O melhor disco da fabulosa e sensual cantora que incendiou muitos jovens corações nos anos cinquenta e sessenta do século passado.
A qualidade deste álbum leva-me a recomendar que se oiça com atenção o seu conteúdo na íntegra.
André Prévin e Doris Day conjugam-se para nos dar suas versões de grandes standards do jazz, mas também atingem uma grande perfeição dentro do seu estilo próprio. Pena é que este tipo de música tenda a cair no esquecimento....
Diria que a «música boa» é destronada, expulsa, pela «música medíocre», no gosto das multidões.
Mas, no que me toca, quanto mais o tempo passa, mais preciso de me refugiar num passado encantador, com todos os ingredientes de musicalidade e sensualidade, como nestas fabulosas interpretações aqui gravadas!
O sonho era real ou a realidade era um sonho, mas isso que importa? Sentia aquele calor interior que nos torna imensamente felizes e poderosos.
Enquanto eu guiava na noite por uma estrada odorífera, com arbustos mediterrânicos, ela estava simplesmente ao meu lado. Talvez nem falasse de todo, não sei.
Mas a sua presença era como aquela voz; mais que real, como obsecada, sussurrava ao meu ouvido: «Quizás, quizás, quizás...».
Assim, a noite se foi desenrolando, sobre o asfalto cinzento e vendo desfilar vagas sombras de árvores balançando na brisa.
A viagem, suave e intensa, passava-se dentro do meu cérebro, sim, mas também num espaço hipergeométrico, onde tudo era verdadeiro e palpável.
Como de costume, no final dos meus sonhos, a estrada não tinha um final, um destino: Esfumava-se, dissolvia-se, assim como todos os pormenores do percurso.
No entanto, entranhadas nos meus neurónios, nos meus músculos, nos meus vasos sanguíneos, permaneceram as sensações, ou o eco das mesmas. A memória, caprichosa, recordava certos pormenores e sobretudo as sensações tidas durante esta viagem.
Mas meu desespero era o de não recordar o rosto da moça sentada ao meu lado na viagem.
Alguém que encontrei noutra dimensão, da qual estou separado, de forma aparentemente irremediável.