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terça-feira, 30 de março de 2021

OLHANDO O MUNDO DA MINHA JANELA - PARTE X

 


Se regressar mentalmente a alguns (poucos) anos atrás, reconheço que, se alguém me viesse contar sobre o quotidiano actual na sociedade, eu não acreditaria

Por isso, aconselho-vos a leitura do texto futurístico, de TE Creus, talvez ficcional, talvez antecipatório.

Este intróito leva-me a considerar a realidade da trapaça do COVID de frente: com efeito, nunca é demais repeti-lo, não é por o vírus ser real e por haver mortes reais, que tudo aquilo que os «esclarecidos» dirigentes e seus conselheiros têm dito e defendido é lógico, é científico, é realista, é humano.

Mas, ainda mais grave, é a passividade e conivência de quase toda a esquerda, cobarde, enfeudada ao sistema, comprada - quanto mais não seja - pelas mordomias (as migalhas) que lhe concede a oligarquia, nos diversos países e mesmo a nível mundial. É detestável o papel que estão a fazer , pois muitos se situam na «vanguarda» da «luta pelo desmascarar dos ditos conspiracionistas» , quando, na verdade, estão a colaborar sem vergonha e sem remates de consciência (ambas coisas de que sempre careceram) na morte da liberdade de expressão.

Os Klaus Schwab, os Bill Gates e os George Soros deste mundo podem sorrir, satisfeitos: em pouco tempo, conseguiram neutralizar discretamente os que se vangloriavam de ser os defensores dos trabalhadores, os que estão na primeira linha da defesa dos direitos humanos, etc... É caso mesmo para dizer, não apenas os neutralizaram como os recrutaram (veja-se o caso de BLM «black lives matter», ou de AF «antifa» e muitos outros pelo mundo fora).

Que amigos (e outros) não gostem do que escrevi, paciência! O facto é que denunciei há um ano, (ver aqui, também aqui) o maior golpe jamais realizado, ao nível global: pois essa análise é corroborada agora, por pessoas muito mais informadas e competentes do que eu. É aquilo que tem de ser dito; assim como aquilo que irei dizer a seguir:

Não seria possível tudo o que vemos: os despedimentos em massa, o esmagamento da capacidade reivindicativa dos trabalhadores, o atirar milhões de pessoas para a precariedade, logo para a doença mental, a depressão e o suicídio... nem tão pouco, a continuação das guerras de desgaste, cruéis e punindo as populações civis inocentes, no Iémen, na Síria, no Afeganistão, ou a ameaça muito séria de guerra a quente, com pontos de fricção em várias zonas no globo (essencialmente nas fronteiras da Rússia e da China), com o triunfo nos neo-cons do Estado profundo nas «eleições» americanas, que deram «a vitória» a um caquético fantoche, às ordens dos bilionários. Não seria possível isto tudo, sem uma traição secular de grande parte da esquerda. Na verdade, ela já tinha traído há muito, só que não tinha tido ensejo de revelar o que era, essencialmente.

Nunca mais voltará o mundo de antes, pois estamos em plena 3ª Guerra Mundial, a qual se compõe de complexas batalhas em diversas frentes, que vão das sanções, com efeitos devastadores nas populações civis dos países «inimigos» (vejam as vítimas no Irão ou na Venezuela, são as crianças, os doentes, os pobres, não são os militares de alta patente nem os governantes, que isso seja bem claro), às guerras por procuração e até à vigilância generalizada e militarização da sociedade civil, nos países dominantes.

Mas, nem tudo são trevas. Assiste-se ao acordar de uma consciência mais humana, mais próxima das muitas espiritualidades que nos legaram milhares de anos de História. 

O cristianismo, o budismo, o islamismo e todas as espiritualidades, não têm «culpa» das distorções, da hipocrisia e da falsidade dos que dizem professar tais religiões...

única luz de esperança que vejo agora, provém das pessoas que sinceramente aderem a qualquer religião, seja a que está mais próxima da minha cultura e modo de sentir, seja de outra. 

Muitos não compreendem que haja valores espirituais, pois os «valores» que eles conhecem, traduzem-se apenas em cifrões, em cotações bolsistas, etc.: São os materialistas vulgares e filosóficos... Para eles, a vida é o desfrutar, o prazer, não têm nenhum respeito ou preocupação com a verdadeira amizade, com o verdadeiro amor, com tudo aquilo que é intrinsecamente humano.   

Eles estão - aparentemente  - triunfantes: Os muito ricos enriqueceram ainda mais, desde há um ano. Sobretudo, consolidaram o seu poder. Para isso, jogou a descida dos padrões morais, sobretudo no mundo «rico», a ideologia do consumismo, hedonismo e egoísmo ostensivos. Também a traição dos chamados intelectuais, com especial destaque para os auto-proclamados defensores dos oprimidos, dos explorados, etc...

Claro que uma grande crise também está prenhe de grandes oportunidades; não apenas de destruição. Eu antevejo que as oportunidades não se limitarão à nova configuração do poder económico, mas também haverá uma «varridela» enérgica nas chamadas elites, nos políticos, na própria tecnocracia. 

Convido os leitores a procurar tudo o que não é relatado, filmado ou transmitido pela média corporativa, mas por fora. Aí, por vezes, encontram-se as mais interessantes e originais formas de pensamento e de organização. 

Os fascistas tecnocráticos são muito persistentes, mas existe já uma resistência: pessoas e grupos, considerados marginais hoje, mas que nos trazem a brisa fresca do futuro, não contaminada pela podridão do presente. Nada está definitivamente traçado.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Etienne de La Boétie e o «Discurso da Servidão Voluntária»



 Conferência de Anne-Marie Cocula:

Etienne de La Boétie e o Destino do «Discurso da Servidão Voluntária»

                           

                          https://www.youtube.com/watch?v=SIfsaH74N_I&t=584s

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Ver também, 

Um vídeo de «Le Précepteur»:


LA BOÉTIE - «A Servidão Voluntária»:

https://www.youtube.com/watch?v=YPW7rDmnH6g&t=39s


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Dois vídeos de Michel Onfray :

- O discurso da Servidão Voluntária -1 & 2

Contra-história da Filosofia, vol. 4-2

https://www.youtube.com/watch?v=fZA6EW82imA

https://www.youtube.com/watch?v=UQCzckJNNeY

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Ainda de Michel Onfray:

La Boétie e Hannah Arendt : O pensamento pós-nazi

(Contra-história da filosofia 23.2)

https://www.youtube.com/watch?v=JIWZzm4dBFI

domingo, 27 de setembro de 2020

ESTULIN EXPLICA O CONTEXTO HISTÓRICO QUE NOS PERMITE COMPREENDER O PRESENTE

 A «ditadura sem lágrimas» de que falava Huxley, está agora a ser implementada... O sistema está a passar de um paradigma, a outro... No passado, estas mudanças de paradigma iam de par com guerras... Porém, agora, uma guerra mundial não é possível (causaria a destruição total da Terra).

