A IIIª Guerra Mundial tem sido, desde o início, guerra híbrida e assimétrica, com componentes económicas, de subversão, desestabilização e lavagens ao cérebro, além das operações propriamente militares. Este cenário era bem visível, desde a guerra na Síria para derrubar Assad, ou mesmo, antes disso.
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segunda-feira, 11 de novembro de 2019

GLOBALISTAS QUEREM DESENCADEAR TRAGÉDIA EM HONG KONG

Desde há seis meses que os protestos em Hong Kong são noticiados de maneira completamente distorcida pela media ocidental, ao serviço das forças mais obscuras que se possam imaginar. 
A mudança de táctica do Império em relação à China, não se traduz apenas pela guerra de sanções e de tarifas, com aqueles que eram - até agora - os maiores exportadores de bens industriais para os EUA. 
Eles querem fazer com a China e Hong Kong (e com outras zonas), aquilo que fizeram - com bastante sucesso - com a URSS, desencadeando uma guerra de atrito às suas portas, no Afeganistão, com os djihadistas, que depois se tornaram Al Quaida. 
A direcção do partido comunista da China guarda uma viva memória do isolamento internacional resultante da repressão ao movimento de estudantes, que culminou com a tragédia da Praça de Tien An Men em 1989, para avançar com uma ocupação militar da cidade que é - para todos os efeitos - território da China.
Agora, vejo que este atraso, mostrou uma face de hesitação em resolver o problema, que apenas encorajou os gangs de jovens encapuçados e capazes das maiores barbaridades e cobardias. 

                          

A violência e cobardia que exibem quotidianamente, mostra que os «democráticos» são totalmente fascistas, nos seus modos de actuar... 
Pegar fogo a um idoso indefeso é o método que eles usam para persuadir as pessoas a concordar com as suas interpretações da «democracia»!

O facto é que a população de Hong Kong tem perdido muito nestes confrontos quotidianos: muitos negócios saem - muitos vão para Singapura - para não mais voltar; o turismo está de rastos, o que implica também que as lojas de luxo - objecto de ataques constantes - fechem e vão também para outras paragens. 

Sobretudo, enquanto durarem os desacatos e os actos quotidianos de violência,  não existe hipótese de negociação entre a Administração Autónoma de Hong Kong e algum grupo de cidadãos que (legitimamente) esteja preocupado com a manutenção do estatuto de Hong Kong, segundo o lema «Um País, Dois Sistemas». 
Pelos acordos de devolução negociados com os britânicos, até 2047 Hong Kong pode ter propriedade privada, como noutras urbes capitalistas ocidentais, a propriedade privada dos meios de produção está garantida, pelo menos, até ao fim do período de transição.

Ora, acontece que a violência sistemática, por energúmenos mascarados, é dirigida - em especial-  aos símbolos do poder da China continental e aos negócios de cidadãos chineses continentais, recém estabelecidos. Isto é causador da maior crise económica e financeira, que todos os sectores de Hong Kong estão a atravessar, neste momento. 
Note-se, quase toda a população actual de Hong Kong é composta de migrantes da China continental, que vieram para este território, uns antes da devolução da colónia britânica à China (1997), outros depois. 

A estratégia de afundar Hong Kong como praça financeira de primeira importância na Ásia tem objectivos claros:
- dificultar a obtenção de capitais para investimento, que se serviam de Hong Kong como porta de entrada na China continental.
- dificultar as Novas Rotas da Seda, levantando dúvidas dos parceiros comerciais da China.
-  diminuir o prestígio da China, na arena internacional
- eventualmente, dar pretexto para um agravamento das sanções e tarifas, «justificando» a guerra comercial e económica que o Ocidente, em particular EUA com os seu acólitos britânicos e outros, levam a cabo.

É por demais evidente que, o que escrevi há uns meses atrás, se justifica plenamente.
O povo de Hong Kong é refém dos globalistas, que não se importam nada em levá-lo ao desespero, ao ponto de terem de imigrar. Estes globalistas, o que pretendem é intensificar a guerra suja contra Pequim, nada mais.
A única maneira de fazer com que este macabro processo seja parado, é o próprio poder político de Hong Kong apelar ao auxílio das autoridades da China continental, para - conjuntamente - porem cobro a esta guerra terrorista e contra-revolucionária.


sábado, 22 de agosto de 2020

ESTRATÉGIA NAVAL AMERICANA NOS MARES DO SUL DA CHINA E RESPOSTA DE PEQUIM

               

Tem-se utilizado muito frequentemente o conceito de «armadilha de Tucídides» (Thucydides Trap) para descrever o deslizar do conflito entre os EUA e a República Popular da China do campo meramente comercial (embora as sanções unilaterais impostas pelos EUA sejam já uma forma de guerra, reconhecida como tal pela ONU) para o campo estritamente militar. O confronto armado ainda não ocorreu, mas as provocações - neste caso, é preciso reconhecê-lo, exclusivamente do lado dos americanos - têm-se multiplicado, usando a administração de Washington a «liberdade de circulação nos mares» como pretexto falacioso para fazer constantes provocações no Mar do Sul da China. Como eu referia num artigo anterior, nem sequer o pretexto de auxiliar os vizinhos da China, que teriam razões de queixa na disputa das águas territoriais entre eles e o gigante asiático, pode ser dado como razão válida. Com efeito, a constante ameaça no mar que é chinês, ou que está na directa esfera de influência de Pequim, jamais poderá desencadear da parte chinesa outra coisa, senão o reforço das defesas e o aumento da militarização na zona, não apenas por uma questão de patriotismo, ou de posição de princípio mas, sobretudo, pela muito real ameaça militar directa que a armada dos EUA coloca, em exibições de força ao longo das costas chinesas.

Porém, o termo de armadilha de Tucídides aplicar-se-ia mais apropriadamente, se a atitude de constante provocação fosse daquele dos dois países que ainda seja o mais fraco, contra o mais forte: Se a China tivesse exactamente o comportamento que estamos a observar da parte dos EUA, desde há alguns anos. 

