terça-feira, 4 de novembro de 2025

MARWAN BARGHOUTI RESISTE NAS PRISÕES DE ISRAEL

 Transcrevo artigo de Medea Benjamin

Marwan Barghouti

The World Must Demand the Release Of Palestinian Leader Marwan Barghouti

Guest post


Marwan Barghout is led to a police vehicle 29 September 2003 on his way back to jail, after appearing before a Tel Aviv court. Photo credit: Tal Cohen

For more than two decades, Marwan Barghouti has sat behind Israeli bars—a living emblem of a brutal occupation that has denied Palestinians their freedom and dignity. His continued imprisonment is not merely unjust; it silences the one leader most capable of uniting the Palestinian people and leading them toward a political solution. Polls over many years show he is the most popular Palestinian political figure, trusted across factions and generations—even by many who have lost faith in politics. Releasing him is not a concession. It is a prerequisite for peace.

When the Second Intifada (uprising) began in 2000, Barghouti was a prominent member of Fatah, the Palestinian political faction that dominates the Palestinian Authority (PA), which governs limited parts of the occupied West Bank. He was also an elected parliamentarian. He was arrested by Israeli forces on April 15, 2002, and in 2004 an Israeli court convicted him and sentenced him to five life terms plus 40 years, accusing him of involvement in attacks that killed Israelis. Barghouti denied the charges, refused to recognize the court’s legitimacy, and declared himself a political prisoner under occupation.

Independent observers, including the Inter-Parliamentary Union, later found that the proceedings failed to meet international fair-trial standards and bore the marks of political persecution.

Barghouti’s case is inseparable from the larger machinery of occupation: like thousands of other Palestinian prisoners, he has endured brutal and degrading treatment, including torture, solitary confinement, and denial of adequate medical care. Israeli authorities are obligated under international law to ensure due process, humane treatment, and access to counsel and healthcare—obligations they routinely violate.

[The case of Marwan Barghouti] is inseparable from the larger machinery of occupation: like thousands of other Palestinian prisoners, he has endured brutal and degrading treatment, including torture, solitary confinement, and denial of adequate medical care.

Throughout his imprisonment, Barghouti has supported a principled stance: he rejects attacks on civilians and defends the right of a people living under military occupation to resist within international law. He has long advocated for negotiations grounded in equality and self-determination. That combination makes him uniquely capable of serving as a key mediator.

It is precisely this credibility that Israel fears. As his son Arab Barghouti said, “Israel sees my father as a danger because of his ability to bring Palestinians together.” Keeping him locked away serves two aims for Israel: decapitating credible Palestinian leadership and perpetuating the fiction that “there is no partner for peace.”

His family fears for his life, with witness reports that he was severely beaten by guards in September. That fear increased on 15 August 2025, when Israeli Minister Itamar Ben Gvir released a video in which he personally threatened Barghouti inside his prison cell.

The family has repeatedly asked Israel to allow international lawyers and the International Committee of the Red Cross to visit him, but their requests have been denied.

There was hope that Barghouti would be released as part of the recent Gaza ceasefire agreement between Israel and Hamas, and Trump said he was considering pressing Israel for his release, but Israel refused.

For years, world leaders have championed his cause. In 2013, Former President Jimmy Carter, Archbishop Emeritus Desmond Tutu, and other prominent world leaders and Nobel Peace Laureates called for his release. More recently, UN Special Rapporteur Francesca Albanese said, “Anyone serious about ‘peace’ should ensure his release, as the most popular—and unlawfully detained—Palestinian leader.” On October 29, a group of global leaders called The Elders, which was started by Nelson Mandela in 2007, called on President Trump to demand Barghouti’s release, “capitalising on the opportunity opened up by the fragile ceasefire deal in Gaza.”

Even senior Israeli security figures, including former Shin Bet director Ari Ayalon, have acknowledged that if Israel truly wants a partner who can deliver the Palestinian public to an agreement, Barghouti is the one leader with the legitimacy to do it.