Algumas das afirmações neste vídeo, apresentando o pensamento de Daniel Estulin sobre o presente.



sábado, 12 de setembro de 2020

AS DERIVAS SEMÂNTICAS DA PALAVRA «LIBERAL»

 


A História escreve-se com palavras. Estas palavras significam conceitos. Porém, estes conceitos evoluem ao longo do tempo, sendo impossível fixar - como fazem os dicionários e as mentes obtusas - uma definição de uma qualquer palavra, de uma vez por todas, qualquer que seja o contexto histórico, político, cultural, etc.

O caso da palavra «liberal» é interessante. Esta palavra designou, sobretudo no Renascimento, alguém - como um príncipe - que era generoso, um patrono dos artistas, que gostava de dar festas, etc. Aliás, usava-se - ainda há pouco tempo - a expressão «gastar com liberalidade», ou seja, de maneira não-comedida, sem olhar às quantias largadas, como sinónimo de «esbanjar».

Depois, veio a época da luta contra o Absolutismo, uma realeza que não aceitava partilhar o poder, de forma alguma; que se considerava directamente ungida - por Deus - na missão de governar e não iria tolerar que alguém, fosse quem fosse, interferisse com as suas decisões ou, mesmo, somente as criticasse. Esta luta, que durou dois séculos, viu o conceito de liberdade surgir como reivindicação da plebe, depois de ter sido mote das pessoas da alta burguesia e de muita aristocracia, que se consideravam amesquinhadas na sua dignidade de seres humanos, por lhes ser negado aquilo que veio a ser incorporado nas constituições como «liberdades e direitos fundamentais»: a liberdade de expressão, o direito a igual tratamento pelos tribunais, etc. Neste contexto, o da Revolução Americana e das Luzes, o significado de "liberal" era naturalmente aquele que adoptava um ponto de vista anti-absolutista, que considerava que os humanos tinham um natural e intrínseco direito a serem livres.

Com as lutas liberais, cresceu também a força da burguesia. Esta, antes de ter a força política (a partir do final do século XVIII), tinha força como classe económica. Questões do comércio, dos mercados, da banca, da indústria, eram com ela. A sua ideologia considerava que era absolutamente necessária uma liberdade de comércio, que proteger o mercado nacional, impedindo ou dificultando a importação dos produtos, que pudessem competir com os nacionais, era «intolerável». Os que consideravam tal «liberdade do comércio» absolutamente essencial,  também se auto-designavam como «liberais». No entanto, muitas vezes, eram os mais contrários à liberdade do povo em se auto-organizar, em construir partidos e sindicatos independentes, etc. 

O liberalismo, mais tarde, surge como eufemismo, para designar forças que advogavam o domínio, sem partilha, do capital sobre o trabalho, como se não fosse anti-liberal (no sentido original do termo) proibir reuniões e a expressão das ideias dos trabalhadores, dos operários. Estes ditos liberais não tinham qualquer prurido em reprimir greves reivindicativas dos trabalhadores. 

O chamado neo-liberalismo, com seu cortejo de ideólogos globalistas, afirmou-se mais recentemente. Corresponde ao capitalismo tardio, em que os monopólios estão ao comando, não somente dos mercados, como das próprias políticas estatais. Observa-se o triunfo desta ideologia, a partir da presidência de Ronald Reagan nos EUA e de Margaret Thatcher no Reino Unido, no final da década de 1970. O neo-liberalismo é uma reacção, no seio da classe possidente, à época «social-democrática», que predominou sobretudo na América e na Europa Ocidental, durante a fase de reconstrução, após a IIª Guerra Mundial.

Também existe uma clivagem no significado do termo, de um lado e de outro do Atlântico: Nos EUA, «liberal» significa - muitas vezes - o que os europeus designam como «de esquerda» ou «progressista». No discurso político institucional americano, «socialismo» tem uma conotação negativa. Na sua mentalidade, «esquerda» e «esquerdismo», também, na medida em que - sobretudo na Europa -  têm forte conotação com ideologias de radicalismo social (socialismo, social-democracia, comunismo, anarquismo...). Inventaram então uma designação «edulcorada», para aqueles cujo comportamento se inclina mais para a esquerda, por vezes em termos sociais, apenas: Por exemplo, uma pessoa que seja favorável à legalização do aborto; ou alguém que é crítico do comportamento das grandes corporações, em relação aos consumidores, aos seus próprios trabalhadores, ou ao ambiente, etc, etc. 

Mas, os EUA, também é o país do «politicamente correcto», pelo que os chamados «liberals» - nos EUA - não têm pejo em lançar o anátema contra as pessoas com ideias conservadoras ou, simplesmente, diferentes das suas, em aspectos da vida, desde a sexualidade, à religião, passando pelas doutrinas económicas ... ou seja, pessoas que estão somente a exercer o livre direito de exprimir sua opinião.

Este pequeno apanhado deixa de fora alguns usos da palavra «liberal». 

Eu quis apenas sublinhar a ambiguidade do discurso, mormente político, na utilização do termo. Assim, pode alguém estar a usar o termo num sentido e este ser interpretado noutro. Alguns políticos procuram até esta ambiguidade, para «agradar a gregos e troianos».


  


terça-feira, 1 de setembro de 2020

FEUDALISMO, CAPITALISMO, NEO-FEUDALISMO : VISÃO DA HISTÓRIA

                                 Medieval knight Royalty Free Vector Image - VectorStock

Vou arriscar apresentar uma visão histórica, embora eu não seja mais do que um curioso, interessado em estudar a História, sobretudo para compreender as dinâmicas do presente, pois quem não conhece o passado, não consegue interpretar correctamente o presente, mesmo que seja dotado de muita inteligência e acumule muita informação. Com efeito, a dimensão histórica, se não explica tudo do presente, pelo menos, explica a dinâmica que levou ao estado presente das coisas. Tudo o resto, é uma espécie de «espuma», de acontecimentos superficiais, que não desencadeiam real mudança de rumo nas sociedades, por mais que causem uma transitória comoção.

Assim, as pessoas deveriam compreender a profundidade do sistema em que nos encontramos hoje em dia mergulhados, indo muito mais além dos sistemas políticos instaurados com o liberalismo. Isto é, a maior parte das pessoas faz remontar o sistema de governo às revoluções liberais e democráticas, que sacudiram o Ocidente e depois se espalharam pelo Mundo, começando pela revolução americana, na segunda metade do século XVIII, a revolução francesa, nos finais do mesmo século, as revoluções da América Latina, desde os primeiros decénios do século XIX e as revoluções europeias ao longo do século XIX. Estas, eram essencialmente republicanas e estavam misturadas com uma forte componente nacionalista. 

Porém, uma análise do sistema de governo, no sentido mais amplo, deve incluir muito mais que o governo, o poder político propriamente dito: também é essencial a análise da propriedade, a influência da religião e da Igreja (ou Igrejas), assim como o modo como o povo se relaciona com as classes dirigentes.

