sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

[28-29 /02/2020] A MAIOR CRISE MONETÁRIA/SISTÉMICA DA HISTÓRIA

                     (As fotos abaixo são relativas à grande depressão dos anos 1929-33)

                                 Image result for 1929 depression

Sim, estamos perante o início de uma crise cujas dimensões são tais, que ninguém ou quase, se apercebe do abismo que se está a desenhar em frente «dos olhos financeiros» do mundo inteiro.
Explicação: perante a descida vertiginosa dos mercados de acções e obrigações, maiores do que as descidas da grande crise de 2007/2008 e das outras, de que o sistema guarda memória, qual será a reacção dos bancos centrais? Aposto, com toda a confiança, que estão agora (28-29 Fev. 2020) reunidos, sob a batuta do BIS (Bank of International Settlements) para decidir de uma coordenada política de impressão monetária, com vista a «salvar» a economia da catástrofe.
Evidentemente, não vão salvar nada, pois mesmo que os mercados por magia (falsa) subam vertiginosamente do mesmo modo que desceram, vão fazê-lo com dinheiro impresso e cedido pelos bancos centrais, «resgatando» assim a economia financeirizada em que temos vivido. 
Mas, muitos actores do mundo económico real vão receber os dólares, ou yens, ou euros, etc. suplementares, não com entusiasmo, mas com apreensão, pois todo e qualquer activo que detenham, vai sofrer diluição equivalente do valor. 

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O público em geral vai também ver a aceleração da inflação, inevitável numa situação de inundação dos mercados com divisas que não correspondem a nada, a nenhum valor/trabalho. Como noutras situações históricas conhecidas, desde a Alemanha da República de Weimar (1920-23), à Rússia de Ieltsin (finais dos anos 90), à Argentina (de 2000) ou ainda outros episódios de hiperinflação contemporâneos, como na Venezuela e Zimbabwe, o início parece ser uma inflação apenas um pouco mais intensa, depois haverá uma descida enorme dos salários reais e aí as pessoas começam a entrar em pânico, sendo depois questão de pouco tempo (meses) até o dinheiro deixar de ter qualquer valor.  
Escusado será dizer que as pessoas mais afectadas são as que ficam impossibilitadas de sobreviver neste contexto: em geral, os assalariados, os pensionistas, as pessoas de posses modestas, ficam na miséria. 
O sistema global não poderá continuar neste estado por muito tempo. Daí que as «elites» já tenham preparado um «reset» ou seja, uma forma de mudar o que tem de ser mudado para que tudo (o que é essencial) fique na mesma
É muito provável o lançamento dum sistema monetário baseado em cripto-moedas, mas com emissão estatal ou por bancos centrais. Esta «solução» não será uma verdadeira solução, porque o conteúdo do valor das criptomoedas ou moedas digitais será sempre sujeito a manobra dos governos e bancos centrais, tal como têm sido - até agora - as moedas em papel, as «divisas fiat», que apenas existem porque os Estados obrigam os cidadãos a fazerem todos os seus pagamentos nestas e só nestas divisas, para que as transacções sejam consideradas válidas, para todos os efeitos legais.

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Ora, os Estados estão sempre a desvalorizar suas moedas para conseguirem fazer mais despesas, que não teriam hipótese de fazer, somente com dinheiro dos impostos. Mas fazem-nas, no entanto, devido ao seu endividamento, junto de entidades financeiras, como bancos, fundos especulativos, etc. (os compradores de dívidas estatais ditas «dívida soberana»). 
Uma grande parte do colapso a que começamos a assistir agora, deveu-se a essa arquitectura defeituosa do sistema monetário e do poder político, aproveitando e abusando dessa possibilidade  de endividamento, para se auto-perpetuar à custa do futuro dos seus próprios países e povos. 
Mas, como as populações respectivas não compreendem patavina do esquema de Ponzi que tem sido mantido mundialmente pelos governos e finança, eles têm continuado, ao longo de décadas, o seu comportamento criminoso, de forma continuada, descarada e impunemente.

Só haverá mudança real do sistema monetário se e quando o mesmo não permitir os golpes ou esquemas de Ponzi, que têm sido o apanágio destas castas financeira e governante. 
Quando o trabalhador tiver a garantia da conservação do valor do fruto do seu trabalho, qualquer que seja a unidade em que é pago, ao contrário de hoje, em que o poder de compra dos salários se deteriora mais ou menos rapidamente. 
Hoje em dia, o assalariado não consegue manter o seu poder de compra, simplesmente porque o dinheiro está «desenhado» para ir perdendo valor ao longo do tempo, mas isso ninguém (ou quase) lhe explica! 
Só uma transformação profunda, não violenta, que aborde as questões sem demagogia e no interesse da imensa maioria, poderá resolver as questões... 

