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domingo, 20 de outubro de 2024

ISRAEL ATACA AS NAÇÕES UNIDAS [Thierry Meyssan, Rede Voltaire]

Israel ataca as Nações Unidas
Thierry Meyssan

Contrariamente a uma ideia feita, a Assembleia Geral das Nações Unidas aceitou a adesão de Israel apenas de forma condicional (Resolução 273). No entanto, mesmo assim Telavive jamais respeitou os seus compromissos. Recusa-se a aplicar 229 Resoluções do Conselho de Segurança e da Assembleia Geral. Acaba de declarar uma agência da ONU de « organização terrorista », apelou à demolição da sua sede em Nova Iorque, designou como persona non grata o seu Secretário-Geral, António Guterres, e acaba de atacar quatro vezes as forças da ONU no Líbano (FINUL- UNIFIL), ferindo dois capacetes azuis .


Benyamin Netanyahou, declarou numa alocução televisionada, em 13 de Outubro : « Eu queria lançar um apelo directo ao Secretário Geral da ONU. Chegou o momento para retirar a FINUL dos bastiões do Hezbolla e das zonas de combate. O Exército israelita solicitou isto em várias ocasiões e recebeu recusas repetidas, o que tem por efeito providenciar escudos humanos aos terroristas do Hezbolla. A sua recusa em evacuar os soldados da FINUL transformou-os em reféns do Hezbolla, coloca-os em perigo, assim como aos nossos soldados ».

Durante a retirada britânica da Palestina do Mandato (ou seja, da Palestina colocada pela SDN sob administração provisória do Reino Unido), em 14 de Maio de 1948, o Conselho Geral sionista, emanação da Haganah (ou seja, a principal milícia da comunidade judaica imigrante), proclamou unilateralmente a independência do Estado de Israel. Ela foi proclamada pelo presidente da Agência Judaica (ou seja, o executivo da Organização Sionista Mundial).
Importa salientar aqui que o ocupante britânico se retirou apenas de cerca de um quarto da Palestina do Mandato. Ele já havia oficialmente saído dos outros três quartos, o que formava a Transjordânia do Mandato, a futura Jordânia.

Em nome do Conselho Geral sionista, David Ben Gurion lê a declaração de independência do Estado de Israel.

Após alguns dias de reflexão, a Assembleia Geral das Nações Unidas decidiu reconhecer o novo Estado, mas não sem ter sublinhado que, em princípio, não cabia a uma milícia, a Haganah, proclamar um Estado, ainda que esta proclamação viesse preencher o vazio da partida da autoridade do Mandato, ou seja, os Britânicos. A Assembleia Geral salientou que a proclamação da independência nada afirmava sobre o regime deste Estado (teocracia ou república), nem sobre as suas fronteiras. Ela pretendia prosseguir o seu plano, o qual tinha em vista a criação de um Estado binacional, árabe e judeu, sem continuidade territorial entre as duas entidades (Jerusalém e Belém com estatuto internacional). Ela ficara tranquilizada pela referência do novo Estado a « uma completa igualdade de direitos sociais e políticos para todos os cidadãos, sem distinção de credo, de raça e de sexo ».
No dia seguinte à independência, o Egipto, o Iraque, a Transjordânia, o Líbano, a Síria e o Iémene enviaram os seus exércitos para a Palestina. A história oficial garante hoje que estes seis países (os «árabes», entenda-se os «muçulmanos») não aceitavam um Estado judeu, e que enquanto cinco deles se opunham à colonização judaica após a colonização britânica, o sexto apoiava Israel. A religião era um problema apenas para Izz al-Din al-Qassam, os Irmãos Muçulmanos e o Mufti nazi Mohammed Amin al-Husseini. Identicamente, a propaganda garante que estes Exércitos foram derrotados pelo valoroso Exército israelita, subentendendo-se que « desde o primeiro dia, os judeus são moralmente superiores aos árabes ». Mas, a realidade foi bem diferente. A Guerra mundial tinha acabado de terminar e nenhum destes países, com excepção da Transjordânia, tinha um exército digno desse nome. As suas tropas eram exclusivamente compostas por voluntários. Além disso, o Exército da Transjordânia, que pôs fim ao conflito, bateu-se ao lado de Israel contra os outros árabes. Na verdade, a Transjordânia, sempre sob influência britânica, esperava impedir a criação de um Estado palestiniano e anexar o seu território. O seu Exército não era outro senão o anterior exército dos Britânicos (a «Legião Árabe») e esteve sempre sob o comando do General John Bagot Glubb (de alcunha «Glubb Pacha»). Foram os Transjordanos (na realidade, os Britânicos) e não os Israelitas que venceram os outros Exércitos árabes. No decurso do conflito, o seu soberano, o Rei Abdallah I foi, aliás, proclamado « Rei da Palestina».

