quinta-feira, 7 de junho de 2018

O EURO FOI UMA BOA OU MÁ IDEIA?

                

O Euro nasceu muito antes de ser decretada a transição das moedas nacionais dos estados-membros. É uma criação de Maastricht, assim como uma série de outras «inovações maravilhosas», de que não parámos - nós, cidadãos europeus - de pagar o preço.

O euro é considerado como um grave problema para as economias depauperadas do Sul da Europa. 
Com efeito, antes do euro, as diferenças de produtividade entre os países do Norte e do Sul eram compensadas por desvalorizações das moedas dos países do Sul, o que repunha a competitividade das suas economias. 
O efeito era uma taxa de inflação superior (não muito) à do Norte e uma escala de salários mais dinâmica que a do Norte. Esta favorecia a economia destes países, pois o mercado interno era (e continua a ser) o principal componente do PIB e é fundamental para alimentar as pequenas empresas. Estas sempre foram o principal componente do tecido produtivo  em Portugal, Espanha, Itália e Grécia.

Agora, o governo italiano vai tentar aquilo que o governo grego não conseguiu: autonomizar-se em relação ao euro, em relação à estrutura da dívida, que sustenta a arquitectura da «moeda única». 
A possibilidade de reestruturação do mercado obrigacionista interno em Itália já está a causar muita irritação nos eurocratas. 
Porém, já em 2011, relativamente a Portugal, preconizei exactamente a mesma medida, a qual teria a vantagem de manter em mãos nacionais uma boa parte da dívida, estancando, do mesmo modo, a sangria de capitais, que iam buscar maior rentabilidade e/ou segurança noutras paragens.

A problemática do euro não pode ser vista desligada das moedas com as quais compete ao nível mundial, em particular o dólar. Se este baixa, o euro sobe e vice-versa. 
Mesmo descontando o efeito dos movimentos especulativos, temos um sistema «oscilante», mas cuja balança fica mais do lado de Wall Street, sempre atenta a tirar partido das fraquezas do euro e da zona euro. 
A especulação  pura é responsável por muita saída de capital do espaço europeu, mas também e sobretudo as taxas praticadas pelos bancos centrais respectivos. 
Enquanto o BCE continua com uma taxa quase nula, a FED (nos EUA) tem vindo a subir a sua taxa de referência. Os bonds (obrigações) do outro lado do Atlântico têm uma remuneração superior e isso alimenta o efluxo constante de capital europeu para os EUA. Enquanto perdurar esta situação no mercado obrigacionista, a Europa vai continuar a perder capitais. 

Mas, logo que o BCE decida aumentar a sua taxa de juro, logo que cancelar o seu programa de compra de activos financeiros dos diversos bancos europeus (Quantitative Easing), os juros das obrigações soberanas vão subir. Toda a estrutura do custo do crédito vai ficar abalada. Isso vai-se repercutir no  mercado imobiliário, em particular, pois é um mercado muito dependente do crédito bancário. 

Não existe meio de acabar com a impressão monetária incondicional («quantitative easing»), sem que haja um efeito na economia: será uma situação análoga do «síndroma de privação» de um heroinómano. O organismo económico europeu habituou-se à sua injecção de capital, tal como o toxicodependente, à sua dose... 


O caminho, para os países do euro saírem da «camisa de sete varas» em que estão metidos, não é único e resultará de uma prova de força da capacidade política e institucional dos diversos intervenientes. 
Neste momento, a capacidade da Alemanha impor o seu diktat está diminuída, não só pela fraqueza do apoio popular a Merkel (progressão do partido soberanista, AfD), como também pelo facto de os Italianos não estarem nas mesmas condições que os gregos em 2012. 
Eles terão, com certeza, aprendido algo com o fiasco do governo de Tsipras, face aos alemães e à Comissão Europeia. Os italianos saberão jogar de outro modo. 

O facto do dirigente da «Lega», que tem uma implantação praticamente apenas nas províncias do Norte («Lega Nord»), ter sido aclamado entusiasticamente, no Sul, pela população diz muito. Ou seja, a rejeição do caminho de submissão à ditadura eurocrática e a insistência na soberania do povo italiano, são um eficaz catalizador de vontades. 


A eurocracia deitou a perder o projecto da União Europeia
Uma boa ideia (uma Europa unida, para além dos seus particularismos nacionais), muito mal executada (imposta desde o centro pelas oligarquias), torna-se uma ideia desacreditada, ao ponto de ficar liquidada durante séculos!

quarta-feira, 6 de junho de 2018

ESTRATÉGIA DA CHINA PARA A TRANSIÇÃO

                             

Muito se tem escrito em Portugal sobre a China, sobre os investimentos chineses em infraestruturas um pouco por todo o lado, a sua insaciável fome de matérias-primas, em particular de petróleo. Mas poucas vezes nos é explicado o papel das plataformas de negociação do ouro e do yuan, como forma de adquirir um cada vez maior pedaço do comércio internacional e de assegurar que o abastecimento do «Império do Meio» não será dramaticamente afectado pela crise que está «levedando» nos mercados internacionais, da finança ainda dependentes do dólar. 
A importância do ouro, nesta estratégia, não pode ser deixada de lado, sob pena de não se compreender rigorosamente nada do grande jogo do «Império do Meio». O artigo seguinte é muito esclarecedor: 

