A IIIª Guerra Mundial tem sido, desde o início, guerra híbrida e assimétrica, com componentes económicas, de subversão, desestabilização e lavagens ao cérebro, além das operações propriamente militares. Este cenário era bem visível, desde a guerra na Síria para derrubar Assad, ou mesmo, antes disso.
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sábado, 18 de junho de 2022

MITOLOGIAS (VII) O GRANDE MITO DO NOSSO TEMPO



O pensamento sobre o mundo que nos rodeia é condicionado pela nossa experiência sensível. Mas não é essa experiência sensível. Esta, depende dos aparelhos sensoriais de que somos dotados, não se pode dissociar da «janela de realidade» à qual eles estão associados. Por exemplo: os olhos humanos estão limitados, na sua capacidade de  deteção, ao espectro visível das radiações eletromagnéticas; a gama de sons que os humanos conseguem ouvir está limitada a um certo intervalo de frequências.
Mesmo que a humanidade tenha superado muitas das limitações à perceção direta do real, através de instrumentos, estes são - afinal - órgãos sensoriais artificiais, como o microscópio, o telescópio, etc.: a perceção tem limites.
Mas, além disso, todo o equipamento científico contemporâneo é baseado nos pressupostos afirmados por uma elite científica nos vários campos e aplicam-se as leis da física. Estas leis, não apenas formam a trama da nossa compreensão do Universo, como são o fundamento sobre o qual construímos os instrumentos, físicos e concetuais, sobre os quais repousa o nosso saber científico.
O Bios é um domínio especial do Cosmos. Pode-se colocar a hipótese de que qualquer ser biológico esteja dotado de sensibilidade e duma forma de consciência, a qualquer nível de complexidade em que realizemos o nosso inquérito. Assim, em relação a bactérias, ou a células integradas num tecido do corpo, não se pode falar duma ausência de sensibilidade, mas de sensibilidade adaptada às suas funções vitais. Esta sensibilidade é finalizada: Claramente, possui um propósito que é o de viver, de continuar a existir enquanto conjunto coerente e integrado. Esta situação é comum a qualquer célula, seja com vida independente, ou integrada num conjunto mais vasto. Note-se que, todas as células estão relacionadas entre si pela descendência; uma célula descende sempre de uma outra, ou outras, células. Temos portanto, para cada célula, seja ela de vida autónoma ou integrada num organismo, a sensibilidade e a «genealogia»: Não serão estas duas características suficientes para determinar que estas unidades de matéria viva, possuem propósito e, mesmo, consciência? O problema é antes devido ao facto da nossa mente estar amarrada ao materialismo mecanicista persistente, disseminado como «senso comum» na nossa época.
Não podemos nos dissociar do instrumento de medida, para fazer uma medição de algo. O princípio da incerteza  de Heisenberg tem grande importância teórica na Física Quântica. Mas, ao nível da filosofia do conhecimento (ou epistemologia), devia-se também adotar o postulado de que não podemos nos debruçar sobre qualquer realidade, empírica ou conceptual, sem que o «aparelho conceptual/metodológico» que é o nosso, deixe de interferir na observação, na interpretação dos dados e na teoria que as enquadra. Trata-se de um vai-e-vem, pois a teoria é influenciada pelas observações do objeto sob investigação, mas o referido objeto não é «visível» sem  teoria explícita, ou implícita. O exemplo seguinte, dá uma ideia do que pretendo exprimir: Quando os humanos olham a Lua, veem mais do que um disco brilhante no céu; veem a Lua como planeta, como satélite do nosso planeta, cujas propriedades foram descobertas ou confirmadas pelas viagens do homem à Lua no século XX, etc. Os homens da antiguidade viam a Lua como Deusa, ou como uma manifestação especial da Divindade. Não há nenhuma civilização ou cultura que veja a Lua somente como um "disco esbranquiçado, no céu noturno". De facto, quando se olha para a Lua é impossível vê-la, simplesmente e somente, assim.
A um nível sistemático pode-se dizer que a observação direta ou mediatizada por instrumentos técnico-científicos, de um qualquer objeto, está profundamente imbuída do modo como nós - indivíduos dentro de determinada cultura, sociedade, época - vemos e pensamos o Mundo. Note-se que a conceptualização do objeto se enquadra dentro da nossa visão do real. 
Tenha-se em conta que existem muitos casos, na história das ciências, em que - literalmente - os cientistas observaram determinado ser ou fenómeno, sem o reconhecer enquanto algo digno de ser analisado, estudado, descrito em detalhe, investigado. Não foi por descuido ou miopia, mas porque não possuíam o conceito que lhes permitia isso: Este, foi criado e desenvolvido depois, noutra geração de cientistas. A partir desse momento e não antes, tal conceito poderá ter sido usado para descrever e estudar o referido objeto ou fenómeno. A transformação deu-se ao nível do domínio cognitivo  ou psicológico; quanto ao objeto, ele sempre foi igual, ou equivalente.
Assim, a realidade que nos dizem ser a «ultima ratio» da ciência, não é mais que um conjunto de visões ou preconceitos duma dada época. Não existe visão «objetiva» na ciência: Há pesquisas, mas elas ocorrem no interior dum certo aparelho ideológico/científico; existe um enquadramento dos fenómenos, das observações, das experiências, dentro do paradigma aceite.
Esse paradigma é difícil de modificar, muitas vezes: Se o pensamento dos físicos fosse realmente objetivo, eles teriam adotado, muito antes de Copérnico, a interpretação heliocêntrica. Existe prova segura de que tal teoria foi enunciada por filósofos gregos da antiguidade. Eles, aliás, forneceram muitos argumentos em apoio de tal teoria.
Uma situação análoga se verificou com a Teoria da Relatividade de Einstein: Muitos cientistas notáveis, na primeira década do século XX, recusaram a teoria de Einstein. Curiosamente, o próprio Einstein, que recebeu o Prémio Nobel, não pela sua Teoria da Relatividade, mas pela explicação do efeito fotoelétrico (um fenómeno quântico), era cético em relação às interpretações da Física Quântica, que outros cientistas desenvolveram na primeira metade do século XX. Ele recusava a existência duma indeterminação ontológica, no íntimo da matéria.
A abertura não é sempre caraterística do pensamento dos científicos. A ideia de que o cientista típico é alguém com grande criatividade intelectual, que pensa fora da rotina, do convencional, é muito romântica, mas totalmente errada, especialmente na nossa época. Com efeito, nos laboratórios de pesquisa ou departamentos científicos das universidades, o mais frequente são atividades de reprodução, com maior ou menor variação, é continuação dos caminhos já traçados. As propostas mais inovadoras são - com frequência - rechaçadas. Os cientistas em posições dominantes, decidem sobre a atribuição - ou não - de créditos para tal ou tal investigação. Eles têm receio de que um projeto envolvendo demasiadas incógnitas, não dê origem a resultados publicáveis. A investigação científica tornou-se convencional, dominada por carreirismos e pouco favorável - afinal - à verdadeira inovação. O único aspeto que mantém este sistema institucional, é a capacidade em atrair financiamentos (estatais e privados). Por outras palavras, os responsáveis pelos laboratórios e institutos especializaram-se em fazer «lobbying», em captar verbas para suas linhas de investigação, para suas instituições.
A ignorância científica, ao contrário do que muitos pensam, está em progressão na nossa sociedade e o fenómeno tem-se acelerado. Os programas do ensino secundário são cada vez mais «leves», nas componentes científicas. Os adolescentes não têm contacto com a ciência experimental, propriamente dita. O que chamam de «revolução» informática consiste em transformar jovens em «ratinhos de laboratório», conectados ao computador, que reagem a estímulos e são mantidos numa dependência (como a adição aos jogos de computador). Isto dá enorme satisfação aos adultos (os pais, ou os educadores), encantados, porque as crianças estão «muito sossegadinhas» em frente aos computadores!
Certos domínios, menos tecnologizados, como a epistemologia (a filosofia das ciências), podem ainda ter alguns progressos nesta civilização. Porém, a generalidade dos domínios tem uma produtividade real muito escassa. Porque razão afirmo tal coisa?  Porque, comparando resultados científicos de hoje com os dum passado não muito remoto (alguns decénios), verificam-se várias coisas imprevistas: Há uma multiplicação de artigos em publicações científicas, mas demasiados não correspondem a reais avanços nas respetivas ciências. Se fizermos uma medição qualitativa honesta, vemos que os investimentos e o número total de pessoas técnicas e científicas se multiplicaram, mas quanto ao progresso científico e técnico, deixam muito a desejar. Para uma mesma quantia investida, a ciência que se fazia há 50 ou mais anos atrás, era bem mais produtiva. Com menos, fazia-se mais, descobria-se mais e inovava-se mais. O aparelho dito científico tem, hoje, um papel de «validação» da sociedade tecnocrática. Isto é patente, por exemplo, em Medicina. Rios de dinheiro são gastos, sem real progresso na saúde da população geral. Este é o resultado mais visível.
Na sociedade futura, alguém que se debruce sobre a realidade da ciência do começo do Século XXI, irá espantar-se com os volumes de investimentos em investigação aplicada à medicina - que implicaram défices de investimentos noutras áreas - consentidos pelas pessoas e pelos Estados. Mas que são tragados por uma medicina devoradora de recursos,  ultra- tecnologizada e com resultados no inverso daquilo que seria de esperar. Com efeito, a população está cada vez mais doente. Está mais dependente dos cuidados de saúde, mais frágil, menos autónoma, em todas as faixas etárias, sobretudo nos países industrializados. 
Sabe-se perfeitamente que muitas doenças podem ser eficazmente combatidas com prevenção, educação e hábitos de higiene. Apenas esta abordagem é eficaz, ao nível populacional, para as doenças ditas «de civilização» (obesidade, diabetes, cancros, alcoolismo, doenças psíquicas, etc.). Isto não é do interesse das grandes farmacêuticas, pelo que as pessoas vão continuar a adoecer e consumir mais remédios, para lucro dos grandes acionistas destes empórios.

