sábado, 4 de novembro de 2023

Léo Ferré: POÈTE, VOS PAPIERS!


CONTOLO DE DOCUMENTOS / VIGILÂNCIA DE MASSAS
 Na IIª Guerra Mundial, os civis das regiões ocupadas pelo exército nazi eram constantemente intercetados e tinham de exibir os seus documentos de identificação e salvo-condutos. 
Hoje, a identificação é exigida em tudo e para tudo: on-line e off-line; em situações oficiais e extra- oficiais. Tudo isto foi potenciado pela «crise do COVID». As pessoas passaram a ter de mostrar - por rotina  - os certificados de vacina a torto e a direito.

A sociedade da vigilância generalizada já está aqui. Simplesmente, as pessoas vivem quase todas, mentalmente, no antes da era digital. Elas pensam, ingenuamente, que algo «tão inócuo» como o número de cartão de cidadão, ou o número fiscal, nos serem exigidos não tem gravidade, é mera rotina. Mas, nem sempre é assim. Abaixo, direi porque penso que estão enganadas. 
Elas não sabem que os contratos que «assinam» com um click na Internet, exigem que a pessoa aceite que os dados fornecidos e outros dados (no seguimento da relação contratual) sejam utilizados livremente pelo «dador de serviço». O tipo de utilização não é especificado, não há limites para o cruzamento de dados, para a venda dos perfis individuais, que abrangem muitas coisas: Compras, postagens on-line, chats em redes sociais, dados do teu curriculum, etc. 
Este «maná» (para as empresas) já foi considerado como «o petróleo do século XXI» e, de facto, há empresas que lucram vendendo estes dados, agrupando e tratando os mesmos, revendendo os dados processados, etc. 
Na verdade, existem numerosos incumprimentos da legislação de muitos países, nomeadamente os da União Europeia. Mas, esses incumprimentos são ignorados devido à hipocrisia do sistema. Supostamente, antes de assinares, deverias ter lido atentamente, ouvido o conselho dum jurista, etc. Parte-se do princípio, nesta sociedade hipócrita, que aquele que não sabe, ou não quer ler as complicadíssimas «n» páginas de conversa fiada jurídica, é quem está em «falta». Pelo contrário, os que cozinharam assim tal contrato, fizeram tudo dentro da lei. 
Não me admira nada que isto seja assim, pois o Estado e seus agentes também são coniventes e participantes na farsa. Ele - o Estado - também se aproveita da situação a vários títulos, também recorre à mineração dos dados dos cidadãos, também utiliza algoritmos de vigilância automática dos sites, para - supostamente - rastrear os terroristas!  
São sempre os mesmos pretextos: o terrorismo, a fraude fiscal, etc. Mas, os dados dos cidadãos são vasculhados e armazenados em massa, sem  limite de tempo, sem limite de utilização, transformando em «paródia» as leis de confidencialidade (que ainda estão em vigor), que o Estado deveria respeitar e fazer respeitar. 

Não me ocorre nada de melhor, como antídoto, que este longo recitativo-canção de Léo Ferré. Aquele mesmo que eu vi no palco. Foi há tanto tempo, é como se fosse noutra vida.

POÈTE... VOS PAPIERS!

