A série de assassinatos (ou tentativas de) a que vimos assistindo e continuaremos a assistir, são operações da CIA, do MI6 e doutros serviços da OTAN, que contratam «homens de mão» para atentados terroristas. Desde 07 de Outubro de 23 assistimos a um horrível massacre contínuo de população inocente às mãos do exército IDF de Israel, cometendo crimes de guerra. Mas, também há uma multiplicação de atos de terrorismo contra alvos especiais, pelo «Grande Hegemon».
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segunda-feira, 26 de junho de 2023

CRISE DE SUPERPRODUÇÃO DO VINHO

 https://www.zerohedge.com/commodities/europe-drowns-wine-eu-adopts-crisis-measures-rescue-producers



Em vários países europeus, o vinho estava mais ligado ao mercado externo do que ao consumo interno. O agravamento da crise reflete-se nos diversos países, no chamado consumo de luxo. Mesmo o vinho de média qualidade é considerado como luxo em países não tradicionalmente produtores, por exemplo os da Europa do Norte, da América do Norte e muitos países Africanos e Asiáticos. O mercado está saturado porque este produto tem tido uma expansão contínua desde há décadas, ora, apesar de novos países se abrirem ao consumo do vinho, uma expansão do mercado não pode durar sempre. Tem de vir um momento de contração.

No caso do vinho, essa contração coincide com a provocada pela inflação mundial, assim como as piores previsões económicas, relativas a países afluentes e que eram tradicionalmente consumidores de vinho dos países do Sul da União Europeia, como a Alemanha ou o Reino Unido.

Ao nível nacional, os portugueses têm diminuído o consumo de vinho, o que tem causas múltiplas, entre elas o acentuar da inflação (que toca mais os produtos não-essenciais), a diminuição do poder de compra das classes menos favorecidas e da classe média, a evolução do consumo das camadas mais jovens que se têm desviado para o consumo das cervejas (nomeadamente, as «artesanais») e para os álcoois fortes, ingredientes de cocktails ou «shots», muito em voga. 

 Dá-se a situação de retração simultânea nos mercados interno e internacional, em especial, para os países menos afortunados da UE, mas também em países beneficiando (ainda) de confortável nível de vida. 

As marcas de vinho deveriam ter visto esta crise chegar, mas - pelo menos em Portugal - insistiram em subir constantemente o preço dos vinhos nos supermercados, ao ponto de que, vinhos correntes passaram a ser algo que muitos agora consomem apenas em ocasiões especiais.  O setor vinícola, além de fundamental economicamente em várias zonas agrícolas do país, era também enorme fonte de divisas, não apenas na exportação, como no consumo dos turistas dentro de Portugal. 

As zonas do Sul da Europa já são as principais vítimas económicas do cerco contra a Rússia, mesmo antes do inicio da guerra imposta pelos belicistas da OTAN, assim como pelos globalistas:  

- Estes, não se importam com a sobrevivência económica dos mais fracos, preferindo até que haja muito desemprego, para manter as populações debaixo do jugo da necessidade. 

Estas populações serão «beneficiárias» do «Rendimento Mínimo Universal», em conjugação com a introdução das «Divisas Digitais dos Bancos Centrais». 

Tudo corre às mil maravilhas para os globalistas: Podem fazer «à saúde», erguendo os copos, cheios dos vinhos mais caros do mercado!

quinta-feira, 11 de maio de 2023

UMA CERTA FORMA DE ROUBO: OS BANQUEIROS AMERICANOS ATACAM NOVAMENTE

 Por Dr. Binoy Kampmark



Parece 2008 de novo, em tudoA má gestão económica e financeira caracterizam-se por um brilho escaldante, devorador. Os banqueiros culpados e desastrados voltaram com sua costumeira incompetência venal. No roteiro costumeiro, buscam habitualmente que o erário público se encarregue de socializar suas perdas. Ao longo do caminho, eles evitarão as merecidas sentenças de prisão, ficarão quietos e voltarão para repetir os seus pecados.

Uma série de grandes navios do setor bancário já caiu no esquecimento, vendeu e fez notas de rodapé no folclore financeiro. O Silicon Valley Bank, o Signature Bank e, mais recentemente, o First Republic Bank, criaram suas próprias lápides. Esses três grandes detinham, no total, US$ 532 milhares de milhões. Quando ajustado pela inflação, supera o total de US$ 526 milhares de milhões dos 25 bancos que faliram em 2008.

O First Republic Bank era particularmente execrável em suas práticas, oferecendo hipotecas não garantidas a taxas fixas por vastas somas de dinheiro. Quando os calafrios começaram a correr pela espinha dos depositantes no primeiro trimestre deste ano, foram feitos saques sangrentos totalizando US$ 102 milhares de milhões.

A revisão do US Federal Reserve sobre o colapso do SVB abordou uma série de questões específicas das ações do banco, ao mesmo tempo em que ofereceu um «mea culpa» não apenas por suas próprias falhas, mas também pelas do Federal Deposit Insurance Corporate e do Consumer Financial Protection Bureau. Afinal, o que estes supervisores, supostamente de olhos de águia, os mordomos encarregados de supervisionar o sistema, estavam fazendo durante todo esse tempo?

Como o Reserve descobriu, houve uma falha evidente por parte do conselho de administração e da administração em administrar os riscos do SVB. Há também uma admissão do Federal Reserve de que eles “não avaliaram totalmente a extensão das vulnerabilidades à medida que o Silicon Valley Bank crescia em tamanho e complexidade”. Mesmo quando estas foram identificadas, medidas insuficientes foram tomadas para garantir que os defeitos fossem corrigidos “com rapidez suficiente”.

