terça-feira, 27 de setembro de 2022

ITÁLIA E A ETIQUETA «FASCISTA»

ESTA ETIQUETA É DADA PELA MEDIA CORPORATIVA A TUDO O QUE VAI CONTRA A AGENDA GLOBALISTA.

Giorgia Meloni e os Fratelli di Italia podem ser conservadores e anti-imigração, mas estão longe de serem fascistas. O seu sucesso eleitoral  resulta da saturação do povo italiano pela destruição do seu modo de vida, pela burocracia globalista que lhes quer impor os seus «não-valores». Este partido conseguiu 26 % dos votos. Sendo o maior partido, pode formar governo com outras duas formações de direita (Forza Italia e Liga Norte ). Conjuntamente, terão uma maioria absoluta nas duas câmaras (deputados e senado). 

O principal problema que leva as pessoas a votar nestas formações tem  a ver com a sua sensação de que perderam o controlo sobre o seu próprio país, com as imposições da Comissão Europeia. Com efeito há dezenas de anos que tiveram de arcar, sozinhos, com as consequências das vagas sucessivas de migrantes vindos do Norte de África. De facto, o problema não é especialmente italiano, mas sim global. 

                                            Imigrantes ao largo das costas italianas

É um problema da responsabilidade de países ditos ricos e democráticos. Deveriam trabalhar sem paternalismos, nem ambições de neocolonialismo, com as instituições dos países de origem, para que haja uma solução para os problemas terríveis que assolam esses países. 

Em vez disso, como hipócritas que são, continuam com a sua ingerência permanente e com exploração das riquezas naturais desses países, mas sem os custos de países coloniais (como o foram no passado, muitos deles). 

Hipocritamente, aceitam os imigrantes económicos disfarçados em refugiados políticos, porque isso lhes permite ter mão-de-obra barata e precária nos setores desertados pelos trabalhadores de origem dos seus países. Muitas vezes, leis destinadas a acolher perseguidos políticos, servem de cobertura à aceitação indiscriminada de imigrantes económicos. A constante utilização do direito de asilo, em casos que não o são, obviamente acaba por fragilizar os verdadeiros asilados políticos. 

As economias de onde vêm os imigrantes, foram pilhadas e exploradas nas épocas colonial e neocolonial. Os problemas estruturais desses países são mantidos ou agravados pelas políticas das chamadas «democracias», que têm participado no processo de manutenção desses países sob tutela. Basta ver o que têm feito no Mali, no Burkina-Faso, na Líbia ou na Síria, e em muitos outros casos.

Quanto aos países que se tornaram pontos de acolhimento dessa migração do desespero, ficam com a estabilidade social, económica e política, postas em causa. A velocidade a que tudo ocorre, impede qualquer assimilação da população imigrada. Esta é mantida em guetos. 

As populações de origem, que vivem na proximidade desses guetos, encontram-se confrontadas quotidianamente com pessoas de outras etnias, de outras culturas. Isto faz com que aquelas se sintam acossadas e desenvolvam complexos racistas e xenófobos. 

Mas, os que, nos seus condomínios privados de luxo, nos seus bairros da classe alta, tomam as decisões - em Bruxelas, Berlim, Roma, ou Paris - não têm que partilhar o seu espaço com esses imigrantes. Não lhes custa pessoalmente nada mostrarem-se «virtuosos». Não lhes custa impor aos cidadãos do seu país, o acolhimento forçado de outras etnias e culturas. 

A verdade é que os imigrantes são um «exército de reserva», ou seja,  desempregados, disponíveis para as tarefas mais duras ou menos bem remuneradas, muitas vezes abaixo dos mínimos salariais e em condições de sobre-exploração. O estatuto de «clandestino» ou «ilegal», que aflige muitos, é mais um instrumento de pressão, para a classe patronal e para as autoridades do país em que trabalham.

Tanto na Suécia, como na Itália, estou convencido que os fatores principais da viragem à direita, foram o problema da imigração não-controlada e da agenda globalista, que os respetivos governos anteriores perseguiam. Aliás, os mais prejudicados são os mais pobres da população autóctone, os quais têm de aguentar a concorrência da mão-de-obra do exterior, sobretudo em empregos manuais (construção civil, restauração, etc.). 