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

O JOGO DOENTIO, PERVERSO, DA ATRIBUIÇÃO DE PRÉMIOS NOBEL

O interessante site «Off-Guardian» contém um artigo recente, que nos esclarece sobre o que tem sido a atribuição dos prémios Nobel, em espacial os Nobel da Paz. 

Não irei aqui referir em pormenor tudo o que o artigo contém, mas assinalo que ele mostra, com exemplos, até que ponto as escolhas são função de elementos de popularidade mediática, na época em que foram atribuídos e não propriamente pela coragem e rectidão dos personagens quanto à defesa da paz e dos direitos humanos.

Se existem ilustres casos de valentes combatentes pela paz, como Martin Luther King Jr., que pagou com a vida pela sua coragem, também existe o reverso... como Barack Obama, a quem foi concedido um Nobel, apenas com base num discurso (do Cairo) cheio de boas intenções, que depois, na prática, se traduziram pela maior escalada belicista dos EUA. 
Com efeito, o super-imperialismo dos EUA atingiu novo patamar com a presidência de Obama: 
- lembrem-se dos assassinatos com drones (muitas pessoas inocentes foram vítimas desses drones assassinos); 
- da promessa não cumprida de fechar Guantamano; 
- da dissidência de Al Quaida, que veio a designar-se por «Califato do Levante» ou ISIS, uma criação da CIA e das monarquias do Quatar, Arábia Saudita e outros, destinada a derrotar o regime Sírio, etc. 
Tudo isto são alguns dos actos pela paz (sic!) de Obama, durante a sua presidência.

                         

Outro receptor americano do prémio Nobel da Paz, foi Henry Kissinger, o autor da política de genocídio em relação às populações flageladas pela guerra do Vietname, que também atingiu o Laos e o Cambodja... e que ainda mexe muitos cordelinhos.
     
                       File:Henry Kissinger - World Economic Forum Annual Meeting Davos 2008.jpg

Mais recentemente, foi atribuído o Nobel da Paz a Aun Suu Kyi que deu plena cobertura à perseguição impiedosa/genocídio, pelos militares e pelos budistas de Myanmar, contra a etnia muçulmana Rohingya, acusada colectivamente de pertencer à «Al Quaida». 

                      Activists are angry at Aung San Suu Kyi's inaction over alleged atrocities against Rohingya in Rakhine [Dondi Tawatao/Reuters]

Para terminar, lembro que Julian Assange tem sido proposto ao prémio Nobel, em vão. 
Não conheço muitos casos de coragem e sacrifício em prol da paz e dos direitos humanos, que se possam colocar em pé de igualdade com o iniciador de Wikileaks.

                            

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

A PANDEMIA DO MEDO

               

É evidente que o Covid-19 é um vírus diferente dos outros. Não apenas porque tem uma grande transmissibilidade directa, como também pelo facto de ter um tempo de incubação nos organismos infectados, suficientemente longo, para que estes sejam transmissores involuntários pelos meios onde circulam, sem terem a noção de que estejam infectados. 
Dito isto, há algo de insólito e trágico, no facto de haver indícios de que o vírus resulta de manipulação humana, embora não exista nenhum consenso científico em relação a esta hipótese. 
O facto, a confirmar-se, é grave porque revela que as grandes potências, à revelia das convenções internacionais sobre bio-armamento, se têm dedicado a fazer tudo, sob coberto de instalações de alta segurança. 
Wuhan não é excepção. Se houve ou não um acidente no Laboratório de virologia (com um nível 4 de segurança, o mais elevado) desta cidade chinesa, não será fácil provar... 
Só se alguém (de dentro do referido instituto) falar, o que é altamente improvável, mesmo que fosse verdadeira a origem de manipulação pelo referido laboratório: É que a R. P. China não se pode classificar como um regime aberto e qualquer pessoa do referido instituto, que tivesse a ousadia de dizer a verdade, seria sujeita a perseguição e condenação sem apelo.
Infelizmente para a espécie humana, o cenário 'aprendiz de feiticeiro' relativamente a esta situação não pode ser excluído, face a toda uma série de evidências(*): a própria natureza do vírus, a sua sequência genómica, a tentativa inicial de ocultação da gravidade do vírus. Inicialmente, disseram que não tinha perigo, que não era possível a transmissão de humano para humano... e as pessoas de Wuhan acreditaram. 
Claro que um regime, que cultiva o secretismo como o governo chinês, está sempre sujeito a suspeitas. Existem muitas especulações, apenas destinadas a reforçar a desestabilização interna causada pela epidemia, da parte daqueles que desejam ardentemente o derrube do Partido Comunista Chinês.  
Mas, também do lado de pessoas e organizações indefectíveis do campo Russo-Chinês, existem insinuações improváveis e delirantes, como as de imputar aos EUA esta e as outras epidemias (SARS, peste suína) que têm assolado a China e têm tido efeitos devastadores em sectores inteiros da sua economia (além dos muitos mortos). 