Acontece que o SVB era uma espécie de modelo típico do mau comportamento. Foi citado por não cumprir uma série de requisitos: a Lei de Sigilo Bancário, medições de Perdas de Crédito Atuais Esperadas, proteção rigorosa de dados, ter uma estrutura de auditoria interna suficiente e a Regra Volcker. O objetivo desta última é impedir que os bancos se envolvam nos empreendimentos mais arriscados: títulos e derivativos. Para o banqueiro, as lições existem para serem desaprendidas.

O mais revelador de tudo foi o grande «gremlin» do setor bancário: a desregulamentação. Durante o governo Trump, uma série de verificações e controles foram revertidos, principalmente em relação aos bancos menores de classificação média. Lei Dodd-Frank de Reforma de Wall Street e Proteção ao Consumidor de 2010, que estabeleceu US$ 50 milhares de milhões ou mais, como a linha que exigia maior regulamentação sobre capital e fusões, recebeu uma punição especial. Lei de Crescimento Económico, Alívio Regulatório e Proteção ao Consumidor  de 2018 elevou o limite de ativos para US$ 250 milhares de milhões. Aqueles que estavam abaixo, puderam envolver-se em condutas ainda mais perdulárias.

Como o Conselho constatou, a “abordagem de adaptação em resposta à Lei Económica, de Crescimento, Auxílio Regulatório e Proteção ao Consumidor e a mudança na postura da política de supervisão, impediram a supervisão eficaz, reduzindo os padrões, aumentando a complexidade e promovendo uma abordagem de supervisão menos assertiva .”

O vice-presidente de supervisão do Federal Reserve, Michael Barr, chegou a uma série de conclusões que se assemelham muito àquelas alcançadas após a crise financeira de 2008. “[Nós] devemos fortalecer a supervisão e regulamentação do Federal Reserve com base no que aprendemos.” A revisão do SVB representou “o primeiro passo nesse processo – uma autoavaliação que analisa com firmeza as condições que levaram à falência do banco, incluindo o papel da supervisão e regulamentação do Federal Reserve”.

Essas são boas admissões, mas todas parecem ter chegado um pouco tarde. O sistema bancário dos EUA está oscilando, especialmente aqueles no degrau intermediário. E eles tendem a ter banqueiros tão atrevidos como o ex-CEO do Silicon Valley Bank, Greg Becker, que testemunhará perante o Comité Bancário do Senado em 16 de maio.

Becker, não deve ser esquecido, ficou entusiasmado com os ajustes de política do governo Trump, realizando seus próprios esforços em 2015 para convencer o Comitê de Bancos, Habitação e Assuntos Urbanos do Senado a reduzir os padrões de segurança. Em sua declaração ao comité, Becker afirmou que o SVB “não apresentava riscos sistémicos” e era adequadamente policiado por um número adequado de “profissionais de risco altamente qualificados” e “um Comité de Risco autónomo e independente de nosso Conselho de Administração”. Havia também uma “variedade de diferentes testes de estresse projetados para medir e prever os riscos associados” ao “negócio em diferentes cenários económicos”. Os proverbiais porcos tentaram, nesta ocasião, voar.

Os membros do Congresso também não estão de acordo quanto ao que causou a podridão. Os republicanos, de maneira característica, recusam-se a aceitar a desregulamentação como culpada, preferindo se concentrar em flagrantes erros humanos e má administração. O deputado Andy Barr, de Kentucky, apresenta outra tese: que uma onda de fundos e gastos excessivos do governo, alimentando a inflação, juntamente com baixas taxas de juros, foram os fatores causais. Democratas como a senadora Elizabeth Warren, de Massachusetts, e a deputada  Katie Porter, da Califórnia, destacaram o retrocesso das regulamentações como o problema, exigindo uma forte correção legislativa.

O «Oráculo de Omaha», Warren Buffet, sugere que os diretores bancários dos EUA devem colocar suas cabeças no metafórico blocoNo mínimo, eles “deveriam sofrer” alguma forma de punição, embora não esteja totalmente claro que forma isso assumiria. Não obrigá-los a fazer isso “ensina a lição de que se você administrar um banco e estragar tudo, você ainda é uma pessoa rica, o mundo continua … Essa não é uma boa lição para ensinar às pessoas que detêm o comportamento da economia em suas mãos”.

Charlie Munger, que também atua como vice-presidente da Berkshire Hathaway, empresa de investimentos de Buffet, não discorda“Não acho que ter um bando de banqueiros, todos tentando ficar ricos, leve a coisas boas. Acho que os banqueiros deveriam ser mais como engenheiros, evitando problemas em vez de tentar enriquecer… É uma contradição de valores.”

Tal contradição continua a existir, alimentada por uma conspiração tácita entre o setor bancário e funcionários do governo que consideram a regulamentação imprópria para o espírito bucaneiro. Uma certa forma de roubo deve sempre ser encorajada e pode até ser subsidiada também.

*Nota: Original em https://www.globalresearch.ca/certain-form-thieving-us-banksters-strike-again/5818904

O Dr. Binoy Kampmark foi bolsista da Commonwealth no Selwyn College, Cambridge. Atualmente leciona na RMIT University. Ele é um colaborador regular da Global Research e Asia-Pacific Research.             bkampmark@gmail.com


terça-feira, 25 de abril de 2023

A economia global entre Caríbidis e Cila

 