But perhaps the most interesting recent advocate is Ronald Lauder, president of the World Jewish Congress, who–behind the scenes–lobbied for Barghouti as a gesture to the Arab countries pushing for his release.

Barghouti’s popularity as a uniting figure is why so many Palestinians call him their Nelson Mandela. Mandela’s release did not solve South Africa’s problems overnight, but it unlocked a door that had been nailed shut. Barghouti’s freedom could do the same.

If Israel truly seeks peace, it must stop locking away the very leadership capable of achieving it. If the international community truly stands for human rights, it must raise the political cost of Barghouti’s continued detention.

A guest post by
Medea Benjamin
Cofounder of peace group CODEPINK. Author. Peace activist. Wannabe salsa dancer :)

segunda-feira, 3 de novembro de 2025

PSICÓLOGO EVOLUCIONISTA ANALISA «A Empatia Suicidária» e «A Mente Parasitada»

 


Para ver a entrevista, clicar no link abaixo:

https://glenndiesen.substack.com/p/gad-saad-the-parasitic-mind-how-bad


O Dr. Saad  é um académico do «Declaration of Independence Center for the Study of American Freedom at the University of Mississippi». É autor de muitos livros, incluindo «A Mente Parasitada» e o seu novo livro, «A Empatia Suicidária».

The Parasitic Mind:

https://www.amazon.com/Parasitic-Mind-Infectious-Killing-Common/dp/162157959X


Books by Prof. Glenn Diesen:


https://www.amazon.com/stores/author/B09FPQ4MDL

sábado, 1 de novembro de 2025

O NOVO SISTEMA OPERATIVO DO OCIDENTE GLOBAL [CRÓNICA DA IIIªGUERRA MUNDIAL, Nº51]


 


Estamos todos inseridos, quer queiramos, quer não; quer o saibamos, quer não, na NOVA  matriz que define ao nível estratégico a condução desta IIIº Guerra Mundial. 

Esta nova estratégia, vai transparecendo em reflexões e artigos teóricos, produzidos no âmbito da OTAN e das diversas academias militares de países do Ocidente. 

Desde 2016, que tenho acompanhado esta mudança não somente semântica, mas também substancial. Uma destas mudanças, consiste em colocar como recipientes da guerra psicológica, a população em geral. Não somente os combatentes inimigos; também são alvos desta guerra psicológicas populações civis dos países hostis (embora sem se estar em guerra formal com muitos deles), mas também a população dos países «amigos» e as populações do núcleo central do Império.

 Com efeito, temos vivido todos debaixo de campanhas sucessivas, massivas e permanentes de propaganda. 

No início do novo milénio, as campanhas destinavam-se a nos convencer que tínhamos de sacrificar as liberdades para combater o «terrorismo». Pouco depois, em 2020, tratava-se de fazer guerra a um vírus, uma epidemia que foi pretexto para operações financeiras muito lucrativas para a oligarquia. Foi com condicionamento massivo que forçaram a população a tomar «vacinas» que, de facto, eram não-testadas em ensaios clínicos prévios. Pouco tempo depois e até hoje, a média ocidental dedicou-se a diabolizar a Rússia e Putin, como se a intervenção russa na Ucrânia iniciada em Fevereiro de 2022, fosse uma decisão caprichosa  («sem provocação»!) dum dirigente autoritário; como se esta não tivesse sido antecedida por inúmeras provocações; entre outras, a postulada adesão à OTAN do regime neo-nazi, de Kiev, furiosamente anti-russo!

A continuação desta deriva em direção à guerra total, fez-se  com a encenação de 7 de Outubro de 2023 em Gaza. Hoje, está provado que a operação tinha sido «permitida»* pelo governo de Netanyahu: 

- As comunicações internas do Hamas e da população da Faixa de Gaza eram constantemente interceptadas e monitorizadas

- Os serviços de segurança do Egipto enviaram alertas muito sérios e detalhados da preparação de algo no referido Território. 

