sábado, 18 de junho de 2022
MITOLOGIAS (VII) O GRANDE MITO DO NOSSO TEMPO
segunda-feira, 6 de junho de 2022
REALIDADE E "VICIOUSNESS" EPISTÉMICA
https://www.youtube.com/watch?
Gonzalo Lira aproveita um ensaio da filósofa Gillian Russell (1), que introduz o conceito de "viciousness" (em inglês) ou «vício de raciocínio», por oposição a vício: enquanto o vício tem sempre conotação moral, o «vício de raciocínio» será antes um «defeito de fabrico». Porém, neste contexto, não se trata de um fabrico material, mas de pensamento, de conceitos, do próprio filosofar. A "viciousness" em filosofia, política, estratégia, etc., implica um raciocínio defeituoso, o estar-se fora da realidade. Mas, se as pessoas estão numa bolha, num mundo fechado, não admira que falhem e sejam causadoras de derrotas catastróficas.
Gonzalo Lira não é um mero «Youtuber»: Apesar das limitações decorrentes da guerra, percebe-se que ele possui o substrato dum pensador e filósofo. Aliás, tem trabalho prévio (nos EUA) em literatura e no cinema. Vale a pena ouvi-lo atentamente.
PS: Veja a crítica de MMT na sequência do anterior vídeo:
segunda-feira, 30 de maio de 2022
A REALIDADE ACABA, SEMPRE, POR SER MAIS FORTE
domingo, 8 de maio de 2022
História, feita pelos vencedores ?
História, ela é feita pelos vencedores ?
Depende de que História estamos a falar!
A pseudo- ciência histórica, essa sim, costuma ser imposta pelos vencedores do momento. Mas, se pensarmos na História da antiguidade, os arqueólogos ou historiadores que se debruçam sobre essa antiguidade, não terão simpatia, nem antipatia em relação aos vencedores das épocas que estudam: os Assírios, a Babilónia, o Império Romano, etc.
Eu considero que a História do Povo dos EUA, de autoria de Howard Zinn é um bom contra exemplo, de que a História não é necessariamente feita pelos «vencedores». Outro exemplo que acho oportuno invocar, neste momento de histeria bélica, é o congresso anarquista de Amsterdão em 1907, do qual saíram resoluções importantes para a paz e que vieram - infelizmente - a ser ainda mais justificadas pela 1ª Guerra Mundial. A forma estereotipada como a maioria das pessoas «aprendem» a História da 1ª Guerra Mundial, ignora muitos factos e documentos, essenciais para a compreensão da época.
As propagandas políticas, seja em tempos de «paz» seja em tempos de guerra, podem vir disfarçadas de «discurso de História» mas, são apenas projeções do poder dominante. Assim, elas têm tendência a assumir-se como «a verdade», ou «a ciência» ou «a história».
Porém, múltiplos avanços científicos dos últimos cem anos têm contrariado este dogmatismo. Têm posto em relevo que os fenómenos, incluindo os sociais, podem e devem ser interpretados de várias maneiras, que podem existir consensos, resultantes de um determinado estado da pesquisa, e que a verdade nunca está definitivamente estabelecida.
Não se poderá arredar a ideologia da História, completamente, mas pode-se impedir que ela se transforme em «guia» que vai enformar tudo, desde as teorias mais gerais, até ao pormenor de quais são os factos relevantes e como devem ser tratados e incorporados.
O que nos dizem as teorias e metodologias científicas contemporâneas, das ciências físicas, às biológicas e às ciências humanas (economia, sociologia, antropologia, psicologia...) é que existe uma parcela irredutível de aleatório, uma componente fundamental de entropia, uma tendência para o caos. A ciência contemporânea vê o determinismo, não como componente essencial da ciência mas, pelo contrário, como efeito de medições «grosseiras». Quando se desce aos níveis microscópico, molecular, atómico ou sub-atómico, os fenómenos são de natureza estocástica, a indeterminação, a incerteza, predominam. Esta indeterminação é essencial, não se pode eliminar a incerteza quântica.
