segunda-feira, 3 de outubro de 2022

POR QUE RAZÃO A MEDIA NÃO REPORTA AS DECLARAÇÕES DE PUTIN E XI JIN PIN?

 «In his Moscow address, he said: “They do not wish us freedom, but they want to see us as a colony. They want not equal cooperation, but robbery. They want to see us not as a free society, but as a crowd of soulless slaves.”»

https://consortiumnews.com/2022/10/03/patrick-lawrence-the-strong-and-the-merely-powerful/

Temos de compreender, não estamos numa «guerra leal», em que o «inimigo» é visto simplesmente como alguma nação ou conjunto de nações, que se opõe ao nosso campo. O que caracteriza esta guerra, esta IIIª Guerra Mundial, é que se trata duma guerra total e híbrida. Híbrida, porque usa meios como sanções económicas, a guerra psicológica com as táticas de ocultação, distorção e fabricação de notícias, a propaganda, o matraquear ideológico, etc. Estes meios são usados em permanência, além dos propriamente militares. É uma guerra total porque os hegemónicos EUA não admitem outra solução senão um domínio, sem partilha, do sistema internacional, feito de acordo com as suas conveniências e não numa qualquer «ordem mundial», mas na mais completa desordem. Eles pretendem assim assegurar a predação e a rapina das riquezas dos povos e seus recursos naturais. Este super-imperialismo ( M. Hudson) pode ser disfarçado de muitas maneiras perante os seus próprios cidadãos; tentam o mesmo em países submetidos à sua órbita. Trata-se de pôr em jogo o que chamam de «soft power». Este é o poder de influenciar, condicionar, atrair as pessoas doutras nações e civilizações, a se submeterem perante o fascínio da máquina produtora de ilusões, da cinematografia de Hollywood, da música rock, de milhões e milhões de horas de séries televisivas apresentando o «american way of life» (totalmente falso) como sendo o modelo que quaisquer pessoas sensatas deveriam adotar. Evidentemente, a propaganda antissocialista e anticomunista, também emanou dos mesmos centros, durante mais de 70 anos, apresentando a imagem mais negativa destes regimes e das forças que defendiam soluções anticapitalistas. Os cidadãos são sujeitos a esta lavagem ao cérebro durante gerações.
A guerra psicológica esteve sempre presente, durante mais de um século, sobretudo desde que surgiu a URSS e houve um apelo para os setores revolucionários da classe operária se libertarem do jugo do capitalismo e instaurar o socialismo. Tais forças, em muitas sociedades não tinham força suficiente para porem em risco as «democracias», mas amedrontaram as burguesias. Por isso, elas criaram, financiaram e apoiaram os partidos fascistas. Estes, acabaram por tomar o poder, primeiro em Itália (onde tinha havido o «biénio vermelho»), em Portugal (onde o regime democrático não reprimia com «suficiente vigor» o operariado revolucionário), na Espanha (onde Franco e outros generais se sublevaram contra a república), para se alastrar na Alemanha, Áustria, Hungria, Roménia. Houve tentativas de golpes fascistas em França e noutras democracias «liberais».
A guerra psicológica, hoje em dia, é aplicada «cientificamente» e parte significativa da «intelectualidade» ou das profissões «intelectuais», está disposta a «fazer a sua parte», neste condicionamento de massas. Não é por acaso, que os meios de comunicação social e da Internet, nas mãos de grandes empresas capitalistas, têm tanto poder, ao ponto de nulificarem qualquer real possibilidade de expressão livre e independente dos poderes. Logo que algo desagrade aos poderes, isso é retirado, através de mecanismos de censura que os regimes fascistas do passado nunca  conseguiram implementar com tanta eficácia. Os meios disponíveis permitem anular todo o «perigo» de meus escritos terem uma difusão significativa. Assim, contrariamente à censura do tempo da Inquisição ou dos regimes ditatoriais do século XX, o processo de orientação da informação nas massas, opera sobretudo pelo mecanismo da saturação de «memes». Se algo é dito e redito com intensidade suficiente e dando a ideia de «diversidade», a massa irá acreditar piamente, um número bastante menor - mas consistente - irá fingir que acredita, só para não ser incomodado, uma pequena minoria irá tentar desmascarar esta construção da «verdade», através de contrainformação, mas sem sucesso, pelo menos, junto da grande maioria. Viu-se e vê-se ainda, com a campanha de condicionamento a propósito do coronavírus, propulsionado ao nível de «pandemia» e que serviu para testar (como se os humanos fossem cobaias) o arsenal de guerra «informativa», ou seja de condicionamento de massas, pelos governos e pelos interesses capitalistas mais poderosos.

