quarta-feira, 16 de julho de 2025
domingo, 3 de dezembro de 2023
SE ESTAMOS A VIVER NUMA ÉPOCA EXCECIONAL...
Se estamos a viver numa época excecional, então devemos cuidadosamente rever todos os conceitos aos quais estávamos mais ligados. Devemos analisá-los criticamente, à luz das realidades emergentes e ver quais os que podem ser resgatados, quais devem ser reformulados e quais os que devem ser «deitados para o caixote de lixo».
Quando reflito sobre isto, a minha mente é imediatamente atraída pela palavra «contenção». Com efeito, as circunstâncias gerais, em cada sociedade e cada vida privada, tornaram-se de tal maneira voláteis, que nós devemos nos interrogar sobre a nossa «grelha de leitura» da realidade.
Com efeito, os parâmetros que considerámos para avaliar a realidade social, aqueles sobre os quais nos baseámos no passado, até mesmo no passado mais recente, ou se tornaram obviamente caducos, ou têm de ser reformulados, no todo ou em parte.
As pessoas que não façam esse exercício, irão sofrer, nas condições de instabilidade e perturbação profunda que agora se estão a revelar. Elas irão ser arrastadas/induzidas a tomar posições sobre as quais não tinham refletido previamente.
Assim, em todos os aspetos da vida, deve-se ser particularmente cuidadoso, não tomar os desejos pela realidade, não pronunciar juízos definitivos, sobre aquilo que parece ser, no momento.
Dito isto, é verdade que as escolhas que fizermos poderão ser decisivas para nós, pessoalmente e socialmente. O que vi acontecer com muitos, é que tentam «encaixar» as inéditas situações, no molde envelhecido das suas ideologias. Seria este um caso para evocar a parábola bíblica do «vinho novo, em odres velhos».
As novas situações não têm «resposta» em escritos de filósofos, políticos ou economistas, que pensaram e escreveram em contextos totalmente diversos da atualidade. A única coisa de que podemos ter a certeza, é que não existem, em sociologia, economia, ou história, teorias preditivas verdadeiras, genuínas. As que são formuladas, correspondem apenas à visão do Mundo e ao desejo dos seus autores. Ora, esta visão do Mundo, mesmo que fosse muito adequada quando a escreveram, não poderia ter em conta toda a panóplia de descobertas e de ideias que se desenvolveram, entretanto.
Num período de crise, como dizia corretamente Lenine, há semanas que são tão densas em acontecimentos, que parece que passaram anos. Esses acontecimentos são imprevisíveis no seu desenrolar. Mesmo que sejam previsíveis no seu desencadear. Por exemplo: uma guerra, pode ser previsível, ao se analisar as posições e movimentos das diversas potências. Mas, ninguém pode prever que uma tal guerra futura se desenrole desta ou daquela maneira. Que dure apenas uma semana, ou dez anos. Que dê a vitória inequívoca a um dos lados, ou que se arraste e esgote o lado mais forte. Que o lado mais forte inicialmente, mesmo que vença militarmente, acabe por experimentar o princípio da sua derrocada.
As situações de imprevisibilidade nos mercados são ainda mais patentes. Os que «pilotam» os bancos centrais, munidos de poderosos instrumentos para agir sobre mercados financeiros e a economia geral, não têm o poder que se lhes empresta. São o aprendiz do conto do «Aprendiz -feiticeiro». As economias vivem sujeitas ao caos completo, onde sábias e prudentes decisões são impossíveis de tomar. Os dirigentes efetuam meros «passes de mágica», de tal modo que o vulgo acredita que eles detêm enorme poder.
A atitude mais inteligente - neste contexto- é de garantir aquilo que nós, pessoalmente, a nossa família, a nossa comunidade, possuímos enquanto meios de preservar a vida. Manter e aumentar a nossa capacidade de aguentar nos tempos mais difíceis das nossas vidas, deveria ser a preocupação primeira. As «sereias» que apelam para investimentos sumptuários, especulativos, que causam um desequilíbrio, ou que diminuem os ganhos e as hipóteses de ganho, são de rejeitar. Por contraste, as iniciativas para preservação do adquirido e para o aumento da nossa autonomia (exemplos: produção própria de alimentos, geração de energia, etc.) tornam-se vitais, neste contexto. Também importa uma atitude mais racional com a saúde: a boa condição física é ainda mais importante, nas circunstâncias em que colapsam as estruturas e os meios de saúde.