A questão dos termos e sua adequação para descrever fenómenos com milhares de anos de intervalo (lembremos que Tucídides reflectiu sobre a ascensão de Esparta, perante a potência dominante que era Atenas, então) é sempre imprecisa, pois se trata do domínio da analogia.

Porém, para muitos observadores, o poderio dos EUA já não é realmente o nº 1 mundial. O poderio económico desapareceu; é um país extremamente carenciado, na sua estrutura produtiva. Isso deveu-se à estratégia dos muito poderosos oligopólios (que governam a política nos EUA), de exportação das manufacturas e capacidade produtiva americana para países do Terceiro Mundo. Maximizando assim os seus lucros, as corporações da super-potência mundial tornaram esta, de facto, «Terceiro Mundo». Os EUA ficou sem capacidade de auto-abastecimento em sectores estratégicos, desde a própria aeronáutica (a importação de metais e terras raras da China é essencial para fabrico dos seus aviões de combate), até à indústria farmacêutica, como se viu recentemente, incapaz de obter ao nível doméstico moléculas / matérias-primas para fabrico de medicamentos essenciais (ex: antibióticos).

Então, os Estados Unidos, no esquema de Tucídides, seriam a potência que já perdeu o estatuto de domínio sem contestação, estando a tentar desesperadamente limitar os danos, isto é, manter-se numa aparente posição de dominância face ao resto do mundo, para poder continuar a explorá-lo, a fazer chantagem, a usar a força ou ameaça da força, como exclusivo «instrumento diplomático». Sobretudo, a gastar rios de dinheiro do orçamento (com a dívida mais astronómica de toda a História) para uma desenfreada acumulação de armamento sofisticado, de todo o género.

Pelo contrário, temos de reconhecer a contenção que tem mostrado a China, perante um avivar da guerra híbrida. Esta, tem consistido em sanções económicas injustas, apoio muito evidente aos separatistas Uigures, aos estudantes ditos «democráticos» de Hong Kong, o cerco permanente de bases militares rodeando a China, a invasão periódica pela frota dos EUA dos mares do Sul da China.  

A diplomacia chinesa tem muito a perder, se responder «taco-a-taco» às provocações americanas. Os sucessos maiores da China consistiram no quebrar do isolamento e conseguir que regimes, até mesmo muito favoráveis aos EUA, prossigam num caminho de boa vizinhança e de acordos em tudo o que for possível, sem terem de «virar a casaca», como é o caso da Coreia do Sul

A China [sem esquecer sua elite governante e seu «nacional-comunismo», a brutalidade da repressão das dissidências, ou seu enorme desprezo pela real preservação do ambiente e dos ecossistemas...] tem uma visão estratégica global. É um facto, que demonstra estar-se perante uma potência madura. Uma visão que se concretiza nos BRICS, na Organização de Cooperação de Xangai, nas Novas Rotas da Seda e nos laços com muitos países próximos ou distantes, quer no sentido ideológico, quer geográfico. 

Pelo contrário, os EU da Amerika retomam a odiada «diplomacia da canhoneira», erigem-se em defensores dos direitos humanos, quando eles próprios são os piores violadores dos mesmos, ao fazerem guerras criminosas e em apoio a regimes criminosos e claramente desprezando os mais elementares direitos humanos. 

Ainda por cima, em relação aos pobres e oprimidos, no seu território, não existe verdadeira justiça ou direitos humanos: os EUA é um Estado onde a polícia tem uma protecção legal absoluta para matar ou ferir, sem que nada lhe aconteça. 

 Para mim, não se trata de uma «escolha»: não tenho (e creio que praticamente nenhum/a dos meus leitores/as terá) possibilidade de escolher o rumo, ou influenciar o mesmo, dos grandes acontecimentos internacionais... goste-se ou não, simpatize-se ou não, com esta ou aquela potência mundial. 

Aquilo que se pode fazer, neste contexto, é pressionar em prol da paz, pela descida dos níveis de tensão, por um desarmamento recíproco e controlado. Deve-se tudo fazer para que a opinião pública desperte da sua letargia e se erga para exigir aos seus governantes respeito pela sua vontade de paz mundial. 

Tudo decorre daí, da vontade da cidadania: a melhoria nos Direitos Humanos dentro de cada país é claramente beneficiada por um clima de distensão nas relações internacionais, de respeito pela soberania dos Estados. 

Isso verificou-se, por exemplo, em relação a Cuba: Nas fases em que os EUA tiveram uma política mais «agressiva», foram também períodos em que a oposição interna teve vida mais difícil; pelo contrário, a melhoria das relações e abertura duma embaixada (dos poucos aspectos positivos da política externa de Obama), corresponderam a uma relativa melhoria da situação dos direitos humanos. 

Mas, pode-se generalizar, pois aconteceram situações análogas na Europa de Leste, incluindo Polónia e outros países do Pacto de Varsóvia, aquando da política de Gorbatchov, de acabar com a guerra-fria e realizar reformas na URSS, com repercussões nos seus aliados.

A luta dos povos por maior liberdade e justiça é favorecida por um aprofundamento dos laços amistosos entre Nações, por uma descida dos níveis de armamento, por não erigir e, pelo contrário, abater as barreiras artificiais à circulação de pessoas, de ideias e ao comércio internacional. 

É claro e auto-evidente, que estes factores estão interligados: Quem adopta sinceramente estes princípios e segue estes critérios, está no bom caminho da paz, da democracia, do progresso.  

NOTA 1: depois de escrito este artigo, um artigo de Pepe Escobar publicado no Asia Times, mostra com pormenor que a liderança da China possui uma estratégia de longo prazo, tal como eu afirmava, enquanto os EUA (... quem governa o Pentágono, não me parece que seja este presidente) apenas têm atitudes de provocação contra a China.

