Falamos do comportamento dos EUA, evidentemente. A sua saída do acordo multi-potências que punha termo a uma hipótese de o Irão se dotar da arma nuclear é simplesmente um passo em falso da sua diplomacia. Aos olhos dos observadores e sobretudo dos diversos governos do médio oriente, surge como apenas uma cedência (mais uma) aos israelitas, um meio para Trump se mostrar «durão» face aos sectores mais conservadores e pró-Israel.
Com efeito, o acordo «nuclear» com o Irão, nunca foi verdadeiramente o que se proclamou, pois o Irão não podia constituir uma verdadeira ameaça do ponto de vista de uma guerra nuclear ou mesmo convencional, a não ser no caso do Irão ser atacado directamente (por Israel, ou pela Arábia Saudita, ou Estados Unidos, ou uma coligação de seus inimigos). Manter o poder de retaliação no caso de um ataque surpresa pelos israelitas constitui a pedra de toque na estratégia de defesa da República Islâmica.
A demonização do Irão e do seu regime são apenas passos na escalada mediática, que tem por objectivo calar os protestos das sociedades civis, aquando de uma guerra (de agressão) anunciada. Convém apresentar o inimigo a abater como o mauzão, que se tem de reprimir a bem dos direitos humanos, da democracia, da estabilidade na região.
Só que os ataques do Ocidente, liderado pelos EUA, o seu desprezo ostensivo pelos acordos internacionais, a parcialidade completa, que leva a que feche os olhos perante os crimes de Israel (contra os palestinianos e com a guerra contra a Síria que está travando agora mesmo), têm um preço.
Creio que nenhum país se sente seguro perante tal «liderança» mundial. Os regimes que não agradam a Washington, obviamente. Mas, mesmo os vassalos, os «aliados», podem temer a ira do seu poderoso senhor feudal.
O preço a pagar é que assim que se torne menos perigoso, muitos países vão desertar o campo «ocidental» e vão acolher-se na grande aliança em construção da China, Rússia, Irão e dezenas de países pequenos ou médios (em todos os continentes). É que a aliança estratégica, com elementos militares, mas também com um banco de investimento, uma «auto-estrada» para grandes investimentos em infraestruturas, uma circulação livre do comércio... correspondem ironicamente, muito mais aos desejos de um capitalismo avançado, liberal, do que a política de sanções, o terrorismo de Estado, a guerra preventiva, a ameaça permanente, o «torcer o braço» inclusive a aliados... do império decadente dos EUA. Ele revela, pelo constante bullying dos seus rivais e parceiros, que já não tem possibilidade de funcionar como entidade estabilizadora, promotora de um equilíbrio e paz entre as diversas nações... portanto, que é nefasto, dispensável e quanto mais depressa for obrigado a retrair-se para dentro das suas fronteiras nacionais, melhor!!