Com o feudalismo nos países do Ocidente europeu, que se veio a instalar em consequência do desmoronar do Império Romano, nos séculos IVº-Vº, verifica-se a fase de conquista por povos germânicos - Godos, Visigodos, etc.- que estão interessados em fazer valer seus direitos de conquista sobre terras que foram do Império romano. Para tal, precisam de se fazer legitimar como reis e senhores de determinado território, por vezes uma província do antigo Império, por vezes menos que isso. Eles precisavam do aval da autoridade espiritual, da Igreja. Apenas ela - nesses momentos conturbados - faria com que os seus súbditos aceitassem as novas entidades reinantes, visto que tinham a unção de Igreja. Mas, muito cedo começou a haver contendas e lutas pelo poder, no interior desses reinos, sendo indispensável para o rei local distribuir terras e os rendimentos associados, por seus tenentes, seus colaboradores, seus parentes. Nasce então o feudalismo, onde o poder do rei se torna apenas virtual ou nominal, para além do palácio real e das terras directamente possuídas pela coroa e administradas em nome dela. Nos territórios dos duques, condes, marqueses e barões, estes tinham poder e exerciam-no como senhores das terras e das gentes que aí viviam. É um facto que eram vassalos do rei, porém sua dependência quase se resumia a serem obrigados a tomar armas e levantarem tropas, nos territórios que administravam, em caso de guerra. Esta situação de dependência militar do rei, em relação aos senhores feudais teve como consequência que o rei caísse na dependência daqueles. Os senhores feudais tinham imenso poder e não hesitavam demarcar-se do rei, quando este tentava interferir com o que consideravam ser as suas competências e privilégios. 

   Como o rei tinha pouco poder - de facto - em muitos casos, os mercadores, artesãos, camponeses, estavam sujeitos a uma multidão de regulamentos e de obrigações. Estas dependências não se limitavam aos senhores feudais, pois incluíam a Igreja, que se comportava exactamente como grande senhor feudal, ela própria: Recolhia impostos sob forma de géneros e de trabalho, dos que viviam nas suas terras, ou sob sua jurisdição. É por isso que a burguesia, desde muito cedo, reforçou o poder dos reis (por exemplo, em Portugal uma revolução popular e burguesa pôs no poder um novo rei, D. João I). 

O poder dos reis vai afirmar-se contra o poder da aristocracia, em múltiplos casos, nos vários reinos europeus. A Igreja foi muitas vezes aliada dos reis, neste jogo de limitar o poder da aristocracia. Do mesmo modo, a burguesia foi cooptada, através de vários mecanismos, que lhe permitiam aceder ao estatuto de nobreza, sendo frequente haver nas cortes (parlamentos), um partido constituído por nobreza hereditária e outro por nobres mais recentes, «a nobreza de função».

O absolutismo, que resultou na eliminação dos aspectos potencialmente perigosos, para a autoridade real, do feudalismo, foi consolidado pela aliança entre os reis e a burguesia. Muito depressa, esta vai ter um papel decisivo na condução das diversas políticas, com excepção do comando militar, domínio reservado à nobreza antiga, a «de sangue». 

Fazendo um salto no tempo, por cima das revoluções democráticas e burguesas, que se desenrolaram ao longo dos dois séculos e meio anteriores, verificamos que, hoje em dia, se está perante um enfraquecimento do Estado, o substituto da figura do rei (atribui-se a Luís XIV a frase: «o Estado sou eu»). Está-se perante a destituição do poder do cidadão: a cidadania nominal deixou de ter conteúdo real. A partir das técnicas de manipulação da opinião pública, desde os meados dos anos 20 do século passado, os poderosos puderam manter ou recuperar o controlo sobre os cidadãos: controlando a mente, a vontade, os desejos, os sentimentos, pela propaganda («public relations»), sempre mais sofisticada e universal.

As constituições são apenas papéis, com umas palavras impressas, que se agitam quando se quer fazer valer determinada posição, mas que, nem os que se encontram no poder, nem as oposições, realmente respeitam, nem querem fazer respeitar.

 O poder, no século presente e já no anterior, é sobretudo económico, encontra-se na mão das corporações, conglomerados gigantes, possuindo ramos inteiros de indústria, fatias consideráveis da riqueza das nações, até mesmo com rendimento superior ao P.I.B. de várias nações e não das menores. 

Quem está à frente dos bancos, ou multinacionais das indústrias  tecnológicas, é - para todos os efeitos práticos oligarquia, ou seja, senhores feudais. São pessoas efectivamente tão poderosas como os senhores feudais. Mas, os senhores feudais da Idade Média exerciam seu poder em reinos, muitas vezes, de pequenas dimensões. Hoje em dia, a oligarquia exerce seu poder ao nível mundial e fá-lo com garantia de ser intocável, de estar muito acima dos poderes políticos, que - apenas teoricamente - se poderiam colocar ao mesmo nível que os poderes dos monarcas, dos Estados da era feudal. O poderio desta oligarquia globalizada exerce-se ao nível de organismos internacionais «públicos», como a OMS, em que as multinacionais farmacêuticas e fundações, como a de Bill e Melinda Gates, exercem a suserania, colocando seu secretário-geral num papel de mero fantoche.

O mesmo acontece com o complexo militar-industrial, mormente nos EUA, em que os sistemas ditos de «defesa» são cada vez mais caros, exercem uma punção cada vez maior no orçamento federal, mas isso é conseguido graças aos poderosos grupos de influência, «lobbies», destinados a favorecer os negócios destes fabricantes de instrumentos mortíferos. Os lobbies que circundam os locais de poder executivo e legislativo - o Pentágono e as Câmaras dos Representantes e o Senado - dispõem de rios de dinheiro, que lhes permitem comprar as boas graças de quem quiserem. 

Com efeito, o sistema dito «representativo», enferma dum grave problema: quaisquer políticos, para conseguirem ser eleitos, têm de ter muito dinheiro para pagar as campanhas eleitorais, muitos milhões. Estes números são tais, que é impossível imaginar que através de donativos modestos, de muitos seguidores ou simpatizantes, se pudesse igualar o que recebem como «donativo» (na realidade, investimento) de empórios bancários e financeiros, da construção, das indústrias químicas, farmacêuticas, turísticas, etc, etc. O problema é simples de resolver, em teoria, mas na prática, é impossível, pois a maioria dos políticos, quer enquanto membros de partidos, quer a título individual, irá sempre impedir à nascença, ou fazer abortar, quaisquer projectos legislativos que verdadeiramente impedissem que o mundo empresarial comprasse suas influências junto da casta política. 

Temos - portanto - uma partição muito assimétrica do poder, entre os servos e os senhores: os servos estão destituídos de poder verdadeiro, incapazes de fazer valer sua vontade, na «coisa pública», a todos os níveis. As suas armas são irrisórias, face ao armamento das polícias. Comparativamente, as armas dos servos medievais eram mais eficientes, face aos soldados dos senhores feudais.