- A somar a estes factos, houve uma retirada de muitas tropas israelitas, que faziam o cerco a Gaza, alguns dias antes da referida sortida de 07-10-2023.

A campanha mediática governamental, imediatamente a seguir, foi construída com base em falsidades enormes, óbvias, fabricadas para horrorizar a opinião pública mundial, com o objectivo desta se dessolidarizar da população de Gaza, perante a campanha de «limpeza étnica» e de genocídio que imediatamente foi lançada. A mentira maior de todas é de que a operação da resistência palestiniana apanhou de surpresa as autoridades civis e militares israelitas. 

Procurei dar conta disto em muitos artigos deste blog, apontando as efabulações e explicando como as coisas realmente se passaram. Lembremos, entre outras, as declarações dos altos responsáveis de Israel: 

- O ministro da defesa de Israel (Galant) disse que todas as pessoas em Gaza «eram do Hamas», como pseudo-justificação do morticínio indiscriminado, 

- Netanyahu usou citações do Antigo Testamento para «justificar» a erradicação total dum povo.

 Declarações tão cínicas, no príncípio da campanha de genocídio em Gaza, deveriam ter feito reagir, no Ocidente, os defensores dos direitos humanos. Porém, muitos calaram-se, por cobardia ou porque terão aceite «argumentos» sionistas, para «justificar» a barbárie.

Todas as ações dirigidas contra civis inocentes, num contexto de guerra, são violações dos Direitos Humanos. Quando são toleradas por certos governos, é a própria arquitetura dos Direitos Humanos da ONU, que eles estão a pôr em causa. Porém, qualquer país aderente à ONU é suposto respeitar e fazer respeitar esses mesmos Direitos. Os Estados que se apresentavam como os grandes defensores dos Direitos Humanos, têm desrespeitado - por ação ou omissão - a substância dos referidos Direitos de forma mais notória, em relação à população palestiniana dos Territórios Ocupados por Israel.

Um outro exemplo recente: Os EUA e seus dirigentes preparam uma invasão da Venezuela, colocando uma esquadra e meios aéreos nas Caraíbas. Esta é «justificada» com a pretensa participação do presidente Maduro no tráfico de droga, dirigido às costas dos EUA. Tal acusação é desmentida por muitas entidades, incluindo agências especializadas no combate ao tráfico de estupefacientes. No entanto, a marinha dos EUA tem atacado lanchas, matando os seus tripulantes, supostamente por estas transportarem cocaína para a Flórida. Acontece que...

 (a) tais lanchas nunca poderiam alcançar as costas da Flórida, pois teriam de encher várias vezes os depósitos de combustível, para lá chegar.

(b) os tripulantes não foram minimamente identificados,

(c) são execuções extra-judiciais, em águas internacionais e com base em suposições vagas. 

Tudo isto para desencadear uma reação do governo da Venezuela, que serviria como pretexto para uma invasão pelos EUA. 

O pano de fundo, todos o conhecem: É a estratégia imperial dos EUA e ao serviço das grandes empresas de petróleo, para controlar, acaparar e explorar os recursos energéticos da Venezuela. Este país possui a maior reserva terrestre comprovada de combustíveis fósseis.


A guerra psicológica destina-se sobretudo às pessoas comuns, tanto dos países «a conquistar»**, como dos países-sede do Império. Nestes, a mídia de massas é especializada na lavagem ao cérebro.

As pessoas, sujeitas a campanhas permanentes de condicionamento, acabam por não distinguir os factos, da propaganda. Muitas ficam aterradas ou dessensibilizadas e incapazes de reagir. Não conseguem defender o que têm de mais valioso - a própria vida e a dos seus filhos. 

Os serviços de guerra psicológica conseguem estes resultados através da combinação de meios, recorrendo ao medo, à ignorância, ao black-out informativo, à desinformação, à alienação, etc.

Este comportamento não é exclusivo das agências, governos e instituições ocidentais. Porém, têm sido estes que têm levado a cabo a guerra psicológica aos maiores extremos. Combinam estas operações psicológicas  com a guerra cinética, de desgaste ou de baixa intensidade e - por vezes - de agressão brutal, para submeter países que não se vergaram ao seu domínio. 