                                       https://www.youtube.com/watch?v=87qVWD0VV6E

Bipède volupteur de lyre, époux châtré de PolymnieVérolé de lune à confire, Grand-Duc bouillon des librairiesMaroufle à pendre à l'hexamètre, voyou décliné chez les GrecsAlbatros à chaîne et à guêtres, cigale qui claque du becPoète, vos papiers! Poète, vos papiers!
J'ai bu du Waterman et j'ai bouffé LittréEt je repousse du goulot de la syntaxeÀ faire se pâmer les précieux à l'arrêtLa phrase m'a poussé au ventre comme un axeJ'ai fait un bail de trois-six-neuf aux adjectifsQui viennent se dorer le mou à ma lanterneEt j'ai joué au casino les subjonctifsLa chemise à Claudel et les cons dits "modernes"
Syndiqué de la solitude, museau qui dévore du couicSédentaire des longitudes, phosphaté des dieux chair à flicColis en souffrance à la veine, remords de la Légion d'honneurTumeur de la fonction urbaine, Don Quichotte du crève-cœurPoète, vos papiers! Poète, Papier!
Le dictionnaire et le porto à découvertJe débourre des mots à longueur de pelureJ'ai des idées au frais de côté pour l'hiverÀ rimer le bifteck avec les engeluresCependant que Tzara enfourche le bidetÀ l'auberge dada la crotte est littéraireLe vers est libre enfin et la rime en congéOn va pouvoir poétiser le prolétaire
Spécialiste de la mistoufle, émigrant qui pisse aux visasAventurier de la pantoufle sous la table du NirvanaMeurt-de-faim qui plane à la Une, écrivain public des croquantsAnonyme qui s'entribune à la barbe des continentsPoète, vos papiers! Poète, documenti!
Littérature obscène inventée à la nuitOnanisme torché au papier de HollandeIl y a partouze à l'hémistiche mes amisEt que m'importe alors, Jean Genet, que tu bandesLa poétique libérée, c'est du bidonPoète, prends ton vers et fous-lui une trempeMets-lui les fers aux pieds et la rime au balconEt ta muse sera sapée comme une vamp
Citoyen qui sent de la tête, papa gâteau de l'alphabetMaquereau de la clarinette, graine qui pousse des gibetsChâssis rouillé sous les démences, corridor pourri de l'ennuiHygiéniste de la romance, rédempteur falot des lundisPoète, vos papiers! Poète, salti!
Que l'image soit rogue et l'épithète au poilLa césure sournoise certes mais correcteTu peux vêtir ta Muse ou la laisser à poilL'important est ce que ton ventre lui injecteSes seins oblitérés par ton verbe arlequinGonfleront goulûment la voile aux devanturesSolidement gainée ta lyrique putainTu pourras la sortir dans la Littérature
Ventre affamé qui tend l'oreille, maraudeur aux bras déployésPollen au rabais pour abeille, tête de mort rasée de fraisRampant de service aux étoiles, pouacre qui fait dans le quatrainMasturbé qui vide sa moelle à la devanture du coin, ha!Poète, haha, circulez, poète, haha!Circulez, poète! Circulez, hahaha!
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sexta-feira, 3 de novembro de 2023

OS «TRAIDORES» SÃO AQUELES QUE DIZEM A VERDADE AO POVO!


 Na linguagem orwelliana dos fascistas-globais pode-se ouvir todos os insultos e acusações (falsas) retomadas e amplificadas pela media corporativa. Mas, se não perdeste a dignidade de ser humano, seja qual for a tua posição ideológica, queres saber (e tens o direito de saber) o que dizem realmente Edward Snowden e outros «whistleblowers» (dadores de alerta). 
Para os autoritários que detêm o poder, o perigo és tu; é saberes «demais» sobre intrigas do poder; é saberes os crimes que eles procuram ocultar com um manto de silêncio ou de palavras falsas.
A vigilância global e um sistema desenhado para isso, é esse o perigo que Snowden nos alerta.

quarta-feira, 1 de novembro de 2023

ENTRAMOS NA FASE DE DESTRUIÇÃO CÍCLICA [CRÓNICA(Nº21) DA IIIª GUERRA MUNDIAL]

 

Entrámos em pleno na fase de destruição do sistema capitalista mundial. Nada é linear, mas a acumulação de violência, sobretudo de violência de Estados, apesar e contra as suas próprias declarações de princípios, junto com o condicionamento das massas, com doses de medo e de ódio, cada vez maiores, mostram que a máquina está já em movimento. 
Num passado histórico recente, nos anos anteriores às duas Guerras Mundiais, ocorreram guerras ditas regionais, que foram ensaios ou «laboratórios», para as destruições massivas das Guerras Mundiais que se seguiram. 
É sempre o mesmo fenómeno, se nos quisermos abstrair das circunstâncias particulares do presente que é o nosso. 
Temos a destruição massiva de capital acumulado e de vidas, porque o sistema capitalista atingiu o seu limite em termos de exploração, tanto em extensão geográfica, como em rentabilidade. Isto não isenta de responsabilidade criminal os que promovem as guerras, os massacres, as destruições de vidas. 
Paul VALÉRY escrevia em «La Crise de l’esprit»(1919): « Nós, civilizações, sabemos agora que somos mortais». A civilização é um ténue verniz, que estala logo, com a selvajaria do capitalismo globalizado. Nada o pode domar; ele devora os próprios fiéis, os discípulos mais dedicados, na sua louca corrida à destruição. 

Quando o capitalismo era jovem, a destruição não conseguia ser universal. A humanidade e as sociedades reconstituiram-se graças à sua energia intrínseca, à sua vontade de viver. Mas, agora, as guerras são incessantes; a sua acumulação faz com que o «clímax», ou seja, a destruição global, apareça como mais e mais provável.

Nenhum dos que presenciaram, em 1939, a invasão alemã da Polónia, podia imaginar que a futura IIª Guerra Mundial acabaria com uma completa destruição de cidades e com crimes em massa contra populações civis indefesas. 

Todo o mal foi atribuído aos nazis na Alemanha e aos regimes fascistas, seus aliados. Porém, o mal não foi tão unilateral como a propaganda dos vencedores (a «História») nos quer fazer crer. Os crimes dos vencedores são perdoados, esquecidos, relativizados, mas eles permanecem. São sementes de ódio; tal como os outros sofrimentos, infligidos às populações vítimas do nazismo e do fascismo. 