NOTA 2: A gravidade da situação de confrontação naval não pode ser minimizada por ninguém com bom senso. Os EUA estão a fazer manobras agressivas e provocatórias, em águas territoriais chinesas. Estão a imiscuir-se na disputa entre a China Popular e Taiwan, não para resolver problemas, mas para terem um pretexto de intervenção.

   

terça-feira, 11 de setembro de 2018

CRÓNICA DE PEQUIM - EDUCAÇÃO VOCACIONAL NA CHINA*... - POR EDUARDO BAPTISTA

                          




Educação vocacional na China: a peça-chave que falta

Na última década, a cobertura da  educação chinesa pela media concentrou-se quase exclusivamente no Gaokao, o exame de admissão para universidade na China. Sendo um dos dias mais importantes no calendário chinês, é natural e correto que tal fenómeno seja noticiado, ano após ano. Artigos escritos por correspondentes de grandes jornais ocidentais têm-se focado muito na pressão que tal sistema impõe à juventude chinesa. Contudo, é importante saber que há alternativas em discussão na China que, caso sejam desenvolvidas, poderão vir a tirar um grande fardo das costas de milhões de jovens chineses da classe baixa.

"Quando se trata das regras do Gaokao, o exame e as suas características, não estou minimamente interessado; são apenas o sintoma de um problema mais amplo, a falta de opções do ensino pós-secundário para os jovens chineses”, disse Wang Shu Guang (王曙光), professor de economia da Universidade de Pequim.

Wang tem estado na vanguarda de discussões académicas sobre o desenvolvimento económico da China rural. Oriundo de uma pequena aldeia em Shandong, uma província no nordeste da China, o Gaokao era a sua única saída. Tendo conseguido entrar na prestigiada Universidade de Pequim, a primeira pessoa na sua aldeia a realizar tal feito, Wang nunca mais sairia desta universidade, construindo uma carreira respeitável.

A sua história de sucesso alimenta a visão generalizada que a maioria do público chinês tem do Gaokao: como sendo a única oportunidade de um jovem chinês pobre "mudar o seu destino" (改变 他 的 命运)。

De acordo com Wang, no entanto, as premissas originais sobre as quais o Gaokao foi instituído já não se aplicam hoje em dia. Durante os anos 80 e o início dos anos 90, quando as taxas de entrada na universidade ainda estavam abaixo de um em cada dois candidatos, quando simplesmente entrar numa universidade era um feito incrível aos olhos de uma ampla gama de empregadores, qualquer jovem de estatuto social baixo podia olhar para o Gaokao com esperança, pois havia uma alta probabilidade de que o resultado desse ao jovem acesso a um lugar numa universidade nas grandes cidades, e por consequência, um emprego urbano com um salário muito mais alto do que o dos pais.

Hoje em dia, quando as taxas de ingresso na universidade excedem 80%, entrar na universidade não é garantia de que os estudantes de baixo estatuto social obtenham as habilitações ou o prestígio de que precisam para subir na escala social. De facto, os estudiosos observaram que tem havido uma tendência crescente de graduados universitários de segunda ou terceira linha, de famílias rurais, que não conseguem encontrar um emprego adequado, forçando-os a voltar para a casa dos pais.

Universidades de prestígio como a Universidade de Pequim, Tsinghua e meia dúzia doutras são as únicas excepções a essa tendência. A garantia de um emprego bem remunerado depois de se formar nessas universidades é suficientemente alta para que a baixa probabilidade de entrar valha a pena ser tentada. De facto, para os jovens chineses rurais com boas notas, essas chances só os tornam mais competitivos e ansiosos nos seus últimos dois anos do ensino secundário.

Shao Xin (劭 鑫), de 25 anos, estudante de Mestrado em Engenharia Elétrica na Universidade de Pequim, conhecida como “Beida”, é um caso exemplar. Oriundo duma aldeia rural de Shanxi, ele afirma que, mesmo enquanto criança, ele e muitos outros já estavam bem conscientes de que a mudança para as cidades era o único objectivo de cada um, sendo a escola o meio para esse fim.

Nos seus últimos anos do ensino secundário, especialmente no ano em que ele retomou o décimo segundo por não ter conseguido entrar na Beida nessa primeira vez, estava sob enorme pressão: do seu pai, um cultivador de batata-doce que não conseguiu terminar o ensino secundário, pressão também da sua escola, ansiosa por colher os benefícios de ter um aluno em Beida e, acima de tudo, da sua própria pessoa, exigente e com baixa auto-estima.

"Eu sempre soube que minha inteligência não era fora do normal, por isso dependia do meu esforço, ninguém conseguia acompanhar o meu ritmo nessa altura", disse Shao. No fim, Shao chegou à terra prometida e agora está a poucas semanas de começar seu novo trabalho, muitíssimo bem pago, na Huawei, a rival chinesa da Apple.

Apesar do apelo romântico de tais histórias, o fato é que casos como Shao Xin estão tornando-se cada vez mais raros. Até ao ano passado, quando o governo introduziu cotas de entrada, a proporção de estudantes em Beida e Tsinghua vindos de famílias rurais estava diminuindo anualmente, caindo para os 15% em 2016, uma estatística que muitos académicos viam como demonstrando a necessidade de reformar o Gaokao. A realidade é que, para a grande maioria dos jovens de zonas rurais, que nem são incrivelmente dotados, nem capazes de trabalhar tão arduamente quanto Shao, o Gaokao e a escola secundária, em geral, não são tão atraentes como dantes.

É precisamente por causa disto que estudiosos como Wang acreditam que mais atenção deve ser dada a outra instituição educacional: as escolas vocacionais.

"A China carece de trabalhadores com espírito de artesão" (gongjiang jingshen, 工匠 精神) precisamos de pessoas capazes de construir belas canalizações, alguém que possa coser roupas, abrir pequenas lojas, ter iniciativas empreendedoras. Este é o futuro dos chineses nas classes sociais médias e baixas, especialmente os agricultores”, argumentou Wang, mencionando o sistema educacional de elite da Alemanha como um modelo a ser seguido.