Durante este conflito, as Forças israelitas deixaram os Britânicos da Transjordânia lutar contra os árabes e aplicaram a estes o Plano D (em hebraico : Plano « Dalet »). Com efeito, a Haganah pretendia partilhar o mínimo de território possível com a Transjordânia. As Forças israelitas importaram ilegalmente armas da Checoslováquia (já dirigida pelos comunistas), provavelmente com o acordo da URSS, supostamente para lutar contra a colonização britânica, mas na realidade para expulsar os Palestinianos. Foi a Nakhba (catástrofe). Assim, são expulsos à força 750 mil Palestinianos (entre 50 e 80 % da população) .

No ano seguinte, Israel solicita e obtêm a sua adesão às Nações Unidas. À época, nenhum estado descolonizado fazia parte dela. Os países de influência anglo-saxónica formam a maioria. No entanto, eles só aceitam Israel de forma condicional. Na sua Resolução 273, a Assembleia Geral da ONU faz referência a um compromisso escrito do Ministro dos Negócios Estrangeiros do Governo Provisório de Israel, Moshe Shertok, no qual ele « aceita sem qualquer reserva as obrigações decorrentes da Carta das Nações Unidas e se compromete a cumpri-las a partir do dia em que se tornar membro das Nações Unidas [1].

Em 15 de Novembro de 1970, Chaïm Herzog, representante permanente de Israel nas Nações Unidas (e futuro Presidente do Estado de Israel), rasga na tribuna da Assembleia Geral a Declaração 3379 que qualifica o sionismo de « forma de racismo e de discriminação racial. »

Até à data, Israel não respeitou este compromisso e não cumpriu 229 Resoluções do Conselho de Segurança e da Assembleia Geral. A sua adesão poderia, portanto, ser suspensa a qualquer momento.


No decurso dos últimos meses,
• O Ministro israelita dos Negócios Estrangeiros, Israël Katz, declarou, em 23 de Março, que a ONU se tinha tornado « uma organização anti-semita e anti-israelita que abriga e encoraja o terrorismo ».
• Israel lançou uma campanha contra uma agência das Nações Unidas, o Gabinete de Socorro e de Operações das Nações Unidas para os refugiados da Palestina no Próximo-Oriente (UNRWA), acusando-a de estar ao serviço do Hamas. Em Julho passado, o Knesset (parlamento-ndT) adoptou três leis (1) interditando a UNRWA de operar em território israelita (2) privando o seu pessoal de imunidade diplomática (3) declarando-a uma organização terrorista.
• O Representante permanente de Israel nas Nações Unidas, Gilad Erdan, declarou aquando do final do seu mandato, em Agosto último, ao falar na sede da ONU em Nova Iorque, que « este edifício deve varrido da face da Terra. »
• O Ministro israelita dos Negócios Estrangeiros, Israël Katz, declarou o Secretário Geral das Nações Unidas, António Guterres, persona non grata.
• As Forças de Defesa de Israel (FDI) visaram deliberadamente os soldados, franceses, italianos e irlandeses da Força Interina das Nações Unidas no Líbano (FINUL).



