domingo, 20 de abril de 2025

O SÍMBOLO DA PÁSCOA



O renovo da Natureza está simbolizado na ressurreição do Corpo de Cristo e prefigurando o triunfo da vontade, da bondade e da justiça sobre as potestades (os poderes terrenos) deste mundo.

É assim que eu interpreto a Páscoa. É realmente triste verificar que, seja em relação direta com a minha interpretação ou com outras, igualmente pertinentes da religião cristã, muito poucos no mundo designado como «cristão» assumem deste modo a Páscoa.

A minha mágoa seria relativa e suportável, se se limitasse a isso; pois tenho verificado desde há longos anos o fenómeno da paganização das sociedades cristãs.

Porém, a indiferença dos que se dizem cristãos face às guerras e às guerras atuais, especialmente cruéis, deixa-me completamente desfeito. Não creio que a espécie humana tenha evoluído num sentido de adequação à Lei ou seja, aquela Lei Natural e Divina, que ensina aos animais ditos «não racionais», a compaixão, a proteção dos frágeis, a inibição de extermínio dos que são da mesma espécie... Mas, o ser humano contemporâneo mostrou-se destituído daqueles comportamentos e sentimentos espontâneos, presentes em múltiplas espécies. Posso estar a generalizar, talvez abusivamente, mas o comportamento da maioria das pessoas tem sido de indiferença, quando não de bárbara e vingativa insistência no «castigo coletivo», na «culpa de um povo». É como se, estes que assim pensam e agem, tivessem esquecido os Direitos Humanos, as Convenções de Genebra, o Estatuto dos prisioneiros de guerra, as obrigações dos beligerantes em relação às populações civis, etc.

Nota-se a indiferença para com os inocentes, as crianças, os civis, as mulheres, os socorristas e o pessoal de saúde...assim como para com populações civis bombardeadas, sofrendo atrocidades e a destruição de cidades inteiras, das infrestruturas, dos hospitais, etc...

É o comportamento que evidenciam muitas pessoas, felizmente com excepções cada vez mais numerosas. Mas, não posso ignorar que logo que «o verniz da civilização» desaparece, logo que as pessoas tenham um bocado de medo, exibem sentimentos de violência abjeta em relação a outros humanos. Será porque a semente do mal existe nelas. Algumas conseguem «domesticá-la», a tal semente do medo e do mal, e transformá-la: Estas exibem coragem e generosidade, mas são a minoria. A grande maioria deixa-se dominar pelos instintos mais baixos. Talvez por medo, vêm ao de cima comportamentos repugnantes da multidão desporvida de formação cívica e pervertida nos seus corações.

O padecimento de Cristo na cruz e no caminho do Calvário, afinal não retirou os pecados do Mundo. A Humanidade é imperfeita, pecadora mas dispõe daquela semente de divinidade que Deus nela colocou. Mas, esta semente é constantemente abafada, sacrificada, por aqueles mesmos com o coração cheio de ódio, ou de indiferença, que é a forma cobarde do ódio.

Esta atitude é encorajada pelos criminosos que controlam os governos e as forças repressivas em muitos países: Perseguem, difamam, expulsam, prendem e, nalguns casos, assassinam, os que tiveram a coragem de denunciar os crimes por eles - poderosos - cometidos.


Prevejo um crescendo de violência e de depravação moral, à medida que nos vamos enterrando em guerras cruéis, brutais, causadoras de milhões de mortes e de inválidos, espalhando a miséria e destruíndo tudo o que havia de elevado nas civilizações. Os países, os povos, são envolvidos neste torvelinho, quaisquer que sejam as suas posições nestes conflitos. Ninguém fica imune, nesta onda de violência suicidária.
Não acredito que a violência seja «parideira da História», nem de coisa nenhuma: É somente destruição indiscriminada, causando hecatombes humanas e precipitando a chegada da nova «Idade das Trevas».