                               Principais fluxos migratórios para Itália

A incapacidade de lidar com este problema é uma das razões porque a classe trabalhadora, seja na França, na Itália, na Suécia, etc. se tem desviado massivamente dos partidos de esquerda, os quais se reclamam de «origem operária», mas que se tornaram estranhos ao sentir dos trabalhadores. O mesmo se pode dizer dos sindicatos. O resultado, é que o voto na «extrema direita» é - cada vez mais - o voto das classes populares e o voto na «esquerda» é - cada vez mais - o voto das classes médias-superiores, com diplomas universitários e bons empregos.

Tenho visto pessoas ditas de «esquerda» negar a evidência, mostrando-se realmente incapazes de raciocinar. É tal o seu medo de serem consideradas «racistas» ou «fascistas»,  ou outra etiqueta do género, que são incapazes de pensar objetivamente e de encontrar caminhos para a resolução destes problemas. 

De facto, a oligarquia globalista é a única a beneficiar deste estado de coisas. Tem ao seu dispor uma massa de trabalhadores dóceis, não sindicalizados, que não se misturam com os trabalhadores autóctones, fragilizados e incapazes de fazer valer os seus direitos legais. 

O fenómeno também toca a Portugal: Veja-se a enorme quantidade de imigrantes vindos do Sul da Ásia, que estão a trabalhar na Costa Alentejana, em propriedades agrícolas e em estufas. 

Por outro lado, os oligarcas têm garantido o controlo dos diferentes países, ao nível político, pelas divisões criadas no interior da cidadania: as cidadanias desses países de acolhimento, digladiam-se em lutas fratricidas. Não sabem mais nada, senão chamar nomes de «fascistas» ou de «comunistas»! 

Por fim, a média que está sempre ao serviço do grande capital reforça - constantemente - os estereótipos. Ela é propriedade de grandes capitalistas, ou tem necessidade da publicidade, paga por esses mesmos capitalistas. 

Chamar fascista a Georgia Meloni e ao seu partido é o adjetivo fácil; mas, se a media em Portugal seguisse os mesmos critérios, seriam «fascistas» dirigentes do CDS-PP e PSD, partidos portugueses onde há /houve elementos das direções que foram fascistas, incluindo ex-membros do último governo fascista, derrubado no 25 de Abril de 74. E,  pela mesma lógica, seria fascista o PS, que teve como membro o Prof. Veiga Simão, ex-ministro de Marcelo Caetano*, que aderiu ao PS após o 25 de Abril de 74 e foi membro de governos pós-25 de Abril. O caso do Prof. Veiga Simão não é único - longe disso! - na «democracia portuguesa». 

Esta etiquetagem traduz o incómodo dos lacaios do grande capital, face a alguém que sai fora do «consenso» (fabricado por eles). Chamar nomes, como «populista», «extrema-direita» ou «fascista», esconde o facto deste governo se apresentar contra Bruxelas, contra a Comissão Europeia, pelos interesses fundamentais dos italianos. 

Resta agora ver se  o novo governo italiano está disposto a fazer frente às ingerências (que começaram antes da votação, com declarações de Úrsula von der Leyen), ou se cede perante a pressão conjugada dos globalistas europeus e americanos.

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*Presidente do Conselho de Ministros, que sucedeu a Oliveira Salazar. O seu governo foi derrubado pela revolução de 25 de Abril de 1974 

NORDSTREAM I & II FORAM SABOTADOS [GONZALO LIRA]

Os gasodutos Nord Stream I & II partiam da Rússia e encaminhavam o gás natural russo, via Báltico, para a Alemanha. Eles tinham o potencial de fornecer gás à indústria e às famílias nos países europeus, caso fossem reativados. Foram recentemente ambos sujeitos a sabotagem. Os gasodutos passavam a grande profundidade no Báltico; só por submarino seriam alcançáveis.  
Gonzalo Lira tira as conclusões lógicas. Só os americanos tinham os meios e as motivações para fazer isto. Se ele tem razão, isto confirma que os EUA querem manter apertado o garrote energético na Europa, para esta ser a obediente súbdita do Império. 
Veja o vídeo:


 

PS1: Este mapa foi retirado da notícia seguinte:
Segundo B. do blog «Moon of Alabama», o mais provável terá sido uma sabotagem polaca com o aval dos americanos. Este mapa mostra como os locais de sabotagens estavam perto das águas territoriais polacas.