             
                (italianos à espera de abertura de supermercado)

A guerra biológica é como a guerra química e atómica, um crime, em si mesmo, contra a humanidade. 
A guerra feita com armas vocacionadas para causar um genocídio na população civil (como Hiroxima e Nagasaki, no final da 2ª Guerra Mundial, quando os americanos recusaram pedidos de rendição, da parte nipónica) é uma monstruosidade ética e moral e nada, nem mesmo a «justeza» dum dos lados, poderá justificar tal crime. 
Os vírus espalham-se em populações pacíficas, que não têm nenhuma culpa dos actos dos seus respectivos governos. 
Hoje em dia, uma guerra biológica usando vírus ou outros agentes, é muito fácil de levar a cabo, do ponto de vista técnico. Isso torna-a ainda mais assustadora. 
A convenção internacional para banir a construção, armazenamento e utilização de armas biológicas proposta pelos EUA na ONU, foi ratificada por muitos países. 
O pretexto que mantém abertos - em todo o mundo - os laboratórios de segurança de nível 4 é falso e cínico. Parte do princípio que estas instalações têm de existir para estudar os antídotos ou vacinas a um eventual ataque por potência inimiga, com armas biológicas e portanto estes laboratórios devem manter-se funcionais. 
Daí a construírem -eles próprios-  tais armas biológicas, em segredo, em contravenção da convenção internacional que eles próprios assinaram, vai um pequeno passo. 
Não me parece muito difícil de imaginar isso, num mundo regido por cínicos, destituídos de qualquer sentido de obrigação moral para com sua própria população, já para não falar da Espécie Humana no seu todo! 

A gestão do medo tem sido o principal instrumento de manutenção no poder tanto de «ditaduras» como de «democracias». Estão entre aspas, pois estes termos são apenas classificações de propaganda, vindas de um ou do outro lado. Os povos, sejam eles de países «amigos» ou «inimigos», são sempre os que pagam a factura.

Com o caso do covid-19, uma série de coincidências infelizes, seja por via natural ou artificial, desencadearam o presente surto epidémico no país mais populoso do mundo, espalhando-se depressa por países limítrofes e agora, disseminando-se ao nível mundial. 
Presentemente, existe uma guerra fria larvar entre os EUA e a RPC. Mas, durante duas décadas suas economias ficaram entrelaçadas, complementares, os americanos comprando tudo à China e exportando as suas fábricas de produtos tecnológicos, para estes serem fabricados nesse país «comunista»; o gigante asiático  exportando maciçamente, para os EUA e «Ocidente», e com os dólares obtidos, comprando dívida, sob forma de obrigações do Tesouro dos EUA, resultado do seu colossal excedente comercial acumulado - ano após ano. 
Por outro lado, o défice colossal dos EUA (comercial e orçamental), ano após ano, não seria possível ser financiado, senão com a abundante compra de «treasuries» pelos regimes amigos e inimigos ... que financiam assim a máquina de guerra do complexo securitário-militar-industrial USA. Exemplo perfeito de ciclo vicioso... 

Mais uma vez, a loucura e sede de poder dos dirigentes, a sua vontade de «militarizar» a biologia, a sua arrogância e negação de responsabilidades, têm como consequência uma das piores ocorrências no campo sanitário, não apenas pelas mortes e devastação económica já existentes, mas também, pelo potencial de continuar a propagar-se, fora de um verdadeiro controlo, especialmente em zonas do mundo onde as estruturas sanitárias são insuficientes ou inexistentes. 