 


segunda-feira, 6 de junho de 2022

REALIDADE E "VICIOUSNESS" EPISTÉMICA

O que é que acontece quando os «peritos» se enganam? Quero dizer, não quando cometem um erro ocasionalmente, afinal somos todos muito falíveis, mas quando se enganam consistentemente, obsessivamente, compulsivamente? Quando tais enganos deles recaem sobre nós, sobre pessoas que não têm defesa, só podem arquear as costas e suportar as consequências? Quando tais consequências são pagas por aqueles que menos responsabilidade têm, do que está a acontecer? E porque razão estas situações são recorrentes?


                                           

                        https://www.youtube.com/watch?v=-rdtlpmY4qk

Gonzalo Lira aproveita um ensaio da filósofa Gillian Russell (1), que introduz o conceito de "viciousness" (em inglês) ou «vício de raciocínio», por oposição a vício: enquanto o vício tem sempre conotação moral, o «vício de raciocínio» será antes um «defeito de fabrico». Porém, neste contexto, não se trata de um fabrico material, mas de pensamento, de conceitos, do próprio filosofar. A "viciousness" em filosofia, política, estratégia, etc., implica um raciocínio defeituoso, o estar-se fora da realidade. Mas, se as pessoas estão numa bolha, num mundo fechado, não admira que falhem e sejam causadoras de derrotas catastróficas.

Gonzalo Lira não é um mero «Youtuber»: Apesar das limitações decorrentes da guerra, percebe-se que ele possui o substrato dum pensador e filósofo. Aliás, tem trabalho prévio (nos EUA) em literatura e no cinema. Vale a pena ouvi-lo atentamente. 

(1) https://gilliankrussell.files.wordpress.com/2015/07/epistemicviciousness.pdf
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PS: Veja a crítica de MMT na sequência do anterior vídeo:

segunda-feira, 30 de maio de 2022

A REALIDADE ACABA, SEMPRE, POR SER MAIS FORTE


Mattias Mesmet avança explicações sábias para a hipnose coletiva que assolou o Mundo inteiro durante a «pandemia» de Covid.
Agora, com hipnose ou sem ela, as pessoas parecem-me enraivecidas contra os que são designados «os maus» pela propaganda. Fico chocado com a total rendição de pessoas, outrora defensoras de valores do humanismo e direitos humanos. São capazes de atitudes discriminatórias, aprovando-as ou ficando indiferentes, face à demonização de todo um povo, o povo russo.
Nenhum povo tem a responsabilidade dos atos dos seus dirigentes, na verdade. Nós sabemos isso: No Ocidente, também, governos e maiorias parlamentares costumam decretar ou votar medidas ao contrário dos programas eleitorais na base dos quais foram eleitos.
Dizer que «o povo tem os dirigentes que merece» é uma grande injustiça. É como se o povo, enganado, tivesse -ainda por cima! - a responsabilidade pelo mal que os políticos fazem! O facto de fazerem esse mal, e que seja feito em nome dos eleitores e do povo, é apenas adicionar escárnio à injúria.
Eu não sei qual a popularidade respetiva dos diversos dirigentes mundiais; não tenho confiança nos «institutos de sondagens»; nem sequer, no que significam as eleições num dado país pois, como disse acima, as pessoas costumam ser completamente enganadas. São inundadas por promessas demagógicas, ou submetidas uma intensa propaganda de ódio contra os «inimigos designados» do momento.
De facto, pouco importa. Pois a minha preocupação é que as pessoas comuns estão demasiado dependentes da bolha de narrativas enganadoras, que recebem constantemente, da média corporativa e que realmente consegue influenciar a generalidade do público.
O efeito é de tal ordem, que as pessoas não acreditam naquilo que têm diante dos olhos: É o conto d'«O Rei Vai Nu» que deveria ser reescrito, de acordo com a versão de Bob Moran:


Em face do que se tem passado, verifico que o meu receio duma nova «idade das trevas», dum recuo civilizacional, parece confirmar-se.
Não vejo outra saída, que não seja ao nível de pequenos grupos de indivíduos, que se juntem para se entreajudar e para encontrar formas inteligentes de resistir.
 O convencimento das pessoas não decorre -infelizmente - de ouvirem ou lerem uma qualquer argumentação racional contrária às suas crenças. Mesmo quando se apresentem muitos argumentos racionais e lógicos. Os humanos não são seres racionais, mas «que racionalizam».
De facto, muitas pessoas preferem teimar que têm razão, a terem que conceder que se enganaram, ou que se deixaram aldrabar por um trapaceiro, etc.
Não perdoam a alguém que lhes demonstre que elas estavam enganadas. Mesmo que esse alguém utilize linguagem cordata, não agressiva e quando os argumentos são realmente bons.
O seu «amor-próprio» faz com que recusem aceitar que foram arrastadas na «manada», ou seja, na onda de entusiasmo momentâneo, emocional.
Então, não há nada a fazer?
- Não é bem assim: Há que manter a criteriosa avaliação da realidade, tal como ela é. Não cairmos no pessimismo, nem deixar de ver as realidades em face, mesmo quando elas são «feias». Há que ter muito autocontrolo e não querer convencer, seja quem for: as pessoas convencem-se a si próprias, em consequência das circunstâncias em que são colocadas. Ou vivem uma experiência que faz a diferença, ou nunca mudarão de opinião, seja sobre o que for. É o primado da prática.
Para algumas pessoas, um leve trauma chega para mudarem de atitude. Para outras, é necessário um acontecimento muito mais marcante.
Para a generalidade das pessoas, o «efeito de vizinhança» tem um papel decisivo; quando - em volta do indivíduo - estão todos a apoiar determinada narrativa, quase ninguém se atreve a contrariar essa versão.
Vimos, no caso do COVID, que muitos profissionais de saúde tinham fundadas e sensatas objeções, quanto aos métodos de tratamento, mas tiveram que se sujeitar aos protocolos impostos administrativamente, inadequados e que fizeram aumentar o número de mortes. Porém, não foram frequentes os que se rebelaram. Os que o fizeram, foram arrastados na lama. Em muitos casos, foram punidos por terem mostrado independência. Um grande número terá recuado e fingido concordar com as diretivas, por receio de ter sua carreira e emprego postos em causa.
De facto, as pessoas que controlam as narrativas são, muito diretamente, pessoas do poder. Mesmo, quando se revestem de títulos científicos (como Ferguson ou Fauci e muitos outros) são - de facto - os que falsificam a ciência, pretendendo ser «a ciência». Seu jogo consiste em favorecer os poderosos, multimilionários, cuja fortuna é superior ao PIB de nações e não das mais fracas.
Os governos são manipulados por este grupo de super-ricos: Tudo o que esta aristocracia tem de fazer, é manter os «seus» políticos na dependência, através de generosas doações.
Qual é o político que, para não fazer algo que contradiga as suas convicções, prefere perder as eleições, porque perdeu os apoios financeiros para a campanha dispendiosa ?
De facto, só chegam a disputar o poder, pessoas que realmente não têm escrúpulos nenhuns. Já tenho demonstrado, noutros artigos, como o sistema dos partidos é uma espécie de sistema de seleção darwiniana ao contrário: Só sobrevivem, prosperam e triunfam, os piores, os menos escrupulosos, os destituídos de moral, os que desprezam seus eleitores.
Nestas circunstâncias, a questão nem se põe de querer disputar algo no terreno político, que está completamente corrompido.
Mas, faz sentido nos reunirmos com pessoas que estejam também elas fartas desses psicopatas e sociopatas.
O essencial é construir alternativas de vida, de relacionamento, de educação, capazes de manter um certo número fora da atração da política: Pessoas capazes de construir-se, de forma integral, quer no plano profissional, familiar, ou social.
A «democracia», tal como é praticada no Ocidente, é «um repelente» para pessoas saudáveis, com bons instintos, que não gostam de dominar os outros, nem ser dominadas.
Pois essas pessoas existem e não são poucas. Eu não sei se, eventualmente, são a maioria, ou não. O que eu sei, pela minha experiência vivida, é que muitas pessoas se julgam muito mais impotentes, do que na realidade são: Pensam estar isoladas, marginais, mas isso não é verdade, pois - de facto - existem muitas outras como elas.
O tipo de vida nas nossas sociedades, é que é  causador desse isolamento. As vidas das pessoas são compartimentadas: Não têm verdadeiros convívios, além da família, mas mesmo esta é muito restrita, visto que a família alargada (tios, primos, etc.) «desapareceu». Só resta, na prática, a família nuclear (o casal e os filhos).
No fundo, trata-se de cultivar a convivialidade, com o propósito de que vá além do mero prazer de conviver. Seria interessante desenvolver «clubes», «academias», ou outros agrupamentos onde as pessoas possam realizar o que gostem e interagir com outras, cujos interesses sejam afins.
Note-se que isto não implica, de modo nenhum, uniformidade ou convergência política ou ideológica. Não é o propósito deste tipo de associações. A verdade é que estas associações são de natureza cultural. São polos de civismo, que educam e perpetuam relações de entreajuda, de tolerância e promovem a construção de projetos em comum.
Estamos em plena era digital, da Internet e dos smartphones mas, isto não significa que a procura de contato direto, genuíno, baseado nos interesses das pessoas, deixe de fazer sentido. Considero que é preciso reinvestir este campo da sociabilidade direta, sem ser com uma finalidade «interesseira». A motivação não deveria ser profissional, de negócios, ou partidária.
Não possuo um «livro de instruções», para a construção de tais associações. Pode-se partir de instituições existentes, que precisam de ser revitalizadas, ou de grupos, mais informais, de afinidade. É frequente acontecer - espontaneamente - entre adolescentes que partilham o mesmo gosto por desporto, ou por música. Mas, pode ser cultivado em qualquer outra etapa da vida.
De qualquer maneira, existe um campo enorme para um trabalho transversal, que não passa por relações «mercantis» ou «hierárquicas». É neste campo que julgo valer a pena nos investirmos, não em estruturas de poder, que são as associações de cariz político.
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PS1: Veja artigo do Dr. Robert Malone, confirmando o que digo acima, a propósito da onda de medo induzida pela media, usando «monkeypox»: 

domingo, 8 de maio de 2022

História, feita pelos vencedores ?


 
História, ela é feita pelos vencedores ?

Depende de que História estamos a falar!

A pseudo- ciência histórica, essa sim, costuma ser imposta pelos vencedores do momento. Mas, se pensarmos na História da antiguidade, os arqueólogos ou historiadores que se debruçam sobre  essa antiguidade, não terão simpatia, nem antipatia em relação aos vencedores das épocas que estudam: os Assírios, a Babilónia, o Império Romano, etc. 

Eu considero que a História do Povo dos EUA, de autoria de Howard Zinn é um bom contra exemplo, de que a História não é necessariamente feita pelos «vencedores». Outro exemplo que acho oportuno invocar, neste momento de histeria bélica, é o congresso anarquista de Amsterdão em 1907, do qual saíram resoluções importantes para a paz e que vieram - infelizmente - a ser ainda mais justificadas pela 1ª Guerra Mundial. A forma estereotipada como a maioria  das pessoas «aprendem» a História da 1ª Guerra Mundial, ignora muitos factos e documentos, essenciais para a compreensão da época. 

As propagandas políticas, seja em tempos de «paz» seja em tempos de guerra, podem vir disfarçadas de «discurso de História» mas, são apenas projeções do poder dominante. Assim, elas têm tendência a assumir-se como «a verdade», ou «a ciência» ou «a história». 

Porém, múltiplos avanços científicos dos últimos cem anos têm contrariado este dogmatismo. Têm posto em relevo que os fenómenos, incluindo os sociais, podem e devem ser interpretados de várias maneiras, que podem existir consensos, resultantes de um determinado estado da pesquisa, e que a verdade nunca está definitivamente estabelecida.

Não se poderá arredar a ideologia da História, completamente, mas pode-se impedir que ela se transforme em «guia» que vai enformar tudo, desde as teorias mais gerais, até ao pormenor de quais são os factos relevantes e como devem ser tratados e incorporados.

O que nos dizem as teorias e metodologias científicas contemporâneas, das ciências físicas, às biológicas e às ciências humanas (economia, sociologia, antropologia, psicologia...) é que existe uma parcela irredutível de aleatório, uma componente fundamental de entropia, uma tendência para o caos. A ciência contemporânea vê o determinismo, não como componente essencial da ciência mas, pelo contrário, como efeito de medições «grosseiras». Quando se desce aos níveis microscópico, molecular, atómico ou sub-atómico, os fenómenos são de natureza estocástica, a indeterminação, a incerteza, predominam. Esta indeterminação é essencial, não se pode eliminar a incerteza quântica.   