O que é preciso ter em conta :
• Israel não foi criado pelo seu povo, mas pelo seu exército.
• A primeira guerra israelo-árabe não foi ganha pelos Israelitas, mas pelos árabes da Transjordânia sob comando Britânico.
• Ao aderir às Nações Unidas, Israel comprometeu-se a respeitar todas as suas resoluções, o que nunca fez por 229 vezes.
• Após a Palestina, o Líbano, a Síria, o Iraque, o Iémene e o Irão, o governo de Netanyahou abriu uma oitava frente contra as Nações Unidas.


Tradução

sábado, 27 de julho de 2024

ISRAEL/PALESTINA: DECISÃO DO TIJ SOBRE TERRITÓRIOS OCUPADOS




As conclusões seguintes resultaram da minha leitura. Sugiro que efetue a sua própria leitura.

- A decisão do Tribunal Internacional de Justiça é mandatória

- Fica clarificada a natureza criminosa da atuação de Israel, desde 1967, nos Territórios ocupados

- Tem a consequência de mostrar que Israel é um «Estado-pária»

- Os governos ocidentais, ao não reconhecerem esta decisão e ao apoiarem o genocídio da população de Gaza, estão também fora da legalidade

- Os governos europeus estão a reboque dos EUA, na senda da tirania e não do Direito Internacional

- Não se pode esperar que contribuam para a resolução pacífica de conflitos, tanto no Médio-Oriente, como noutros lugares.

- Permanecem do lado da força e não do Direito Internacional

- Os governos ocidentais permitiram e apoiaram a anexação ilegal, por Israel, dos territórios ocupados da Palestina, durante 57 anos:  claramente, atos contrários ao Direito Internacional e que também negavam o Direito Humanitário e as Convenções de Genebra. 

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Relacionado:

Artigo de Patrick Lawrence: «Gaza: Já não podemos continuar silenciosos»


quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

sexta-feira, 17 de novembro de 2023

ONU VOTA CONTRA OCUPAÇÕES ILEGAIS DE ISRAEL NA PALESTINA




Uma série de resoluções, num único dia, mostram a real imagem da comunidade internacional e quem está a bloquear a lei internacional e o direito humanitário: Os EUA ficaram isolados (só com os votos de Israel e de 4 neocolónias dos EUA, no Pacífico), de novo, em votações importantes na Assembleia Geral da ONU.
 

quinta-feira, 13 de maio de 2021

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE ISRAEL/PALESTINA

   
                             Foto: Edifício da Faixa de Gaza bombardeado pelo exército israelense

Colonizam um país que JÁ ERA HABITADO. LEVAM A CABO «LIMPEZA ÉTNICA», COM MASSACRES, EXPULSÕES E REPRESSÃO BÁRBARA. OS QUE já LÁ HABITAVAM e ficaram, SÃO CONSIDERADOS NÃO-CIDADÃOS, ou cidadãos de segunda, PELO PODER DE ESTADO INSTALADO.

O povo colonizado revolta-se periodicamente. Os colonos, ou seja os que espoliaram as terras pertencentes a esse povo, vêm de cada vez lamentar-se que estão a por em causa «o seu direito a existir»!

O Estado de Israel está incluído no dispositivo de poder global dos EUA, e como tal, seja qual for o seu desempenho em termos de direitos humanos, tem a aprovação e pleno apoio do hegemónico poder imperial.

- « Vou construir uma casa para mim. Invado a tua propriedade, construo a minha casa, derrubando a construção aí existente. Além disso, quando tu e os teus protestam, a minha resposta é um morticínio. Depois, vou dizer nos jornais, etc. que apenas estou a defender o meu direito à existência, a ter um lar. Parece-te correto?»

Não podemos confundir uma nação, seja ela qual for, com uma pessoa. Os direitos de uma pessoa são totalmente distintos dos direitos de uma nação. Os direitos dos povos, de quaisquer povos, não podem se afirmar no desprezo e no espezinhar dos direitos de outros povos. Dentro de cada nação, todos os indivíduos devem ter a garantia, na lei e na prática, dos mesmos direitos.

