Porque razão os bancos centrais asiáticos estão a comprar toneladas de ouro? - Não é ouro em si mesmo que lhes importa neste momento, mas é a forma mais expedita de se livrarem de US dollars!!
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quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

NÃO ESCOLHO EFEMÉRIDES POR FASTIO...


Pessoa vive, na singela representação e dicção do saudoso Mário Viegas.

Pessoa vive, passado um século, com todo o seu cortejo de heterónimos, semi-heterónimos e até os vários Pessoa ortónimos, o nosso poeta mais cosmopolita e mais português, mais espontâneo e mais reflectido, a contradição encarnando a não-materialidade da poesia, a espiritualidade da Natureza, a Divindade do Verbo. 
Gostava que Pessoa descesse em 2017, numa manhã brumosa, à Baixa que ele conhecia como a palma da sua mão, e nos viesse fazer afinal o retrato deste povo sonhado antes que vivido, sempre pronto para partir, e sempre saudoso de ter partido...

Escrevi esta homenagem em 1985, ano em que houve um congresso internacional pessoano, que significou a consagração na Europa e no Mundo de um poeta português e universal. A minha homenagem, nesse tempo ou hoje, é a de um menino que deposita um ramo de flores campestres (açucenas?) aos pés da estátua de bronze.



                                   SINAIS*
     HOMENAGEM A FERNANDO PESSOA   
                  
 (* texto inédito, in ESTÓRIAS DE ESTAR E DE SER- 1985)  

Os sinos da tua aldeia do Largo de S. Carlos ouviam-se e não te restava outro remédio senão o de escrever.

-          O corpo complexo esvai-se de raiva quando o fogo retira o canto


-          O segredo não se resolve na poça em torno do menino deitado... Sabe-se lá se dormindo ou sonhando, pois seus olhos vazios azuis fitam o azul.

-          Não queria tornar a descer o rio do silêncio e, por isso, todas as portas cercadas de palmas eram refúgio ou ancoradoiro do vapor da Real Companhia Britânica.

-          E... porém há sempre uma esperança feita de estrelas, coroando a fronte de Ti em odes mordidas e rasgadas no ventre

-          Não guardei rancor às ovelhas que desciam o monte em manhãs de neblina ...
... Os cais socorriam o meu andar funâmbulo como se fossem ignorantes do morticínio das baleias

-          Há sempre um além .. o que não fica inscrito no momento ... o que sonhamos para nunca atingir ... o que pesa, soturno, os contornos de Aurora.

-          “Bum! Truz! Catrapuz!”
“Sou eu, o Gigante Adamastor! Sou eu, o Novo redentor da Pátria!
Hei de varrer as cobardias que enlutam as Quinas da Bandeira, ó única mortalha virginal!
Fujam aves de bico longo! Fujam!
Deixem-me mover a rápida locomotiva em perseguição do Século!

-          “Deixei o tabaco sobre a mesa, repare, não tanto por esquecimento, mas antes
      como marca ou sinal do fumo que me contém!”

....

E, todavia …

                 “I know not what tomorrow will bring” (**)

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(**últimas palavras de Fernando Pessoa, no leito de morte...)