Os bancos centrais andaram durante muito tempo a jogar com a quantidade de dinheiro (aqui, entenda-se divisas fiat). Inicialmente, puderam iludir as pessoas, incluindo economistas sofisticados, de que se tratava de suprimir as oscilações periódicas da economia, dando aos mercados a quantidade de dinheiro que eles precisavam para não entrarem em deflação.
 Segundo a ortodoxia dos banqueiros centrais e dos governos ocidentais, a existência de um «pouco» de inflação era benéfica e saudável. Mas, esta inflação acontecia num contexto de atividade industrial muito deprimida, após a grande crise financeira de 2008.
 Depois, baixa ou alta, a inflação é trituradora dos rendimentos das pessoas, principalmente dos assalariados e pensionistas. O aumento do custo das coisas básicas e elementares era muito maior do que de coisas que se podem considerar «não essenciais». 
É o rochedo chamado «Cila», que representa a inflação. Os turbilhões na proximidade do rochedo, iam tornando a economia cada vez mais deprimida, sobretudo no que toca aos investimentos produtivos, por oposição aos especulativos. 
O resultado de se lançar «dinheiro fiat» (sob forma eletrónica, principalmente) para os mercados, acentuava os redemoinhos, perto de Cila. Não resolvia a questão de fundo: estimular a produção de bens e serviços e não as atividades especulativas (o casino das Bolsas).
Na tentativa de manter o «status quo» e de não prejudicar os ricos detentores de grandes empórios financeiros (Banca comercial, fundos de investimento...), vieram com a falaciosa teoria de que aqueles «criavam riqueza». Na verdade, ao apostarem na financeirização, desencaminham a riqueza. Os capitais investidos em especulação financeira não participam realmente em atividades produtivas da economia. 
Mas, depois de 2008, os banqueiros centrais e os governos, fingiam que acreditavam nesta teoria, para verter somas abismais aos banqueiros que tinham sofrido perdas. Estas perdas eram expectáveis, pois eles tinham jogado no «alavancar» dos fundos que geriam. 
O que aconteceu foi aquilo que qualquer pessoa com bom-senso poderia prever: Em vez de investirem, eles próprios, ou de emprestarem o dinheiro recebido para crédito à produção, foram aparcá-lo em contas na FED ou noutros bancos centrais, que forneciam à banca comercial juros muito pequenos, mas sem risco. Outra parte do dinheiro recebido pelos bancos, foi para jogar na bolsa (incluindo a auto-compra das ações).
Como era inevitável, a inflação monetária e o estímulo de atividades especulativas, fizeram aumentar a massa monetária, atingindo extremos tais, que os capitais disponíveis globalmente eram, pelo menos, 20 vezes o PIB mundial. Ao certo, não sabemos, porque uma parte importante desses capitais está investida em derivados,  instrumentos que não são registados nos balanços de instituições de crédito, mas que pesam na solvabilidade destas.
A subida dos juros de referência pela FED (seguido pelos outros bancos centrais ocidentais), implicava o aumento do custo do crédito e a diminuição correlativa do valor das reservas. Os bancos comerciais têm em reserva, principalmente, obrigações do tesouro do seu próprio país ou de outros (uma obrigação vale tanto mais quanto o seu juro for mais baixo). 
Os 4 bancos que faliram recentemente nos EUA, assim como o Crédit Suisse (um banco «sistémico»), não conseguiram corrigir a tempo o desequilíbrio causado pela perda do valor dos seus ativos em reserva. Caríbidis será o nome simbólico da enorme parede de pedra; o «rochedo» das taxas de juro crescentes e as consequências nefastas para as instituições bancárias, obrigadas - por lei - a ter parte das reservas em obrigações (bonds) do Tesouro. 

A expressão proverbial, recorrendo à mitologia grega, diz que alguém (ou instituição) «vai de Caríbidis para Cila», para exprimir que ambas as alternativas vão desembocar no naufrágio, ou no desastre total. É, portanto, fútil e perigoso nos mantermos dentro dos parâmetros dos que querem ir de Caríbidis para Cila, ou vice-versa.

A «solução» dos banqueiros e dos oligarcas é a de causarem o máximo de perturbação na economia, na economia produtiva, para as pessoas - desesperadas -se renderem à «hidra de sete cabeças» ou outros monstros, que são as «moedas digitais emitidas por bancos centrais» (CBDC)
A solução para a gente comum, os não beneficiários do casino da finança globalista, é completamente diferente: Passa por uma reforma do sistema monetário mundial, onde não exista uma moeda de reserva enquanto tal, mas onde as moedas nacionais sejam usadas nas trocas. Os diferenciais, serão saldados em ouro ou noutro metal precioso (Prata, Paládio, Platina). 
Assim sendo, não haverá nação, por mais poderosa que seja, que possa impor-se às outras, como têm feito os EUA. O seu domínio em todas as transações em dólares, deu-lhes a possibilidade de confiscarem importantes somas e imporem sanções TOTALMENTE ILEGAIS. São atos de pirataria financeira, que têm afetado negativamente as relações comerciais entre países. Aliás, esta é uma das principais causas de haver muitos países, aliados dos EUA, a quererem entrar para os «BRICS».

sábado, 1 de abril de 2023

Inflação: o imposto oculto

 Não existe ainda uma consciência na generalidade das pessoas, sobre o modo como o Estado obtém o financiamento para as despesas que faz. Teoricamente, ele funcionaria com o dinheiro dos impostos. Mas, é fácil constatar que ele gasta muito mais do que recebe e, ainda por cima, tem despesa que não está inscrita no Orçamento de Estado.

Como é que os Estados se mantêm, muitas vezes com défices orçamentais que se avolumam de ano para ano?

Existem vários mecanismos que levam a um aumento da receita de imposto, sem que isso se torne muito óbvio para a generalidade das pessoas. Assim, se houver um aumento geral dos preços, todos os produtos que têm o imposto de valor acrescentado (IVA) aumentam na mesma proporção. Dirão: mas o valor maior cobrado vai cobrir as maiores despesas do Estado, portanto em termos líquidos, não é propriamente um aumento.

- Certo, só que as despesas do Estado são, numa grande fatia, despesas fixas ou que pouco aumentam: Estou  a referir-me a despesa com ordenados dos funcionários e agentes do Estado, assim como as pensões de reforma e invalidez. Estas despesas deveriam aumentar na devida proporção do aumento do custo de vida, mas tal não acontece nunca. Um funcionário público, ou um pensionista do Estado, terão mais alguns euros no seu ordenado ou pensão, mas de forma nenhuma tais aumentos atingem o valor que corresponderia à inflação.