Muitos países pequenos, que não constituem ameaça para o Ocidente, também estão sujeitos a ataques desestabilizadores: Geralmente, são países que se libertaram do jugo neocolonial. Esta dependência neocolonial fazia com que um país africano, rico em minério de urânio, recebesse apenas cêntimos por cada quilo de urânio extraído das suas minas, por exemplo. Outro, era forçado a aceitar a presença no seu território de forças militares das ex-potências coloniais, sob pretexto de combater o «terrorismo islamista». Na realidade, elas estavam lá para defender as empresas, fábricas, minas, etc. dos referidos antigos poderes coloniais. 

As pessoas, nos países-sede do Império,  estão a começar a acordar. A viragem para o militarismo, nestes países (EUA, Reino Unido, países da UE e da OTAN) é feita com o pretexto de combater a superioridade da tecnologia bélica dos seus adversários (China e Rússia, sobretudo). Mas, este rearmamento é realizado à custa da destruição das condições de vida das classes laboriosas dos países europeus, através da redução drástica dos financiamentos da Segurança Social, dos Serviços de Saúde Pública, da Educação Pública, etc. Os governos, prevendo a possibilidade de revoltas, reforçam as forças policiais, tanto em efetivos, como equipamentos. Estas forças têm «luz-verde» para usar toda a brutalidade para coagir, prender e maltratar os manifestantes.

Agora, os governos do Ocidente estão apostados em se equiparem com múltiplos instrumentos de vigilância e controlo permanentes. O foco principal dos sistemas digitais de IA incide sobre o comportamento «previsível», ou seja, de «prevenção de crimes»... Mas, para os governantes, será considerado crime «o não-respeito pela autoridade». 

As pessoas, individual e coletivamente, SERÃO O INIMIGO a  controlar e reprimir quando necessário, tanto nos países centrais do Império, como nos periféricos. 


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*) Foi mesmo desejada como um «Novo Pearl Harbour»

**) Veja-se, de novo, a Venezuela (durante mais de um quarto de século), com apoio dos EUA aos oponentes, financiados com milhões de dólares e apoio de agentes da CIA.




RELACIONADO:



Weaponizing Time – Part II: The Global Operating System of Western Power



Transnational Elites Are Engineering World War 3 | Nel Bonilla






PS1: Considere-se que, no intervalo entre as duas Guerras Mundiais (de 1918 a 1939), houve imensas guerras parciais, revoluções, guerras civis, golpes de Estado, de tal maneira que estes vinte anos foram tudo menos pacíficos....

Também é lícito considerar que, após a Guerra Fria que terminou em 1991, com a implosão da URSS, não tivemos um período de paz verdadeira: Pensem nas guerras do Iraque, da ex- Jugoslávia , nas invasões do Líbano por Israel, nas guerras étnicas em África que levaram a genocídios, Rwanda, Darfur, etc...

A partir de 2001, no novo milénio, sucedem-se as guerras desencadeadas pelo poder imperial americano, Somália, Afeganistão, Iraque, Líbia, Ucrânia, Síria,Gaza, Irão... Em todas elas se nota que não existe um fim, apenas se deixou de falar nelas na comunição social "mainstream": Elas continuaram a ser mortíferas e a produzir destruição de infraestruturas, sendo a causa das ondas de refugiados, etc.

Podemos considerar que - após o final da «Guerra Fria» e até hoje - nunca deixaram de existir focos de tensão, guerras locais e regionais, causando sofrimento para as populações e impedindo que os países atingidos arrancassem para o desenvolvimento. Estamos, desde 1991, no que eu designo como a «Época da Guerra Híbrida». Penso que deve ser vista como uma modalidade de Guerra Mundial (da IIIª).

As partes em conflito, são (esquematicamente) por um lado, o mundo ocidental, encabeçado pelos EUA e por outro, grandes atores globais (China, Rússia e outros), aos quais se agregam países produtores de matérias-primas. Esta partição não é linear, nem estática. Além disso, os focos de instabilidade e conflito estão espalhados por todos os continentes.