Recordemos que a «banal» violação duma fronteira (da Polónia em 1939), acabou por dar, no final, uma hecatombe nuclear (e um crime contra a humanidade) com muitas centenas de milhares de vítimas civis, em Hiroxima e Nagasaki. Hoje, o arsenal nuclear das diversas potências é um múltiplo, incrivelmente elevado, das bombas nucleares detonadas nas duas cidades japonesas. Não se pode, hoje, ignorar a ameaça duma guerra global, provocando a destruição total da civilização humana. A ONU é impotente, os governos com vontade de obrar pela paz são ignorados pelos governos apostados na guerra. 


As imagens terríficas do quadro de Brueghel o Velho, «O Triunfo da Morte», estão  muito  apropriadas. Quem se debruce sobre as várias partes do quadro e suas diversas cenas, concluirá que Brueghel não quis mostrar «um ato de Deus», mas sim a loucura dos humanos. 

Esta obra genial permanece atual, pois vem nos recordar que a morte triunfa, enquanto produto da guerra; que a guerra é o produto dos exércitos e dos poderes; que esta guerra nada tem de transcendente, de vontade divina; mas, que resulta da vontade de poder, de mais e mais poder, dos poderosos.




segunda-feira, 30 de outubro de 2023

DINHEIRO DEPOSITADO NO BANCO DEIXOU DE SER TEU

AQUELE QUE TE AVISA, TEU AMIGO É.

Lynette Zang põe as coisas a claro e com provas. Ainda estás a tempo de saber a verdade e de tomar as medidas que se impõem para tua salvaguarda.

Uma temporada de «bail in»* não está fora dos possíveis, tanto mais que os juros sobre as obrigações sofreram uma subida demasiado brusca, para a qual nem os bancos, nem as empresas estavam preparados. Não esqueçamos que uma política de juros ultrabaixos foi implementada durante longos anos, tornando possível uma acumulação recorde de dívida, em especial, das empresas. Estas dívidas têm de ser amortizadas e os juros das mesmas têm de ser pagos, tendo eles atingido um nível muito superior ao calculado inicialmente. Uma onda de falências é inevitável pois, simultaneamente, é patente a contração do consumo e da economia produtiva.  


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* bail in: O «resgate interno»(= bail in) dá-se quando os depositantes veem parte dos seus depósitos tomados, para colmatar as perdas e dívidas incorridas pelos bancos.  Foi a situação que ocorreu em Chipre, em 2013. 

O SOL [OBRAS DE MANUEL BANET]



 Ele não bate à  janela

Introduz-se no quarto, 

Sem cerimónias

Visitante não convidado

Não furtivo, pelo contrário,

O atrevido ilumina tudo

Com seus raios dourados

Muda cenários sombrios

E mesmo a melancolia

É sacudida pela luz irisada

Que suavemente escoa

Dos vidros reflexivos.

Ao Sol, a matéria sublima-se

Transmuta-se e explode

Em cores triunfantes

Anulando as sombras

E os pesadelos

Da minha mente.


domingo, 29 de outubro de 2023

EUA votam na ONU contra cessar-fogo em Gaza, contra a vasta maioria dos países


O vídeo de Ben Norton (Geopolitical Economy Report) explica as relações de vários países e as razões porque votaram duma maneira ou doutra. 

O essencial, é que o direito humanitário está completamente posto em causa, o que mostra a decadência dos EUA e dos países que estão na sua órbita.

Como tenho vindo a sublinhar, a agressividade acrescida dos EUA e da Europa Ocidental são a marca do desespero, de saberem que nada - perante esta situação económica e financeira - poderão fazer. Com efeito, puseram-se a si próprios dentro de uma armadilha, da qual não têm saída possível: A impressão monetária sem limites, para custear despesas militares e manter os lucros da casta bilionária, tem um preço. A  desvalorização acelerada das divisas desses países é o corolário do crescimento exponencial da dívida. 

Perante este cenário, os governantes provocam ou intensificam conflitos, na esperança de que a guerra distraia o povo das faltas cometidas por eles.


PS1: Uma análise da estratégia dos sionistas/neocons que, de tão precisa e rigorosa, me deu frio na espinha:

https://informationclearinghouse.blog/2023/10/30/nakba-2-0-revives-the-neocon-wars/

sábado, 28 de outubro de 2023

«LEIS DO MERCADO»? EU DIGO-VOS O QUE SÃO.

 A hipocrisia dos intitulados políticos e economistas ocidentais, faz com que as pessoas vivam na doce ilusão de que as coisas estão a melhorar, globalmente. Há alguns «recuos», mas a exploração dos trabalhadores não é aquilo que era noutros tempos. A sério?!?


