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terça-feira, 16 de janeiro de 2018

ANTÓNIO FRAGOSO (e a grande pandemia de gripe 1918)

                   

https://www.youtube.com/watch?v=iEef1UTWcXE&index=2&list=RDYgld9vGIhvk


António Fragoso é um quase desconhecido em Portugal, fora dos círculos de melómanos. Embora tenha sido um jovem talentoso e reconhecido como tal, a sua morte precoce (aos 21 anos), impediu que o seu talento desse fruto mais abundante.
Ele morreu da grande epidemia de gripe de 1918, ao mesmo tempo que vários membros da sua família. 
Esta gripe pandémica de 1918 causou cerca de 20 milhões de mortes. O vírus responsável foi originado por uma mutação virulenta a partir de estirpe(s) pré-existente(s). As pessoas não estavam imunizadas para esta estirpe nova e morreram em maior número que os mortos directos da 1ª Guerra Mundial. 
Ficou esta gripe conhecida como «pneumónica» porque atacava os pulmões com particular virulência, ou como «espanhola», não por ter vindo de Espanha, mas porque em Espanha, pais neutral, ela foi noticiada pela primeira vez; em Espanha a censura das notícias não existia, ao contrário da França e de outros países em guerra. Talvez esta estirpe (H1N1) se tenha tornado mais virulenta nas trincheiras da primeira guerra mundial. 
De qualquer maneira, o seu efeito foi tão devastador, especialmente nas camadas mais jovens das populações, que o défice demográfico, causado tanto pela 1ª Guerra como pela gripe «espanhola», se fez sentir durante várias décadas.

O jovem Fragoso esteve, desde cedo, envolvido com o que havia de melhor na música da época, quando frequentou com brilhantismo o Conservatório Nacional. 
As suas composições reflectem uma influência do romantismo tardio, mas não se deixa encerrar nessa estética.
Em várias peças, nomeadamente nalguns Prelúdios aqui reproduzidos, compreendemos que o jovem músico tinha conhecimento da produção de Debussy, Ravel, Fauré e doutros contemporâneos. 
A sua originalidade revela-se no cunho pessoal da sua escrita musical, que vai muito além das várias influências recebidas, na criação do seu próprio estilo.

Pessoalmente, agradam-me especialmente estes Sete Prelúdios; mas, as restantes obras que deixou são igualmente valiosas e interessantes. Nelas, ele explora as harmonias vagas e indefinidas do que, mais tarde, se viria a designar por «impressionismo musical». 




As poesias parnassianas e impressionistas de um Pessanha, conjugam-se perfeitamente com a atmosfera nostálgica, de emoção contida, das composições de António Fragoso. 
Ambos (o compositor e o poeta) pertencem à mesma cultura, que viu nascer o Movimento Modernista português, com Fernando Pessoa, Almada Negreiros, Mário de Sá Carneiro e outros.