A guerra mundial que está em curso, iniciada com o ataque bárbaro e criminoso das forças da OTAN contra a Jugoslávia em 1999 (há 23 anos!), vai durar enquanto não houver mudança da estrutura de poder mundial. Até lá, os países mais poderosos vão fazer a guerra (híbrida), que terá como causa e razão de ser a repartição das áreas de influência. Essa guerra híbrida será também, tanto quanto puderem, uma guerra através de terceiros (by proxi) e isto porque eles sabem que a sua estabilidade doméstica fica posta em causa - no longo prazo - se o seu povo for obrigado a suportar uma guerra. Por isso as forças da NATO estão a impor uma guerra à Rússia através da Ucrânia. Lembremos que as guerras de atrição são (quase sempre) ganhas pelos que têm menos a perder (os Vietnamitas, os Afegãos, etc), enquanto os que têm mais meios técnicos e económicos para fazer a guerra, também têm uma população «amolecida» que não aceita sacrificar o seu conforto e por isso deixa de apoiar o seu governo. Foi o que aconteceu, nomeadamente, com a Guerra do Vietname e com a contestação generalizada que causou no povo e juventude americanos.


A media atual, no Ocidente, é literalmente uma arma poderosa que, não apenas anestesia a opinião pública de seus próprios países, também a intoxica e a fanatiza com relatos mentirosos e cruéis. Desumaniza os «do outro lado», permitindo assim que as oligarquias continuem com a barbárie da guerra. Por isso, é claro que o que dizem do outro lado tem de ser completamente falseado, distorcido, porque nada pode contradizer a imagem de maldade absoluta que é pintada permanentemente dos povos e dos dirigentes das potências opostas. Só quando os povos deixarem de «acreditar» na propaganda de guerra disfarçada de informação, os poderes se sentirão obrigados a moderar seus ímpetos. Porque no passado, não muito longínquo, o rei ou o chefe militar, tinha de ir com as tropas enfrentar o inimigo no campo de batalha; se não o fizesse, o seu exército iria fraquejar e seria derrotado. O elemento psicológico funcionava, mas a lealdade ao chefe implicava que este se mostrasse intrépido, corajoso, pronto a morrer pelo seu povo, mesmo que isto não fosse exatamente assim. Hoje, o elemento psicológico tem a ver com a distorção intencional e repetida do campo adversário, como se «aquilo que parece, acabasse por existir, na realidade». Até certo ponto, esta falácia tem funcionado, porque permite manter as pessoas na ilusão. Devido a este engano, elas acabam por tomar como verdadeiro aquilo que - provavelmente - nunca aceitariam, se tivessem um retrato realista, não partidário, das situações. Porém, no longo prazo, a população acaba por ser massacrada pela sua própria «elite», no altar fantasmagórico da «pátria»... A descida ao mundo real, quanto mais tardia for, mais dura será

domingo, 2 de outubro de 2022

A EUROPA METEU-SE NUM BECO SEM SAÍDA

   Maidan (2014) a violência do golpe de Estado, instigado e apoiado pelos Ocidentais