 O armamento, nos Estados modernos, não apenas é muito mais sofisticado, como não deve ser visto apenas como limitando-se a armas de fogo: os dispositivos de vigilância electrónica, as câmaras de vídeo que filmam locais públicos, etc., um aparato muito diversificado, que tornam qualquer tentativa de revolta armada um jogo suicida, da parte dos revoltosos.

Torna-se quase impossível a dissidência política verdadeira. O que se verifica é cooptação de pessoas e partidos que tradicionalmente se colocavam do lado do povo, dos trabalhadores, contra os poderosos. Quanto à revolta niilista, à partida, não tem qualquer objectivo político. O revoltado (não digo «revolucionário», note-se) vai quebrar umas montras, confrontar-se com a polícia, etc., mas isto não implica qualquer estratégia contra o poder. Podem sempre dizer que estão a «deslegitimar» o poder mas, na verdade, estão a fazer o contrário; estão a dar pretexto para o mesmo poder recorrer à repressão, com mão cada vez mais pesada, com o pretexto de que está perante opositores violentos ... A própria polícia, o próprio Estado, têm interesse em que se dêem incidentes violentos, para melhor poder reprimir manifestantes pacíficos, apanhados no meio de um motim.

Realmente, não existe solução, a não ser que haja um despertar, uma tomada de consciência, dum número elevado de pessoas, que compreenda que o poder pode estar nas suas mãos, se se unirem em busca de uma solução. Uma acção política de massas continuada é mais difícil de se realizar do que no passado. Mas, alternativas como movimentos niilistas, apenas desejosos de extravasar violência, ou cidadãos disciplinados, dispostos a votar naqueles que - na própria legislatura ou na seguinte - irão trair os compromissos assumidos com os eleitores... não são alternativas!

Entendo por acção política de massas continuada, uma rede de centros (ou grupos, colectivos) onde se tomam iniciativas destinadas a melhorar o quotidiano, sendo através de tais formas concretas que se podem forjar novos relacionamentos e uma nova cultura, não-tributária do circo eleitoral (isso inclui - obviamente - as eleições municipais). 

Sei que é possível grupos de pessoas construírem esta dinâmica, já participei nalguns desses grupos com tais características e tenho conhecimento sobre muitos outros. 

sexta-feira, 19 de junho de 2020

A HISTÓRIA RIMA OU ECOA?

                                 Mark Esper opposes the use of Insurrection Act


Diz-se da História, que não se repete, mas que rima. Mais do que rimar, parece-me que ecoa.

São ecos de um passado histórico, que se desenvolveu em determinadas circunstâncias e são estas que não se repetem. Não existem já as circunstâncias que originaram um determinado complexo de factos, que vieram a desencadear tal ou tal acontecimento histórico. 

Mas a história é feita por homens e mulheres, por seres de paixões, de razão e sentimento: as suas tomadas de decisão, abertas ou ocultas, têm uma lógica, mas não será uma lógica causal linear - as mais das vezes - será um enovelado de causas, difícil de destrinçar.

Tudo isto para dizer que a presente situação mundial se parece com certas outras épocas: podemos encontrar «ecos» desta, em várias situações da história do século XX. 

No contexto de crise profunda actual, vem-nos à memória aquilo que sabemos da grande depressão de 29-33 e das suas funestas consequências. Muitos pensadores consideram que existe uma ligação forte do presente, com certos aspectos daquela época. 

- Em 1929, a fase aguda iniciou-se com um «crash» na bolsa, depois disso houve uma falsa retoma. Seguiu-se uma crise de falências, com deflação, paralisia do tecido produtivo e do comércio, um retraimento do investimento, desemprego massivo. 

- Em 2020, houve uma enorme quebra das bolsas em Março, seguida por uma falsa subida em Junho.

- A «resposta» política de então foi, por um lado, a subida do nazismo ao poder, a Alemanha de Hitler e, por outro, o «New Deal» nos EUA, com Roosevelt, mas, sobretudo, a subida das tensões bélicas, das guerras «limitadas», do reactivar dos nacionalismos e o «balão de ensaio», a tragédia da guerra de Espanha, dita «civil», mas também e sobretudo banco de ensaio para as potências da altura fazerem guerra por procuração e experimentarem os armamentos novos em teatros de guerra reais.

- As oligarquias que dominam hoje, não estarão interessadas em um novo fascismo puro e duro, mas estão empenhadas em esvaziar as democracias liberais de todas as liberdades significativas. Por isso, esmagam as classes médias, um suporte fundamental esta democracia liberal. 
Estão a pensar num novo «New Deal», mas onde uma pequeníssima classe dos mais afortunados continuará usufruindo dos privilégios do poder. 
As tensões e guerras por procuração -nos dias de hoje -entre as principais potências, multiplicam-se. Vigora, há pelo menos 20 anos, desde a guerra da Ex-Jugoslávia, um estilo de guerra híbrida: os EUA e aliados por um lado, contra o «eixo Russo-Chinês» e aliados, por outro. 

- Nos anos 30 do século passado, um império em decadência (o britânico) tinha dificuldade em manter um semblante do extenso poderio que possuiu durante século e meio. Tinha um aliado-competidor, os EUA, a maior potência industrial mundial que recebera, ao longo da Primeira Guerra Mundial as encomendas e cobrou as dívidas -literalmente- a peso de ouro aos impérios coloniais britânico e francês. 

- Hoje em dia, o império em decadência é os EUA e o seu competidor, a China. Esta transformou-se no motor da produção industrial mundial. Tornou-se a nação com o maior comércio de exportação. Os dólares obtidos neste comércio mundial são, em grande parte, convertidos em ouro. A quantidade de ouro que acumulou a China, no Banco Central de Estado e nas mãos de particulares, seria de cerca de 20 mil toneladas, segundo opinião de muitos especialistas. 
O ouro -supostamente - 8 mil toneladas, armazenadas pelos EUA em Fort Knox, além de não ser sujeito a auditoria desde os anos 50, estaria implicado em operações obscuras e roubos, atribuídos aos clãs Bush e Clinton. 

Podia-se alongar o rol de casos e de circunstâncias presentes que evocam, ecoam, o que se passou entre as duas Guerras Mundiais do séc. XX. 
Porém, estou convencido que agora é muito diferente, a um nível mais profundo, porque - agora - o capitalismo atingiu o seu grau de expansão máxima. Antes, ele tinha os mercados coloniais ou neo-coloniais, para extrair as matérias-primas, os países pobres da periferia do capitalismo que estavam obrigados a comprar equipamentos, produtos de consumo corrente e mesmo alimentos, aos países dominantes.
Desde há mais de trinta anos, há praticamente uma estagnação da produção industrial no mundo ocidental, não apenas porque o capitalismo já não consegue expandir-se, como também porque não consegue extrair lucro suficiente da manufatura dos bens industriais.
A globalização foi uma fuga para a frente, para conseguir extrair mais alguma mais-valia, super-explorando a mão-de-obra do mundo em desenvolvimento.
Agora, a globalização está morta e não há qualquer possibilidade de ela reviver. O que se perfilha -no imediato - é um período muito duro para as classes laboriosas em todo o mundo, quer nos países «pobres», quer nos países ex-«ricos». 
Porém, a guerra generalizada não é uma saída real, pois a elite sabe que esta iria degenerar em guerra nuclear, onde só haveria vencidos, não haveria vencedores reais. 
Por isso, a oligarquia está a pôr em marcha uma sociedade de controlo total, servindo-se da pandemia viral, como pretexto para instalação dum estado de vigilância generalizado, dum controlo totalitário sobre os corpos (quem não ficar vacinado, não terá direito a quase nada), com suspensão de qualquer veleidade de ordem constitucional e de «Estado de Direito». Ela arroga-se, sob pretexto de «pandemia», acionar a bel prazer «estados de emergência ou de calamidade pública», ou outros eufemismos de lei marcial. 