O que desejo aos meus leitores nesta Páscoa, não é a paz dos satisfeitos, de barriga cheia, dos adormecidos, ou dos ébrios de seu narcisismo.

É, mesmo assim, uma Paz!

- A paz de estar em paz com o próximo, de não ver nele um inimigo, um estranho, um delinquente, etc., mas antes alguém que possui sua dignidade própria, que tem as suas vivências. O outro é alguém que tem os mesmos sentimentos que nós, que sofre e tem alegria como nós. Quem tem estes sentimentos humanos e cristãos profundos, que os traduza por gestos e comportamentos. Se não o fizer e não se esforçar por alcançar este padrão ético não pode dizer-se cristão.

quarta-feira, 16 de abril de 2025

A GUERRA "TARIFÁRIA" É O PRETEXTO; A CAUSA VERDADEIRA É OUTRA


O anúncio pela administração Trump da subida universal e indiscriminada dos direitos de alfândega, NÃO FOI GENUINAMENTE motivada por uma estratégia destinada a fazer regressar a indústria americana que se expatriou, sobretudo para a Ásia e em particular para a China.
Muitos fatores impedem - na prática - que este retorno tenha lugar.

- Em primeiro lugar, a impreparação do mercado de trabalho americano para sustentar uma produtividade próxima da dos trabalhadores chineses. Um episódio desta guerra industrial é esclarecedor; ele envolve a empresa de semi-condutores (chips) de Taiwan, a TSMC: Há cerca de um ano, decidiram implantar uma fábrica no Texas. Tiveram imensas dificuldades em recrutar pessoal para esta fábrica. A qualidade dos recrutas estava nitidamente abaixo do padrão dos operários chineses, em Taiwan. Tiveram de importar de Taiwan a maior parte dos trabalhadores, para que a fábrica pudesse funcionar.

- Além do fator produtividade, existe o fator salarial; embora o salário médio dos operários na China continental tenha subido bastante - ao ponto de algumas indústrias terem ido para o Vietname e outros países asiáticos, com mão de obra mais barata - este salário ainda é muito mais baixo que o salário médio dos operários nos EUA. Ainda por cima, estas fábricas, para conseguirem reimplantar-se nos EUA, teriam que oferecer salários acima da média e considerados atrentes pelos americanos.

- Outro fator é o enorme volume de negócios das marcas americanas dentro da própria China, desde a Apple, à Tesla: As grandes marcas americanas que fabricam seus produtos na China, também estão muito envolvidas no mercado chinês. A saída das suas fábricas da China seria acompanhada pela sua exclusão deste mercado, o mais promissor. Note-se que a economia chinesa continua a crescer, embora a ritmo mais moderado (de 6% anual), enquanto as economias norte-americana e europeia estagnaram, ou entraram em recessão.

- Finalmente, o que pretende a administração Trump com a manobra de «suspender» as tarifas para os países da UE, mantendo tarifas proibitivas para a China?
Obviamente, pretende separar a Europa da China, isolar a China, excluindo-a do mercado europeu (e vice-versa). Assim, julgavam que conseguiam enfraquecer a China e manter a Europa numa posição subordinada, em termos industriais e estratégicos, em relação aos EUA. Mas, a manobra foi compreendida pela eurocracia. A Comissão Europeia não reagiu de forma «dócil». Ela está a tentar negociar uma aliança com a China neste momento, visto que perdeu toda a confiança na administração Trump, para negociar tarifas e comércio com os seus homólogos europeus.

- No imediato, o mundo ocidental encontra-se à beira de um novo colapso financeiro. É provável que a administração Trump faça este jogo perigoso, usando tarifas alfandegárias como «ariete» para demolir a globalização neoliberal e a OMC [*]. Como anti-globalistas, isto faz parte do seu programa. Eles pensam que, face à subida doutras potências globais, só assim poderão manter um certo número de países na sua órbita, forçando-os a escolher o seu campo.