Além do mais, o índice de inflação não é objetivamente avaliado. Desta forma, o Estado não tem de desembolsar tanto como seria o caso, se a inflação fosse avaliada corretamente. Se o verdadeiro índice de inflação for de 12 % ao ano, o «cozinhado» que fazem com as estatísticas poderá dar um índice (falso) de 8%. Nestas circunstâncias, não apenas o Estado desembolsa menos 4% com ordenados e pensões, como vai buscar mais na receita do IVA. 

Em geral, o Estado, sobretudo quando estiver em défice, cobre as despesas emitindo obrigações do Tesouro,  títulos de dívida que vencem a prazos de 2, 5 ou 10 anos, por exemplo. Nesse intervalo, o Estado vai dar um juro fixo. Se nesse intervalo de tempo houver uma inflação maior do que a taxa de juro fixo, o Estado vai pagar menos (em valor real) pelo empréstimo feito: nominalmente é a mesma coisa mas, tanto o principal da obrigação, como o juro a ela associado, terão menor valor real (menos capacidade aquisitiva). 

Os Estados do Euro, têm sido «premiados» com a compra automática das obrigações que colocam no mercado e que não encontraram comprador,  pois o BCE (Banco Central Europeu) comprometeu-se a comprar todos os títulos do Tesouro dos Estados aderentes ao Euro. Então, os juros foram baixando para estas obrigações, até ao ponto em que Estados muito débeis, em termos financeiros, como Portugal, tinham um juro associado a sua dívida semelhante, ou mesmo inferior, a Estados com melhor situação económica e financeira. Assim, Portugal estava obrigado a pagar juros da dívida no valor (por hipótese) de 3% em média durante um longo período, mas semelhante juro era o de obrigações estatais de países com muito melhor situação global. Era como se os compradores da dívida portuguesa aceitassem adquiri-la, embora o valor real das obrigações fosse muito menor. 

Com efeito, o valor de uma obrigação é tanto maior quanto mais baixo for o seu juro. Isto reflete o cálculo do mercado sobre os riscos que correm os compradores de - ao fim do tempo definido - não receberem pagamento do principal (situação de bancarrota do Estado), ou de haver interrupção temporária no pagamento dos juros, ou outro tipo de incumprimento. Nestas circunstâncias, o apoio sistemático do BCE através da compra de obrigações dos Estados mais débeis, reflete-se a vários níveis: Estes empréstimos têm comprador garantido, com juro mais baixo e com menor despesa nos orçamentos públicos desses Estados (Os juros da dívida pública são obrigatoriamente inscritos no orçamento de Estado).  

Os ordenados e pensões são sistematicamente depreciados: o seu «ajuste» é feito tardiamente, num intervalo que pode ser dum ano; é baseado num índice oficial de inflação fictício; nalguns casos, provoca o aumento no imposto (IRS), por mudança  de escalão, o que anula o pequeno aumento recebido. 

Os grandes capitalistas também aproveitam a inflação em seu favor. Não apenas nos ordenados que têm de pagar; mesmo aumentando-os, estes terão menos valor, em termos relativos. Eles «antecipam» as subidas de preços, colocando a mesma mercadoria, cuja compra foi ao «preço antigo», com preço inflacionado ou aumentando a margem de lucro porque decidem vender a um preço muito maior que a inflação, que eles próprios sofreram no processo de fabrico.  

Em Portugal, o Estado não tem verdadeiros motivos para se preocupar muito com a subida dos preços, até certo ponto. O ponto crítico é a capacidade da população em suportar uma forte descida do seu nível de vida. Esta descida pode significar a caída na pobreza extrema, para alguns, e o empobrecimento relativo para a imensa maioria. Penso que a generalidade das pessoas estaria de acordo que, em Portugal, o bem-estar económico tem diminuído para a grande maioria, desde há alguns anos, sobretudo desde há cerca de ano e meio, com o agravamento da inflação.

Há perdas acentuadas nos pequenos comércios e nos serviços, que são as empresas mais criticamente dependentes da retração brusca da clientela. Muitos têm de abrir falência, outros têm de reduzir pessoal para fazer face ao novo contexto. Esta concentração favorece os grandes grupos, por exemplo os hipermercados, ao eliminar a concorrência do pequeno comércio de bairro.  

Por fim, a injustiça desta taxa, ou imposto oculto, ressalta se verificarmos que as pessoas pobres, ou com rendimentos médios-baixos, têm como principal despesa a alimentação (e outras necessidades quotidianas): A inflação é sempre mais acentuada neste item. Ora, os ricos têm, proporcionalmente às despesas, muito menos impacto, com o aumento dos preços da alimentação:  A alimentação pode representar uns 60% do rendimento, numa família pobre e somente 20% numa família rica. 


Alimentos subiram 20% na UE, num ano.


quinta-feira, 23 de março de 2023

OS MUITO RICOS SABIAM -DE ANTEMÃO - DESTA CRISE



No rescaldo dos últimos acontecimentos desastrosos, podemos ver a FED continuando teimosamente a subir a taxa de juro diretora (de 0.25%).
Eles fazem-no, sabendo bem que na raiz do colapso de uma série de bancos de média dimensão (pelo menos, 4 bancos, só nos EUA) estava realmente a subida faseada a intervalos muito curtos, das taxas de juros, com a consequente descida do valor das obrigações do Tesouro, portanto fazendo com que o principal ativo de reserva destes bancos (e de quase todos os outros, inclusive noutros países) ficaria reduzido. Nalguns casos, foi o suficiente para eles ficarem em défice de cobertura e sem hipótese de obterem um reforço de reservas.
Não houve bailout para estes bancos. Muitos depositantes devem ter ficado a perder o dinheiro dos seus depósitos, nomeadamente, pequenas e médias empresas que possuíssem mais de 250.000 dólares depositados, o que não é muito, visto que uma empresa tem de pagar salários e fornecedores. Quanto ao despoletar da crise, note-se que esses bancos não fizeram nada de ilegal, nem sequer de incorreto face às regras bancárias.
Pelo contrário, na crise de 2008, muitos dos bancos e entidades (Bear Sterns, Lehman Brothers, AIG) que se afundaram e outras, que foram salvas pelo Governo dos EUA, tinham-se envolvido em empréstimos fraudulentos para a habitação e na venda de pacotes desses empréstimos, até para além dos EUA.