Quando diversos governos europeus se precipitaram, na sequência da invasão russa da Ucrânia, para executarem as sanções, é notável que um certo número destas, como a expulsão dos Bancos russos do sistema SWIFT, ou a tomada (não o congelamento) das reservas em divisas detidas pelo Banco Central da Rússia, não tivessem sido jamais consideradas como possíveis, publicamente. O efeito devastador de tais sanções inéditas seria de causar um colapso da economia da Rússia, a sua descida subsequente no caos e a revolta contra Putin e o seu governo. Estas expectativas foram, nessa altura, enfaticamente afirmadas pelos governos atlantistas e seus propagandistas. Essa tal ênfase, faz-me pensar que estavam 100 % confiantes do seu resultado.
O facto é que a economia e o próprio Estado russo se tinham estado a preparar para esta guerra económica, desde que verificaram o papel dos ocidentais no golpe de Estado na Ucrânia, o golpe dito de Maidan, que derrubou um governo legítimo e instalou forças nacionalistas, chauvinistas, as piores de que há memória, desde o fim da IIª Guerra Mundial. Eu lembro-me perfeitamente das declarações histéricas de certos líderes do triunfante golpe de Maidan em 2014. A perseguição furiosa aos elementos russófonos, foi ao ponto de uma guerra de extermínio, de etnocídio, contra uma parte do próprio povo ucraniano. As províncias do Don eram províncias russas ofertadas por Lenine à república soviética da Ucrânia em 1922, a Crimeia foi povoada por russos desde o final do século XVIII, e estes são muito maioritários nesta península. Por outro lado, houve impunidade total dos elementos (conhecidos) pelo bárbaro crime de imolação pelo fogo de mais de 40 pessoas que se refugiaram no edifício dos sindicatos, em Odessa (outra cidade claramente russófona). Em consequência do ataque violento à sua cultura, às suas propriedades, meios de subsistência e -sobretudo- à sua própria vida, os russófonos da Ucrânia foram empurrados para a guerra civil pelos bandidos de extrema-direita. Estes foram chamados, eufemisticamente, pelas chancelarias e pelos órgãos de imprensa, de «nacionalistas», quando na verdade, integravam uma extrema-direita nazi, em continuidade com a divisão SS formada por ucranianos durante a IIª Guerra Mundial e culpada de inúmeros massacres e atrocidades.
Nada do que ocorreu durante estes oito anos, incluindo a invasão russa e a recente inclusão as ex-províncias ucranianas de Lugansk, Donetsk, Kherson e Zaporizhzhia, no território da Rússia, teria acontecido, se europeus e americanos, desde 2014, não tivessem jogado no confronto e na provocação com a Rússia, às suas fronteiras, nesta área tampão extremamente complexa do ponto de vista das etnias, da História, etc.
Todo este jogo absurdo, por parte dos governos da Europa ocidental, mostra até que ponto eles são vassalos do poder de Washington. Com efeito, é este que mantém a Europa refém e «protege-a», assim como os gangsters «protegem» os comércios que lhes pagam um tributo. A cobardia e corrupção dos seus dirigentes políticos, é o que torna viável o jogo americano. Ao ponto de se aplicar perfeitamente a interrogação retórica, «com amigos assim, para que são precisos inimigos?»
Agora, estamos perante uma classe política que não sabe o que fazer. Toda ela está totalmente impotente para evitar os rigores de austeridade, de inflação galopante, de miséria e de fome, causados nos respetivos povos pela sua própria estupidez. O povo e os trabalhadores já percebem e não perdoarão. Os dirigentes europeus embarcaram numa violenta guerra de sanções, em proveito alheio (Washington) sem sequer se precaverem das (prováveis) consequências de ficarem cortados dos principais fornecimentos de gás, petróleo, adubos e cereais! Absurdo, mas verdade. Incrível, mas autêntico. Nada nem ninguém poderá negar a evidência dos factos.
Todos os dados apontam para isto. Os governos europeus da OTAN caíram na armadilha, que seu «suserano» os EUA, lhes pregou, para os ter na mão.
Tinham ainda uma pequena «tarefa» a fazer para dar o golpe final. A sabotagem, tornando inviáveis, no curto e médio prazos, os fluxos de gás dos gasodutos NS 1 e NS2. Assim a Alemanha e outros, não iriam poder retomar as importações de gás russo. A saída diplomática da guerra é do interesse dos europeus ocidentais, além de ser - obviamente - vital para o povo ucraniano. Mas, encontrar uma saída diplomática, é aquilo que Washington mais deseja evitar, no  presente conflito no Leste da Europa.
Penso que as circunstâncias em que se encontra a Europa ocidental hoje, podem causar um choque de tomada de consciência. Não creio possível a continuação da pantomima de que os Americanos são «amigos» e «aliados» dos europeus:
- O dólar joga claramente contra o euro e agora contra a libra: OS MEIOS FINANCEIROS, A COMEÇAR PELA FED E POR WALL STREET, agem como inimigos dos europeus, querem captar as suas indústrias mais valiosos, as indústrias de ponta. Eles querem que a Europa se desindustrialize, para as melhores indústrias europeias se instalarem nos EUA. Estas indústrias beneficiarão de regimes especiais de proteção. As economias dos países ocidentais, sobretudo as dos mais poderosos, são agora privadas do acesso às fontes de energia seguras e baratas, para depois serem saqueadas e exportadas (as mais interessantes) para territórios do Tio Sam.
O que digo acima é evidente. Pois, de uma forma ou de outra, é exatamente o que JÁ OCORRE DEBAIXO DO NOSSO OLHAR. Talvez eles consigam salvar a sua economia da hecatombe, à custa da hecatombe dos seus «amigos e aliados» europeus. Mas, será isto um verdadeiro triunfo?