Se esta interpretação vos parecer pouco plausível, tenham em conta os factos seguintes:
1) O império do dólar tem estado a perder terreno no comércio internacional
2) O anúncio da divisa dos BRICS, que funcionará numa primeira fase como intermediário contabilístico nas trocas entre membros dos BRICS,  está para breve
3) A China lançou o sistema de pagamentos internacionais (homólogo do SWIFT, controlado pelos EUA), com uma eficiência superior à do seu concorrente.
4) A Arábia Saudita e a China acabaram de «enterrar» o petrodólar, com um acordo onde estão explícitas a compra de crude saudita em Yuan e a venda de material militar sofisticado chinês às forças armadas sauditas.

Devido a uma media mainstream completamente comprada, poucas pessoas no Ocidente têm a noção exata deste e doutros processos. Mas, o facto de que o grande público seja mantido ignorante, não vai impedir a decadência, nem a paralisia estratégica dos EUA face a um mundo cada vez mais multipolar.

O pânico dos governos, tanto europeus como americano, tem-se traduzido numa série de medidas histéricas e contraditórias, mostrando a sua desorientação completa, face a cenários cuja evolução é muito diferente da que eles sonharam: Primeiro, foi a derrota da OTAN no terreno ucraniano face à Rússia, fracasso estrondoso dos ocidentais. Agora, veio a manobra trumpiana de quebrar a globalização usando a guerra tarifária como pretexto.

Não será difícil para os países agrupados nos BRICS tirarem o maior partido do fracasso destas manobras aventureiras e desestabilizadoras. Será até muito fácil, pois basta que continuem a fazer o que têm feito, serenamente, sem se deixarem invadir pelo pânico e histeria reinantes nas sedes do poder ocidentais**.


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*NB1: O que me parece certo é que o efeito desta profusão de «tarifas» (taxas aduaneiras) é apenas o de quebrar a globalização neoliberal, acabar com o comércio internacional baseado no Direito. Em vez disso, instaura-se a força, a pressão, a chantagem, como normas nas relações internacionais, como no passado, durante milénios. A liberdade de comerciar e a existência de regras do comércio internacional estavam a dificultar o domínio direto dos oligarcas sobre os países/mercados.

**NB2: Veja o balanço destas últimas duas semanas de guerra comercial entre os EUA e a China, com Ben Norton, no programa de Danny Haiphong: 





NA CHINA, CENTENAS, MILHARES DE SILICON VALLEYS ESTÃO A NASCER

O que poucas pessoas no Ocidente realizam é que, embora a China seja um sistema politicamente muito centralizado, não o é economicamente: 
Ao nível regional, existem muitas iniciativas, ensaiam-se reformas, há competição, há desejo de atrair cientistas, empresários...
É preciso ouvir a Profª. Keyu Jin, da London School of Economics.
Esta professora de economia e autora viveu na China e tem conhecimento profundo deste país. Ela explica o «modelo de presidentes da câmara» e sua expansão em direção à automatização e a outras modificações do tecido produtivo. Fala também da diferença fundamental da nova geração, em relação à dos seus pais.
 

 

terça-feira, 15 de abril de 2025

KIM IVERSEN: «Estamos a perder a guerra tarifária... e agora?»


 

TODO E QUALQUER INVESTIMENTO É ESPECULATIVO

 Se nós estendermos o sentido de «especulativo», para significar que estamos a prever algo que poderá ocorrer ou não no futuro, ou que poderá ocorrer de forma bastante diferente do que nós prevíamos, então todos os investimentos, financeiros ou não, terão a sua componente «especulativa», pois ao escolher aplicar o capital nisto e não naquilo, tivemos uma noção mais ou menos intuitiva, mais ou menos racional, do que seriam os desenvolvimentos previsíveis na economia em geral e no setor em que investimos, em particular. Por outras palavras, estávamos a fazer uma aposta. Ora, todas as previsões, por mais sensatas que pareçam, têm a sua margem de incerteza, os parâmetros escondidos, os cisnes negros, que poderão deitar por terra as nossas mais doutas e prudentes estimativas. 