Muitos obstáculos sócio-culturais se perfilam no caminho para tal futuro. Ir para a universidade e receber uma educação académica traz prestígio social na China. O Centro Nacional de Educação e Economia publicou um relatório em 2013 em que observava que um dos maiores desafios enfrentados pelo sistema de ensino e aprendizagem vocacional da China era o baixo prestígio deste na mente do público.

"Olhar de cima para baixo o artesanato é uma consequência de preconceitos educacionais provenientes da China antiga. Naquela época, uma boa educação era ler obras de literatura, não se dava valor a habilidades mais práticas e manuais. Estes pensamentos fazem parte da filosofia confuciana chinesa que continua a impedir que os jovens chineses façam escolhas práticas no início das suas vidas ”, observou Wang.

O outro lado da moeda é a continuação da deificação de universidades de prestígio em Pequim e Xangai, tanto nos meios rurais como urbanos.

"A partir do momento em que o meu irmão mais novo e eu nascemos, o meu pai tornou os nomes Beida e Tsinghua sagrados em nossa casa", relembra Shao Xin.

"Foi-me inculcando, desde a mais tenra idade, que eu deveria procurar estudar numa universidade de primeira classe", disse Ge Xi Zheng (葛 煕 正), um jovem de 18 anos duma família urbana de classe média, que fez os exames do Gaokao este ano.

"Mesmo que eu não queira fazer isso no futuro, o facto de estar numa universidade de primeiro nível terá mais influência sobre mim do que estando numa faculdade vocacional. As pessoas comportam-se de maneira diferente, tanto na fala como no comportamento”, afirmou Ge.

No entanto, a qualidade geral do ensino nas universidades chinesas tem diminuído recentemente. Os cursos excessivamente teóricos e com pouca relação com o mercado de trabalho têm sido o principal motivo de preocupação. De acordo com Wang, mesmo os diplomas técnicos em universidades não fornecem as habilitações necessárias para desenvolver um “espírito artesanal”. Ele usou o exemplo da indústria, que teria sido promissora, dos artigos de laca na cidade de Yangzhou, no sul do país.

"Os artigos de laca sempre foram uma indústria dominada pelo Japão, mas há alguns anos o mercado chinês começou desenvolver-se em Yangzhou. A Universidade de Yangzhou ofereceu um curso popular centrado na construção de artigos de laca, mas não foi prático o suficiente. Os estudantes tornaram-se especialistas em fazer o design dos objectos em laca, mas não da sua construção. Cada vez que precisavam de algo feito, iam directamente à fábrica e pediam a um trabalhador para fazer a peça, mas como o número de trabalhadores com esse tipo de habilidade era muito pequeno, a oferta não acompanhou  a procura e o mercado murchou", observou Wang.

Ao mesmo tempo, os problemas do sistema de educação profissional da China não são segredo para o Ocidente. No referido relatório do NCEE, foi relatado que a maioria dos curricula das escolas profissionais da China era "ultrapassada e irrelevante para as necessidades da indústria".

Em Pequim, no entanto, um instituto vocacional tem vindo a ganhar o reconhecimento nacional há mais de uma década. As origens da Universidade Bailie (培黎 职业 学院), uma instituição privada, não são convencionais, segundo os padrões chineses. Fundada em 1983 por um dos mais famosos apoiantes estrangeiros da China comunista do século XX, o neozelandês Rewi Alley, o nome Bailie é em homenagem ao amigo de Alley, Joseph Bailie, que iniciou um movimento educacional na China nos anos 50 que enfatizava a integração da teoria à prática.

Elogiada pelos líderes políticos da China, o maior feito da Bailie ocorreu no ano passado, quando Xi Jinping escreveu uma carta formal à escola, dando-lhe os parabéns por ter criado trabalhadores altamente qualificados, algo que terá de ser recriado em muitos outros lugares do país, se Xi espera realizar a sua promessa de fazer com que a China chegue ao estatuto de país “moderno”, de acordo com os patamares do Índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas, antes de 2050.

"Nós ocupamos o meio termo entre as escolas vocacionais tradicionais que apenas ensinam aos seus alunos um determinado saber-fazer  e as universidades como Beida e Qinghua", disse o diretor de Peili, Wang Yu Lin (王 余 临).

"Houve um tempo em que tentámos lutar para alcançar a reputação académica daquelas duas escolas, mas depois percebemos que isso era impossível, o que nos obrigou a sermos mais pragmáticos em relação às competências dos nossos alunos. Afinal de contas, não há muitas vagas no funcionalismo público, temos que nos certificar de que nossos alunos seriam capazes de ter sucesso noutros cargos mais práticos”, continuou ele.

Assegurar que cada curso tem conexões próximas com a indústria relevante tem sido a principal prioridade da Peili, que manteve uma taxa de emprego pós-licenciatura acima 95% durante a última década. Mais importante ainda, é a qualidade do emprego obtida pelos estudantes de Peili, que começa aproximar-se da dos formandos de Beida e Tsinghua. Uma professora de ciências de computação, que quis permanecer anónima, observou orgulhosamente que tinha alunos que conseguiram - logo após a formatura - obter empregos em que ganhavam mensalmente 16.000 ou 19.000 RMB (outra designação do Yuan; Rem Min Bin = a moeda do povo).

"Se você olhar para Zuckenberg, ele deixou a sua universidade de prestígio para fazer algo mais prático e útil para a sociedade. Eu sinto que Peili me ajudou a amadurecer e tornar-me numa pessoa que poderá fazer empreendedorismo no futuro ”, disse Rong Tong Tongde (荣 童童), um estudante de 20 anos de ciências  da computação na Peili.