 ALGUMAS REFERÊNCIAS RELACIONADAS:

https://thecradle.co/Article/Columns/16307

https://consortiumnews.com/2022/09/30/scott-ritter-the-onus-is-on-biden-putin/

https://www.nakedcapitalism.com/2022/09/michael-hudson-on-the-euro-without-germany.html

https://www.youtube.com/watch?v=2wpMMSvKUTU

https://www.globaltimes.cn/page/202209/1276456.shtml

https://www.unz.com/article/nordstream-the-signal-that-washington-knows-it-has-lost-the-great-game/


PS1: Agora, que Blinken classificou (na Sexta feira passada, 30 de Set.) as explosões dos gasodutos no Báltico como «uma tremenda oportunidade» ou seja, agora, os europeus têm de comprar LNG americano em grande quantidade, não há mais lugar para dúvidas. A húbris da administração Biden é reveladora de QUEM fez essas sabotagens. Não me custa crer que os americanos tiveram a colaboração operacional dos britânicos e polacos e conhecimento prévio dos membros da NATO do Báltico, Alemanha, Dinamarca, Suécia. Veja:

 https://www.zerohedge.com/geopolitical/blinken-calls-sabotage-attacks-nord-stream-pipelines-tremendous-opportunity

Se os Estados da Europa ocidental tivessem governos nacionais e não fantoches, esta situação deveria conduzir à rutura com os EUA e ao rebentamento da própria NATO.
https://www.unz.com/runz/american-pravda-of-pipelines-and-plagues/


PS2: A candidatura da Ucrânia à «entrada de emergência» na NATO, teve como resposta um frio «NÃO» do lado da NATO. Aos americanos, obviamente, não lhes interessa que a Ucrânia esteja dentro da NATO. Querem que a Ucrânia lute contra a Rússia até à exaustão das suas forças, mas sem alastramento à NATO, o que iria certamente significar uma guerra direta NATO-Rússia. 

quarta-feira, 28 de setembro de 2022

DIÁLOGOS SOBRE O FENÓMENO HUMANO


 Publicamos aqui um primeiro diálogo entre um Paleoantropólogo e uma Geneticista. 

P - Este desafio de falar sobre o humano é tão arrojado e, ao mesmo tempo, inescapável para alguém com a minha profissão. Nas fronteiras do humano, estão interrogações filosóficas quer nós nos debrucemos sobre o passado (evolução humana), o presente (antropologia cultural) ou o futuro (prospetiva). Quanto à ciência genética, que também faz parte das ciências que a paleoantropologia utiliza, o que te parece ter sido mais relevante, no que ela trouxe ao debate constante sobre este tema?

G- Eu sei que o paradigma dominante é - não apenas na genética - de um certo determinismo. Isso traduz-se no imaginário popular, como alguém tendo herdado o gene W, terá uma expressão do gene correspondente. Isto não é válido, como sabemos e os cientistas com certeza todos sabem que isso não funciona exatamente assim mas, ao nível mais profundo, mais epistemológico, há uma crença arreigada na determinação dos genes. 

P- Sim, há a velha e falsa polémica de «genes» versus «cultura», mas que evidentemente não leva a nada pois as coisas não são separáveis. É exatamente como a história de «quem veio primeiro: A galinha, ou o ovo».

G. No campo da genética, costuma-se separar as especialidades moleculares (o estudo dos genes e suas sequências), da genética das populações (como evoluíram as populações, como é que tais ou tais genes e conjuntos de genes se segregaram ou reuniram nas populações, neste caso, populações humanas). Mas, a utilização massiva e mesmo corriqueira de indicadores genéticos (sequências) em populações passadas ou presentes, em muitos estudos, veio agora tornar muito fluida a fronteira do que seja do domínio da «genética  molecular» ou da «genética das populações».

P- No campo da antropologia, a herança de um neo-darwinismo dogmático - que não deve ser confundido com as precoces, mas valiosas, contribuições de Darwin  - contribuiu para uma visão linear da evolução humana, com a agravante de querer que os achados sucessivos se enquadrassem dentro da tal visão estreita de uma «evolução progressiva», tendente a «um tipo perfeito de humano, que seria o Homo sapiens». Dessa distorção resultaram muitos preconceitos, difíceis de eliminar. Por exemplo, a correlação estreita da inteligência com a capacidade craniana, mesmo  estimada na proporção do total da massa corporal. Verificou-se que H. luzonensis e H. floriesiensis tinham capacidade craniana muito menor que os vários exemplares (contemporâneos alguns) de H. erectus, encontrados em várias ilhas do Sudeste Asiático. Ambas as espécies (luzonensis e floresiensis) eram, não apenas fabricantes de instrumentos de pedra, como tinham habilidade de caçar animais perigosos e de porte muito maior; sinal seguro de certo grau de inteligência. Se a correlação entre a massa cerebral e inteligência fosse linear, estas espécies teriam apenas o intelecto de chimpanzés e as realizações destes símios, ou seja, seriam apenas capazes de usar instrumentos «ready made» (pronto a usar), paus e pedras que encontrassem.  