A não consideração dos direitos de alguns - da parte minoritária - em proveito dos direitos de outra parte, não é característica de uma democracia, em parte nenhuma. Ora, em Israel, os cidadãos não-judeus não usufruem dos mesmos direitos.

Além disso, o povo palestiniano tem o direito a autogovernar-se, a exercer a soberania sobre os Territórios. Porque é que quase toda a média está sempre a falar de Israel, do Estado de Israel, como se fosse uma democracia, a «única democracia do médio-oriente»?

O Estado moderno de Israel foi construído sobre um erro histórico. Este erro só poderá ser consertado, reconhecendo e garantindo os legítimos direitos do povo de Israel (judeus e não-judeus israelitas), do povo palestiniano e de todos os povos da região.

É necessária uma vontade global pela paz, incluindo das potências que sejam reconhecidas como mediadoras válidas por ambos os lados em contenda. Os povos devem pressionar os seus governos respetivos em todo o Mundo, para que estes tomem uma atitude responsável e construtiva, ajudando ao processo de paz, que deve ser negociado no quadro da ONU.

Num mundo globalizado, a violência e o caos alastraram-se nos últimos dias em Jerusalém, em torno de monumentos e templos, importantes para três religiões mundiais. Mas, não podemos esquecer que o fanatismo não é intrínseco às religiões, é um comportamento interiorizado, uma lavagem ao cérebro. Isto dá a medida da perda das capacidades de compreensão e tolerância das pessoas do nosso tempo, que se envolveram nestes incidentes violentos.

Uma nação e uma sociedade não podem ser construídas e viver na violência permanente, na permanente negação dos direitos de uma parte dos seres humanos, que habitam - desde gerações - no seu território.

O sionismo não pode ser equiparado a um nacionalismo qualquer. Tem uma ambição expansionista* desde a sua criação e uma visão ideológica sobre a natureza do povo judeu. A designação bíblica de «povo eleito», deve ser contextualizada e compreendida na esfera espiritual, à qual pertence. O judaísmo não é nem mais, nem menos legítimo do que outra religião.

Os povos têm as suas religiões e, dentro do mesmo povo, existem minorias com outras, diferentes da dominante, assim como existem pessoas que não perfilham qualquer religião. O consenso das nações, que se exprime na Carta dos Direitos Humanos das Nações Unidas, é muito claro: ninguém pode ser discriminado com base na sua etnia, religião, ou sistema filosófico.

A questão central de Israel/Palestina é tratar-se do problema não resolvido duma colonização feita de tal maneira, que tem envenenado a paz mundial, desde o início. Reconhecê-lo não é nenhum «radicalismo», nem uma «cedência», mas apenas uma abordagem realista. 

PS1: Leia a reflexão sobre a estratégia miliar de Israel na guerra contra o Hamas, da autoria de um judeu, músico de jazz, expatriado em Inglaterra, Gilad Atzmon, «A Imagem da Vitória».

PS2: 
https://consortiumnews.com/2022/06/15/the-hierarchy-of-tribalisms/
Um excelente artigo por Jonathan Cook, um jornalista britânico baseado em Nazaré da Palestina.
Ele primeiro explica, com base na sua experiência vivida de Israel-Palestina, a raiz profunda dos tribalismos, para desenvolver a visão dum tribalismo dominante, o ocidental, que atravessa não apenas fronteiras étnicas, como ideológicas. A santificação de si próprias das pessoas, nos países ocidentais, os da tribo dominante, é escalpelizada. É a utilização desse tribalismo (inconsciente, muitas vezes) pelas oligarquias, que permite manipulações de massas como temos vindo a assistir em relação à situação da guerra na Ucrânia.