Mas, ao nível dos mercados financeiros, há um comportamento típico do especulador que o diferencia do investidor. Enquanto o investidor vai procurar recolher informação sobre a saúde de uma empresa, antes de fazer a compra de ações da mesma, por exemplo, o especulador está focalizado no curto prazo, na possibilidade de uma ação ou outro ativo terem uma descida brusca devido a fatores previsíveis ou imprevisíveis, tornando apetecível a sua compra e estando disponível para vender esse mesmo título, logo que esteja a cotar acima de dado valor, normalmente com lucro sobre o valor de compra. Este comportamento poderá reproduzir-se em compras e vendas intra-diárias, sendo a soma das pequenas mais-valias obtidas nestas operações a principal remuneração do especulador ou trader. O investidor, idealmente, espera obter - no médio/longo prazo - dividendos da compra dum ativo, e/ou a valorização do mesmo, que permita efetuar sua venda com lucro, no momento apropriado.

Quando a volatilidade dos mercados é grande, mesmo os profissionais têm dificuldade em acertar nas previsões; por outras palavras, enganam-se com maior frequência nas suas apostas. Assim, um aumento de volatilidade dos mercados - como se tem verificado nas últimas semanas -  origina uma série de perdas, não devidas à «incompetência» dos intervenientes, mas devido ao comportamento caótico dos mercados. Se se diz, sobre um dado fenómeno, que é "caótico", isso significa que não se lhe pode atribuir qualquer lei, não se pode portanto prever a sua evolução, pois esta não mostra regularidade, direção ou tendência, para que a possamos reconhecer como base para previsão.

No contexto atual, os mercados de ações são atraentes para pessoas que se deixam seduzir pelas narrativas dos grandes investidores, dos multimilionários (por exemplo, Warren Buffett) que conseguiram - numa dada fase da sua vida - erigir uma fortuna devido a uma série de apostas acertadas, devido a investimentos bem calibrados, etc.  No entanto, estas narrativas são sempre míticas, não revelam os casos que resultaram em perdas monumentais, inclusive em falências, omitem também as vantagens que estes «grandes» da finança tiveram graças ao «insider trading» (= estarem informados sobre decisões tomadas, ao nível de empresa ou de governo, antes de serem tornadas públicas). 

Não é preciso ser-se empregado ou sócio de uma empresa, para obter informação privilegiada; os multimilionários banham num universo à parte, convivem com outros, seus sócios ou competidores, com quem trocam as informações mais diversas que poderão estar na origem duma jogada.

Os famosos analistas de mercados que previram o colapso de 2008, não precisaram de canais de informação previlegiada; fizeram - com aplicação e algum talento - o seu «trabalho de casa»: Analisaram o estado dos mercados e concluíram, corretamente, que em pouco tempo o castelo de cartas dos empréstimos hipotecários iria desmoronar. Eles jogaram tendo apostado nisso, enquanto os outros continuavam a jogar com euforia otimista.

Com tais profissionais dos mercados, estamos perante indivíduos possuidores dum saber de muita experiência acumulada, dando-lhes sensibilidade a fenómenos dificilmente quantificáveis, etc. Isto é o desempenho que se pode esperar dos melhores profissionais. É como os médicos experientes que conseguem efetuar um diagnóstico difícil, ou como os músicos que atingem um cume de perfeição artística inultrapassável. Não há dúvida que tais profissionais existem, mas são raros. 