Neste artigo Pepe Escobar esclarece tudo: Who profits from Pipeline Terror

domingo, 25 de setembro de 2022

SE A CHINA IMPLODIR...

    15 Set. - Protesto em Shenzen, de investidores em Evergrande

Tenho acompanhado atentamente nestes últimos anos a situação económica interna da China, embora eu esteja longe deste imenso país, o mais populoso e a segunda maior economia, ao nível mundial. Este país realizou muitos «milagres» passando de país pobre, para um dos mais desenvolvidos e onde muitos milhões foram arrancados à pobreza. Porém, este desenvolvimento também exacerbou desequilíbrios, como o fosso entre ricos e pobres, que não cessa de se alargar (é um dos maiores a nível mundial), o enorme volume de construção para alojar milhões, vindos das zonas rurais do interior para as grandes cidades costeiras e muitas outras questões, que fragilizam a economia do gigante da Ásia. 

Talvez o maior problema económico atual da China seja a existência de um setor imobiliário que durante anos cresceu à custa da psicologia dos chineses: Com efeito, os chineses são dos povos mais poupadores do mundo. As famílias têm esse comportamento, interiorizado por séculos de cultura. Ora, perante a ausência de segurança nos produtos financeiros, visto que na China ainda são mais voláteis e perigosos que nos países ocidentais, os chineses viram no imobiliário um investimento seguro e «sólido» e usaram-no como meio de guardar as suas poupanças, mas também de crescer, nomeadamente pedindo emprestado a bancos locais. 

Por sua vez, estes bancos locais são propriedade ou estão associados aos governos regionais e estes têm interesse em que o imobiliário continue a desenvolver-se: Vai trazer muitos outros negócios, vai implantar novas indústrias, vai fixar as pessoas a essas províncias, etc. 

Mas, os negócios das grandes imobiliárias consistem em «esquemas de Ponzi» (ver o vídeo abaixo) e muitas pessoas ficaram com apartamentos inacabados nas mãos (invendáveis, portanto). Como elas tinham pedido empréstimos a essa banca local, é evidente que estes empréstimos ficarão por pagar. 

Não sei até que ponto e durante quanto tempo, o Banco central da China (por ordem do Partido Comunista) poderá continuar a colmatar as enormes perdas dos referidos bancos. Se eles não fossem recapitalizados, mais de metade já estaria em falência total. 

Os blocos de apartamentos inacabados, ou sem condições de habitabilidade, nas chamadas cidades-fantasma, são um monumental desperdício de matéria, energia, de trabalho e capital. Estes grandes blocos de apartamentos têm sido implodidos. 

O ruir destas aventuras especulativas das grandes imobiliárias, de que «Evergrande» é somente o exemplo mais conhecido no Ocidente, tem muitas implicações, quer ao nível da banca local, quer da confiança dos cidadãos chineses nas instituições e  vai fazer com que os grandes investidores dos países ocidentais saiam da China, onde estavam investidos em setores de ponta, de alta tecnologia. 

Não será exagero pensar que a economia capitalista dinâmica da China, nestes últimos decénios, em que tudo era facilitado para que houvesse um máximo de investimento (sobretudo estrangeiro) na economia, arrisca transformar-se numa economia em marasmo, onde a confiança de investidores chineses e estrangeiros desapareceu e onde o Estado central acaba por sabotar - ele próprio - o Yuan, multiplicando a impressão (eletrónica) monetária, no afã de «resolver» os problemas graves e estruturais da economia, inundando-a com dinheiro frescamente impresso. Estratégia aliás adotada pelos países ocidentais, com os resultados desastrosos que já são visíveis, mesmo pelas pessoas mais míopes! 

Neste vídeo, a apresentadora explica em resumo toda a amplitude da bolha imobiliária chinesa e por que razão se trata realmente dum Esquema de Ponzi. 