Belt & (Yellow Brick) Road: China Is Absolutely Dominating The Global Gold Trade

A China não pretende que a sua moeda se torne o substituto do dólar como moeda de reserva; pretende que o valor do seu excedente em dólares (mais de 1,2 milhares de milhões de dólares em obrigações do Tesouro dos EUA) não seja completamente evaporado pela política hiperinflacionária dos bancos centrais e governos ocidentais. 
Tem lançado a iniciativa «Belt and Road» ou «Nova Rota da Seda» para firmar e consolidar as bases de parcerias com os mais diversos países, em trocas comerciais mutuamente vantajosas, sem quaisquer compromissos que não sejam os decorrentes do que é acordado entre as partes. Os numerosos países que aderem a esta plataforma poderão contar com instrumentos de crédito muito eficientes - os contratos de petróleo em yuan são apenas um exemplo - que permitirão a esses países dispensar o dólar como moeda de reserva. A nota de crédito de Yuan remível em ouro, por outro lado, será um instrumento de crédito que oferece mais estabilidade e garantias de pagamento do que as notas de crédito em dólares até agora utilizadas correntemente no comercio em grosso, como no pagamento das mercadorias de um navio num porto.
Para se ver menos susceptível perante uma eventual queda do dólar, a China tem usado os dólares para muitas das obras de infraestrutura (portos, caminhos de ferro, estradas, etc.), em especial, nos países que participam na «Belt & Road Initiative». Para se ver livre do seu excedente de dólares, estabeleceu recentemente um contrato com Angola, em como receberia petróleo angolano em pagamento de um empréstimo em dólares que Angola precisava e que a China se apressou a conceder-lhe.    
Se a China estivesse interessada em sabotar o dólar que é, junto com o poderio militar, a forma concreta que os EUA têm de dominar o mundo, poderia fazê-lo, desfazendo-se de suas enormes reservas em «treasuries» (as obrigações do tesouro dos EUA). Porém, isso seria suicidário para ela própria, pois os EUA e o Ocidente, que está na «esfera de influência do dólar», no seu conjunto, são os seus maiores parceiros comerciais. Por outro lado, através desta política de gastar nas infraestruturas o seu excedente em dólares, dirigida a países recém independentes do jugo colonial, terá uma aceitação muito maior e poderá sem forçar nada concluir, futuramente, trocas comerciais em yuan, não em dólares. 
A partir do momento em que uma maior fatia do petróleo e doutras matérias primas forem transaccionadas noutras divisas, que não o dólar, a dominação deste (e da potência que o emite, os EUA) ficará muito limitada. 

É muito provável que o sistema monetário internacional evolua de maneira relativamente pacífica,  como aconteceu com a substituição da Libra esterlina, moeda de reserva durante mais de um século e que foi progressivamente perdendo peso a favor do dólar.

terça-feira, 5 de junho de 2018

VIVALDI - CONCERTO PARA VIOLONCELO RV 409



Concerto for Cello, Strings and B.C. in E minor RV 409: I. Adagio - Allegro molto II. Allegro - Adagio III. Allegro Francesco Galligioni [cello] Federico Guglielmo [direction] L'Arte dell'Arco


Seria justo que este concerto tivesse uma popularidade bem maior.
Quanto à excelente interpretação deste conjunto de músicos, ela serve muito bem a exuberância da escrita barroca de Vivaldi.

OS EUA RESPONSÁVEIS PELA REACTIVAÇÃO DO PROGRAMA NUCLEAR IRANIANO

US sanctions can cut Iran’s oil sales abroad by half – BP boss




O plano dos EUA, de isolar o pior inimigo de Israel, saindo do acordo multipartes não apenas teve uma resposta negativa de seus aliados (Grã Bretanha, França e Alemanha) também signatários do acordo, como colocou o regime iraniano numa posição em que pode legitimamente tomar medidas que aproximam o Irão da possibilidade de obter a arma nuclear, sem no entanto, ir contra a letra do acordo. 
Além disso, os europeus, com a sua cobarde atitude de recusar sair do acordo por um lado, mas por outro, vindo com exigências de que a re-negociação futura do mesmo deveria incluir os mísseis iranianos (não nucleares, que nunca estiveram em causa durante as negociações para este acordo) levaram imediatamente uma recusa peremptória do regime dos ayatollahs. 
Tudo isto, resume a incapacidade do Ocidente em definir uma estratégia, que não seja a da ameaça constante e do bullying, para com uma potência dispondo de uma capacidade militar dissuasiva de uma invasão terrestre e com algum potencial de retaliação também, caso Israel se lembre de efectuar um ataque aéreo «punitivo». 
No fundo, é apenas esta capacidade do Irão, que enfurece Natanyahu e todos os sionistas. Eles desejam continuar suas campanhas contra a Síria e o Líbano, com total impunidade. Desejam anular o Irão como poderoso inimigo e aliado do regime Sírio e do Hesbollah do Líbano (parceiro da coligação governamental). 
Os lacaios dos sionistas, sejam eles europeus ou americanos, estão assim a diminuir as garantias e compromissos mútuos, que permitiram baixar o nível de tensão e afastar o perigo de confronto nuclear no médio-oriente. 
Haverá algum propósito, alguma lógica nisto? A única «razão» para tais comportamentos ocidentais será o facto de que os poderosos lóbis pró-Israel e da indústria armamentista terão feito uma enorme pressão no sentido de fazer tudo voltar à estaca zero. 
Ao terem de novo o Irão como inimigo nº1 oficial, estão a deixar Israel com as mãos livres para qualquer ataque aéreo que  queira efectuar, além de criarem uma justificação «plausível» para a necessidade de mais despesas com armamento.