O que seres racionais  [não inclui governantes e seus conselheiros] deveriam fazer, nestas circunstâncias, era deixarem-se de acusações recíprocas e unirem esforços para derrotar a pandemia. 

Se uma pandemia viral mete medo, a «pandemia estrutural» de sede de poder é muito mais assustadora, se reflectirmos dois segundos! 
Por isso, as pessoas deveriam ver onde está realmente o inimigo: «autoridades», «governantes»... estes são, com pouquíssimas excepções, bandos de mafiosos, ora rivais, ora aliados, na empresa criminosa de espoliar e submeter os seus próprios povos. 

(*) Os próprios investigadores chineses reforçam a hipótese aventada pelos investigadores indianos, apontando o facto de haver sequências no Covid-19, idênticas a sequências do HIV. Estas sequências codificam proteínas que têm a função de tornar a ligação do vírus às células humanas cerca de 1000 vezes mais eficaz que a ligação do vírus do SARS: 
https://www.zerohedge.com/health/coronavirus-hiv-mutation-suggests-nearly-1000x-more-likely-sars-infect

terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

NÃO CULPEM O CORONAVÍRUS PELA CRISE GLOBAL!

A media corporativa, em Portugal, como nos outros países, toma a atitude preguiçosa e convencional de «culpar» a pandemia do Covid-19 pelo colapso de todas as economias, mesmo das que não estão (por enquanto) afectadas por um número de casos significativo.
Sim, estou de acordo em apontar a crise sanitária desencadeada em Wuhan, como o «Cisne Negro» que fez ruir o castelo de cartas em que se tornaram a economia e finança mundiais. 
                             
             A Itália foi somente o primeiro país europeu a sofrer gravemente com o vírus
Mas o coronavírus NADA tem que ver com o facto de que os EUA estão sobre-endividados a todos os níveis: governo, empresas, famílias.
Nem que a China, o Japão e a União Europeia estejam sobre-endividados ao nível dos governos e das empresas.
Os bancos - nos EUA, como da UE - estão fortemente sob pressão pelos activos «tóxicos» que possuem (empréstimos «suprime» principalmente), os quais são potenciados pelos derivados associados a estes activos. São estes activos que se estão a deteriorar em valor, rapidamente, que ninguém quer, a não ser os bancos centrais que se transformaram, de emprestadores de último recurso, nos únicos e exclusivos compradores de tais activos. 
A recessão começou bem antes das notícias sobre o coronavírus terem começado a aparecer. De facto, podemos datá-la precisamente com o acontecimento anómalo e alarmante do mercado dos empréstimos no muito curto prazo ter atingido juros exorbitantes, da ordem dos 10%, no dia 17 de Setembro de 2019. Foi isso que levou o banco central dos EUA (FED) a intervir neste mercado «repomarket» e com somas altíssimas, fazendo o papel que antes era o dos bancos comerciais. 
                  
O gráfico acima, oriundo do FED, mostra que os bancos começaram a perder as suas reservas excedentárias logo que parou o «QE», porque tinham de atender às más apostas nos empréstimos e derivados a estes associados.
O Covid-19 apenas precipitou o inevitável: a economia mundial já estava a deslizar para uma recessão bem séria, já se estava deteriorando muito depressa. 
O mercado bolsista é como a espuma acima do Oceano. Algumas vezes, indica um substrato forte, uma economia geral em crescimento, mas outras vezes não
Neste caso, estava sendo sistematicamente puxado para cima, com as auto-compras das grandes empresas cotadas, com o constante despejar de divisas, resultante da criação monetária dos bancos centrais, devido também à propaganda dos media e dos governos, apenas interessados em gerir sua imagem, com vista a serem reeleitos, com prejuízo para a saúde económica, de médio e longo prazo, nos respectivos países. 
Por fim, o facto da economia mundial ser incapaz de suportar um impacto exterior que, tudo somado, não é assim tão estranho, pois epidemias existiram em toda a História da Humanidade, mostra como tem sido artificial e desequilibrada a construção dos sistemas económico e financeiro. 
O Covid-19 foi o revelador que pôs a nu a parasitagem do mundo globalizado, em que o capital financeiro é predador da generalidade das pessoas e dos outros capitalismos - agrário, industrial, comercial - que subsistem, mas sob forma subordinada ao sistema da grande banca mundial, que conta com o apoio indefectível dos bancos centrais e dos governos, nos países do Ocidente.
Não podemos saber durante quanto tempo este estado de coisas vai durar. No entanto, parece-me claro que o Covid-19 será derrotado muito mais depressa que esta finança parasita. Com efeito, não tardará muito que seja construída uma vacina e distribuída em larga escala, para derrotar a pandemia mundial. 
Pelo contrário, não existe nada equivalente para estancar ou curar a doença que afecta a economia mundial
O capitalismo globalizado é um parasita interno das sociedades; tornou-se tão invasivo das suas estruturas, que a destruição do parasita arrisca-se a causar uma ruptura do próprio organismo social. 
..................
PS: vejam o artigo de 01 de Abril 2020; corrobora a minha análise de 25 de Fevereiro aqui acima exposta.
https://www.zerohedge.com/markets/covid-19-tripwire