G- As descobertas da genética nos finais do século passado e no  século XXI também foram de molde a destruir algumas falsas verdades, como a universalidade da transmissão mendeliana dos carateres ou a possibilidade de transmissão hereditária de informação «material», por oposição a «cultural», por uma outra via, que não a do ADN. Isto torna caducos uma série de modelos e mesmo de teorias em genética, pois não se baseiam nesta «nova» genética, mas numa genética onde a transmissão dos carateres hereditários se faria estritamente segundo as leis mendelianas e estava exclusivamente codificada nos genes, formados por sequências de nucleótidos. Mas de facto conjugar as recentes descobertas ao nível molecular e celular, com os dados de observação das populações, é muito difícil. A teoria neodarwiniana dos anos 30-60 do século passado fez isso, na chamada «síntese neodarwiniana», porém este modelo ficou caduco, passados poucas décadas depois de ter triunfado. A partir da descoberta dos intrões (anos 1970-80) e  de um conjunto de descobertas que formam a base do que chamamos a epigenética, até então insuspeitadas. Mas, esta «síntese neodarwiniana» fascinou as mentes, ao ponto de muitos cientistas se «agarrarem» a ela, visto não existir nenhuma outra teoria global que a substitua.

P - O que acabas de relatar é muito interessante e tem analogias em vários ramos do saber. No domínio da paleoantropologia por exemplo, a tipificação de uma espécie, muitas vezes a partir de um número reduzido de fósseis, cria (mentalmente) uma categoria estanque. Ou seja, essa espécie (admitindo que fosse real) só podia ter evoluído transformando-se noutra, mais recente, ou extinguindo-se e deixando espaço para outra espécie ocupar o nicho ecológico, deixado vazio. Assim, a existência (constatada hoje, para além de qualquer dúvida, graças à genética molecular) de hibridações interespecíficas, em antecessores dos humanos, não era concebida ou era considerada heresia, pelos paleoantropólogos há 30 anos atrás. A revolução conceptual da descoberta de grandes pedaços do genoma neandertal e denisovano nas populações humanas atuais, ainda está por «digerir» inteiramente. É difícil, para alguém que sempre pensou a evolução enquanto sucessão de mutações, conducentes a uma melhor adaptação, formando espécies cada vez mais aperfeiçoadas, ser confrontado com o modelo oposto: Uma evolução ramificada, com múltiplas introgressões, na árvore evolutiva humana e pré-humana.

G- A imagem que nos fica na Paleoantropologia, na Genética e mesmo de outras ciências, é que a ideia do humano está datada. Nós construímos uma civilização com base num humanismo renascentista, o qual tinha toda a razão de existir, quando apareceu e nos séculos imediatos. Mas agora, embora não seja a «morte do Homem» é - parece-me - a morte da imagem que nós temos de nós próprios. Não achas que o vazio e a incerteza daí decorrente podem ser ocasião para se afirmarem ideologias tão absurdas e nefastas como o racismo, o eugenismo, etc.? O transumanismo é apontado, por alguns, como sendo o futuro mas creio que estamos perante a imposição autoritária, mais uma vez, dum modelo de poder sobre a humanidade. 

P- Sim, o desejo de poder é o que carateriza melhor as elites eugenistas (que continuam a existir) e que propagam, através dos seus meios consideráveis, a sua visão do mundo. Elas fazem-no em relação ao transumanismo, mas também em relação à Nova Ordem Mundial. Têm ideias malthusianas e nós todos sabemos como isso acaba. As visões de «fim do mundo» são propaladas por alguns, amplificadas e retomadas por pessoas que nem suspeitam como foram influenciadas. De facto, a humanidade no seu todo complexo, não é mais evoluída que outra espécie qualquer. Não faz sentido dizermos que somos mais evoluídos que os gorilas ou que os golfinhos. Porque as espécies de gorilas e de golfinhos que existem à face da Terra hoje, são as que subsistiram, depois de milhões de anos de evolução. Quer por acaso, quer por estarem melhor adaptadas ao seu ambiente, estas espécies nossas contemporâneas sobreviveram, outras desapareceram. A ideia de uma evolução «progressiva» embora muito atraente para o espírito está centrada na nossa existência, é o mito do antropocentrismo. Nós, subjetivamente, pensamos estar cá nesta Terra porque fomos os mais aptos, mais evoluídos que outros hominídeos. Mas, isso não se passa assim. Há muito de arbitrário, de caótico, na evolução das espécies e nós - humanos - somos apenas uma entre  milhões de outras espécies e os mecanismos que se aplicam a essas outras espécies, também se aplicam a nós. 