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*Ver mapa de Theodor Herzl sobre Israel e «a Terra Prometida»

BIBLIOGRAFIA













sábado, 22 de junho de 2019

JONATHAN COOK - ISRAEL ESTEVE SEMPRE NO CAMINHO DA ANEXAÇÃO

ESQUEÇAM O ACORDO DO SÉCULO DE TRUMP; ISRAEL ESTEVE SEMPRE NO CAMINHO DA ANEXAÇÃO



 Quando os primeiros-ministros de Israel estão em dificuldades, enfrentando eleições difíceis ou um escândalo de corrupção, a tentação tem sido - tipicamente - de desencadear uma operação militar para fortalecer a sua posição junto do eleitorado. Nos anos recentes, Gaza tem sido o alvo preferido.
Benjamin Netanyahu confronta-se com ambas as dificuldades ao mesmo tempo: a segunda volta das eleições em Setembro, que ele terá dificuldade em vencer; e um procurador-geral que se espera irá processá-lo com acusações de corrupção, imediatamente depois destas.
Netanyahu está numa posição de aperto particularmente grave, mesmo segundo os padrões de um sistema político israelita, usualmente caótico e faccioso. Após uma década no poder, o seu charme eleitoral pode estar a desfazer-se. Já se notam sinais de descontentamento entre os seus aliados da extrema-direita.
Dadas as circunstâncias de aperto, alguns observadores receiam que ele se lembre de tirar um tipo diferente de coelho da cartola.
Nas duas eleições passadas, Netanyahu cavalgou para o triunfo depois de ter produzido declarações dramáticas nos últimos minutos de campanha. Em 2015, agitou o papão do quinto dos cidadãos de Israel, que são palestinianos, garantindo que eles iriam usar os seus direitos democráticos de voto, avisando que "eles viriam votar em massa".
Em Abril passado, declarou a sua intenção de anexar largas áreas da ocupada Margem Ocidental, em violação da lei internacional, no decurso do próximo período parlamentar.
Amos Harel, um analista de assuntos militares e jornalista veterano no Haaretz, observou - na semana passada -que Netanyahu pode decidir que as palavras já não chegam para vencer. Será necessário entrar em acção, sob forma de um anúncio, na véspera da votação de Setembro, de que a extensão da anexação da Margem Ocidental atingirá os dois terços.
Não consta que Washington se irá colocar como obstáculo deste acto.
Pouco tempo antes da eleição de Abril, a administração Trump ofereceu a  Netanyahu um bónus na campanha ao reconhecer a anexação ilegal de Israel nos Montes Golan, território tomado por Israel à Síria em 1967.
Já neste mês, o embaixador dos EUA em Israel, David Friedman, um dos arquitectos do longamente incubado plano de paz de Trump, o «acordo do século», veio oferecer um apoio precoce para as eleições.
Em entrevista, argumentou que Israel "estava do lado de Deus" - ao contrário, assim estava implícito, dos palestinianos. Argumentou, além disso, que Israel tinha o «direito de reter» muito da Margem Ocidental. 
Ambas as posições sugerem que a administração Trump não irá colocar objecções a movimentações israelitas no sentido da anexação, especialmente se isso garante que o seu candidato preferido regressará ao poder.
Independentemente do que Friedman sugeriu, não é Deus que interveio em favor de Israel.  As mãos que têm cuidadosamente preparado o terreno em muitas décadas para a anexação da Margem Ocidental são todas muito humanas.
Os governantes de Israel têm estado a preparar este momento há mais de meio século, desde que a Margem Ocidental, Jerusalém Leste e Gaza, foram tomadas no ano de 1967.
Este facto é sublinhado por um mapa interactivo dos territórios ocupados. Esta importante fonte de informação é um projecto conjunto do grupo B'Tselem israelita de direitos humanos e da equipa londrina «Forensic Architecture», que utiliza nova tecnologia para visualizar e mapear a violência política e a destruição ambiental. 
Sob o título Conquer and Divide [Conquista e Divide], revela no pormenor como Israel tem “dilacerado o espaço palestiniano, dividindo a população palestiniana em dúzias de enclaves desconectados e destruindo a sua estrutura social, cultural e económica.”
O mapa prova, para além de qualquer dúvida, que a colonização da Margem Ocidental por Israel nunca foi acidental defensiva ou relutante. Foi friamente calculada e planeada com um fim em vista - e o momento para atingir este fim está a aproximar-se rapidamente.