Os estudantes universitários como Rong beneficiam imenso por estarem situados em Pequim: eles vão regularmente a Beida e a Tsinghua para assistir a palestras. E numa cidade tão grande como Pequim, que possui quase três vezes a população de Portugal, as oportunidades de emprego são numerosas.  
No entanto, ainda não existe certeza de que mais escolas da qualidade de Peili possam vir a ser criadas, fora de Pequim e Xangai.

"Muitos agricultores gostariam que os seus filhos estudassem algo de útil, mas o problema é que não há escolas", disse Wang Shu Guang.

"Acho que o sucesso de Peili se deve à extrema necessidade de que o sistema de ensino profissional seja liberalizado, em todos os lugares", observou Wang Yulin. O director realçou que, se não fosse pelo legado histórico e pela localização de Peili, teria sido impossível de alcançar a taxa de emprego de 95%. 
Tanto Wang Shu Guang quanto Wang Yulin estão cépticos quanto à possibilidade do governo contribuir mais para o desenvolvimento das escolas vocacionais na China.

"O governo cria programas de 5 a 10 dias que fornecem treino básico em competências técnicas, como o uso de um computador, mas o custo destes é incomparável ao da construção de um instituto vocacional. Um instituto destes é mais barato que o duma universidade, mas os fundos fora de Beiing e de Xangai ainda são escassos para tais projectos", observou Wang.

"Além da mercantilização, os empresários chineses, como Jack Ma e outros que seguem seus passos, são as pessoas com quem devemos contar para financiar o desenvolvimento e a reforma das escolas vocacional na China", continuou Wang.

Embora a filantropia educacional de Jack Ma ainda não se tenha alargado ao sistema educacional vocacional, Wang está convencido de que se, a China quiser fazer uma transição de economia abaixo dos Estados Unidos, na escala global de valores, para uma sociedade de inovação altamente qualificada, terá de investir pesadamente no sector vocacional, seja de que maneira for.

"Recorde as minhas palavras: As escolas profissionais na China vão crescer exponencialmente no futuro", diz Wang.

Original em inglês:

domingo, 2 de dezembro de 2018

LISBOA- PEQUIM: OS NÚMEROS DAS RELAÇÕES BILATERAIS


                       

Xi Jin Pin visita Portugal, a partir de dia 4 de Dezembro. Esta visita será ocasião para a assinatura de importantes acordos. Para melhor se avaliar a realidade das relações presentes entre Pequim e Lisboa, decidi reproduzir alguns números fornecidos pela agência Lusa:

3.393 milhões - Valor em dólares do saldo da balança comercial entre Portugal e a China, entre janeiro e julho deste ano. Durante aquele período, Portugal comprou ao país asiático bens no valor conjunto de 2.099 milhões de dólares (+1,43%, em termos homólogos), e vendeu mercadorias num total de 1.294 milhões de dólares (+16,87%).

13.º - A China era, em julho deste ano, o 13.º cliente de Portugal e o seu sexto fornecedor.

10.000 milhões de euros - Montante investido em Portugal pela China, desde que, em 2012, a China Three Gorges (CTG) comprou uma participação de 21,35% no capital da EDP.

256.735 - Turistas chineses que visitaram Portugal, em 2017, um acréscimo de 40,7%, face ao ano anterior.

130 milhões - Montante em euros gasto pelos turistas chineses durante a sua estada em Portugal, no ano passado

27.854 - Vistos emitidos pelas secções consulares portuguesas na China continental (exclui Macau e Hong Kong), em 2017. A China é o segundo país onde Portugal mais emite vistos, a seguir a Angola.

15 - Centros de vistos que Portugal tem na China, a cargo do grupo privado VFS Global.

3.952 - Cidadãos chineses que obtiveram a Autorização de Residência para a atividade de Investimento (ARI), os chamados vistos 'gold', desde que o programa entrou em vigor, em outubro de 2012.

1.110 - Portugueses que residiam na China continental, em 2016.

100 - Treinadores portugueses de futebol a trabalhar na China. O 'desporto-rei' será a área que mais portugueses emprega no país, reflectindo a ambição de Pequim de elevar a selecção chinesa ao estatuto de grande potência.

25 - Universidades da China continental com licenciatura em língua portuguesa.

- Número de universidades portuguesas - Aveiro, Coimbra, Lisboa e Minho - onde o Instituto Confúcio, organismo patrocinado por Pequim para assegurar o ensino da língua e cultura chinesas, está já implantado.




domingo, 26 de dezembro de 2021

OS TAMBORES DA GUERRA SOAM MAIS ALTO...

... MAS CONTINUAIS DISTRAÍDOS!

                    
                     
Forças russas num treino militar

O risco de um confronto generalizado não é discutido.
As sanções contra a Rússia e contra a China, são formas de separação radical do mundo em várias partes. Como visão «geoestratégica», é a mais absurda e primitiva que se pode imaginar nesta era.
As ameaças de cortar a Rússia do sistema SWIFT, que têm sido agitadas periodicamente, são apenas uma ocasião para esta desenvolver (ainda melhor) um sistema alternativo, que já existe e que está em funcionamento. Possivelmente, vai expandir-se com outros parceiros, com a China e outros, não sujeitos do Império USA.
A Rússia e a China são grandes países, com poderosos meios e cujos governos estão bem cientes das ameaças de Washington e dos seus lacaios da NATO.
Há alguns anos, a Rússia eliminou praticamente da sua dívida externa os ativos dependentes do dólar (obrigações do Tesouro US, etc.) e também se tornou largamente autossuficiente - e mesmo exportadora - nos alimentos, respondendo assim às sanções dos europeus, submissos aos americanos.
Vejam no gráfico abaixo. A partir do final de 2019, a dívida externa da Rússia é muito baixa. Se ela precisasse de saldar agora as suas dívidas externas, as reservas de divisas do banco central e dos seus bancos estatais chegariam.