Nada disto fazia parte do universo mental de Marx, Engels ou outros marxistas. Aliás, eles estavam de acordo com o seu tempo, pois os académicos, os cientistas seus contemporâneos, estavam também imbuídos desse cientismo, do qual fazia parte integrante o «credo determinista», ao ponto de que muitos recusaram as teorias de Einstein, nas duas primeiras décadas do século XX, incluindo os mais ilustres, convencidos de que a física Newtoniana era a teoria física definitiva.
Quem clama que algo «está provado cientificamente» não sabe rigorosamente nada do método científico. Este nunca prova nada, apenas emite hipóteses, que se podem aceitar como teorias, enquanto conseguirem superar experiências desenhadas para pô-las à prova.
Entre os ignorantes, existe um recurso «encantatório» a fórmulas vazias, que eles não percebem sequer. Muitas pessoas pensam que «Marx tinha razão», porque julgam encontrar uma confirmação das teorias marxistas nesta ou naquela fase do capitalismo, o qual se desenvolve ou se transforma através de crises. Na incapacidade de compreender as verdadeiras forças em jogo, deitam mãos a uma pseudo- ciência (uma ideologia), com um papel de ritual de conformidade. Deixam, portanto, o terreno da ciência para o da mera ideologia.
Aliás, Marx elaborou a sua teoria de modo a encontrar uma base «científica» para fundamentar as suas convicções comunistas. Nos dias de hoje, as pessoas vêm isso como sendo filosofia ou ideologia. Marx dedicou-se a recolher - a posteriori - tudo o que pudesse «confirmar» as suas convicções. É um extremo de comportamento indutivo, mas que o próprio Marx considerava legítimo, no combate de ideias.
A escola contribui a deformar a ideia que as pessoas têm da História. Esta História escolar confunde-se com grandes batalhas, sucessões de reis, conquistas, etc., sendo essencial, para se fazer testes ou exames, ter-se memorizado a cronologia dos acontecimentos, considerados «marcantes». Assim, a instituição-escola, desde as idades mais tenras, vai subtilmente instilando uma reverência pelo poder, pelo herói, pelo guerreiro, vistos como os grandes atores, os protagonistas da História. O povo, as pessoas anónimas são apenas figurantes. As sociedades são «moldadas», segundo tal visão convencional, por seres de exceção, na chefia do Estado ou da Igreja. Tanto uns como outros, são dispensadores das generosas «benesses», pelas quais florescem artes e ciências.
Assim se «ensina» História, nos vários níveis, incluindo o universitário. Há muitos, quer estejam ou não nas instituições académicas, que se esmeram em manter e propalar esta visão, do tipo «romance histórico». A História assim apresentada tem muito pouco interesse para a vida real. Não admira que muitos jovens percam rapidamente interesse por essa História.
Porém, a História, se for centrada no passado imediato, ou seja, o passado vivenciado ou testemunhado pela pessoa que se debruça sobre ela, tem outro significado. Está intimamente associada às peripécias de sua vida, se cavar um pouco, e se indagar sobre as necessárias relações entre sua vida individual e a vida coletiva, social. Esta maneira de fazer História - no quotidiano - pode ser parte da reflexão individual. Mas pode e deve ser invocada, também, no contexto de discussões e debates, quer sejam em contexto formal ou informal. Será mais frutuoso abordar assim a História, pode ser um prazer e ajuda-nos a estar centrados na nossa vida, porque nós ficamos com a noção clara dos acontecimentos e dos contextos com os quais nossos antepassados foram confrontados.
Esta visão da História é «invertida» em relação ao tempo cronológico, pois se passa do quase-presente, para o passado próximo, acompanhando a genealogia de nossa família, com histórias pessoais da tradição familiar ou documentos. Procedendo do mesmo modo, será também mais fácil abordar o estudo da evolução das técnicas de produção industrial, ou agrícola.
Este método proporciona um conjunto de situações, que podem ajudar ao «apoderamento» dos indivíduos. Nesta prospeção do passado, a partir do presente, podem as pessoas realmente apropriar-se do passado. O que proponho aqui, já é feito a vários níveis, mas ainda de modo demasiado pontual e tardiamente na vida (não se começa, em geral, senão na idade adulta).