Em boa lógica, as pessoas - quase todas - vivem em estado de denegação. Pois a intensificação da exploração do trabalho e a depredação dos recursos ambientais, abrangem cada vez mais zonas do globo, são cada vez mais impiedosas para os povos indígenas e para o próprio sustento do ecossistema Terra. Esta é a verdadeira face da globalização.

Por exemplo, a quantidade enorme de gadgets que as pessoas adquirem, nas partes do mundo mais afluentes, têm  um tempo «de vida útil» muito curto. Cada vez mais curto (pensem nos computadores, nos smartphones, etc.) . Nestes gadgets de «high-tech» estão inseridos componentes minerais que são extraídos de inúmeros locais, mas quase todos eles situados no Terceiro Mundo. As chamadas «terras raras» são um bom exemplo. Na realidade, não são assim tão raras, pois o elemento mais raro deste grupo é mais abundante na crosta terrestre, que o ouro. Só que o ouro é explorado quando se encontra em veios, mas tal não acontece com as «terras raras». Para se concentrar o suficiente de um dado elemento pertencente a este grupo, é preciso extrair toneladas e toneladas de terra e de rocha, formando imensas escombreiras. O solo fica estéril durante muitos anos. O processo de concentração e refinação destes «metais raros» também é muito poluidor, criando-se enormes lagos envenenados contendo os subprodutos tóxicos destes processos. 


A China é o principal produtor de «Terras Raras»; porém não é por possuir concentrações favoráveis desses elementos, visto que eles estão mais ou menos dispersos - em concentrações semelhantes - por toda a crosta terrestre. Aquilo que é diferente, é que na China as «regulamentações ambientais» estão quase ausentes. Igualmente, as condições salariais e de higiene são deploráveis, mas as autoridades chinesas têm tudo sob controlo. As pessoas sensíveis aos direitos humanos e à ecologia (a maior parte, vivendo no conforto híper tecnológico) não se inquietam muito também com as zonas do interior da China e seus habitantes. 

O mesmo, ou pior, se passa com a exploração na República Democrática do Congo dos minérios estratégicos para a indústria eletrónica e componentes obrigatórias em qualquer bugiganga digital que utilizamos. A depredação da floresta tropical-equatorial e a transformação de crianças em escravos das minas, não é dos séculos passados, é de agora!

Sem esquecer  a louca corrida para explorar todo e qualquer depósito de Lítio (incluindo na Serra da Estrela, um Parque Natural de primeira importância no centro-norte de Portugal), para alimentar a indústria automóvel EV, para consumo (e paz de espírito) dos cidadãos dos países ocidentais: Estes são ricos, ecologistas, preocupados com questões sociais, mas só dentro do perímetro das suas sociedades e das paisagens abrangidas pela sua visão estreita!  

Então, a questão do mercado resume-se aos termos seguintes:

- Os mercados hoje são internacionais, globalizados, numa escala sem precedentes.

- O que é consumido pelos países afluentes (Norte América, Europa Ocidental, Austrália) em termos agrícolas mas, sobretudo, industriais vem - na sua grande maioria- de países do Terceiro Mundo

- As razões principais disto são: a enorme discrepância salarial, da ordem de dez vezes menos nos países pobres em relação aos ricos. A total ausência ou o não cumprimento de normas de proteção do ambiente e depredação constante dos recursos.

- Além disso, as multinacionais que exploram os recursos minerais nesses países, têm capacidade para corromper e/ou vergar a vontade dos governos locais. Estes, preferem fechar os olhos, a terem uma perda de rendimentos sob forma de «royalties» e também perderem muitos postos de trabalho, caso as multinacionais saiam. 

- Portanto, os mercados de matérias-primas e do trabalho não são de todo «livres», pelo menos no sentido comum do termo. Seria um mercado livre, se um comprador e um vendedor (quer em termos individuais, quer coletivos) têm ambos uma certa capacidade de negociação e o preço (quer de mercadorias, quer da mão-de-obra) é o resultante dessa negociação. 

- Os recursos da minoria da população mundial que beneficia desta situação, são fruto da superexploração do trabalho no Terceiro Mundo;  da completa rapina e destruição de recursos naturais dessas partes do Globo.

Uma análise económica honesta dos custos globais, deveria ter em conta os factos evidentes que eu mencionei acima. Mas, a narrativa dos economistas contemporâneos é quase toda uma enorme falácia, para adormecer as consciências. Digo isto, porque sei que eles sabem: os economistas ocidentais sabem perfeitamente os factos acima apontados.

Não há leis do mercado, no sentido de «Leis da Física», ou de outra ciência exata, ou natural. A «lei» do mercado é somente a imposição violenta da exploração.