Agora foi a vez do Crédit Suisse, um banco há anos considerado dos mais fortes mundialmente. Houve uma clara intervenção estatal, que levou a um bail-in (ou seja, um resgate interno, à custa dos depositantes do banco) disfarçado. Os detentores de obrigações viram, de um momento para o outro, as suas obrigações do Crédit Suisse, que valiam (no total) 17 mil milhões de Francos Suíços na última cotação, serem levadas a zero: Não por ação dos mercados, mas porque era uma das condições impostas pela UBS para aceitar realizar a compra da sua ex-rival. Há base para uma ação contra o Estado, pois na ordem de prioridades de uma falência, os detentores de ações só devem ser indemnizados depois dos detentores de obrigações. Ora, a UBS «comprou» o Crédit Suisse, por uns meros 3 mil milhões de Francos Suíços, que terão servido para indemnizar os possuidores de ações. Os possuidores de obrigações ficaram sem nada.

Não existe paralelo histórico para esta crise bancária, que se alastra como mancha de óleo, em países do «coração» do capitalismo. Estamos ainda muito longe do seu final. Uma coisa é certa; os banqueiros centrais e os governos são impotentes para travar a crise em curso, são quadriliões de dólares de ativos em «papéis dos mais diversos tipos». Destes, os mais problemáticos são os derivados, cuja avaliação é difícil de se fazer: As operações de compra e venda fazem-se fora do balanço das instituições bancárias («over the counter», por cima do balcão, é a expressão consagrada).

O sistema não pode estar seguro, porque o capitalismo financeirizado se baseia em esquemas de Ponzi, quer sejam promovidos por empresas, bancos, «hedge funds», ou pelo próprio Estado, como na gestão das pensões.

Podemos ter a certeza de que os grandes capitalistas souberam transformar muitos dos seus ativos financeiros (ações, obrigações, contas a prazo, derivados...) em propriedade não-financeira:
- terras agrícolas: uma aquisição maciça de terras agrícolas por Bill Gates, fez dele o maior detentor individual de terras nos EUA.
- imobiliário: apesar de muito sujeito a especulação, é algo «sólido», seu valor nunca pode reverter  para zero.
- metais preciosos: o ouro, comprado nas praças do Ocidente excede em muito, as quantidades adquiridas pelos bancos centrais ocidentais, pelo que uma porção desse ouro deve estar em mãos privadas.
- obras de arte: verifica-se uma nítida inflação do mercado da arte, em especial, nos segmentos de topo do mercado, obras arrematadas em leilão por milhões. Elas são guardadas em cofres-fortes, durante anos, para depois serem vendidas com imenso lucro.

Quem vai sofrer são as pessoas comuns, cujo rendimento (salário, pensão ...) nunca é atualizado de acordo com a taxa de inflação. Ou seja, a imensa maioria fica realmente mais pobre. Os muito ricos não se importam, até gostam, pois um pobre sujeita-se a trabalhar em condições de grande precariedade, de forma desregulamentada, não se atrevendo nunca a reivindicar.

Há quem diga que muito do que se passa, ao nível dos mercados financeiros e dos principais bancos centrais ocidentais, é orquestrado, no sentido de que a população, castigada por tanta miséria, vai ter que «engolir» a mentira do dinheiro digital de bancos centrais (CBDC), como «panaceia» para a crise. A vantagem do dinheiro digitalizado a 100%, é que os poderosos poderão dirigir as nossas compras de bens e serviços, de acordo com aquilo que eles consideram ser «bom para a economia». Também torna impossível a verdadeira dissidência, pois os poderes podem, com toda a facilidade, «cancelar» a conta dos que eles consideram estar a incorrer no «crime de dissidência» e estes ficam sem meios de subsistência. Os poderes ocidentais, nisso, copiam o regime chinês, embora façam sempre propaganda contra a China.

domingo, 19 de março de 2023

TEMPESTADE DE CRASHES - EXPLICAÇÃO DO QUE SE ESTÁ A PASSAR

Conhecem com certeza a história de Pedro e o Lobo. O Pedro divertia-se a dar falsos alarmes, mas um dia o lobo veio mesmo à aldeia, só que nessa ocasião, ninguém queria acreditar nisso! Aqui, também se passa o mesmo, mas os «Pedros» são os que deram o alerta da situação disfuncional dos mercados e nas instituições financeiras, em particular, desde 2009.

O sistema financeiro e monetário mundial é controlado a partir da FED (Banco Central, uma instituição privada, embora o presidente seja escolhido pelo presidente dos EUA) e também do BIS (Bank of International Settlements) em Basileia (que é tão especial que a polícia suíça não pode lá entrar, mesmo com um mandato de captura).

O projeto de CBDC (Central Bank Digital Currencies) é oriundo e apadrinhado por aquelas duas instituições «mamutes» e por um terceiro «mamute», o FMI.

O processo de introduzir estas CBDC só tem interesse para os banqueiros centrais (em particular, os dos países ocidentais) se implicar a digitalização do dinheiro a 100%. O dinheiro-papel (ou em moedas) deixaria de ter validade.

Este processo talvez seja viável em países muito familiarizados com os cartões de crédito e débito. Nos países ricos (EUA, Suécia, Reino Unido,...) uma maioria das pessoas usa estes meios eletrónicos no quotidiano. A generalização dos pagamentos correntes através de cartão ou de app no smartphone, não seria muito problemática, à primeira vista.