Esta outra História não é feita «pelos vencedores»: Fazem-na os «filhos» dos protagonistas verdadeiros, elementos do povo, aqueles que constroem a sociedade e a transformam. Seria uma História contada pelos que a fizeram, ou que a estão a fazer. Esta visão pedagógica permitiria aos indivíduos reapropriarem-se da sua vida. Iria dar-lhes um sentido mais profundo, mostraria em seu contexto as relações sociais, familiares, profissionais, etc.
Praticar História assim, seria uma reapropriação do Mundo, do real, da sociedade, pelas pessoas comuns. Tem todo o sentido, mas será difícil implantá-la, pois vai contra o privilégio, o elitismo, a adoração pelo poder.
quarta-feira, 27 de abril de 2022
VER O MUNDO DE OUTRA FORMA?
Lenine dizia... mais ou menos, isto: «Há décadas em que não se passa nada de muito relevante; e depois, surgem períodos em que os acontecimentos se precipitam, dando a sensação de que se viveram décadas, durante apenas uns meses ou semanas.»
Esta citação pareceu-me adequada para abrir uma reflexão sobre a mudança e - em particular - a mudança que temos experimentado, nos últimos anos. Temos a sensação de que a História se acelerou, de que grandes transformações ocorreram, de que se passam muitas coisas insuspeitas do grande público e mesmo de muitos dos peritos, que têm o potencial de transformar a nossa relação com o mundo, com o Estado, com a sociedade, com a economia, etc.
Seria muito interessante avaliar as diversas expetativas do que seria o século presente, enunciadas por eminentes intelectuais ou políticos no século anterior (século XX): Muitas delas revelaram-se muito distantes do real, quando confrontadas com os acontecimentos da história recente. Mas este exercício não se destinaria a fazer «chacota» dessas pessoas (nós também, tínhamos perspetivas que se revelaram falsas!), nem a nos mostrarmos mais clarividentes, que os nossos contemporâneos.
Esse exercício mental seria um bom «remédio» para as pessoas (de quaisquer setores do espectro político-ideológico), que estão cheias de certezas, capazes de dar resposta a tudo, etc. Seria, afinal, um exercício de humildade, se efetuado honestamente. Obrigava-nos a ir aos fatores fundamentais e analisar, não a partir dos nossos desejos, ou das nossas construções ideológicas, mas a partir da realidade.
Veio-me à memória outra citação de Lenine; ele dizia: «Os factos são teimosos!».
Não creio estar errado, se disser que a economia real deve prevalecer - numa visão de conjunto - sobre a economia financeirizada.
Com efeito, as necessidades globais em alimentação, energia e matérias-primas, sobrepõem-se (muito visivelmente, agora) aos movimentos erráticos e caóticos do dinheiro especulativo. Porém, este facto não é particular à época atual; sempre foi assim! Mas, quando existia bonança ou, quando o abastecimento dos mercados em relação a esses produtos (alimentos, energia, matérias-primas), estava a funcionar normalmente, a atenção das pessoas era puxada para a componente especulativa da economia, ou seja, para a ganância do lucro, de «fazer dinheiro» com dinheiro.
Se nós tomarmos um bocado de recuo, agora, neste momento particularmente conturbado da cena internacional, com as repercussões enormes que se estendem em todos os setores da economia, com particular incidência nos aspetos mais vitais, o que vemos? Vemos que a globalização capitalista, a engenharia económica e financeira, para aumentar as mais-valias da exploração do trabalho, com a exportação de fábricas e outros meios para os países do «Terceiro Mundo», onde não havia regulação séria do mercado de trabalho e onde era possível as multinacionais aí instaladas obterem um rendimento muitas vezes superior ao obtido na América do Norte ou na Europa, essa globalização ruiu.
Ela, globalização, ruiu e os países em «piores lençóis» são exatamente aqueles cujas burguesias mais beneficiaram dessa exploração acrescida, durante a fase de expansão e internacionalização mais agressivas do capital.