A nossa energia deve estar centrada nos pontos acima, sendo também muito importante não olharmos de forma acrítica para as informações que nos chegam aos ouvidos ou aos olhos. Neste contexto, a informação da mídia é mais enviesada do que nas situações anteriores. Estamos perante ondas sucessivas de condicionamento de massas, primeiro com a histeria do «COVID», depois com a violação sistemática da nossa integridade, a imposição de «vacina», a perseguição da dissidência e a instalação duma censura férrea, além de uma vigilância total. Esta fase antecedeu e preparou as pessoas para aceitarem - perante as guerras da Ucrânia e de Gaza - no meio de campanhas de histeria sucessivas, a transformação do enquadramento legal. A «legalidade democrática» foi varrida de uma penada, para se reprimir "legalmente" dissidências e glorificar o bárbaro esmagamento de populações civis, incluindo a ressurreição do conceito, medievo e nazi, de «culpa coletiva».
Com o medo instilado, pretende-se que as pessoas deixem de pensar, apenas reagindo, apenas seguindo os instintos de gregarismo e de xenofobia. Muitas, adotaram um comportamento de simulação, ou ocultaram a sua posição verdadeira, por medo de serem excluídas, de serem apontadas a dedo.
O cenário está completamente montado e, aliás, a peça de teatro já começou a desenrolar-se diante dos nossos olhos. Mas, como não compreendemos o enredo desta peça, nem queremos fazer um esforço para o compreender, somos incapazes de protagonismo, de sermos proactivos.
Se algo de verdadeiro existe nas palavras acima, creio que devemos refletir como agir para modificar este estado de coisas. Para agir maduramente, não devemos ocultar a realidade a nós próprios, nem cair na armadilha da propaganda, de uns ou de outros. Precisamos ser capazes de nos distanciar sem trair as nossas convicções. Não devemos tomar a nossa ilusão, o nosso desejo, pela realidade. Sobretudo, devemos guardar abertura a cada momento; não desenvolver sentimentos de ódio, em relação aos que estejam no polo diametralmente oposto. Sermos adultos, propriamente, quer dizer que somos capazes de analisar e não descartar outros pontos de vista, que nos pareçam - à primeira vista - errados, ou equivocados; por vezes, nós é que estávamos equivocados e os outros tinham - afinal - razão.
De nenhum modo, uma atitude sectária se justifica, neste contexto: A atitude inteligente é realizar alianças, o mais amplas possíveis, aos vários níveis.
terça-feira, 7 de fevereiro de 2023
GOYA E O SONHO DA RAZÃO, REVISITADOS
As pessoas são alimentadas, ao longo da vida, por narrativas lineares. A ideia de que as sociedades e a tecnologia vão ser «mais isto ou aquilo». É muito divertido observar as publicações de magazines populares, que estimavam há cem anos atrás (ou menos), «como seria o futuro»: É um lugar-comum verem-se automóveis que também voavam, ou pessoas a viverem em apartamentos cheios de gadgets, embora as coisas que eram imaginadas, há várias dezenas de anos, como fazendo parte dos confortos da «modernidade», ou nunca se concretizaram ou, se vieram a existir, são de uma forma substancialmente diferente.
Sociologicamente, também, as projeções do futuro são lineares; há o alargamento - a quase generalização - do modo de vida do tipo «classe média», uma população de engenheiros, doutores, cientistas, profissões de elevado prestígio. É costume as pessoas projetarem os seus desejos no futuro. Mas é singular haver tão fraca imaginação, uma incapacidade, incluindo nos «futurologistas», em decifrar no presente aquilo que serão as linhas de força da próxima década, já para não falar do próximo século.
As pessoas estão muito cientes de «verdades» que lhes foram transmitidas por inúmeros canais, a maior parte, sem relação nenhuma com a realidade das coisas. Mas, mesmo quando fazem um esforço genuíno para projetar as tendências observáveis no presente em direção ao futuro, incluindo o mais próximo, a regra é errarem redondamente.
Assim, deveríamos estar completamente abertos a todos os campos de hipóteses, aquelas que conseguimos vislumbrar e mais ainda aquelas de que não fazemos a mínima ideia, no presente.
Por vezes, tais são as transformações, que as pessoas ficam completamente desnorteadas. A nossa mente é feita para apanhar a tendência dominante, projeta-la no futuro e construir a realidade a partir destas projeções.
