quinta-feira, 5 de abril de 2018

AS CONTRA-SANÇÕES CHINESAS ÀS AMERICANAS «SÃO A DOER»!

                               

Impressiona a futilidade de impor tarifas punitivas contra a China, numa escalada sem precedentes de guerra comercial dos EUA contra a economia que a fornece de muito o que eles precisam.
A retaliação da China não se fez esperar: subiram as suas taxas alfandegárias para 25%, em produtos  muito críticos para a economia dos EUA: soja, automóveis e produtos químicos. 
O impacto directo destas tarifas sobre estes sectores será grande, sem dúvida nenhuma. Mas o impacto indirecto, ou seja, sobre os mercados bolsistas dos EUA, não é de menosprezar. O efeito sobre os negócios, sobre as empresas e, em última instância, sobre os cidadãos, pela subida mais acentuada da inflação, vai fazer com que os EUA sejam os perdedores desta guerra comercial. 
Para cúmulo, o Yuan tem vindo a aumentar paulatinamente desde a desvalorização em Agosto de 2015 que, na altura, causou um mini-crash bolsista. Num contexto de agravamento de guerra aberta comercial, não se pode ter a mínima dúvida de que a China vai desvalorizar agressivamente o Yuan.

Num contexto geopolítico, não se pode esquecer que a China possui hoje vários parceiros estratégicos, como a Rússia e o Irão,  além de que países ocidentais, como a Alemanha, anseiam melhorar o seu comércio com o gigante asiático. 
Os seus vizinhos asiáticos, alinhados com os EUA no passado (incluindo o Japão e a Coreia do Sul) têm aprofundado laços de amizade e comércio com a China, fazendo ouvidos moucos aos apelos americanos para reforçar o «cerco»: por exemplo, a Coreia do Sul tem a China como primeiro parceiro comercial, 70% do comércio externo é com a China.

Face a tanto desplante e agressividade dos EUA, podemos adoptar dois pontos de vista: 
- ou se trata de uma manobra desesperada para juntar a si o «campo ocidental», mas sem a força e capacidade de pressão que tiveram no passado, 
- ou então, trata-se de conseguir uma transição para o mundo multi-polar, em que os EUA se obrigam a si próprios a viver com as suas capacidades produtivas, visto que as tarifas são uma medida proteccionista, permitindo que as indústrias se desenvolvam internamente ao abrigo dos concorrentes internacionais, permitindo que a capacidade industrial perdida seja restaurada. 

Em todo o caso, o «século americano», iniciado com Bretton Woods em 1944 nos finais da Segunda Guerra Mundial está, senão encerrado, no seu último capítulo.

quarta-feira, 4 de abril de 2018

HEITOR VILLA-LOBOS «SUITE POPULAR BRASILEIRA»

                                         https://www.youtube.com/watch?v=Z2_LDC-WQQ0

                                                    NO VIOLÃO: PABLO DE GIUSTO

Extraído del disco "Música de cámara latinoamericana" (DRA22- 1996) 1) Mazurka-Choro 00:00 2) Schottish-Choro 03:30 3) Valsa-Choro 07:20 4) Gavotta-Choro 12:08 5) Chorinho 17:50

Uma música impossível de classificar, será popular, será erudita? Afinal é música que agrada a todos os ouvidos e, no entanto, não é «fácil», no sentido de ir atrás de estereótipos. 
As composições de Villa-Lobos são pouco conhecidas do público internacional, com excepção das famosas «Bachanias brasileiras».  
Porém, a produção deste compositor brasileiro da primeira metade do século XX tem muitas páginas de um grande nível.
A sua música é afectivamente muito mais próxima do público português, que a música do Norte da Europa dessa mesma época. 
Apesar destas qualidades e do afecto, que naturalmente o público português tem em relação à produção de qualidade vinda do Brasil, poucas vezes se ouvem, em salas de concerto de Portugal, obras deste grande compositor lusófono.

domingo, 1 de abril de 2018

ESPIRITUALIDADE E RELIGIÃO

Numa ocasião, falando com um teólogo protestante, disse-lhe no decorrer da conversa, que afinal só podia haver um entendimento do monoteísmo, a meu ver: sob as mais diversas formas, o Deus a que todas as pessoas prestam culto, é único e sempre o mesmo... mesmo nas religiões politeístas. De outra forma, seria absurdo:  um Deus Cristão, outro Muçulmano, outro Budista, etc.