             
Na guerra híbrida que estão a levar a cabo contra a Rússia, desde 2014 e contra a China, desde 2017, muitas das sanções (Nota: são atos de guerra económica) têm um efeito boomerang: São mais prejudiciais para os países que as fazem , do que para os visados.
Nota-se um aumento da estabilidade do sistema financeiro dos países da Organização de Cooperação de Xangai, onde China e Rússia são os principais, o que permite que a crise económica seja muito mais suave nestes.
As dificuldades da China, decorrentes duma economia fortemente exportadora, estão a ser enfrentadas: Há uma viragem para um maior consumo interno, para a diversificação dos mercados e para a complementaridade das economias. A China tem os problemas de abastecimento de energia largamente resolvidos, graças à cooperação com o Irão e com a Rússia.
Os russos não precisam de vender o seu gás à Europa Ocidental pelo Nordstream II. Têm compradores na China e noutros países. Mas os europeus têm que arcar com as consequências da não entrada em funcionamento de Nordstream II: Uma limitação energética, apenas aliviada com gás liquefeito vindo dos EUA, transportado por navios, evidentemente muito mais caro. Se isto não é exatamente a definição de «tiro no pé», então o que será?
A agressividade dos centros de poder atlantistas e globalistas não abranda, no entanto: Eles estão congeminando a próxima «pandemia». Desta vez será uma «pandemia cibernética», uma série de ataques de falsa bandeira, para dar pretexto a que imponham um regime ainda mais severo de sanções contra a Rússia e a China.
Veja como Klaus Schwab nos ameaça a todos:

               

Para eles, globalistas, o tempo de concluir o «Great Reset» chegou. Eles vão servir-se de toda a panóplia para conseguir neutralizar a resistência dos povos.
Claro que, por ora, sabem que não podem escravizar seus adversários mais poderosos. Sabem que somente poderão fazer «contenção» e «guerra híbrida». Isto também serve como forma de manter aterrorizados e dominados os governos do Ocidente, desejosos de se mostrarem «leais» à Grande Cabala.
Porém, no seio das sociedades que eles dominam, que ironicamente auto- designam por «democracias», estão a implementar um regime totalitário, com sistemas de vigilância («tracking»), com campos de internamento para dissidentes «covidianos». Criam uma dependência completa de muitas pessoas em relação ao governo, com o Rendimento Básico Universal. Devido aos «lockdown» e às várias restrições de atividades, milhares de pequenas e médias empresas ficam na falência: Isso não os aflige, ajuda-os a submeter ainda mais a população. Através da imposição da obrigatoriedade vacinal, montam um sistema de vigilância generalizado, que será aplicado noutras circunstâncias, com ou sem pretexto sanitário.
Estas manobras implicam um planeamento complexo, num número restrito de centros de poder. A ofensiva contra as liberdades civis está muito bem coordenada.
A «Cimeira para a Democracia», destinada a construir conivências entre governos ocidentais CONTRA os «arqui-inimigos» China e Rússia, não deveria merecer senão o desprezo e denúncia, por parte das esquerdas. Mas, infelizmente, elas foram cooptadas ou emudecidas e isso não é de agora. Com efeito, a sua resposta à tomada de poder globalista sob pretexto da crise do COVID, foi nula ou, até mesmo, foi de aprovação.
Andam também os governos da Europa sob direção americana, a fazer tudo em relação à Ucrânia, para reacender o conflito com as repúblicas separatistas do Don. Esta manobra suja e criminosa serviria para atrair a Rússia, para ela se imiscuir no vespeiro ucraniano, com o objetivo de aumentar o nível das sanções e, eventualmente, criar uma situação análoga à do Afeganistão nos anos 80, nas fronteiras europeias da Rússia.
A estratégia globalista para completar o «Great Reset» está patente, numa simulação lançada pelo WEF chamada “cyber polygoon. Em resumo:
- Os bancos irão fechar durante vários dias e a atividade bancária «on-line» não estará disponível. Não teremos acesso nem poderemos ver as nossas contas.
- A «suspensão de dívidas» será implementada, incluindo o cancelamento de dívidas. Note-se que a dívida de um é o ativo (as poupanças) de outro. Esta será a «solução» que nos será vendida para resolver a tal «ciber-pandemia». Eles dirão que isto TEM de ser feito para salvar-nos a todos.
- A relação de câmbio recíproco entre as divisas principais vai ser descontinuada. Deste modo, deixará de haver pagamentos em dólares USA, Euros, Libras, etc. As divisas serão de novo ativadas, mas com um severo corte, quando se transformarem em divisas digitais dos bancos centrais.
Parece que estas medidas são loucas, mas veja-se o que se passou com as divisas mais fracas (caso de Portugal) aquando da passagem ao Euro. Tiveram o seu câmbio inteiramente ditado pelos países mais fortes. O mesmo se irá passar, mas numa escala enorme e com mudanças de câmbios abismais.
A media vai mascarar estas manobras, que afinal se traduzem pelo empobrecimento massivo de uns e pelo enriquecimento de outros. Vão acusar, como de costume, os russos e os chineses, de estarem por detrás dos hackers. 
O ciberataque de falsa-bandeira é que irá supostamente tornar indispensáveis todas estas medidas .
Será uma espécie de arma de destruição massiva, que irá anular a autonomia das classes médias, nesses países.

sexta-feira, 24 de maio de 2019

A GUERRA COMERCIAL, O PONTO DE VISTA CHINÊS (E MEU COMENTÁRIO)


Foi com grande interesse que li o artigo do South China Morning Post, Donald Trump’s trade war and Huawei ban push China to rethink economic ties with US 

https://www.scmp.com/economy/china-economy/article/3011319/donald-trumps-trade-war-and-huawei-ban-push-china-rethink

                      A Chinese diplomat in Pakistan tweeted this picture of an apple, sliced to look like the Huawei logo, in a series of social media posts on Tuesday defending the tech company. Photo: Twitter 
                     [foto de maçã cortada, simulando o logo da Huawei]

Este artigo estimulou-me a redigir as considerações seguintes:

Quanto a mim, a guerra comercial dos Estados Unidos com a China estava programada pela equipa de Trump (incluindo Bannon, mesmo que este já não tenha uma posição oficial na Casa Branca): a prisão em Vancouver (Canadá) e as acusações (com pedido de extradição) contra a directora financeira Meng Wanzhou não foram coincidências infelizes, foi tudo programado para ocorrer PRECISAMENTE durante o G20 (1 Dez de 2018). 