Nada disto fazia parte do universo mental de Marx, Engels ou outros marxistas. Aliás, eles estavam de acordo com o seu tempo, pois os académicos, os cientistas seus contemporâneos, estavam também imbuídos desse cientismo, do qual fazia parte integrante o «credo determinista», ao ponto de que muitos recusaram as teorias de Einstein, nas duas primeiras décadas do século XX, incluindo os mais ilustres, convencidos de que a física Newtoniana era a teoria física definitiva.

Quem clama que algo «está provado cientificamente» não sabe rigorosamente nada do método científico. Este nunca prova nada, apenas emite hipóteses, que se podem aceitar como teorias, enquanto conseguirem superar experiências desenhadas para pô-las à prova.  

Entre os ignorantes, existe um recurso «encantatório» a fórmulas vazias, que eles não percebem sequer. Muitas pessoas pensam que «Marx tinha razão», porque julgam encontrar uma confirmação das teorias marxistas nesta ou naquela fase do capitalismo, o qual se desenvolve ou se transforma através de crises. Na incapacidade de compreender as verdadeiras forças em jogo, deitam mãos a uma pseudo- ciência (uma ideologia), com um papel de ritual de conformidade. Deixam, portanto, o terreno da ciência para o da mera ideologia. 

Aliás, Marx elaborou a sua teoria de modo a encontrar uma base «científica» para fundamentar as suas convicções comunistas. Nos dias de hoje, as pessoas vêm isso como sendo filosofia ou ideologia. Marx dedicou-se a recolher - a posteriori - tudo o que pudesse «confirmar» as suas convicções. É um extremo de comportamento indutivo, mas que o próprio Marx considerava legítimo, no combate de ideias. 

  A escola contribui a deformar a ideia que as pessoas têm da História. Esta História escolar confunde-se com grandes batalhas, sucessões de reis, conquistas, etc., sendo essencial, para se fazer testes ou exames, ter-se memorizado a cronologia dos acontecimentos, considerados «marcantes».  Assim, a instituição-escola, desde as idades mais tenras, vai subtilmente instilando uma reverência pelo poder, pelo herói, pelo guerreiro, vistos como os grandes atores, os protagonistas da História. O povo, as pessoas anónimas são apenas figurantes. As sociedades são «moldadas», segundo tal visão convencional, por seres de exceção, na chefia do Estado ou da Igreja. Tanto uns como outros, são dispensadores das generosas «benesses», pelas quais florescem artes e ciências. 

Assim se «ensina» História, nos vários níveis, incluindo o universitário. Há muitos, quer estejam ou não nas instituições académicas,  que se esmeram em manter e propalar esta visão, do tipo «romance histórico». A História assim apresentada tem muito pouco interesse para a vida real. Não admira que muitos jovens percam rapidamente interesse por essa História. 

Porém, a História, se for centrada no passado imediato, ou seja, o passado vivenciado ou testemunhado pela pessoa que se debruça sobre ela, tem outro significado. Está intimamente associada às peripécias de sua vida, se cavar um pouco, e se indagar sobre as necessárias relações entre sua vida individual e a vida coletiva, social. Esta maneira de fazer História - no quotidiano - pode ser parte da reflexão individual. Mas pode e deve ser invocada, também, no contexto de discussões e debates, quer sejam em contexto formal ou informal. Será mais frutuoso abordar assim a História, pode ser um prazer e ajuda-nos a estar centrados na nossa vida, porque nós ficamos com a noção clara dos acontecimentos e dos contextos com os quais nossos antepassados foram confrontados.  

Esta visão da História é «invertida» em relação ao tempo cronológico, pois se passa do quase-presente, para o passado próximo, acompanhando a genealogia de nossa família, com histórias pessoais da tradição familiar ou documentos. Procedendo do mesmo modo, será também mais fácil abordar o estudo da evolução das técnicas de produção industrial, ou agrícola. 

Este método proporciona um conjunto de situações, que podem ajudar ao «apoderamento» dos indivíduos. Nesta prospeção do passado, a partir do presente, podem as pessoas realmente apropriar-se do passado. O que proponho aqui, já é feito a vários níveis, mas ainda de modo demasiado pontual e tardiamente na vida (não se começa, em geral, senão na idade adulta). 

Esta outra História não é feita «pelos vencedores»: Fazem-na os «filhos» dos protagonistas verdadeiros, elementos do povo, aqueles que constroem a sociedade e a transformam. Seria uma História contada pelos que a  fizeram, ou que a estão a fazer. Esta visão pedagógica permitiria aos indivíduos reapropriarem-se da sua vida. Iria dar-lhes um sentido mais profundo, mostraria em seu contexto as relações sociais, familiares, profissionais, etc. 

Praticar História assim, seria uma reapropriação do Mundo, do real, da sociedade, pelas pessoas comuns. Tem todo o sentido, mas será difícil implantá-la, pois vai contra o privilégio, o elitismo, a adoração pelo poder.   

  

quarta-feira, 27 de abril de 2022

VER O MUNDO DE OUTRA FORMA?


 
Lenine dizia... mais ou menos, isto: «Há décadas em que não se passa nada de muito relevante; e depois, surgem períodos em que os acontecimentos se precipitam, dando a sensação de que se viveram décadas, durante apenas uns meses ou semanas.»

Esta citação pareceu-me adequada para abrir uma reflexão sobre a mudança e - em particular - a mudança que temos experimentado, nos últimos anos. Temos a sensação de que a História se acelerou, de que grandes transformações ocorreram, de que se passam muitas coisas insuspeitas do grande público e mesmo de muitos dos peritos, que têm o potencial de transformar a nossa relação com o mundo, com o Estado, com a sociedade, com a economia, etc.

Seria muito interessante avaliar as diversas expetativas do que seria o século presente, enunciadas por eminentes intelectuais ou políticos no século anterior (século XX): Muitas delas revelaram-se muito distantes do real, quando confrontadas com os acontecimentos da história recente. Mas este exercício não se destinaria a fazer «chacota» dessas pessoas (nós também, tínhamos perspetivas que se revelaram falsas!), nem a nos mostrarmos mais clarividentes, que os nossos contemporâneos. 

Esse exercício mental seria um bom «remédio» para as pessoas (de quaisquer setores do espectro político-ideológico), que estão cheias de certezas, capazes de dar resposta a tudo, etc. Seria, afinal, um exercício de humildade, se efetuado honestamente. Obrigava-nos a ir aos fatores fundamentais e analisar, não a partir dos nossos desejos, ou das nossas construções ideológicas, mas a partir da realidade.

Veio-me à memória outra citação de Lenine; ele dizia: «Os factos são teimosos!». 

Não creio estar errado, se disser que a economia real deve prevalecer - numa visão de conjunto - sobre a economia financeirizada. 

Com efeito, as necessidades globais em alimentação, energia e matérias-primas, sobrepõem-se (muito visivelmente, agora) aos movimentos erráticos e caóticos do dinheiro especulativo. Porém, este facto não é particular à época atual; sempre foi assim! Mas, quando existia bonança ou, quando o abastecimento dos mercados em relação a esses produtos (alimentos, energia, matérias-primas), estava a funcionar normalmente, a atenção das pessoas era puxada para a componente especulativa da economia, ou seja, para a ganância do lucro, de «fazer dinheiro» com dinheiro. 

Se nós tomarmos um bocado de recuo, agora, neste momento particularmente conturbado da cena internacional, com as repercussões enormes que se estendem em todos os setores da economia, com particular incidência nos aspetos mais vitais, o que vemos? Vemos que a globalização capitalista, a engenharia económica e financeira, para aumentar as mais-valias da exploração do trabalho, com a exportação de fábricas e outros meios para os países do «Terceiro Mundo», onde não havia regulação séria do mercado de trabalho e onde era possível as multinacionais aí instaladas obterem um rendimento muitas vezes superior ao obtido na América do Norte ou na Europa, essa globalização ruiu.