            
Especialmente, irão recorrer a isso nos pontos do globo onde surjam grandes tensões, resultantes das condições criadas: restrições, brutal empobrecimento, perda das liberdades concretas. 

As grandes ruturas sociais já se estavam a desenvolver há décadas, tal como falhas tectónicas, onde vai aumentando a tensão, paulatinamente, apenas com uma pequena agitação, uma sacudidela pequena... de vez em quando. Mas, se crescem demasiado estas forças telúricas ao nível das falhas, dá-se um tremor de terra. Sabe-se que, quanto maior for a tensão acumulada, maior a violência do tremor de terra. 
Penso que a analogia sísmica é adequada, não porque a sociedade se mova por forças mecânicas, mas porque o grau de frustração decorrente duma opressão demasiado grande, provoca nas massas uma transformação:
- Elas deixam de ter confiança nos dirigentes habituais. Percebem que poderão sair da situação de aperto apenas por elas próprias. Sabem, confusamente, que a resolução dos problemas que as afligem não pode vir do alto. No final, vão agir e derrubar a ordem vigente, para construir a nova sociedade. 
Não estamos ainda neste ponto, mas a hipótese do despertar revolucionário não é de excluir. 
Os oligarcas tudo têm feito para desviar e enganar as pessoas revoltadas, que se atiram contra símbolos do poder (destroem estátuas de personagens históricas) ou pequenos comércios, de outras pessoas tão vítimas como elas. Não têm tido como alvo o próprio poder, os quartéis-generais da ordem que os oprime, os governos, os ministérios, as mega-corporações, os bancos, os bancos centrais e as instituições do globalismo... 

Neste caso, a História que se está desenrolando sob nosso olhar, rima ou ecoa a convulsões passadas. Espero que não continue assim. Pois isso significaria que, passado o tumulto da insurreição, o entusiasmo da revolução, volta tudo ao mesmo: apenas mudam as coisas, «na medida necessária para que fique tudo na mesma». 

Oxalá que desta vez, a História, ela não rime, nem ecoe... Pois, se tudo for diferente, significa que se está dando a verdadeira transformação da sociedade. 
Uma transformação profunda, que ocorre uma vez por milénio...

sábado, 6 de abril de 2019

A NATO…É PRECISO ACABAR COM ELA!


Oh! Essa frase do chefe do estado maior português, «se não existisse NATO, tinha de ser criada agora» ou seja, para pessoas como ele, militares de alta patente terem sempre algo com que se entreter, com que fazer carreira… Desgraçado país de escravos que beijam os seus grilhões! Desgraçado país em que poderosos se esmeram em servir de bandeja, aos mais poderosos que eles, aquilo que é dos pobres, a sua própria vida, a vida dos pobres…claro! 
Esta é uma época em que os responsáveis pelas guerras morrem longe delas, no conforto da cama, em casa ou no hospital, enquanto os soldados são enviados para a chacina e os civis, os ditos «danos colaterais», contam-se às dezenas de milhares e morrem esquecidos de todos os que não são da sua família.

Nunca achámos gloriosa a guerra, porém, estes generais e almirantes da NATO são o exacto oposto do que as histórias romanceadas contam sobre os chefes guerreiros de tempos idos. O «chefe» de hoje, pode comandar uma divisão da NATO, mas tem exactamente a mesma mentalidade submissa que um lacaio, um «chefe de repartição»… nada mais são do que chefes de repartição em uniforme.
É por causa desses indivíduos e dos políticos, que se abaixam ainda mais, na sua procura de agradar a todo o transe, que as pessoas continuam, equivocadas, apoiando os partidos da guerra (pro-NATO) e mesmo a festejar a sua pertença ao império, que nos manteve durante setenta anos em servidão! 
Durante sua pertença à NATO, nunca Portugal foi independente! Os adoradores de Salazar, que se dizem nacionalistas, acaso saberão que a «esperteza saloia» do ditador de Santa Comba foi vender Portugal, com a sua posição estratégica, o seu volfrâmio, o seu urânio, etc. a quem melhor garantisse o seu trono: primeiro, aos alemães de Hitler, depois aos anglo-americanos???



Mas este povo está tão doutrinado por um falso patriotismo que, nem sequer em relação ao século XX, consegue retraçar – com um mínimo de verdade – a história de Portugal. Caso fosse consciente da verdadeira História, imediatamente  compreenderia o papel subordinado que foi dado a Portugal, a utilização do seu povo para combater as guerras dos outros, nas colónias, nesses longos anos de guerra inútil e inglória, para proveito dos mesmos anglo-americanos e outros, mantendo na metrópole o país sub-desenvolvido e à mercê da predação dos seus despojos, dos nacos apetitosos e rentáveis que sobravam. 
A NATO, se existe ainda, é preciso acabar com ela, quanto antes. É preciso acabar com esta aliança que nada tem de «santa», cuja finalidade é perpetuar a guerra, o estado permanente de guerra, em tudo contrária aos interesses dos povos, apenas satisfazendo um punhado de industriais do armamento e uma clique de parasitas militares e políticos, que vivem uma tranquila vida de privilégios e mordomias, enquanto enviam os soldados para os diversos «teatros de guerra» ou seja, para o inferno. 
Eles, que se refastelam nos estados-maiores e ministérios, nunca viram de perto um campo de batalha (ou se o viram, foi há muitas décadas…), não se inibem de  exigir mais e mais despesa, para comprar seus «brinquedos mortíferos». Eles sabem perfeitamente que as infraestruturas do país estão a cair de podre, sofrendo de sub-investimento crónico durante décadas, como as escolas públicas (as dos pobres, não os colégios para os ricos) ou os hospitais públicos (… não os privados, que são para os ricos).
Vão para o diabo vos carregue, militares de alta patente, servis criados do império, participando no poder, festejando o jugo da NATO, com cinismo. Sois traidores à pátria que juraste defender, pois sabeis perfeitamente que a vossa lealdade primeira é ao povo deste país e não aos senhores da guerra, que vos dão ordens, no seio da NATO.