Eu sei que ele não gostou nada do que eu lhe disse, porque é muito difícil de o contestar, tendo em conta a própria doutrina cristã. Mas, no fundo, ele devia ter uma grande repugnância em aceitar aquela tese, porque imaginava que iria «abrir as portas para o sincretismo».
Ora, de facto, o sincretismo existe, em todas as grandes religiões monoteístas, a judaica, a cristã e a muçulmana. Existe... na sua própria origem. 
Por mais que os teólogos debatam, qualquer das religiões supra-citadas se organizou, surgiu no tempo, a partir de formas de pensamento religioso precedentes. 
Isto parece-me incontroverso, a menos de se aceite acriticamente que o Alcorão foi directamente ditado a Maomé, por Alá; tal como os escritos dos Profetas do Antigo Testamento (directamente inspirados por Deus) ou do Novo Testamento (os apóstolos e os evangelistas recolheram directamente a palavra de Deus em Jesus, ou foram inspirados por Deus nos seus relatos, epístolas...). 
Podem-se constatar numerosos elementos, presentes em muitos textos sagrados das supra-citadas religiões, que fazem referência ou são plágio de textos anteriores. São conhecidas -por exemplo - as descrições, sumérias e babilónicas, do Jardim do Éden.

A apropriação da espiritualidade por religiões codificadas, com seus dogmas e textos sagrados, é uma parte pesada das mesmas e causadora de grande sofrimento.
A espiritualidade não pode ser entendida como tal, apenas e somente na forma e conteúdo apresentados numa determinada religião. A espiritualidade humana está presente como elemento inconfundível, desde antes ou em simultâneo com o próprio surgimento do Homo sapiens. Note-se que se trata de uma escala de tempo da ordem dos 300 mil anos, segundo as avaliações mais recentes sobre o aparecimento dos Homo sapiens. 
As civilizações agrárias e as primeiras manifestações de Estados  organizados e de Religiões codificadas são de menos de 12 mil anos, ou seja, menos de 4% da História da espécie humana, propriamente dita. Os paleo-antropólogos e arqueólogos são muito prudentes ao atribuírem actividades de culto. Eles puseram em evidência claros sinais, não apenas no H. sapiens paleolítico, como até nos Neandertais, que surgiram cerca de 800 mil de anos e se extinguiram há 24 mil anos. 

As pessoas todas, mesmo as que se consideram ateias, são dotadas de espiritualidade. É uma propriedade que não tem que ver directamente com aderir-se, ou não, a uma religião. 
A espiritualidade não confinada a uma dada religião pode ser melhor compreendida e sentida no Animismo e no Xamanismo. Os povos em que estas formas espirituais/religiosas predominam estão gravemente ameaçados, de extinção, de etnocídio. Mesmo as religiões politeístas actuais, Hinduismo, Budismo, etc. com muitos milhões de adeptos, estão em recuo face aos monoteísmos.  Infelizmente, os monoteísmos dominaram politicamente as outras civilizações, cujo substrato era mais aberto à espiritualidade. 
No Taoismo, hoje muito minoritário na China e noutros países orientais, está ausente um modelo ou discurso do que seja Deus. Cada um, no Taoismo, é livre de ter a sua ideia sobre Deus, ou mesmo de omitir a existência de Deus no Universo.
Se «Deus foi feito à medida dos homens», como afirmam os materialistas, também será um facto que ser capaz de conceber, criar, cultivar, uma ideia de Deus é uma atividade muito peculiar do homem, que o distingue de quaisquer outros animais, incluindo das formas antropóides que antecederam, na evolução, o humano propriamente dito. 
A consciência de algo para além do imediato, do físico, tangível e perceptível pelos sentidos limitados, foi um passo muito precoce: está na origem da construção dos artefactos de pedra, mas foi igualmente o que desencadeou o comportamento de enterro ritualizado dos mortos, das pinturas parietais nas cavernas, da pintura ritual dos corpos (os antropólogos identificam em vários sítios de escavações o ocre, o negro, pigmentos vermelhos, etc).   Foi esta forma rudimentar de consciência que permitiu a sobrevivência dos humanos, mamíferos muito fracos, ao fim e ao cabo, face aos leões ou ursos das cavernas, por exemplo. Com efeito, a capacidade de imaginar é que forneceu, desde muito cedo, as «armas conceptuais» que permitiram aos grupos humanos superar os perigos mais diversos.