A anexação não é um projecto direitista que se tivesse apoderado das intenções benignas da geração fundadora de Israel. Ela esteve nos planos da ocupação desde os princípios, em 1967, quando o dito centro-esquerda - agora apresentado como defensor da paz, em alternativa a Netanyahu – era governo.
O mapa mostra como os planificadores militares de Israel criaram uma rede  complexa de pretextos para tomar as terras dos palestinianos: hoje, as zonas militares fechadas cobrem um terço do território da Margem Ocidental; exercícios de tiro afectam a vida de 38 comunidades palestinianas; as reservas naturais ocupam 6 por cento do território; cerca de um quarto foi proclamado terras do «Estado de Israel»; cerca de 250 colonatos foram instalados; dúzias de barreiras de controlo limitam os movimentos severamente; e centenas de quilómetros de muros e de vedações foram já construídos.
Estas tomadas de território entre-cruzadas foram insensivelmente retirando território, ao estabelecerem os muros de prisões estreitamente vigiadas para os palestinianos no seu próprio território.

Duas imagens de satélite da NASA, tiradas à região com um intervalo de 30 anos - de 1987 e de 2017 - revelam como os colonatos israelitas e as infraestruturas de transporte foram gradualmente desfigurando a paisagem da Margem Ocidental, removendo a vegetação natural e substituindo-a por betão. 
As tomadas das terras não eram simplesmente acerca de adquirir território. Eram uma arma, ao mesmo tempo que aumentavam as medidas draconianas de restrição dos movimentos, para forçar a população palestiniana autóctone a submeter-se, a reconhecer a derrota, a abandonar a esperança.

No seguimento imediato da ocupação do território da Margem Ocidental, Moshe Dayan,  o ministro da defesa, herói do momento de Israel e um dos arquitectos do projecto dos colonatos, observou que os palestinianos deveriam ter que «viver como cães e quem queira partir, pode partir - e veremos aonde este processo vai levar».
Embora Israel tenha concentrado os palestinianos em 165 áreas desconectadas por toda a Margem Ocidental, os seus actos conseguiram efectivamente obter o selo de aprovação da comunidade internacional em 1995. Os acordos de Oslo consolidaram o controlo absoluto de Israel sobre 62 por cento da Margem Ocidental, incluindo  as terras principais agrícolas dos palestinianos e recursos hídricos, o que tinha sido classificado como Área C.
As ocupações são supostas serem temporárias - e os acordos de Oslo prometiam isso mesmo. Gradualmente, os palestinianos seriam autorizados a retomar o seu território, para construir um Estado. Mas, Israel assegurou-se que as ocupações e os roubos de terras sancionadas por Oslo iriam continuar. 

O novo mapa revela mais do que os métodos usados por Israel para dominar a Margem Ocidental. As décadas de tomadas de terras mostram um trajecto, um propósito cuja finalidade ainda não foi completada.
 - Se Netanyahu anexar parcialmente a Margem Ocidental - Área C - este será apenas outro passo nos esforços persistentes de Israel em tornar a vida da população palestiniana miserável e acossá-la a sair.  É uma guerra de desgaste - que os israelitas, desde há muito tempo, vêm compreendendo como «uma anexação rastejante», levada a cabo discretamente, para evitar a condenação da comunidade internacional. 
Os israelitas querem, em última instância, que os palestinianos se vão embora completamente, amontoados em Estados árabes vizinhos, tais como o Egipto e a Jordânia. Esse próximo capítulo está prestes a desenrolar-se em pleno, se Trump tiver oportunidade de desvendar o seu «acordo do século».

Uma primeira versão deste artigo apareceu inicialmente no jornal «National», de Abu Dhabi.
Jonathan Cook ganhou o prémio Martha Gellhorn Special de jornalismo. Os seus livros incluem "Israel e o Choque das  Civilizações: Iraque, Irão e o Plano para Refazer o Médio Oriente” (Pluto Press) e “Palestina em desaparecimento: experiências de Israel com o Desespero Humano” (Zed Books). O seu sítio Internet é www.jonathan-cook.net.