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

RELAÇÃO AMBÍGUA DE PORTUGAL COM O SEU PRÓPRIO PASSADO

                          Portugal


A proclamação da república em 5 de Outubro de 1910 foi resultante de um golpe civil-militar que conseguiu derrotar militarmente as últimas forças fiéis ao monarca. D. Manuel II subiu ao trono em 1908, depois do regicídio que vitimou D. Carlos e seu irmão, o príncipe herdeiro, D. Luís Filipe.

                    Imagem relacionada

A história dos tempos conturbados da 1ª República e os que precederam a revolução republicana de 1910, está ainda largamente ignorada pelo grande público. 
Os republicanos dos finais do século XIX eram um grupo heterogéneo, tanto nas classes sociais, como nas ideologias. Havia alguns com uma concepção «social» da república, nomeadamente os que tinham militância ou afinidades com os movimentos operários, muito influenciados pelos ideais socialistas e anarquistas. 

               

Mas outros, eram membros da grande burguesia, industrial ou latifundiária, cujo fim era a implantação de um regime que favorecesse o desenvolvimento industrial do país. 
A grande massa porém, era constituída por funcionários públicos, por empregados do comércio e serviços, sobretudo na capital e nas grandes cidades, imbuídos de um republicanismo com colorações nacionalistas. 
Não esqueçamos que o Partido Republicano explorou a veia nacionalista aquando do episódio do «ultimato», da humilhação sofrida por Portugal face à aliada Grã-Bretanha («a pérfida Albion»). 
Muitos republicanos da viragem do século XIX para o século XX eram firmes defensores do colonialismo português. Muitos tinham uma visão paternalista da relação do povo colonizador com os povos colonizados. Um destacado exemplo disso foi Norton de Matos, escolhido pela oposição republicana como candidato presidencial em 1948, o qual tinha tido uma larga carreira como administrador colonial em Angola

É um erro projectar os valores dos finais do século XX na mentalidades do início deste mesmo século. A chamada «república democrática», foi tudo menos democrática, pelos padrões comuns hoje em dia. 
- A eleição parlamentar era censitária: Só quem fosse instruído e tivesse um mínimo de rendimento podia votar. Os deputados eram eleitos por círculos desenhados de acordo com as conveniências do poder. As mulheres, em geral, estavam arredadas dos cargos públicos. Muitas eleições tinham uma taxa de participação muito fraca. Eram frequentes as «chapeladas» (fraudes eleitorais).  
- Os operários eram reprimidos violentamente, durante as greves. Afonso Costa era admirado e louvado, em certos meios, por ter «quebrado a espinha» aos movimentos grevistas. As prisões enchiam-se de sindicalistas e outros militantes operários. 
- Havia uma polícia política em embrião, ligada ao aparelho do Partido Republicano. 
- A corrupção era potenciada pela instabilidade política e pela desorganização da economia. 
- O anti-clericalismo radical de certos políticos favoreceu a aliança entre os conservadores republicanos, os monárquicos e o clero. Esta aliança esteve na origem do peculiar fascismo clerical português. 

No golpe de 28 de Maio de 1926, que veio proporcionar a posterior ascensão de Salazar, participou uma facção republicana do exército. Talvez por isso Salazar nunca se tenha atrevido a restaurar o regime monárquico, como o fizera Franco, o outro ditador ibérico. 

Uma obra da república com verdadeiro mérito foi o esforço enorme, apesar das condições económicas, para alargar a alfabetização do povo, para propagar um ensino laico e de acordo com os métodos pedagógicos mais avançados para a época. 
Foi esta obra, a da educação pública, que Salazar se esmerou em anular, fechando as Escolas do Magistério Primário, centros de formação de professores primários, instaurados pelo regime republicano desde muito cedo, e entregando a instrução primária ao clero e «regentes escolares» com formação rudimentar, para educação das classes pobres.

Hoje em dia há uma larga ignorância das pessoas em relação ao seu passado, não tão longínquo. 
Tal como em relação à história do colonialismo, em relação à da Iª República, há imenso a fazer: sobre os antecedentes, o conturbado período de sua vigência, ou o seu derrube. 

O povo português ignora importantes períodos da sua história, particularmente os finais do século XIX e a primeira metade do século XX. Na forma como é ensinada no ensino básico e secundário, é reduzida a uma série de chavões e lugares-comuns, que mais ocultam a verdade do que realmente esclarecem sobre os factos. 

Um povo que ignora o seu passado não pode compreender o presente, pelo que está mais susceptível de ser enganado e arrastado para falsas soluções.   


quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

XAMÃ João Mendes: «uma carta a Jesus»