domingo, 23 de fevereiro de 2020

[Thierry Meyssan] «NATO Go Home!»

[REDE VOLTAIRE | DAMASCO (SÍRIA) | 19 DE FEVEREIRO DE 2020


Desde há duas décadas, as tropas norte-americanas impõem a sua lei no Médio-Oriente Alargado. Agora, países inteiros estão privados de Estado que os defenda. Populações inteiras foram vítimas da ditadura dos islamistas. Assassínios em massa foram cometidos. Também imperaram fomes. O Presidente Donald Trump impôs aos seus generais o repatriamento dos soldados, mas o Pentágono entende prosseguir a sua campanha com os soldados da OTAN.

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Chegada ao Conselho Atlântico do Comandante Supremo das Forças norte-americanas para a Europa, e Comandante Supremo da Aliança do Atlântico Norte, o General Tod D. Wolters (Bruxelas, 12 de Fevereiro de 2020).

O Presidente Trump consagrará o último ano do seu primeiro mandato a trazer os Boys (“Rapazes”- ndT) para casa. Todas as tropas norte-americanas estacionadas no Próximo-Oriente Alargado e em África deverão ser retiradas. No entanto esta retirada dos soldados não significará, de forma alguma, o fim da governança dos EUA nestas regiões do mundo. Muito pelo contrário.
A estratégia do Pentágono
Desde 2001 —e é uma das principais razões dos atentados do 11-de-Setembro—, os Estados Unidos adoptaram, em segredo, a estratégia enunciada por Donald Rumsfeld e pelo Almirante Arthur Cebrowski. Esta foi evocada na revista da Infantaria do Exército, pelo Coronel Ralf Peters, dois dias após os atentados [1] e confirmada, cinco anos mais tarde, pela publicação do mapa do Estado-Maior do novo Médio-Oriente [2]. Ela tinha sido mostrada em detalhe pelo assistente do Almirante Cebrowski, Thomas Barnett (Capitão-ndT), num livro para o grande público The Pentagon’s New Map (O novo mapa do Pentágono) [3] [4].

Tratava-se de adaptar as missões dos exércitos dos EUA a uma nova forma de capitalismo, dando o primado à Finança sobre a Economia. O mundo deve ser dividido em dois. De um lado, os Estados estáveis integrados na globalização (o que inclui a Rússia e a China); do outro, uma vasta zona de exploração de matérias-primas. Por isso é que convêm enfraquecer consideravelmente, idealmente arrasar, as estruturas estatais dos países dessa zona e impedir o seu ressurgimento por todos os meios. Este «caos construtor», segundo a expressão de Condoleeza Rice, não deve ser confundido com o conceito rabínico homónimo, mesmo que os partidários da teopolítica tudo tenham feito para isso. Não se trata de destruir uma ordem má para refazer uma ordem melhor, mas, sim de destruir todas as formas de organização humana para impedir qualquer forma de resistência e permitir às transnacionais explorar esta zona sem restrições políticas. Trata-se, portanto, de um projecto colonial no sentido anglo-saxónico do termo (não confundir com a colonização de povoamento).

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Segundo este mapa, extraído de um Powerpoint de Thomas P. M. Barnett, aquando de uma conferência no Pentágono em 2003, todas as estruturas estatais da zona rosada deviam ser destruídas.

