TEMPO DE AMOR (SAMBA DO VELOSO)
Vinicius de Moraes, Baden Powell
Ah, bem melhor seriaPoder viver em pazSem ter que sofrerSem ter que chorarSem ter que quererSem ter que se darMas tem que sofrer
Mas tem que chorar
Mas tem que querer
Pra poder amar
Ah, mundo enganador
Ah, não quer mais dizer amor
Ah, não existe coisa mais triste que ter paz
E se arrepender, e se conformar
E se proteger de um amor a mais
O tempo de amor
É tempo de dor
O tempo de paz
Não faz nem desfaz
Ah, que não seja meuO mundo onde o amor morreu
sexta-feira, 11 de agosto de 2023
REPÚBLICA DOS POETAS nº6: VINÍCIUS DE MORAES & O TROPICALISMO
sexta-feira, 4 de agosto de 2023
REPÚBLICA DOS POETAS Nº5: FERNANDO PESSOA
XXI - Se eu pudesse trincar a terra toda
XXI
Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
E se a terra fosse uma coisa para trincar
Seria mais feliz um momento...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural...
Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva...
O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja...
“O Guardador de Rebanhos”. Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. (Nota explicativa e notas de João Gaspar Simões e Luís de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946.
- 45.-------------
1) Abaixo, algumas publicações do blog onde são referidas obras de Fernando Pessoa:
https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/11/fernando-pessoa-poemas-de-albeerto.html
https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2021/06/lautreamont-arthur-rimbaud-fernando.html
https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2021/06/dois-poemas-de-fernando-pessoa.html
https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2017/01/cafe-literario-com-fernando-pessoa-e.html
https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2017/01/fernando-pessoa-entrevista-fab.html
https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2016/08/segue-o-teu-destino-ricardo-reis.html
https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2016/08/a-espantosa-realidade-das-cousas.html
https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2016/08/mario-viegas-diz-tabacaria-de-alvaro-de.html
PS1: Veja/oiça «Liberdade» poema de Fernando Pessoa, declamado por João Villaret que sabe tão bem insinuar a conotação de ironia...
quarta-feira, 19 de julho de 2023
REPÚBLICA DOS POETAS nº2 . José Gomes Ferreira
José Gomes Ferreira, poeta militante, num misto de poesia lírica e heroica, adota o tom perfeito para nos falar ao ouvido, como o faria nosso avô...
Sim, tudo isto e muito mais, se poderia dizer e disse, porventura, nas homenagens ao poeta... depois de morto. Pela minha parte, lembro-me, adolescente, do maravilhamento ao ouvir discos vinil da Philips, com as gravações de poesias ditas pelo próprio poeta.
Sem dúvida, houve compositores célebres e talentosos que musicaram alguns dos seus poemas, por exemplo, Manuel Freire ou Fernando Lopes Graça. Eles puseram o seu talento ao serviço de uma palavra que nos soava como profética, aos adolescentes dos anos 60. Num certo sentido, a profecia realizou-se e ... foi traída, como todas as utopias (que literalmente querem dizer «sem lugar onde»).
Ele, José Gomes Ferreira e a sua obra, serão sempre membros ilustres da República dos Poetas. A propósito, descobri - há muitos anos - que o melhor método para as «autoridades» se verem livres de autores, artistas, ou outros personagens incómodos é erigirem-lhe estátuas, darem-lhes nomes de ruas, etc. , mas claro, depois de mortos e sem divulgação da sua obra junto da juventude.
Felizmente, para mim e pra outros gatos vadios, a poesia verdadeira não se vende, não se promove com reuniões de socialites, não entra em círculos snobs ou em feiras de mau gosto televisivo...
A poesia dá-se.
Querem a prova do que acabo de dizer?
BALADA DUMA HEROÍNA QUE EU INVENTEI - poema de José Gomes Ferreira
Vais morrer com a saia rota,
sem flores nos cabelos...
— Mas isso que importa
se depois de morta
ate as mãos da terra
hão-de florescê-los?
Vais morrer de blusa no fio,
sem laços nas tranças...
— Mas isso que importa
se depois de morta
até as mãos do Frio
penteiam as crianças?
Vais morrer espantada na rua,
sem fitas nos caracóis...
— Mas isso que importa
se depois de morta
até as mãos da lua
enfeitam os heróis?
Vais morrer a cantar numa esquina,
de sapatos velhos...
— Mas isso que importa
se depois de morta
continuarás a ser a menina
que nunca teve espelhos?
Vais morrer com olhos de águia presa
e meias de algodão...
— Mas isso que importa
se depois de morta
a tua beleza
não caberá num caixão.
E há-de rasgar a terra
e romper o chão
como uma primavera
de lágrimas acesa
que os homens atiram, em vão,
para a natureza?
(in Poeta Militante, 1º. Volume, Moraes Editora)
https://www.youtube.com/watch?v=asx4B3hueK4
Dulcineia, Dulcineia,
volte ao que era:
uma plebeia
sem primavera
Volte aos redis,
coberta de chagas
— sem espuma em gomis
nem brilho de adagas.
Volte ao que foi,
pois ainda conserva
um cheirinho a boi,
um cheirinho a erva…
Volte a apanhar pinhas
e bosta para os fornos.
E a tanger cabrinhas
com flores nos cornos.
Volte a andar de gatas
como os outros bichos…
E esqueça as serenatas
aos seus caprichos.
Esqueça o castelo
onde os donzéis
se batiam em duelo
à século XVI…
E volte à aldeia
da sua labuta.
Dulcineia, Dulcineia,
deixe de ser Ideia
e torne-se a carne e a alma
da nova luta.
(de A Morte de D. Quixote, in Poeta Militante / Viagem do Século Vinte em Mim – 1º volume, Moraes editores, 1977 – Círculo de Poesia)
Acordai, homens que dormis
a embalar a dor nos silêncios vis!
Vinde no clamor das almas viris,
arrancar a flor que dorme na raiz!
Acordai, raios e tufões
que dormis no ar e nas multidões!
Vinde incendiar de astros e canções
as pedras e o mar, o mundo e os corações…
acendei, as almas e de sois
este mar sem cais, nem luz de faróis!
E acordai, depois das lutas finais,
os nossos heróis que dormem nos covais.