A conexão com as economias dos países ocidentais continua a ser muito forte, facto que é obscurecido pelas tensões aos níveis político e de geoestratégia. 


[O documentário é falado em francês. Pode-se acionar a legendagem automática em francês para melhor compreensão.]


 

sexta-feira, 23 de setembro de 2022

REFERENDOS NAS REGIÕES RUSSÓFONAS DO LESTE E SUL DA UCRÂNIA

 Tenho acompanhado a crise e a guerra na Ucrânia por consulta regular de fontes credíveis, na circunstância de um claro viés a favor da Ucrânia e contra a Rússia, independentemente do que seus governos façam, por parte da media ocidental. Nisso, estão a descredibilizar-se, no longo prazo. Mas, no curto prazo, estão a participar ativamente na guerra de propaganda, ou guerra psicológica, lançada pelas forças da NATO, com especial virulência desde que Putin e a Rússia se afastaram da agenda neoliberal e adotaram posições de defesa da Rússia, do seu povo e dos seus recursos vitais. 

Abaixo, transcrevo e traduzo uma parte do excelente artigo do excelente Blog «Moon of Alabama»:

https://www.moonofalabama.org/2022/09/historic-context-of-the-referenda-in-ukraine.html#more

[...]

" A divisão é consistente com as diferenças étnicas e linguísticas entre aquelas partes da Ucrânia.


maior

Em 2014, após o violento golpe fascista em Kiev, uma das primeiras leis que foram implementadas pelo novo governo removia o russo enquanto língua de uso oficial. Em vez de ultrapassar as diferenças entre etnias do seu povo, isso apenas reforçou a divisão predominante na Ucrânia.

A promessa eleitoral do atual presidente Vladimir Zelenski, de fazer as pazes com os rebeldes pró-russos das regiões do Don, pondo em prática as decisões dos acordos de Minsk 2foi recompensada com larga parte de votos do sul e do leste, para a sua eleição como presidente. No entanto, após ter sido ameaçado de morte por fascistas, Zelenski fez uma viragem de 180 graus e tem-se posicionado, desde então, como nacionalista ucraniano. Em consequência disso, perdeu todo o apoio popular das regiões do Leste e Sul da Ucrânia.

As regiões do Sul e Leste da Ucrânia de hoje, foram - durante séculos - parte do Império Russo. Foram somente adicionadas à República Socialista da Ucrânia no tempo de Lenine em 1922 e, no caso da Crimeia somente em 1954, por Nikita Khrushchev, ele próprio originário da região do Don.


maior

É verosímil que ocorra uma elevada votação e um voto maioritário para adesão à Federação Russa, o que apenas irá corrigir um desarranjo histórico, criado por essas transferências ilógicas."

PS1: Graças a Paul Craig Roberts podemos ler na íntegra e em tradução em língua inglesa a comunicação feita pelo Presidente Putin há alguns dias quando anunciou os referendos e a mobilização parcial dos reservistas. Encontra-se no link : https://www.unz.com/proberts/putins-address-to-the-russian-people-september-21-2022/

Abaixo, transcrevi a parte final deste discurso, que causou tanta celeuma, devido à distorção intencional pela media ocidental. A censura é a prova cabal de que não existe democracia, seja qual for o significado exato que se dê à palavra «democracia». Se ela jamais existiu, deixou de existir. 

Dear friends!

In its aggressive anti-Russian policy, the West has crossed every line. We constantly hear threats against our country, our people. Some irresponsible politicians in the West are talking about plans to organize the supply of long-range offensive weapons to Ukraine – systems that will allow strikes on Crimea and other regions of Russia.

Such terrorist strikes, including those using Western weapons, are already being carried out on border settlements in the Belgorod and Kursk regions. In real time, using modern systems, aircraft, ships, satellites, strategic drones, NATO carries out reconnaissance throughout the south of Russia.

Washington, London and Brussels are directly pushing Kiev to transfer military operations to our territory. Without hiding their intention any longer, they say that Russia must be defeated at all costs on the battlefield leading to the loss of all Russian sovereignty, the complete plundering of our country, and the destruction of Russian political, economic, and cultural existence.