domingo, 3 de junho de 2018

PORQUE É QUE A UNIÃO EUROPEIA NÃO TEM FUTURO

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Num contexto de crescimento vigoroso, como foi o caso da década de 90 e até à década seguinte, interrompido pela crise mundial de 2007-2008, era fácil à oligarquia eurocrática impor o seu modelo de «governança» ao povo europeu, mesmo à custa de uma série de entorses à democracia, da qual ela se diz a maior defensora. Lembremos os casos dos referendos irlandeses, dinamarquês e, sobretudo, os dois sucessivos «não» à Constituição europeia, em França e na Holanda. 
As oligarquias não descansaram enquanto não encontraram um meio para subverter o sentido do voto destes eleitorados, cujos países foram membros fundadores do Mercado Comum. No Tratado de Lisboa, impuseram uma «Constituição bis», apenas com alterações cosméticas, para formalmente não ser considerado como desrespeitando o veredicto das urnas em França e Holanda. 
Com o colapso da economia especulativa nos EUA, em 2007-2008, mas logo propagando-se ao continente europeu, a única preocupação de governos e bancos centrais, de um lado e do outro do Atlântico, foi a de evitar que os bancos, chamados «too big to fail»,  não sofressem e  continuassem a ter os seus lucros. 
- Inventaram as políticas monetárias mais  absurdas, como «Quantative Easing», ou seja, aumentar indefinidamente a dívida, como «meio» para resolver um problema  ... de dívida! 
- Impuseram a austeridade para o povo, mas reforçando os privilégios de casta dos líderes políticos. 

A pseudo «elite» - na realidade, uma oligarquia - conseguiu «dominar». Mas submeteu-se caninamente a tudo o que lhe impunham, a partir da sede do império: 
- Desde o reforço da NATO, sob pretexto de renovada guerra fria (iniciada e alimentada por eles), até à destruição do Estado de Direito, com pretexto numa série de atentados terroristas tipicamente «falsas bandeiras». 
- Como resultado da sua participação desastrosa na guerra civil na Síria, causou a revolta popular contra uma aceitação forçada e indiscriminada de refugiados desta e doutras guerras, insufladas pelo «Ocidente».
A total desconfiança relativamente às cúpulas políticas, atingiu um ponto alto com a eleição em Itália de duas forças euro cépticas, que se coligaram para governar. 
Por agora, a contestação dos povos tem sido civilizada, ordeira. Mas, o destino desta construção falhada da «União» Europeia não se anuncia nada tranquilo e democrático. Com efeito, quando houver uma nova grande crise, que irá fazer parecer uma «brincadeira» a crise de 2008 que abalou o sistema de capitalismo financeiro, o desespero das gentes será tal, que a casta dirigente irá ser posta na rua. 

Resta a incógnita sobre o que virá depois. Não creio que a chamada «democracia representativa» tenha condições para se reformar. Mais provável será o advento dalgum tipo de cesarismo ou populismo... na ausência de genuína alternativa para outro sistema totalmente diferente do actual, nos seus pressupostos. 
O monstro chamado UE, a ditadura da Comissão de Bruxelas sobre todos os governos, parlamentos nacionais e povos, não pode continuar no contexto desta crise que se avizinha. 
Esta crise não é evitável, não é adiável por muito tempo, não existe remédio eficaz para os males que assolam o mundo financeiro e económico, dentro do sistema em vigor. 
Haverá uma transição, seguramente, mas não será pacífica: não existe maneira de a fazer, sem colocar em causa o âmago do sistema. 

CONCERTO PARA CLARINETE K. 622 DE W.A. MOZART


Uma das últimas obras instrumentais de Mozart, estreada por seu amigo Stadler em Praga, em 16 de Outubro de 1791, apenas dois meses antes da morte do compositor. 

Este concerto é de estrutura muito clássica. Porém, o charme na melodia do solista, a sua aparente espontaneidade, fazem dele um dos meus preferidos concertos mozartianos. 
O original desta peça terá sido escrito para clarinete baixo: foram tentadas várias reconstituições da forma inicial do mesmo, partindo de tal hipótese, visto que o manuscrito de Mozart não é conhecido.

A interprete solista, Arngunnur Árnadóttir, é excelente! Está acompanhada pela orquestra sinfónica da Islândia, sob direcção do maestro Cornelius Meister