Mas, os fenómenos complexos ultrapassam - em muito - as capacidades de os equacionar, mesmo que sejamos «génios». Os fenómenos não se submetem a uma lógica linear. Linearidade ou «lei estatística» é o que a nossa mente gostaria que fosse. O nosso inconsciente está sempre a procurar a conformidade, porque é algo que nos tranquiliza, nos dá uma sensação (ilusória) de continuidade. Não somos feitos para incorporar o insólito, o estranho, o irracional no nosso mundo. Assim, estamos com frequência de pé atrás face à novidade, sobretudo se tal novidade vem contradizer as «certezas», que nós julgávamos eternas.
Os ilusionistas, os demagogos, servem-se sistematicamente do efeito de «normalidade», que está tão arreigado no nosso psiquismo. Este efeito, é uma das principais fontes de equívocos, de avaliação errónea dos dados ao nosso dispor.
Os sentidos podem ser facilmente «iludidos», mas note-se que eles não são a fonte da ilusão, do equívoco, nem tão pouco, a natureza exterior do que eles veiculam: Afinal, as ilusões ditas dos «sentidos», são antes ilusões da interpretação cerebral das imagens ou sons, etc. que nos vêm pelos sentidos. Mesmo a imagem que seja «ambígua» à partida, não o será, de verdade:
- Somos nós que construímos, com aquilo que recebemos dos sentidos, uma certa interpretação ou a descartamos, no momento seguinte, por outra, que nos pareça igualmente coerente. É sempre a reconstrução da imagem que fazemos no cérebro, que desencadeia a interpretação ambígua. A imagem em si mesma, as manchas de cor e de sombra, os contornos, etc., são o que são. Não mudam: É o nosso dispositivo cerebral que é tomado pela interpretação ambígua.
Porque razão continuamos iludidos, sabendo como é fácil nos ilusionarmos, sabendo também que as ilusões ou miragens, resultam de certa visão que nós próprios damos às coisas, não das coisas em si mesmas.
Se fizermos uma reflexão profunda sobre a falibilidade dos sentidos e dos juízos que (conscientemente, ou não), fazemos a partir destes, é possível atingir o primeiro grau da sabedoria:
- A nossa própria psique é que nos engana, na maioria das vezes. Não fazemos a análise adequada das informações que nos chegam pelos sentidos. Assim, somos nós próprios a fonte os enganos.
Se extrapolarmos para o domínio da vida política, económica, etc. verificamos que evoluímos como crianças que se enganam a si mesmas, julgando ver o objeto real no seu mero reflexo, estando convencidas de que a ausência de algo, significa que esse algo não exista realmente, etc.
Temos de reconhecer que, por muito «racionais» que nos consideremos, a maioria das pessoas vive fora da realidade. A realidade é reduzida à imagem distorcida, limitada da mesma.
Por isso, não considero que exista um fosso intransponível entre o «patológico» e o «normal». De facto, as pessoas estão sempre a tomar os seus desejos por realidade. E quanto à pessoa doente mental: Está ela sempre «fora da realidade»? Mas o que é a realidade? Eu tenho impressão que, em vez da realidade inteira, é «entronizada» a ideia comum que as pessoas têm da realidade.
Pode uma mente genial ver aquilo que as pessoas vulgares não conseguem ver; pode também uma pessoa perturbada mentalmente ver algo que as outras não vêm. Mas, quem decide o que é lúcido e não lúcido? Realmente, é muito difícil estabelecer a fronteira entre o normal e o patológico. A História mostra-nos, vezes sem conta, que pessoas, perfeitamente ajuizadas, emitiram hipóteses, ou teorias, que foram descartadas como extravagantes ou pior, inspiradas pelo demónio. Mas, na verdade, eram perfeitamente racionais e lógicas. A sociedade, ao fim de algum tempo, terá assumido tais «elucubrações» como a coisa mais normal deste mundo.
A nossa neotenia abre-nos a porta dos possíveis. A nossa necessidade de proteção, de segurança, fecha essa mesma porta. A criança que tem medo, tapa os olhos com as mãos, para não ver. A sociedade, ao longo dos tempos, tem feito o mesmo. Tem sido tentada por mundos desconhecidos, que lhe batem à porta; em simultâneo, tem sido afugentada pelo medo do desconhecido, das trevas cheias de monstros, de emanações fantasmagóricas dos nossos próprios medos.
domingo, 15 de maio de 2022
HOMENAGEM A UM HOMEM, POETA DE CORPO INTEIRO
O livro de Poesia de Maximiano Gonçalves, intitulado «Ouvir a Palavra», motivou-me a escrever o texto seguinte. Não atribuo nenhuma responsabilidade ao Autor pelo que eu escrevi. Somente, desejo indicar que este livro é dos poucos (seja de poesia, ou de outro género) que me tem estimulado a pensar. Tentei verter por escrito todo um emaranhado de sentimentos e pensamentos, que me assomam lendo os versos inspirados do seu Autor.