Uma carta a Jesus.
Santíssimo Sr. e Mestre Jesus de Nazaré. Com todo meu respeito invoco aqui o seu nome fazendo-me presente a vossa majestade.
Mestre, eu me chamo João Mendes e tenho 64 anos prestes a completar os 65, estou escrevendo esta carta para contar ao Senhor o que aconteceu no mundo depois da sua ressurreição e a ascensão aos céus.
Bem como já estava agendado o seu irmão Tiago e o apostolo Pedro iniciaram a sua Igreja qual estava funcionando muito bem em Jerusalém, muitos aderiam as ideias pacíficas do Mestre em comparação ao que era pregado no judaísmo actual e sua Igreja crescia em todas as direcções.
Com a derrota da Grande Revolta Judaica contra o domínio romano, no ano70, Jerusalém foi tomada pelas forças do comandante romano, Tito. Outra vez, as muralhas e o templo de Jahwe (que o rei Herodes, o Grande, ampliara e embelezara, tornando-o portentoso) foram destruídos, e o resto da cidade voltou a ficar em ruínas, sem contar com os milhares de mortos e a miséria que se espalhou nesta cidade por muitos anos.
Em 135, o imperador Adriano mandou arrasar a cidade, ao cabo da revolta judaica liderada por Simão bar Kokhba. Sobre os restos de Jerusalém, edificou-se uma cidade helênica (Élia Capitolina) e sobre o monte onde se erguera o santuário de Jahwe, erigiu-se um templo dedicado a Júpite.
Lembro-me de palavras suas dizendo.
Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste! Eis que a vossa casa vos ficará deserta. Porque eu vos digo que, desde agora, me não vereis mais, até que digais: Bendito o que vem em nome do Senhor! Mat.23:37
O termo Igreja Primitiva é utilizado para se referir à um período histórico do cristianismo e da Igreja Católica entre 30- 325 d.C. O termo Igreja Primitiva refere-se a instituição do cristianismo primitivo e suas doutrinas. Neste período a Igreja estava engajada em diversas discussões acerca dos conceitos cristãos. Inicialmente cinco cidades surgiram como importantes centros da igreja: Roma, Jerusalém, Antioquia, Alexandria e Constantinopla.
Em 330 funda Constantino uma nova cidade na Grécia e a chama de nova Roma
Tratava-se, no entanto, de uma cidade puramente cristã, dominada pela Igreja dos Santos Apóstolos que era uma nova versão da Igreja católica ou a própria.
Durante este período os cristãos por vezes eram perseguidos e por vezes perseguiam e matavam os não cristãos, Quais eles denominavam de pagãos ou hereges.
Mestre este tipo de igreja e de cristianismo não me representam em seu nome, também não reconheço nem um concílio criado por esta igreja ou por este cristianismo desde então.
Mestre nos séculos de XIII-XVI aconteceram muitas coisas que me deixaram estarrecidos. Primeiro veio o santo ofício ou Inquisição criada e dirigida pela Igreja Católica Romana. Ela era composta por tribunais que julgavam todos aqueles considerados uma ameaça às doutrinas do cristianismo (conjunto de leis) desta instituição. Todos os suspeitos eram perseguidos e julgados, e aqueles que eram condenados, cumpriam penas perpétuas ou eram torturados até a morte ou queimados vivos na fogueira em plena praça pública.
Senhor meu Jesus me sinto envergonhado e triste por este tipo e prática de cristianismo completamente inspirado pelo poder do mau:
Muitas guerras e perseguições são feita pelos cristãos na tentativa de converter as pessoas ao cristianismo até mesmo os próprios judeus sofreram perseguições.
No século XIV inicia-se as grandes descobertas com a sua cruz como símbolo na proa de cada caravela e com ela a morte e a desgraça de milhões de nativos nos novos continentes e tudo isto em seu santo nome.
Em 1517 veio finalmente a reforma da igreja com Martinho Luthero
  um monge agostiniano que pregou uma proposta de reforma nas portas da igreja de Wittenberg, debatendo a doutrina e prática de indulgências. Esta proposta é popularmente conhecida como as 95 teses, que foram pregadas na porta da Igreja do Castelo (Schlosskirche). Em 1520 a igreja se separa dando inicio a igreja Luterana da qual nasce dezenas de denominações.
O papa
Calisto III, em 1456 seguido de Sixto VI, em 1481, e Leão X, em 1514). Declaram que negros e indios não tem alma por isso tambem não sentem dores como os não negros. E desta forma segue o cristianismo maltratando as gerações com escravidão e morte.
No seculo 17 e 18 nasce grandes criticos dos systemas religiosos na Europa forçando a população da época a pençar em outros termos mais humanistas criando assim novas sociédades cristãs.
Meu querido Jesus as igrejas de hoje em dia me pertubam a mente e o coração, vejo tanta ipocrisia nelas que só a metade já me era suficiente. Vejo o templo de salomão ser outra vêz erguido e a Arca da aliança refeita, desta vêz sendo carregada por falços levitas, Vejo igrejas vendendo tijolinhos de Deus, vassouras ungidas. Fronhas bentas, cuécas e caucinhas sagradas para quem quer ter filhos e uma série de outros fetiches e amuletos que pertencem mais as práticas dos povos primitivos.
Vejo igejas incoroporando rituais de Ubanda e Candonblé em seus cultos, que êles o chaman de Reteté ou Macumba evangélica,  pessoas recebendo espiritos e incorporando transes, danças em cima de tijols e telhas quebrada além dos ritos a deusa do mar Yemajá.
Mestre, tenho que lhe confeçar do fundo do meu coração,  não reconheço estas formas de cristianismo de adoração e louvor,  portanto os renego e me envergonho de tomar a palavra cristão sobre mim.
Em frente toda essa vasta corrupção na tua igreja venho a refletir o seu encontro com a mulher samaritana junto ao poço de Jacó.
Logo depois que éla percebe que o senhor é um profeta judeu ela  lhe dirige uma profunda pergunta ; Senhor, nossos pais adoraram sobre este monte, e vos outros dizeis que em jerusalem é o lugar onde se deve adorar a Deus, e o Senhor responde, mulher, cre em mim, é chegada a hora em que vos não adorareis o pai nem neste monte nem em Jerusalem. A hora vem, e agora é, quando os verdadeiros adoradores hão de adorar o pai em espirito e verdade.
Eu entendo muito bem que isto significa que temos que adorar o pai no intimo do nosso coração com respeito, reverencia e amor. E não nos templos euforicos ou nos montes desertos.
Querido Jesus, sou menbro de uma igreja bem pequena e vejo que meus irmãos em cristo procuram ter uma vida focada em ti, mais acredito que precizamos da tua ajuda para melhorarmos ainda mais nossa conduta, tratar melhor do nosso corpo que é a morada do espirito santo de Deus, não permiteis que este mesmo corpo seja inspirado pelo poder do mal, ajuda-nos a ser simples, humilde amando o nosso Deus em primeiro lugar e ao nosso proximo atendendo suas necessidades assim como nos encinaste na pratica do amor.
A partir de agora quero que o Senhor me aceite como um simples seguidor de seus encinamentos assim como foram os seus seguidores quando o senhor aqui esteve, e não quero jamais ser chamado de cristão.
Meus respeitosos cumprimentos a vossa magestade…
João Mendes

[Um texto poético e histórico que o meu amigo Xamã João Mendes me endereçou há ~ 2 anos]

domingo, 28 de janeiro de 2018

ANGOLA SOB NORTON DE MATOS (documentário RTP, por Fernando Rosas)


                                   História a História África - Episódio 4 - RTP Play - RTP

Vale a pena conhecermos a nossa História. Nos períodos menos estudados ou conhecidos, ela não é menos interessante. 

O que significa para nós, hoje, conhecer a História de Angola nos tempos de Norton de Matos? 
- Teremos uma melhor compreensão de nós próprios, de onde viemos, que motivações e limitações tiveram os das gerações dos nossos pais e avós, como reagiram, etc. 
É um pouco como a História das nossas famílias. Um bocado difícil para alguns, suportar certas imagens, porque se misturam afectos. Mas, por outro lado, há coisas que são, há coisas que aconteceram. 
Nos conhecermos a nós próprios, é a chave da sabedoria individual; também é necessário conhecermos a História, o entorno, o ecossistema, compreender o que somos, de onde viemos... Saber o passado é andar com maior segurança nos caminhos do futuro!

Temos sido amnésicos e isso tem um preço. A ignorância do passado tem um preço, um custo muito elevado para o presente e para o futuro.

domingo, 27 de agosto de 2017

TEORIA DA CONSPIRAÇÃO

Pela sua relevância decidi traduzir, o mais fielmente que sei, o excelente artigo de Paul Craig Roberts.  O texto original encontra-se aqui.