Ao iniciar o lançamento desta estratégia, o Presidente George Bush Jr falou de «guerra sem fim». Com efeito, já não se tratava mais de ganhar guerras, e de vencer adversários, mas de as fazer durar o maior tempo possível, «um século» dissera ele. De facto, esta estratégia foi aplicada no «Médio-Oriente Alargado», quer dizer, numa zona indo do Paquistão até Marrocos e cobrindo todo o teatro de operações do CentCom e a parte Norte da do AfriCom. No passado, os GIs garantiam o acesso dos Estados Unidos ao petróleo do Golfo Pérsico (doutrina Carter). Hoje em dia, eles estão presentes numa zona quatro vezes mais vasta e ambicionam derrubar qualquer tipo de ordem, seja ela qual for. As estruturas estatais do Afeganistão desde 2001, do Iraque desde 2003, da Líbia desde 2011, da Síria desde 2012 e do Iémene desde 2015, já não são capazes de defender os seus cidadãos. Contrariamente ao discurso oficial, jamais se tratou de derrubar governos, mas muito mais de destruir Estados e de impedir a sua recuperação. A título de exemplo, a situação das populações no Afeganistão não melhorou com a queda dos Talibã, há 19 anos, antes piora inexoravelmente de dia para dia. O único exemplo contra poderia ser o da Síria que, de acordo com a sua tradição histórica, conservou o seu Estado apesar da guerra, absorveu os golpes e, muito embora arruinada hoje em dia, atravessou a tormenta.

Note-se de passagem que o Pentágono sempre considerou Israel como um Estado europeu e não como sendo médio-oriental. Portanto, ele não é envolvido neste vasto sobressalto.
Em 2001, o Coronel Ralf Peters entusiasmado assegurava que a limpeza étnica «funcionava!» (Sic), mas que as leis da guerra proibiam os EUA de a aplicar eles próprios. Daí a transformação da Alcaida e a criação do Daesh (E.I.) que fizeram por conta do Pentágono, o que ele desejava, mas não podia abertamente empreender.
Para bem captar a estratégia Rumsfeld/Cebrowski, convêm distingui-la da operação das «Primaveras Árabes», imaginada pelos Britânicos seguindo o modelo da «Grande Revolta Árabe». Nessa, tratava-se, então, de colocar a Confraria dos Irmãos Muçulmanos no Poder, tal como Lawrence da Arábia tinha colocado no Poder a dos Waabitas em 1915. 

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Objectivo oficial, mesmo que não assumido publicamente, do Estado-Maior dos EUA: fazer rebentar as fronteiras do Médio-Oriente, destruir os Estados, tanto inimigos como amigos, aplicar a limpeza étnica.

Os Ocidentais, em geral, não têm qualquer visão do Médio-Oriente Alargado como uma região geográfica em si. Só conhecem alguns países e imaginam cada um deles isoladamente dos outros. Deste modo, convencem-se a si mesmos que os trágicos acontecimentos experimentados por esses povos têm todos razões específicas, aqui uma guerra civil, acolá o derrube de um sanguinário ditador. Para cada país, dispõem de uma história bem escrita quanto à razão do drama, mas nunca têm nenhuma para explicar por que é que a guerra dura para além disso e, sobretudo, não querem que alguém os questione quanto a tal assunto. Em cada oportunidade, denunciam «a incúria dos Americanos» que não conseguiriam terminar a guerra, esquecendo que eles reconstruiram a Alemanha e o Japão após a Segunda Guerra Mundial. Recusam constatar que, desde há duas décadas, os Estados Unidos aplicam um plano, enunciado com antecedência, ao preço de milhões de mortos. Jamais se sentem, portanto, como responsáveis por estes massacres.
Os Estados Unidos, esses, face aos seus cidadãos negam aplicar esta estratégia. Assim, o Inspector-Geral encarregado de investigar a situação no Afeganistão redigiu um relatório lamentando-se sobre as muitas ocasiões falhadas pelo Pentágono em conseguir a paz, quando, exactamente, este nunca a desejava.


A intervenção russa
De forma a pulverizar todos os Estados do Médio-Oriente Alargado o Pentágono montou uma absurda guerra civil regional, da mesma maneira como havia inventado a guerra entre o Iraque e o Irão (1980-88). Por fim, o Presidente Saddam Hussein e o Aiatola Khomeini perceberam que se matavam por nada e fizeram a paz contrariando os Ocidentais.
Desta vez, é a oposição entre sunitas e xiitas. De um lado, a Arábia Saudita e os seus aliados, do outro o Irão e os seus. Pouco importa que a Arábia Saudita wahhabita e o Irão khomeinista tenham combatido juntos, sob o comando da OTAN, durante a guerra na Bósnia-Herzegovina (1992-95), ou que inúmeras tropas do «Eixo da Resistência» não sejam xiitas (100% dos Palestinianos da Jiade Islâmica, 70% dos Libaneses, 90% dos Sírios, 35% dos Iraquianos e 5% dos Iranianos).
Ninguém sabe por que é que estes dois campos se confrontam, mas acabam levados a sangrarem-se mutuamente.