Como eu amo a música! Como eu amo a poesia!
Poesia é música, disso não tenho dúvida. Estar à escuta da palavra é somente a primeira e maior virtude do poeta. Estar dentro da palavra significa estar para lá do que explicitamente ela nos transmite: a palavra segundo a «definição do dicionário» é uma coisa, mas a palavra enquanto Verbo é outra. Esta segue até ao infinito, até aos confins que o criador do discurso (poético ou outro) se abalança encontrar-lhe. Por tal motivo, «em busca da palavra perdida», se desfiam horas e dias inteiros. Mas essa vã procura, essa obsessão esquisita, também tem um lado prático. É que a palavra é como o barro; pode ser esculpida com maior ou menor esmero, arte e técnica. Um indivíduo pode esculpir a palavra, como um escultor pode moldar no barro uma obra, que - eventualmente - será transposta para o bronze. Mas, também, encontramos, quase em bruto, pequenas esculturas que são «arte popular», que nos transmitem a vibração genuína duma emoção; aquela que passa misteriosamente das mãos do seu criador, ao indivíduo que dá com tal obra-prima de «arte popular».
É assim que eu vejo a arte em geral, como representação do universo interno do criador, mas em diálogo com a realidade do mundo. Esta noção da realidade, que nos concita a atenção e, mais do que isso, a consciência do que vai pelo mundo, pode ser perdida temporariamente ou permanentemente, mesmo pelos mais talentosos espíritos científicos, artísticos, literários ou filosóficos. Porém, é para mim uma questão muito central da minha produção literária, tanto em poesia, como noutros textos (filosóficos, de análise política, social, etc.). A questão que me parece importante é de estar conectado com o real, com a vida tal como ela é, tal como se pode vislumbrar na aparência, ou apreendê-la nas profundidades. Confundir realismo com materialismo, é um erro crasso; pode-se ser muito realista e ter um fundo de espiritualidade, pode-se ser materialista e estar completamente fora do real!
De tudo podemos discorrer, mas somente ficam as palavras que se vêm inserir na nossa vivência profunda. Só consigo decorar poemas, não apenas que esteticamente me satisfazem como, sobretudo, que me dizem muito, que se adequam aos sentimentos, aos acontecimentos, às vivências da minha vida.
O poema «É bom inventar rios…». É curto, tem a forma dum epigrama; é daqueles que eu gosto de decorar, de tal maneira exprime na forma sintética da poesia, um humanismo que não necessita de extensas explicações intelectuais, porque é genuíno.
É bom inventar rios
E barcos que os atravessam
Lentos e esguios…
E pontes que levem gente
E não apenas fios
Tecidos por desafios
De material que não sente.
quarta-feira, 16 de março de 2022
QUEDA DA TAXA GERAL DE RENTABILIDADE DO CAPITAL; REALIDADE OU MITO?
quarta-feira, 20 de novembro de 2019
QUAL É A PRIMEIRA LIBERDADE?
terça-feira, 20 de dezembro de 2016
DEFINIÇÃO DE IDIOTA ABSOLUTO
- Um idiota absoluto é aquele que persiste com a sua própria narrativa, com as suas teorias, seja qual for o desenlace dos acontecimentos.
- Aquele que não examina os factos, a realidade, no sentido de corrigir aquilo que tem de ser corrigido na sua posição.
- Aquele que recusa a sentença da realidade: se a realidade contradiz a sua teoria, é a realidade que está errada e que tem de ser modificada.
- Aquele que se julga forte por manter a sua leitura dos acontecimentos, apesar de todas as evidências, porque a «maioria» adoptou essa mesma postura.
Muita gente confunde «ter convicções», ter «determinação», com estas posturas típicas de idiota absoluto.
- Uma pessoa inteligente e que tem convicções, não teme que alguém venha examiná-las, pô-las à prova, ou pô-las em causa.
- Alguém inteligente sabe que uma teoria não é mais do que uma hipótese que ainda não foi destronada por factos concretos e que deverá dar prioridade aos factos, se estes contradizem essa tal teoria, no todo ou em parte.
- Finalmente, uma pessoa inteligente não tem receio de confessar que errou e está, por isso mesmo, em condições de corrigir-se.