Os tempos são de enorme incerteza e vai haver fatalmente quem vá perder a camisa, porque joga nos casinos das bolsas, convencido que é como um Warren Buffett, ou outro «investidor lendário». Normalmente, pessoas que não têm tanta autoconfiança, jogam em «índices»; porém, no atual contexto, os índices são a maneira infalível de perder dinheiro: Quando os mercados estão em alta, mais ou menos continuada, jogar em índices significa renunciar a ter retornos «espetaculares», para apenas ter «bons» retornos, porém isentos de riscos significativos. Num ambiente turbulento e de quebra dos mercados, como agora, os índices vão espelhar as descidas; elas podem não ser tão acentuadas como as dalgumas ações, mas haverá necessariamente perdas.

De qualquer maneira, eu desaconselho sempre que se joge no casino das bolsas: Quer a título individual, quer através dum fundo, estamos sempre muito sujeitos a fatores que não controlamos, que muitas vezes desconhecemos, ou que avaliamos erroneamente, etc. 

Existem mercados não financeiros, como o imobiliário (este também sujeito a especulação), os metais preciosos (ouro e prata em barra, ou em moeda), os objetos de coleção, as obras de arte... A vantagem destas áreas de investimento, nestes tempos difíceis, é que o seu valor nunca irá descer até zero. O mais provável, é que conservem o mesmo valor relativo e até que se valorizem mais, pois eles se tornam mais raros e o dinheiro vai-se desvalorizando. 

É conhecida de muitos, a história verdadeira dum apartamento de luxo, numa artéria central de Berlim, em 1922/23, que foi transacionado por 3 onças de ouro (1 onça= 31,1 gr.). Nessa altura, o Marco alemão estava a sofrer uma destruição completa por híperinflação. Quem tiver trocado -antes duma crise hiperinflácionária - o seu dinheiro fiducitário por barras de ouro, conserva o seu valor, no mínimo. Mas, muito provavelmente, como se verifica agora, o ouro subirá muito, muito mais rápido que a inflação, pelo efeito da procura muito acrescida e da raridade da oferta. Quem tem ouro, só irá vendê-lo por um preço muito elevado, superior à cotação oficial, nestas circunstâncias.

Os trabalhadores e pensionistas dos EUA e doutros países que fizeram reformas destruindo o Welfare State, para se conformarem com as doutrinas neoliberais (nos anos  1980), estão forçadamente metidos nos mercados financeiros, até sem terem a mínima ideia dos investimentos onde estão investidas as suas pensões. Isto porque são fundos de pensões (muitos são privados, alguns são estatais), que gerem estes capitais. Estes, teoricamente, são propriedade dos trabalhadores. Os descontos feitos ao longo da vida ativa, para as pensões são considerados salário diferido, não são um imposto.  

A apropriação destes fundos de pensões, públicos e privados, fez com que eles servissem, durante estes 40 anos, para alimentar os mercados especulativos. Mas, até agora, ainda havia algumas limitações áquilo que podiam fazer os gestores; por exemplo, tinham de ter uma fração dos fundos em obrigações do tesouro, como «garantia» de pagamento das pensões, no caso de perdas severas nos segmentos imobiliário e bolsista, nos quais estavam investidos. 

Hoje em dia, a ganância dos poderosos e a sua falta de escrúpulos revela-se ao «sugerirem» que estes fundos poderiam ser «mobilizados» para investir em indústrias  de armamento. Ninguém os autorizou a deitar mão a estes capitais. Eles são dos cidadãos, não pertencem  ao Estado, mesmo nos casos em que é o Estado que está encarregue de os gerir.

A crise/colapso que agora está diante de nós apresenta-se muito pior que a crise de 2008. Neste ano e subsequentes, o que aconteceu foi a recapitalização de fundos especulativos e da banca de negócios, utilizando dinheiro «impresso» digital, não correspondente a nenhum aumento de valor nos bens reais. Foi a operação dita de Quantitive Easing e suas reiterações. 