Por outro lado, o avanço da tecnologia 5G chinesa, faz com que não seria possível uma empresa ocidental, mesmo a mais forte, obter uma fatia dominante do novo mercado, caso houvesse uma competição «saudável» entre empresas. A Huawei está muito mais avançada que as suas concorrentes no que toca à tecnologia 5G, o que aliás é reconhecido pelos especialistas ocidentais. 

Finalmente, a obsessão da política americana actual em fazer com que as empresas voltem para o solo americano, para que se re-industrialize o país, só pode ser conseguida através dum corte dramático, duma interrupção da economia mundializada, globalizada, funcionando segundo as regras da OMC. 
Tudo se passa como se os americanos descobrissem finalmente, com espanto, como os chineses souberam tirar partido da globalização, desenvolveram uma inteligente estratégia para penetrar os mercados mundiais com seus produtos e desenvolveram infraestruturas em numerosos países (as Novas Rotas da Seda).

Penso que o desenvolvimento da China é irreversível, no médio prazo. Podem existir alguns atrasos, mas são ultrapassáveis. Pelo contrário, a possibilidade dos EUA se manterem como potência hegemónica, que dita a sua lei às outras, acabou. 
Agora, os EUA estão a jogar para manterem dentro da sua esfera uma parte do mundo (o Ocidente), cercando-a e proibindo-a de fazer negócios ou comércio com as outras potências, que não estão para se sujeitarem à vassalagem.

No fundo, isto insere-se na lógica de Washington em criar uma nova guerra fria mas, em vez da «cortina de ferro», teríamos um «cinto de castidade de ferro», com ameaças de sanções económicas, e até ameaças militares, para aliados recalcitrantes, que teimem em manter boas relações com o lado proibido. 

Repare-se que tudo o que se passa agora com a China, não é inédito. 
Foi o que, de certa maneira, se passou com o golpe na Ucrânia, na origem do esfriar das relações entre a Rússia e os países da Europa ocidental: estes tiveram de fazer, sob mando dos EUA, uma guerra de sanções económicas, para sua desvantagem. 
Depois, agravaram-se ainda mais as relações entre os EUA e a Rússia, com a denúncia do tratado sobre mísseis intermédios; aqui de novo, a Europa é a grande vítima da situação pelo aumento de riscos de deflagração de guerra nuclear no seu solo. 
O mesmo raciocínio vale para a retirada dos EUA do acordo do nuclear civil com o Irão, envolvendo várias potências, incluindo europeias, a colocação de sanções contra o Irão, etc. 

Tudo isto ocorre sob a batuta dos neo-cons. Estes dominam completamente o presidente Trump, na esfera da política externa. Terão feito com ele um acordo informal, em como o poupavam ao «impeachment» e, em contrapartida, ele seguia as directivas deles, em matéria de política externa.

Creio que, a um nível mais geral, os EUA não podem aspirar a mais do que uma nova versão do tratado de Tordesilhas. Isso significa que os EUA, a Rússia e a China têm de chegar - mais cedo ou mais tarde - a um acordo. 
Os EUA terão o domínio incontestado do Ocidente (Europa ocidental e Continente Americano). A Rússia e a China terão suas esferas de influência no Extremo Oriente, Ásia central e Europa oriental. 
Além disso, haverá uma maior fluidez na circulação de mercadorias (livre-trânsito) ao longo das rotas terrestres e marítimas que ligarão as várias partes do super-continente euro-asiático ... 
  



domingo, 11 de dezembro de 2016

A GUERRA ANUNCIADA COM A CHINA

A GUERRA ANUNCIADA COM A CHINA
Podes baixar esta reportagem de John Pilger a partir do link seguinte: 

 THE COMING WAR ON CHINA

O texto seguinte é o resumo deste importante documento fílmico:

The Coming War on China

A nuclear war between the United States and China is not only imaginable but a current ‘contingency’, says the Pentagon. This film by acclaimed filmmaker John Pilger’s is both a warning and an inspiring story of resistance.

The Coming War on China, filmed over two years across five potential flashpoints in Asia and the Pacific, reveals the build-up to war on more than 400 US military bases that encircle China in a ‘perfect noose’.

Using rare archive and remarkable interviews with witnesses, Pilger’s film discloses America’s secret history in the region – the destruction wrought by the equivalent of one Hiroshima every day for 12 years, and the top secret ‘Project 4.1’ that made guinea pigs of the population of the Marshall Islands.
+

In key interviews from Pentagon war planners to members of China’s confident new political class - who rarely feature in Western reports, Pilger’s film challenges the notion and propaganda of China as a new ‘enemy’.

Pilger says: “The aim of this film is to break a silence. A new cold war is under way along with the drumbeat to war, this time with the real possibility of nuclear weapons. 

‘The Coming War’ is also a film about the human spirit and the rise of an extraordinary resistance in faraway places.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

A NOVA ROTA DA SEDA E A ESTRATÉGIA DO OCIDENTE

Na sequência da II Guerra Mundial, o campo socialista ficou fortalecido com a adesão da Rep. Popular da China, recém proclamada, para grande temor e fúria do imperialismo dos EUA e seus vassalos «ocidentais». 