As pessoas ainda não perceberam, porque continuam embaladas na ideologia neocolonial, ou no consumismo acéfalo, mas o facto é que as componentes tecnológicas essenciais estão a ser fabricadas pelas nações e pessoas que elas (no fundo) desprezaram. Estas pessoas são técnicos altamente qualificados, engenheiros, investigadores, que enxameiam muitas das instituições de ponta do orgulhoso «ocidente» e, sem elas, simplesmente não haveria capacidade humana para realizar o trabalho de investigação e desenvolvimento, nos vários setores. Eu sei isso muito bem, pois tenho acompanhado na minha área (biologia molecular e genética) essa progressão, mas tenho informação segura de que se passa o mesmo, noutras áreas muito diferentes, mas igualmente ditas «de ponta».
Assim, o próprio desenvolvimento da economia financeirizada, o capitalismo na fase senescente, veio dar - a ele próprio - a machadada final.
O efeito político e geoestratégico disto é o que estamos a presenciar neste ano de 2022. Uma separação radical em dois mundos, o eixo Russo-Chinês, incluindo a Índia e muitos parceiros da Ásia Central e do Sul, além de uma ampla gama de acordos com África, América Latina e mesmo em setores da Europa. Por outro, um mundo dito Ocidental, que está mais ou menos limitado à Europa da UE, ao Reino Unido, aos EUA e aos anglófonos Canadá, Austrália e Nova Zelândia. Neste bloco, os EUA reinam como potência hegemónica, ditando o que se deve ou não fazer e que posições tomar, até ao pormenor.
Atrevo-me a dizer que não haverá mais globalização liderada pelo «Ocidente», pois ela foi propositadamente deitada abaixo, tendo os estrategas norte-americanos decidido que era melhor assim para o seu poderio. Esta tendência já se afirmara claramente no consulado de Donald Trump. Agora, apenas está a ser levada ao extremo pelos neocons que decidem a política em Washington.
Segundo esta visão, é melhor ter uma mão forte, segurando um conjunto de países-vassalos (os da NATO e sua réplica no Pacífico), ao Império ter que se confrontar em permanência com competição, resultante da ascensão económica e geoestratégica dos que não se conformam com sua ditadura. Eles chamam isso: «Rules based order».
Isto serve também, ao fim e ao cabo, os interesses geoestratégicos da Rússia e da China, que estão apostadas ambas em maximizar a conectividade entre si e com os países da Organização de Cooperação de Xangai.
No meio, ficam nações falidas, destruídas pela guerra : a Ucrânia é a última de tais nações, mas não devemos esquecer a Líbia, o Afeganistão, o Iraque, o Iémen, e outras... Cada uma dessas nações terá de se reconstruir após guerras cruéis, o que poderá corresponder a decénios.
Nunca a história volta atrás; O que aconteceu num dado período, deixa um traço indelével que se prolonga até ao presente. Sem inteligência da História, dum modo aprofundado, somos conduzidos por clichés, por preconceitos, por ideologias de pacotilha.
Nunca é fácil compreender o mundo. Ele não se rege por qualquer «lei», ao contrário do que Marx e os marxistas criam; o mundo dos homens, das sociedades, das civilizações é caótico, ou seja, não é possível se aplicar qualquer «lei, regra ou princípio».
É preciso compreender isto e compreender que o mundo natural - o mundo das necessidades energéticas, incluindo alimentação, que é afinal energia para o nosso corpo - esse obedece a certas constrições, que não se podem eliminar: as leis da termodinâmica, as leis da vida, das leis genéticas até às leis que governam as populações; as leis da ecologia, dos sistemas renováveis e dos recursos finitos, etc.
As pessoas que têm formação em biologia ou áreas conexas, têm natural propensão em ver o mundo deste modo: Este modo de ver, se não for transformado numa pseudo- ciência, ou numa forma atualizada da ideologia cientista dos séculos XIX e XX, pode ser um instrumento muito mais fértil, quer para a prospetiva, quer para a planificação flexível.
Afinal, o melhor modelo é aquele que passou «o teste» de Éons de evolução biológica: Compreender a fundo estes mecanismos não implica compreender tudo o que respeita ao mundo dos humanos e suas sociedades, mas ajuda a colocar a economia, a sociologia e política, em perspetiva.
quinta-feira, 24 de março de 2022
MEDITAÇÕES DE UM SOLITÁRIO [OBRAS DE MANUEL BANET]
A histeria social desencadeia-se de modo semiautomático quando estão reunidas certas condições: A imaturidade, em indivíduos de ambos os sexos, na idade adulta, que foram condicionados a achar que tudo lhes é devido, sem terem de contribuir, de uma ou outra forma, para a sociedade. A ausência de referentes positivos, no que toca ao comportamento. Os referentes, são somente pessoas que enriqueceram ou que se tornaram muito populares. Junte-se a isto, uma infantilização deliberada e constante da cidadania, conjugada com o falsear do debate na média, através de técnicas de manipulação. Os elementos referidos acima, estão na base de 90% das formas de manipulação social das emoções.