Ela, globalização, ruiu e os países em «piores lençóis» são exatamente aqueles cujas burguesias mais beneficiaram dessa exploração acrescida, durante a fase de expansão e internacionalização mais agressivas do capital. 

As pessoas ainda não perceberam, porque continuam embaladas na ideologia neocolonial, ou no consumismo acéfalo, mas o facto é que as componentes tecnológicas essenciais estão a ser fabricadas pelas nações e pessoas que elas (no fundo) desprezaram. Estas pessoas são técnicos altamente qualificados, engenheiros, investigadores, que enxameiam muitas das instituições de ponta do orgulhoso «ocidente» e, sem elas, simplesmente não haveria capacidade humana para realizar o trabalho de investigação e desenvolvimento, nos vários setores. Eu sei isso muito bem, pois tenho acompanhado na minha área (biologia molecular e genética) essa progressão, mas tenho informação segura de que se passa o mesmo, noutras áreas muito diferentes, mas igualmente ditas «de ponta». 

Assim, o próprio desenvolvimento da economia financeirizada, o capitalismo na fase senescente, veio dar - a ele próprio - a machadada final. 

O efeito político e geoestratégico disto é o que estamos a presenciar neste ano de 2022. Uma separação radical em dois mundos, o eixo Russo-Chinês, incluindo a Índia e muitos parceiros da Ásia Central e do Sul, além de uma ampla gama de acordos com África, América Latina e mesmo em setores da Europa. Por outro, um mundo dito Ocidental, que está mais ou menos limitado à Europa da UE, ao Reino Unido, aos EUA e aos anglófonos Canadá, Austrália e Nova Zelândia. Neste bloco, os EUA reinam como potência hegemónica, ditando  o que se deve ou não fazer e que posições tomar, até ao pormenor. 

Atrevo-me a dizer que não haverá mais globalização liderada pelo «Ocidente», pois ela foi propositadamente deitada abaixo, tendo os estrategas norte-americanos decidido que era melhor assim para o seu poderio. Esta tendência já se afirmara claramente no consulado de Donald Trump. Agora, apenas está a ser levada ao extremo pelos neocons que decidem a política em Washington. 

Segundo esta visão, é melhor ter uma mão forte, segurando um conjunto de países-vassalos (os da NATO e sua réplica no Pacífico), ao Império ter que se confrontar em permanência com competição, resultante da ascensão económica e geoestratégica dos que não se conformam com sua ditadura. Eles chamam isso: «Rules based order». 

Isto serve também, ao fim e ao cabo, os interesses geoestratégicos da Rússia e da China, que estão apostadas ambas em maximizar a conectividade entre si e com os países da Organização de Cooperação de Xangai. 

No meio, ficam nações falidas, destruídas pela guerra : a Ucrânia é a última de tais nações, mas não devemos esquecer a Líbia, o Afeganistão, o Iraque, o Iémen, e outras... Cada uma dessas nações terá de se reconstruir após guerras cruéis, o que poderá corresponder a decénios. 

Nunca a história volta atrás; O que aconteceu num dado período, deixa um traço indelével que se prolonga até ao presente. Sem inteligência da História, dum modo aprofundado, somos conduzidos por clichés, por preconceitos, por ideologias de pacotilha. 

Nunca é fácil compreender o mundo. Ele não se rege por qualquer «lei», ao contrário do que Marx e os marxistas criam; o mundo dos homens, das sociedades, das civilizações é caótico, ou seja, não é possível se aplicar qualquer «lei, regra ou princípio». 

É preciso compreender isto e compreender que o mundo natural - o mundo das necessidades energéticas, incluindo alimentação, que é afinal energia para o nosso corpo - esse obedece a certas constrições, que não se podem eliminar: as leis da termodinâmica, as leis da vida, das leis genéticas até às leis que governam as populações; as leis da ecologia, dos sistemas renováveis e dos recursos finitos, etc. 

As pessoas que têm formação em biologia ou áreas conexas, têm natural propensão em ver o mundo deste modo: Este modo de ver, se não for transformado numa pseudo- ciência, ou numa forma atualizada da ideologia cientista dos séculos XIX e XX, pode ser um instrumento muito mais fértil, quer para a prospetiva, quer para a planificação flexível. 

Afinal, o melhor modelo é aquele que passou «o teste» de Éons de evolução biológica: Compreender a fundo estes mecanismos não implica compreender tudo o que respeita ao mundo dos humanos e suas sociedades, mas ajuda a colocar a economia, a sociologia e  política,  em perspetiva.

quinta-feira, 24 de março de 2022

MEDITAÇÕES DE UM SOLITÁRIO [OBRAS DE MANUEL BANET]

Estou certo de que existe esse inconsciente de que a psicanálise fala. Parece-me ser a emanação espontânea das pulsões, que todos experimentamos em nossas vidas. Freud hipertrofiou as pulsões sexuais, talvez devido ao seu próprio psiquismo e ao dos seus pacientes. As pulsões dominantes, porém, relacionam-se com o medo da morte, da perda da integridade física, com a conservação do indivíduo e da sua subsistência. No meio social afluente de Viena do início do século XX, as pessoas não se sentiam particularmente ameaçadas, na sua integridade física e na sua subsistência.

A histeria social desencadeia-se de modo semiautomático quando estão reunidas certas condições: A imaturidade, em indivíduos de ambos os sexos, na idade adulta, que foram condicionados a achar que tudo lhes é devido, sem terem de contribuir, de uma ou outra forma, para a sociedade. A ausência de referentes positivos, no que toca ao comportamento. Os referentes, são somente pessoas que enriqueceram ou que se tornaram muito populares. Junte-se a isto, uma infantilização deliberada e constante da cidadania, conjugada com o falsear do debate na média, através de técnicas de manipulação. Os elementos referidos acima, estão na base de 90% das formas de manipulação social das emoções.

As poucas pessoas que escaparam a essa "lobotomia social", seja qual for seu substrato ideológico, serão incapazes de ter uma influência regeneradora no seio da sociedade: Algumas adotarão um quixotismo que os impele a brigar dentro ou fora dos partidos tradicionais. Estas pessoas estão destinadas ou a serem relegadas para a marginalidade cívica, pelo chamado "assassinato de caráter ", ou - como alternativa - servirão como "idiotas úteis" de partidos.

Estamos a anos-luz dos regimes delineados nas constituições, dos vários países  da Europa, embora tal não pareça: Pode-se ver tal degradação em países fortes ou fracos economicamente, grandes ou pequenos, com população culta ou inculta, homogénea ou plurinacional. Todos estamos perante o mesmo fenómeno, porque a difusão da falsa informação  predomina, porque quem está no controlo os meios de informação não precisa de suprimir fisicamente os seus opositores, como nos regimes totalitários do passado. Basta que as suas vozes estejam sujeitas a blackout. Se isso não chegar, usam  a difamação maciça nas redes sociais. Alternativamente, podem comprar vozes dissidentes, de maneira que aparentem continuar a sê-lo, mas sem causar real prejuízo.

O desfigurar dos sistemas de democracia liberal efetua-se por dentro. Seus sabotadores estão no seu centro. Conscientemente, ou não, fazem o papel de seus piores inimigos. Ao serem corruptos, ou transigirem com a corrupção, ao manterem-se graças ao clientelismo, ao comportarem-se como se fossem "monarcas de Direito Divino", em vez de assumir o papel de mandatários, etc. 