Sem dúvida, todos nós (não creio que banqueiros e grandes capitalistas leiam isto!) sofremos com isso. A inflação resulta sempre do excesso da massa monetária em circulação, em relação à massa de bens e serviços produzidos: Se o excesso é grande, isso repercute-se na economia do dia-a-dia: uma  unidade de qualquer mercadoria irá custar mais caro. Isto significa que será transacionada com mais unidades de dinheiro, pois cada uma delas vale menos. 

Não será somente o mecanismo acima citado, que vão acionar, agora: Estão anunciados «bail-outs» e «bail-ins», ou seja, recapitalização dos bancos pelo Estado (bail-out), à custa dos contribuintes, ou à custa dos depósitos dos clientes desses bancos (bail-in). Esta última  modalidade foi a solução da UE para a crise cipriota, em que depositantes com contas acima de determinado montante tinham «um corte de cabelo», de 23%. Tudo isto se fará sem a mínima concordância dos afetados, evidentemente. Como sempre, os responsáveis pelos sucessivos descalabros financeiros são intocáveis. Melhor ainda: São «heróis» que merecem ser salvos a todo o custo. 

A única maneira do cidadão comum se precaver é não acreditar no que dizem uns e outros. Teremos de ver por nós próprios, quais os factos, qual a realidade. Isto não é fácil, mas se nós confiamos noutros, das duas uma: ou estamos nas mãos de um aldrabão, ou será alguém de boa fé: Ele acredita que está a dizer a «verdade» e julga que sabe mais do que o comum dos mortais. Ora, como tenho repetidas vezes mostrado neste blog, as coisas não são assim; muitas pessoas podem ser honestas, porém a sua visão é enviezada, pelo hábito, pela ideologia, pela avaliação incorreta da realidade, etc. Não é preciso presumir qualquer intenção malévola. A complexidade da economia e da sociedade, são tais que é impossível prever em pormenor o futuro. No melhor dos casos, conseguem-se prever as tendências  principais.

Quanto a previsões obtidas utilizando «IA», lembrem-se que aquilo que se fornece à máquina, os dados e os algoritmos com os quais trabalha, são determinantes. Ninguém pode dizer honestamente que os dados fornecidos são 100% corretos, que todos eles têm a maior relevância, que não deixaram nada de fora, nem que os algortímos são os mais apropriados para a questão.

A economia é assunto de psicologia, também. Não é apenas assunto «de capital, trabalho e máquinas». Temos de apurar a nossa inteligência social, a nossa compreensão sobre como as coisas funcionam. É um facto que isso não nos dará garantia de sobrevivência... Mas aumenta significativamente a sua probabilidade. 

  

 


segunda-feira, 14 de abril de 2025

WETIKO: Para um diagnóstico da nossa psicose colectiva

 

"Wetiko is a Native American term but every spiritual tradition talks about it, just in different languages. This is the diagnosis. We've made a huge breakthrough. There's been a diagnosis of what's at the bottom of our collective malady. We're in the middle of a collective psychosis of titanic proportions, that is what Wetiko is.”
Paul Levy



A lucidez e profundeza das intuições psicológicas e espirituais dos nativos americanos.

Se estivermos recetivos, veremos que muitas ideias expressadas por Paul Levy são realmente profundas.



Texto de apresentação do Autor, Paul Levy:

«Paul Levy is an author, speaker, and facilitator who describes himself as “a wounded healer in private practice, assisting others who are also awakening to the dreamlike nature of reality.” Paul brilliantly synthesizes wisdom streams from quantum physics, Carl Jung, Buddhism, alchemy, shamanism, Kabbalah, mystical Christianity, and the work of science fiction author Philip K. Dick. He has been a Tibetan Buddhist practitioner for over 35 years, was the coordinator for the Portland Padmasambhava Buddhist Center, and is the founder of the “Awakening in the Dream Community.” Paul’s books include The Quantum Revelation: A Radical Synthesis of Science and Spirituality, Dispelling Wetiko: Breaking the Curse of Evil, and Awakened By Darkness. "