As poucas pessoas que escaparam a essa "lobotomia social", seja qual for seu substrato ideológico, serão incapazes de ter uma influência regeneradora no seio da sociedade: Algumas adotarão um quixotismo que os impele a brigar dentro ou fora dos partidos tradicionais. Estas pessoas estão destinadas ou a serem relegadas para a marginalidade cívica, pelo chamado "assassinato de caráter ", ou - como alternativa - servirão como "idiotas úteis" de partidos.
Estamos a anos-luz dos regimes delineados nas constituições, dos vários países da Europa, embora tal não pareça: Pode-se ver tal degradação em países fortes ou fracos economicamente, grandes ou pequenos, com população culta ou inculta, homogénea ou plurinacional. Todos estamos perante o mesmo fenómeno, porque a difusão da falsa informação predomina, porque quem está no controlo os meios de informação não precisa de suprimir fisicamente os seus opositores, como nos regimes totalitários do passado. Basta que as suas vozes estejam sujeitas a blackout. Se isso não chegar, usam a difamação maciça nas redes sociais. Alternativamente, podem comprar vozes dissidentes, de maneira que aparentem continuar a sê-lo, mas sem causar real prejuízo.
O desfigurar dos sistemas de democracia liberal efetua-se por dentro. Seus sabotadores estão no seu centro. Conscientemente, ou não, fazem o papel de seus piores inimigos. Ao serem corruptos, ou transigirem com a corrupção, ao manterem-se graças ao clientelismo, ao comportarem-se como se fossem "monarcas de Direito Divino", em vez de assumir o papel de mandatários, etc.
Quando toda a política se degrada em politiquice, as pessoas íntegras, nos diversos quadrantes, afastam-se por si próprias, ou são arredadas. Os medíocres, os arrivistas, os oportunistas, os sociopatas têm então sua oportunidade de ouro, os seus momentos de glória.
Não se pode saber a forma exata da política no futuro. As classificações como fascismo, comunismo, democracia, nacionalismo, etc. não ajudam grande coisa. Sei que estamos num momento de viragem. Já o sentira há muito tempo, já o tenho exprimido várias vezes neste blogue. Porém, agora oprime-me pensar que as mais negras distopias são verosímeis.
Tudo o que há de mais abjeto vem à superfície, nestes tempos. A abjeção resulta do facto de que as pessoas estão completamente destituídas de valores, duma forma ou outra de moral. Devemos antes falar de ética, pois a moral invoca necessariamente conformidade com a sociedade. Ora, muitos - pensemos em Sócrates ou Jesus, e tantos outros no passado - foram considerados contrários à moral do seu tempo, ou à maneira de pensar dominante.
Perguntareis: Quem és tu para te fazeres difusor de sabedoria, duma visão profética, de soluções para os males que afligem a sociedade?
É uma pergunta legítima. «Eu sei que não sei» e que estamos, quase todos, num mesmo grau de ignorância. Mas, no meu entender, o estudar os fenómenos do passado, adotando um pluralismo deliberado, ou seja, não nos autolimitando a uma corrente de opinião, seja ela qual for, parece-me o melhor para não cairmos nas ilusões, nos cantos das sereias das ideologias.
O pior inimigo da nossa clarividência, do rigor do nosso pensar, somos nós próprios: Seria bom que as pessoas se debruçassem sobre o que dizem os mais eminentes intelectuais (que os há, sempre) do campo contrário ao nosso.
Acredito que os profetas da Bíblia e os outros, foram pessoas clarividentes, que tinham uma inteligência aguda do que se estava a passar nas suas sociedades e conseguiram chamar a atenção do seu povo.