Quando toda a política se degrada em politiquice, as pessoas íntegras, nos diversos quadrantes, afastam-se por si próprias, ou são arredadas. Os medíocres, os arrivistas, os oportunistas, os sociopatas têm então sua oportunidade de ouro, os seus  momentos de glória.

Não se pode saber a forma exata da política no futuro. As classificações como fascismo, comunismo, democracia, nacionalismo, etc. não ajudam grande  coisa. Sei que estamos num momento de viragem. Já o sentira há muito tempo, já o tenho exprimido várias vezes neste blogue. Porém, agora oprime-me pensar que as mais negras distopias são verosímeis.

 Tudo o que há de mais abjeto vem à superfície, nestes tempos. A abjeção resulta do facto de que as pessoas estão completamente destituídas de valores, duma forma ou outra de moral. Devemos antes falar de ética, pois a moral invoca necessariamente conformidade com a sociedade. Ora, muitos - pensemos em Sócrates ou Jesus, e tantos outros no passado - foram considerados contrários à moral do seu tempo, ou à maneira de pensar dominante. 

Perguntareis: Quem és tu para te fazeres difusor de sabedoria, duma visão profética, de soluções para os males que afligem a sociedade? 

É uma pergunta legítima. «Eu sei que não sei» e que estamos, quase todos, num mesmo grau de ignorância. Mas, no meu entender, o estudar os fenómenos do passado, adotando um pluralismo deliberado, ou seja, não nos autolimitando a uma corrente de opinião, seja ela qual for, parece-me o melhor para não cairmos nas ilusões, nos cantos das sereias das ideologias. 

O pior inimigo da nossa clarividência, do rigor do nosso pensar, somos nós próprios: Seria bom que as pessoas se debruçassem sobre o que dizem os mais eminentes intelectuais (que os há, sempre) do campo contrário ao nosso.  

Acredito que os profetas da Bíblia e os outros, foram pessoas clarividentes, que tinham uma inteligência aguda do que se estava a passar nas suas sociedades e conseguiram chamar a atenção do seu povo. 

Diz-se que não há bons profetas no seu próprio país; que os santos e os profetas são sempre de fora: Esta ideia tem por base um certo desprezo das pessoas, por tudo o que lhes seja demasiado familiar, não conseguindo distinguir valor, talento ou génio, em pessoas que estejam próximas. Será porque se desencadeia um mecanismo de inveja, a maior parte das vezes inconsciente e, portanto, mais forte? 

Tudo o que vem do estrangeiro tem um certo fascínio, sobretudo se trouxer consigo a auréola do «sucesso». Isto passa-se a todos os níveis em Portugal, um país muito «aberto» ao exterior, mas muito pouco atento aos valores que brotam no seu seio. Mas, o contrário disto não é ter um comportamento xenófobo. Devia-se adotar uma avaliação crítica de uma produção, seja qual for a sua origem. Não faz sentido, nas letras, nas artes, nas ciências, haver «preferência nacional». Mas, também não faz sentido manterem os valores de um povo, de uma nação, injustamente ignorados, enaltecendo toda a bugiganga e fancaria que venha com o selo do estrangeiro.  


terça-feira, 22 de março de 2022

ESCREVENDO PARA UM DISTANTE FUTURO [OBRAS DE MANUEL BANET]

                                      

Detesto que me ditem a moral, que imponham o que é bem ou mal!

Alguém que guarde a sua capacidade de pensamento independente, grande parte das mentiras que lhe chegam aos ouvidos, ou que lê, pode desmascará-las. Mas, para isso, é fundamental a aprendizagem do pensamento crítico, o estudo sério da filosofia, da história e muitos outros domínios do conhecimento. Com tais instrumentos intelectuais, uma pessoa dificilmente será sujeita a «lavagem ao cérebro». Esta reveste-se, muitas vezes, da forma de hipnose coletiva, como a que observamos na histeria do COVID e na histeria anti-russa.

Não devemos escolher qualquer um dos lados numa guerra. Ambos os lados têm culpas; sempre foi e será assim. É a guerra - em si mesma - que se deve ser impedida, contrariada. Numerosas pessoas, muitas delas contra a sua vontade, são envolvidas e instrumentalizadas pelas fações opostas. 

Não transijo nem diminuo a humanidade dos outros: ponho-me no lugar dos soldados de ambos os lados: Matar e estar sujeito a morrer, por causa da gula de poder de uns e de outros; haverá destino que seja mais lamentável? 

Agora sei qual o grau de alienação das pessoas. Pode-se dizer que cedem à pressão da constante propaganda de guerra.  Mas, em muitos casos, o que observo é que se tornam veículos entusiastas dessa propaganda, esquecendo todas as suas supostas raízes liberais, humanistas, cristãs, etc. que afinal funcionavam como mera capa social.

Após o conflito, as pessoas que assumiram acriticamente as narrativas oficiais, vão autoabsolver-se com total hipocrisia, vão varrer para debaixo do tapete quaisquer incongruências entre as realidades e a ficção que construíram, ou que lhes foi inoculada pela media. É assim que constroem a sua boa-consciência.

A media foi designada como «o quarto poder», para significar que funcionava como contrapeso aos outros corpos do Estado (executivo, legislativo e judicial). De facto, ela transformou-se em corpo destinado a influir nos outros corpos, não no sentido de lhes contrapor uma hipotética «vox populi», mas como veículo do poder económico e sem o qual não seria fácil governar. A media está nas mãos de um punhado de bilionários ou de grandes empresas de capitais privados, mesmo nos países mais poderosos e com larga tradição de «democracia liberal». São os interesses concretos dos grandes capitalistas ou dos grupos económicos e financeiros que são preservados nas narrativas, cuidadosamente talhadas para moldar a opinião pública.

Eu escolho a «liberdade», diziam alguns. Mas, não existe liberdade, sequer. Agora, é mais que evidente  que temos somente uma pseudo- liberdade, perante a mais monstruosa desigualdade. É isso que vemos atualmente. Alguns, têm o poder de moldar as opiniões, os sentimentos, a própria personalidade de milhões de indivíduos anónimos. Que a multidão de indivíduos tenha seu comportamento padronizado e conformista é o fim desejado por todo o aparato doutrinador: O governo e suas agências, a media mainstream (em mãos de magnates) e a escola, em todos os níveis de ensino, sendo mais perverso o ensino universitário e sua suposta «liberdade académica».  

A minha náusea existencial resulta de constatar o facto de que as pessoas não evoluíram nada. São tão primárias e mesquinhas como nos séculos passados; talvez mais, até. Como roupagens que as vestem, as suas ideologias de pacotilha são mudadas ao sabor das conveniências. Não mudam por dentro, só superficialmente. Estas pessoas podem mudar facilmente de posições políticas, com única condição de que percebam que o vento mudou e que é mais favorável outra postura. 

sábado, 19 de março de 2022

CITAÇÕES DE GEORGE ORWELL





Eis a «comunidade internacional» de que eles constantemente falam. Ao ver este «novo Mapa-Mundi», achei que tinha grande semelhança com a «Oceânia» do romance «1984», escrito há quase 80 anos por Orwell:
 


Entretanto, George Orwell, de forma bastante surpreendente, voltou e lê a crónica de 2022:


quarta-feira, 16 de março de 2022

QUEDA DA TAXA GERAL DE RENTABILIDADE DO CAPITAL; REALIDADE OU MITO?



