No calor do Verão, espero que encontrem prazer em ler 2 excelentes artigos:
Ambos os artigos têm muita informação significativa, recorrem a fontes sérias, mas sobretudo, dão-nos uma perspectiva de como realmente, independentemente da retórica e da propaganda, se vão desenhando novas alianças e desfazendo antigas, dadas como certas...
É o caso da Rússia e Arábia Saudita no primeiro caso e no segundo, a dissolução da «solidariedade entre aliados», europeus e não só, nada felizes com as sanções contra o Irão, tendo já mostrado que não estão pelos ajustes.
Antes, a Alemanha também tinha manifestado que não estava disposta a aceitar que o Nord-Stream, o fornecimento de gás russo ao norte a Alemanha, por um gasoduto subaquático no Báltico, fosse boicotado, com a tentativa pelos EUA em fazer gorar este investimento fundamental para a indústria germânica.
Muito significativo é o «não» turco em aderir às sanções contra o Irão; este fornece 50% do petróleo consumido na Turquia.
Basta ter em conta esta situação, para se perceber muitos factos diplomáticos, económicos e militares ocorridos nos últimos tempos, na região.
O caso da Coreia do Sul e do Japão, em relação às sanções contra o Irão, também é significativo. Vão pedir a suspensão das sanções para o seu comércio alegando a necessidade estratégica do abastecimento do petróleo iraniano aos seus países.
Não esqueçamos que os EUA ameaçaram impedir quaisquer actividades no território dos EUA, às firmas que participassem em negócios com o Irão.
Finalmente, percebemos que o «fracking» é um enorme fiasco, tecnológico e económico, além de obviamente um crime ambiental.
Quanto às tarifas comerciais; o presidente dos EUA parece pouco preocupado com uma capacidade produtiva interna muito pouco sólida.
No mundo de hoje, o lema «América First» só pode fazer sentido em paralelo com uma abertura e capacidade diplomática de encontrar parcerias e não fazer mais inimigos e «torcer o braço» a súbditos.
A Rússia de Putin e a China de Xi-Jin-Pin sabem fazer isso: estes dirigentes põem claramente em primeiro lugar o interesse dos seus respectivos países... A arrogância imperial americana é que ainda não o compreendeu, verdadeiramente.
Ou pelo menos, se ao nível do «entourage» mais próximo do Presidente, alguns terão esse entendimento, parece que não será o caso dos que ainda dominam as duas facções democrata-republicana do partido «único» no Senado e Congresso, assim como o «Estado Profundo», ou seja, as entidades cinzentas, mas com poder dentro da CIA, o Dep. de Estado, o Pentágono e outros locais de poder do Estado.
As guerras físicas começam, muitas vezes, com guerras económicas. O arsenal económico - as sanções, os bloqueios, os boycotts - pode ser tão ou mais letal, que balas e bombas.
No caso da guerra comercial dos EUA contra a China, creio que se trata de um enorme erro, de um erro derivado da hubris, a auto-confiança excessiva que se apodera dos vencedores e os faz cometer erros fatais.
Quem depende de quem? Os EUA não têm possibilidade de ir comprar noutros mercados muitos dos produtos manufacturados na China. Não têm possibilidade técnica, nem económica, de suprir as suas necessidades em produtos manufacturados, senão num prazo de anos pois houve uma grande desindustrialização nos EUA nos últimos 30 anos, sendo impossível restabelecer esta base senão em anos...4, 5 ou até 10 anos, no mínimo!
Mesmo a «menina dos olhos» dos globalistas, a indústria do armamento, precisa de importar da China «terras raras» para ligas metálicas especiais, para aviões de combate, mísseis, etc.
Ora a China é um dos poucos fornecedores mundiais de «terras raras» (esses elementos necessários em quantidades muito pequenas, mas insubstituíveis), tal como a Rússia e a Coreia do Norte...
Esta guerra das tarifas, não irá -de certeza- traduzir-se num dobrar da cerviz da China; portanto estamos a assistir, neste Verão, à viragem para um novo ciclo geoestratégico, que poderá durar muitos anos. As coisas podem apresentar-se de múltiplas maneiras, mas para o poderio dos EUA, o desfecho é inelutável. Esse desfecho é a perda de seu papel hegemónico, a perda de influência no Mundo.
Os governos - até agora - aliados dos EUA estão inquietos e querem dissociar-se do rumo que as coisas estão a tomar.