Diz-se que não há bons profetas no seu próprio país; que os santos e os profetas são sempre de fora: Esta ideia tem por base um certo desprezo das pessoas, por tudo o que lhes seja demasiado familiar, não conseguindo distinguir valor, talento ou génio, em pessoas que estejam próximas. Será porque se desencadeia um mecanismo de inveja, a maior parte das vezes inconsciente e, portanto, mais forte?
Tudo o que vem do estrangeiro tem um certo fascínio, sobretudo se trouxer consigo a auréola do «sucesso». Isto passa-se a todos os níveis em Portugal, um país muito «aberto» ao exterior, mas muito pouco atento aos valores que brotam no seu seio. Mas, o contrário disto não é ter um comportamento xenófobo. Devia-se adotar uma avaliação crítica de uma produção, seja qual for a sua origem. Não faz sentido, nas letras, nas artes, nas ciências, haver «preferência nacional». Mas, também não faz sentido manterem os valores de um povo, de uma nação, injustamente ignorados, enaltecendo toda a bugiganga e fancaria que venha com o selo do estrangeiro.
terça-feira, 22 de março de 2022
ESCREVENDO PARA UM DISTANTE FUTURO [OBRAS DE MANUEL BANET]
Detesto que me ditem a moral, que imponham o que é bem ou mal!
Alguém que guarde a sua capacidade de pensamento independente, grande parte das mentiras que lhe chegam aos ouvidos, ou que lê, pode desmascará-las. Mas, para isso, é fundamental a aprendizagem do pensamento crítico, o estudo sério da filosofia, da história e muitos outros domínios do conhecimento. Com tais instrumentos intelectuais, uma pessoa dificilmente será sujeita a «lavagem ao cérebro». Esta reveste-se, muitas vezes, da forma de hipnose coletiva, como a que observamos na histeria do COVID e na histeria anti-russa.
Não devemos escolher qualquer um dos lados numa guerra. Ambos os lados têm culpas; sempre foi e será assim. É a guerra - em si mesma - que se deve ser impedida, contrariada. Numerosas pessoas, muitas delas contra a sua vontade, são envolvidas e instrumentalizadas pelas fações opostas.
Não transijo nem diminuo a humanidade dos outros: ponho-me no lugar dos soldados de ambos os lados: Matar e estar sujeito a morrer, por causa da gula de poder de uns e de outros; haverá destino que seja mais lamentável?
Agora sei qual o grau de alienação das pessoas. Pode-se dizer que cedem à pressão da constante propaganda de guerra. Mas, em muitos casos, o que observo é que se tornam veículos entusiastas dessa propaganda, esquecendo todas as suas supostas raízes liberais, humanistas, cristãs, etc. que afinal funcionavam como mera capa social.
Após o conflito, as pessoas que assumiram acriticamente as narrativas oficiais, vão autoabsolver-se com total hipocrisia, vão varrer para debaixo do tapete quaisquer incongruências entre as realidades e a ficção que construíram, ou que lhes foi inoculada pela media. É assim que constroem a sua boa-consciência.
A media foi designada como «o quarto poder», para significar que funcionava como contrapeso aos outros corpos do Estado (executivo, legislativo e judicial). De facto, ela transformou-se em corpo destinado a influir nos outros corpos, não no sentido de lhes contrapor uma hipotética «vox populi», mas como veículo do poder económico e sem o qual não seria fácil governar. A media está nas mãos de um punhado de bilionários ou de grandes empresas de capitais privados, mesmo nos países mais poderosos e com larga tradição de «democracia liberal». São os interesses concretos dos grandes capitalistas ou dos grupos económicos e financeiros que são preservados nas narrativas, cuidadosamente talhadas para moldar a opinião pública.
Eu escolho a «liberdade», diziam alguns. Mas, não existe liberdade, sequer. Agora, é mais que evidente que temos somente uma pseudo- liberdade, perante a mais monstruosa desigualdade. É isso que vemos atualmente. Alguns, têm o poder de moldar as opiniões, os sentimentos, a própria personalidade de milhões de indivíduos anónimos. Que a multidão de indivíduos tenha seu comportamento padronizado e conformista é o fim desejado por todo o aparato doutrinador: O governo e suas agências, a media mainstream (em mãos de magnates) e a escola, em todos os níveis de ensino, sendo mais perverso o ensino universitário e sua suposta «liberdade académica».