G- É difícil ao público, em geral, apreender que somos diferentes do que idealizamos, como autoimagem. Mesmo para os cientistas, custa a crer que sejamos uma espécie entre milhões. Esta ideia - por mais que seja aceite intelectualmente- esbarra com crenças profundas: A «natureza humana», a «essência de ser-se humano», tudo isso vai esbarrar com a biologia, porque esta não tem que assumir valores, esta limita-se a usar critérios (questionáveis e mutáveis) do que se considera humano ou não. Por exemplo, se nós tivermos um ADN dum fóssil com cerca de 200 mil anos, portanto contemporâneo de seres humanos " modernos mais antigos", visto que existiram H. sapiens em África nessa época, mas esse fóssil apresentar características humanas e outras não-humanas. Se esse ADN revelar que em termos de sequências «consensuais» com os genes humanos atuais, existe uma divergência importante, embora menor que em relação aos outros símios ... Como classificar esses fósseis? Estou a pensar em Homo naledi  

P- Sim, o problema que colocas, no fundo, envolve toda a problemática da classificação. Nós sabemos que a classificação começou a ser uniformizada, pela ciência, na época de Lineu. Nesse tempo, a Criação era vista como uma coisa estática, as espécies estavam definitivamente formadas e não se entrecruzavam no estado selvagem. Os poucos híbridos conhecidos eram entre animais domésticos. Por isso, o conceito de espécie surgiu como algo de «natural» quando, na verdade, era apenas uma construção arbitrária do intelecto. Toda a ciência biológica recorre a este conceito, mesmo quando ele é muito pouco apropriado, como em Bacteriologia, Virologia, ou Micologia...

G- Sim, a ciência está ligada a construções históricas de conceitos, não havendo possibilidade de transformar esses conceitos, senão através de múltiplas ruturas. Por exemplo o conceito de gene, que é tão recente afinal: Ele data do início do século XX, assim como a própria palavra «gene». Este conceito evoluiu de forma decisiva e hoje já não tem grande coisa que ver com a ideia de «gene», dos melhores e mais avançados geneticistas dos anos 1920... Penso que tanto o conceito de gene, como o de espécie perduram porém, porque têm algo de útil, por muitas exceções que possamos colocar às respetivas definições. O conceito de espécie, como sendo de indivíduos que se entrecruzam livremente no seu ambiente natural e dando descendência fértil, é posto em causa em múltiplos casos, no Reino dos Fungos, das Bactérias ... Mesmo nas Plantas superiores, o conceito não é pacífico, pois é tão frequente a fecundação cruzada (em ambiente natural) entre espécies aparentadas, dando híbridos viáveis e férteis. Isto é do conhecimento dos estudantes em Botânica. 

P- Muitas polémicas em paleontologia e em paleo-antrolopogia estão centradas em torno das definições dos termos, em torno de semântica. Ás vezes, parecem-me mais a afirmação de egos, do que  debate científico. Poucas pessoas têm a noção de que os cientistas são gente comum, com sentimentos comuns, com reações comuns. Alguns elementos destacam-se, como em todas as profissões, pela sua criatividade, originalidade, etc. Mas, por vezes , fico com a sensação de que os próprios cientistas de colocam numa «casta» à parte, nada interessada em dar publicidade às suas teorias e descobertas, para além do círculo restrito dos seus pares. Mas, este comportamento elitista está a mudar, devido à enorme quantidade de jovens cientistas, de todos os cantos do mundo, que investigam e que são o motor real da investigação. Sem eles, a ciência seria morta, seria uma «seita» esotérica, sem qualquer relação com a realidade do mundo. 

G- Sim, a educação científica progrediu muito, em termos de quantidade e de qualidade. Mas, ainda tem de percorrer um vasto percurso. Eu penso que ainda poderá ser alcançado outro patamar, porque a ciência não é esotérica, é a forma de conhecimento que deveria ser a mais aberta, por definição. Vejo também uma crescente participação de mulheres em todos os ramos da investigação o que, não apenas reflete sua igualdade, em termos intelectuais, mas também a imagem que as jovens têm delas próprias.

