Sim, estamos perante o início de uma crise cujas dimensões são tais, que ninguém ou quase, se apercebe do abismo que se está a desenhar em frente «dos olhos financeiros» do mundo inteiro.
Explicação: perante a descida vertiginosa dos mercados de acções e obrigações, maiores do que as descidas da grande crise de 2007/2008 e das outras, de que o sistema guarda memória, qual será a reacção dos bancos centrais? Aposto, com toda a confiança, que estão agora (28-29 Fev. 2020) reunidos, sob a batuta do BIS (Bank of International Settlements) para decidir de uma coordenada política de impressão monetária, com vista a «salvar» a economia da catástrofe.
Evidentemente, não vão salvar nada, pois mesmo que os mercados por magia (falsa) subam vertiginosamente do mesmo modo que desceram, vão fazê-lo com dinheiro impresso e cedido pelos bancos centrais, «resgatando» assim a economia financeirizada em que temos vivido.
Mas, muitos actores do mundo económico real vão receber os dólares, ou yens, ou euros, etc. suplementares, não com entusiasmo, mas com apreensão, pois todo e qualquer activo que detenham, vai sofrer diluição equivalente do valor.
O público em geral vai também ver a aceleração da inflação, inevitável numa situação de inundação dos mercados com divisas que não correspondem a nada, a nenhum valor/trabalho. Como noutras situações históricas conhecidas, desde a Alemanha da República de Weimar (1920-23), à Rússia de Ieltsin (finais dos anos 90), à Argentina (de 2000) ou ainda outros episódios de hiperinflação contemporâneos, como na Venezuela e Zimbabwe, o início parece ser uma inflação apenas um pouco mais intensa, depois haverá uma descida enorme dos salários reais e aí as pessoas começam a entrar em pânico, sendo depois questão de pouco tempo (meses) até o dinheiro deixar de ter qualquer valor.
Escusado será dizer que as pessoas mais afectadas são as que ficam impossibilitadas de sobreviver neste contexto: em geral, os assalariados, os pensionistas, as pessoas de posses modestas, ficam na miséria.
O sistema global não poderá continuar neste estado por muito tempo. Daí que as «elites» já tenham preparado um «reset» ou seja, uma forma de mudar o que tem de ser mudado para que tudo (o que é essencial) fique na mesma.
É muito provável o lançamento dum sistema monetário baseado em cripto-moedas, mas com emissão estatal ou por bancos centrais. Esta «solução» não será uma verdadeira solução, porque o conteúdo do valor das criptomoedas ou moedas digitais será sempre sujeito a manobra dos governos e bancos centrais, tal como têm sido - até agora - as moedas em papel, as «divisas fiat», que apenas existem porque os Estados obrigam os cidadãos a fazerem todos os seus pagamentos nestas e só nestas divisas, para que as transacções sejam consideradas válidas, para todos os efeitos legais.
Ora, os Estados estão sempre a desvalorizar suas moedas para conseguirem fazer mais despesas, que não teriam hipótese de fazer, somente com dinheiro dos impostos. Mas fazem-nas, no entanto, devido ao seu endividamento, junto de entidades financeiras, como bancos, fundos especulativos, etc. (os compradores de dívidas estatais ditas «dívida soberana»).
Uma grande parte do colapso a que começamos a assistir agora, deveu-se a essa arquitectura defeituosa do sistema monetário e do poder político, aproveitando e abusando dessa possibilidade de endividamento, para se auto-perpetuar à custa do futuro dos seus próprios países e povos.
Mas, como as populações respectivas não compreendem patavina do esquema de Ponzi que tem sido mantido mundialmente pelos governos e finança, eles têm continuado, ao longo de décadas, o seu comportamento criminoso, de forma continuada, descarada e impunemente.
Só haverá mudança real do sistema monetário se e quando o mesmo não permitir os golpes ou esquemas de Ponzi, que têm sido o apanágio destas castas financeira e governante.
Quando o trabalhador tiver a garantia da conservação do valor do fruto do seu trabalho, qualquer que seja a unidade em que é pago, ao contrário de hoje, em que o poder de compra dos salários se deteriora mais ou menos rapidamente.
Hoje em dia, o assalariado não consegue manter o seu poder de compra, simplesmente porque o dinheiro está «desenhado» para ir perdendo valor ao longo do tempo, mas isso ninguém (ou quase) lhe explica!
Só uma transformação profunda, não violenta, que aborde as questões sem demagogia e no interesse da imensa maioria, poderá resolver as questões...