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                  Um terço das populações do Eixo xiita da Resistência não é xiita.

Seja como for, em 2014, o Pentágono aprestava-se a fazer reconhecer dois novos Estados de acordo com o seu mapa de objectivos: o «Curdistão livre» (fusão do Rojava Sírio e da província curda do Iraque, ao qual uma parte do Irão e todo o Leste da Turquia deveriam ser posteriormente adicionados) e o «Sunnistão» (composto da parte sunita do Iraque e do Leste da Síria). Ao destruir quatro Estados, o Pentágono pensava abrir a via a uma reacção em cadeia que devia, por ricochete, destruir toda a região.

A Rússia interveio então militarmente e fez respeitar as fronteiras da Segunda Guerra Mundial. Escusado será dizer que estas são arbitrárias, decorrentes dos acordos Sykes-Picot-Sazonov de 1915, e por vezes difíceis de aceitar, mas sendo ainda menos aceitável modificá-las pelo sangue.
A propaganda do Pentágono sempre fingiu ignorar aquilo que estava em jogo. Ao mesmo tempo, porque não assume publicamente a estratégia Rumsfeld/Cebrowski como porque iguala a adesão da Crimeia à Federação da Rússia a um golpe de força.
A “troca de pele” dos partidários da estratégia Rumsfeld/Cebrowski
Após dois anos de luta encarniçada contra o Presidente Trump, os oficiais generais do Pentágono, dos quais quase todos foram pessoalmente formados pelo Almirante Cebrowski, submeteram-se a ele mas sob certas condições.
Assim, eles aceitaram não
criar qualquer Estado terrorista (o Sunnistão ou Califado) ;
modificar as fronteiras pela força ;
manter tropas dos EUA nos campos de batalha do Médio-Oriente Alargado e de África.
Em troca, ordenaram ao seu fiel Procurador Robert Mueller —que já tinham utilizado contra o Panamá (1987-89), a Líbia (1988-92) e durante os atentados do 11-de-Setembro (2001)— para enterrar o seu inquérito sobre o “Russiagate”.
Tudo se desenrolou então como uma pauta musical.
A 27 de Outubro de 2019, o Presidente Trump ordenou a execução do califa Abu Bakr al-Baghdadi, principal figura militar do campo sunita. Dois meses mais tarde, a 3 de Janeiro de 2020, ordenou a do General iraniano Qassem Soleimani, principal figura militar do Eixo da Resistência.
Tendo desta maneira demonstrado que os EUA continuava a ser o mestre do jogo ao eliminar as personalidades mais simbólicas dos dois campos, reivindicando-o e sem incorrer em resposta significativa, o Secretário de Estado, Mike Pompeo, revelou o dispositivo final, a 19 de Janeiro, no Cairo. Este prevê prosseguir a estratégia de Rumsfeld/Cebrowski já não mais com os exércitos dos EUA, mas com os da OTAN, incluindo Israel e os países árabes.
A 1 de Fevereiro, a Turquia oficializava a sua ruptura com a Rússia ao assassinar quatro oficiais do FSB em Idleb. Depois, o Presidente Erdogan dirigiu-se à Ucrânia para gritar em coro a divisa dos Banderistas (os legionários ucranianos do IIIº Reich contra os Soviéticos) junto com a Guarda Nacional Ucraniana e para receber o Chefe da Brigada Islamista Internacional (os Tártaros anti-russos), Mustafa Djemilev (dito «Mustafa Kırımoğlu»).

                       
O Conselho do Atlântico Norte aprova a ida de formadores da OTAN para o Médio-Oriente Alargado (Bruxelas, 13 de Fevereiro de 2020).