P- Bom tema para a próxima troca entre nós, G: A problemática da ciência e a sexualidade humana! Até breve!

G- Gostei muito desta primeira conversa. Estou de acordo em pegar no tema que propuseste. Até breve!

 


A MINHA INACREDITÁVEL ENTREVISTA COM BIDEN ( J.P. Sears )


 O "inacreditável" tem se revelado verdade, infelizmente!!

terça-feira, 27 de setembro de 2022

ITÁLIA E A ETIQUETA «FASCISTA»

ESTA ETIQUETA É DADA PELA MEDIA CORPORATIVA A TUDO O QUE VAI CONTRA A AGENDA GLOBALISTA.

Giorgia Meloni e os Fratelli di Italia podem ser conservadores e anti-imigração, mas estão longe de serem fascistas. O seu sucesso eleitoral  resulta da saturação do povo italiano pela destruição do seu modo de vida, pela burocracia globalista que lhes quer impor os seus «não-valores». Este partido conseguiu 26 % dos votos. Sendo o maior partido, pode formar governo com outras duas formações de direita (Forza Italia e Liga Norte ). Conjuntamente, terão uma maioria absoluta nas duas câmaras (deputados e senado). 

O principal problema que leva as pessoas a votar nestas formações tem  a ver com a sua sensação de que perderam o controlo sobre o seu próprio país, com as imposições da Comissão Europeia. Com efeito há dezenas de anos que tiveram de arcar, sozinhos, com as consequências das vagas sucessivas de migrantes vindos do Norte de África. De facto, o problema não é especialmente italiano, mas sim global. 

                                            Imigrantes ao largo das costas italianas

É um problema da responsabilidade de países ditos ricos e democráticos. Deveriam trabalhar sem paternalismos, nem ambições de neocolonialismo, com as instituições dos países de origem, para que haja uma solução para os problemas terríveis que assolam esses países. 

Em vez disso, como hipócritas que são, continuam com a sua ingerência permanente e com exploração das riquezas naturais desses países, mas sem os custos de países coloniais (como o foram no passado, muitos deles). 

Hipocritamente, aceitam os imigrantes económicos disfarçados em refugiados políticos, porque isso lhes permite ter mão-de-obra barata e precária nos setores desertados pelos trabalhadores de origem dos seus países. Muitas vezes, leis destinadas a acolher perseguidos políticos, servem de cobertura à aceitação indiscriminada de imigrantes económicos. A constante utilização do direito de asilo, em casos que não o são, obviamente acaba por fragilizar os verdadeiros asilados políticos. 

As economias de onde vêm os imigrantes, foram pilhadas e exploradas nas épocas colonial e neocolonial. Os problemas estruturais desses países são mantidos ou agravados pelas políticas das chamadas «democracias», que têm participado no processo de manutenção desses países sob tutela. Basta ver o que têm feito no Mali, no Burkina-Faso, na Líbia ou na Síria, e em muitos outros casos.

Quanto aos países que se tornaram pontos de acolhimento dessa migração do desespero, ficam com a estabilidade social, económica e política, postas em causa. A velocidade a que tudo ocorre, impede qualquer assimilação da população imigrada. Esta é mantida em guetos. 

As populações de origem, que vivem na proximidade desses guetos, encontram-se confrontadas quotidianamente com pessoas de outras etnias, de outras culturas. Isto faz com que aquelas se sintam acossadas e desenvolvam complexos racistas e xenófobos. 

Mas, os que, nos seus condomínios privados de luxo, nos seus bairros da classe alta, tomam as decisões - em Bruxelas, Berlim, Roma, ou Paris - não têm que partilhar o seu espaço com esses imigrantes. Não lhes custa pessoalmente nada mostrarem-se «virtuosos». Não lhes custa impor aos cidadãos do seu país, o acolhimento forçado de outras etnias e culturas. 

A verdade é que os imigrantes são um «exército de reserva», ou seja,  desempregados, disponíveis para as tarefas mais duras ou menos bem remuneradas, muitas vezes abaixo dos mínimos salariais e em condições de sobre-exploração. O estatuto de «clandestino» ou «ilegal», que aflige muitos, é mais um instrumento de pressão, para a classe patronal e para as autoridades do país em que trabalham.

Tanto na Suécia, como na Itália, estou convencido que os fatores principais da viragem à direita, foram o problema da imigração não-controlada e da agenda globalista, que os respetivos governos anteriores perseguiam. Aliás, os mais prejudicados são os mais pobres da população autóctone, os quais têm de aguentar a concorrência da mão-de-obra do exterior, sobretudo em empregos manuais (construção civil, restauração, etc.). 


