, medieval ou moderno. “

Há chance de que o ‘making-of’ da realidade seja desmascarado? É possível que sim: Possivelmente: “O que precisa acontecer é que a consciência mundial abandone o paradigma pelo qual as pessoas realmente creem que um maníaco como Pompeo e um palhaço como Trump representariam o modelo de normalidade; que troquem esse paradigma, por outro, pelo qual as pessoas creiam que Pompeo e Trump são gângsteres, reles bandidos, que fazem o que bem entendam, não importa o quanto sejam repugnantes e depravadas as coisas que eles façam, e o fazem com quase total e absoluta impunidade.

E esse é um processo de rejeitar o discurso do paradigma dominante e de se unir ao Eixo da Resistência, liderado pelo mártir general Qāsem Soleymānī.

Não menos importante, esse processo envolve rejeitar o absurdo segundo o qual a verdade seria relativa (e também, desculpe, Einstein, rejeitar o absurdo segundo o qual tempo e espaço seriam relativos); e abandonar a filosofia absurda e niilista do humanismo; e despertar para a realidade de que existe um Criador e que Ele está realmente no comando.

Claro que tudo isso é demais para a mentalidade moderna tão iluminada, que entende tudo de tuuuuuuuuuuuuuudo!”

Aí está. E isso é só o começo. Acréscimos e refutações são bem-vindas. Convocam-se todas as almas informadas: está aberto o debate.

sábado, 18 de janeiro de 2020

VLADIMIR VYSOTSKY / CHARLES AZNAVOUR

                                                   Eh raz esche raz (Meu filho Cigano)

                                                    [versão em francês: Plus rien ne va ]


https://www.youtube.com/watch?time_continue=13&v=qz2u4HvVkEM&feature=emb_logo



Deux guitares
                                           https://www.youtube.com/watch?v=rdkKGmZJhuk

O bardo Vysotsky, prematuramente desaparecido em 1980, com apenas 42 anos, era uma espécie de Jacques Brel soviético, cantor/autor e também actor, que foi muito conhecido e reconhecido para lá da sua morte, embora em vida também fosse muito amado e acompanhado pelo público russo e internacional. O seu estilo como cantor, aparentemente rude, é resultante de uma forma intermédia entre fala e canto. Ele possuía uma voz de baixo-barítono, que ele manipulava com destreza para simular todos os sentimentos. A sua voz e criatividade colocam-no numa posição única.
Mas,  especialmente único, também é Charles Aznavour, desaparecido há bem pouco tempo, e cuja carreira tanto de cantor como como de autor, é completamente ímpar, tal como a de Vladimir Vysotsky. 
Não digo isto por ser uma das mais longas carreiras que jamais existiram, mas porque foram os seus contributos para a canção francesa de meados do século XX tão importantes, que se tornou referência incontornável de autores mais jovens e de interpretes, que têm retomado muitas das canções que deixou. 

Ambos interpretam aqui uma canção cigana, «Duas Guitarras», que evocam as agruras do «filho pródigo» confrontado com o fracasso das suas ambições e se refugia na embriaguês. Uma temática bastante triste, mas quase alegre, devido ao seu final com andamento endiabrado...