A minha náusea existencial resulta de constatar o facto de que as pessoas não evoluíram nada. São tão primárias e mesquinhas como nos séculos passados; talvez mais, até. Como roupagens que as vestem, as suas ideologias de pacotilha são mudadas ao sabor das conveniências. Não mudam por dentro, só superficialmente. Estas pessoas podem mudar facilmente de posições políticas, com única condição de que percebam que o vento mudou e que é mais favorável outra postura.
sábado, 19 de março de 2022
CITAÇÕES DE GEORGE ORWELL
quarta-feira, 16 de março de 2022
QUEDA DA TAXA GERAL DE RENTABILIDADE DO CAPITAL; REALIDADE OU MITO?
sexta-feira, 4 de março de 2022
REFLEXÃO - «O HUMANO MORREU»
O globalismo é a ideologia do triunfo do capitalismo sem freio, do capitalismo mundializado, explorando à vontade os povos do Terceiro Mundo, os quais ficam felizes por terem trabalho, mesmo pago a um décimo do trabalho equivalente dos ocidentais. Estes, como novo-ricos, têm sonhos e fantasias, adições e ilusões, exatamente como crianças mimadas que são. Os dirigentes esmeram-se em manter os seus súbditos (vulgo cidadãs/ãos) num estado de torpor «feliz», de embriagês consumista, de «aventuras» turísticas de pacotilha. Assim, deixam os grandes capitalistas e seus «gestores» (quer na empresa, quer no aparelho de Estado), fazer o que muito bem entenderem.
A crise dita do COVID, entusiasmou e tornou ainda mais atrevida a classe dirigente globalizada, aquela que se revê no WEF de Davos. «Davos» é o leadership ideológico do globalismo, enquanto o seu núcleo duro são o capital financeiro, os grandes bancos sistémicos, mais Blackrock, Vanguard e outros «hedge-funds», com muito peso nas principais bolsas. Nesta economia totalmente financeirizada, a persistência da ilusão de riqueza é mantida pela pirâmide de Ponzi dos ativos financeiros, que parecem subir até ao céu, mas essa valorização é contabilizada em divisas que perdem cada vez mais o seu valor real, isto é, seu poder aquisitivo em mercadorias e serviços. Chega um momento, porém, em que é preciso, à oligarquia, fazer ruir o castelo de cartas: É o «Great Reset». A «pandemia de COVID» foi apenas o aperitivo.
Neste mundo, cujos valores estão completamente invertidos, «um mundo ao contrário», o trabalho tornou-se «dispensável», numa larga medida: Pensam assim os muito ricos e agem em consequência. A partir do neolítico, houve guerra frequente nas sociedades; temos abundante prova e descrição disso, desde os reinos e impérios da antiguidade (Suméria, Babilónia, Egito, Hititas, Fenícios, Gregos, Romanos...). Mas, o «capital humano» não era completamente desprezado pelos reis, pois os escravos, as presas da conquista do outro povo, iriam enriquecê-los e à corte palaciana. Hoje, os escravos já não são precisos: Os Senhores do Mundo estão apostados em reduzir estas «bocas a mais».
Hoje em dia, não consigo abrir uma página de um qualquer órgão de comunicação social «mainstream» ou de «rede social corporativa», sem sentir vómitos. Se os leio, faço-o com esforço, pois tornaram-se, não apenas manipuladores - sempre o foram - mas abjetos, arrogantes. Em resumo, penso que as pessoas que engolem essa "m... " desinformativa, sem pestanejar e até com imenso gosto, transformaram-se em «zombies». Como zombies que são, julgam-se normais. São normais, estatisticamente falando. E esta, é a verdadeira tragédia.
Podia Nietzsche , no século XIX clamar: «Deus morreu»! Mas, eu diria que «afinal, foi o humano que morreu!». Vejo isso escrito, em enormes letras, numa parede... Dizia-me, há muitos anos, um falecido amigo, que «o inferno é nesta Terra». Estava cheio de razão.
Este Mundo, não me custa nada dizer-lhe adeus.