                          

É uma ironia da História que o eixo Moscovo-Pequim, que parecia tão sólido pela uniformidade ideológica, foi afinal o elo fraco, explorado por Nixon e por Henry Kissinger, na sequência do afastamento dos dois gigantes, após a subida de Nikita Krutchev ao poder na URSS: os dois «irmãos inimigos» só se reaproximaram bem mais recentemente, após verificarem que a política dos EUA e apaniguados continuava numa lógica de Guerra-fria, que nada os fazia parar. 
A confrontação actual do eixo euro-asiático com o eixo anglo-saxónico não será ideológica, mas será na mesma um confronto total. Desde uma vintena de anos, o «Ocidente» apenas respeita o direito internacional quando lhe convém, apenas denuncia casos de violação dos direitos humanos em regimes que não se alinham por ele, tem como único «instrumento diplomático» a força armada, para esmagar todos os que não se conformam com a sua lei ... No entanto, na sequência do golpe de estado de Kiev, em Fevereiro de 2014, financiado e apoiado pelos EUA, a Rússia acelerou conversações para um acordo global, estratégico e económico com a China, vendo que os governos da Europa ocidental  tinham caído numa total vassalagem face aos EUA.

Assim, chega-se ao ponto da evolução em que o eixo de aliança estratégica entre os países que formam a Eurásia está a consolidar-se a olhos vistos. 
Recordo que a Organização de Segurança de Xangai, estabeleceu, há alguns anos, um acordo aprofundado na luta contra o terrorismo entre a Rússia, a China e várias repúblicas ex-soviéticas. 

O acordo Russo-Chinês concretizou-se no fornecimento por pipe-lines, a partir da Sibéria, de grande parte do crude e do gás natural de que a China necessita. Este será apenas um aspecto do vasto acordo estratégico entre Moscovo e Pequim. 
Este acordo é um formidável desafio ao petro-dollar(*), visto que o maior consumidor de crude e de gás natural terá como principal fornecedor o segundo maior produtor e tudo isto, usando divisas dos respectivos países, Yuan e Rublos, não usando o Dollar. 

Simultaneamente, a China lançou a nova Rota da Seda. Para isso, criou um Banco Asiático de Investimento, uma iniciativa de investimento dirigida a todos os países que quisessem aderir sem pressupostos outros que estabelecer relações comerciais mutuamente vantajosas. 
Num instante, a China obteve a adesão de mais de 60 países, como membros fundadores, nos quais se incluía o Reino Unido. Este, viu que o seu interesse no longo prazo era estar dentro do barco, que era inevitável a China tornar-se a primeira potência económica, sendo já dominante em muitos sectores do comércio internacional.

Um «Ocidente» relutante foi obrigado a aceitar o Yuan chinês no cabaz de divisas que formam os «Special Drawing Rights»  ou seja a moeda do FMI, a qual poderá segundo James Rickards, substituir o Dollar. 
A este propósito, deve-se compreender que a presente subida do Dollar não é devida a confiança na sua economia e na sua capacidade geo-estratégica, mas antes um corolário da enorme quantidade de Treasuries(**) (Obrigações do Tesouro US) que têm sido vertidas no mercado. Para que estas sejam vendidas, do outro lado tem de haver dispêndio de dollar: logicamente, vai haver uma falta de dolares no mercado. Foram vendidas, no ano transacto, quantidades astronómicas de treasuries, nos mercados. Os principais vendedores foram a China, o Japão, a Arábia Saudita. Esta subida do dollar, para além dos aspectos especulativos, é portanto o «canto do cisne», enquanto moeda de reserva mundial. 
A machadada final será dada quando os países petroliferos, Arábia Saudita e os diversos diversos Emiratos, começarem a aceitar outras moedas, além do dollar, pelo seu petróleo.
O Irão já se mostrou bastante audaz ao anunciar que vai começar a vender os seus dollars e a aceitar pagamentos noutras divisas. O famoso decreto de Trump que bania provisoriamente entradas de pessoas oriundas do Irão, um dos sete países do Médio Oriente visados, foi apenas o pretexto. 

Apesar de toda a incerteza gerada pela transição da presidência dos EUA, há porém desenvolvimentos altamente prováveis: 
. Vai reforçar-se a colaboração, a todos os títulos, entre Moscovo e Pequim. 
. Haverá um aprofundar de crise do Euro e - portanto - uma perda de influência da Europa nos assuntos económicos mundiais. 
. Pelo contrário, a China continuará, com seus numerosos acordos de comércio com países do Terceiro Mundo, a drenar uma parte importante das matérias primas, sustentando as economias desses países.
. Isto permitirá que os países fornecedores de matérias-primas se autonomizem, quer das ex-metropoles dos tempos coloniais, quer dos novos poderes que as substituiram.
. O eixo Euroasiático vai aprofundar-se no comércio, em particular, devido à complementaridade em termos de recursos energéticos, de matérias-primas.
. As diversas potências, grandes ou pequenas, no continente Euroasiático, verão como decisivo para a sua segurança e estabilidade globais, a cooperação em matérias de defesa, de luta contra o terrorismo, contra a criminalidade económica.

Em meados do século, teremos talvez um eixo continental Lisboa-Moscovo-Pequim, como o nascer de uma nova entidade geo-política no espaço euroasiático, que sempre foi uno geograficamente, mas demasiadas vezes fraccionado por guerras e rivalidades.
O eixo anglo-saxónico - essencialmente o Reino Unido, os EUA, o Canadá e a Austrália - irá disputar o terreno palmo a palmo, não hesitando em lançar uma guerra generalizada, na tentativa desesperada de manter a hegemonia. 
Porém, outro Mundo é possível (e preferível); um Mundo multipolar, como aliás tem sido, na maior parte da História.

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(*) É sabido que a hegemonia financeira do dollar tem sido mantida graças ao acordo do chamado petro-dollar, ou seja, a exclusividade de pagamento em dólares do petróleo da Arábia Saudita e outros países árabes que, em troca, receberam a garantia de protecção total por parte dos EUA. 

(**) As obrigações do Tesouro dos EUA são a forma habitual dos países manterem dólares em suas reservas financeiras nos bancos centrais. Terem dólares em reserva é uma necessidade, porque tem sido - até aqui - a moeda indispensável para compra, nos mercados mundiais, de combustíveis fósseis.