Com a retoma das sanções em relação aos países que comerciassem com o Irão, entre os quais se contam a China, o Japão, a Coreia e países europeus, os EUA confirmam que querem - daqui por diante - comportar-se como «os senhores feudais globais», ditando que países podem comerciar com quem, e o quê.
Há alguns países que irão adoptar a postura da China, que tem uma percentagem elevada do seu abastecimento em petróleo assegurada por Teerão mas, outros, não têm os mesmos meios para se opor às imposições americanas, brutais e totalmente ilegais, face à Lei Internacional.
Fica cada vez mais claro qual o plano subjacente dos EUA, ao terem saído do acordo multilateral (que incluía a Rússia, a China, países da UE, além dos EUA e do Irão), negociado pela administração Obama, um dos poucos sucessos diplomáticos destes últimos anos, dos EUA.
A escalada decretada pela administração Trump está a verificar-se no plano económico, apertando o cerco, causando dano à população iraniana, com o fim de isolar o governo do seu povo. Esta táctica, além de imoral, não resulta: vejam-se os embargos contra Cuba e Coreia do Norte, só têm permitido a consolidação destes regimes.
No território sírio, onde permanecem bases americanas (ilegais), agora já sem o pretexto da luta contra o ISIS, tudo é feito para manter acesos os confrontos étnicos, apoiando determinadas facções contra outras.
Israel tem efectuado ataques aéreos contra o território sírio, a pretexto de combater o Hezbollah, ou os iranianos. Estes crimes de guerra não têm a mínima legitimidade, nem são, sequer, uma resposta a qualquer movimentação agressiva daqueles contingentes, contra as posições israelitas.
Os israelitas colocam-se como agentes locais do imperialismo americano e, portanto, ameaçam e fazem sortidas destruidoras de vidas e de bens, com total impunidade.
A ONU, relegada ao papel de fantoche, não reage, totalmente incapaz de tomar uma posição coerente, no seguimento de todos os atropelos à sua própria lei.
Os Estados Unidos, além de serem culpados, neste século, de crimes hediondos contra a humanidade, contra populações indefesas (Afeganistão, Iraque, Líbia...), têm destruído sistematicamente todo o edifício dos acordos entre potências nucleares, laboriosamente estabelecido na época da URSS.
Nas Nações Unidas, adoptam uma postura de cobertura permanente dos aliados, Israel e Arábia Saudita, em sistemático desrespeito pelos Direitos Humanos.
No continente Americano têm promovido o golpe de Estado contra o governo e o povo da Venezuela, também usando a arma das sanções económicas, de maneira unilateral, 100% ilegal, face à lei internacional.
No conjunto, verifica-se que os EUA estão a preparar-se para a guerra contra aqueles que designa como seus inimigos (que são, também, inimigos de Israel): o Irão, seus aliados do Hezbollah e do governo da Síria.
As violações sistemáticas do edifício da legalidade internacional (que os próprios EUA ajudaram a construir, no pós-IIª Guerra Mundial) são desenvolvimentos trágicos, não só pelos crimes associados a tais actos, como também pelos futuros desenvolvimentos, que prenunciam.
Com efeito, o projecto imperial e hegemónico dos EUA, sob o domínio do complexo militar-securitário-industrial, pode resumir-se à doutrina Brzezinski, o conselheiro e estratega ao serviço de várias administrações em Washington, falecido há poucos anos.
Segundo Brzezinski, os EUA não deveriam permitir que qualquer outra potência atingisse um nível tal que pudesse tornar-se numa ameaça credível ao domínio hegemónico de Washington. Donde, segundo a sua doutrina, havia que conter sistematicamente essas nações (tratava-se da Rússia e da China, claro).
No contexto actual, o mundo pode ser confrontado com uma guerra total. O seu desencadear poderia vir no seguimento de uma acção de desespero do Irão. Muito provavelmente, é isso que os EUA procuram.
Por exemplo, os iranianos podem ser tentados a recorrer ao bloqueio do estreito de Ormuz, por onde passam muitos petroleiros em direcção a países asiáticos e europeus, importadores de petróleo das monarquias petrolíferas do Golfo.
O agravamento do cerco e a tentativa de estrangulamento económico do Irão, significam que Washington está a provocar o adversário, para este cometer actos agressivos, em reacção a uma situação em que vê ameaçados os seus interesses vitais. Assim, os EUA e seus aliados da NATO e os Israelitas teriam um pretexto para desferir um golpe mortífero.
Este país, com uma multi-milenar civilização, tem sido sistematicamente hostilizado, por não ser dócil em relação às multinacionais do petróleo e por não aceitar os EUA como suzerano mundial.