Muitas pessoas têm uma pobre educação em ciência e estimam que as doutrinas marxistas se baseiam «na ciência». Ou até, acreditam que o marxismo é a «única interpretação verdadeira» da realidade social, económica e histórica. 
Sem dúvida, este complexo mental durou muito tempo, na Europa pelo menos, desde a fase do triunfo da revolução bolchevique, até aos tardios revolucionarismos marxizantes, com conotação "esquerdista": Trotskismo, Maoismo, Guevarismo,  Escola de Fanckfurt, Situacionismo, etc. 
Todas estas correntes têm algo do marxismo inicial, mas estranhamente, como aliás já tinha feito notar, enganam-se mesmo na essência do marxismo. Para se ser marxista hoje, seria antes de guardar o método, a metodologia, o primado da prática, não a fixação em dogmas. Esta fixação dogmática, auto-iludida é (ou foi) comum em regimes oficialmente «comunistas», como na URSS ou na República Popular da China e nos partidos e correntes comunistas, na sua confusão de «internacionais».

Primeiro, é preciso compreender o contexto geral em que Marx e seus seguidores produziram e difundiram suas doutrinas. Deve ter-se em conta os aspectos panfletários desses escritos, que não estão ausentes, mesmo e sobretudo, em textos de «polémica teórica». Mas, todas as discussões, com adeptos ou opositores, banhavam num mesmo paradigma, ou mentalidade predominante. Este contexto mental e ideológico, na época dos fundadores do marxismo, pode resumir-se numa palavra: «cientismo». 
O cientismo apropria-se dalguns resultados ou conceitos das ciências, para concatenar uma ideologia, supostamente «objetiva». Com isso, pretendem os polemistas «varrer» quaisquer objeções, invocando a «infalibilidade da ciência» (1).  
O cientismo, não é sinónimo de se ter em elevada estima a ciência e de querer estar o mais perto possível dos avanços práticos e teóricos das diversas ciências. Não; o cientismo é uma ideologia. Utiliza elementos da ciência (a sua embalagem, sobretudo) para fazer passar uma dada visão do mundo.
Entenda-se que eu NÃO digo que o marxismo, na sua análise do capitalismo, seja uma teoria completamente inútil, das que se pode «deitar para o caixote de lixo» ou, para «guardar na estante das obras que apenas conservam interesse para a história das ideias»! 
Mas, para tal, será necessário nos debruçarmos sobre a teoria marxista, contextualizando o seu teor às condições sociais e históricas em que surgiu, coisa que não irei fazer aqui, obviamente (2).

Apenas quero dirigir a minha atenção para um ponto, que aparece sempre, como se fosse uma verdade inapelável, uma «lei» das sociedades, da economia, da história. Estamos perante um fenómeno de assimilação acrítica, de «cientismo marxista». 
Com efeito, dificilmente nas fileiras marxistas se vê algum questionar do estatuto filosófico da «lei». Sobretudo do modo como é transposto das ciências físicas e naturais (Física, Química, Biologia...) para as ciências humanas: Economia, Sociologia, Psicologia, História. 
Este mecanicismo, aliás, fica completamente posto a descoberto com a constatação de que os conceitos supostamente científicos nunca são formulados de modo a que possam ser postos à prova da experiência («falsificáveis», segundo a terminologia de Carl Popper): 
Isso não é feito, pela simples razão de que não se trata de formular uma hipótese científica,  algo que é perfeitamente aceite no domínio da ciência, mas antes de impor uma afirmação dogmática que coloca o marxismo no mesmo plano que uma religião.

A questão da «lei» da taxa de lucro geral decrescente (3) do capitalismo é um absurdo, pois não existe qualquer maneira de medir propriamente essa taxa geral. 
Nós podemos avaliar a rentabilidade do capital num determinado projeto; podemos - fazendo extrapolações e inferências - alargar este conceito à rentabilidade geral num setor produtivo, mas será absurdo estar a calcular, por exemplo, a rentabilidade do capital investido em todos os setores e em diversos momentos históricos, num país ou em vários países.
Porque querer atribuir uma rendibilidade geral ao capital, que tem imensas vertentes (capital financeiro, capital fundiário, capital industrial, etc.), não faz sentido.  É como pretender decidir sobre o «gosto da fruta, em geral», juntando o sabor do ananás, da laranja, da pêra, do alperce, da uva, etc!
Aliás, se um capitalista deseja máxima rentabilidade para o capital investido, isso não significa que ele não seja capaz de diferenciar seus investimentos, em prazos mais largos, ou mais curtos. A lógica dum investimento no setor imobiliário, não é igual à dum investimento na bolsa de ações. Ora, não só a duração, como as rentabilidades típicas para estas 2 categorias, são muito diferentes.

A questão de se saber qual a rentabilidade geral do capital investido, quando olhada de perto, coloca imensos problemas, a começar por se determinar se o próprio conceito faz sentido. Só fará, caso se possa medir tal rentabilidade com critérios minimamente aceitáveis (consensuais). Aliás, no mundo real há imensos problemas que não são solucionáveis com generalizações. A complexidade do real é algo que não entra na cabeça de pessoas dogmáticas. 

Mas, as palavras pomposas dão a aparência de «explicação científica» a muitos ingénuos. Esta pseudo-explicação da "queda da taxa geral do rendimento do capital ao longo do tempo", é simplesmente um mito. Tanto mais que o capitalismo soube transformar-se e operar em domínios de atividade que ontém - já para não falar de há dois séculos atrás - não eram sequer conhecidos, ou sonhados. 

Admitindo que, geralmente, o propósito do capitalista individual seja o de maximizar a taxa de lucro, a verdade é que muitos capitalistas (e justamente, os maiores) têm a prudência de diversificar e colocar parte dos investimentos em algo, que possa ter um retorno mais baixo, mas que confere segurança. Correntemente, há todo um ramo da matemática e estatística aplicadas (ver as obras de Nassim Taleb, por exemplo) que se dedica a avaliar o risco e a ponderar a hipótese de lucro, com esse risco.  

Outra questão associada ao referido mito, tem a ver com algo que muitos (pseudo?) marxistas parecem não conhecer: Refiro-me ao capital fictício. Se, no tempo de Marx, existia especulação, se alguns se dedicavam a extrair lucros, sem acrescentar algo à esfera produtiva, tratava-se de um fenómeno bastante marginal, ao fim e ao cabo. Estava-se no auge do capitalismo industrial, em que os industriais tinham a mão de cima, dominando as outras esferas do capital e, mesmo, o Estado burguês. 
Defino o conceito de capital fictício, como o capital que resulta da especulação e não tem origem num fenómeno de criação de riqueza verdadeira, sob forma de mercadorias ou de serviços...
Na fase terminal do capitalismo que estamos agora a viver, disparou o enriquecimento por parasitismo (cronyism). Este, é um privilégio dos muito ricos e é levado a cabo com a participação plena das maiores instituições financeiras, os bancos «sistémicos» e «hedge funds» de maiores dimensões (Blackrock, Vanguard, etc.). Tal desvio de capital para vantagem de alguns (muito poucos) observa-se ao nível de monopólios, com as chamadas «rendas de monopólio»(4), mas também ao nível das operações de QE (FED e bancos centrais do Ocidente), com a inundação dos bancos (ditos) sistémicos com biliões e triliões de dólares. Tais somas servem para que estes especulem com toda a panóplia de ativos financeiros, eles próprios, ou emprestem (a baixo juro) às grandes empresas, que fazem a retro-compra das ações, para as fazer subir artificialmente. Estas manobras especulativas vão inflacionar os ativos financeiros (ações, obrigações, derivados), mas não vão acrescentar nada à capacidade produtiva das empresas. Os ativos financeiros descolaram completamente da realidade, deixaram de ter qualquer relação com a rentabilidade e o valor real das empresas e países respectivos. 
Forma-se, assim, um excedente de capital fictício. Este, não apenas se acumula, como vai sendo utilizado para tomar o controlo sobre tudo o que seja «interessante», desde empresas, a terras agrícolas. O capital que, anteriormente, seria canalizado para atividade produtiva fica a acumular-se em atividades especulativas, sem reflexo direto ou indireto na produtividade. Os empreendimentos produtivos ficam menorizados (5), há um défice real de investimento nos setores produtivos. 