O Império luta para conservar a sua hegemonia; as outras potências procuram uma multipolaridade que possa dar-lhes assento «à mesa dos grandes».

Se os «radicais» dum lado e doutro prevalecerem, podemos passar da fase de Guerra Híbrida, à fase de Guerra de Destruição Final. A probabilidade de ser desencadeada uma guerra nuclear é bem maior do que muitas pessoas pensam. Este risco tem vindo a aumentar, perigosamente. Os líderes dos países ocidentais não parecem dar-se conta da seriedade dos riscos. Eles têm causado a sistemática destruição de acordos e tratados, firmados pela ex-URSS e seus aliados com os EUA e os seus aliados da OTAN. Os referidos tratados procuravam assegurar que uma guerra nuclear não fosse desencadeada, por um ou outro lado. Um cenário que se tem considerado agora muito mais provável, é o da guerra «por engano», ou «não desejada por qualquer dos lados». Se os canais de diálogo e da diplomacia não existirem ou não estiverem capazes de funcionar eficazmente, poderão não se desfazer os equívocos. Uma guerra nuclear pode acontecer !












Prosa poética - "NOVEMBRO" + "ATMOSFERA"



1-Novembro


... Quando as folhas caídas do Outono , sussurantes aos nossos passos, formam um tapete castanho-dourado, cobrindo a terra dum manto protetor das geadas invernais. 
É este o mês do negrume e melancolia que me invadem, sem que eu possa evitá-lo. 
Meu espírito, em consonância com o Cosmos, retira-se para dentro do seu envólucro corpóreo. O espírito também se recolhe ao abrigo da casa, perto da lareira.

Novembro chega-me com pensamentos que eu gostaria de domar, mas são eles que me invadem, me dominam e me sufocam.
 Saberei algum dia fazer com os sentimentos o trabalho do alquimista? Quanto mais se possui de chumbo no cérebro, mais se desejam asas de andorinha!

Na contemplação da Natureza concentro todo o meu ser. Minhas fibras - como arcos tensos - projetam-me para fora, para a realidade do mundo. 
Posso olhar, sereno, o mar revolto. Sei que é uma justa metáfora da vida: As ondas te empurram, queiras ou não, no esquife do teu ser; tens de tragar muita água salgada durante o percurso caótico; acabas por ser lançado à praia da vida, a Vida nunca antes vivida, nem sonhada.




2- Atmosfera


Choveu e o ar ficou mais leve! Mais fresco! As nuvens caprichosas desfilam sobre o telhado, a prometer mais chuva. Todas as plantas do jardim se regozijam da abundância e espairecem as folhas sob um tímido raio de sol.

Aprecio este céu mutável, ora trazendo chuva, ora apenas sua promessa não cumprida. As paisagens animam-se em dias assim; não apenas a cor do céu se veste de inúmeros tons de cinzento, também a luz, que ilumina o casario e os campos, faz sobressair as suas verdadeiras tonalidades.

Quando o sol de Verão nos ilumina com seus implacáveis raios, tudo ele desvenda, mas nos satura, também. As cores reverberam; não nos cegam, mas recortam brutalmente a paisagem, em luz e sombra. Agora, na estação das chuvas, o próprio ar vibra com as moléculas de água que se agitam, os pingos irisados que refletem e a névoa que recobre de seus farrapos montes e vales.

A superfície do solo também fica com cores mais variadas, já não o cinzento-amarelo do pó no Verão; Agora, destacam-se as cores: Os castanhos profundos, os verdes translúcidos, os salpicos de amarelo e os reflexos multicolores das poças, refletindo o céu.

Gosto de passear com a minha cadela por bosques e campos, nestas ocasiões. Ela tem a alegria de descobrir novos odores e aromas, tão intensos para ela, como as cores o são para nós.