Nuclear blackmail is also used. We are talking not only about the Western-encouraged shelling of the Zaporizhzhya nuclear power plant, which threatens an atomic catastrophe, but also about the statements of some high-ranking representatives of the leading NATO states about the possibility and admissibility of using weapons of mass destruction against Russia – nuclear weapons.

For those who allow themselves such statements regarding Russia, I would like to remind you that our country also has various means of destruction, and in some components – more modern than those of NATO countries. And when the territorial integrity of our country is threatened, we certainly will use all the means at our disposal to protect Russia and our people. It’s not a bluff.

Russian citizens can be sure that the territorial integrity of our Motherland, our independence and freedom will be ensured, I stress this again, by all the means available to us. And those who try to blackmail us with nuclear weapons should know that the same can happen to them.

It is in our historical tradition, in the fate of our people, to stop those who are striving for world domination, who threaten to dismember and enslave our Motherland, our Fatherland. We will do it now, and so it will be.

I believe in your support.

CONCERTO Nº1 PARA PIANO E ORQUESTRA, DE PROKOFIEV [solista: Lugansky]


 Leia AQUI uma nota sobre o jovem Prokofiev e a génese deste magnífico concerto para piano!

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

COLAPSO PROGRAMADO

A maior parte das pessoas concebe o governo do seu país e suas instituições públicas como dedicando-se ao bem público, a fazerem os possíveis para manter a economia em funcionamento, protegendo os cidadãos - tanto quanto possível - das tempestades vindas do exterior. Esta visão ingénua é que permite aos governos fazer suas manobras contra os interesses da generalidade das pessoas, em favor de uma pequena minoria. Esta pequena minoria não está sentada à roda de uma mesa, a congeminar criminosas conjuras, para extrair o máximo de vantagens dos seus respetivos países, causando a desgraça dos seus cidadãos. Não, esta pequena minoria de multimilionários tem as mãos «limpas» na aparência, pode até dar-se ao luxo de se apresentar com a cara da filantropia. Na realidade, ela tem os seus mais fieis servidores na classe política, mais precisamente, naqueles indivíduos desta casta, que não têm nenhum limite para satisfazer a sua ambição de «subir» aos postos de poder. São sociopatas, que apenas disfarçam com habilidosas mentiras, o papel que desempenham. Esta simulação é indispensável para justamente poderem levar a cabo esse papel de que estão incumbidos.