- A espiritualidade é meramente uma «emanação» da matéria ou a espiritualidade «nela se infunde»? 
- Esta parece-me ser uma discussão estéril. 
O facto insofismável é que este fenómeno existe, é reconhecido como um facto, mesmo por cientistas considerados ateus  e materialistas.
A matéria, sendo apenas uma condensação particular de energia, as formas do materialismo populares no passado estão completamente caducas, apenas destinadas a figurar na História das ideias. Opor «espírito e matéria», deixou simplesmente de fazer qualquer sentido. 
O próprio da ciência é de reformular ou mesmo abolir conceitos e configurações teóricas que se tornaram obsoletos, caducos. Muitos cientistas, naturalmente, têm adoptado uma atitude de grande prudência nestes assuntos, não excluindo nenhuma possibilidade, mas também não deixando que se tome por «ciência» as fantasias de pessoas (talvez bem intencionadas) que procuram novas abordagens do fenómeno do espírito.
Pessoalmente, não tenho nenhuma dificuldade em conceber o Universo pleno de energia radiante e onde esta se corporiza em formas que nós reconhecemos como sendo dotadas de vida...Mas, longe de mim a veleidade de «ter encontrado uma explicação para tudo»!

As crispações sectárias, que ocorrem nos mais diversos quadrantes intelectuais e filosóficos, dificultam o avanço da compreensão dos fenómenos naturais e sociais. Tais sectarismos são a base ou o pretexto para comportamentos de grande violência, o que obriga a que se reflicta no que se diz e sobretudo no como se diz.

sábado, 31 de março de 2018

J. S. BACH: PAIXÃO SEGUNDO S. JOÃO


 Sob o número de catálogo BWV 245, esta Paixão, ou Oratória específica para a época da Semana Santa, é a mais antiga das duas paixões sobreviventes compostas por Bach. Sabe-se que antes desta ele compôs uma outra, dita «de Weimar» (do período em que trabalhou em Weimar), mas considera-se perdida. 
A Paixão segundo S. João foi composta no primeiro ano de Bach como diretor da música de Leipzig. Sua estreia foi a 7 de Abril de 1724, no serviço de vésperas da Sexta-feira Santa.

A presente gravação foi efectuada na catedral de Graz, pelo Concentus Musicus de Viena, dirigido por N. Harnoncourt, em 1985.


                                              

sexta-feira, 30 de março de 2018

A GUERRA DE PROPAGANDA ANTECEDE A GUERRA A QUENTE

                   
                   o efeito da propaganda

Manter-se teimosamente em estado de denegação, recusar olhar o mundo tal como ele é, consiste na mais infantil e mais perigosa reacção a uma situação de perigo iminente:
Desde o Irão, hoje... até à propaganda anti-Rússia, construída peça por peça, como se pode comprovar no excelente artigo de «The Moon of Alabama»... Mas, passa também pelo miserável conluio da «democratíssima» UE, da «exemplar» Alemanha de Merkel, que pretende entregar Puigdemont  à vingança do governo e dos tribunais políticos espanhóis (que mantêm presos políticos catalães). Julian Assange foi silenciado por causa desta situação, pelo governo do Equador... pressionado por governos mais poderosos. 

                     A marcha pelo retorno, que mobiliza palestinianos durante 6 dias

Dá-me a impressão (oxalá me engane, mas temo que seja bem real) que as elites que dominam as corporações gigantes e governos do «Ocidente» estão à procura de casus belli, ou seja, daqueles pretextos, fabricados em geral, que permitem uma nação declarar-se «vítima» de agressão de outra, justificando assim um ataque «em resposta» a tal suposta agressão.

A indiferença da cidadania é a força dos poderosos: quem se recusa participar na urgente campanha pela paz, pela liberdade dos povos, pela não ingerência... está simplesmente a virar a cara.