                               Principais fluxos migratórios para Itália

A incapacidade de lidar com este problema é uma das razões porque a classe trabalhadora, seja na França, na Itália, na Suécia, etc. se tem desviado massivamente dos partidos de esquerda, os quais se reclamam de «origem operária», mas que se tornaram estranhos ao sentir dos trabalhadores. O mesmo se pode dizer dos sindicatos. O resultado, é que o voto na «extrema direita» é - cada vez mais - o voto das classes populares e o voto na «esquerda» é - cada vez mais - o voto das classes médias-superiores, com diplomas universitários e bons empregos.

Tenho visto pessoas ditas de «esquerda» negar a evidência, mostrando-se realmente incapazes de raciocinar. É tal o seu medo de serem consideradas «racistas» ou «fascistas»,  ou outra etiqueta do género, que são incapazes de pensar objetivamente e de encontrar caminhos para a resolução destes problemas. 

De facto, a oligarquia globalista é a única a beneficiar deste estado de coisas. Tem ao seu dispor uma massa de trabalhadores dóceis, não sindicalizados, que não se misturam com os trabalhadores autóctones, fragilizados e incapazes de fazer valer os seus direitos legais. 

O fenómeno também toca a Portugal: Veja-se a enorme quantidade de imigrantes vindos do Sul da Ásia, que estão a trabalhar na Costa Alentejana, em propriedades agrícolas e em estufas. 

Por outro lado, os oligarcas têm garantido o controlo dos diferentes países, ao nível político, pelas divisões criadas no interior da cidadania: as cidadanias desses países de acolhimento, digladiam-se em lutas fratricidas. Não sabem mais nada, senão chamar nomes de «fascistas» ou de «comunistas»! 

Por fim, a média que está sempre ao serviço do grande capital reforça - constantemente - os estereótipos. Ela é propriedade de grandes capitalistas, ou tem necessidade da publicidade, paga por esses mesmos capitalistas. 

Chamar fascista a Georgia Meloni e ao seu partido é o adjetivo fácil; mas, se a media em Portugal seguisse os mesmos critérios, seriam «fascistas» dirigentes do CDS-PP e PSD, partidos portugueses onde há /houve elementos das direções que foram fascistas, incluindo ex-membros do último governo fascista, derrubado no 25 de Abril de 74. E,  pela mesma lógica, seria fascista o PS, que teve como membro o Prof. Veiga Simão, ex-ministro de Marcelo Caetano*, que aderiu ao PS após o 25 de Abril de 74 e foi membro de governos pós-25 de Abril. O caso do Prof. Veiga Simão não é único - longe disso! - na «democracia portuguesa». 

Esta etiquetagem traduz o incómodo dos lacaios do grande capital, face a alguém que sai fora do «consenso» (fabricado por eles). Chamar nomes, como «populista», «extrema-direita» ou «fascista», esconde o facto deste governo se apresentar contra Bruxelas, contra a Comissão Europeia, pelos interesses fundamentais dos italianos. 

Resta agora ver se  o novo governo italiano está disposto a fazer frente às ingerências (que começaram antes da votação, com declarações de Úrsula von der Leyen), ou se cede perante a pressão conjugada dos globalistas europeus e americanos.

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*Presidente do Conselho de Ministros, que sucedeu a Oliveira Salazar. O seu governo foi derrubado pela revolução de 25 de Abril de 1974 

NORDSTREAM I & II FORAM SABOTADOS [GONZALO LIRA]

Os gasodutos Nord Stream I & II partiam da Rússia e encaminhavam o gás natural russo, via Báltico, para a Alemanha. Eles tinham o potencial de fornecer gás à indústria e às famílias nos países europeus, caso fossem reativados. Foram recentemente ambos sujeitos a sabotagem. Os gasodutos passavam a grande profundidade no Báltico; só por submarino seriam alcançáveis.  
Gonzalo Lira tira as conclusões lógicas. Só os americanos tinham os meios e as motivações para fazer isto. Se ele tem razão, isto confirma que os EUA querem manter apertado o garrote energético na Europa, para esta ser a obediente súbdita do Império. 
Veja o vídeo:


 

PS1: Este mapa foi retirado da notícia seguinte:
Segundo B. do blog «Moon of Alabama», o mais provável terá sido uma sabotagem polaca com o aval dos americanos. Este mapa mostra como os locais de sabotagens estavam perto das águas territoriais polacas.


Neste artigo Pepe Escobar esclarece tudo: Who profits from Pipeline Terror