A conceção marxista tradicional considerava que o valor concentrado no capital, era uma espécie de «trabalho congelado», fosse ele fundiário, imobiliário, das empresas e fábricas, dos equipamentos, mercadorias... Mas, também, concentrado no capital financeiro, no dinheiro líquido e em todos os ativos financeiros (ações, obrigações, outros títulos). Esta teoria do valor aguentou-se mais ou menos bem, enquanto o capitalismo não atingiu a fase da «financeirização». 
O que aconteceu, com a financeirização, a partir dos anos 80 do século passado, foi o avolumar da predação do capital financeiro sobre todas as outras esferas da vida económica e social. Observando a evolução do PIB nos diversos países, as atividades típicas do sistema bancário e financeiro tomaram a dianteira sobre a parte de formação de riqueza tangível, ou seja, os setores industriais que satisfazem necessidades básicas das pessoas.  
Não admira que o próprio poder político tenha caído refém do capital financeiro omnipotente. Ele criou um mecanismo de auto-reforço, visto que conseguiu levar o governo e restantes órgãos do Estado a produzir legislação benéfica para eles, mega-empresas, a dar-lhes vantagens fiscais, isenções diversas, créditos bonificados, uma fiscalização de atividade quase ausente, etc. 
O capital financeirizado é como o Ugolino que devora os seus próprios filhos.  

Bronze de Jean-Baptiste Carpeaux: Ugolino e seus filhos 


Não seria bom que as pessoas que se auto-intitulam marxistas, se debruçassem sobre a metodologia de análise, sem dogmas? Que os conceitos fossem vistos de modo dinâmico, cuja evolução deve sempre acompanhar de perto a realidade social e económica? 
Não é fácil, embora fosse ideal, aplicar o método científico a áreas do saber que -por natureza- são muito mais difíceis de abranger, pela simples razão de que não podem (ou não devem, por razões éticas e deontológicas) ser sujeitas a experiência científica, delimitada, controlada e avaliada pelo experimentador (Economia, Sociologia, História, Psicologia)

Devemos dedicar-nos a aprofundar aspetos metodológicos e filosóficos do método científico. Lamento que alguns dos que se revestem da etiqueta de revolucionário, estejam bem mais precisados de descer das «nuvens revolucionárias» onde costumam situar os seus debates.
Não tenho nada contra as pessoas que sinceramente querem a revolução, pelo contrário. As que lutam e investem toda a sua energia na transformação do mundo. Se alguém pensa que o escrito acima tem uma centelha de desprezo pelos revolucionários de todas as sensibilidades, peço desculpa. O meu intento é o oposto, é o de clarificar. Porque vejo demasiada confusão mental em pessoas fundamentalmente honestas. Este escrito destina-se a ajudar ver a realidade das coisas. Se as pessoas virem a realidade sem vendas nos olhos,  serão mais capazes de um trabalho eficaz na construção da sociedade onde sejam abolidas a exploração do homem e a depredação da Natureza.    

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(1) Tivemos um ressurgir recente dessa mentalidade, que se revelou com os ataques contra os objetores da narrativa padrão, sobre a epidemia de COVID e sobre a forma adequada de a tratar.
(2) Leitura perfeitamente em linha, note-se, com a teoria marxista genuína (por oposição à «vulgata»)
(3) Entre uma infinidade de artigos que citam a mesma «lei», escolhi este. Ele é um bom artigo, de Colin Todhunter, mas enferma do preconceito aqui tratado: https://off-guardian.org/2021/11/15/saving-capitalism-or-saving-the-planet/
(4) «Rendas de Monopólio» a expressão é do Prof. Michael Hudson; não tem nada que ver com o sentido trivial de «renda de casa».
(5) O capital disponível é desviado para especulação (por exemplo, auto-compra de ações) ou acquisições predadoras sobre empresas concorrentes. Nem num caso, nem no outro, são contribuições para o aumento ou diversificação da produção, ou para a inovação tecnológica. Estes investimentos produtivos são preteridos porque resultam num retorno de investimento mais baixo, ou a mais longo prazo.

sexta-feira, 4 de março de 2022

REFLEXÃO - «O HUMANO MORREU»


 
O globalismo é a ideologia do triunfo do capitalismo sem freio, do capitalismo mundializado, explorando à vontade os povos do Terceiro Mundo, os quais ficam felizes por terem trabalho, mesmo pago a um décimo do trabalho equivalente dos ocidentais. Estes, como novo-ricos, têm sonhos e fantasias, adições e ilusões, exatamente como crianças mimadas que são. Os dirigentes esmeram-se em manter os seus súbditos (vulgo cidadãs/ãos) num estado de torpor «feliz», de embriagês consumista, de «aventuras» turísticas de pacotilha. Assim, deixam os grandes capitalistas e seus «gestores» (quer na empresa, quer no aparelho de Estado), fazer o que muito bem entenderem. 

A crise dita do COVID, entusiasmou e tornou ainda mais atrevida a classe dirigente globalizada, aquela que se revê no WEF de Davos. «Davos» é o leadership ideológico do globalismo, enquanto o seu núcleo duro são o capital financeiro, os grandes bancos sistémicos, mais Blackrock, Vanguard e outros «hedge-funds», com muito peso nas principais bolsas. Nesta economia totalmente financeirizada, a persistência da ilusão de riqueza é mantida pela pirâmide de Ponzi dos ativos financeiros, que parecem subir até ao céu, mas essa valorização é contabilizada em divisas que perdem cada vez mais o seu valor real, isto é, seu poder aquisitivo em mercadorias e serviços. Chega um momento, porém, em que é preciso, à oligarquia, fazer ruir o castelo de cartas: É o «Great Reset». A «pandemia de COVID» foi apenas o aperitivo.  

Neste mundo, cujos valores estão completamente invertidos, «um mundo ao contrário», o trabalho tornou-se «dispensável», numa larga medida: Pensam assim os muito ricos e agem em consequência. A partir do neolítico, houve guerra frequente nas sociedades; temos abundante prova e descrição disso, desde os reinos e impérios da antiguidade (Suméria, Babilónia, Egito, Hititas, Fenícios, Gregos, Romanos...). Mas, o «capital humano» não era completamente desprezado pelos reis, pois os escravos, as presas da conquista do outro povo, iriam enriquecê-los e à corte palaciana.  Hoje, os escravos já não são precisos: Os Senhores do Mundo estão apostados em reduzir estas «bocas a mais».

Hoje em dia, não consigo abrir uma página de um qualquer órgão de comunicação social «mainstream» ou de «rede social corporativa», sem sentir vómitos. Se os leio, faço-o com esforço, pois tornaram-se, não apenas manipuladores - sempre o foram - mas abjetos, arrogantes. Em resumo, penso que as pessoas que engolem essa "m... " desinformativa, sem pestanejar e até com imenso gosto, transformaram-se em «zombies». Como zombies que são, julgam-se normais. São normais, estatisticamente falando. E esta, é a verdadeira tragédia. 

Podia Nietzsche , no século XIX clamar: «Deus morreu»! Mas, eu diria que «afinal, foi o humano que morreu!». Vejo isso escrito, em enormes letras, numa parede... Dizia-me, há muitos anos, um falecido amigo, que «o inferno é nesta Terra». Estava cheio de razão. 

Este Mundo, não me custa nada dizer-lhe adeus.