A 12 e 13 de Fevereiro, os Ministros da Defesa da Aliança Atlântica tomaram nota da retirada inevitável das forças dos EUA e da próxima dissolução da Coligação Internacional contra o Daesh (EI). Muito embora sublinhando que não destacariam tropas de combate, eles aceitaram enviar os seus soldados para treinar os dos exércitos árabes, quer dizer, supervisionar os combates no terreno.
Os formadores da OTAN serão prioritariamente colocados na Tunísia, no Egipto, na Jordânia e no Iraque. Assim: - A Líbia será cercada a partir do Oeste e do Leste. Os dois governos rivais, de Fayez al-Sarraj —apoiado pela Turquia, pelo Catar e com já 5. 000 jiadistas vindos da Síria, via Tunísia— e o do Marechal Khalifa —apoiado pelo Egipto e pelos Emirados— poderão ir-se matando entre si eternamente. A Alemanha, muito feliz por retomar o papel internacional, do qual estava privada desde a Segunda Guerra Mundial, fará de pregador agitado dissertando sobre a paz para abafar os gemidos dos agonizantes. - A Síria será cercada por todos os lados. Israel é já de facto um membro da Aliança Atlântica e bombardeia o que quer e quando quer. A Jordânia é já o «melhor parceiro mundial» da OTAN.
O rei Abdalla II veio a Bruxelas para conversações muito demoradas com o Secretário-geral da Aliança, Jens Stoltenberg, em 14 de Janeiro, e para participar numa reunião do Conselho Atlântico. Israel e a Jordânia dispõem já de um gabinete permanente na sede da Aliança. O Iraque receberá também instrutores da OTAN, muito embora o seu Parlamento tenha acabado de votar pela retirada das tropas estrangeiras. A Turquia é já membro da Aliança e controla o Norte do Líbano graças à Jamaa Islamiya. Juntos, eles poderão fazer aplicar a lei «César» dos EUA que interdita qualquer empresa, seja de onde for, de ajudar na reconstrução deste país.
Assim, a pilhagem do Médio-Oriente Alargado, iniciada em 2001, prosseguirá. As populações mártires desta região, cuja única falha é a de estarem divididas, continuarão a sofrer e a morrer em massa. Os Estados Unidos conservarão os seus soldados em casa, no quentinho, como anjinhos de coro, enquanto os Europeus irão carregar com os crimes dos Generais dos EUA.
Segundo o Presidente Trump, a Aliança poderia mudar de nome e tornar-se talvez a OTAN-MédiOriente (OTAN-MO/NATO-ME). A sua função Anti-Russa passaria para segundo plano em favor da sua estratégia de destruição da zona não-globalizada.
Coloca-se a questão de saber como a Rússia e a China reagirão a esta redistribuição de cartas. A China precisa, para se desenvolver, de ter acesso às matérias-primas do Médio-Oriente. Portanto, ela deverá opor-se a este controle ocidental muito embora a sua preparação militar seja ainda insuficiente. Pelo contrário, a Rússia e o seu imenso território são auto-suficientes. Moscovo (Moscou-br) não tem nenhuma razão prática para se bater. Os Russos podem até ficar aliviados com a nova orientação da OTAN. No entanto, é provável que, por motivos espirituais, eles não deixem cair a Síria e talvez apoiem mesmo outros povos do Médio-Oriente Alargado.
Tradução


[1] “Stability, America’s Ennemy”, Ralph Peters, Parameters, Winter 2001-02, pp. 5-20. Reproduit in Beyond Terror : Strategy in a Changing World, Stackpole Books.
[2] “Blood borders - How a better Middle East would look”, Colonel Ralph Peters, Armed Forces Journal, June 2006.
[3] The Pentagon’s New Map, Thomas P.M. Barnett, Putnam Publishing Group, 2004.
[4] The Pentagon’s New Map, Thomas P.M. Barnett, Putnam Publishing Group,

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

MEU TOP TEN DA MÚSICA POP DOS ANOS SETENTA

Claro que esta lista tem a ver comigo, com o meu gosto, com as minhas escolhas... Mas resulta de uma sedimentação e maturação de décadas, como os bons vinhos... 
Agora, é a música que prefiro. Mas, amanhã sou capaz de mudar esta lista de dez, intencionalmente restrita, selectiva e, com certeza, injusta. 
A sequência escolhida não significa preferência crescente ou decrescente. Para mim, são todos nº1, ex-aequo!
Não estou aqui na disposição de distribuir prémios da «melhor» música, ou do «melhor» grupo, ou intérprete. Como disse, é tudo muito pessoal e subjectivo.
Em todo o caso, para os menos jovens, aqui vai o meu piscar de olho. Quanto aos mais jovens, espero que façam a descoberta de algo muito diferente (ou talvez não) do que costumam ouvir

    Meu top ten dos anos setenta:    SEVENTIES