                 
Teoria da Conspiração

Paul Craig Roberts
Nos Estados Unidos «teoria da conspiração» é o nome dado a explicações que divergem das que servem os interesses da classe no poder, a oligarquia, o «establishment» ou o que se queira chamar aos que estabelecem e manipulam as agendas e as explicações que apoiam essas agendas.
As explicações que nos são impostas pela classe no poder são, elas próprias, teorias da conspiração.Ainda por cima, são teorias da conspiração destinadas a esconder a conspiração real que os nossos governantes estão realizando.
Por exemplo, a explicação oficial do 11 de Setembro é uma teoria da conspiração. Alguns muçulmanos, sobretudo sauditas, realizaram a maior humilhação a um super-poder desde que David derrubou Golías com a sua funda. Conseguiram iludir todas as 17 agências de espionagem  segurança e as da NATO, de Israel, o Conselho Nacional de Segurança, a Administração de Segurança dos Transportes, o Controlo de Tráfego Aéreo e Dick Cheney, capturaram quatro aviões de linha americanos, derrubaram três arranha-céus do World Trade Center, destruíram a parte do Pentágono onde se realizava a investigação sobre os desaparecidos 2,3 triliões e fez com que os broncos em Washington culpassem o Afeganistão em vez da Arábia Saudita.
Sem dúvida, os sauditas que realizaram um ataque humilhante à América estavam envolvidos numa conspiração para o fazerem.
Será isto uma conspiração credível?
O engenho de uns poucos de jovens muçulmanos em desencadear tais acontecimentos é inacreditável. Um falhanço tão completo do Aparelho Nacional de Segurança [National Segcurity State] dos EUA significa que a América esteve cegamente vulnerável durante décadas de Guerra Fria com a União Soviética. Se tal falhanço do Aparelho Nacional de Segurança tivesse realmente ocorrido, a Casa Branca e o Congresso clamariam aos berros por uma investigação. Haveria pessoas responsabilizadas pela sucessão de falhas de segurança que ocorreram, que possibilitaram que os atentados acontecessem. Em vez disso, ninguém foi repreendido e a Casa Branca resistiu a todos os esforços para abertura de uma investigação durante um ano. Por fim, para calar a boca das famílias das vítimas do 11 de Setembro, uma Comissão foi formada. A Comissão, obediente, escreveu a versão governamental dos acontecimentos e nisso consistiu a «investigação».
Além disso, não existe evidência que apoie a teoria oficial da conspiração do 11 de Setembro. De facto, todas as evidências contradizem essa teoria oficial da conspiração. 
Por exemplo, está provado que o Edifício 7 desabou em queda livre acelerada, o que significa que ele tinha sido condicionado com explosivos para demolição. Por que foi isso feito? Não existe uma resposta oficial a esta questão.
A evidência fornecida por cientistas, arquitectos, engenheiros, pilotos e socorristas que estavam nas torres gémeas e que estavam lá no momento e ouviram numerosas explosões que fizeram cair as torres é, essa sim, considerada uma teoria da conspiração.
A CIA inventou a expressão «teoria da conspiração» e introduziu-a no domínio público como parte dos seus planos de acção para desacreditar os cépticos em relação ao relatório da Comissão Warren sobre o assassinato do Presidente John F. Kennedy. Toda a explicação diferente da que foi apresentada, a qual estava em contradição com toda a evidência conhecida, era descartada como sendo uma teoria da conspiração.
As teorias da conspiração são a coluna dorsal da política externa dos EUA. Por exemplo o governo de George W. Bush levou a cabo uma conspiração contra o Iraque e Saddam Hussein. O governo Bush criou falsas evidências de «armas de destruição maciça» iraquianas, vendeu a história mentirosa ao mundo crédulo e utilizou-a para destruir o Iraque e assassinar seu presidente. Analogamente, Khadafy foi vítima duma conspiração de Obama/Hillary para destruir a Líbia e o assassinar. Estava reservado o mesmo destino a Assad da Síria e ao Irão, caso os russos não tivessem intervido.
No presente, Washington está envolvido em conspirações contra a Rússia, a China e a Venezuela. Ao proclamar uma não existente «ameaça iraniana» Washington coloca mísseis na fronteira com a Rússia e serve-se da «ameaça norte-coreana» para colocar mísseis na fronteira da China. O democraticamente eleito presidente venezuelano é caracterizado por Washington como ditador e foram colocadas sanções à Venezuela para ajudar a pequena elite hispânica que, tradicionalmente, Washington usa para dominar nos países sul-americanos e desencadear um golpe que reestabeleça o controlo dos EUA sobre a Venezuela.
Todos são uma ameaça: Venezuela, Iemen, Síria, Irão, Iraque, Afeganistão, tribos do Paquistão, Líbia, Rússia, China, Coreia do Norte, mas nunca Washington. A maior teoria da conspiração do nosso tempo é a de que os americanos estão rodeados por ameaças do estrangeiro. Nem sequer estão seguros em relação à Venezuela.
O New York Times, o Washington Post, CNN, NPR, e a restante media prostituta do poder é rápida em descartar como teorias da conspiração todas as explicações que diferem das explicações que servem os interesses da elite no poder, que essa media serve.
 Porém, enquanto escrevo e desde há cerca de nove meses até ao presente, a média prostituta tem -ela própria- promovido a teoria da conspiração segundo a qual Donald Trump estava envolvido numa conspiração com o presidente da Rússia e com os serviços de espionagem russos para controlar e influenciar a eleição presidencial dos EUA e colocar Trump, um agente russo, na Casa Branca.
Esta teoria da conspiração não tem a mínima evidência a credibilizá-la. Mas não carece de evidência, porque serve os interesses do complexo militar/de segurança, o Partido Democrático, os neo-conservadores e permite à media prostituta demonstrar uma devoção sem falhas aos seus donos. Através de repetição sem fim, uma mentira torna-se verdadeira.
Existe uma conspiração e ela é contra o Povo Americano. Os seus empregos foram exportados para enriquecer ainda mais os que já eram ricos.  Eles foram forçados a entrar em dívida para manter os seus padrões de vida. O seu esforço para eleger um presidente que falasse por eles está sendo subvertido, diante dos seus olhos, por uma media profundamente corrompida e pela classe reinante.
Mais cedo ou mais tarde, eles ficarão cientes de que nada mais poderão fazer além de se revoltarem violentamente. Muito provavelmente, quando tiverem realizado isso, já será demasiado tarde. Os americanos são muito lentos a escapar da realidade ilusória na qual vivem. São um povo extensivamente sujeito a lavagem ao cérebro, que se apega à vida ilusória no interior da Matrix em que se encontra.  
Os ingénuos e acríticos que foram sujeitos a lavagem ao cérebro, que pensam que não são credíveis quaisquer explicações que diferem das oficialmente abençoadas, podem consultar em sítios da Internet longas listas de conspirações de governos que conseguiram enganar as pessoas para levar a cabo acções que -sem isso -  elas teriam rejeitado.
Se continuar a existir liberdade na Terra, não será no mundo ocidental. Será na Rússia, China  noutros países que emergiram de situações opostas e que sabem o valor da liberdade e nas nações da América do Sul, tais como Venezuela, Equador e Bolívia, que lutam pela sua soberania contra a opressão dos EUA.
Com efeito, tal como alguns historiadores não preocupados com as suas carreiras começam a escrever, a lição primeira da História é a de que os governos enganam os seus povos.
Em todo o lado, no Mundo Ocidental, o governo é uma conspiração contra o povo.