Mas, vejamos o que aconteceu com a introdução do CBDC na Nigéria, país africano considerado rico pelo facto de ser um grande produtor de petróleo: Ver AQUI.

Neste país, houve uma situação caótica, em que as notas de banco eram «racionadas», onde mães, que tinham de alimentar as crianças, saltavam elas próprias as refeições, porque não havia acesso ao dinheiro no banco, não tinham suficiente para se abastecer de alimentos no mercado !

Se nos países desenvolvidos há problemas em instaurar os CBDC, é antes porque a cidadania já percebeu que o controlo do Estado central vai se tornar muito mais problemático do que a mera prevenção da fraude, da criminalidade e da fuga ao fisco.

Nestes países, apesar da propaganda, compreende-se que este processo não é a favor da liberdade, da autonomia e da privacidade dos cidadãos. A aceitação de tal medida tem de ser na sequência dum enorme caos, de uma crise profundíssima, só assim os governos e banqueiros centrais pensam conseguir a «adesão» ao «100% digital».

Note-se que as falências têm ocorrido numa série de bancos de depósito. Estes, são considerados «pequenos», em comparação com as 5 maiores instituições financeiras dos EUA: JP Morgan, Morgan Stanley, Freddie Mac, Bank of America, CITI Bank

Segundo Robert Kiyosaki, há a hipótese de tal cadeia de falências ter sido prevista e desejada. Houve um aumento brusco dos juros das obrigações e outros títulos de dívida, da parte da FED. Esta subida tem sido efetuada com o pretexto de domar a inflação. Mas, não é crível que a FED e o Tesouro dos EUA não tenham previsto que os bancos (justamente, os de depósito) que tinham como reserva principal «Treasuries» (obrigações soberanas dos EUA), não fossem muito impactados, alguns ficando mesmo insolventes. [Note-se que a subida dos juros nas obrigações, significa a diminuição do seu valor.]

Uma grande parte do dinheiro depositado nestes bancos, já voou para os 5 grandes bancos de negócios (ditos «Too Big to Fail») - sobretudo o dinheiro de clientes empresas/negócios, que tinham lá somas acima do limite de cobertura do FDIC. Esta instituição garante os depósitos até 250.000 dólares, mas não dispõe senão do necessário para cobrir 0 .05% do cash presente nos bancos dos EUA, que está dentro dos limite acima indicado.

Conclusão: Estão a fazer com que o mundo ocidental sofra uma enorme crise, porque temem que se forem introduzir o dinheiro digital (CBDC) «devagar, suavemente», aconteça uma rejeição semelhante à da Nigéria.

Agora, esta onda de choque provocada (Shock and Awe), vai ter implicações muito graves no continente europeu (e eles sabem-no). Note-se que a dimensão dos bancos deste lado do Atlântico é muito menor, só alguns bancos europeus fazem parte da tabela dos 100 maiores bancos.

Portanto, se a derrocada de bancos continuar com os pequenos ou médios bancos de depósitos na Europa, não será caso para surpresa. Além de estarem todos interconectados, é um facto que o ECB tem feito uma política muito parecida à da FED

Para os globalistas, não será um problema, pois faz parte dos seus planos: Eles querem que a Europa fique de rastos para aceitar qualquer boia de salvação lançada pelo FMI, Banco Mundial, BIS, etc.

Neste processo, compreende-se que a concorrência entre capitalistas, não é apenas de «Ocidentais» contra «Orientais». Desde há bastante tempo, os governos europeus e a Comissão Europeia, têm aceite o papel de vassalos, face aos interesses do «hegemon». Esta postura de subserviência constata-se em todas as organizações regionais e internacionais: Sem dúvida a OTAN , mas igualmente instituições globalistas como BIS, OMS, OCDE, etc.

Este jogo revela-se agora como duma «demolição controlada» do edifício monetário e financeiro «global». Destina-se a obter ainda maiores fatias de poder. Isso vai implicar obter a resignação e a anuência das populações, por medo.


ROBERT KYIOSAKI  COM ANDY SCHECTMAN : VEJA AQUI

VEJA ABAIXO Video SOBRE O CBDC:

ATUALIZAÇÃO 1: Durante o fim-de-semana foi negociada a compra, por 3 mil milhares de dólares, do Crédit Suisse pelo banco (Suiço) UBS, com apoio da BNS (Banco Central da Suiça) que fez um empréstimo de garantia de 100 mil milhares de dólares. Ver em: 

quinta-feira, 16 de março de 2023

A SITUAÇÃO REAL DA BANCA


 As pessoas, em geral, não compreendem como as instituições bancárias estão «alavancadas» ou seja, como emprestam 1000, quando só têm 100 em fundos próprios.

 Todo o sistema está feito para favorecer a utilização do dinheiro dos depositantes, para os mais diversos fins, sem lhes pedir licença, nem lhes dar juros (ou quase nada) por isso. 

Quando um banco empresta, a juros, cria instantaneamente (criação escriturária) o dinheiro em causa. Imagine as somas astronómicas criadas! O dinheiro-crédito é criado no momento em que é concedido o empréstimo! Os bancos são os principais criadores da massa monetária em circulação.

Mas, realmente, aquilo que as próprias leis e regulamentos permitem que as entidades bancárias façam, seria o suficiente para pôr na prisão o cidadão vulgar.

Se eu emprestar (a juros, ainda por cima) dinheiro que não existe, vou direitinho para a prisão. Mas isso é o vulgar da atividade de TODOS os bancos. 

Os contratos de derivados são autênticas apostas, com a agravante de que estas apostas - no fundo - são possíveis porque tu e eu e quase nós todos, pomos nossos parcos tostões nas instituições «caritativas» chamadas «bancos» ou «instituições financeiras». 