Aquilo que os mais poderosos bancos centrais têm estado a fazer, coordenadamente, também é conducente a um colapso. A impressão (eletrónica) non-stop de divisas, para suprir as situações criadas pelos governos, é um exemplo nítido. Estão a fazer em simultâneo, aquilo que seria contraditório, em teoria, com a impressão monetária (fator inflacionário): A subida das taxas de juro, pelos bancos centrais (efeito deflacionário) vai provocar a contração brutal da economia real. Esta, já tinha sido muito afetada pelos «lockdown» e pelas outras restrições aquando da «pandemia do século» e, logo de seguida, pela guerra Russo-Ucraniana. Como sabemos, esta foi instigada e alimentada com um fluxo constante de armamentos para a Ucrânia. Na realidade, para irem parar em 90%, ao mercado negro, sendo o seu destino final mais provável, os grupos terroristas internacionais. Mas a «generosidade» do Ocidente não se limita ao envio de armamento. Tem enviado biliões e biliões de dólares e de euros que - numa grande parte - vão parar às contas no estrangeiro de Zelensky e dos neonazis do seu governo e de  plutocratas como Kolomoyskyi. Este «apoio» à Ucrânia, é como despejar o dinheiro dos nossos países ocidentais «na sargeta», e eles - os «nossos» governantes - sabem-no melhor que ninguém.
Como classificar, senão como assassinato premeditado, o que o governo alemão e outros governos ocidentais têm feito, em relação à energia dos seus próprios países? Eis o facto ocultado aos cidadãos (a verdade é a primeira baixa de uma guerra): Não foi Putin que decidiu cortar o fornecimento de gás aos seus clientes ocidentais. Foram os próprios a inviabilizar a continuidade do envio de gás pelos gasodutos, recusando fazer a manutenção e reparação dos aparelhos de bombeamento, como estava contratualmente fixado. Além disso, é absurdo pensar que os russos desejassem interromper o fornecimento de combustíveis à Europa ocidental, dado que continuaram a fornecer gás, até há bem pouco tempo: Se fosse essa a intenção do governo russo, teria logo cortado o gás, em Fevereiro ou Março deste ano, como retorsão às sanções selvagens feitas pelos países da NATO contra a Rússia. Só uma propaganda desenfreada da media pode ter afirmado o oposto. Com efeito, não foi a Europa Ocidental que decretou um embargo a toda a importação de energia da Rússia??
E, quanto a fertilizantes químicos, a situação é trágica e grotesca: Grande parte dos fertilizantes químicos usados no Ocidente, é importada da Rússia. Quanto ao fertilizante fabricado localmente, é feito a partir do gás natural russo. O corte drástico (pelas sanções da UE) da importação de fertilizante, conduz à baixa drástica da fertilidade dos solos. Vai cair-se numa situação análoga à do Sri Lanka*, em países ditos «mais desenvolvidos». Estes mesmos, acabaram por ficar com mais de 90% dos cereais, provenientes da Ucrânia e destinados, em princípio, a evitar situações de carência alimentar em África e noutras partes do Terceiro Mundo. Lembremos que, para desobstruir a exportação de cereais ucranianos, houve uma negociação, em que o Secretário-Geral da ONU, Guterres, desempenhou um papel de relevo.
Os multimilionários têm os seus homens e mulheres de mão, quer nos governos, quer em órgãos de «governança» internacional (Comissão Europeia, ONU, FMI, etc). Eles tiveram a surpresa de um cenário imprevisto, de resiliência da economia russa. Hoje, é claro que as sanções brutais contra ela, tiveram o efeito oposto.
Outros aspetos importantes da estratégia ocidental também foram um fiasco: a ausência do pretendido isolamento internacional da Rússia, a não caída da China na armadilha da ida de N. Pelosi a Taiwan, o acelerar da construção dos BRICS, da Organização de Segurança de Xangai, o fortalecimento dos laços russo-chinês, etc. Por fim, não se pode exagerar a importância da construção da nova moeda de reserva mundial, fazendo com que o mundo não esteja mais sujeito à hegemonia do dólar.
Perante este panorama, o Império tinha de reagir. Houve uma clara subida de tom e conteúdo agressivo nos discursos de Joe Biden, ameaçando a Rússia e a China. 
Também se conhece a conversa telefónica entre Scholz e Putin, em que o primeiro aconselhou o presidente russo a procurar a paz, devolvendo todos os territórios conquistados, não apenas os territórios do Donbass, as repúblicas autoproclamadas, como até mesmo a Crimeia, integrada na Federação Russa desde 2014 por referendo. «Aconselhar» isto a alguém que não tem nenhuma intenção de ceder neste ponto e que está - de facto - em condição de defender eficazmente esses territórios de população russófona, pode ser interpretado como «fútil», ou como provocação. Poderá mesmo ter acelerado a decisão de efetuar referendos (para integração na Federação Russa) nas referidas regiões.
A situação tem piorado tanto, que estamos agora numa prática ausência de diálogo entre grandes potências. Esta situação é inédita, pois no tempo da URSS, houve sempre muita prudência, de parte a parte, para não quebrar o contacto, mesmo em situações de agravamento das tensões (por ex. : crise dos mísseis em Cuba).
Parece inegável que a maioria dos que votaram nos presidentes e governos dos países da NATO não deseja a guerra. Aliás, é provável que o mesmo se passe com muitos cidadãos russos. Então, porque motivo tudo conduz à continuação da guerra? Porque razão há clara ameaça dela se intensificar, se alargar e se tornar nuclear?
- Não acredito que o «Estado Profundo» nos EUA, os grupos de neocons incrustados nos vários departamentos do governo e em agências como a CIA, sejam poderosos ao ponto de ditar a orientação da Administração Biden. Quanto muito, eles poderão exacerbar algo que é instilado da «retaguarda» pelos interesses corporativos (por ex.: indústrias de defesa e outras).
Provavelmente «think tanks» como a RAND (e outros) têm influenciado a Casa Branca a adotar uma estratégia para enfraquecer a UE. Do ponto de vista da hegemonia americana, a Europa representa uma «concorrente amiga»; caso continuasse a receber o gás e o petróleo russos baratos, poderia ultrapassar economicamente os EUA. Ela também é vista como concorrente devido ao seu elevado nível tecnológico.
Ora, segundo a doutrina seguida nos últimos 30 anos (ver PNAC, Wolfovitz e Brzezinski ), os EUA não devem permitir que um poder fique ao nível de concorrer diretamente com o poderio americano, não só em termos militares, como de economia. Faz todo o sentido que a NATO, dominada pelos americanos, tenha forçado a rutura com os russos. Em finais de 2021 a diplomacia russa tentava negociar um arranjo que satisfizesse todas as partes. Este esforço diplomático foi completamente sabotado pelos EUA e por outros países da NATO.
Assim, os europeus foram fazer mais uma guerra «por procuração» em benefício do Império americano, sendo os ucranianos a carne para canhão (no sentido literal). As populações da Europa ocidental foram sujeitas a uma campanha terrorista de condicionamento psicológico, o que permitiu às «elites» desencadear as medidas agressivas contra a Rússia e seus aliados, assim como o apoio sem restrições ao regime ultra-direitista de Zelensky. Isto permite-lhe, a esta «elite» governamental, impor uma austeridade inédita aos seus povos, não motivada pela necessidade, mas porque as sanções contra a Rússia, segundo eles, «irão, no longo prazo, ter efeito»!