Nestas caminhadas não perturbamos a ordem natural, estamos inseridos nela, estamos na «catedral». Com respeito, visitamos seus inúmeros recantos. Trazemos de volta para casa uma renovada colheita de sensações, sem retirar nada, sem perturbar nada.



sexta-feira, 31 de outubro de 2025

Ascensão do nacionalismo na ex- Jugoslávia e no Mundo







A entrevista de Pascal Lottaz ao Prof. Zlatko Hadžidedić é particularmente esclarecedora.
Ela permite-nos colocar em perspectiva o reativar dos nacionalismos, no contexto dum capitalismo globalizado. Para o autor, é a própria sobrevivência do capitalismo - na sua forma contemporânea de híper-capitalismo - que está em jogo.
Para este Professor, o capitalismo contemporâneo socorre-se da narrativa identitária do nacionalismo para sobreviver, visto que as contradições que ele engendra são de tal maneira que, sem a «cola social» do nacionalismo autoritário, estas sociedades entrariam em crise terminal e se desmembrariam.

Referências:

quarta-feira, 29 de outubro de 2025

PODER HIERÁRQUICO E BOM SENSO FUNDAMENTAL


 A humanidade tem progredido - sobretudo - em complexidade material, quer dizer, através de tecnologias cada vez mais sofisticadas. Porém, existe também a complexidade organizacional, que não é realmente explorada como deveria ser, apesar dos muitos críticos da «burocracia». 

É a complexidade organizacional que implica uma hierarquia das relações ou, pelo contrário, uma hierarquia das relações que implica uma complexidade organizacional? 

 -Esta questão deve ser desmembrada para se extrair daí uma nova maneira de ver o problema: 

-Muitas pessoas pensam a complexidade segundo níveis hierárquicos. Dirão que essa hierarquia é «natural», que ela é observada em todas as sociedades humanas e que se observa também na natureza, nas sociedades animais. 

Esta forma de encarar a complexidade não tem em conta que - por norma - as estruturas do mesmo nível de complexidade se organizam de forma «não-hierárquica»: uma colónia de seres unicelulares, é constituída por muitos  milhares ou milhões de indivíduos, cada um deles capaz de vida independente. Um tecido, num organismo animal ou vegetal, é formado por células idênticas na sua função, às quais se somam, frequentemente, células especializadas. No tecido animal ou vegetal, a função é desempenhada por este todo. De tal maneira esta função coletiva é de importância primordial, que existem em reserva células não-especializadas, embrionárias (células-tronco) que se poderão diferenciar e substituir as células danificadas, no conjunto das células tissulares.  

Portanto, contrariamente à visão estrictamente hierárquica, no nível  mais baixo de funcionamento dos sistemas complexos, devemos antes ver que tais seres complexos são organismos, isto é, uma federação de células, umas idênticas, outras  diferenciadas, mas todas desempenhando a(s) função(ões) conjuntamente.

E ao nível de conjuntos de indivíduos, ao nível das populações? 

- Embora uma versão ideológica, ultra-simplificada do darwinismo (a vulgata «neoliberal») nos tenha induzido a ver como predominantes as relações de competição entre os indivíduos, o facto é que a estabilidade dos grupos, das populações, depende da cooperação muito enraízada, ao ponto de se considerar que alguns dos comportamentos cooperativos observados são transmitidos pelos genes e não pela aprendizagem. 

Além das relações intra-específicas, existem muitas outras que se estabelecem de forma estável, ou transitória, entre seres de espécie diferente. As relações de simbiose potenciam as capacidades de seres de duas espécies diferentes, ao ponto da vida (ou a reprodução) dum dos simbiontes ser inviável, sem a colaboração do outro simbionte. Por exemplo, há espécies de plantas que têm uma anatomia da flor tal que apenas uma espécie de insecto consegue alcançar o néctar e carregar (ou descarregar) o pólen para fertilizar a planta; se desaparece o insecto, a planta rapidamente desaparece também, visto que não se pode mais reproduzir; se for a planta a desaparecer primeiro, a tal espécie de insecto desaparece logo de seguida visto que, não havendo a espécie vegetal, o insecto morre, não consegue adaptar-se instantaneamente a nenhuma outra espécie.