Mas, quando ficam «a descoberto», devido às suas tropelias e suas «apostas» arriscadas, não têm de repor as contas em ordem, com dinheiro deles. Não, porque o dinheiro privado dos administradores e gestores do banco não está nunca em causa. 

Dá-se então o caso curioso, em especial tendo em conta que isso nunca acontece com inúmeras pequenas e médias empresas em apuros: É o Estado (isto é, nós os contribuintes!), que vai resgatar esses bancos, somos nós (pelos nossos impostos) que cobrimos as perdas dessa banca, porque senão levantava-se uma grande indignação popular, que poderia acabar em insurreição, em revolução.

O dinheiro também é fabricado a rodos (eletronicamente) nos bancos centrais, o que significa que se está a diluir o valor das somas que já estavam na posse dos cidadãos e das instituições. Note-se que este mecanismo é o principal causador da inflação, como tenho explicado.

No caso da falência dos três bancos de depósito nos EUA, o Estado através do seu presidente Biden garantiu que as pessoas irão recuperar o dinheiro dos seus depósitos. Mas como? 

- Simples: o Estado, através do Tesouro, diz à FED (Reserva Federal) para imprimir mais uns biliões e lhos «emprestar». Depois, irá entregar aos depositantes dos bancos falidos as somas que eles possuíam nestas instituições. 

Não admira que as despesas sociais encolham, assim como as pensões, os salários e o investimento em infraestruturas públicas.

Enfim, como dizia Henry Ford (fundador da marca «Ford» de automóveis), «ainda bem que nem um cidadão em mil, percebe como funciona o sistema financeiro, porque senão, haveria uma insurreição amanhã» !!


ATUALIZAÇÃO:

O CRÉDIT SUISSE PRECISA DE 54 BILIÕES PARA EVITAR O COLAPSO


«SAM ZELL: ISTO É A REPÚBLICA DE WEIMAR»


O CRÉDIT SUISSE É APENAS O PRIMEIRO, NO SISTEMA BANCÁRIO GLOBAL, A ENTRAR EM COLAPSO

PS 1: Ao contrário das ações nas bolsas mundiais, o ouro subiu para um novo patamar, desde dia 15  e tem-se mantido até hoje (17/03/2023) nas alturas.

PS 2: Os grandes bancos formam uma associação inédita, com grandes somas depositadas, para evitar o colapso do «First Republic Bank»

PS 3: A desregulação do setor bancário e financeiro em 1999 é responsável, em última análise, dos colapsos de 2008 e de 2023.

segunda-feira, 13 de março de 2023

ATENTADO CONTRA NORDSTREAM: REALIZADO COM CONHECIMENTO PRÉVIO DO GOVERNO ALEMÃO

 Uma entrevista de Seymour Hersh ao canal chinês CGTN revela uma série de pontos, que foram postos em evidência por John Helmer, no seu blog: ver AQUI.

A publicação a 8 de Fevereiro da reportagem exclusiva de Seymour Hersh, baseado em confidências de alguém muito bem situado nos serviços secretos dos EUA (provavelmente da CIA), deixou pontos importantes não esclarecidos e deu origem a muita especulação, tanto no sentido de fazer dizer aquilo que Hersh não disse, como para denegrir a veracidade do relatório e a seriedade das fontes secretas, consultadas por Hersh.

Vem por isso a propósito a entrevista dada por Hersh ao canal televisivo estatal da China. Oiça e veja a entrevista feita pela estrela do jornalismo Liu Xin, aqui:


A transcrição parcial, em inglês, da entrevista está AQUI.

Aquilo que, tanto o artigo inicial de Hersh, como a entrevista dada à CGTN deixam na sombra, é o papel da Alemanha em todo o processo. 

John Helmer, oportunamente, junta elementos de prova, de que o governo de Olav Scholz estava muito em sintonia com Biden, na famosa conferência de imprensa de 7 de Fevereiro de 2022, em que choveram (da parte de ambos) as ameaças de retaliação sobre a Rússia, caso esta invadisse a Ucrânia. Foi nessa altura que Biden deixou entender, claramente, que o Nordstream 2 não iria ser permitido continuar, caso os russos concretizassem a invasão. Tomei a transcrição abaixo, do blog de John Helmer:

 


[retirado do blog «Dances With Bears» de John Helmer]

Source: https://www.whitehouse.gov/

Note that when Scholz was asked to comment on Biden’s threat against Nord Stream, he gave an unqualified endorsement. “And possibly this is a good idea to say to our American friends: We will be united, we will act together, and we will take all the necessary steps. And all the necessary steps will be done by all of us together. [Q] And will you commit today — will you commit today to turning off and pulling the plug on Nord Stream 2? You didn’t mention it, and you haven’t mentioned it. CHANCELLOR SCHOLZ: As I’ve already said, we are acting together, we are absolutely united, and we will not be taking different steps. We will do the same steps, and they will be very, very hard to Russia, and they should understand.”

Source: https://www.whitehouse.gov/

A transcrição acima das palavras do Chanceler Scholz não deixam margem para dúvidas:

Para muitos europeus as palavras acima têm um sabor amargo:  à distância de pouco mais de um ano daquela conferência de imprensa e face ao que se passou a 27 de Setembro 2022, mostram  que Scholz, contrariamente à «lenda», não estava nada preocupado com o efeito do «cancelamento» de Nordstream 2 sobre a indústria alemã e o seu próprio povo. 
Esse «cancelamento» (à bomba) teve efeitos devastadores diretos sobre a economia da Alemanha e agravou a inflação generalizada que já despontava. Isto também afetou muito a economia europeia, como não podia deixar de ser, visto que a Alemanha tem sido (até agora) o principal motor industrial da U.E. 
As consequências que temos de aceitar, face aos factos, é de que não existe real separação entre a oligarquia eurocrática e a oligarquia estado-unidense. Quem espera divisões entre as duas, deveria esperar sentado.

domingo, 12 de março de 2023

FINANCEIRIZAÇÃO, ESPECULAÇÃO E ENVELHECIMENTO POPULACIONAL: três fatores da crise do capitalismo

Desde sexta-feira passada, que os clientes do SVB (Silicon Valley Bank) não têm acesso às suas contas para levantar dinheiro «em espécie» (cash) de que precisam, ou para pagar contas. Com efeito, o segundo banco dos EUA faliu e essa derrocada foi súbita, efetuou-se em 48 h. O banco falido foi tomado por uma companha de seguros, a «Petro Insurance Corporation».