A lógica profunda disto tudo, é que se está a acelerar a imposição da Nova Ordem Mundial, mas não a dos sonhos ingénuos da «globalização feliz». Será - como eu previ, desde Fevereiro passado - uma nova Guerra Fria: Os dois blocos irão repartir o Mundo (e a Europa será partida a meio) entre o eixo Euroasiático, aos quais se associarão certos países do Terceiro Mundo, enquanto o Eixo Atlântico (também envolvendo potências como Japão, Coreia do Sul, Austrália, Nova Zelândia), terá uma NATO alargada para lá da Europa e América do Norte.

PS1: Confirma-se plenamente o que eu escrevi no início de Agosto: «Os supostos erros destes últimos anos, acima referidos, não são erros, são estratégias para conduzir as populações a aceitarem passivamente a imposição da Nova Ordem Mundial. Este é um projeto de fundo das classes dominantes dos países «Ocidentais». »

PS2: Os empresários europeus estão já a pensar transferir as indústrias sediadas na UE para os EUA, devido à subida exponencial dos custos energéticos. Assim, a desindustrialização da Europa acentua-se e os EUA são de novo industrializados... Leia:


PS3: Desenganem-se os que pensam que o dólar está «forte» porque sobe relativamente a outras divisas (libra, euro, yen) ocidentais. Não será isso uma «vitória pírrica»? A descapitalização súbita nestes aliados dos EUA, vai provocar um agravamento da crise económica.  Neste mundo interconectado, a fragilidade num ponto, transmite-se instantaneamente aos outros. O próprio dólar, no médio/longo prazo,  tem-se desvalorizado muito em relação ao ouro: desvalorizou-se de 92%  desde que em 1971 Nixon retirou o dólar da relação fixa ao ouro, resultante dos acordos em BrettonWoods. 

PS4: Na Alemanha, os preços da lenha subiram, numa base anual, de 87%, enquanto o aumento geral dos preços foi de 7,9%:

PS5: Piepenburg defende que a FED irá destruir a economia mundial com a sua insistência nos aumentos da taxa de juros. Leia o porquê, neste artigo : https://goldswitzerland.com/the-feds-strong-usd-policy-a-recipe-for-systemic-implosion/

 
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* O Sri Lanka passou de país autossuficiente em géneros alimentares, a um estado de grave deficiência, porque o seu governo (corrupto) decidiu a conselho de «peritos» ocidentais passar sem transição para uma agricultura «biológica» (sem fertilizantes químicos). Resultado: Queda brutal da produtividade e fome, que resultou em revolta.