As interações entre plantas, animais e  microorganismos são de grande importância nos ecossistemas. Um ecossistema pode entrar em desequilibrio e acabar por ser destruído, apenas pela remoção de uma ou muito poucas de suas espécies. Com efeito, é o que se tem observado em situações onde a floresta (ecossistema complexo) é substituída por plantações; mesmo que permaneçam alguns restos da floresta original na periferia, ou «ilhéus» da mesma, no meio das terras cultivadas. Como tais restos de floresta deixaram de ter a sua capacidade auto-reprodutora, as diferentes espécies ou desaparecem ou diminuem rapidamente. Surgem então as espécies oportunistas, que tomam o lugar. Elas, muitas vezes, são pragas que fazem diminuir o rendimento das explorações.

Estes exemplos acima mostram como as relações naturais são de complexidade muito maior, do que imaginadas pelos humanos, ao longo da História. O ser humano tem sido frequentemente perturbador dos delicados equilíbrios naturais. Os cientistas do ambiente têm experimentado recuperar ecossistemas, devolvendo-os ao seu estado primitivo, em diversidade de espécies e em produtividade de biomassa. Infelizmente, têm tido muitos fracassos e poucos sucessos.

Os jogos de poder nas sociedades humanas são, por vezes, equiparados aos atos de predação de animais no estado selvagem. Este tipo de comparação não tem nada de científico;  mostra a ignorância de quem usa estes exemplos («o leão e a gazela», etc...). Com efeito, a predação é um processo complexo de interação entre a espécie-presa e a predadora. Os predadores têm tendência a atacar os mais fracos, devido à idade, a ferimentos ou doença. Este facto de predação preferencial, favorece as presas mais robustas, mais saudáveis, tendo portanto o efeito de apurar, constante e espontaneamente, suas capacidades físicas e - em especial - as suas capacidades em escapar aos predadores. O simétrico também é verdadeiro, pois as espécies-presa - ao serem difíceis da capturar - exercem uma pressão sobre a população dos predadores, seleccionando aqueles mais capazes de levar a cabo a caça.

Aliás, é bem conhecido e observado o comportamento de que os predadores não atacam suas presas, quando têm a barriga cheia. A predação natural, em circunstâncias não falseadas pela intervenção humana, parece-se mais com um «podar as hastes e ramos duma árvore». 

Embora estejam sempre a extinguir-se espécies, mesmo sem a intervenção direta ou indireta dos humanos, estas espécies são geralmente substituídas por outras, que aproveitam a oportunidade para se expandir ou diferenciar. O homem, pelo contrário, nos espaços que domina - ecossistema urbano, ecossistema agrícola - arrasa tudo o que não lhe convém e, muitas vezes, importa plantas e animais doutros ecossistemas, que podem ter efeitos devastadores nas floras e faunas autóctones (vejam-se os casos da colonização da Austrália e de muitas ilhas). 

A ideia bíblica da humanidade que recebeu este planeta de Deus, tendo que cumprir o seu dever de guardião das espécies, com prudência e respeito, foi completamente subvertida. A partir da era industrial, foi substituída pela depredação pura e simples, baseada na ideia de que a propriedade da terra seria um bem «absoluto» e que o seu proprietário podia fazer dela o que bem entendesse.

O estímulo para se ser «empreendedor» tem vigorado como parte da ideologia que minimiza ou anula as obrigações  do indivíduo para com a coletividade e isto, sem contrapeso. Com efeito, têm-se descurado os deveres públicos de ordenação, planificação e fiscalização (os quais, quando existem, muitas vezes são infestados por corrupção). Esta estranha «moda» tem como efeito difundir um ideal de triunfo do indivíduo sobre a sociedade e portanto,  de destruição da própria sociedade. 


RELACIONADO: Documentário sobre a  cooperação ao nível dos seres celulares há biliões de anos.