                                     
Esta falência sucedeu a outra, a do «Silvergate Bank», que detinha o nº16 no ranking das instituições bancárias americanas. 
A economia dos EUA é, há muito tempo, um castelo de cartas, assente em nada, ou seja, no «ar quente» da especulação de Wall Street. 
Parece que este banco SVB perdeu muito dinheiro em empréstimos aos «venture capitalists», porém esta suposição não me parece a mais adequada, para explicar o colapso, pois eles tiveram como principal fator a desencadear a falta de solvabilidade, a subida acentuada dos juros das obrigações.



 No mercado bancário, a compra de obrigações, principalmente de Obrigações do Tesouro, tem importância,  devido a que os bancos podem apresentar melhores ratios entre capital emprestado e capital próprio, o que lhes dá a possibilidade de expansão das suas operações de crédito. Sendo a valorização das obrigações tanto mais baixa, quanto mais a sua taxa de juros sobe, não é surpreendente que a subida, em ritmo acelerado, dos juros das Obrigações do Tesouro nos EUA, provoque a descida da capitalização dos bancos, visto que aquelas obrigações formam boa parte das suas reservas.
A financeirização da economia traduz-se, nos EUA, na perda substancial de rendimento do capital financeiro, quando os juros se aproximam da normalidade, ou seja, da sua média histórica. 




Noutros países, como por exemplo, na Coreia do Sul, a crise manifesta-se num setor diferente: No imobiliário, onde existe o sistema muito particular de Jeonse (40% do mercado dos apartamento para aluguer) . Neste sistema, os inquilinos, em vez de pagar renda ao proprietário, emprestam-lhe, a juro zero, uma soma correspondente a uma certa percentagem do valor do apartamento. O proprietário tem de devolver a quantia, passados dois anos. Nas décadas passadas, o sistema funcionou bem, pois havia uma carência de imobiliário, havia um crescimento vigoroso da economia e os preços dos apartamentos iam subindo  (80% das economias das famílias estão investidas no setor imobiliário, neste país). Agora, com uma das taxas mais baixas de fertilidade do mundo e correlativo envelhecimento da população, a Coreia do Sul encontra-se num contexto completamente diferente dos anos de expansão. Os preços dos apartamentos estagnaram ou diminuíram.  
Os mercados de exportação contraíram-se, a construção do imobiliário parou, em simultâneo com o encarecimento das matérias-primas (incluindo alimentares). 
Este aumento generalizado de preços, ao nível mundial, é resultante da inflação desencadeada pelas sequelas da frenética impressão monetária, das ruturas das cadeias de produção e abastecimento, causadas pelos «lockdowns» do COVID. Finalmente, as subidas bruscas do petróleo e outras fontes de energia, decorrente das sanções ocidentais às exportações de combustíveis da Rússia (o maior exportador mundial de gás natural e de petróleo), afetaram severamente todos os mercados em 2022. 
O resultado destes fatores conjugados, é que a Coreia do Sul (e, provavelmente, outros países com economias similares) deixou de ser um exportador líquido, para ser um importador líquido, ou seja, a economia sul-coreana gasta mais dólares a abastecer-se de produtos que importa do estrangeiro, do que os dólares que obtém pelas suas exportações. Isto é uma inversão muito notável pois, com exceção da grande crise de 1996-7, este país asiático tinha durante décadas um balanço positivo nas trocas comerciais.    
 
Em qualquer dos casos, a economia dos países capitalistas típicos está condenada. 
No caso das economias largamente financeirizadas, como é o caso dos EUA e também do Reino Unido, as sucessivas perdas de rentabilidade do capital tornam insustentáveis todos os esquemas de tipo Ponzi, em que assentam as suas economias, desde a banca, até aos fundos de pensões (sejam elas públicas ou privadas).
No caso das economias industriais e exportadoras muito dinâmicas, como a Coreia do Sul (igualmente para o Japão e outros países do extremo-Oriente), as dificuldades são acentuadas pela insustentabilidade demográfica: Uma economia capitalista tem de crescer para sobreviver e, para isso, tem também de crescer em termos demográficos. Em paralelo, ocorre o «encolhimento» dos mercados-clientes incapazes de absorver a oferta dos produtos industriais produzidos, devido à severa crise prolongada que lavra em países do Ocidente, principais clientes dos produtos industriais do Extremo-Oriente.
O resultado de todos estes fatores conjugados, traduz-se num comportamento caótico global da economia capitalista, num grau tal, que provocará uma grande destruição de capital. Segundo opiniões avalizadas, entrámos numa depressão, pelo menos tão severa como a depressão de 1929.

PS1: O artigo de Michael Hudson, que pode consultar AQUI, dá-nos a panorâmica do que se passa nas falências sucessivas dos bancos americanos. Tal como eu escrevi, Hudson põe à cabeça como causa para estas falências em série, a subida das taxas de juro dos bonds do tesouro, que constituem parte substancial das reservas de qualquer instituição bancária nos EUA. Os valores das obrigações diminuíram acentuadamente (quando o juro aumenta, a obrigação vale menos), esta quebra foi contagiar, por sua vez, as descidas no imobiliário e nas ações.

PS2: O mecanismo de funcionamento dos empréstimos fracionários é explicado por Richard Wolf

PS3: Um grande número de bancos tiveram de suspender a sua cotação nos mercados de ações, tendo as suas ações descido em média de 80%.